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Volume 24 número 3
julho-setembro 2006
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA
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Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
ISSN 0102-0536
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Programa de apoio a publicações científicas
Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
V.
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
1-3,
1961-1963,
Olericultura.
Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.
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Periodicidade até 1981: Anual.
de 1982 a 1998: Semestral
de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
ISSN 0102-0536
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de
Horticultura.
CDD 635.05
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Volume 24 número 3
julho-setembro 2006
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO/CONTENT
* Artigos em inglês com resumo em português
Articles in English with an abstract in Portuguese
PESQUISA / RESEARCH
Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia
Effects of organic fertilizers and substrates on development of micropropagated heliconia plantlets
MRA Santos; ALO Timbó; ACPP Carvalho; JPS Morais
Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar
Yield of sweet potato roots in function of nitrogen levels applied in soil and foliating
AP Oliveira; MF Moura; DH Nogueira; NG Chagas; MSS Braz; MRT Oliveira; JA Barbosa
Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1)
Characterization and evaluation of elite sweet-corn (su1) hybrids and lines
LFG Oliveira Jr; MG Pereira; R Bressan-Smith
Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância
Growth and metabolism of feverfew plants in response to the irradiance level
LM Carvalho; VWD Casali; SP Lisboa; LCA Barbosa; PR Cecon
Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício
Hidroponic production of lettuce in hidroponic solution with or without silicon
JMQ Luz; STMR Guimarães; GH Korndörfer
Metodologia para a avaliação do vigor de sementes de tomate
Methodology for the evaluation of tomato seed vigor
CC Martins; MM Castro; AM Seneme; J Nakagawa
Condutividade elétrica em sementes de abóbora, híbrido Bárbara
Electrical conductivity of pumpkin hybrid Bárbara seeds
RD Vieira; AS Dutra
Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus
Coconut fiber and foliar fertilization on the growth and nutrition of Cryptanthus sinuosus
JM Jasmim; RRV Toledo; LA Carneiro; E Mansur
Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade
Germination and initial growth stage of melon plant hybrids due to salinity
RCF Queiroga; RC Andrade Neto; GHS Nunes; JF Medeiros; WBM Araújo
Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso
Sweet potato yield as a function of K2O levels in a sandy soil
CH Brito; AP Oliveira; AU Alves; CSM Dorneles; JF Santos; JPR Nóbrega
Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’
‘Chinês’ taro in monocrop system and intercropped with ‘Brasília’ carrot and ‘Quatro estações” lettuce
NA Heredia Zárate; MC Vieira; AR Giuliani; M Helmich; EG Chiquito; AH Amadori
Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio
Levels and accumulation of nutrients in the cycle of peruvian carrot with application of nitrogen, phosphorus and potassium
A Portz; CAC Martins; E Lima; E Zonta
Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades
Growth of melon plants irrigated with waters of different salinities
FQ Porto Filho; JF Medeiros; HR Gheyi; JA Matos; ER Souza; ER Sousa Neto
Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado
Response of drip-irrigated processing tomatoes to water regimes during crop fructification stage
WA Marouelli; WLC Silva
Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica
Effects of liming and fertilization on growth and nutrition of arnica
AC Oliveira Júnior; V Faquin; JEBP Pinto
Crescimento e desenvolvimento da alface sob altas proporções NH4+:NO3- na solução nutritiva*
Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution*
JL Andriolo; RS Godoi; CM Cogo; OC Bortolotto; GL Luz; JC Madaloz
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
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Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface
Potassium rates in the lettuce seed production and quality
C Kano; AII Cardoso; ARO Higuti; RL Villas Bôas
Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo aberto e cultivo protegido com agrotêxtil
Conservation of minimally processed rocket produced under open field conditions and non woven polypropylene
AF Gonzalez; RA Ayub; MY Reghin
Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília
Heritability and genotypic correlation among leaf and root traits in carrot, cultivar Brasilia progenies
JCS Alves; JR Peixoto; JV Vieira; LS Boiteux
Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto - GO
Profile of vegetable consumers of Santo Antônio do Descoberto town, Goiás State, Brazil
M Castelo Branco; JM Nogueira; RC Santos
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COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMUNICATION
Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas
Biocontrol of bacterial blotch of melon by seed treatment with epiphytic and endophytic bacteria
A Oliveira; MHM Santos; EB Silveira; AMA Gomes; RLR Mariano
Análise biométrica de linhagens de abóbora
Biometric analysis of squash lines
FV Bezerra Neto; NR Leal; FR Costa; GM Gonçalves; AT Amaral Júnior; HO Vasconcellos; M Mello
Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento
Quality of ‘Debora’ tomato using different edible coatings and storage temperatures
M Chiumarelli; MD Ferreira
373
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381
ERRATA / ERRATA
386
COMUNICAÇÃO / COMINICATION
387
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS
388
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
pesquisa
SANTOS MRA; TIMBÓ ALO; CARVALHO ACPP; JMORAIS JPS. 2006. Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas
micropropagadas de helicônia. Horticultura Brasileira 24: 273-278
Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas
micropropagadas de helicônia
Maurício R A Santos1; Ana L O Timbó2; Ana C P P Carvalho2; João P S Morais2
1
Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900-970 Porto Velho-RO;2Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60511-110 FortalezaCE; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a eficiência de combinações de substratos orgânicos
(casca de arroz carbonizada, pó de casca de coco verde e seco) e
adubos (Vitasoloâ e húmus de minhoca), em esquema fatorial 3x2,
na proporção de 3:1 (v/v), na aclimatização de plântulas de Heliconia
bihai, provenientes de cultivo in vitro. Foram estabelecidos contrastes ortogonais, definidos “a priori”: pó de casca de coco x casca de
arroz carbonizada; pó de casca de coco seco x pó de casca de coco
verde; e Vitasolo x húmus de minhoca. Após 75 dias, avaliou-se a
altura das plantas, o diâmetro do pseudocaule, o número de folhas e
a área da terceira folha. Em relação a todas as variáveis estudadas, a
casca de arroz carbonizada foi mais eficiente do que o pó de casca
de coco; o pó de casca de coco verde ou seco não diferiram significativamente entre si; entre os adubos testados, o húmus de minhoca
foi o que resultou em maior desenvolvimento das plântulas.
Effects of organic fertilizers and substrates on development
of micropropagated heliconia plantlets
Palavras-chave: Heliconia bihai, micropropagação, aclimatização,
substratos.
The efficiency of three different organic substrates (carbonised
rice hull, dry and green coir dust) and two fertilizers (Vitasolo® and
humus of earthworm), were evaluated in factorial scheme (3x2) at
the ratio of 3:1 (v/v) in the acclimatization of plantlets of Heliconia
bihai, obtained from in vitro culture. The following pre-defined
orthogonal contrasts were set up: coir dust (green or dry) x carbonised
rice hull; green coir dust x dry coir dust; Vitasolo® x humus of
earthworm. After 75 days, height of the plants, diameter of pseudostem, number of leaves and area of the third leaf were evaluated. In
relation to all the variables studied, the carbonised rice hull was more
efficient than the coir dust (green or dry); there wasn’t significant
difference between dry or green coir dust; among the tested fertilizers,
humus of earthworm was more efficient than Vitasolo®.
Keywords: Heliconia bihai, micropropagation, acclimatization,
substrates.
(Recebido para publicação em 22 de novembro de 2004 e aceito em 16 de agosto de 2006)
A
demanda atual por plantas ornamentais e flores de corte dos países do primeiro mundo alcança US$ 90
bilhões por ano, com uma taxa de crescimento estimada da ordem de 12% ao
ano (Lamas, 2002). Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Floricultura
(IBRAFLOR, 2005), o Brasil movimenta, anualmente, cerca de US$ 1 bilhão
no negócio de flores, em uma área cultivada de aproximadamente 5.250 hectares, gerando cerca de 200.000 postos
de trabalho. Trata-se de uma das melhores alternativas de investimento na agricultura, porque demanda pouca área e o
ciclo de produção é geralmente curto,
permitindo rápido retorno do capital investido. As exportações brasileiras de
flores e plantas ornamentais, em 2004,
atingiram US$ 23,5 milhões, valor esse
que superou em 20,96% os resultados
obtidos em 2003, confirmando todos os
prognósticos sobre a performance conHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
temporânea do setor exportador da floricultura brasileira.
De acordo com Castro & Graziano
(1997), a saturação do mercado mundial pelas plantas ornamentais tradicionais faz com que haja crescente interesse por parte dos consumidores estrangeiros pelas espécies tropicais. Neste
contexto, se destacam as espécies do
gênero Heliconia, muito apreciadas em
função das suas peculiaridades. Seu excepcional potencial de comercialização
no mercado interno e externo se deve à
aparência exótica das inflorescências e
à grande variação de cores e formas,
com produção de flores contínua, em
grande quantidade e com alta durabilidade após o corte, apresentando perspectivas promissoras como flores de
corte e plantas para paisagismo.
Estas espécies vêm apresentando
crescente comercialização no mercado
internacional, em função do aumento da
área de produção nos países da América Central e da América do Sul, proporcionando uma maior oferta e,
consequentemente, a sua divulgação. No
Brasil, os estados com maior potencial
para o cultivo são Rio de Janeiro, São
Paulo, Santa Catarina, Pernambuco,
Amazonas e Ceará (Castro, 1995). O
Ceará
apresenta
condições
edafoclimáticas favoráveis ao cultivo
em todas as estações do ano e os preços
da terra e da mão-de-obra são inferiores
aos dos demais estados produtores, sendo necessário apenas que se utilize
tecnologia apropriada para o aumento
da produção (Paiva, 1998).
A propagação comercial das
helicônias é geralmente vegetativa, através dos rizomas. Porém, este método
conduz à disseminação e ao acúmulo de
agentes causais de importantes doenças
que são transmitidas entre plantios sucessivos, via rizomas contaminados por
273
MRA Santos et al.
fungos, bactérias e, principalmente, vírus e nematóides, que dificultam ou
impedem a manifestação do verdadeiro
potencial produtivo. Isto levou vários
países a imporem uma rígida quarentena para a importação de rizomas, principalmente após descobertas de cepas de
Pseudomonas solanacearum (Smith)
em plantas doentes obtidas a partir de
rizomas (Nathan et al., 1992).
Por outro lado, a propagação através de sementes apresenta várias desvantagens em relação à propagação via
rizomas. Em geral, produz mudas maiores, de menor valor comercial e manuseio mais difícil, por serem pesadas. As
sementes apresentam dormência devido à restrição mecânica, pois o fruto é
uma baga com pericarpo duro, que impede a sua germinação. O período para
florescimento de mudas propagadas por
sementes é muito longo, de 3 a 4 anos.
Além disso, nem todas as espécies frutificam e a maioria dos cruzamentos
interespecíficos são incompatíveis
(Nannetti, 1994).
A micropropagação apresenta-se
como alternativa viável para a produção de mudas de helicônia em larga escala e com qualidade genética e
fitossanitária, sendo que vários métodos
têm sido utilizados. A multiplicação de
gemas axilares de rizomas uma técnica
eficiente e usual em programas de
micropropagação de helicônias (Nathan
et al., 1992). Goh et al. (1995) regeneraram plantas desta espécie, através de
organogênese direta e indução de calos
em explantes retirados da base de
plântulas. A cultura de embriões também pode constituir uma interessante
aplicação da cultura de tecidos no cultivo de helicônia, permitindo o resgate de
embriões oriundos de cruzamentos híbridos, os quais não sobreviveriam na
planta-mãe. Esta técnica é utilizada também para reduzir o ciclo fenológico da
planta (Hu & Ferreira, 1998).
A aclimatização das mudas obtidas
a partir de métodos de cultivo in vitro é
uma fase fundamental para o sucesso da
micropropagação, pois este é o momento em que ocorre a transição do
heterotrofismo para o autotrofismo, em
condições ex vitro (Sciutti & Morini,
1993). Neste contexto, é fundamental a
determinação dos substratos adequados
274
para a aclimatização, os quais devem
garantir a manutenção mecânica do sistema radicular, a estabilidade da planta,
o suprimento de água e nutrientes e as
trocas gasosas entre as raízes e o ar atmosférico (Silveira et al., 2002).
A determinação de substratos alternativos, que sejam viáveis para a
aclimatização é de grande relevância,
pois o aproveitamento de resíduos da
agroindústria em práticas agrícolas representa a solução de problemas sociais
e ambientais (Silveira et al., 2002). O
pó de casca de coco tem sido recomendado para cultivos de plantas ornamentais, bem como a casca de arroz, também bastante utilizada por floricultores.
Estes dois subprodutos são considerados substratos praticamente inertes, que
não reagem com os nutrientes da adubação e possuem longa durabilidade,
sem alteração de suas características físicas. Como não possuem os nutrientes
essenciais para as plantas, devem ser
utilizados em combinação com adubos
(Carrijo et al., 2002).
A utilização de húmus de minhoca,
ou vermicompostagem, é uma opção
muito interessante para a agroindústria,
pois permite o enriquecimento da matéria orgânica disponível, por meio do
aumento na disponibilização de nutrientes, de forma economicamente viável e
ambientalmente sustentável (Bakker,
1994). Este adubo é, em média, 70%
mais rico em nutrientes que os húmus
convencionais. É rico em microrganismos, com pH neutro, alta retenção de
água e mineralização lenta (Longo,
1987; Aquino et al., 1992).
Como citado por Bosa et al. (2003)
existem poucos trabalhos que relatam o
estudo do substrato na fase de transplante da planta desenvolvida in vitro para
as condições ex vitro.
Considerando a escassez de estudos
na literatura científica referentes à
aclimatização de plântulas das espécies
pertencentes ao gênero Heliconia, e a
crescente necessidade da utilização de
práticas agrícolas sustentáveis e economicamente viáveis, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de adubos
e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas de Heliconia bihai,
durante a fase de aclimatização.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Embrapa Agroindústria Tropical, em
Fortaleza – CE, de outubro/2003 a janeiro/2004. As mudas utilizadas na
aclimatização foram obtidas in vitro,
mediante oito subcultivos em meio MS
(Murashige & Skoog, 1962)
suplementado com 2,0 mg.L-1 de BAP
(6-benzilaminopurina). Estas foram
enraizadas em meio MS com 1,0 mg.L-1
de AIB (ácido indolbutírico), em frascos cilíndricos de vidro transparente de
100 mm de altura e 63 mm de diâmetro
interno, com tampa de polipropileno de
rosca, contendo 30 mL de meio de cultura, sob fotoperíodo de 16 horas e temperatura de 25±1°C. Após 30 dias de
enraizamento in vitro, as plântulas foram retiradas dos frascos, lavadas e
transferidas individualmente para
tubetes de polipropileno rígido de 52
mm de diâmetro interno por 140 mm de
altura. Os tratamentos estudados foram
compostos por combinações de três
substratos orgânicos com dois adubos,
em esquema fatorial 3x2, na proporção
de 3:1 (volume/volume): 1) pó de casca
de coco seco (CS) + Vitasolo (VS) adubo comercial; 2) pó de casca de coco
verde (CV) + Vitasolo; 3) casca de arroz carbonizada (CAC) + Vitasolo; 4)
pó de casca de coco seco + húmus de
minhoca (HM); 5) pó de casca de coco
verde + húmus de minhoca; 6) casca de
arroz carbonizada + húmus de minhoca. O Vitasolo é um adubo natural, cujos
compostos orgânicos e minerais são
bioquimicamente estabilizados, com
matéria orgânica superior a 48%, alta
retenção de água, e pH aproximadamente neutro. Este composto é tradicionalmente comercializado no mercado regional, como adubo completo. O pó de
casca de coco verde e da casca de coco
seco apresentavam, inicialmente,
condutividades elétricas em torno de
3,15, sendo corrigidas, através de lavagens com água, de acordo com Rosa et
al. (2001). Foram avaliadas as características químicas e físicas das seis combinações de substratos e adubos, conforme metodologias descritas em Ritas
& Melida (1990). As análises químicas
incluíram o pH e os terores de P, K, Ca,
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia
Mg, Cu, Fe, Mn, Zn e Na. As análises
físicas incluíram a condutividade elétrica (CE), o volume de sólidos (Vs), o
volume de poros (Vp), a relação Vp/Vs,
a porosidade total (PT), a capacidade de
retenção de água (CRA) e o espaço de
aeração (EA).
A aclimatização foi feita em condições de casa de vegetação, com
sombreamento de 80%, temperatura de
30+5°C e irrigação por nebulização de
30 minutos, três vezes ao dia. Após 75
dias da implantação do experimento,
foram avaliadas a porcentagem de sobrevivência; a altura total da planta; o
diâmetro do pseudocaule na altura do
colo da planta; o número de folhas; e a
área da terceira folha, obtida através de
um aparelho LICOR, modelo LI-3000.
A utilização destas variáveis na avaliação do desenvolvimento das plantas foi
realizada de acordo com Matos (2000).
O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, com oito repetições, sendo a unidade experimental
constituída por cinco mudas. Foram estabelecidos contrastes ortogonais, definidos a priori – C1: pó de casca de coco
(seco ou verde) x casca de arroz carbo-
nizada; C2: pó de casca de coco seco x
pó de casca de coco verde; e C3:
Vitasoloâ x húmus de minhoca. Os dados obtidos foram submetidos à análise
de variância e as médias comparadas
através do teste F, a 1 e 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todos os tratamentos utilizados
na aclimatização de H. bihai, a sobrevivência das plantas foi de 100%.
As características físicas e químicas
das seis combinações de substratos e
adubos encontram-se, respectivamente,
nas Tabelas 1 e 2. A utilização dos contrastes ortogonais na avaliação do experimento, apresentados na Tabela 3,
permitiu formular questões fundamentais e, ao mesmo tempo, interpretar objetivamente os resultados obtidos.
As maiores médias para todas as
variáveis estudadas, representado o
maior desenvolvimento vegetal, foram
obtidas na combinação de casca de arroz carbonizada com húmus de minhoca: 32,67 cm de altura da planta, 19,73
mm de diâmetro do pseudocaule, núme-
Tabela 1. Características físicas das combinações dos adubos e substratos empregados na
aclimatização de H. bihai. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2004.
CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: vitasolo; HM: húmus de minhoca.
ro de folhas por planta de 9,99 e área
foliar de 48,32 cm2 (Tabela 3). Esta combinação apresenta relação Vp/Vs de 2,6,
porosidade total de 72%, capacidade de
retenção de água de 51% e espaço de
aeração de 21% (Tabela 1).
O menor desenvolvimento vegetal,
em todas as variáveis, foi obtido na combinação de coco seco e Vitasolo, na
qual a relação Vp/Vs (4,0), a porosidade
total (80%) e a capacidade de retenção
de água (57%), foram as maiores obtidas em todas as combinações. Por outro lado, valores inferiores na relação
Vp/Vs (2,3), na porosidade total (70%)
e na capacidade de retenção de água
(50%) foram observados na combinação de casca de arroz e Vitasolo, que
também resultou em menor desenvolvimento das plantas.
Com relação ao espaço de aeração,
valores abaixo do obtido na combinação de casca de arroz e húmus de minhoca (21%) foram observados nas
combinações de casca de arroz e
Vitasolo, e coco seco e húmus de minhoca, as quais apresentaram espaço de
aeração de 20 e 17%, respectivamente.
Por outro lado, as combinações coco
seco e Vitasolo, coco verde e húmus
de minhoca, e coco verde e Vitasolo,
apresentaram espaço de aeração de 23,
31 e 36%, respectivamente, e também
resultaram em menor desenvolvimento
vegetal, em termos gerais.
Na Tabela 2 observa-se, com relação às características químicas, que a
condutividade elétrica das combinações
coco seco e Vitasoloâ (2,07 dS.m-1) e
coco seco e húmus de minhoca (2,12
dS.m-1) apresentam valores acima dos
considerados ideais para mudas de plantas ornamentais segundo Ballester-Ol-
Tabela 2. Características químicas das combinações dos adubos e substratos empregados na aclimatização de H. bihai. Fortaleza, Embrapa
Agroindústria Tropical, 2004.
CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: vitasolo; HM: húmus de minhoca.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
275
MRA Santos et al.
Tabela 3. Comparações entre grupos de médias pelos contrastes ortogonais para as variáveis avaliadas aos 75 dias de aclimatização de H.
bihai, em diferentes combinações de adubos e substratos orgânicos1. Fortaleza, Embrapa, 2004.
1
CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: Vitasolo; HM: húmus de minhoca.
C1: pó de casca de coco (seco ou verde) x casca de arroz carbonizada; C2: pó de casca de coco seco x pó de casca de coco verde; e C3:
Vitasolo x húmus de minhoca. ns Não significativo. * e ** Significativo a 5% e 1% de probabilidade pelo teste F.
2
mos (apud Bosa et al., 2003), que são
de 0,75 a 2,00 dS.m-1, sendo que as demais combinações encontram-se nesta
faixa. É importante observar que a combinação arroz carbonizado e húmus de
minhoca, que resultou no maior desenvolvimento das plantas, apresentou
condutividade elétrica de 1,21 dS.m-1,
situando-se próximo à mediana da faixa considerada ideal por este autor.
Quanto ao pH, apenas as combinações coco seco e Vitasoloâ, e coco verde e Vitasolo encontram-se dentro da
faixa considerada ideal para o cultivo
de helicônias (5,5 a 6,5), de acordo com
Leitão (2006). A combinação de casca
de arroz e húmus de minhoca apresentou pH de 7,28, levemente básico em
relação ao preconizado pela autora.
Por meio do primeiro contraste
pode-se verificar, na Tabela 3, em relação a todas as variáveis observadas, que
a casca de arroz apresentou valores significativamente superiores aos obtidos
com a utilização do pó da casca de coco,
verde ou seco. A eficiência da casca de
arroz carbonizada em compostos foi
comprovada por Maciel et al. (2002),
que trabalhou com aclimatização de
porta-enxertos micropropagados de
macieira, observando o enraizamento e,
276
consequentemente, o desenvolvimento
das plântulas nesta fase. Outras combinações foram testadas por Rodrigues
et al. (2004), que utilizaram 11 compostos de diferentes proporções de casca de
arroz carbonizada, areia, húmus e terra
na
aclimatização
de
mudas
micropropagadas de bromélia-imperial
(Alcantarea imperialis), e observaram
que a combinação de casca de arroz e
areia (1:1, v/v) foi mais eficiente na
indução do desenvolvimento das mudas.
Couto et al. (2003) avaliaram o efeito
de casca de arroz carbonizada em combinações com húmus, solo e esterco;
com húmus e solo; com húmus; e com
Plantmaxâ, na aclimatização de plantas
micropropagadas de Prunus cerasifera,
constatando que a combinação de casca
de arroz e Plantmaxâ foi o melhor
substrato, em relação à sobrevivência
das plantas e ao seu crescimento.
Nos tratamentos onde utilizou-se
casca de coco verde ou seco como
substrato orgânico, não foram observadas diferenças estatísticas para nenhuma das variáveis analisadas, o que pode
ser verificado por meio dos quadrados
médios obtidos no segundo contraste.
Estes resultados não estão de acordo
com os obtidos por Terceiro Neto et al.
(2004), que obtiveram crescimento
significativamente mais expressivo com
a utilização de coco verde em relação
ao coco seco, em todas as variáveis avaliadas, na aclimatização de plântulas de
violeta africana (Saintpaulia ionantha
Wendl.). Por outro lado, Bezerra et al.
(2001) compararam o coco verde e o
seco como substratos para enraizamento
e produção de massa fresca e seca em
estacas de crisântemo e concluíram que
o coco seco é mais adequado para esta
finalidade. Correia et al. (2003), avaliaram o efeito da utilização de pó de coco
verde e seco no desenvolvimento de
mudas de cajueiro anão precoce, e também não encontraram diferenças significativas entre estes substratos em relação às variáveis estudadas.
Os tratamentos contendo húmus de
minhoca resultaram em valores significativamente superiores aos obtidos nos
tratamentos com Vitasoloâ, em relação
a todas as variáveis estudadas. Correia
et al. (2001), estudando o efeito de diferentes substratos e adubos na formação de porta-enxertos de gravioleira,
observaram que o húmus de minhoca
caracteriza-se por proporcionar um adequado desenvolvimento vegetativo e do
sistema radicular, além de funcionar
como eficiente fonte de matéria orgânica para as plantas.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia
Bosa et al. (2003) avaliaram o crescimento de mudas de Gipsophila
paniculata, em diferentes substratos,
durante a aclimatização. Seus resultados indicaram que os substratos perlita
+ turfa e casca de pinus + perlita + turfa
são adequados nesta fase, provavelmente devido ao fato de apresentarem alta
capacidade de retenção de água, pois a
disponibilidade de água otimiza a
aclimatização desta espécie. A
aclimatização de plântulas de violetaafricana (Saintpaulia ionantha Wendl.)
foi estudada por Maciel et al. (2000),
que obtiveram uma taxa de 100% de
sobrevivência, em várias combinações
de areia e composto orgânico, sendo que
a proporção de 1:1 resultou em maior
acúmulo de matéria fresca. Weber et al.
(2003) estudaram o crescimento e o
acúmulo de nutrientes em mudas
micropropagadas de abacaxizeiro em
tubete, e concluíram que a mistura de
casca de arroz carbonizada, vermiculita
e vermicomposto (1:1:1) constitui alternativa para a aclimatização de mudas.
A mistura de casca de arroz carbonizada e pó de casca de coco (1:1) resultou
em baixo desempenho das mudas, o que
os autores atribuem a certas características do pó de casca de coco, como má
agregação física, baixa retenção de água
e limitação nutricional.
Um recente trabalho relata a
aclimatização de Heliconia bihai em
areia lavada, vermiculita (textura média)
e PlantMax®Horticultura, a pleno sol e
sob 30, 40, 50, 60, 70 e 80% de
sombreamento. Avaliou-se a sobrevivência de plântulas micropropagadas
durante 28 dias após a transferência para
as condições ex vitro. As maiores taxas
de sobrevivência (95%) foram obtidas
com a utilização de areia lavada e
PlantMax®Horticultura, sob 80 e 70%
de sombreamento, respectivamente. Os
autores não consideram recomendável
a utilização de vermiculita para a
aclimatização desta espécie, uma vez
que a maior taxa de sobrevivência que
obtiveram com este substrato foi de
32,5%, com 80% de sombreamento
(Rodrigues et al., 2005).
Com base nos resultados obtidos
neste trabalho, pode-se concluir que a
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
aclimatização de Heliconia bihai pode
ser efetuada à temperatura de 30 + 5°C,
irrigação por nebulização de 30 minutos, três vezes ao dia, com
sombreamento de 80%, recomendandose como substrato a combinação de casca de arroz carbonizada com húmus de
minhoca, na proporção de 3:1.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão de bolsas.
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em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar. Horticultura Brasileira 24: 279-282.
Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar
Ademar P de Oliveira; Mácio F de Moura; Dijauma H Nogueira; Nielson G Chagas; Maria do Socorro S
Braz; Márcia Roseane T de Oliveira; José A Barbosa
UFPB-CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de avaliar doses e formas de aplicação de nitrogênio (solo e via foliar) na cultura da batata-doce, cultivar Rainha
Branca instalou-se um experimento em condições de campo no período de julho a novembro/2003, no Centro de Ciências Agrárias da
UFPB, em Areia, em um NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico típico. O delineamento experimental constou de blocos casualizados,
em esquema fatorial 5x2, compreendendo cinco doses de N (0, 50,
100, 150 e 200 kg ha-1) e duas formas de aplicação (solo e via foliar), em quatro repetições. Utilizaram-se parcelas úteis com 28 plantas espaçadas de 0,80x0,30 m. As produtividades total e não-comercial de raízes aumentaram linearmente com elevação das doses de N
aplicadas no solo, ocorrendo aumento de aproximadamente 45,52 e
12,64 kg ha-1, respectivamente a cada quilograma de N adicionado.
A produtividade de raízes comerciais em função das doses de N
aplicadas no solo, atingiu valor máximo estimado de 19155 kg ha-1
com o emprego da dose de 154 kg ha-1 de N, enquanto que as produtividades total, comercial e não-comercial de raízes não foram influenciadas significativamente pelas doses de N aplicadas via foliar,
com médias de 13800, 12600 e 1200 kg ha-1, respectivamente. A
dose mais econômica de N aplicada no solo para a produção de raízes
comerciais foi de 144 kg ha-1, com rendimento estimado de 19123
kg ha-1 de raízes. O nitrogênio fornecido no solo foi mais eficiente
para a batata-doce expressar sua capacidade máxima de rendimento
de raízes comerciais, com incremento de 6555 kg ha-1, em relação a
sua aplicação via foliar.
Yield of sweet potato roots in function of nitrogen levels
applied in soil and foliating
Palavras-chave: Ipomoea batatas, adubação nitrogenada, adubação foliar, produção de raízes.
With the objective of evaluating the levels and application forms
of nitrogen (soil and leaves) in the sweet potato Rainha Branca cv.
an experiment was carried out from July to November/2003, in the
Centro of Ciências Agrárias from Universidade Federal of Paraíba,
Areia, Brazil, in Quartz Psamment soil. The experimental design
was randomized blocks, in a factorial scheme 5x2, with five levels
of N (0, 50, 100, 150 and 200 kg ha-1), tow applications forms (soil
and by foliating), in four replications. The plots with 28 plants, spaced
at 0.80x0.30cm. The total and uncommercial yield of roots increased
linearly in function of the levels of N applied in the soil,
corresponding approximately to 45.52 and 12.64 kg ha-1, respectively
to each kilogram of N. The commercial yield in function of the N
levels applied in the soil, reached the maximum value of 19255 kg
ha-1 with 154 kg ha-1 of N. The total, commercial and uncommercial
roots yields obtained in function of the N levels applied to the leaves
did not suffer significant changes with rates of 13800, 12600 and
1200 kg ha-1, respectively. The most economical N level applied in
the soil related to commercial roots yield was 144 kg ha-1, with roots
estimated yield of 19123 kg ha-1. The nitrogen supplied in the soil
was more efficient for the sweet potato to express its maximum
commercial roots yield, with increment of 6555 kg ha-1, when
compared to the leaves application.
Keywords: Ipomoea batatas, nitrogenous fertilization, foliating
fertilization, root production.
(Recebido para publicação em 09 de dezembro de 2004; aceito em 27 de julho de 2006)
A
batata-doce é uma planta de gran
de importância econômico-social,
participando no suprimento de calorias,
vitaminas e minerais na alimentação humana. As raízes apresentam Ca, K e teor
de carboidratos variando entre 25% e
30%, dos quais 98% são facilmente digeríveis (Clark & Moyer, 1988). É a
quarta hortaliça mais consumida no Brasil. Além de ser rústica, de fácil manutenção, apresenta boa resistência contra
a seca e ampla adaptação, sendo cultivada em praticamente todos os estados
brasileiros (Miranda, 2003).
No Brasil, a batata-doce é muito
popular, sendo cultivada em todas as
regiões, principalmente no Sul e NorHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
deste. Nesta última, assume importância social, principalmente por se constituir em uma fonte de alimento
energético, e contribuir na geração de
emprego e renda, garantindo a fixação
do homem à terra.
No estado da Paraíba, a batata-doce
é mais cultivada e difundida nas regiões
próximas aos grandes centros consumidores, especialmente nas microrregiões
do brejo e litoral paraibano, sendo considerado o maior produtor nordestino, e
o quarto em escala nacional (Soares et
al., 2002). Contudo, apesar deste destaque, é paradoxalmente um dos estados
que possui uma das mais baixas produtividades média (6,8 t ha-1), sendo a fal-
ta de um programa de nutrição mineral
para a cultura, um dos principais fatores responsáveis por este fato (Silva et
al., 2002).
O nitrogênio é o segundo nutriente
mais exigido pelas hortaliças (Filgueira,
2000). Seu fornecimento via adubação
funciona como complementação à capacidade de suprimento dos solos, a partir
da mineralização de matéria orgânica,
geralmente baixos em relação às necessidades das plantas (Malavolta, 1990).
Em várias hortaliças, o nitrogênio
desempenha papel fundamental no crescimento e no rendimento dos produtos
colhidos (Wiedenfeld & Braverman,
1991; Albregts & Chandler, 1993; Pei279
AP Oliveira et al.
xoto et al., 1996; Carnicelli et al., 2000;
Resende & Souza, 2000; Santos et al.,
2001). Na batata-doce, a utilização do
nitrogênio merece atenção especial. Em
solos com alta disponibilidade desse elemento ocorre um intenso crescimento da
parte aérea, em detrimento da formação
de raízes tuberosas. Contudo, as diferentes variedades de batata-doce respondem de modo distinto à aplicação de
nitrogênio. Enquanto umas apresentam
desenvolvimento de raízes, outras apresentam desenvolvimento vegetativo
exuberante (Chaves & Pereira, 1985).
O ideal é acompanhar o crescimento da
cultura e aplicar o fertilizante
nitrogenado quando começar o aparecimento de sintomas de deficiência do
nutriente (Silva et al., 2002), caracterizada inicialmente por clorose nas folhas
mais velhas, seguido das mais novas,
nas quais, com a evolução da deficiência, surgem manchas necróticas
internervais, podendo ocorrer abscisão
das folhas (Chaves & Pereira, 1985).
Embora o nitrogênio seja um importante nutriente para as hortaliças
(Filgueira, 2000), pouco se conhece, ainda, a respeito das quantidades a serem
utilizadas, que permitam a obtenção de
rendimentos satisfatórios na cultura da
batata-doce. As poucas informações a
respeito do seu emprego nessa hortaliça
indicam que sua aplicação deve ser
fracionada, sendo aplicado 1/3 no plantio, e o restante em 30 a 45 dias em cobertura, sendo recomendado para solos
de alta, média e baixa fertilidade o emprego de, respectivamente, 100, 60 e 30
kg ha-1 de N, (Embrapa, 1995).
A adubação nas hortaliças pode representar de 20 a 30% dos custos de produção (Trani & Raij, 1996), e considerando a necessidade de se definir uma
dose de nitrogênio capaz de proporcionar rendimento máximo para a cultura
da batata-doce, realizou-se o presente
trabalho com o objetivo de avaliar o
comportamento dessa hortaliça submetida a diferentes doses de N, aplicadas
no solo e via foliar.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
280
em Areia-PB, entre julho e novembro
de 2003 (datas do plantio à colheita), no
delineamento experimental de blocos
casualizados, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 5x2, constando de cinco doses de N (0; 50; 100;
150 e 200 kg ha-1), empregando-se uréia
como fonte, e duas formas de aplicação
(no solo e via foliar) e quatro repetições.
O solo da área foi classificado como
NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico
típico de textura franca (Embrapa,
1999). As análises químicas na camada
de 0-20cm, foram realizadas conforme
Embrapa (1997), e resultou em: pH
(H2O)= 6,5; P= 36,8 mg dm-3; K= 120
mg dm-3; Al+3= 0,0 cmolc dm-3; Ca+2= 2,6
cmolc dm-3; Mg+2= 0,6 molc dm-3; CTC=
6,7 cmolc dm-3; V%= 85 e matéria orgânica= 8,11 g dm-3.
A adubação de plantio foi realizada
de acordo com recomendações do Laboratório de Química e Fertilidade do
Solo da Universidade Federal da Paraíba
(Embrapa, 1997), e constou da aplicação de 20 t ha-1 de esterco bovino, 200
kg ha-1 de superfosfato simples e 68 kg
ha-1 de cloreto de potássio. Na adubação de cobertura, aplicaram-se as doses
de N, definidas no delineamento experimental, diretamente no solo (em circulo ao redor das plantas) e via foliar
(10 g de N L-1 de água). Na aplicação
do N no solo, foram fornecidos por parcela 0; 60,5; 121; 242; 302 e 484 g de
uréia, conforme a distribuição dos tratamentos, sendo 50% aos 30 e o restante, 60 dias após o plantio. Na aplicação
do N via foliar, foram realizadas duas
pulverizações com auxílio de pulverizador costal, com capacidade de 20 litros, nos mesmos períodos de aplicação
no solo e nas mesmas doses, sendo diluídas na proporção de 10 g de N L-1 de
água, com volume de calda de 5 litros
por parcela.
O preparo do solo constou de aração,
gradagem e confecção de leirões. No
plantio, foram utilizadas duas ramas por
cova da cultivar Rainha Branca, retiradas de plantio jovem, cortadas um dia
de antecedência para facilitar o manejo, e seccionadas em pedaços de aproximadamente 0,40 m de comprimento,
contendo em média oito entrenós e enterradas pela base, com auxílio de um
pequeno gancho, numa profundidade
aproximada de 0,10 m. As parcelas mediram 11,04 m2, e continham quatro fileiras espaçadas de 0,80 m e quatorze
plantas por fileiras espaçadas de 0,30 m,
sendo utilizadas as duas fileiras centrais
como úteis, totalizando 28 plantas, com
área de 6,72 m2.
Durante a condução do experimento foram realizadas irrigações pelo sistema de aspersão convencional nos períodos de ausência de precipitação, com
turno de rega de três dias; capinas manuais com auxílio de enxadas com o
objetivo de manter a cultura livre da
competição por plantas daninhas; amontoas para proteger as raízes contra raios
solares e manter a formação dos leirões.
Não foram efetuadas aplicações de defensivos em decorrência da ausência de
pragas e/ou de doenças.
Foram obtidos dados de produtividade total, comercial e não-comercial de
raízes. A produtividade total
correspondeu ao peso de todas as raízes,
enquanto que as produtividades comercial e não-comercial corresponderam ao
peso das raízes classificadas. Foram consideradas comerciais aquelas de formato
uniforme, lisas com peso igual ou superior a 80 g, e não-comerciais as que estavam fora deste padrão (Embrapa, 1995).
Os dados obtidos foram submetidos
a análise de variância, utilizando-se o
“software” SAEG (2000), com desdobramento da soma de quadrado da
interação (doses e formas de aplicação),
independente de sua significância. Dentro de cada forma de aplicação, foram
testados diversos modelos polinomiais
para os efeitos de doses de N. O critério
para escolha do modelo foi a
significância pelo teste F a 5% de probabilidade e que este apresentasse o
maior valor de coeficiente de determinação (R2).
A partir da equação de segundo grau
ajustada, calculou-se a dose de N aplicada no solo que proporcionou produção máxima econômica de raízes comerciais. Entretanto, a fim de atenuar os
problemas de variação cambial, para a
forma de aplicação de N que permitiu o
cálculo da dose mais econômica, trabalhou-se com uma relação de troca ao
invés de moeda corrente, igualando-se
a derivada segunda à relação entre preços do produto e do insumo (Raij, 1991;
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar
Figura 1. Produtividade total de raízes de batata-doce em função de doses de N aplicadas no
solo (y1) e via foliar (y2). Areia, UFPB, 2004.
Figura 2. Produtividade comercial de raízes de batata-doce, em função de doses de N aplicadas no solo (y1) e via foliar (y2). Areia, UFPB, 2004.
Natale et al., 1996), vigentes em AreiaPB, em novembro de 2003, buscandose assim dados mais estáveis. Neste estudo, os valores utilizados para as variáveis raízes comerciais e N, foram, respectivamente: R$ 0,50 kg-1 de raízes, R$
3,0 kg-1 de uréia. Dessa maneira, a ‘moeda’ utilizada nos cálculos da dose econômica de N, foi a própria raiz de batata-doce. Assim, a relação de equivalência entre o quilograma de uréia e o quilograma de raízes foi igual a 6 ressaltando, porém, que o preço do quilograma de raízes correspondeu ao utilizado
pelo produtor e, que essa relação de preços pode variar a cada ano, conforme a
demanda e a oferta. A fórmula obtida
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
para o cálculo da dose de máxima eficiência econômica de N foi: Dose de N=
93,68 - relação de equivalência/2(0,303), onde a relação de equivalência,
é a relação entre os preços do insumo e
do produto. A receita prevista, devido a
aplicação do N, pode ser calculada pelo
aumento de produção proporcionada
pela dose econômica, custo do fertilizante e pela receita obtida, igualandose a derivada primeira a zero.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo das doses
de N aplicadas no solo (P<0,005) sobre
as produtividades total, comercial e não-
comercial de raízes (Figuras 1, 2 e 3).
No desdobramento das interações, as
médias da produtividade total e não-comercial ajustaram-se ao modelo linear,
enquanto que a produtividade comercial
de raízes, ao modelo quadrático de regressão, em função das doses de N aplicadas no solo. A aplicação via foliar de
N não teve efeito significativo sobre a
produtividade total, comercial e nãocomercial de raízes.
As produtividades total e não-comercial de raízes aumentaram linearmente
com elevação das doses de N aplicadas
no solo, ocorrendo aumento de aproximadamente 45,25 e 12,6 kg ha-1, respectivamente para cada quilograma de N
adicionado, com valores máximos de
23524 e 3490 kg ha-1 obtidos na dose
máxima de N (200 kg ha-1).
A produtividade de raízes comerciais
em função das doses de N aplicadas no
solo, atingiu valor máximo estimado de
19155 kg ha-1 com a dose de 154 kg ha-1
de N, enquanto que a produtividade
média obtida em função das doses de N
aplicadas via foliar, foi de 12600 kg ha-1
(Figura 2).
O nitrogênio fornecido no solo foi
mais eficiente para a batata-doce expressar sua capacidade máxima de rendimento de raízes comerciais, com incremento de 6555 kg ha-1, em relação a sua
aplicação via foliar. Este fato pode ser
atribuído a redução na sua perda, porque a volatilização de amônia proveniente da uréia pode ser reduzida, se o
fertilizante for incorporado no solo, seguido de irrigação (Ribeiro, 1996). O
manejo adequado deste nutriente também é essencial para maximizar a produção, sendo seu fornecimento no solo
a forma mais eficientemente aproveitada pelas plantas (Azam et al.,1985). No
feijão-caupi, Oliveira et al. (2003), observaram aumento de produtividade,
quando o nitrogênio foi fornecido diretamente no solo. A ausência de resposta
da batata-doce ao nitrogênio aplicado
via foliar, possivelmente esteja relacionado com a maior volatilização desse
nutriente (Ribeiro, 1996).
A produtividade média nacional de
raízes comerciais em batata-doce é de
10 t ha-1 (Embrapa, 1995). Portanto, a
produtividade máxima de raízes comerciais obtida em função do nitrogênio
281
AP Oliveira et al.
aplicado no solo, foi superior a média
nacional em 9,15 t ha-1, enquanto que
para o nitrogênio fornecido via foliar
este incremento foi de 3,58 t ha-1.
A redução na produtividade de raízes
comerciais verificada nas doses acima
de 154 kg ha-1 de N aplicadas no solo,
pode indicar que, seu excesso foi prejudicial à formação de raízes comerciais
na batata-doce, possivelmente em função da elevada produção de massa verde e formação de raízes adventícias
(Embrapa, 1995). Também, pode ter
ocorrido efeito tóxico do amônio e da
baixa taxa de nitrificação ou devido ao
efeito indireto do amônio, reduzindo a
absorção de K+, Ca++ e Mg++, pela batata-doce (Carnicelli et al., 2000). Em
várias hortaliças, Huett (1989) verificou
redução de produtividade, em função de
doses elevadas de N.
A dose mais econômica de N aplicada no solo para a produção de raízes
comerciais foi de 144 kg ha-1, para a relação de equivalência igual a 6, resultando num rendimento estimado de
19123 kg ha-1 de raízes, e o aumento de
produção proporcionado por esta dose
de N foi de 7186 kg ha-1. Deduzindo-se
o custo de aquisição de 144 kg de nitrogênio, equivalente a 320 kg de uréia
(640 kg de raízes comerciais), obtevese um receita prevista de 6546 kg ha-1
de raízes, para o N aplicado no solo. A
dose mais econômica de N esteve próxima daquela responsável pelo rendimento máximo, e sob o ponto de vista
de rendimento proporcionou rendimento de raízes acima da média nacional.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos agentes
em Agropecuária Francisco de Castro
Azevedo, José Barbosa de Souza, Francisco Soares de Brito e Francisco Silva
do Nascimento e ao diarista Genival
Gomes da Silva, que viabilizaram a execução dos trabalhos de campo.
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Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho
doce (su1)
Luiz Fernando G Oliveira Jr1; Messias G Pereira2; Ricardo Bressan-Smith2
1
UFES, Av. Fernando Ferrari, 514, Goyabeiras, 29060-900 Vitória-ES; 2UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, Parque Califórnia, 28013-602
Campos dos Goytacazes-RJ; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Na safra de 2003-2004 foram avaliados em Itaocara e Campos
dos Goytacazes (RJ), dois híbridos de milho-doce portadores do gene
su1 e um híbrido de milho-comum, juntamente com seus parentais e
doadores, totalizando onze materiais. Os híbridos de milho-doce
foram obtidos de cruzamentos simples e, seus parentais, a partir de
retrocruzamentos. O híbrido comum foi obtido do cruzamento simples e seus parentais a partir de seleção recorrente recíproca. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso com duas repetições e parcelas compostas de quatro fileiras de cinco metros cada, em dois locais. Estudou-se o comportamento dos híbridos em relação à heterose,
coeficiente de determinação genotípica e caracteres
morfoagronômicos. Os dois híbridos de milho-doce avaliados sobressaíram-se em relação aos seus parentais e doadores, mas não em
relação ao híbrido de milho-comum. Foi detectada heterose em várias características, tais como produtividade de espigas sem palha,
porcentagem de espigas atacadas por pragas, e uma forte influência
genotípica, como indicado pelo coeficiente de determinação
genotípica.
Characterization and evaluation of elite sweet-corn (su1)
hybrids and lines
Palavras-chave: Zea mays L., melhoramento, caracteres
morfoagronômicos, híbridos, retrocruzamento.
Keywords: Zea mays L., breeding, morphoagronomic traits, hybrid,
backcross.
Two sweet-corn (su-1 mutant and common-corn) hybrids, as well
as the respective parentals and donators, summing up 11 genetic
materials, were evaluated in two environments, in Itaocara and
Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro State, Brazil. The sweetcorn hybrids were obtained by simple crosses between sweet-corn
parentals carrying the gene su-1, transferred by backcross. Heterosis,
the genotypic determination coefficient and morphoagronomic traits
were evaluated. The experimental design consisted of randomized
blocks, with two replications in each environment. Four-row plots,
5-m long, were used. The two sweet-corn hybrids overcame their
parentals and donators. Comparison between sweet- and commoncorn hybrids showed no significant differences. Heterosis was
detected in almost all traits, as for example, yield of ears without
straw and percent of ears damaged by pests, as well as significant
genotypic influence, revealed by the genotypic determination
coefficient.
(Recebido para publicação em 14 de fevereiro de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006)
O
milho-doce, considerado como
olerícola, é um tipo especial de
milho, de alto valor nutricional. Possui
genes que limitam a biossíntese de amido, o que causa acúmulo de
polissacarídeos solúveis de caráter adocicado no endosperma e, devido a esse
baixo teor de amido, não é indicado para
elaboração de pratos como pamonha e
curau (Valentini et al., 2002). Pode ser
utilizado em conserva (enlatado), congelado na forma de espigas ou grãos, desidratado ou consumido in natura, colhido antes da polinização e usado como
“Baby Corn” ou minimilho. Após a colheita, a palhada pode ser utilizada para
silagem (Souza et al., 1990; Teixeira et
al., 2001).
O milho-doce é caracterizado por
possuir pelo menos um dos oito genes
mutantes que afetam a síntese de
carboidratos no endosperma. Os principais genes são “Shrunken-2” (sh2) localizado no cromossomo 3, “Brittle”
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
(bt), no cromossomo 5, e “Sugary
Enhancer” (se), “Sugary” (su) e “Brittle2” (bt2), todos no cromossomo 4. Existem ainda os genes “Dull” (du), no
cromossomo 10, “Waxy” (wx), no
cromossomo 9, e “Amylose Extender”
(ae), no cromossomo 5. Todos podem
atuar de forma simples ou em combinações duplas ou triplas (Tracy, 1994).
Genótipos su1 possuem em média 30%
a menos de proteína que genótipos sh2
(Goldman & Tracy, 1994).
A qualidade do milho-doce é avaliada não só pelo teor de açúcar como
também pela textura dos grãos. A textura uma característica determinante na
aceitação e condições de processamento
(Scapim et al., 1995), uma vez que todas as cultivares de milho-doce apresentam engrossamento da textura no decorrer da maturação, em maior ou menor
proporção (Gama & Parentoni, 1992).
Atualmente, as lavouras de milho
têm alcançado altos níveis de produti-
vidade. Em 2003, o milho apresentou
aumento de 34% na produção, alcançando 48,3 milhões de toneladas de grãos
produzidos, quase a metade (24,1 milhões de toneladas) colhida na região Sul
(IBGE, 2003). Essa evolução se deve ao
desenvolvimento de tecnologia em diversas áreas, incluindo o melhoramento genético. O melhoramento do milho
tem conseguido aumentar não somente
a produtividade, mas também inserir
outras características desejáveis na planta (Parteniani, 1988), como espigas
grandes, cilíndricas, bem empalhadas e
bem granadas; grãos tipo dentado, de cor
amarela e profundos; estigmas claro e
soltos; sabugo de coloração branca e
grãos com endurecimento relativamente lento, possibilitando período de colheita mais longo, sendo essas características necessárias para recomendação
de cultivar para o consumo in natura
(Fornasieri-Filho, 1992). Características
indesejáveis do milho-doce também es283
LFG Oliveira Júnior et al.
tão sendo atenuadas utilizando o melhoramento genético, como o déficit
germinativo, baixa produtividade e alta
susceptibilidade ao ataque de pragas e
doenças (Scapim et al., 1995; Alexander
& Creech 1977).
A alta tecnologia que vem sendo
empregada no cultivo do milho-doce,
assim como sua utilização pela indústria, requer cultivares que, além de produtivas, sejam uniformes quanto à
maturação, tamanho e formato de espigas (Parentoni et al., 1990). Em relação
ao consumidor, as características mais
exigidas são a coloração amareloalaranjada e o pericarpo mais fino, que
contribui para a maciez do grão (Lemos
et al., 1999).
O milho é a espécie de maior diversidade genética na natureza (Bull, 1993).
Isso facilita a exploração da heterose,
especialmente em programas que almejem o desenvolvimento de cultivares.
Existem entre outros, dois grupos
heteróticos principais, denominados de
duro e dentado. A maioria dos híbridos
de milho pertence a tais grupos
heteróticos (Fancelli & Dourado Neto,
1996). Em programas de seleção recorrente recíproca, o melhoramento ocorre
simultaneamente em ambas populações,
ampliando a cada ciclo, o potencial genético das populações e das linhagens
derivadas e, consequentemente, dos híbridos resultantes (Eyherabide &
Hallauer, 1991).
O melhoramento genético do milhodoce pode ser resumido em duas ações:
introdução do caráter doce (monogênico
recessivo) a partir de uma fonte genética qualquer em um material de
endosperma normal ou utilização de
germoplasma doce em um programa de
melhoramento de rotina (Parentoni et
al., 1990).
O método de retrocruzamento é a
principal ferramenta para incorporar
características monogênicas. O método
se baseia em introduzir um gene de interesse, como o caráter doce, em determinado material genético superior, através de cruzamentos com a fonte do gene
desejado, seguido de cruzamentos sucessivos com o parental superior. O objetivo do método é recuperar o genótipo
do genitor recorrente, exceto para uma
ou poucas características que o
284
melhorista procura transferir a partir do
genitor doador (Borém, 2001).
O objetivo deste trabalho foi obter
híbridos de milho-doce (su1) de alta produtividade
por
meio
de
retrocruzamento,
caracterizar
morfológica e agronomicamente os híbridos e seus progenitores e obter a estimativa da heterose para os caracteres
avaliados.
MATERIAL E MÉTODOS
Material Genético
Foram utilizadas as linhagens Docede-Cuba e 43IN, obtidas do banco de
germoplasma da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), e as populações
Piranão-8 e Cimmyt-8, fornecidas pelo
banco de germoplasma da Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF).
O gene mutante su1, responsável
pelo sabor doce no milho foi transferido a partir das linhagens de milho-doce
43 IN e Doce-de-Cuba para as populações de milho comum Cimmyt-8 e
Piranão-8. A introgressão do gene e a estabilidade foram obtidas através de cinco
ciclos de retrocruzamento, em que se recuperou 98,45% do genoma recorrente.
De posse dos dois conjuntos de indivíduos
de milho-doce retrocruzados, realizou-se
o cruzamento entre os mesmos visando à
obtenção de híbridos (Tabela 1).
Delineamento Experimental e
Tratos Culturais
Para verificar o desempenho dos híbridos obtidos, realizou-se o plantio das
onze populações no mês de setembro de
2003, utilizando-se delineamento em
blocos ao acaso, com duas repetições e
parcelas formadas por quatro fileiras de
5 metros de comprimento cada, com
espaçamento de 1,00 x 0,20 m entre linhas e plantas, respectivamente. Foram
utilizados dois ambientes distintos: Colégio Agrícola Antônio Sarlo, localizado em Campos dos Goytacazes, e
PESAGRO-RJ, na Ilha Barra do Pomba, em Itaocara, RJ. Campos dos
Goytacazes situa-se no Norte do Estado do Rio de Janeiro, a 21º 45’ S, 41º
20’ W e 11 m de altitude (Oliveira,
1996). O clima é classificado como tropical chuvoso, de bosque (Am) com uma
precipitação média anual de 1023 mm,
evapotranspiração potencial de 1601
mm anuais e temperatura média anual
de 23º C (Ometto, 1981). Itaocara localiza-se na Região Noroeste Fluminense,
a 21º 39’ 12’’ S, 42º 04’ 36’’ W e 60 m
de altitude. O clima do tipo Awi, com
temperatura média anual de 22,5ºC e
precipitação média anual de 1041 mm
(Fontes, 2001).
A semeadura foi feita manualmente, utilizando-se três sementes/cova,
0,02 m de profundidade. Utilizou-se irrigação por aspersão, duas vezes por
semana, por um período de duas horas,
com aspersor de 3 m3 hora-1 de lâmina
d’água. Durante o ciclo das plantas, foi
realizado um desbaste, 25 dias após a
semeadura, deixando uma planta por
cova. Para o controle de ervas daninhas
utilizou-se capina e controle químico.
Determinações Agronômicas
Foram avaliadas as seguintes características: no. de espigas por parcela (NE),
porcentagem de espigas atacadas por pragas (EAP), diâmetro da espiga (DE), diâmetro do sabugo (DS), comprimento do
grão (CG), no. de fileiras de grãos (NFG),
comprimento da espiga com palha (CECP),
comprimento da espiga sem palha (CESP)
e produtividade sem palha (PrE). As espigas foram colhidas 23 dias após a
polinização. Para DE, DS, CG, NFG, CECP
e CESP utilizou-se a média das cinco melhores espigas da fileira. Foram avaliadas
ainda a altura de planta (AP), medida em
oito plantas por parcela a partir do nível do
solo até o nó da inserção do pendão; altura
de inserção espiga principal (AE), medida
em oito plantas por parcela a partir do nível do solo até a inserção da espiga principal; no. de plantas por fileira (NP), obtido
pela contagem das plantas de cada parcela
na época da colheita; no.de folhas da planta
(NF), medidas em oito plantas por parcela;
no. de dias para o florescimento (do plantio
ao florescimento) (NDF); no. de dias para
colheita (do plantio a colheita) (NDC);
no. de plantas acamadas (NPA), obtido
pela contagem das plantas de cada parcela e; no. de plantas quebradas (NPQ),
obtido pela contagem das plantas quebradas de cada parcela. A determinação dos valores da heterose foi realizada através da comparação de cada híbrido com o valor da média dos pais e
com o valor do pai mais produtivo.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1)
Os resultados de todas as características foram submetidos a análise
Univariada, por local e conjuntamente,
e o DMS foi calculado pelo teste t de
Student, a 5% de probabilidade, utilizando-se para tanto o programa estatístico SAS (SAS, 1996).
Tabela 1. Caracterização de materiais de milho. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise estatística univariada mostrou não haver interação genótipo x
ambiente para nenhuma característica
nos experimentos instalados em Itaocara
e Campos dos Goytacazes (resultados
não apresentados). Portanto, foi realizada a análise conjunta dos dados.
Neste trabalho não foram feitas
inferências quanto aos ganhos de
heterose do híbrido HDC, uma vez que
a origem da linhagem PDC ainda está
sob investigação. Algumas características apresentadas pela linhagem PDC a
excluem do material genético selecionado para este trabalho, como, por
exemplo, dias até o florescimento, em
que a linhagem mostrou-se muito precoce, e altura das plantas, em que as
plantas desta linhagem foram tão altas
quanto plantas de materiais que não possuem o gene braquítico (br2).
As linhagens de milho-doce 43IN e
Doce-de-Cuba foram mais suscetíveis
ao ataque de pragas quando comparadas aos demais genótipos (Tabela 2).
Anteriormente, Treat & Tracy (1994) e
Bordallo et al. (2005) haviam obtido
resultados semelhantes. Considera-se
que a maior susceptibilidade seja devido a uma maior concentração de açúcares e de outros atrativos nos grãos de
milho-doce. A população Cimmyt-8 e o
híbrido UENF506-8, com 28,7 e 25,7%
de espigas atacadas, respectivamente,
apresentaram maior resistência ao ataque de pragas por possuírem
endosperma amiláceo e rústico, menos
atrativo que o endosperma doce
(Bordallo et al., 2005). Dois outros materiais, a linhagem C43 (22,9%) e o híbrido H43IN (22,4%) também apresentaram resistência significativa quando
comparados às linhagens 43IN (60,0%)
e Doce-de-Cuba (55,6%). Por outro
lado, as linhagens P43 (42,0%) e PDC
(35,7%), assim como a população
Piranão-8 (36,6%), apresentaram um
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
1
RC: retrocruzamento.
Tabela 2. Espigas atacadas por pragas (EAP), diâmetro da espiga (DE), diâmetro do sabugo
(DS), comprimento do grão (CG), número de fileiras de grãos (NFG), comprimento da
espiga com (CECP) e sem palha (CESP) e produtividade sem palha (PrE) de onze populações de milho. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004.
H= Índice de determinação genotípica.
nível apenas intermediário de resistência, o que pode significar que a população Piranão, por apresentar grãos do tipo
dentado, próximo a farináceo, seja menos resistente ao ataque de pragas que
as populações de grãos duros (Pereira,
2004. Comunicação pessoal). Verificouse também que a resistência tendeu a
permanecer nas linhagens obtidas por
retrocruzamento, demonstrando que a
resistência do genitor recorrente foi recuperada após cinco ciclos do
retrocruzamento. Quanto aos híbridos,
além de apresentarem boa resistência ao
ataque de pragas (Tabela 2), apresentaram heterobeltiose elevada, de 30,9% e
21,1% para H43IN e UENF506-8, respectivamente (Tabela 3).
Os materiais genéticos que possuem
o gene mutante su1 apresentaram espigas e sabugos de maior diâmetro (Tabela 2), sendo esta uma característica própria do milho-doce. Verificou-se também
que para tais características, o híbrido doce
não apresentou heterose, enquanto o híbrido comum apresentou heterobeltiose
(3,0 e 5,7%, para diâmetro da espiga e do
sabugo, respectivamente). Para o comprimento dos grãos, o híbrido doce apresentou heterobeltiose de 2,0%, enquanto o
híbrido comum não apresentou heterose
significativa (Tabela 3).
285
LFG Oliveira Júnior et al.
Tabela 3. Estimativa da heterose (%) de cruzamentos, entre as linhagens de milho obtidas
por retrocruzamento P43 e C43 e entre as populações genitores recorrentes Piranão-8 e
Cimmyt-8. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004.
Observou-se também dois grupos de
materiais bem distintos quanto ao número de fileiras de grãos (Tabela 2). Um
grupo com maior número de fileiras, composto pelas duas linhagens doadoras (43IN
e Doce-de-Cuba) e outro grupo, com menor número de fileiras, composto pelos
demais materiais, mostrando novamente
que cinco ciclos de retrocruzamento foram suficientes para recuperar a maioria
dos genes recorrentes.
As características comprimento de
espiga com palha (CECP) e comprimento de espiga sem palha (CESP), apresentaram efeitos de heterobeltiose (Tabela 3) para ambos os híbridos doce e
comum, com efeito de 10,0% e 4,4%
para CECP e CESP no híbrido H43IN,
e 4,7% e 10,4% para CECP e CESP no
híbrido UENF506-8. Verificou-se, tanto com palha quanto sem palha, que o
milho comum apresentou maiores espigas e que os genótipos doadores apresentaram os menores comprimentos.
Verificou-se o maior efeito (presença)
dos genes do genótipo doador nos
retrocruzados, fazendo com que eles
apresentassem menor comprimento que
as populações Piranão-8 e Cimmyt-8
(Tabela 2). Desta forma, pode-se caracterizar os materiais de milho-doce (43IN
e Doce-de-Cuba) como aqueles de maior
diâmetro de espiga e de sabugo, maior
número de fileiras de grãos, menor comprimento de espigas com palha e sem
286
palha, e, para a linhagem Doce-de-Cuba,
maiores grãos.
Determinadas características da espiga são indispensáveis durante a
comercialização de milho-verde, seja
para a indústria (na forma de enlatado)
ou para o consumidor (in natura), que
adquire o produto com base principalmente no tamanho e qualidade das espigas (Gama et al., 1983; Viana et al.,
1983). Desta forma, os produtores de
milho-verde, seja milho-doce ou milho
comum, procuram sempre cultivares
que possuam espigas atrativas, ou seja,
espigas despalhadas maiores que 15 cm
de comprimento, diâmetro superior a 3
cm e isentas de pragas e doenças (Paiva
Júnior et al., 2001). Por esses critério,
pode-se constatar que todos os onze
materiais são classificados como comerciais para comprimento e diâmetro, sobressaindo as populações de milho comum e os híbridos de milho-doce (Tabela 2). Para resistência ao ataque de
pragas e doenças, o híbrido 43IN e a linhagem Doce-de-Cuba não poderiam
ser recomendados.
Além dos atributos comerciais, a
produtividade é uma característica de
extrema importância. No presente trabalho observou-se que as médias para
produtividade (PrE) dos híbridos avaliados, H43IN (7,83 t ha-1) e HDC (7,62
t ha-1), apresentaram melhoras significativas em relação aos genitores doado-
res (5,97 e 5,40 t ha-1 respectivamente)
(Tabela 2). O híbrido H43IN expressou
heterobeltiose de 21,1% sobre seus
parentais (Tabela 3). Os híbridos
UENF506-8 (9,05 t ha-1) e H43IN (7,83
t ha-1) foram os mais produtivos, não apresentando diferença significativa entre si
(Tabela 2). O híbrido HDC foi ligeiramente inferior (7,62 t ha-1), o suficiente
para diferir estatisticamente do híbrido
UENF506-8, que apresentou ganho de
heterobeltiose de 11,0% (Tabela 3).
Segundo Borém (2001) valores de
coeficiente de determinação genotípica
(H) maiores que 80% indicam que os
indivíduos selecionados para tais características (DE, DS, CG, NFG, CECP,
CESP e PrE) possuem variabilidade devida ao genótipo, ou seja, mais de 80%
da variabilidade genética é devido ao
efeito predominantemente do genótipo
(Tabela 2). Já para a característica de
espigas atacadas por pragas essa influência não foi tão acentuada (54,5%), podendo ainda ser considerada de média
influência genotípica.
Com relação à altura de plantas (Tabela 4), o híbrido 43IN e a linhagem
Doce-de-Cuba (186 cm e 178 cm) apresentaram altura superior aos demais
materiais, o que era esperado, pois esses dois genótipos não possuem o gene
braquítico (br2), responsável pela redução do porte da planta. Verificou-se, assim, que durante o retrocruzamento, o
gene braquítico foi totalmente recuperado. Para o caráter altura de inserção
de espiga principal (Tabela 3), os híbridos H43IN e UENF506-8 apresentaram
ganho de heterose de 5,6% e 4,9%, respectivamente.
O número de plantas por parcela
(Tabela 4) não apresentou diferença significativa, variando de 21 a 24,7 plantas por fileira de cinco metros. O híbrido H43IN apresentou um ganho de
heterobeltiose de 13,9%, enquanto que
o híbrido UENF506-8 apresentou
heterose de 2,1%.
Com relação ao número de espigas
(Tabela 4), pôde-se distinguir três grupos: o primeiro composto pelos materiais 43IN e Doce-de-Cuba com 21,2 e
20,2 espigas por fileira, respectivamente; o segundo grupo composto pelos
materiais Piranão-8, Cimmyt-8 e
UENF506-8 que apresentaram 33,5,
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1)
34,0 e 34,0 espigas por fileira, respectivamente; e o terceiro grupo, intermediário aos dois anteriores, composto pelo
restante dos materiais, onde o número
de espigas por fileira variou entre 24,0
e 28,5. Em relação a esta característica,
o híbrido H43IN apresentou ganho de
heterobeltiose de 9,2%, enquanto o híbrido UENF506-8 apresentou heterose
de 0,7% (Tabela 3).
Os materiais de milho-doce 43IN e
Doce-de-Cuba, por não possuírem gene
braquítico, são de maior porte e apresentam maior espaçamento entre os
internódios. Consequentemente, possuem menor quantidade de folhas por
planta (Tabela 4). Em relação a esta característica, observou-se a formação de
dois grupos bem distintos, um composto pelos materiais de milho-doce e, o
outro, pelos demais materiais, portadores do gene braquítico.
O número de dias para o
florescimento e número de dias para
colheita (Tabela 4) praticamente não
diferiram entre os materiais avaliados,
com exceção da linhagem PDC, cuja
procedência não é totalmente
esclarecida. Os materiais avaliados não
diferiram entre si em relação ao número de plantas acamadas e de plantas quebradas (Tabela 4).
Observando as características altura de plantas, altura de espigas, número
de espigas, número de folhas, número
de dias para o florescimento e número
de dias para a colheita verificou-se que
o índice de determinação genotípica, H,
apresentou forte influência do genótipo,
superior a 84% (Tabela 4). Já para a característica de número de plantas, número de plantas acamadas e número de
plantas quebradas a influência
genotípica foi menor.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPERJ
(Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) pelo auxílio financeiro concedido; a E.E. da
PESAGRO-RJ (Itaocara) e ao Colégio
Agrícola Antônio Sarlo (Campos dos
Goytacazes), pela oportunidade de
implementar os experimentos de campo, e ao técnico agrícola Geraldo Francisco de Carvalho, pelo auxílio em toHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 4. Altura de planta (AP), altura de inserção de espiga principal (AE), número de
plantas por parcela (NP), número de espigas (NE), número de folhas (NF), número de dias
para o florescimento (NDF), número de dias para colheita (NDC), número de plantas acamadas
(NPA) e número de plantas quebradas (NPQ) de onze populações de milho. Campos dos
Goytacazes, UENF, 2003-2004.
H= Indice de determinação genotípica
das as etapas do experimento.
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Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância1
Luciana M de Carvalho2; Vicente Wagner D Casali3; Suzana Patrícia Lisboa3; Luiz Claúdio de A Barbosa3; Paulo Roberto Cecon3
2
Embrapa Tabuleiros Costeiros, C. Postal 44, 49025-040 Aracaju-SE; 3UFV, 36570-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Artemísia [Tanacetum parthenium (L.) Schultz-Bip.] é uma planta
medicinal fortemente aromática, cujo princípio ativo característico
é a lactona sesquiterpênica partenolídeo. Entre os fatores que afetam o cultivo das plantas medicinais destaca-se a irradiância luminosa. O presente trabalho teve por objetivo verificar efeitos de três
níveis de irradiância luminosa (730, 523 e 382 µmol de fótons m-2 s-1)
na altura, área foliar, número de folhas, teor de açúcares, de amido e
de partenolídeo em artemísia. As plantas cresceram a pleno sol e
com 30 e 50% de redução na irradiância por 105 dias. A redução na
irradiância foi obtida por meio de sombreamento artificial, com a
utilização de telas de polietileno pretas. A redução na irradiância
incidente causou aumento na altura e na área foliar total de cada
planta, mas não alterou o número de folhas. Houve diminuição nos
teores de açúcares e de amido em função do sombreamento, mas os
teores de partenolídeo não foram alterados significativamente.
Growth and metabolism of feverfew plants in response to
the irradiance level
Palavras-chave: Tanacetum parthenium, sombreamento, plantas
medicinais, açúcares solúveis, amido, partenolídeo.
Keywords: Tanacetum parthenium, shadowing, medicinal plants,
soluble sugars, starch, parthenolide.
Feverfew [Tanacetum parthenium (L.) Schultz-Bip.] is a strongly
aromatic medicinal plant, whose active principle is the sesquiterpene
lactone parthenolide. Irradiance ranks among the most important
factors that affect growth of medicinal plants. The effect of three
irradiance levels (730, 523 and 382 µmol of fotons m-2 s-1) were
assessed on feverfew plants height, leaf area, and leaf number, as
well as on the contents of sugar, starch, and parthenolide. Plants
grew on full sunshine and under 30 and 50% of irradiance reduction,
for 105 days. Irradiance was controlled by shadowing plants with a
black polyethylene screen. Reduction on irradiance increased plant
height and total leaf area, but had no effect on leaf number. A
reduction in sugar and starch contents in association with shadowing
was observed. Nevertheless, shadowing did not affect significantly
the parthenolide content.
(Recebido para publicação em 23 de fevereiro de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006)
N
as últimas décadas têm-se testemunhado o retorno ao uso de plantas
medicinais e seus derivados, em função
dos altos preços dos medicamentos
quimio-sintéticos e da busca por uma
vida mais saudável. A artemísia ou
artemigem, Tanacetum parthenium (L.)
Schultz.-Bip., é uma planta fortemente
aromática, que nos últimos 20 anos, tem
recebido considerável atenção, em razão de suas propriedades profiláticas
com respeito à freqüência e severidade
dos ataques de enxaqueca (Hewlett et
al., 1996; Weber et al., 1997). O constituinte químico característico e responsável pelo seu efeito terapêutico é o
partenolídeo,
uma
lactona
sesquiterpênica, presente na parte aérea
dessas plantas (Bohlmann & Zdero,
1982; Begley et al., 1989; Rey et al.,
1992; Hendriks et al., 1996; Hewlett et
al., 1996; Brown et al., 1997).
A demanda crescente por plantas
medicinais torna o cultivo cada dia mais
1
importante. Na produção de plantas
medicinais há aspectos intrínsecos,
ambientais e técnicos que influem na
área cultivada e, consequentemente, na
produção de metabólitos pela planta e
na utilização destes na elaboração de
princípios ativos (Ming, 1994). A luz
como fonte primária de energia é um dos
principais fatores, relacionados à produtividade fotossintética, a ser considerado.
As respostas das plantas à redução
da intensidade luminosa são muitas e
variadas. Essencialmente há duas estratégias para enfrentar a condição de
sombreamento: alterar o processo de
crescimento e desenvolvimento e, assim, evitar o sombreamento, ou tolerar
e manter o padrão de crescimento
(Smith & Whitelam, 1997). Em geral, a
baixa intensidade de luz resulta em diminuição na taxa de fotossíntese, na biomassa e na produção, podendo ainda
afetar o transporte de fotoassimilados e
a relação fonte:dreno (Souza et al.,
1999). No entanto, a plasticidade
adaptativa das espécies vegetais à radiação solar depende do ajuste do aparato
fotossintético, a fim de possibilitar conversão altamente eficiente de energia
radiante
em
carboidratos
e
consequentemente promover maior
crescimento (Alvarenga et al., 2003).
Este trabalho teve por finalidade
verificar os efeitos de três níveis de
irradiância luminosa na altura, área foliar, número de folhas, teor de açúcares
solúveis, de amido e de partenolídeo em
plantas de artemísia.
MATERIAL E MÉTODOS
Plantas de artemísia, Tanacetum
parthenium (L.) Schultz.-Bip, foram
obtidas de sementes cedidas pelo Grupo Entre Folhas, localizado em Viçosa,
MG. Aproximadamente dois meses após
semeadura em bandejas de isopor, plan-
Trabalho executado com apoio do CNPq, como parte de tese de doutoramento em fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
289
LM Carvalho et al.
tas com cerca de 0,11 m e com 15 folhas, em média, foram plantadas em
vasos de dez litros, preenchidos com
substrato
constituído
por
terra:areia:esterco bovino decomposto,
na respectiva proporção de 3:2:1. Amostras do substrato dos vasos foram analisadas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), resultando em boa disponibilidade de bases trocáveis (valor de soma
de bases, SB= 6,02 cmol dm-3 e de saturação de bases, V= 78%) e ótima disponibilidade de fósforo (268 mg dm-3).
O experimento foi conduzido no viveiro de plantas ornamentais da UFV,
em Viçosa (20° 45’S, 650 m de altitude), segundo esquema de parcelas subdivididas, tendo nas parcelas três níveis
de irradiância luminosa incidente (730,
523 e 382 µmol de fótons m-2 s-1, em
média), que corresponderam à exposição da planta a pleno sol e a 30 e 50%
de sombreamento. O sombreamento foi
obtido com tela plástica de polietileno
preta. Nas subparcelas foram alocadas
seis épocas de colheita (30, 45, 60, 75,
90 e 105 dias após início do
sombreamento das plantas). O delineamento utilizado foi blocos ao acaso, com
quatro repetições, sendo cada parcela
constituída por seis vasos e, cada
subparcela, por um vaso.
As épocas de colheita da parte aérea
das plantas foram determinadas a partir
dos resultados de Hendriks et al. (1997)
e de Figueiredo (1998) com plantas de
artemísia, considerando que o estádio de
desenvolvimento das plantas poderia
afetar não só o crescimento, mas também os teores de partenolídeo e de açúcares solúveis e insolúveis disponíveis
na parte aérea. As plantas foram secas à
temperatura ambiente e a umidade do
ar foi mantida em torno de 50% (câmara seca), por meio de desumidificador
comercial, com capacidade de 18 L dia-1
em 280 m3, circulação 600 m3 hora-1,
motor 390 watts e 110 volts, durante
cerca de 20 dias.
O crescimento das plantas foi
monitorado por meio de medições periódicas da altura média das plantas, número de folhas e da área foliar total de
cada planta. As primeiras medições foram realizadas no dia em que
implementou-se o regime de
sombreamento, denominado dia zero.
290
Na determinação da área foliar utilizou-se análise de regressão múltipla
para estimar a equação (Y=
4,46065+1,15393C - 0,0241692C 2 5,03714L+0,701271L 2+0,192815CL,
cujo coeficiente de determinação foi r2=
0,9169) que mais se ajustasse aos dados. Para isso, antes de iniciar o experimento propriamente dito, foram feitas
medições de comprimento e maior largura das lâminas foliares maiores e de
dimensão média em cerca de doze plantas de artemísia, em três estádios de desenvolvimento. As medidas foram tomadas utilizando-se régua milimetrada. A
área destas mesmas lâminas foliares foi
avaliada por meio do medidor de área
foliar portátil Li-cor, modelo 3000. Posteriormente, no decorrer do período experimental, foi possível estimar, em cada
época de colheita, a área da folha maior
e da folha de dimensão média, sem precisar retirá-las das plantas, por meio da
equação de regressão obtida e de medidas de comprimento (C) e largura (L)
máximas dessas lâminas foliares. A área
foliar total foi, em seguida, estimada
multiplicando-se a área foliar média de
cada planta pelo número de folhas
(Figueiredo, 1998; Carvalho, 2001).
Em todas as épocas determinou-se
o teor de açúcares solúveis totais, redutores, não redutores e de amido nas folhas do terço superior das plantas. A
determinação de açúcares e amido foi
feita a partir de amostras foliares de 300
mg retiradas das folhas expandidas do
2o. e 3o. nó a partir do ápice (Carvalho,
2001), segundo procedimento adotado
por Gomes (2000). A determinação do
teor de açúcares solúveis totais foi realizada com alíquotas desse extrato e reação com antrona (Hodge & Hodfreiter,
1962). O teor de açúcares redutores foi
determinado conforme metodologia descrita por Nelson (1944) e adaptada por
Somogy (1952). O teor de açúcares nãoredutores foi estimado por meio da diferença entre o teor de açúcares solúveis
totais e o de açúcares solúveis redutores.
Na extração de amido foi utilizado
o resíduo proveniente da extração de
açúcares solúveis totais, ressuspendido
em 5,75 mL de ácido perclórico a 30%
e mantido em repouso por 30 minutos,
com agitações ocasionais. A suspensão
foi, então, centrifugada a 3000 x g du-
rante dez minutos. Esse procedimento
foi repetido por mais duas vezes, sendo
o precipitado descartado e os
sobrenadantes combinados. O volume
final foi ajustado com água destilada
para 50 mL. A determinação do teor de
amido foi feita em alíquota do extrato,
por meio da reação com antrona
(McCready et al., 1950, citado por Gomes, 2000).
A extração do partenolídeo, a partir
da parte aérea das plantas (folhas, botões florais e inflorescências), foi realizada de acordo com método descrito por
Brown et al. (1997; 1999), com adaptações de Carvalho (2001). Após moagem
de folhas e inflorescências, amostras de
200 mg da parte aérea das plantas foram homogeneizadas em clorofórmio e
em seguida, submetidas a banho-maria
com ultra-som, por 15 minutos, para
extração do partenolídeo. Posteriormente, esse extrato foi filtrado e levado ao
evaporador rotativo a 38°C, para eliminação do solvente. As condições de determinação do teor de partenolídeo em
cada amostra foram similares às descritas por Hendriks et al. (1997).
Os extratos foram analisados por
cromatografia gasosa, utilizando-se aparelho Shimadzu, modelo GC - 17A,
equipado com detector de ionização de
chama, acoplado a registrador e
integrador C-R6A Cromatopac. A coluna utilizada foi a capilar SBP-5
(Supelco), com 30 m de comprimento
por 0,25 mm de diâmetro interno e filme com espessura de 0,25µm. O gás
carreador foi o nitrogênio. As temperaturas utilizadas no injetor (270oC) e no
detector (300oC) foram definidas em
testes preliminares. A temperatura da
coluna durante a extração aumentou de
220 a 250oC, com isoterma de dez minutos em 250oC.
As amostras do extrato foram precisamente pesadas (10 mg) e diluídas em
clorofórmio, sendo injetado 1 µL. Nas
alíquotas (1 µL) do extrato total, o teor
de partenolídeo foi quantificado por referência com curva-padrão. O teor de
partenolídeo nas amostras foi expresso
por planta individual, em relação a massa seca da parte aérea (em miligrama) e
em porcentagem (m/m) de massa seca.
Os dados obtidos foram analisados
utilizando-se técnica de superfície de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância
resposta. Os modelos foram escolhidos
baseando-se na significância do teste t,
a 5% de probabilidade, e no coeficiente
de determinação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A redução na irradiância causou aumento na altura média das plantas de
artemísia, em função do tempo após início do sombreamento. Enquanto as plantas crescidas por 105 dias em ambiente
com 30 ou 50% de sombreamento alcançaram, em média, 0,92 m e 1,06 m,
respectivamente (Figura 1a), as plantas
mantidas a pleno sol atingiram cerca de
0,76 m de altura. Portanto, considerando-se as médias obtidas no nível de
maior irradiância como referência, houve aumento em torno de 21 e 39%, respectivamente, na altura média das plantas crescidas a 30 e 50% de
sombreamento. Apesar das reações ao
sombreamento serem diversas, o estímulo no crescimento em altura é uma
das respostas mais características e rápidas ao sombreamento (Morelli &
Ruberti, 2000). Essencialmente, as plantas são capazes de evitar ou tolerar o
sombreamento. As espécies que respondem ao sombreamento com maior crescimento em altura são capazes de escapar às alterações mais prejudiciais causadas pelo sombreamento (Taiz &
Zeiger, 1998; Morelli & Ruberti, 2000).
Esse é o caso da sálvia (Salvia
officinalis) e do tomilho (Thymus
vulgaris) que, à semelhança da
artemísia, tiveram maior crescimento
em altura quando submetidos a
sombreamento (Li et al., 1996).
O número de folhas nas plantas de
artemísia não foi modificado em função
do nível de irradiância. No entanto, a
área foliar total de cada planta (Figura
1b) variou, sendo maior nas plantas crescidas nos menores níveis de irradiância.
O valor máximo de área foliar (1,14 m2),
estimado fixando-se o nível de
irradiância, foi alcançado 64 dias após
início do sombreamento, pelas plantas
submetidas a 50% de redução de
irradiância. Nesse mesmo dia, as plantas crescidas a 30% de sombreamento
alcançaram área foliar de 1,04 m2 e, as
que se desenvolveram a pleno sol, 0,89
m2. Assim, adotando como referência a
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figura 1. Altura (a) e área foliar total por planta (b) de artemísia, em função do tempo e da
intensidade de sombreamento. Viçosa, UFV, 2006.
média de área foliar das plantas crescidas a pleno sol, as plantas crescidas com
50% de sombreamento tiveram, 64 dias
após o início do sombreamento, incremento de 28% e 39% em área foliar e
altura respectivamente. Plantas de trigo, de pitanga, de Croton urucurana
Baill e da invasora Ischaemum rugosum
tiveram maior área foliar quando cresceram sob sombreamento artificial
(Friend & Pomeroy, 1970; Marenco &
Reis, 1998; Scalon et al., 2001;
Alvarenga et al., 2003). O aumento da
área foliar decorre de ampliação da superfície fotossintetizante na planta visando maximização da absorção luminosa (Scalon et al., 2001). Em geral,
folhas sombreadas podem ter área superficial 20 a 80% maior do que folhas
crescidas ao sol (Nobel, 1991). A redução no nível de radiação incidente induziu as plantas a investirem maior
proporção dos seus recursos no cresci-
mento em altura e em área foliar. O aumento na área foliar total pode decorrer
tanto de aumento na expansão celular,
quanto de aumento no número de divisões celulares ao longo da lâmina foliar
(Friend & Pomeroy, 1970).
A redução na área foliar total das
plantas, verificada nas últimas épocas
de colheita, provavelmente ocorreu devido tanto à perda das folhas senescentes
(folhas mais basais), quanto à redução
nas dimensões das folhas. Isto porque a
metodologia de área foliar total por planta considerou não apenas o número de
folhas em cada planta, mas também a
dimensão.
A redução na irradiância luminosa
incidente nas plantas de artemísia não
alterou significativamente o acúmulo de
massa fresca e seca da planta inteira (dados não apresentados), apesar de ter causado aumento significativo na altura e
na área foliar total de cada planta (Fi291
LM Carvalho et al.
Figura 2. Teor de açúcares solúveis redutores (a), não-redutores (b), totais (c) e de amido, em miligrama por grama de massa fresca (mg g-1
MF), nas folhas expandidas do 2o. e 3o. nós das plantas de artemísia, em função do tempo e da intensidade de sombreamento. Viçosa, UFV, 2006.
gura 1) e diminuição no teor de açúcares solúveis e totais das folhas (Figura
2). Diminuição nos teores de açúcares
solúveis e de amido ocorrem em decorrência de reduções na taxa fotossintética
(Kasperbauer, 1994; Dubey &
Pessarakli, 1995).
Os teores de açúcares solúveis redutores, não-redutores, totais e de amido foram maiores nas plantas mantidas
a pleno sol durante todo seu desenvolvimento (Figura 2). Fixando-se o nível
de irradiância, verificou-se maior teor
de açúcares solúveis totais (Figura 2c)
73 dias após início do experimento nas
plantas a pleno sol (145,3 mg de açúcar
por grama de massa fresca). Nesta mesma data, as plantas crescidas em 30%
de sombreamento tiveram 96,6 mg e, as
crescidas a 50%, tiveram 95,2 mg de
açúcar por grama de massa fresca. Da
mesma forma, maior teor de açúcares
redutores, monossacarídeos simples
como a glicose (Figura 2a), e de açúcares não-redutores (Figura 2b), como a
sacarose, principal forma transportável
292
de açúcar, ocorreu nas plantas crescidas
a pleno sol. O teor máximo de açúcares
não redutores (Figura 2b) ocorreu 79
dias após início do experimento, nas
plantas crescidas a pleno sol (120,9 mg
g-1 de massa fresca). Nesta mesma data,
plantas submetidas a 30% e 50% de
sombreamento apresentaram, respectivamente, 74,9 mg e 74,0 mg g-1 de massa fresca.
A redução no teor de açúcares solúveis totais, em função do sombreamento
das plantas, deveu-se mais a reduções
no acúmulo de açúcares não-redutores
(em torno de 38%), do que a reduções
no acúmulo de açúcares redutores (em
torno de 3%). Portanto, provavelmente,
o sombreamento prejudicou mais a partição de fotoassimilados do que a capacidade fotossintética dessas folhas.
Marenco & Reis (1998) verificaram alteração na relação fonte:dreno de plantas de Ischaemum rugosum, invasora de
plantios de arroz, sendo que em condições
de irradiância mais altas, as raízes foram
os drenos preferenciais, enquanto com al-
tos níveis de sombreamento, as folhas assumiram este papel. O teor de amido (Figura 2d) também foi máximo nas plantas
a pleno sol. Cerca de 78 dias após início
do experimento, as plantas que cresceram
sem sombreamento continham cerca de
63,3 mg de amido por grama de massa
fresca, enquanto aquelas crescidas em
30% e 50% de sombreamento, continham,
respectivamente, 50,3 mg e 56 mg× g-1 de
massa fresca.
Tanto a síntese de sacarose e de amido, quanto a alocação de carbono dentro da planta têm padrões distintos, mas
podem mudar rapidamente se as condições ambientais são alteradas (Dickson,
1991). Há marcante redirecionamento
do fluxo de fotoassimilados dos órgãos
fonte e dos sítios de armazenamento em
direção ao crescimento em altura nas
plantas capazes de evitar a sombra
(Smith & Whitelam, 1997), o que parece ter acontecido, uma vez que houve
incremento na altura e atraso na emissão de botões florais (dados não apresentados).
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância
O teor de partenolídeo por planta
individual não foi alterado significativamente em função dos níveis de
irradiância. Na Figura 3 verifica-se que
o padrão básico de alteração no teor de
partenolídeo, em função do tempo de
sombreamento foi semelhante nas três
condições de irradiância estudadas, com
dois picos máximos de acúmulo de
partenolídeo, seguidos por declínio.
Resultados similares foram obtidos com
óleo essencial em salsa (Porter, 1989).
Considerando 100 g de massa seca
de artemísia, obteve-se, por volta dos 45
dias após início do experimento, nas
plantas crescidas a pleno sol, valores
máximos de partenolídeo (Figura 3a)
quando a área foliar total estava próxima do seu máximo (Figura 1b). Em seguida houve declínio nesses valores. O
segundo pico de aumento no teor de
partenolídeo, de menores proporções,
ocorreu por volta dos 90 dias após início do experimento, coincidindo com o
início do florescimento.
Analisando-se os efeitos do
sombreamento na porcentagem de
partenolídeo (Figura 3a), verificou-se
valor máximo em torno de 1,5% nas
plantas crescidas sob 30% de
sombreamento, enquanto nas plantas
mantidas a pleno sol o teor de
partenolídeo no início do desenvolvimento chegou a 1,98%, decrescendo, no
entanto, com o tempo em dias. Este valor é maior do que o relatado até aqui
nessa espécie (Hendricks et al.,1997;
Brown et al., 1997). Além disso, nas
plantas crescidas sombreadas, houve
menor variação no teor de partenolídeo
(Figura 3 a e b) durante o crescimento:
a análise da declividade das linhas de
tendência indica que enquanto o teor de
partenolídeo nas plantas a pleno sol diminuiu a cada dia em 0,0129%, nas
plantas submetidas a 30 e 50% de
sombreamento essa redução foi de, respectivamente, 0,0054% e 0,0005%. O
papel da intensidade luminosa na síntese de princípios ativos ainda não está
bem definido. As poucas informações
disponíveis concentram-se no efeito da
luz sobre a síntese de óleos essenciais.
Similarmente ao observado nas plantas
de artemísia 30 dias após início do experimento, Li et al. (1996) obtiveram
decréscimos no teor de óleo quando
plantas de tomilho (Thymus vulgaris)
cresceram sombreadas.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figura 3. Teor de partenolídeo, em porcentagem (a) e em miligrama por grama (b) de plantas de artemísia secas, em função do tempo e da intensidade de sombreamento. Viçosa,
UFV, 2006.
Concluiu-se que, independente do
nível de irradiância luminosa incidente,
a artemísia, mesmo após o
florescimento, continuou com o crescimento em altura até o final do período
monitorado. Além disso, os teores de
fotoasssimilados solúveis (açúcares redutores, não-redutores e totais), assim
como o teor de amido, foram menores
nas submetidas ao sombreamento, que
tiveram, no mesmo período, maior investimento no crescimento em altura e
em área foliar total. Não foi observado
efeito significativo do sombreamento
sobre os teores de partenolídeos nas
plantas estudadas.
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Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício
José Magno Q Luz; Silése T M R Guimarães; Gaspar Henrique Korndörfer
1
UFU-Instituto de Ciências Agrárias, C. Postal 593, 38400-783 Uberlândia-MG; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito do silício sobre o desempenho de nove cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva no sistema
hidropônico NFT. O experimento foi conduzido em ambiente protegido, durante os meses de março a maio de 2003. O delineamento
experimental foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 9x2,
com três repetições, com os fatores: nove cultivares de alface (Vera,
Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá, Lucy Brown, Uberlândia10000 e Mimosa Salad Bowl); e duas soluções nutritivas, uma contendo silício - 1,5 mmol L-1 e outra sem silício. A fonte de silício
utilizada foi a sílica gel de origem japonesa, com 20% de SiO2 e
80% de H2O. As características analisadas foram: diâmetro da cabeça, massa seca e fresca de parte aérea e de raiz e, concentração de
silício nas folhas e raízes. As plantas de alface que receberam silício
apresentaram um menor tamanho quando comparadas às plantas
cultivadas em solução sem silício, apesar de, em ambos os casos,
terem alcançado tamanho comercial. As plantas tratadas com silício
apresentaram menor incidência da anomalia fisiológica queima dos
bordos. Dessa forma o silício pode ser uma alternativa viável para
produção hidropônica de alface, principalmente quando se leva em
consideração as novas tendências de mercado por produtos menores
e com boa aparência.
Hidroponic production of lettuce in hidroponic solution with
or without silicon
Palavras-chave: Lactuca sativa, sílica gel, nutrição de plantas,
hidroponia.
The effect of silicon was evaluated on the performance of nine
lettuce cvs, cultivated in the nutritive solution in hidroponic system
NFT. The experiment was conducted in protected cultivation, from
March to May 2003. The randomized complete blocks design 9x2
was used, with three replications. Two factors were studied: nine
lettuce cultivar (Vera, Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá, Lucy
Brown, Uberlândia-10000 and Mimosa), and presence (1,5 mmol L-1)
or absence of silicon (japanese “silica gel”) in the nutritive solution
with 20% of SiO2 and 80% of H2O. The head diameter, weight of
dry and fresh matter of head and roots, the concentration of silicon
in leaves and roots were analyzed. The lettuce plants which received
silicon presented a lower weight in comparison to the ones cultivated
in solution without silicon, although both reached commercial weight.
The lettuce treated with silicon presented lower incidence of
physiological anomalies such as tip burn. Therefore, the silicon may
be a reliable alternative for hydroponics production of lettuce mainly
when considering the new market tendencies for products with better
appearance.
Keywords: Lactuca sativa, gel silica, plant nutrition, hydroponics.
(Recebido para publicação em 22 de agosto de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006)
O
cultivo hidropônico de plantas no
Brasil tem crescido nos últimos
anos. No entanto, a sua técnica é pouco
conhecida por parte dos agricultores tradicionais, o que gera apreensão e insegurança em adotar este sistema de produção. Porém, buscando atender a um
mercado cada vez mais exigente em
qualidade, a hidroponia se apresenta
como uma técnica bastante promissora,
devido as suas principais vantagens:
controle no uso de nutrientes; antecipação da colheita; homogeneidade de oferta e qualidade dos produtos durante todo
o ano; ausência de necessidades de rotação de culturas, permitindo ao produtor um altíssimo nível de especialização;
menor incidência de pragas e doenças;
menor utilização de mão-de-obra e racionalização do uso da energia. As desvantagens deste sistema são: custo inicial de implantação elevado, exige alto
grau de tecnologia e acompanhamento
permanente do sistema, dependência de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
energia elétrica ou de sistema alternativo, e a fácil disseminação de patógenos
através da própria solução nutritiva
(Faquim & Furlani, 1999).
A alface (Lactuca sativa L.), é
considerada a hortaliça folhosa mais importante na alimentação do brasileiro e,
juntamente com o tomate é a hortaliça
preferida para as saladas por ser refrescante, de sabor agradável e de fácil preparo, o que assegura à cultura expressiva importância econômica. No Brasil
são plantados seis grupos de cultivares
de alface, sendo: grupo Americana com
folhas que formam uma cabeça, semelhante ao repolho, com os bordos das
folhas crespas (ex.: cultivares Tainá e
Lucy Brown); Repolhuda-Manteiga,
semelhante ao anterior, mas com os bordos das folhas lisas (ex.: cultivares Elisa
e Aurélia); grupo Solta-Lisa que são alfaces que não formam uma cabeça e
possuem os bordos das folhas lisas (ex.:
cultivares Regina e Uberlândia-10000);
Solta-Crespa que são alfaces semelhantes ao grupo anterior, mas possuem os
bordos das folhas crespas (ex.: cultivares Vera e Verônica)- é o que mais cresceu o plantio no Brasil, correspondendo
hoje a 70% do mercado; existem ainda
o grupo Mimosa, que são alfaces com
folhas bem recortadas (ex.: cultivar
Salad Bowl) e o grupo Romana, sendo
estes dois últimos com menor importância econômica (Filgueira, 2003).
Recentemente, tem crescido o cultivo desta hortaliça em sistema
hidropônico no Brasil, principalmente
de cultivares do grupo Solta-Crespa.
Esta técnica está sendo utilizada pelos
produtores como forma da agregação de
valor ao produto e viabilização do negócio (Costa & Junqueira, 2000). Segundo
Bliska Jr. & Honório (1995), a hidroponia
reduz em cerca de dez dias o período de
colheita da alface, devido à possibilidade do perfeito controle das condições de
umidade e temperatura dentro da estufa.
295
JMQ Luz et al.
Ainda podem ser citadas as reduções no
uso de agrotóxicos, quando comparados
com o cultivo tradicional, a possibilidade de um excelente plano de
escalonamento de produção e uma melhor padronização dos produtos.
Um aspecto fundamental para o cultivo hidropônico é a escolha da solução
nutritiva, que deve ser formulada de
acordo com o requerimento nutricional
da espécie que se deseja produzir, ou
seja, todos os elementos essenciais para
o seu crescimento em proporções adequadas. No entanto são poucas as informações sobre a melhor solução. Alternativas de novas formulações vêm sendo estudadas, inclusive com silício, que
demonstra um potencial na redução de
doenças e anomalias fisiológicas como,
por exemplo, queima dos bordos em alface. Korndorfer et al. (2002) demonstraram que o silício é capaz de aumentar a resistência das plantas aos ataques
de insetos, nematóides, bactérias e fungos na melhoria do estado nutricional,
na redução da transpiração e possivelmente também em alguns aspectos da
eficiência fotossintética (Korndorfer et
al., 2002). Em alface, a sílica solúvel
como fonte de silício, tem sido pouco
estudada, entretanto inúmeros trabalhos
têm demonstrado o efeito benéfico da
sua utilização em diversas outras culturas (Barbosa Filho et al., 2001). Voogt
& Sonneveld (2001), usando silício em
solução nutritiva com e sem silício no
cultivo de alface, verificaram que a presença de silício diminuiu significativamente os sintomas de toxidez de
manganês, que se caracteriza por manchas escuras nas margens das folhas
mais velhas da alface. No entanto, os
autores verificaram que a absorção de
Si na alface foi pequena, e o conteúdo
de Si nas plantas que receberam o tratamento foi pouco maior em comparação
as do tratamento sem Si.
Em alface as doenças de maior incidência em hidroponia são míldio
(Bremia lactuca), podridão de raízes por
Pythium, podridão por esclerotínia
(Sclerotinia sclerotiorum), septoriose
(Septoria lactucae) e o vírus vira-cabeça, transmitido por tripes. Estas doenças podem ser atenuadas por uma série
e medidas de caráter preventivo, tais
como: utilização de sementes sadias,
limpeza e desinfecção do sistema
296
hidropônico, e fertilização com solução
nutritiva adequada, e nesta última medida é que o silício pode ser benéfico.
Vale ressaltar que as principais cultivares plantadas, incluindo as utilizadas
neste trabalho, não possuem resistência
para as estas doenças, bem como para o
distúrbio fisiológico queima dos bordos.
O objetivo deste trabalho foi avaliar
o efeito do silício sobre o desempenho
de nove cultivares de alface cultivadas
em solução nutritiva no sistema
hidropônico NFT (Nutrient Film
Technique).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Universidade Federal de Uberlândia,
Campus Umuarama, durante os meses
de março a maio de 2003, em estufa tipo
túnel alto, em 2 bancadas de cultivo com
8,75 m de comprimento cada uma, com
nove perfis médios de polipropileno (100
mm) para cultivo hidropônico com
espaçamento de 18 cm entre perfis e
25cm entre orifícios. Cada perfil foi abastecido por um reservatório plástico de
1000 litros ao qual foi conectado uma
bomba de 1 CV. Os reservatórios estavam enterrados com o objetivo de evitar
o aquecimento da solução nutritiva. O
sistema hidropônico adotado foi o NFT.
O delineamento experimental foi o
de blocos casualizados em esquema fatorial 9x2, com três repetições, sendo
nove cultivares de alface (Vera,
Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá,
Lucy Brown, Uberlândia-10000 ou
UDIA 10000 e Mimosa Salad Bowl) e
duas soluções nutritivas, sendo uma contendo silício - 1,5 mmol L-1 e outra sem
silício. A fonte de silício utilizada foi a
sílica gel de origem japonesa com 20%
de SiO2 e 80% de H2O, e a solução nutritiva foi a proposta por Furlani et al.
(1999). Os blocos foram dispostos de
acordo com a posição da planta no perfil hidropônico (posição superior - entrada do perfil, posição mediana e posição inferior – saída do perfil). A parcela
foi composta por 11 plantas em cada
canal, na posição superior (bloco I) e por
12 plantas em cada canal na posição
mediana (bloco II) e inferior (bloco III).
Para o desenvolvimento das mudas
de alface foram utilizadas placas de es-
puma fenólica com dimensões de
2,5x2,5x3,0 cm por célula, que foram
enxaguadas com água corrente, com o
objetivo de eliminar possíveis compostos ácidos remanescentes de sua fabricação. Metade das placas foram
umedecidas com solução nutritiva, diluída em 50% e a outra metade com a
mesma solução nutritiva mais 1,5 mmol
L-1 de silício. As mudas foram mantidas
em uma estrutura coberta com tela de
50% de sombreamento por 18 dias. Em
seguida as plântulas obtidas foram
transferidas para duas bancadas de desenvolvimento (berçário) que continha
quinze perfis de polipropileno pequeno
(50 mm) espaçadas de 10 cm entre si e
com 10 cm entre orifícios. Em uma bancada ficaram as plântulas que recebiam
solução nutritiva diluída em 50% com
silício, e passaram a receber a solução
não mais diluída, mas também com silício (sílica gel 1,5 mmol L-1 de silício),
e na outra bancada ficaram as plântulas
que recebiam solução nutritiva diluída
em 50% sem silício, e passaram a receber a solução não mais diluída, também
sem silício.
A circulação da solução nutritiva nos
perfis foi controlada por um
temporizador “timer” programado para
durante o dia (de 6 h às 18 h) permanecer ligado 15 min e desligado 15 min, e
às 24 h era ligado por 15 min, com um
fluxo de solução de 1,0 litro por min.
As mudas permaneceram no berçário por um período de 12 dias, sendo
então transferidas para duas bancadas de
crescimento e submetidas à irrigação
com a mesma solução nutritiva, com ou
sem silício, sob o mesmo regime de circulação da solução. Foi feito sorteio para
cada variedade no momento da transferência para o perfil de crescimento em
relação às posições: inicial, mediana e
final do perfil.
A solução nutritiva foi preparada a
partir da água da rede urbana (Departamento Municipal de Águas e Esgotos
de Uberlândia - DMAE), a qual foi analisada pelo Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia – UFU,
estando de acordo com as especificações
de Martinez (1997). Este recomenda que
ao se usar água da rede urbana, é conveniente deixá-la em repouso por cerca
de 24 horas para eliminação do cloro
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício
usado em seu tratamento. Para tanto foi
instalado um reservatório com capacidade de 1000 litros.
Para o preparo de 1000 litros da solução nutritiva proposta por Furlani et
al. (1999), foi utilizado um kit comercial para hidroponia, denominado kit
básico (Tabela 1). Todos os reagentes
com exceção das fontes de micronutrientes, que já vêm na forma líquida
pronta para o uso, foram dissolvidos
separadamente em um balde, antes de
serem adicionados ao reservatório de
1000 L. Esse cuidado foi tomado para
se evitar uma reação prévia entres os
reagentes, que poderia ocasionar a formação de precipitados. No momento da
transferência das plantas para os perfis
de 100mm, foram ajustados a
condutividade elétrica (CE) e o pH das
duas soluções.
O manejo da solução nutritiva foi
realizado diariamente através da reposição da água consumida; do acompanhamento da condutividade elétrica, que
foi mantida em uma faixa de 1,8 a 2,0
mS cm-1 e da correção do pH, que foi
realizada diariamente com uma solução
de NaOH 1mol L-1 e HCL 10%, mantendo-o entre 5,5 a 6,5. O ajuste da CE
foi efetuado todas as vezes que esta baixasse de 25% em relação a CE inicial,
ou seja todas as vezes que a CE diminuísse 0,25 mS cm-1 era adicionado a mesma 1 L da solução A e 1 L da solução B,
e uma vez por semana se adicionava 50
ml/1000 da solução C (micronutrientes),
soluções estas propostas por Furlani et
al. (1999) (Tabela 2).
Quando todas as plantas atingiram
o tamanho comercial, foi feita a colheita das duas plantas centrais de cada parcela e avaliação das características: diâmetro da cabeça, massa fresca da parte
aérea e de raiz e, teores de silício nas
folhas e raízes.
Em seguida as medições das massas
frescas e do diâmetro da cabeça, as plantas foram submetidas a uma pré-secagem dentro da casa de vegetação por 24
horas (ponto de murcha) e a uma secagem em estufa a 65° C até atingir massa
constante para avaliação das massas secas de raiz e de parte aérea, o que ocorreu após 72 horas de secagem.
Após a avaliação das massas secas,
essas amostras foram moídas para a reaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 1. Quantidade de sais para o preparo de 1000 litros de solução nutritiva (Furlani et
al., 1999) UFU, Uberlândia, 2004.
Tabela 2. Composição de sais das soluções de ajuste para as culturas de hortaliças de folhas
(Furlani et al., 1999). UFU, Uberlândia, 2004.
lização da análise de silício nas folhas e
raízes. Utilizou-se a metodologia de
Elliot & Snyder (1991) adaptada. Foram pesados 0,100 g de cada amostra,
colocados em tubos de polietileno
(100mL) previamente enxaguados com
NaOH 0,1 mol L-1 e água destilada, onde
foram adicionados 2 mL de H2O2 50% e
levemente agitados por alguns minutos
em um vibrador e 3 mL de NaOH 50%
seguindo o mesmo procedimento. Após
essa etapa, os tubos foram colocados em
banho-maria durante uma hora, agitando-os periodicamente durante os trinta
primeiros min. Após este procedimento, os tubos foram individualmente cobertos com copos plásticos e, posteriormente, levados à autoclave com 138
KPa por uma hora. Completado este
período, os tubos foram removidos e
acrescidos de 45 mL de água destilada.
As amostras foram deixadas em repouso por 12 horas e, em seguida foi separada uma alíquota de 1 mL do
sobrenadante do extrato, colocado em
copo plástico, de volume de 50 mL,
acrescentando-se 15 ml de água destilada. Foram adicionados às amostras,
rapidamente, os seguintes reagentes: 1
ml de HCl (1:1 ou 50%) + 2 ml de
molibdato de amônio. A cor amarela
apareceu em todas as amostras contendo silício. Depois de 5 a 10 min, foram
adicionados 2 ml de ácido oxálico
(50%). Ao mesmo tempo, foram preparadas curvas padrões, com concentrações diferentes de silício. A determinação do silício foi realizada em um
colorímetro com comprimento de onda
de 410 nm após um intervalo de 2 min.
A cor amarela é pouco estável, permanecendo assim por apenas 15 min.
297
JMQ Luz et al.
Tabela 3. Diâmetro de parte aérea, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA),
massa seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de silício na raiz (Si RA) de
cultivares de alface cultivadas no sistema hidropônico em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia, 2004.
Medias seguidas por letras iguais, na coluna, não diferem entre si no nível de 5% de
significância pelo teste de Tukey.
Tabela 4. Diâmetro de cabeça, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA), massa
seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de Silício na raiz (Si RA) em
cultivares de alface cultivadas no sistema hidropônico, em solução nutritiva com e sem
silício. UFU, Uberlândia, 2004.
Medias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si, no nível de 5% de
significância, pelo teste de Tukey.
Os dados obtidos em todas as variáveis foram avaliados com auxílio do
programa estatístico SANEST (Zonta &
Machado, 1984).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas de alface cultivadas em
solução nutritiva com silício apresentaram menor diâmetro de parte aérea, menor massa fresca e seca de parte aérea e
de raiz não diferindo, no entanto, da solução sem silício para a porcentagem de
silício na raiz (Tabela 3). Provavelmente
o silício interfira na absorção de algum
dos nutrientes essenciais para a alface. A
adição de silício para plantas de arroz
cultivadas em solução nutritiva diminuiu
os teores de boro e fósforo nas raízes, de
boro, cálcio, ferro e manganês na casca
(Silva & Bohnen, 2001).
O Si acumulado nas células
epidérmicas e nas paredes dos estômatos
encontra-se na forma de H4SiO4 (ácido
298
monosilícico). Quando a planta começa a perder água (estresse hídrico) a forma monomérica se transforma e formas
poliméricas, isto é o Si começa a formar cadeiras mais pesadas de ácido
polisilícico. O Si ao se polimerizar, diminui a flexibilidade das paredes dos
estômatos e a tendência é de permanecerem fechados. Com os estômatos fechados, a transpiração diminui e a perda de água também. Nestas circunstâncias, segundo Faria (2000) a fotossíntese
diminui, e isto pode ter levado ao menor desenvolvimento e conseqüente
menor massa das plantas de alface cultivadas na solução com silício, principalmente considerando as altas temperaturas registradas durante o experimento, pois as médias de temperatura máxima e mínima, nos meses de março, abril
e maio, variaram de 36,5ºC e 23,5ºC;
35ºC e 19ºC; 36ºC e 17ºC, respectivamente, tendo sido comum a temperatura atingir os 40ºC nas horas mais quentes do dia.
Com relação a variável diâmetro de
parte aérea a cultivar que apresentou
maior diâmetro foi a Mimosa não diferindo estatisticamente, no entanto dos
demais grupos de alface de folhas soltas (Tabela 4). Já as cultivares do grupo
americana (Lucy Brown e Tainá) apresentaram diâmetro de parte aérea menor. Esses resultados já eram esperados,
pois o espaçamento entre perfis e entre
plantas foram inferiores ao recomendado a essas cultivares. No entanto, o menor diâmetro médio não significa que
estas cultivares tinham tamanho e aparência não comerciais. Vale ressaltar
que, na prática, as estufas hidropônicas
são confeccionadas para plantios mais
adensados de maneira a se ter o maior
número de plantas possíveis e conseqüente maior produção, justificando o
alto investimento destas estruturas.
As cultivares que apresentaram
maior massa fresca e seca de parte aérea foram as do grupo americanas (Lucy
Brown e Tainá) não diferindo da cultivar Aurélia que é do grupo cabeça manteiga (Tabela 4). Essa superioridade
pode ser explicada pelas características
agronômicas destas cultivares, ou seja,
são cultivares que apresentam um grande número de folhas em relação às cultivares que não formam cabeça.
Todas as cultivares tiveram um bom
desempenho em relação à massa fresca
de raiz não havendo nenhuma diferença estatística entre elas (Tabela 4). Já
para massa seca de raiz foram observadas diferenças estatísticas sendo as cultivares Aurélia, Lucy Brown, Tainá,
Vera, Verônica, UDIA 10000 e Mimosa
as que apresentaram maiores valores,
porém não diferindo significativamente entre si.
As cultivares Tainá e Elisa apresentaram as maiores porcentagens de silício nas raízes com 0,77 e 0,75% de silício respectivamente, no entanto só diferiram estatisticamente da cultivar
Aurélia (Tabela 4). Resultados semelhantes foram encontrados por Voogt &
Sonneveld (2001), que trabalhando com
alface no sistema NFT, verificaram que,
apesar do claro efeito do acréscimo de Si
na redução da toxidade de Mn, a absorção de Si na alface era pequena, e o conteúdo de Si nas plantas que receberam o
tratamento era levemente maior em comHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício
paração as do tratamento zero de Si.
Houve interação significativa entre
os fatores cultivar e dose de silício para
a variável silício na parte aérea. Na solução nutritiva com silício a cultivar que
apresentou maior acúmulo deste elemento na parte aérea foi a UDIA 10000
com 0,33% não diferindo estatisticamente das cultivares Mimosa e
Verônica. Na solução nutriiva sem silício, a cultivar UDIA 10000 também
apresentou significativamente maior
acúmulo com 0,30% deste elemento em
relação às todas as outras cultivares (Tabela 5). As plantas cultivadas na solução sem silício, apesar de conter esse
elemento em sua composição, apresentaram valores menores. A presença de
silício nestas plantas pode ser explicada
pelo fato do silício ser um elemento
muito abundante na natureza, estando
assim presente em toda parte, inclusive
na água. No entanto, não há como confirmar esta hipótese, pois não foi medida a quantidade de silício na água usada
no experimento.
As cultivares de alface Tainá, Lucy
Brown, UDIA 10000 e Aurélia apresentaram sintomas de queima dos bordos
sendo estes em maior proporção nas
plantas cultivadas em solução nutritiva
sem acréscimo de silício (Figura 1).
Essas cultivares são suscetíveis a esse
distúrbio fisiológico que está relacionado à desestruturação da parede celular,
às altas temperaturas do ar, a deficiência de Ca e a altas concentrações salinas do meio (Fontes, 2003). O efeito
benéfico do silício na diminuição de
queima dos bordos está de certa forma,
de acordo com Voogt & Sonneveld
(2001), que trabalhando com alface também observaram uma diminuição dos
sintomas de manchas escuras nos bordos das folhas mais velhas, no entanto,
segundo os autores, foi devido à toxidez
de manganês.
O silício tem um importante papel
na estruturação das plantas. Sua presença na parede celular pode elevar os conteúdos de hemicelulose e lignina, aumentando a rigidez da célula (Barbosa
Filho et al., 2001). Além disso, o Si regula a transpiração e se a planta perde menos água, logo a possibilidade de necrose
dos tecidos e conseqüente queima dos
bordos, por falta de água é menor.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 5. Interação entre as nove cultivares e as duas soluções nutritivas, com e sem silício,
para a característica percentagem de silício na parte aérea em cultivares de alface em sistema hidropônico. UFU, Uberlândia, 2004.
Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas, na linha, e pelas mesmas letras minúsculas, na coluna, não diferem entre si no nível de 5% de significância pelo teste de Tukey.
Figura 1. Representação gráfica da incidência da queima dos bordos em cultivares de alface produzida no sistema hidropônico em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia, 2004.
Como as plantas de alface cultivadas em solução com silício apresentaram menores problemas com anomalias fisiológicas do tipo queima dos bordos, o silício pode ser uma alternativa
viável para produção hidropônica de
alface, principalmente quando se leva
em consideração um mercado consumidor mais exigente por produtos com
ótima aparência.
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Metodologia para a avaliação do vigor de sementes de tomate
Cibele C Martins; Márcia Maria Castro; Adriana M Seneme; João Nakagawa
UNESP-FCA-Depto. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Os testes de vigor e o teste de germinação são componentes essenciais no controle de qualidade das empresas de produção de sementes. Com o objetivo de verificar a eficiência de diferentes testes
de vigor na avaliação da qualidade de sementes de tomate
(Lycopersicon esculentum Mill), cinco lotes do híbrido Saladinha
foram submetidos aos seguintes testes: germinação; primeira contagem de germinação; emissão de raiz (56, 72, 80 e 96 horas após a
instalação do teste de germinação); emergência de plântulas
(substrato em bandejas de poliestireno); envelhecimento acelerado
(1g de sementes mantidas a 41oC por 48 e 72 horas); envelhecimento acelerado com solução salina saturada (mesmo procedimento do
item anterior mas usando solução de NaCl, 40%) e condutividade
elétrica (50 sementes em 25 mL de água destilada) em câmara a
25oC e leituras após 2, 4, 6, 8 e 24 horas. A porcentagem de germinação e os testes de vigor da emissão de raiz primária (após 56 e 72
horas) e de condutividade elétrica apresentaram-se correlacionados
com a emergência de plântulas. Porém, somente o teste de
condutividade elétrica após 24 horas de embebição mostrou-se eficiente na avaliação do vigor das sementes de tomate, fornecendo
informações semelhantes à emergência de plântulas.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill, controle de qualidade, condutividade elétrica, envelhecimento acelerado, olerícolas.
Methodology for the evaluation of tomato seed vigor
The vigor and germination tests are essential components of seed
quality control for the seed industry. In this research an adequate
method to estimate vigor of different tomato seed lots was studied.
Five lots of tomato seeds of ‘Saladinha´ hybrid were submitted to
the following tests: germination; first counting of germination; root
emission (56, 72, 80, and 96 hours after sowing); seedling emergence
on spedling trays; accelerated aging with water (1g of seeds
maintained at 41°C during 48 and 72 hours); accelerated aging with
salt (the same procedure of last item, but using 40% NaCl solution);
electrical conductivity (50 seeds in 25 mL of distillated water at 25
°C and evaluations after 2, 4, 6, 8, and 24 hours of imbibition). The
germination percentage and vigor tests of primary root emission (after
56 and 72 hours) and electrical conductivity were correlated with
seedling emergence. However, only the electrical conductivity test
after 24 hours of imbibition showed efficiency to evaluate vigor of
tomato seeds taking similar information to seedling emergence.
Keywords: Lycopersicon esculentum Mill, quality control, electrical
conductivity, accelerated aging, vegetables.
(Recebido para publicação em 28 de fevereiro de 2005; aceito em 24 de agosto de 2006)
A
qualidade das sementes é de grande importância na aceitação de um
híbrido no mercado e a avaliação do vigor de sementes é um componente essencial do programa de controle de qualidade, adotado pela indústria sementeira. Deste modo, os testes de vigor disponíveis vêm sendo aperfeiçoados,
adaptando-os às diferentes espécies,
para permitir a obtenção de resultados
consistentes e reproduzíveis. Alguns testes de vigor podem ser realizados conjuntamente com o teste de germinação.
A primeira contagem de germinação,
realizada para facilitar a condução do
teste de germinação, pode ser considerada um teste de vigor, pois sabe-se que
no processo de deterioração a velocidade da germinação é um dos primeiros
parâmetros a ser afetado (Carvalho,
1994). Utilizando o mesmo princípio,
pode-se avaliar o vigor de um lote pelo
índice de velocidade de emergência ou
pela precocidade da emissão da raiz primária, com grande eficiência, como foi
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
observado, por exemplo, para sementes
de milho (Salgado, 1996) e de brócolis
(Martins et al., 2002).
Outro teste rápido de vigor, o da
condutividade elétrica, avalia indiretamente a qualidade das sementes, baseado na concentração de eletrólitos
lixiviados pelas sementes durante o período de embebição, fornecendo resultados no prazo máximo de 24 horas (Vieira,
1994). Para sementes de tomate, o tempo de embebição para esse teste pode
variar de quatro (Sá, 1999) a seis horas
(Rodo et al., 1998) e a eficiência da
metodologia do teste pode depender da
cultivar a ser avaliada (Rodo et al., 1998).
Um dos testes mais utilizados para
a avaliação do vigor é o envelhecimento acelerado (Marcos Filho, 1999a), que
se baseia no aumento da deterioração
das sementes expostas à alta temperatura e umidade relativa. Ensaios de aprimoramento da metodologia do envelhecimento acelerado para olerícolas têm
sido implementados, testando-se diferentes temperaturas e tempos de exposição das sementes ao estresse e comparando-se os resultados à emergência
de plântulas em campo e a outros testes
de vigor, tendo-se obtido para tomate as
recomendações de 72 horas de exposição a 41oC (Hampton & TeKrony, 1995)
ou 42oC (Nascimento et al., 1993). Por
outro lado, métodos alternativos para o
teste de envelhecimento acelerado em
espécies de sementes pequenas, como é
o caso das hortaliças, vêm sendo estudados, como a substituição da água por
soluções saturadas de sais (Panobianco
& Marcos Filho, 1998; Rodo et al.,
2000; Martins et al., 2002). Dependendo da solução utilizada, são obtidos níveis específicos de umidade relativa do
ambiente, permitindo adequar a taxa de
absorção de água da semente, a velocidade e a intensidade de deterioração da
mesma. Assim, para sementes de
olerícolas, como pimentão (Panobianco
& Marcos Filho, 1998), cenoura (Rodo
301
CC Martins et al.
Tabela 1. Coeficientes de correlação simples (R) entre os testes de laboratório e a emergência de plântulas em substrato para mudas, para as sementes de cinco lotes de tomate. Botucatu,
UNESP, 2001.
Significativo a 5%(*), 1% (**) e 0,1% (***) de probabilidade.
et al., 2000) e brócolis (Martins et al.,
2002), o teste de envelhecimento acelerado (41oC por 72h) com o uso de solução saturada de NaCl tem apresentado
maior eficiência na detecção de diferenças de qualidade de lotes que o envelhecimento acelerado sem o uso do sal.
O presente trabalho foi conduzido
com o objetivo de verificar a eficiência
de diferentes testes de vigor e de variações em suas metodologias na avaliação da qualidade de sementes de tomate (Lycopersicon esculentum Mill), visando a diferenciação de lotes e previsão de emergência de plântulas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em laboratório da UNESP em Botucatu, SP, com
sementes de tomate híbrido Saladinha
(Sakata, 2002). Foram avaliados cinco
lotes, colhidos nos seguintes locais e
anos: Lotes 1 e 2 – 1998, em Joanópolis,
SP; Lote 3 – 2001, em Atibaia, SP; Lotes 4 e 5 – 1998, em Cambuí, MG. As
sementes foram armazenadas em câmara com 20°C de temperatura e 33% de
umidade relativa do ar até a realização
do estudo em 2001.
Foram conduzidos os seguintes testes para avaliar a qualidade de sementes: germinação - realizado com quatro subamostras de 50 sementes,
semeadas sobre duas folhas de papel
302
mata-borrão umedecidas com 2,5 vezes
o peso do papel em água, em caixas plásticas transparentes (11x11x3,5cm) em
temperaturas alternadas de 20oC por 16
horas no escuro e 30oC por 8 horas na
luz (Brasil, 1992). As contagens das
plântulas normais foram efetuadas no
quinto e no 10Ú dia (Brasil, 1992); primeira contagem de germinação - realizada conjuntamente com o teste de
germinação, contabilizando-se as
plântulas normais presentes no quinto
dia após a semeadura; precocidade de
emissão de raiz primária - realizada
juntamente com o teste de germinação
contabilizando-se o número de sementes que emitiram a raiz primária após
56, 72, 80 e 96 horas da semeadura (contagem diária sempre no início e final do
período da temperatura mais alta do teste
de germinação); emergência de
plântulas - utilizando-se quatro repetições de 100 sementes por lote, semeando-se duas sementes por célula em bandejas de poliestireno, a 0,5cm de profundidade, em substrato próprio para
produção de mudas de olerícolas
(Plantmax), umedecido duas vezes ao
dia e conduzido em túnel plástico. Aos
14 dias, foi realizada a contagem de
plântulas normais emersas. A umidade
relativa do ar e temperatura do ambiente durante esse período foram
registradas pelo termohigrômetro; envelhecimento acelerado - conduzido
com 1 g de sementes sobre tela em caixa plástica tipo gerbox contendo 40 mL
de água, mantidas a 41oC (100%UR) por
48 e 72 horas (Hampton & TeKrony,
1995; Panobianco & Marcos Filho,
1998), seguindo-se da avaliação da germinação com o mesmo procedimento do
teste de germinação com contagem no
quinto dia; envelhecimento acelerado
com solução salina saturada - utilizouse o mesmo procedimento do item anterior, porém a água foi substituída por
uma solução saturada de NaCl (40%),
com o uso do sobrenadante, de modo a
obter um ambiente com 76% de UR do
ar, adaptando-se a metodologia utilizada por Jianhua & McDonald (1996);
Panobianco & Marcos Filho (1998) e
Rodo et al. (2000); condutividade elétrica - foram utilizadas quatro
subamostras de 50 sementes por lote,
pesadas em balança com precisão de
0,001 g e colocadas para embeber em
copos plásticos contendo 25 mL de água
destilada à temperatura de 25oC, sendo
que as leituras foram efetuadas após 2,
4, 6, 8 e 24 horas (Vieira, 1994).
Além da determinação da qualidade
fisiológica, determinou-se também o
teor de água das sementes, antes e após
o teste de envelhecimento acelerado
com água e com solução salina saturada,
utilizando-se duas subamostras para
cada lote e adotando-se o método da
estufa a 105±3°C/24 h (Brasil, 1992).
A análise de variância foi realizada
separadamente para cada teste, em delineamento inteiramente casualizado,
com quatro repetições, onde a comparação entre as médias dos lotes foi efetuada pelo teste de Tukey, ao nível de
5% de probabilidade. Os dados expressos em porcentagem foram transformados em arc sen (x/100)1/2 e quando ocorreu valor igual a zero, os dados em porcentagem foram transformados em
(x+0,5)1/2. Realizou-se a determinação
dos coeficientes de correlação simples
entre os resultados dos testes de laboratório e da emergência de plântulas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os testes de primeira contagem,
emissão de raiz primária, após 80 e 96
horas e envelhecimento acelerado com
e sem sal não apresentaram correlação
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Metodologia para a avaliação do vigor de sementes de tomate
com a emergência de plântulas e, por
isso, não foram considerados na análise
de qualidade dos lotes. Contrariamente, a porcentagem de germinação e os
testes de vigor da emissão de raiz primária, após 56 e 72 horas e de
condutividade elétrica foram parâmetros
altamente correlacionados com a emergência de plântulas, podendo ser considerados promissores na avaliação da
qualidade de sementes de tomateiro (Tabela 1).
Os resultados de correlação simples
entre condutividade elétrica e emergência de plântulas (Tabela 1) indicaram
correlação negativa entre os testes. Isto
significa que aumentos nos valores de
condutividade elétrica corresponderam
a queda nos níveis de emergência de
plântulas (vigor da sementes) e, este
fato, concorda com relatos da literatura, onde os aumentos nos índices de
condutividade elétrica corresponderam
à maior lixiviação de solutos e, portanto, à diminuição na qualidade fisiológica das sementes (McDonald & Wilson,
1979; Powell, 1986 e Marcos Filho et
al., 1990).
Na avaliação da qualidade das sementes, as médias dos lotes foram comparadas (Tabela 2), para se obter maior
precisão na eficiência dos testes cuja
correlação foi significativa, permitindo
classificar o desempenho dos lotes em
ordem decrescente de vigor dos lotes de
1 a 5.
O teste de germinação não foi capaz
de detectar as diferenças de vigor entre
os lotes. Isso é verificado com freqüência na rotina dos laboratórios de sementes, visto que este teste é necessariamente conduzido em condições consideradas ideais para a espécie e, por isso, não
detecta pequenas variações de vigor
(Marcos Filho, 1999b).
A emergência de plântulas em
substrato em bandeja foi o teste usado
como referência na comparação com os
demais testes de vigor. Durante o período de condução do teste, o ambiente do
túnel plástico apresentou temperaturas de
27±9oC e umidades relativas de 68±29 %.
Este teste foi capaz de separar os lotes
em três classes de vigor: alto (lotes 1, 2 e
3), médio (lote 4 ) e baixo (5).
Os testes de emissão de raiz primária apresentaram resultados contraditóHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 2. Resultados dos testes de germinação (G) e de vigor avaliado pelo teste de emergência de plântulas em substrato para mudas em bandeja (EB), primeira contagem de germinação aos 5 dias após a semeadura (PC), emissão de raiz primária (ER) após 48, 56, 72, 80
e 96 horas, envelhecimento acelerado (EA) e envelhecimento acelerado em solução salina
(EAS) por 48 e 72 horas, condutividade elétrica (CE) 2, 4, 6, 8 e 24 horas de sementes de
cinco lotes de tomate. Botucatu, UNESP, 2001.
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05);
As médias apresentadas são dos dados originais. Os dados expressos em porcentagem foram transformados em arc sen (x /100)1/2 ou em (x+0,5) ½, quando ocorreram valores iguais
a zero.* Lotes 1 e 2 colhidos em 1998 em Joanópolis, SP; Lote 3 colhido em 2001, em
Atibaia, SP e Lotes 4 e 5 colhidos em 1998, em Cambuí, MG.
rios ou inconsistentes na classificação
do vigor dos lotes quando comparados
com os resultados do teste de referência
(emergência de plântulas), ou com os
demais testes de vigor, pois apresentou
similaridades entre os lotes 2, 3, 4 e 5,
após 56 e 72 horas de embebição.
Ainda na Tabela 2, observa-se que o
teste de condutividade elétrica, realizado após 2 horas de embebição, não foi
tão eficiente na classificação dos lotes,
quando comparado ao teste de referência adotado e ao conjunto dos demais testes, pois classificou os lotes em apenas
duas categorias de vigor. Para a
condutividade elétrica nos períodos de
embebição de 4, 6 e 8 horas, observouse que os lotes 1 e 2 apresentaram os
menores valores, podendo então serem
classificados como lotes de alto vigor. O
lote 3 apresentou valores intermediários
de vigor e os lotes 4 e 5 podem ser considerados como de baixo vigor. Assim, os
testes de condutividade elétrica nos períodos de embebição de 2, 4, 6 e 8 horas
foram mais rigorosos que o de emergência de plântulas, não permitindo a dife-
renciação dos lotes 4 e 5,respectivamente, de médio e baixo vigor, segundo o teste de emergência de plântulas.
Dentre os testes avaliados, o de
condutividade elétrica pelo período de
24 horas de embebição foi o que apresentou resultados mais próximos aos de
emergência de plântulas quanto à classificação do vigor dos lotes, apresentando três categorias de vigor: alto (lote 1),
médio (lote 4) e baixo (lote 5), ficando
os lotes 2 e 3 numa categoria intermediária (alto-médio), estatisticamente semelhante aos lotes 1 e 4. Estes resultados mostram que para o híbrido
Saladinha o tempo de embebição necessário para teste da condutividade elétrica é superior ao obtido por Sá (1999) e
Rodo et al. (1998), de quatro e seis horas, respectivamente. Assim, o teste de
condutividade elétrica após 24 horas de
embebição é eficiente na avaliação do
vigor das sementes de tomate, fornecendo informações semelhantes à emergência de plântulas em substrato.
Os teores de água inicial das sementes
dos lotes estavam próximos (Tabela 3), mas
303
CC Martins et al.
Tabela 3. Teor de água inicial e após o teste do envelhecimento acelerado em água (EA) e
em solução salina (EAS) por 48 e 72 horas em cinco lotes de sementes de tomate. Botucatu,
UNESP, 2001.
*Lotes 1 e 2 colhidos em 1998 em Joanópolis, SP; Lote 3 colhido em 2001, em Atibaia, SP
e Lotes 4 e 5 colhidos em 1998, em Cambuí, MG.
foram constatadas diferenças para essa
característica e este fato pode ter influenciado os resultados do envelhecimento
acelerado, atuando sobre a velocidade e
a intensidade de deterioração das sementes. O teor de água das sementes, após
os testes, foi diferente entre os lotes (Tabela 3), tendo sido mais discrepante para
os testes sem sal.
Um dos principais indicadores da
uniformidade das condições de envelhecimento acelerado é o teor de água ao
final do teste, quando variações entre 3 a
4 pontos percentuais entre as amostras
são consideradas toleráveis (Marcos Filho, 1999a); neste estudo, as variações
obtidas, muitas vezes, situaram-se acima
dos limites toleráveis, o que justifica os
resultados insatisfatórios e desqualifica
a utilização deste teste para a avaliação
do vigor na comparação dos lotes.
Powell (1995), relata que pesquisas
conduzidas com espécies de sementes
pequenas, como as hortaliças, têm revelado resultados pouco consistentes
devido à variação muito acentuada no
teor de água das amostras após o envelhecimento. Também, Panobianco &
Marcos Filho (1998), trabalhando com
sementes de pimentão, constataram elevação acentuada no teor de água após o
envelhecimento acelerado e variações
de até 8,3 pontos percentuais entre as
amostras. Rodo et al. (2000) e Spínola
et al. (1998) verificaram para sementes
de cenoura variações de até 9,2 e 7,2
pontos percentuais, respectivamente.
Esse é um dos problemas que se procura sanar com a utilização de solução salina no envelhecimento acelerado.
As sementes submetidas ao teste de
envelhecimento acelerado modificado
(em solução salina saturada de Na Cl)
304
absorveram quantidade de água menor
do que aquelas submetidas ao teste normal (utilizando somente água) (Tabela
3), isto porque a solução salina controla
a umidade relativa do ar, mantendo-a em
torno de 76%, como indica a literatura
(Jianhua & McDonald, 1996).
Os resultados dos testes de envelhecimento acelerado em solução salina ou
água não apresentaram correlação significativa com a emergência de plântulas
(Tabela 1), nem resultados coerentes na
comparação entre médias (Tabela 2),
provavelmente devido a estas diferenças nos teores de água entre os lotes de
sementes, observados durante os testes.
AGRADECIMENTOS
À Sakata Seed Sudamerica LTDA,
nas pessoas de Carlos Alberto Rodrigues
da Silva, Celso Netto e Evelyn
Fernandes de Araújo Koch, pelo fornecimento das sementes utilizadas nesse
trabalho.
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Condutividade elétrica em sementes de abóbora, híbrido Bárbara
Roberval Daiton Vieira1; Alek Sandro Dutra2
1
UNESP-FCAV-Depto. Produção Vegetal, 14884-900 Jaboticabal-SP; 2Bolsista do CNPq/DCR/FUNCAP, UFC-Depto. Fitotecnia,
Fortaleza-CE; E-mail: [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A condutividade elétrica na solução de embebição de sementes
tem sido um procedimento usado com sucesso para avaliar o vigor
de sementes. A presente pesquisa foi desenvolvida com o objetivo
de determinar os procedimentos adequados para o teste de
condutividade elétrica em sementes de abóbora (Cucurbita moschata
Duch ex. Lam). Foram utilizadas sementes do híbrido Bárbara, representadas por cinco lotes (1 a 5) na primeira etapa e por outros
cinco (6 a 10) na segunda. Foram realizados os teste de germinação,
primeira contagem de germinação, emergência de plântulas, índice
de velocidade de emergência e de condutividade elétrica (CE). Para
o teste de CE, foram estudadas variações no volume de água (50 e
75mL), na temperatura (20, 25 e 30oC) e no tempo de embebição (1,
2, 4, 8, 12, 16, 20 e 24 horas). Assim, concluiu-se que a condição
mais adequada para o teste de CE é a utilização de 50 sementes em
75mL de água por oito horas, à temperatura de 25oC.
Electrical conductivity of pumpkin hybrid Bárbara seeds
The electrical conductivity in the soaked seed solution has been
used successfully to evaluate seed vigor. This work was developed
with the objective of determining the adequate procedures to evaluate
the electrical conductivity test of pumpkin (Cucurbita moschata Duch
ex. Lam) seeds. For pumpkin, hybrid Bárbara, five lots of seeds, in
both stages, were used, all with quality patterns (germination) above
the minimum demanded by commercialization. The standard
germination, first countig of germination, seedling emergency, and
emergency speed index electrical conductivity (EC) tests were run.
For the EC test two volumes of water (50 and 75mL), three
temperatures (20, 25 and 30oC) and eight period of seed soaking (1,
2, 4, 8, 12, 16, 20 and 24 hours) were used. So, it can be concluded
that the EC test can be conducted using 50 seeds, 25oC, 75mL and
8h of embibition period for pumpkin seeds.
Palavras-chave: Cucurbita moschata, germinação, vigor, potencial fisiológico.
Keywords: Cucurbita moschata, vigor, germination, physiological
potential.
(Recebido para publicação em 31 de março de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006)
O
teste padrão de germinação é o
procedimento oficial para avaliar
a capacidade das sementes produzirem
plântulas normais em condições favoráveis de campo, mas nem sempre revela diferenças de qualidade e de desempenho entre lotes de sementes, que podem se manifestar no armazenamento
ou mesmo no campo (Carvalho;
Nakagawa, 2000). Estudos sobre o potencial fisiológico de diferentes hortaliças como beterraba, tomate, cenoura e
ervilha têm evidenciado que o teste de
germinação não traduz totalmente o
potencial de desempenho de sementes
dessas espécies (Nascimento, 1994). Por
isso é necessário utilizar testes de vigor,
como o teste de condutividade elétrica.
Este teste, baseia-se no princípio de que,
com o processo de deterioração, ocorre
a lixiviação dos constituintes celulares
das sementes embebidas em água, devido à perda da integridade dos sistemas celulares. Assim, baixa
condutividade significa alta qualidade
da semente e alta condutividade, ou seja,
maior saída de lixiviados da semente,
significa baixa qualidade da semente
(Vieira & Krzyzanowski, 1999;
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Panobianco & Marcos Filho, 2001).
A padronização dos testes de vigor
é importante, pois à medida que as técnicas de manejo cultural tornam-se mais
sofisticadas, aumenta a necessidade de
utilizarem-se sementes de alta qualidade (McDonald, 1998). Os testes de vigor são cada vez mais relevantes para
muitas espécies de hortaliças,
viabilizando a prática da semeadura de
precisão, a eliminação do desbaste e a
obtenção da maturação uniforme
(Hampton & Coolbear, 1990).
O presente trabalho foi realizado
com o objetivo de determinar procedimentos para realização do teste de
condutividade elétrica em sementes de
abóbora,
visando
estabelecer
metodologia específica para condução
do teste nessa espécie.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Análise de Sementes do
Departamento de Produção Vegetal da
UNESP, Campus de Jaboticabal-SP, de
agosto a dezembro de 2003. Foram uti-
lizadas sementes de abóbora (Cucurbita
moschata Duch ex. Lam), híbrido Bárbara (fornecidas pela empresa Sakata
Seed Sudamerica Ltda). As sementes
foram divididas em cinco lotes (1 a 5)
na primeira etapa e outros cinco (6 a 10),
na segunda, todos com padrões de qualidade (germinação) acima do mínimo
exigido para comercialização. Na segunda etapa foram comparados os procedimentos considerados mais eficientes
para o teste, determinados na primeira
etapa. Em todo o período experimental,
as sementes foram mantidas em embalagens de papel multifoliado e armazenadas em câmara fria (10oC e 60% UR).
Foram realizadas as seguintes análises:
Determinação de teor de água
(base úmida) realizado em estufa a
105±3oC/24h (BRASIL, 1992), utilizando-se duas amostras de 20 sementes por
lote.
Teste de germinação realizado com
quatro repetições de 50 sementes,
semeadas em rolos de papel toalha, tipo
Germitest, umedecidos com água o
equivalente a 2,5 vezes o peso do
substrato seco e colocado para germi305
RD Vieira & AS Dutra
Tabela 1. Qualidade inicial de dez lotes de sementes de abóbora, híbrido Bárbara1. Jaboticabal,
UNESP, 2003.
1
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, em cada etapa, não diferem entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.
nar a 27oC. As avaliações foram realizadas quatro e oito dias após a semeadura (ISTA, 1996).
Primeira contagem de germinação
conduzida juntamente com o teste padrão de germinação, calculando-se a
porcentagem de plântulas normais quatro dias após a semeadura.
Emergência de plântulas avaliada
com quatro repetições de 50 sementes,
distribuídas em caixas plásticas
(28,5x18,5x10,0 cm), contendo areia de
rio como substrato. As caixas foram
mantidas em ambiente de laboratório
sem controle da temperatura e da umidade relativa do ar. A avaliação foi feita
oito dias após a semeadura, considerando o número de plântulas normais.
Índice de velocidade de emergência foram feitas contagens diárias de
plântulas emergidas, a partir da instalação do teste (Nakagawa, 1999). Consideraram-se como emergidas as plântulas
cujos cotilédones afloraram à superfície da areia. O índice de velocidade de
emergência foi calculado utilizando-se
fórmula proposta por Maguire (1962).
Teste de condutividade elétrica
(CE) foram estudados tempo, temperatura e volume de água de embebição
para a condução do teste. Avaliaram-se
dois volumes (50 e 75 mL) de água, três
temperaturas (20, 25 e 30oC) e oito pe306
ríodos (1, 2, 4, 8, 12, 16, 20 e 24 horas)
de embebição. O teste foi conduzido
pelo método de massa, com quatro
subamostras de 50 sementes fisicamente puras, pesadas com precisão de duas
casas decimais (0,01g) e colocadas para
embeber (água deionizada) em copos de
plásticos (200 mL), mantidos em câmara
de germinação, tipo BOD, durante os
períodos de embebição. Após o condicionamento, a CE da solução foi medida por meio de leituras em
condutivimetro DIGIMED, modelo 21,
e os resultados expressos em µS cm-1 g-1.
A leitura foi realizada logo após a retirada do material da incubadora, de modo
gradativo, agitando-se cuidadosamente
cada recipiente, com o intuito de uniformizar os eletrólitos lixiviados na solução (Hampton & TeKrony, 1995;
Vieira & Krzyzanowski, 1999).
Os dados obtidos na primeira etapa foram analisados de acordo com o delineamento inteiramente casualizado, no esquema fatorial 5x8 (cinco lotes e oito períodos
de embebição). Cada temperatura e cada
volume de água para embebição das sementes foi considerado, para efeito de análise,
como um experimento independente. Na
segunda, usou-se fatorial 5x2 (cinco lotes
e dois períodos de embebição). A comparação das médias foi realizada por intermédio do teste de Tukey, 5% de probabilidade (Banzatto & Kronka, 1992).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados do teor de água (TA) das
sementes (Tabela 1) foram semelhantes
para os cinco lotes componentes de cada
etapa com variação de até 0,9 ponto
percentual, inferior à amplitude máxima aceita (Marcos Filho, 1999). O vigor, quando avaliado pela primeira contagem (Tabela 1), revelou o lote 5 como
de pior qualidade, com os demais lotes
componentes da primeira etapa não diferindo entre si. Quando avaliados pelo
índice de velocidade de emergência, as
sementes do lote 3 mostraram-se mais
vigorosas que as demais (Tabela 1). Na
segunda etapa, a primeira contagem indicou o lote 9 como o de menor vigor
das sementes, resultado corroborado pelo
índice de velocidade de emergência (Tabela 1). Nos testes de germinação e de
emergência de plântulas não houve diferença entre os lotes estudados, exceto
pelo lote 9, da segunda etapa, que foi inferior aos demais (Tabela 1).
Na primeira etapa do estudo, os resultados obtidos com o teste de
condutividade elétrica - CE (Tabelas 2
e 3) permitiram verificar que os procedimentos utilizados indicaram pela
condutividade elétrica o lote 3 como o
mais vigoroso e o lote 2, como o pior.
Para sementes de cebola, o teste de CE
não mostrou sensibilidade na separação
dos lotes de alto e baixo vigor (Lima,
1993), enquanto para a avaliação do
potencial fisiológico das sementes de
feijão-de-vagem e de quiabo, o teste de
CE foi eficiente, (Dias et al., 1998).
A redução do volume de água, quando se mantiveram constantes os outros
fatores (temperatura e período de
embebição), estabeleceu relação direta
com o aumento do valor da lixiviação
(Tabelas 2 e 3). A quantidade de
lixiviados, no menor volume, foi em geral superior aos tratamentos com maior
volume. Resultados semelhantes foram
obtidos com sementes de melão, tendo
sido observados valores maiores de
lixiviados em menores volumes de água,
devido à diluição ocasionada pelo aumento da quantidade de água usada para
embebição das sementes (Torres, 2002).
Verificou-se que a elevação da
temperatura de 20oC para 25oC ou 30oC,
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Condutividade elétrica em sementes de Abóbora, híbrido Bárbara
proporcionou aumento na lixiviação dos
exudatos, porém manteve a classificação dos lotes e o acréscimo dos
lixiviados durante os períodos de
embebição (Tabelas 2 e 3). As várias
combinações, quantidade de água/temperatura/período de embebição, indicaram, no geral, aumento progressivo das
leituras no intervalo de uma a 24 horas
(Tabelas 2 e 3). Resultados similares
foram observados em sementes de melão (Torres, 2002).
Após uma hora de embebição todos
os tratamentos apresentaram significativa lixiviação, permitindo a distinção
dos lotes quanto ao potencial fisiológico. No entanto, a classificação dos lotes
foi mais consistente após o período de
8 horas de embebição, o que representa
uma significativa redução no período de
condicionamento das sementes em relação ao período de 24 horas, adotado
pela pesquisa como padrão para testes
de CE para ervilha e soja (Hampton &
TeKrony, 1995; Vieira & Krzyzanowski,
1999). Resultados semelhantes foram
observados com sementes de feijão-devagem e de quiabo (Dias et al., 1998) e
de tomate (Rodo et al., 1998).
Do ponto de vista da praticidade e
de rotina de um laboratório, além de indicações da pesquisa para outras espécies, adotou-se como melhor combinação para a classificação dos lotes de sementes de abóbora, 75 mL/25oC (Tabela 3). Em virtude desta constatação, foi
conduzida uma segunda etapa, com vistas à confirmação desses resultados,
usando cinco outros lotes. Na segunda
etapa, o lote 9 foi menos vigoroso que
os demais, apresentando valores para
germinação de primeira contagem e
emergência de plântulas estatisticamente inferiores aos demais (Tabela 1). No
índice de velocidade de emergência o
lote 9 não diferiu dos lotes 8 e 10, que
por sua vez, foram estatisticamente
iguais aos lotes 6 e 7 (Tabela 1).
Quando avaliou-se a CE, o tempo de
embebição de 8 horas definiu maior
número de classes de vigor que 24 horas (Tabela 4). Ao contrário dos testes
de avaliação de qualidade inicial dos
lotes (Tabela 1), a análise de CE foi eficiente em identificar o lote mais vigoroso, neste caso, o lote 7 (Tabela 4). O
teste de CE já havia sido identificado
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 2. Condutividade elétrica (µS cm-1 g-1) de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em
função dos períodos de embebição e dos lotes, utilizando-se 50 mL de água1. Jaboticabal,
UNESP, 2003.
1
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna para cada temperatura, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 3. Condutividade elétrica (µS cm-1 g-1) de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em função
dos períodos de embebição e lotes, utilizando-se 75mL de água1. Jaboticabal, UNESP, 2003.
1
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna para cada temperatura não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.
307
RD Vieira & AS Dutra
Tabela 4. Condutividade elétrica de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em função dos
períodos de embebição e dos lotes, usando-se 75 mL/25oC1. Jaboticabal, UNESP, 2003.
1
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
como promissor para avaliação do potencial fisiológico em sementes de quiabo (Dias et al., 1998) e tomate (Sá,
1999), embora em alface o teste não tenha sido eficiente (Franzin et al., 2004).
Várias combinações de volume, período e temperatura de embebição das
sementes foram utilizadas. Dentre elas,
a embebição das sementes em 75 mL
de água, por 8 horas a 25°C nas condições deste trabalho foi a mais afetada.
Os resultados obtidos neste trabalho indicam que o teste de CE tem potencial
para ser utilizado como indicador do
vigor de lotes de sementes de abóbora.
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Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de
Cryptanthus sinuosus
Janie M Jasmim1; Regiane R V Toledo1; Leonardo A Carneiro2; Elisabeth Mansur2
1
UENF-CCTA-LFIT, Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes-RJ; 2UERJ-IB-Depto Biologia Celular e Genética;
E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Plantas de Cryptanthus sinuosus foram cultivadas em três
substratos (mesocarpo de coco – MC; mesocarpo de coco lavado MCL e xaxim-X), visando comparar o efeito da fibra de coco verde,
como substrato, àquele da fibra de xaxim sobre o crescimento e teores de nutrientes das plantas, sob três níveis de adubação foliar: 50,
100 e 150% de solução contendo 210 mg L-1 de N, 31 mg L-1 de P e
234 mg L-1 de K. O experimento constou de um fatorial em delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e três plantas por
parcela, uma planta por vaso e conduzido em casa de vegetação. O
número de folhas, diâmetro da roseta, massa da matéria seca (MS)
de folhas e raízes e teores de nutrientes foram avaliados. As plantas
cultivadas em X apresentaram valores de MS de folhas e de raízes
mais altos que aquelas em MC, mas não diferiram estatisticamente
daqueles observados nas plantas em MCL. As plantas cultivadas em
MC e MCL apresentaram características semelhantes indicando que
a alta condutividade elétrica encontrada no substrato MC não prejudicou o acúmulo de matéria seca. As plantas cultivadas em MC e
MCL apresentaram menores teores foliares de N, P, S que as cultivadas em X, porém com coloração e arquitetura foliares mais atrativas. Os diferentes níveis de adubação utilizados não tiveram efeito
diferenciado sobre as características de crescimento, nem sobre os
teores de nutrientes nas plantas.
Coconut fiber and foliar fertilization on the growth and
nutrition of Cryptanthus sinuosus
Palavras- chave: bromélia, casca de coco, substrato, xaxim.
Cryptanthus sinuosus plants were grown in three substrates
(coconut mesocarp - MC, rinsed coconut mesocarp - MCL and tree
fern fiber-X) aiming to compare the effect of green coconut fiber as
substrate to tree fern fiber on the plant growth and nutrient contents,
under three foliar fertilization levels (50, 100 and 150% of a solution
containing 210 mg L-1 of N, 31 mg L-1 of P and 234 mg L-1 of K).
The experimental design was a factorial scheme of randomized blocks
with four replications and three plants per plot, one plant per pot,
and was carried out in a greenhouse. The number of leaves, rosette
diameter, leaf and root dry matter mass and nutrient contents were
evaluated. Plants grown in X presented higher leaf and root dry matter
mass values than those grown in MC, but did not differ from those
observed on plants in MCL. The plants grown in MC and MCL
showed similar characteristics indicating that the high electric
conductivity of MC did not impair dry matter accumulation. The
plants grown in MC and MCL showed lower N, P, S leaf contents
than those grown in X, nevertheless they showed more attractive
leaf color and architecture. The levels of fertilization did not have
differential effects either on the growth characteristics or on the plant
nutrient contents.
Keywords: bromeliad, coconut husk, substrate, tree fern.
(Recebido para publicação em 1 de abril de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006)
A
floricultura abrange o cultivo e a
exploração de plantas ornamentais,
desde flores de corte ou secas, plantas
em vaso, folhagens frescas ou desidratadas, até a produção de arbustos e árvores de grande porte. No Rio de Janeiro, as bromélias destacam-se como plantas ornamentais de grande potencial comercial. As plantas da família
Bromeliaceae destacam-se por suas belas cores e formas, inflorescências, disposição das folhas, ocorrência em diversos habitats, e importância ecológica
como abrigo, fonte de água e alimento
para diversos animais.
Nos últimos anos tem crescido a
importância econômica das bromélias,
com sua utilização em projetos
paisagísticos, devido à sua grande beleza, resistência e praticidade no manuseio, sendo usadas na decoração de jarHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
dins e de interiores e em floriculturas
por todo o Brasil. A comercialização é
expressiva, para colecionadores e comerciantes, o que incentiva a coleta ilegal de espécies de maior beleza, acarretando a redução de populações naturais
e aumento do número de espécies em
risco de extinção (Melo, 1996). Segundo informações de representante do Instituto Estadual de Florestas (IEF), no
ano de 2000 foram apreendidas mais de
3000 bromélias “clandestinas” nos morros na região de Guaratiba (Planta-Rio,
2001). Desta forma, o incentivo à
profissionalização do cultivo dessas espécies e de outras plantas, constitui uma
medida importante para a redução do
extrativismo.
O gênero Cryptanthus é tipicamente nativo, sendo encontrado sempre em
habitats terrestres ou rupícolas ao lon-
go da costa na região de restinga da Mata
Atlântica, bem como na caatinga e
restinga (Cândido, 1995). Cryptanthus
sinuosus foi descrita em 1955, baseada
na descrição original de C. undulatus
Otto e Dietrich, nomen illegitimum,
como uma espécie terrestre e endêmica
do Estado do Rio de Janeiro, encontrada em afloramentos rochosos no mar,
bem como na floresta de restinga (Cândido, 1995). Suas características de porte
reduzido, exigência de pouca luz e produção de flores delicadas, conferem à
espécie um grande potencial ornamental para interiores.
Uma característica importante para
a vida das bromélias é a presença de
escamas ou tricomas cobrindo toda sua
superfície foliar, ou formando bandas ou
listras foliares, que podem absorver, por
capilaridade, a umidade presente na at309
JM Jasmim et al.
mosfera levando-a ao parênquima
(Rauh, 1990). Os tricomas, em geral,
têm forma de escama peltada e consistem de um talo e escudo. O talo é uma
coluna diminuta de células que liga os
tecidos da epiderme ao escudo carregando água e nutrientes minerais do meio
externo para o interno. O escudo é paralelo à superfície da folha e consiste
de um disco central de células vivas com
um anel externo de células mortas, o
qual absorve nutrientes no meio ambiente. O disco atua como um plug fechando a concavidade no qual o talo está
inserido e protegendo-o contra o
ressecamento. A capacidade de absorção para diferentes tipos de tricomas
depende da evolução da planta,
morfologia dos tricomas e sua densidade nas folhas (Leme & Marigo,1993). Na
sub-família Bromelioideae, à qual pertence o gênero Cryptanthus, um pequeno disco composto por quatro células
ocupa o centro do escudo que, com freqüência neste gênero, tem forma circular e margens regulares; tricomas presentes na base foliar, pelo menos em alguns
casos, absorvem nutrientes acumulados
em áreas adjacentes (Benzing, 2000).
Para o cultivo de plantas ornamentais, preconiza-se a utilização de
recipientes (sacos plásticos, bandejas de
isopor, vasos plásticos, etc.) e substratos
específicos.
O xaxim, extraído da planta
Dicksonia sellowiana, permaneceu
como base para o preparo de substratos
de várias espécies de plantas ornamentais no Brasil, inclusive bromélias, por
muito tempo. Devido ao extrativismo
desenfreado, as plantas de xaxim encontram-se em processo de extinção e,
atualmente, têm sua extração e
comercialização de seus derivados proibidos (Brasil, 2001), acarretando uma
forte demanda por materiais que possam
substituí-las na composição de
substratos e demais produtos.
A fibra de coco aparece como uma
alternativa para a produção de
substratos, sendo de fácil obtenção e
baixo custo, por ser resíduo da exploração comercial da água de coco, existente em abundância. Suas potencialidades
de uso na composição de substrato agrícola têm sido abordadas (Carrijo et al.,
2002; Meerow, 1997) destacando-se: a
310
capacidade de retenção de água; boa
drenagem; acidez; alta salinidade – decorrente, sobretudo, dos altos teores de
potássio e cloro; e variação nos teores
de nutrientes (Handreck, 1993; Evans
et al., 1996; Konduru & Evans, 1999;
Abad et al., 2002). Pesquisas sobre o
cultivo de diferentes espécies de plantas ornamentais com uso da fibra, pura
ou em mistura, têm mostrado seu desempenho superior a outros substratos
(Meerow, 1994; Meerow, 1995; Abad et
al., 1997; Mak & Yeh, 2001). Demattê
& Vitti (1997) avaliando a variação das
concentrações de nutrientes ao longo do
tempo em diferentes substratos para o
cultivo de orquídeas epífitas, recomendaram o uso de blocos de fibra de coco
para substituir a fibra de xaxim.
Em estudos com Bromeliaceae,
D‘Andréa & Demattê (2000) e Demattê
& Oshiro (2001) avaliaram substratos
alternativos ao xaxim para cultivo de
Aechmea fasciata e observaram que a
mistura composta de 45% de casca de
coco, 45% de bagaço de cana e 10% de
húmus pode ser recomendada. Da mesma forma, Demattê (2001, 2002) verificou que fibra de coco, casca de pinus
e húmus poderiam substituir o xaxim na
composição dos substratos para cultivo
de Tillandsia gardneri, sendo que as
plantas em substratos contendo maior
porcentagem de fibra de coco apresentaram maior número de folhas, em relação àquelas cultivadas em xaxim.
Um outro aspecto a ser considerado
é a escassez de literatura técnica sobre
adubação de bromélias. A adubação foliar é prática comum no cultivo, embora realizada de maneira empírica quanto à formulação, freqüência e dosagem
(Andrade & Demattê, 1999), havendo,
portanto, necessidade de estudo a este
respeito.
O objetivo do presente trabalho foi
comparar o efeito da fibra de coco verde (mesocarpo de coco triturado e
mesocarpo de coco triturado lavado)
àquele da fibra de xaxim sobre o crescimento e teores de nutrientes de
Cryptanthus sinuosus L. B. Smith
(Bromeliaceae) sob três níveis de adubação foliar.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas mudas de bromélia
de C. sinuosus L. B. Smith produzidas
in vitro no Departamento de Biologia
Celular e Genética, do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ).
O delineamento experimental foi o
de blocos ao acaso, no esquema fatorial
(3x3), com quatro repetições, sendo utilizados três substratos (xaxim-X,
mesocarpo de coco triturado - MC e
mesocarpo de coco triturado lavado MCL) e três níveis de adubação foliar
(Níveis 1, 2 e 3). A parcela experimental constou de três vasos, cada um contendo uma planta. A composição da solução de Hoagland ® (Hoagland &
Arnon, 1950) foi adotada como base
para adubação, variando-se a concentração de NPK. O nível 1 correspondeu à
metade (50%) da concentração de NPK
de Hoagland, o nível 2 correspondeu à
concentração de NPK da formulação
original (100%) (210 mg L-1 de N, 31
mg L-1 de P e 234 mg L-1 de K) e o nível
3 correspondeu a 1,5 vez a concentração (150%) de NPK. A adubação foi
realizada a cada 15 dias, durante o período experimental de nove meses, pulverizando-se inicialmente 10 mL de solução nutritiva nas folhas de cada planta, sendo aumentado o volume conforme o crescimento das plantas até 15 mL.
Os volumes foram predeterminados de
maneira a molhar completamente as folhas sem haver escorrimento para o
substrato, interrompendo-se a pulverização quando as folhas apresentavamse cobertas por uma tênue película de
umidade. Não foi usado espalhante adesivo. As condições de temperatura e
umidade relativa do ar foram
monitoradas durante todo o período experimental.
Para o preparo dos substratos de
mesocarpo de coco, o material foi coletado em pontos de venda de água-decoco na cidade de Campos dos
Goytacazes na região Norte Fluminense.
Após o descascamento do coco, utilizou-se o mesocarpo, que foi triturado
em picadeira de forragem (Nogueira/
EM-9F 3A), por três vezes. Após a moagem, o material foi seco ao sol, sobre
uma tela do tipo Sombrite estendida sobre suporte de madeira. Uma parte do
mesocarpo, após ser triturado, foi colocada em um saco permeável dentro de
um tambor, para lavagem com água
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus
corrente por 24 horas, visando atingir
condutividade elétrica próxima à observada para o xaxim e, em seguida, foi
seca ao ar como descrito anteriormente.
O xaxim utilizado foi adquirido comercialmente. Amostras de cada um dos
substratos foram coletadas para avaliação de sua composição mineral.
As mudas foram plantadas em vasos plásticos com capacidade de 0,5 L
contendo os respectivos substratos, sendo uma planta por vaso. Em cada uma
das três plantas da parcela foram avaliados: o número de folhas, o diâmetro da
roseta e a massa da matéria seca das folhas e raízes. Além disso, foram determinados os teores de nutrientes das folhas e raízes.
Após nove meses de cultivo, os
substratos e as folhas das plantas foram
submetidos à secagem em estufa com
ventilação forçada a 70oC por 48 h e à
trituração em moinho Wiley, com peneira de 20 mesh. Em seguida, o material
foi submetido às digestões sulfúrica e
nitroperclórica, separadamente, segundo metodologias descritas por Malavolta
et al. (1997). Os extratos foram utilizados para a determinação dos teores de
nutrientes (N, P, K, S, Cl e Na). O pH e
a condutividade elétrica (CE) dos
substratos foram determinados em água
conforme a metodologia proposta por
Tedesco et al. (1985).
O nitrogênio foi determinado usando-se o método de Nessler (Jackson,
1965), o fósforo pela redução do complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C
(Braga & Defelipo, 1974); para o nitrato
utilizou-se a metodologia descrita por
Cataldo et al. (1975). O cloro foi determinado por titulometria (Malavolta et al.,
1997). Os teores de potássio e de sódio
foram determinados por espectrometria
de absorção atômica. O enxofre foi determinado por turbidimetria.
Para fins de análise estatística, os
dados observados em cada uma das três
plantas da parcela foram usados procedendo-se à análise de variância. As comparações de médias foram efetuadas utilizando-se o teste de Tukey ao nível de
5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas cultivadas em xaxim (X)
apresentaram maior número de folhas
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 1. Diâmetro da roseta, número de folhas, massa da matéria seca (MS) das folhas e
raízes, e relação MS folhas/MS raiz de plantas de Cryptanthus sinuosus, cultivadas em xaxim
(X), mesocarpo de coco triturado lavado (MCL) e mesocarpo de coco triturado (MC), sob
três níveis de adubação foliar (50, 100 e 150% da concentração NPK da solução de Hoagland),
nove meses após o plantio. Rio de Janeiro, UERJ, 2004.
*Médias seguidas da mesma letra não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
em relação àquelas cultivadas em
mesocarpo de coco (MC) e mesocarpo
de coco lavado (MCL). O diâmetro das
plantas cultivadas em X não diferiram
daqueles das plantas em MC e MCL.
Todas as plantas em X apresentaram
coloração verde, enquanto as plantas em
MC e MCL apresentaram folhas com
coloração avermelhada e roseta aberta
com folhas dispostas horizontalmente,
sendo mais atrativas do ponto de vista
ornamental. Desta forma, o uso do MC
como alternativa ao uso do X para o
cultivo de Cryptanthus sinuosus seria
vantajoso também pelo aspecto ornamental, além dos aspectos econômico e
ambiental.
Em pesquisa com Tillandsia
gardneri, Demattê (2002) não observou
diferenças significativas entre o número de folhas das plantas cultivadas em
substratos à base de fibra de coco, em
relação ao que continha xaxim. Como
as espécies T. gardneri e C. sinuosus
(epífita e terrestre, respectivamente), são
bastante distintas, os resultados observados com ambas podem estar relacio-
nados às características intrínsecas das
espécies, bem como aos teores de nutrientes dos substratos de T. gardeneri
aos quais adicionou-se húmus de minhoca e/ou macro e micronutrientes.
Entretanto, quando Coutinho et al.
(2001) estudaram o crescimento de
mudas de C. sinuosus, produzidas in
vitro, sob condições de campo e telado,
com e sem pré-adubação com solução
de Hoagland, obtiveram número de folhas, diâmetro de roseta e massa de matéria seca, das plantas sob telado, semelhantes aos observados neste trabalho,
embora os substratos utilizados fossem
mais ricos em nutrientes em relação ao
X, MC e MCL, indicando eficiência dos
tratamentos da presente pesquisa em
promover o crescimento da espécie, corroborando a adequação da fibra de coco
para o cultivo de C. sinuosus.
As plantas cultivadas em X apresentaram valores de massa da matéria seca
(MS), das folhas e raízes, mais altos que
aqueles observados nas plantas em MC
(Tabela 1), mas não diferiram estatisticamente daqueles observados nas plan311
JM Jasmim et al.
Tabela 2. Teores de nutrientes na matéria seca das folhas e raízes de Cryptanthus sinuosus, cultivadas em xaxim (X), mesocarpo de coco triturado
lavado (MCL) e mesocarpo de coco triturado (MC), sob três níveis de adubação, nove meses após o plantio. Rio de Janeiro, UERJ, 2004.
*Médias seguidas da mesma letra não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
tas em MCL. Para as mesmas variáveis,
as plantas cultivadas em MC e MCL não
diferiram entre si, indicando que a alta
condutividade elétrica encontrada no
substrato MC não prejudicou o acúmulo
de matéria seca das plantas. Isto poderia ser explicado pelo fato de a planta
ser uma espécie de restinga e estar adaptada a ambientes com elevado teor de
sais. Esses resultados, aliados aos dados de número de folhas e diâmetro da
roseta, indicam que a lavagem do MC
não seria necessária para o cultivo da
espécie e confirmam a viabilidade de seu
uso como substituto ao xaxim.
Os resultados das características de
crescimento (Tabela 1) e dos teores de
nutrientes das plantas (Tabela 2) demonstraram que, independentemente do
substrato de cultivo, não houve diferença estatística entre os três níveis de adu312
bação foliar (50, 100 e 150 % da concentração de NPK da solução de
Hoagland), indicando que pode haver
uma economia de nutrientes ao se utilizar metade da concentração de NPK da
fórmula original.
Os baixos teores de nutrientes encontrados no substrato MCL não prejudicaram as características de crescimento das plantas (Tabelas 2 e 3).
Os teores de K encontrados nas folhas das plantas cultivadas em X e MC
(Tabela 2) não diferiram entre si, embora o teor do nutriente no substrato X
fosse muito mais baixo que no MC (Tabela 3), indicando que os teores foliares
observados nas plantas podem ser oriundos da adubação e não do substrato.
Da mesma forma, as plantas cultivadas em MC apresentaram teores de
cloro semelhantes àqueles encontrados
nas plantas cultivadas em MCL e X.
Estes resultados evidenciam que o alto
teor de cloro encontrado nas plantas não
estava relacionado ao seu cultivo em
MC. É possível, entretanto, que o cloro
tenha sido proveniente, da água de irrigação utilizada, fornecida pela rede local. Assim, o teor de cloro das plantas
em X poderia estar relacionado à perda
de água mais lenta que ele apresenta em
relação ao MC (Souza, 2002) e, logo, à
maior contribuição da absorção
radicular do nutriente para o teor observado nas plantas cultivadas naquele
substrato.
As plantas cultivadas em X apresentaram maiores teores foliares de N, P e
S (Tabela 2), justificando-se os maiores
valores de número de folhas, massa de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus
Tabela 3. Teores de nutrientes, pH e condutividade elétrica (CE) dos substratos mesocarpo de coco triturado (MC), mesocarpo de coco
triturado lavado (MCL) e xaxim (X), utilizados para o cultivo de Cryptanthus sinuosus. Rio de Janeiro, UERF.
*
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
matéria seca das folhas e raízes (Tabela
1) encontrados nessas plantas. Como o
fornecimento de nutrientes foi o mesmo para as plantas cultivadas nos outros substratos, o X deve ter oferecido
alguma outra condição, como disponibilidade de água, que tenha favorecido
à absorção adicional dos nutrientes nele
contidos, além do fornecido na adubação foliar.
Apesar de as plantas cultivadas em
X terem apresentado teores foliares mais
altos para alguns nutrientes (Tabela 2),
os teores observados nas plantas de todos os tratamentos testados apresentaram-se abaixo dos níveis considerados
suficientes por Jones Junior et al. (1991)
para bromeliáceas como Aechmea
fasciata e Ananas comosus. Entretanto,
as espécies citadas em Jones Junior et
al., (1991) são plantas de porte grande,
enquanto C. sinuosus apresenta porte
reduzido e ocorre em restingas, indicando possuir mecanismos que permitam
sua sobrevivência sob condições de baixa disponibilidade e/ou menor absorção
de nutrientes para seu crescimento.
Além disso, as plantas de C. sinuosus,
em todos os tratamentos apresentavam
grande número de brotações, que podem
ter influenciado nos baixos teores observados, uma vez que funcionariam
como drenos das folhas.
Altos teores de K, Na e Cl foram
encontrados no substrato MC (Tabela 3),
porém as plantas nele cultivadas não
diferiram das cultivadas em X quanto
ao teor foliar de K, nem daquelas em
MCL quanto ao teor foliar de Cl (Tabela 2), indicando que os mesmos estavam
relacionados a algum outro fator, além
do teor presente no substrato. Abad et
al. (2002) discorrem sobre possíveis
efeitos prejudiciais da utilização da fibra de coco, em função de seus teores
elevados de Na e Cl, no cultivo de espécies sensíveis à salinidade. Na presente
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
pesquisa, não foram detectados efeitos
prejudicais dos teores desses nutrientes
sobre o crescimento das plantas, possivelmente por se tratar de uma espécie
oriunda de restinga.
Handreck (1993) afirma que a fibra
de coco apresenta alta concentração de
K, Na e Cl, mas que o K não possui efeito negativo sobre o crescimento das
plantas em geral, podendo ser uma característica positiva do material dispensando sua suplementação. De acordo
com o mesmo autor, o Na é lixiviado
facilmente pela água de irrigação. Os
teores de Na, K e Cl encontrados no
MCL (Tabela 3) no presente trabalho
mostram que não só o Na, mas também
o K, Cl e o NO 3- foram facilmente
lixiviados do MC. Os altos teores de Cl
no MC podem ser explicados pelo fato
de 85% do cloro do fruto de coco verde
ser encontrado na casca (Carsalade,
1992).
As plantas cultivadas em X tiveram
raízes com teores de N e S semelhantes
àqueles de plantas cultivadas em MCL,
e superior àqueles das plantas no MC
(Tabela 2). As plantas cultivadas em X
e MCL apresentaram raízes com maior
massa da matéria seca (Tabela 1) e maiores teores de N (Tabela 2). Embora os
teores de N nas raízes tenham sido próximos àqueles das folhas e, em valores
absolutos, maiores, a distribuição relativa do elemento na planta foi a esperada, ou seja, maior nas folhas (em torno
de 85%) e menor nas raízes (em torno
de 15%).
Com base nos resultados obtidos
pode-se concluir que a fibra de coco, ou
mesocarpo verde, pode ser uma alternativa ao uso do xaxim para o cultivo
de Cryptanthus sinuosus, promovendo
arquitetura da planta (diâmetro e disposição) e coloração mais atrativa das folhas, embora promova menor número de
folhas e massa de matéria seca. Os dife-
rentes níveis de adubação foliar empregados não causaram efeitos diferenciados nos resultados.
AGRADECIMENTOS
Ao Setor de Nutrição Mineral LFIT/
CCTA/UENF;
LABMIT/UERJ;
FENORTE/TECNORTE.
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Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da
salinidade
Roberto Cleiton F de Queiroga2; Romeu de C Andrade Neto1; Glauber Henrique de S Nunes1; José
Francismar de Medeiros1; Wildjaime de B M de Araújo1
1
ESAM-Depto Fitotecnia, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; 2UFV-Depto Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG;
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
As áreas de cultivo com intensa evaporação, deficiência em drenagem e uso inadequado de fertilizantes têm aumentado os problemas com a salinidade prejudicando o rendimento das culturas. No
meloeiro as elevadas concentrações de sais no solo e na água ocasionam modificações morfológicas, estruturais e metabólicas, que inibem o seu crescimento e desenvolvimento. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação e o crescimento inicial de híbridos de meloeiro em diferentes níveis de salinidade da água de irrigação e submetidas a um estresse salino através da embebição. Os
tratamentos foram instalados no delineamento inteiramente
casualizado em esquema fatorial 2x3x5 (sementes tratadas com e
sem pré-embebição em solução salina de NaCl (6 g/L), três híbridos
de meloeiro (Hy Mark, Honey Dew Red Flesh e Daimiel), e cinco
níveis de condutividade elétrica da água de irrigação (0,45; 1,30;
2,15; 3,00 e 3,85 dS m-1), com três repetições. Foram feitas avaliações da porcentagem de germinação, velocidade de emergência, área
foliar, altura e massa seca da parte aérea. O tratamento prégerminativo de sementes de meloeiro com solução salina (6 g/L)
proporcionou maior massa seca da parte aérea das plântulas e um
aumento significativo na porcentagem de germinação. Por outro lado,
a salinidade da água de irrigação reduziu a área foliar, a massa seca
da parte aérea da plântula e a altura da plântula. A cultivar Daimiel
destacou-se como a mais tolerante a salinidade em razão das maiores estimativas da área foliar, massa seca da parte aérea e altura da
plântula.
Germination and initial growth stage of melon plant hybrids
due to salinity
Palavras-chave: Cucumis melo L., plântulas, produção,
osmocondicionamento.
Keywords: Cucumis melo L., seedlings, production,
osmoconditioning.
Cultivation sites with intense evaporation rates, drainage deficit
and inadequate use of fertilizers have increased the problems with
salinity by impairing the good development of cultures. In melon
plants, the high concentration of salts in both soil and water bring
about morphological, structural and metabolic changes and inhibit
their growth and development. Therefore, the aim of this work was
to evaluate germination and initial growth stage of melon plants
hybrids in different levels of salinity of irrigation water and submitted
to a saline stress through imbibition. The treatments were organized
in a completely randomized design in factorial scheme 2x3x5 (seeds
treated with and without preimbibition in saline solution of NaCl (6
g/L), three hybrids of melon plant Hy Mark, Honey Dew Red Flesh
and Daimiel, and five levels of electrical conductivity of irrigation
water (0.45; 1.30; 2.15; 3.00 and 3.85 dS m-1), with three replicates.
Evaluation of germination rate, emergency speed, foliar area, height
and dry mass of the aerial part were made. The pre-germinant
treatment of melon plant seeds with saline solution (6 g/L) provided
larger dry mass of the aerial part of seedlings and a significant increase
in the percentage of germination. On the other hand, the salinity of
irrigation water reduced the foliar area, the dry mass of the aerial
part and the height of the seedling. Compared to the other two
cultivars, Daimiel proved to be the most tolerant to salinity due to
higher estimates of the foliar area, dry mass of the aerial part and the
height of the seedling.
(Recebido para publicação em 17 de maio de 2005; aceito em 21 de agosto de 2006)
O
melão é a hortaliça de maior importância nos últimos anos no nordeste brasileiro devido ao aumento das
exportações, ao maior consumo no mercado interno e a ocupação de grande
quantidade de mão-de-obra (Medeiros,
2001). A região nordeste, representada
pelos estados do Rio Grande do Norte,
Ceará, Bahia e Pernambuco, respondeu
por 93,4% da produção do país em 2001
(IBGE, 2003). O Rio Grande do Norte
destaca-se como o principal produtor
dessa olerícola, tanto em área cultivada
como em produtividade (Medeiros,
2001). A produção de melão neste estaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
do se concentra no pólo agrícola
Mossoró-Açu e na Chapada do Apodi,
englobando a região semi-árida, próxima à zona litorânea, na qual predominam altos níveis de sais no solo e na água
de irrigação. Nessas áreas, a intensa evaporação, a deficiência em drenagem e o
próprio uso de fertilizantes, têm aumentado os problemas com a salinidade,
prejudicando o rendimento das culturas
(Medeiros, 2001).
Espécies e cultivares apresentam tolerância variável à salinidade (Gohram,
1995), o que faz com que a necessidade
e o manejo da lixiviação de sais no solo
sejam específicos para cada cultura. Os
efeitos dos sais sobre as plantas podem
ser notados pelas dificuldades de absorção de água salina pela planta, pela interferência dos sais nos processos fisiológicos, ou mesmo por toxidez, similares àquelas de adubações excessivas
(Lima, 1997).
O efeito geral da salinidade é a redução da taxa de crescimento, resultando em folhas menores e em menor número (Jacoby, 1994). As raízes também
são reduzidas em seu comprimento e
massa (Shannon & Grieve, 1999).
Chartozoulakis (1992), trabalhando com
315
RCF Queiroga et al.
pepino, em condição salina acima de 5,0
dSm-1, verificou redução da germinação,
no comprimento das radículas, nos pesos das massas fresca e seca das
radículas, e para níveis entre 10,7 e 16,2
dS m -1 , redução da emergência de
plântulas. Na cultura do meloeiro, as
elevadas concentrações de sais no solo
e na água ocasionam modificações
morfológicas, estruturais e metabólicas
e inibem o seu crescimento e desenvolvimento, reduzindo a porcentagem de
massa seca nas plantas (Sivritepe et al.,
2003), no tamanho dos frutos e rendimento (Mendlinger & Fossen, 1993). A
salinidade, também, afeta a porcentagem
de germinação e o índice de velocidade
de germinação das sementes (Oliveira
et al., 1998; Sivritepe et al., 2003).
A necessidade de desenvolver cultivares com elevada tolerância a sais, têm
aumentado fortemente, na última década, devido ao aumento da salinidade,
pois, em geral, as plantas não desenvolvem tolerância a sais, a menos que elas
as desenvolvam em condições salinas
(Sivritepe et al., 2003; Passam &
Kakouriotis, 1994). Uma tecnologia que
pode ser utilizada para se produzir, economicamente, em condições de
salinidade é a preparação da semente
através do osmocondicionamento e a
avaliação de cultivares tolerantes a condições salinas (Sivritepe et al., 2003).
Considerando que há variabilidade
genética suficiente no germoplasma de
meloeiro, como tem sido demonstrado
por Oliveira et al. (1998), é necessário
avaliar a tolerância de híbridos de meloeiro para orientar os programas de
melhoramento genético e a recomendação de materiais para essas regiões. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação e o crescimento inicial de híbridos de melão quando submetidos a
um estresse salino, através da embebição
das sementes, e irrigação em diferentes
níveis de salinidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em
casa-de-vegetação da ESAM (MossoróRN), em setembro de 2003. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com três repetições. Os tratamentos foram instalados
316
em esquema fatorial 2x5x3: sementes
tratadas (com e sem pré-embebição em
solução salina de NaCl a 6 g/L), três
híbridos de meloeiro (Hy Mark, Honey
Dew Red Flesh e Daimiel) e cinco níveis de salinidade da água (0,45; 1,30;
2,15; 3,00 e 3,85 dS m-1). O híbrido Hy
Mark é do tipo Cantaloupe, o Honey
Dew Red Flesh do tipo Orange Flesh,
enquanto o Daimiel é do tipo Pele de
Sapo.
Antes da condução definitiva do experimento, realizou-se um pré-ensaio
com o objetivo de determinar o tempo
ideal de embebição das sementes sem
afetar o poder germinativo das mesmas.
Este pré-ensaio foi realizado com duas
soluções, com condutividade elétrica de
5,39 e 9,73 dS m-1, submetendo as sementes por 2, 4, 6, 8 e 10 horas nas soluções de NaCl, nas concentrações citadas anteriormente, onde foram colocadas em placa de Petri contendo 50 mL
das soluções, deixando-as embeber até
o término do tempo estabelecido. Quando completado cada tempo, essas sementes foram retiradas da solução e
imediatamente lavadas com água destilada, colocadas em papel germinativo e
acondicionadas em câmara de germinação com temperatura regulada para 30º C.
Realizou-se a contagem das sementes
germinadas, para determinar o melhor
tempo de submersão e a melhor
condutividade elétrica da água de
embebição. A partir da porcentagem de
germinação obtida, foi escolhida a solução com 9,73 dS m-1 (6 g/L de NaCl)
e o tempo de 10 horas para embeber as
sementes utilizadas no experimento.
No experimento foram usadas duas
sementes de cada híbrido (tratadas ou
não) em solução salina, em bandejas de
128 células contendo substrato comercial. Após quatro dias realizou-se o desbaste, deixando apenas uma planta para
a contagem final. As bandejas foram
colocadas em casa-de-vegetação e
irrigadas durante 12 dias. A temperatura e umidade relativa do ambiente foram em média de 300 C e 70 %, respectivamente.
A solução usada para irrigação foi
obtida misturando-se duas águas de diferentes poços com os níveis de
salinidade de 0,45 e 3,85 dS m-1 em diferentes proporções, determinando a
condutividade elétrica de cada mistura.
A partir dos dados obtidos e suas respectivas proporções foi possível obter
os níveis de condutividade elétrica da
água de irrigação, espaçados em 0,85 dS
m-1.
As características avaliadas foram
porcentagem de germinação, obtida
através da contagem do número de plantas germinadas por parcela e feita a
transformação em porcentagem, velocidade
de
emergência
(VE=
N 1 E 1 +N 2 E 2 +...+N n E n /E 1+E 2 +...+En,
onde N é o número de dias após o semeio e E é o número de plantas
emergidas), altura da plântula, área foliar sendo determinada através de um
integrador de área (marca LI-COR,
modelo LI-3100) através da medida de
todas as folhas de cada planta e pesada
a massa seca da parte aérea após secagem em estufa com circulação forçada
de ar a 700 C.
Os dados foram submetidos à análise de variância ao nível de 1% de probabilidade. Os fatores qualitativos (híbrido e embebição), foram avaliados por
meio de teste de comparação de médias,
utilizando o critério de Scott-Knott com
nível de significância de 5%. O fator
quantitativo (nível de salinidade) foi
estudado através da análise de regressão. A análises foram realizadas pelo
programa SAS (Statistical Analysis
System), com os procedimentos GLM,
REG e NLIN.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando as sementes foram embebidas em solução de cloreto de sódio, a
porcentagem de germinação, bem como
a massa seca da parte aérea foram significativamente maiores. Ao contrário,
a velocidade de emergência das sementes embebidas com solução salina, foi
significativamente menor (Tabela 1).
Por outro lado, as cultivares diferiram
para todas as características avaliadas,
evidenciando variabilidade entre os híbridos de meloeiro. Considerando-se as
interações entre os fatores avaliados, no
presente estudo, não foi observada
interação entre embebição e salinidade
para quase todas as variáveis, exceto
para velocidade de emergência. Constatou-se efeito significativo da interação
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade
Tabela 1. Velocidade de emergência, porcentagem de germinação, massa seca da parte aérea de plântulas com e sem embebição em solução
de NaCl e de três híbridos de meloeiro, e desdobramento da interação para área foliar. Mossoró, ESAM, 2003.
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
*
(ExH) - Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha, e maiúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%
de probabilidade.
entre embebição e híbridos apenas para
a área foliar. Houve interação significativa entre híbridos e salinidade para a
variável altura da plântula.
Observou-se um efeito quadrático
para as sementes tratadas com solução
de NaCl, as quais apresentaram menor
número de dias para a emergência das
plântulas, em comparação com as não
tratadas, a partir de 0,80 dS m-1 (Figura
1). O fato de ter havido interação
embebição x salinidade para a velocidade de emergência deve está relacionado ao ajustamento osmótico, ou seja,
a embebição das sementes fizeram com
que elas se ajustassem à salinidade da
água a qual foram submetidas, resultando numa maior velocidade de emergência. Talvez o ajustamento tenha apenas respondido na fase de emergência,
ao contrário do que poderia ocorrer na
fase final de crescimento culminando
numa menor quantidade de massa seca.
Dentre os híbridos, o Hy Mark e o
Honey Dew Red Flesh apresentaram
menor número de dias para a emergência das plântulas em relação ao Daimiel
(Tabela 1).
Para a porcentagem de germinação,
as sementes tratadas com NaCl apresentaram maior valor do que as não tratadas (Tabela 1). Esse resultado indica que
o tratamento da semente do meloeiro
com solução de NaCl aumentou significativamente a porcentagem de germinação, embora tenha ocorrido pequena
diferença na germinação de sementes
tratadas e não tratadas. O híbrido Honey
Dew Red Flesh apresentou maior porcentagem de germinação que os demais
(Tabela 1), o que não corrobora com
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figura 1. Velocidade de emergência de sementes de híbridos de meloeiro com (1) e sem (2)
embebição com solução salina
em função de níveis de salinidade da água de irrigação. ESAM, Mossoró, 2003.
resultados de área foliar, massa seca e
altura da plântula para esse híbrido. A
diferença entre os três híbridos não é
elevada, no entanto, a porcentagem de
germinação do híbrido Daimiel é alta,
evidenciando que esse material é tolerante à salinidade da água de irrigação.
Em estudo realizado para comparar o
efeito da salinidade sobre a germinação
de sementes de híbridos de meloeiro
Botía et al. (1998) verificaram efeito
negativo da salinidade sobre a germinação, diferente dos resultados obtidos.
Sivritepe et al. (2003), trabalhando com
sementes de meloeiro, observaram que
as sementes que passaram por um tratamento pré-germinativo com NaCl apresentaram melhores resultados para a
emergência total e tempo médio de
emergência.
Para velocidade de emergência e
porcentagem de germinação, os resultados sugerem que as sementes embebidas em solução de NaCl passaram por
um processo de adaptação à salinidade,
originado da osmorregulação, que pode
ser induzida por solutos orgânicos (açúcares, ácidos orgânicos, aminoácidos
livres e prolinas) e/ou íons específicos
(Na, Ca e Cl), evitando também a desi317
RCF Queiroga et al.
Figura 2. Altura das plântulas de meloeiro híbrido Daimiel (1), Honey Dew Red Flesh (2) e
Hy Mark (3) em função de níveis de salinidade da água de irrigação. Mossoró, ESAM, 2003,
dratação, o qual é a base da sua tolerância a sais, induzida por estresse
osmótico.
As plântulas provenientes de sementes embebidas apresentaram maior massa seca da parte aérea (Tabela 1). O híbrido Daimiel (grupo Inodorus) apresentou maior massa seca em relação aos
demais. Mangal et al. (1988), trabalhando com melões dos grupos inodorus e
cantaloupensis, também constataram
diferenças entre cultivares para a massa
seca.
Para a área foliar, constatou-se que o
híbrido Daimiel apresentou maior área
foliar nas condições de sementes embebidas em solução salina e que não se verificaram diferenças entre os híbridos Hy
Mark e Honey Dew Red Flesh (Tabela 1).
A altura de plântulas não foi influenciada pela embebição da semente em
solução de NaCl.
No que se refere ao efeito dos níveis
de salinidade da água de irrigação, observou-se que seu aumento reduziu a
altura das plântulas nos três híbridos,
apresentando efeito quadrático no híbrido Daimiel, que foi afetado negativamente a partir de 2,15 dS m-1 (Figura 2)
em relação aos outros dois, que apre318
sentaram uma resposta linear, inversamente proporcional ao aumento nos níveis de salinidade da água de irrigação.
O híbrido Hy Mark, com a menor estimativa de altura de plântula, apresentou o menor declínio, seguido do híbrido Honey Dew Red Flesh. O comportamento do híbrido Daimiel foi distinto
dos demais, demonstrando mais tolerância a maiores níveis de salinidade da
água de irrigação. O resultado para altura de plântula para o híbrido Daimiel
está coerente com aqueles observados
nas variáveis área foliar e massa seca
da plântula (Tabela 1). Nukaya et al.
(1980), estudando o efeito da salinidade
sobre genótipos de meloeiro, verificaram efeito negativo da salinidade sobre
a altura de plantas, em dois estádios da
colheita.
Houve uma resposta linear dos níveis de salinidade da água de irrigação,
influenciando de forma negativa a área
foliar, evidenciando que, o desenvolvimento das folhas é prejudicado pelo
aumento da salinidade da água de irrigação (Figura 3A), concordando com os
resultados de Franco et al. (1997). O
índice de área foliar é uma característica que tem sido recomendada para avaliar a tolerância de genótipos ao estresse
salino. Em outras culturas, seja perene
ou anual, tem sido demonstrando que a
salinidade reduz a área foliar, comprometendo o crescimento da plântula e,
por conseqüência, a produtividade (Azevedo Neto & Tabosa, 2000; Carneiro et
al., 2002). Houve uma redução significativa de 17,61% na área foliar do nível
de 0,45 dS m -1 para 3,85 dS m -1 de
salinidade da água de irrigação, a qual é
inferior àquelas observadas em trabalhos
realizados na Espanha (Franco et al.,
1993; Franco et al., 1997). Vale ressaltar
que os níveis utilizados nesse estudo foram inferiores àqueles dos trabalhos acima citados, além das cultivares serem
diferentes, visto que cada cultivar possuem suas características intrínsecas.
Franco et al. (1997) comentam que
o índice de área foliar está estreitamente relacionado com a produção sob
estresse salino, com correlações próximas de 1,0, entre área foliar e produção. As injúrias induzidas por sais podem ocorrer não somente devido a efeitos osmóticos e oxidativos, mas também
por efeitos tóxicos e de deficiência de
nutrientes (Sivritepe et al., 2003). O
aumento nos níveis de salinidade pode
causar o aumento na concentração de Na
e levar a redução nos teores de K e Ca
nas plântulas do meloeiro. O Ca altera a
permeabilidade
da
membrana
plasmática, e com a salinidade pode,
afetar a entrada de outros nutrientes, o
que é um dos principais fatores do
estresse das plantas. Já o K, por meio
da ativação enzimática, síntese de proteínas e fotossíntese, afeta a divisão e
expansão celular, proporcionando plantas com menor área foliar.
Houve efeito linear da massa seca
da parte aérea das plântulas (Figura 3B)
que apresentou variação inversamente
proporcional com o aumento dos níveis
de salinidade da água de irrigação, conforme havia sido verificado para a área
foliar. Houve uma redução de 23,57 %
da massa seca do nível de salinidade da
água de irrigação de 0,45 dS m-1 para
3,85 dS m-1, sendo mais acentuada a
partir de 2,15 dS m-1. Isso concorda com
a literatura, isto é, o meloeiro é uma
cultura moderadamente tolerante à
salinidade até condutividade elétrica de
2,2 dS m-1 no extrato de saturação do
solo (Mangal et al., 1988; Mendlinger e
Pasternak, 1992). Feigin (1990), estuHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade
dando respostas de plantas de meloeiro
Gália em condições salinas (9,0 dS m-1)
e não salinas, em solução nutritiva, obteve menor quantidade de massa seca.
Desta forma, o aumento nos níveis de
salinidade contribuiu para a redução da
área foliar e, consequentemente, redução na capacidade fotossintética das
plântulas, na massa seca e síntese de
carboidratos, conforme verificado por
Sivritepe et al. (2003).
Diante dos resultados obtidos, conclui-se que o tratamento de sementes de
melão com solução salina de NaCl (6 g/
L) pode ser usado para aumentar a tolerância de sais pelas plântulas, proporcionando maior massa seca da plântula e
aumento na porcentagem de germinação.
O híbrido Daimiel destacou-se como o
mais tolerante à salinidade, em razão dos
maiores valores de área foliar e massa
seca da parte aérea, quando as sementes
foram embebidas em solução salina.
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K2O em solo arenoso. Horticultura Brasileira 24: 320-323.
Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso
Carlos Henrique de Brito2; Ademar P de Oliveira1; Adriana Ursulino Alves2; Carina S M Dorneles2; João
F dos Santos2; José P R Nóbrega2.
UFPB, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; 1Bolsista CNPq; 2Programa de Pós-graduação em Agronomia; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de avaliar a resposta da batata-doce cultivar
Rainha Branca a doses de K2O, foi realizado um trabalho em
NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico típico, no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, em Areia (PB), no
período de julho a novembro de 2004. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com seis tratamentos (0; 50;
100; 150; 200 e 250 kg ha-1 de K2O), em quatro repetições. A parcela
constou de 48 plantas, espaçadas de 0,80 m entre linhas x 0,30 m
entre si. As doses de 194 e 174 kg ha-1 de K2O, proporcionaram as
máximas produções total e comercial de raízes (14,8 e 8,4 t ha-1),
respectivamente. Entretanto, a dose mais econômica para a produção de raízes comerciais foi alcançada com 163 kg ha-1 de K2O, que
produziu 6,0 t ha-1 de raízes comerciais. As doses de K2O, com as
quais obtiveram-se a máxima produção e retorno econômico de raízes
comerciais, se correlacionam, respectivamente, com 125 e 121 mg
dm-3 de K disponível no solo, obtido pelo extrator Mehlich 1. A probabilidade para ocorrência de resposta da batata-doce à adubação
potássica em solos semelhantes ao do presente estudo será
minimizada quando o teor de K disponível for superior a 121 mg
dm-3. Para o solo em estudo, a dose de 163 kg ha-1 de K2O deve ser
recomendada para a fertilização da batata-doce.
Palavras-chave: Ipomoea batatas, nutrição mineral, produção de
raízes.
Sweet potato yield as a function of K2O levels in a sandy soil
The response of sweet potato Rainha Branca cv., cultivated under
different K2O levels was evaluated. The experiment was carried out
in randomized blocks design with four replications in a Quartz
psamment soil at Universidade Federal da Paraíba, Paraiba State,
Brazil, from July to November/2004. The K2O levels applied were
0; 50; 100; 150; 200 and 250 kg ha-1). The plots consisted of 48
plants, spaced of 0.80x0.30 m. The maximum estimated values, 14.8
and 8.4 t ha-1 of total and commercial roots yield, were obtained
with 194 and 174 kg ha-1 of K2O, respectively. However, the most
economic level of commercial roots yield (6.0 t ha-1) was reached
using 163 kg ha-1 of K2O. The K2O levels resulting in maximum
roots yield and economic return, were correlated respectively with
125 and 121 mg dm-3 of available K with Mehlich 1 extractor. The
probability for sweet potato response under potassic fertilization in
similar soils will be minimized if the level of available K in the soil
were superior to 121 mg dm-3. For utilized soil in this study, 163 kg
ha-1 of K2O can be recommended for sweet potato fertilization.
Keywords: Ipomoea batatas, mineral fertilization, roots production.
(Recebido para publicação em 7 de junho de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006)
A
batata-doce é cultivada com maior
intensidade nas regiões sudeste e
nordeste do Brasil, sendo que nessa última, assume alta importância social,
principalmente por participar na geração de emprego e de renda para os pequenos agricultores. Além disso, faz
parte da cadeia alimentar da região, por
se constituir em alimento rico em
carboidratos (Soares et al., 2002).
No estado da Paraíba, a batata-doce
é mais cultivada e difundida nas regiões
próximas aos grandes centros consumidores, especialmente nas microregiões
do brejo e litoral paraibano, sendo considerado o maior produtor nordestino e
o quarto produtor nacional (Soares et al.,
2002). Contudo, apesar deste destaque,
é paradoxalmente um dos estados que
possui uma das mais baixas produtividades média a nível nacional, 6,8 t ha-1,
sendo a falta de um programa de nutri320
ção mineral para a cultura, um dos principais fatores responsáveis por este fato
(Silva et al., 2002).
A batata-doce possui sistema
radicular ramificado, o que a torna eficiente na absorção de nutrientes. Contudo, sua resposta à adubação depende
das condições do solo. Quando cultivada em solos com fertilidade natural de
média à alta, geralmente não há resposta. No entanto, em solos pouco férteis,
o uso de fertilizantes minerais e orgânicos proporciona incremento significativo na produtividade (Monteiro et al.,
1997). Nesse sentido, Mendonça & Peixoto (1991), avaliando diferentes níveis
de adubação para a batata-doce, obtiveram respostas significativas para a produtividade, produção por planta e peso
médio de raízes comerciais.
As hortaliças são exigentes em K
disponível no solo, sendo esse o primei-
ro macronutriente em ordem de extração, para a maioria delas. O potássio
favorece a formação e translocação de
carboidratos e o uso eficiente da água
pela planta; equilibra a aplicação de nitrogênio e melhora a qualidade do produto e, consequentemente, o valor de
mercado (Filgueira, 2003).
O potássio juntamente com o fósforo é responsável pelo aumento da produtividade (Pimentel, 1985), sendo necessária a remoção de 340 kg ha-1 de
K2O para que ocorra produção máxima
de raízes comerciais (Potafos, 1990), já
que o potássio desempenha papel importante na formação das raízes
tuberosas. Em função disso quando
ocorre deficiência desse nutriente, há
redução da produção de raízes comerciais, e maior formação de raízes curtas
e irregulares (Chaves & Pereira, 1985;
Barreira, 1986; Mendonça, 1991).
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso
O objetivo deste trabalho foi avaliar
a produtividade total e comercial de
raízes de batata-doce cultivada com doses crescentes de K2O, em solo representativo de áreas de cultivo, na região
de Areia (PB).
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido entre
julho e novembro de 2004, em área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
em Areia-PB, localizada na microregião
do Brejo Paraibano. Pela classificação
de Koppen, o clima é do tipo AS’(quente
e úmido), precipitação pluviométrica
média anual em torno de 1.400mm e
temperatura média anual entre 23º e 24 ºC.
A temperatura média em oC, a precipitação pluviométrica em mm e a umidade relativa em % do período experimental foram, respectivamente: julho= 20,3;
259; 90,7; agosto= 20,9; 71; 88; setembro= 21,3; 51; 85; outubro= 22,4; 15;
81; e novembro= 23; 14; 77. O delineamento experimental foi em blocos
casualizados, com seis tratamentos
constituídos de seis doses de K2O (0, 50,
100, 150, 200, e 250 kg ha-1), com quatro repetições e parcelas compostas de
48 plantas úteis.
O solo da área experimental foi classificado de acordo com Embrapa (1999),
como NEOSSOLO REGOLITICO
Psamítico típico, textura franco-arenosa, com relevo local suave ondulado e
regional forte ondulado e fase floresta
subperenifólia (Brasil, 1972). As análises química e física da camada de 0-20
cm, resultaram em: pH (H2O)= 6,3; P=
10,14 mg dm-3; K= 37,4 mg dm-3; Na+=
0,07 cmolc dm-3; H++Al+3= 1,32 cmolc
dm-3; Al+3= 0,0 cmolc dm-3; Ca+2= 2,4
cmolc dm-3; Mg+2= 0,7 molc dm-3; SB=
3,27; CTC= 4,59 e matéria orgânica=
15,8 g dm-3; areia grossa= 672 (g kg-1);
areia fina= 125 (g kg-1); silte= 126 (g
kg-1); argila= 77 (g kg-1); densidade do
solo= 1,28 (g cm-3), conforme Embrapa
(1997). O preparo da área constou de
aração, gradagem e construção de
leirões com aproximadamente 30 cm de
altura, com auxílio de enxada.
A adubação de plantio constou da
aplicação de 120 kg ha-1 de P2O5, 20 t
ha-1 de esterco bovino e 50% das doses
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
de K2O. Na adubação de cobertura foram fornecidos os 50% restantes das
doses de K2O e 20 kg ha-1 de N, parcelados em partes iguais aos 30 e 60 dias
após o plantio. Na adubação de plantio,
os adubos foram distribuídos até 15 cm
de profundidade em sulco contínuo,
aberto no topo dos leirões, e na adubação de cobertura, distribuídos em linha
lateral aos leirões. Posteriormente, os
adubos foram cobertos com fina camada de solo. Como fontes de P2O5, de N e
de K2O, foram empregados, respectivamente, o superfosfato simples, sulfato de amônio e cloreto de potássio.
No plantio foram utilizadas ramas da
variedade Rainha Branca, espaçadas de
0,80 m entre linhas x 0,30 m entre si,
retiradas de plantio jovem, em área próxima ao experimento. As ramas foram
cortadas com um dia de antecedência,
para facilitar o manejo e seccionadas em
pedaços de, aproximadamente, 40 cm de
comprimento, contendo em média oito
entrenós e enterradas pela base com auxílio de pequeno gancho, na profundidade de 10 a 12 cm.
Durante a condução do experimento foram realizadas irrigações, pelo sistema de aspersão convencional, nos períodos de ausência de precipitação, com
turno de rega de três dias; capinas manuais com auxílio de enxada para manter a cultura livre de competição com
plantas daninhas; amontoas para proteger as raízes contra a incidência de luz
e manter a formação dos leirões. Não
foram efetuadas aplicações de defensivos devido à ausência de pragas ou de
doenças.
A colheita foi realizada aos 120 dias
após o plantio, anotando-se os dados de
produtividade total e comercial de
raízes. A produtividade comercial
correspondeu ao peso das raízes de formato uniforme e lisas, com peso igual
ou superior a 80 g, conforme Embrapa
(1995). Ao final da colheita, efetuou-se
a amostragem do solo (0-20 cm de profundidade), coletando-se dez amostras
simples por parcela para determinar as
concentrações de K-disponível pelo
extrator Mehlich 1.
Os resultados obtidos foram submetidos às análises de variância e de regressão, utilizando-se o “software”
SAEG (2001), sendo selecionado para
expressar o comportamento das doses
de K2O sobre as características avaliadas, o modelo significativo que apresentou maior coeficiente de determinação.
Nas significâncias das análises de
variância e de regressão foi considerado o nível de probabilidade de até 5%
pelo teste F.
Também foi determinada a dose
mais econômica de K2O para a produção de raízes comerciais, conforme Raij
(1991). Os valores utilizados para as
variáveis raízes comerciais e K2O, foram R$ 0,50/kg de raízes e R$ 2,00/kg
de K2O. No entanto, a fim de atenuar os
problemas de variação cambial, para o
resultado que permitiu o cálculo da dose
mais econômica, trabalhou-se com uma
relação de troca ao invés de moeda corrente (Natale et al., 1996), procurandose assim dados mais estáveis. Portanto,
a “moeda” utilizada nos cálculos, foi a
própria produção de raízes comerciais,
considerando-se a seguinte relação de
equivalência: quilograma de K2O/kg de
raízes igual a 4,0, sendo a dose mais
econômica calculada baseando-se na
derivada da equação de regressão entre
a produção de raízes e as doses de k2O
por meio da relação de dy/dx= a1+2a2 x.
A dose mais econômica (x’) foi então
calculada por: x’= a1 - relação de equivalência/2(-a2), onde x’ representa a
dose econômica, a1 a taxa de incremento de produção e a2, o ponto de máxima
produção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As relações entre as produtividades
total e comercial de raízes com as doses
de potássio, foram de natureza
quadrática (Figura 1). As máximas produtividades, total e comercial, estimadas de raízes de batata-doce, em função
das doses de K2O foram, respectivamente, 14,8 e 8,4 t ha-1, sendo obtidas, respectivamente, com 194 e 173 kg de K2O
ha-1. A produtividade de raízes comerciais, embora inferior a média nacional,
definida em 10 t ha-1 por Soares et al.
(2002), foi superior ao rendimento médio de raízes comerciais para a batatadoce no estado da Paraíba, estabelecida
em 6,8 t ha-1 por Silva et al. (2002).
A redução das produtividades
verificadas em doses de K2O acima
321
CH Brito et al.
Figura 1. Produtividades total (y1) e comercial (y2) de raízes de batata-doce em função do
uso de doses de K2O no solo. UFPB, Areia, 2004.
Figura 2. Relação entre o teor de K-disponível no solo (Mehlich-1) antes do plantio e as
doses de K aplicadas. Os valores entre parênteses indicam doses de K o teor de K disponível
no solo que correspondem a máxima eficiência técnica (MET) para a produção de raízes
comerciais e a máxima eficiência econômica (MEE). UFPB, Areia, 2004
daquelas responsáveis pelos máximos
valores, possivelmente foi decorrente da
elevação da salinidade do solo proporcionada pelas maiores concentrações do
adubo potássico nas raízes (Raij, 1991),
com elevação da pressão osmótica da
solução do solo. Isso porque a adubação excessiva com potássio, pode levar
ao aumento da concentração salina do
solo e à redução na absorção de outros
cátions, principalmente Ca e Mg, promovendo redução na produtividade da
cultura (Pereira & Fontes, 2005).
322
A fórmula obtida para a dose econômica de raízes comerciais foi:
0,0693 – 4,0
Dose de K2O = ——————
2(0,0002)
onde 4,0 é a relação de equivalência. Dessa forma, a dose mais econômica de K2O foi de 163 kg ha-1. O ganho
previsto devido apenas à aplicação do
K2O, calculado pelo aumento de produção de raízes comerciais, foi de 6,0 t ha-1,
que deduzido da quantidade de raízes
(0,55 t ha-1) necessária para aquisição
de 163 kg ha-1 de K2O, resultou em superávit de 5,45 t ha-1 de raízes comercias.
A dose mais econômica representou
93% da máxima eficiência técnica
(M.E.T), a qual representa a dose de fertilizante em que a resposta da produção
atinge o máximo (Natale et al., 1996), e
indica a viabilidade do emprego do potássio no cultivo da batata-doce. As doses de K2O responsáveis pela máxima
produção de raízes comerciais e pelo
máximo retorno econômico se
correlacionaram, respectivamente, com
125 e 121 mg dm-3 de K disponível (Figura 2).
A produção de raízes comerciais e
os teores de K disponível no solo após a
colheita foram influenciados significativamente pelas doses de K2O. Contudo, a probabilidade de ocorrência de
resposta da batata-doce à adubação
potássica, cultivada em solos semelhantes ao do presente estudo, será
minimizada quando o teor de K disponível for superior a 121 mg dm-3.
O baixo teor inicial de potássio no
solo (EMATER, 1979; Potafos, 1990),
possivelmente tenha sido forte aliado
para a resposta da batata-doce a esse
nutriente. Isso porque os efeitos da adubação potássica sobre as culturas é especialmente acentuada em solos arenosos e de baixa fertilidade (Raij, 1991).
Em solos com essa característica, a necessidade de fertilizante potássico é,
freqüentemente, maior do que a necessidade de K da cultura. Por outro lado,
naqueles solos com teor elevado de K
disponível, a aplicação desse fertilizante, resulta apenas em pequeno aumento
de produção (Mengel, 1982). Em solos
arenosos do Litoral e Agreste paraibano,
Soares et al. (2002), relatam efeitos significativos do emprego do potássio sobre o aumento de produção na batatadoce.
Nas espécies produtoras de raízes
tuberosas, doses adequadas de potássio
favorecem a formação e translocação de
carboidratos e melhora a absorção de
nitrogênio e a produção de raízes comerciais (Filgueira, 2003). Portanto, é provável que durante o crescimento e desenvolvimento da batata-doce, as doses
de K 2O responsáveis pelas máximas
produções, juntamente com os nutrientes adicionados ao solo, supriram de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso
forma equilibrada as necessidades
nutricionais da espécie. Segundo
Mengel (1982), altas produções são obtidas quando as exigências de potássio
da planta são totalmente atendidas.
Nas condições regionais de AreiaPB, para o estabelecimento da batatadoce em Neossolo Regolítico Psamítico
Típico, textura franco-arenosa, com características químicas semelhantes ao
solo onde este trabalho foi conduzido,
deve ser recomendada a aplicação de
163 kg ha-1 de K2O. Esta dose extrapola
a recomendação média de 90 a 120 kg
ha-1 de K2O, para essa hortaliça, em solos com baixo a médio teor deste elemento, conforme Filgueira (2003). Possivelmente, isso esteja relacionado com o fato
de o solo empregado ser de textura arenosa. Nesses solos, é necessário que se
forneça maiores quantidades de fertilizantes potássicos para atender as necessidades das culturas (Mengel, 1982).
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323
HEREDIA ZÁRATE NA; VIEIRA MC; GIULIANI AR; HELMICH M; CHIQUITO EG; AMADORI AH. 2006. Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’. Horticultura Brasileira 24: 324-328.
Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e
alface ‘Quatro Estações’
Néstor A Heredia Zárate1; Maria do Carmo Vieira1; Artur Renan Giuliani2; Marcelo Helmich2; Everton
Geraldo Chiquito3; Ana Helaise Amadori4
UFMS-DCA, C. Postal 533, 79804-970 Dourados-MS;1Bolsista CNPq. 2Bolsista Iniciação Científica Convênio FUNDECT/
CNPq.3Bolsista Iniciação Científica Convênio UFMS/CNPq. 4Aluno voluntário; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Estudou-se a produtividade e a renda bruta do taro (Colocasia
esculenta) ‘Chinês’, da cenoura (Daucus carota) ‘Brasília’ e da alface (Lactuca sativa) ‘Quatro estações’ em cultivo solteiro e dos
consórcios taro-cenoura e taro-alface, nas condições ambientais de
Dourados-MS. Os cinco tratamentos foram arranjados, no campo,
no delineamento experimental em blocos casualizados, com cinco
repetições. Para cada espécie avaliaram-se diferentes componentes
das plantas. O consórcio foi avaliado utilizando-se a expressão da
razão de área equivalente (RAE) e sua validação foi pela determinação da renda bruta. As maiores produções de alface foram de 1,57;
2,09 e 6,59 t ha-1 para massas de “cabeças” comerciais, não-comerciais e pendoadas, respectivamente, obtidas com o cultivo solteiro.
As cenouras cultivadas solteiras foram 6,5 cm mais altas e produziram 6,83 t ha-1 a mais de massa fresca de raízes comerciais, em relação às consorciadas com o taro ‘Chinês’. As maiores produções de
folhas, rizomas-mãe e rizomas-filho comerciais do taro ‘Chinês’
foram obtidas no consórcio taro-alface e a de rizomas-filho nãocomerciais foram no taro solteiro. As menores produções foram do
consórcio taro-cenoura. As RAEs para os consórcios taro-cenoura e
taro-alface foram de 1,06 e 1,83, respectivamente. Pela renda bruta,
constatou-se que para os produtores de cenoura e de alface, os consórcios com o taro ‘Chinês’ poderiam ter induzido incrementos monetários por hectare de R$ 6.122,50 ou de R$ 20.045,00, respectivamente. Para o produtor de taro, somente o consórcio com a alface
foi positivo, com aumento de R$ 7.313,50 ha-1.
‘Chinês’ taro in monocrop system and intercropped with
‘Brasília’ carrot and ‘Quatro estações” lettuce
Palavras-chave: Colocasia esculenta, Lactuca sativa, Daucus
carota, produtividade, renda bruta.
Yield and gross income of ‘Chinês’ taro (Colocasia esculenta),
of ‘Brasília’ carrot (Daucus carota) and of ‘Quatro estações’ lettuce
(Lactuca sativa) were evaluated in monocrop system and taro-carrot
and taro-lettuce intercrops, in environmental conditions of Dourados,
Mato Grosso do Sul State, Brazil. The five treatments were arranged
in field, in a randomized block design with five replications. For
each specie different compounds of plants were evaluated.
Intercropping was evaluated by land equivalent ratio (LER) and the
validation was by gross income determination. The highest yields of
lettuce were 1.57; 2.09 and 6.59 t ha-1 for masses of commercial,
non-commercial and tasseled “heads”, respectively, which were
obtained through monocrop system. Carrots cultivated in monocrop
system were 6.5 cm higher and produced 6.83 t ha-1 more fresh mass
of commercial roots in comparison to intercropping with ‘Chinês’
taro. The highest yields of leaves, commercial corms and cormels of
‘Chinês’ taro were obtained with taro-lettuce intercropping, and of
non-commercial cormels were obtained with taro in the monocrop
system. The smallest yields were obtained from taro-carrot
intercropping. LER for taro-carrot and taro-lettuce intercroppings
were 1.06 and 1.83, respectively. For the gross income, it was
established that for carrot and lettuce producers, the intercropping
system with ‘Chinês’ taro induced monetary increments per hectare
of R$ 6,122.50 or of R$ 20,045.00, respectively. For taro producer,
only the intercropping with lettuce was positive, with increase of R$
7,313.50 ha-1.
Keywords: Colocasia esculenta, Lactuca sativa, Daucus carota,
yield, gross income.
(Recebido para publicação em 12 de agosto de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006)
D
entro das muitas possibilidades dos
sistemas de cultivo múltiplo, o caso
particular dos consórcios tem recebido
especial atenção, principalmente por
causa da riqueza de suas interações ecológicas e do arranjo e manejo das culturas no campo. Contrastam com os sistemas agrícolas modernizados, assentados
sobre a exploração de monoculturas e
uso intensivo de capital e produtos originários do setor industrial, como por
exemplo, fertilizantes sintéticos e
pesticidas (Santos, 1998). Por isso, a
consorciação de culturas é descrita como
um sistema intermediário entre o
324
monocultivo e as condições naturais de
vegetação, onde diversas espécies coexistem em tempo e espaço, formando
um sistema equilibrado ecologicamente (Silva, 1983).
O taro (Colocasia esculenta (L.)
Schott), por suas características
nutricionais, apresenta possibilidades de
uso humano sob diferentes formas de
preparo, podendo substituir, total ou
parcialmente, a batatinha, a mandioca,
o milho, o trigo e outras espécies
amídicas (Abramo, 1990). Também
pode ser utilizado na alimentação animal, especialmente para frangos de corte
(Heredia Zárate et al., 1999/2001).
A cultura de taro é de ocorrência
comum nos trópicos úmidos e sua importância reside no seu valor alimentar
e forma de consumo, ao natural ou processado, e na capacidade de as plantas
produzirem em condições consideradas
impróprias para a agricultura tradicional, como pantanais e áreas alagadiças.
Essa habilidade para produzir tanto em
locais secos como alagados faz dessa
espécie a cultura de subsistência ideal
para áreas onde não se usa tecnologia
avançada (Heredia Zárate, 1995;
Heredia Zárate et al., 1997). Contudo, a
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’
produtividade é grandemente variável,
por causa das diferenças nas práticas de
plantio e por desconhecimento das características genotípicas das diferentes
espécies e cultivares (Heredia Zárate &
Yamaguti, 1994). Dentre os clones de
taro estudados em Dourados, para
comercialização ao natural, tanto em
condições de solo sempre úmido como
de época seca do pantanal sulmatogrossense, sempre sobressaíram os
clones Japonês, Macaquinho e Chinês,
na sua ordem, por apresentarem altas
percentagens de rizomas-filho, com
massas superiores a 25 g e com formatos regulares, ovóides e arredondados.
A alface (Lactuca sativa L.) é uma
hortaliça popular no mundo inteiro, com
elevado teor de vitamina A nas folhas
verdes, alcançando até 4.000 UI/100g.
É cultivada tradicionalmente no território brasileiro (Filgueira, 2000), onde os
volumes de produção e de consumo são
grandes (Barbosa et al., 1999). O Estado de São Paulo é o maior produtor, com
aproximadamente 7.300 ha, ocupando
no Brasil o sétimo lugar em área cultivada de hortaliças (Trani et al., 1997).
No Mato Grosso do Sul, em 1996, a área
cultivada com alface foi de 203 ha e no
município de Dourados, foi a hortaliça
folhosa de maior área, de 65 ha (Diagnóstico, 1998). A planta tem ciclo curto
(60 a 80 dias) e sistema radicular pouco
profundo (Filgueira, 2000).
A cenoura (Daucus carota L.) é uma
das hortaliças mais consumidas no Brasil, e das mais comercializadas pela
CEAGESP (Companhia de Entrepostos
e Armazéns Gerais de São Paulo), perdendo apenas para tomate, batata e cebola. Em 2003, a produção de cenoura
no Brasil foi de aproximadamente 758
mil toneladas em área de cerca de 27
mil hectares (Fao, 2003). A preferência
do mercado brasileiro, quanto à coloração, é por raiz de cor laranja pronunciada, cilíndrica, com 15 a 22 cm de comprimento e 3 a 4 cm de diâmetro, com
pequena diferenciação entre as cores do
xilema e do floema, e, sem defeitos de
formação como rachaduras, bifurcações
e ombro verde ou roxo (Lana & Vieira,
2000). A cultivar Brasília é a mais utilizada na maioria das regiões produtoras
por apresentar notável adaptação a temperatura e pluviosidade elevadas, tal
como ocorre com a Kuronan e a
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Carandaí AG-106. O ciclo, da semeadura direta até a colheita, varia de 85 a
120 dias (Araújo, 2000; Filgueira,
2000).
Oliveira et al. (2004), estudando o
desempenho do taro em plantio direto e
no consórcio com crotalária (Crotalaria
juncea), sob manejo orgânico, observaram que o cultivo consorciado com a
leguminosa promoveu maior altura nas
plantas de taro e reduziu a queima de
folhas pelos raios solares. Além disso,
nenhum dos tratamentos influenciou a
produtividade do taro, que foi considerada satisfatória, indicando o potencial
do manejo orgânico adotado.
Tolentino Júnior et al. (2002), estudando a produção da mandioquinha-salsa ‘Amarela de Carandaí’ consorciada
com alface ‘Grand Rapids’ e beterraba
‘Tal Top Early Wonder’, observaram
que as plantas das três espécies tiveram
produtividade superior em monocultivo.
Entretanto, ao considerar a produção
total de raízes e a de raízes comerciais,
a RAE para o consórcio mandioquinhabeterraba foi de 1,07 e 0,87 e para
mandioquinha-alface foi 1,3 e 1,1, respectivamente. Bezerra Neto et al.
(2003), estudando o desempenho de
quatro cultivares de alface lisa, em cultivo solteiro e consorciado com cenoura, em dois sistemas de cultivo em faixas, observaram que a produtividade
média da alface nos sistemas consorciados, embora inferior à do sistema solteiro, representou uma fonte adicional
de renda. O consórcio cenoura ‘Brasília’
x alface ‘Verdinha’, em faixas com quatro fileiras, foi o que apresentou maior
viabilidade agro-econômica, com índice de uso da terra em torno de 19% e
taxa de retorno ao redor de 3,0.
Face a importância de se avaliar o
desempenho dos cultivos consorciados
regionalmente, este trabalho teve como
objetivos avaliar a produtividade e a renda bruta do taro, da cenoura e da alface
em cultivo solteiro e dos consórcios
taro-cenoura e taro-alface, nas condições ambientais de Dourados-MS.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na horta da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, em Dourados-MS, entre
28-8-2004
e
2-4-2005,
em
LATOSSOLO
VERMELHO
distroférrico (Embrapa, 1999), de textura argilosa, com as seguintes características químicas: 5,5 de pH em CaCl2;
34,0g dm-3 de M.O; 36,0 mg dm-3 de P;
6,6; 56,0 e 22,6 mmolc dm-3 de K, Ca e
Mg, respectivamente. O município de
Dourados situa-se em latitude de
22º13’16"S, longitude de 54º17’01"W
e altitude de 430 m. O clima da região,
segundo a classificação de Köppen é
Mesotérmico Úmido; do tipo Cwa, com
temperaturas e precipitações médias
anuais variando de 20 a 24oC e 1250 a
1500 mm, respectivamente.
O experimento consistiu no estudo
dos monocultivos do taro ‘Chinês’, da
alface ‘Quatro Estações’ e da cenoura
‘Brasília’, além dos consórcios taro-alface e taro-cenoura. Os cinco tratamentos foram arranjados, no campo, no delineamento experimental em blocos
casualizados, com cinco repetições. As
parcelas tiveram área total de 3,0 m2 (1,5
m de largura x 2,0 m de comprimento)
e área útil de 1,6 m2 (1,0 m de largura x
1,6 m de comprimento). As parcelas da
cenoura e da alface, em cultivo solteiro
e consorciado, foram formadas por um
canteiro contendo quatro linhas (0,25
m), com vinte plantas por linha (0,10 m
entre plantas) para cenoura e dez (0,20
m entre plantas) para alface. As parcelas do taro, tanto no cultivo solteiro
quanto no consorciado, foram formadas
por um canteiro contendo duas linhas
(0,50 m), com dez plantas por linha (0,20
m entre plantas).
Para o plantio do taro, foram abertos sulcos de 0,05 m de largura x 0,05
m de profundidade, onde foram colocadas as mudas no fundo do sulco, em
posição horizontal, e cobertas com o
solo extraído na abertura dos sulcos. As
mudas foram formadas por rizomas-filho-RF das classes 1 a 5, com massa
fresca média de: C1= 24,6 g; C2= 13,8
g; C3= 10,7 g; C4= 7,8 g e C5= 5,0 g,
correspondentes a cada repetição. A propagação da cenoura e da alface foi por
sementes, no sistema de semeadura direta. As irrigações foram feitas por aspersão com o intuito de manter o solo
“sempre úmido” (após observações subjetivas), o que induziu a turnos de rega
a cada dois dias. O controle das plantas
325
NA Heredia Zárate et al.
Tabela 1. Altura das plantas, diâmetro e produção de “cabeças” de alface ‘Quatro Estações’, em cultivo solteiro e consorciado com taro
‘Chinês’. Dourados, UFMS, 2004-2005.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade.
infestantes foi feito com auxílio de enxadas nas entrelinhas e com arranquio
manual dentro das linhas.
A colheita da alface foi feita aos 74
dias após a semeadura, cortando as plantas rente ao solo, quando avaliaram-se
a altura das plantas, a massa fresca e o
número de “cabeças” de tamanhos comercial e não-comercial, além das plantas pendoadas. A colheita da cenoura foi
feita aos 102 dias após a semeadura, utilizando-se como índices de colheita a
perda de brilho das folhas e o
encostamento no solo das folhas externas das plantas. Avaliaram-se a altura
das plantas e as produções de massa fresca da parte aérea e das raízes. A colheita
do taro foi realizada aos 221 dias após o
plantio, quando mais de 50% da parte
aérea das plantas apresentavam-se amareladas e secas, sintomas típicos de
senescência. As características avaliadas
foram massas frescas da parte aérea
(limbos + pecíolos), dos rizomas-mãeRM e dos rizomas-filho-RF comerciais
(massa superior a 25,0g) e RF não-comerciais.
Os dados avaliados da cenoura e da
alface, solteiras e consorciadas com o
taro, foram submetidos à análise de
variância e testados pelo teste F, até 5%
de probabilidades. Os dados do taro foram submetidos à análise de variância e
quando detectou-se significância pelo
teste F, entre os tratamentos solteiro e
os consórcios com cenoura e alface, foi
aplicado o teste de Tukey. O consórcio
foi avaliado utilizando a expressão da
razão de área equivalente (RAE) proposto por Caetano et al. (1999), a saber:
RAE= Tc . Ts-1 + Ac . As-1, onde, respectivamente, Tc e Ac= produções do taro
e do número de “cabeças” de alface comerciais ou da massa de raízes de cenoura em consorciação e Ts e As= pro326
Tabela 2. Altura de plantas, produtividade de massa fresca de folhas e de raízes da cenoura
‘Brasília’, em cultivo solteiro e consorciado com taro ‘Chinês’. Dourados, UFMS, 2004-2005.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade.
duções do taro e do número de “cabeças” de alface comerciais ou da massa
de raízes de cenoura em cultivo solteiro. A validação do consórcio foi realizada pela determinação da renda bruta.
Para isso, foram pesquisados os preços
pagos aos produtores pela “cabeça” de
alface comercial (R$ 0,35 a unidade), a
cenoura (R$ 0,85 kg-1) e o taro (R$ 1,20
kg-1). Posteriormente, efetuaram-se as
conversões por hectare para a renda bruta, por cultivo e total, para o produtor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelas características avaliadas na
alface, constatou-se que houve diferença significativa entre tratamentos,
exceto para altura das plantas e número
de “cabeças” pendoadas (Tabela 1). O
fato de os maiores valores terem sido
obtidos com o cultivo solteiro é coerente com as citações de Silva (1983) de
que as plantas de uma comunidade vegetal, seja ela homogênea ou heterogênea,
estão sujeitas a diversos tipos de
interações. Isto ocorre principalmente em
um sistema de culturas múltiplas, formado por espécies diferentes, onde encontram-se raízes que exploram o solo a diferentes profundidades. Por isso, na maioria dos casos, a interação é notada pela
redução da produtividade das culturas.
As variações produtivas dentro da
população de plantas da alface ‘Quatro
Estações’, independentes do tratamento, onde encontraram-se menores valores para massa e número de plantas com
“cabeças” comercializáveis, valores intermediários para plantas com “cabeças”
não-comercializáveis e altos valores
para plantas com “cabeças” pendoadas,
foram indicativos de que trabalhou-se
com uma população heterogênea e que
a maioria das linhagens puras que a compunham (Destro & Montalvan, 1999)
não se adaptaram às condições ambientes da época em que se desenvolveu o
experimento. Além disso, confirmam
que, práticas como a escolha da cultivar para as condições prevalecentes na
área e a forma de condução da cultura,
dentre outras, podem alterar a produtividade (Heredia Zárate, 1990).
Na cenoura ‘Brasília’, o cultivo solteiro induziu aumento significativo de
6,5 cm de altura das plantas e 6,83 t ha-1
de massa fresca de raízes comerciais, em
relação às plantas cultivadas consorciadas com o taro ‘Chinês’ (Tabela 2). Estes resultados são coerentes com os de
Bustamante (1988), Câmara et al.
(1985) e Vieira (1995), na
mandioquinha-salsa
(Arracacia
xanthorrhiza) ‘Amarela de Carandaí’,
espécie da mesma família da cenoura,
os quais observaram correlação positiva entre a produção da parte aérea e da
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’
parte subterrânea, ou seja, as plantas de
mandioquinha-salsa mais altas, que foram mais exuberantes e possuíam maior
área foliar, produziram maior quantidade de raízes comerciais.
No taro ‘Chinês’, todas as características avaliadas foram influenciadas
significativamente pelos tratamentos
(Tabela 3). As maiores produções de
folhas, rizomas-mãe e rizomas-filho
comerciais foram obtidos nas plantas do
consórcio taro-alface; enquanto a de
rizomas-filho não-comerciais, nas plantas do taro solteiro. As menores produções foram das plantas do consórcio
taro-cenoura. Esses resultados são coerentes com as citações de Bezerra Neto
et al. (2003), de que os arranjos espaciais são importantes fatores de manejo
que podem ser manipulados para melhorar o uso de recursos e a eficiência da
prática do consórcio em hortaliças. Isso
porque os sistemas ecológicos são capazes de auto-regulação e essa capacidade
baseia-se no equilíbrio das relações de
interferência (Larcher, 2000), especialmente em um sistema de culturas múltiplas, geralmente formado por espécies
diferentes, onde encontram-se raízes que
exploram o solo a diferentes profundidades (Silva, 1983), ou, onde as folhas
podem responder diferencialmente à
competição por luz (Harder, 2004).
Os aumentos de 2,93 t ha-1 de folhas,
de 0,40 t ha-1 de rizomas-mãe e de 2,79
t ha-1 de rizomas-filho do taro sob consórcio com alface, em relação ao taro
solteiro (Tabela 3), mostram relação
com a citação de Whatley & Whatley
(1982) ao relatarem que a interação em
cultivos associados pode promover au-
Tabela 3. Produtividade do taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura
‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’. Dourados, UFMS, 2004-2005.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
mentos na produtividade, apesar de ser
pouco comum. Provavelmente, a causa
seja a excreção de hormônios
estimuladores de crescimento; no entanto, esse estímulo foi citado apenas para
alguns
cultivares
de
arroz
intercultivadas.
Os aumentos produtivos do taro em
consórcio com alface, em relação ao taro
em consórcio com cenoura (Tabela 3),
podem ser explicados por Vandermeer
(1992), quando relata que o mecanismo
de facilitação pode operar quando “uma
espécie proporciona algum tipo de benefício para a outra”, alterando o “ambiente da outra espécie positivamente,
mas não necessariamente de maneira
recíproca”. Este fato é corroborado com
as menores alturas e diâmetros das plantas, assim como com as produções de
massa e número de “cabeças”, exceto
no número de “cabeças” pendoadas (Tabela 1).
A RAE para o consórcio taro-cenoura (Tabela 4), considerando as produtividades de massa fresca das culturas, foi
de 1,06 (RAE= Tc/Ts+Cc/Cs= 9,94/
15,66+5,20/12,03= 1,06) e a do consór-
cio taro-alface, considerando a produtividade de massa fresca do taro e o número de “cabeças” comerciais da alface, foi de 1,83 (RAE= Tc/Ts+Ac/As=
18,45/15,66+11,33/17,33= 1,06). Como
esses índices foram maiores que 1,0,
concluiu-se que os consórcios foram
efetivos.
Ao relacionar a renda bruta (Tabela
4), observou-se que para os produtores
de cenoura e de alface, os consórcios
com o taro ‘Chinês’ poderiam ter induzido incrementos monetários de R$
6.122,50 ha-1 ou de R$ 20.045,00 ha-1,
respectivamente. Para o produtor de
taro, somente o consórcio com a alface
foi positivo, com aumento de R$
7.313.50 ha-1. Os valores obtidos para a
RAE e para a renda bruta confirmam que
a maior produtividade por unidade de
área é uma das razões mais importantes
para se cultivar duas ou mais culturas
no sistema de consorciação, porque permite melhor aproveitamento da terra e
de outros recursos disponíveis, resultando em maior rendimento econômico
(Silva, 1983; Sullivan, 1998).
Considerando a renda bruta, para os
Tabela 4. Renda bruta do taro ‘Chinês’, em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’. Dourados,
UFMS, 2004-2005.
1
Razão de área equivalente (CAETANO et al., 1999); 2Preço pago ao produtor: R$ 0,85 kg-1 de cenoura, R$ 0,35 por “cabeça” de alface e R$
1,20 kg-1 de rizomas-filho de taro. Fonte: Vendedores de hortaliças no varejo de Dourados-MS, em 7-5-2005.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
327
NA Heredia Zárate et al.
produtores de cenoura e de alface os
consórcios promoveram incrementos
monetários em relação ao cultivo solteiro dessas duas hortaliças; enquanto
para o produtor de taro, somente o consórcio com alface foi viável economicamente.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pelas bolsas concedidas
e à FUNDECT-MS, pelo apoio financeiro.
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Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa
em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio
Adriano Portz1; Carla Andréia da Cunha Martins2; Eduardo Lima2; Everaldo Zonta2
1
UFF-Depto TAA, Av. dos Trabalhadores, 420 Vila Sta. Cecília, 27255-125 Volta Redonda-RJ; 2UFRRJ-IA-Depto Solos, BR 465, km 7,
23890-000 Seropédica-RJ; E-mail: [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Apesar da cultura da mandioquinha-salsa (Arracacia
xanthorrhiza Bancroft) ser cultivada há bastante tempo no País, informações referentes aos seus aspectos nutricionais e seu desenvolvimento no campo são ainda incipientes. O estudo dos teores de
nutrientes e seu comportamento ao longo do ciclo ontogenético é
importante para se estabelecer uma correta recomendação de fertilizantes, níveis críticos e conseqüentemente uma maior produção de
raízes comerciais. Com o objetivo de avaliar os teores e o acúmulo
de macro e micronutrientes na cultura durante seu desenvolvimento, foi realizado um experimento de campo com três níveis de N, P e
K, na região de Nova Friburgo-RJ, utilizando um delineamento experimental de blocos ao acaso com quatro repetições. Foram realizadas quatro amostragens ao longo do ciclo da cultura e coletadas
três partes da planta (folhas, propágulo e raízes), observando-se ao
longo do tempo o comportamento dos teores e o acúmulo dos nutrientes nessas partes. Não foi observada correlação dos teores de
nutrientes nas partes da planta, nas épocas de amostragem, com a
produção de raízes comerciais. Maior acúmulo de nutrientes foi observado entre os 150 e 210 DAT nas folhas, aos 210 DAT nos
propágulos e aos 300 DAT nas raízes. Os teores foram influenciados
pelos tratamentos aplicados no plantio do experimento, mas não foi
observada resposta no aumento de produção de raízes comerciais.
Levels and accumulation of nutrients in the cycle of peruvian
carrot with application of nitrogen, phosphorus and potassium
Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, nutrição mineral, adubação NPK.
The arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) culture, in spite
of already being cultivated for a long time in Brazil, has still low
information on its nutritional aspect, and the field development. The
study of the nutrient distribution inside the plant and their behavior
along the vegetative cycle is important to establish a correct fertilizer
recommendation, and to provide nutritional information, besides to
obtain best commercial root production. The macro and micro
nutrient levels and accumulation in the crop were evaluated through
a field experiment accomplished with three levels of N, P, and K, in
Nova Friburgo, Rio de Janeiro State, using a random blocks
experimental design with four repetitions. Four sample periods were
observed along the crop cycle, where three sections of the plant
(leaves, corm, and roots) were collected; also, changes in nutrient
levels of the plant sections were monitored along the time periods.
Correlation of the nutrient levels was not observed in the plant parts,
in the sampling times, with the commercial roots production. Larger
accumulations of the nutrients were observed between the 150 and
210 DAT in the leaves, 210 DAT in the corm and 300 DAT in the
roots. The levels were influenced by the applied treatments, but an
answer was not observed in the increase of commercial roots
production.
Keywords: Arracacia xanthorrhiza, mineral nutrition, NPK
fertilization.
(Recebido para publicação em 12 de julho de 2005; aceito em 31 de agosto de 2006)
A
área cultivada com mandioquinhasalsa vem aumentando em várias
regiões do País, contribuindo para uma
maior oferta desta raiz, que ainda é pouco conhecida, apesar de ser rica em nutrientes e de fácil digestibilidade. Segundo Pereira (1995), a mandioquinha-salsa é um alimento essencialmente
energético, excelente fonte de cálcio,
fósforo e ferro e, entre as vitaminas presentes, ressalta-se a vitamina A, que
pode atingir 6800 U.I.
Além das raízes, a parte aérea da
mandioquinha também pode ser utilizada na alimentação humana e animal,
como ocorre nos países Andinos, as folhas mais novas são usadas na forma de
saladas e sopas. O propágulo (coroa +
rebentos) possui maiores quantidades de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
nutrientes se comparados às raízes de
reserva e, segundo Câmara (1984), também tem um melhor balanço de
aminoácidos, indicando que esta parte
da planta também pode ser utilizada na
alimentação, apesar do maior teor de
celulose quando comparada às raízes.
A pesquisa sobre a nutrição da cultura ainda é incipiente e há dificuldades
para recomendação de adubação para a
planta nos diferentes locais de cultivo e
condições de manejo. A aplicação de
nitrogênio e fósforo não apresenta uniformidade de resposta com a produção
de raízes comerciais, mas respostas distintas em vários ambientes. Segundo
Mesquita et al. (1996), não houve resposta na produção de raízes comerciais
à adubação nitrogenada, mas houve res-
posta quadrática para a aplicação de fósforo. Silva et al. (1966) observaram que
doses maiores de 50 kg.ha-1 de nitrogênio contribuíram para o decréscimo,
enquanto o fósforo proporcionou um
aumento linear na produção de raízes
comerciais. Del Valle Junior et al. (1995)
recomendam a aplicação de até 135
kg.ha-1 de N para se obter uma boa produção sem, contudo, terem observado
resposta com a aplicação de diferentes
níveis de P, K e Mg. Segundo Zárate et
al. (2001), o aumento na dose de fósforo aplicado ao solo proporcionou um
melhor balanço nutricional nas plantas,
contribuindo para uma menor perda de
peso das raízes após a colheita. A deficiência de cálcio e magnésio na cultura
altera sobremaneira o desenvolvimento
329
A Portz et al.
Figura 1. Comportamento do acúmulo de massa seca total da planta (MSTO), massa seca
de folhas (MSF), massa seca do propágulo (MSPR) e massa seca das raízes (MSR) durante
o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica, UFRRJ, 2001.
da planta e os teores dos demais nutrientes (Câmara, 1990). A adubação orgânica é importante na cultura, pois melhora não só aspectos químicos, mas também a estrutura do solo, o que é fundamental para culturas que possuem a parte comercial subterrânea, como é o caso
da mandioquinha-salsa.
O estudo dos teores de nutrientes na
planta, assim como em suas partes, é de
grande importância para uma melhor
recomendação do manejo da adubação
na cultura, tanto para áreas produtoras
como em novas áreas de cultivo, evitando o desperdício de fertilizantes ou
deficiências nutricionais ao longo do seu
ciclo, contribuindo para um melhor
manejo e ciclagem de nutrientes.
Com o objetivo de estudar o comportamento dos teores de nutrientes e o
acúmulo de nutrientes na planta durante o ciclo da cultura, procurando obter
informações sobre a exigência nutricional em seus estágios fenológicos, desenvolveu-se o presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em 1999
na Fazenda Santo Antônio de Estrela,
Rio Grande de Cima, terceiro distrito de
Nova Friburgo-RJ, com altitude média
de 1000 m, precipitação pluviométrica
330
média de 1200 mm anuais e temperatura média anual de 18,9 oC. O solo classificado como NITOSSOLO VERMELHO distrófico (EMBRAPA, 1999),
com 12% de declividade, e a camada de
0-20 cm de profundidade, antes do início da instalação do experimento, apresentava as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5)= 6,0; Al+3=
0,3 cmolc.kg-1; H+Al= 18,3 cmolc.kg-1;
Mg +2 = 0,9 cmol c .kg -1 ; Ca +2 = 1,8
cmolc.kg-1; Na+= 0,08 cmolc.kg-1; P= 11
mg.kg-3; K= 148 mg.kg-3; C= 13 g.kg-1;
Fe= 162 mg.dm-3; Cu= 0,8 mg.dm-3 ;
Zn= 66 mg.dm-3 e Mn= 11,5 mg.dm-3.
Foi realizada calagem conforme recomendação do Manual de Adubação do
Estado do Rio de Janeiro (De-Polli &
Almeida, 1988), com 700 kg.ha-1 de
calcário com 85 % PRNT e 12,1 % CaO,
aplicando-se metade do corretivo antes
da aração e metade antes da gradagem.
As mudas de mandioquinha-salsa
(Arracacia xanthorrhiza Bancroft.), cultivar Amarela de Carandaí, que normalmente são cultivadas na região, foram
provenientes do próprio local. Os rebentos para a formação das mudas foram
selecionados de touceiras de plantas
adultas que já haviam terminado os ciclos vegetativos, de onde foram destacados e cortados em bisel, padronizando-se assim o tamanho das mudas. Estas foram plantadas em canteiros de pré-
enraizamento, onde permaneceram até
os 60 dias, quando foram transplantados no local definitivo. No préenraizamento a umidade do solo foi
mantida em aproximadamente ¾ da capacidade de campo, e não foi aplicado
nenhum agrotóxico ou fertilizante neste período.
No transplantio das mudas foram
aplicadas no solo as doses de 0, 60 e
120 kg.ha-1 de nitrogênio; 0, 150 e 300
kg.ha-1 de P2O5; e 0, 80 e 160 kg.ha-1 de
K 2 O, usando como fontes uréia,
superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. Também se aplicou no solo 15 kg.ha-1 de bórax (10%
de B), 5 kg.ha-1 de sulfato de zinco (23%
de Zn) e 5 t.ha-1 de esterco bovino curtido. Os fertilizantes minerais e o orgânico foram distribuídos nas leiras e incorporados manualmente no solo na profundidade de 0-10 cm. A adubação
nitrogenada foi parcelada, sendo metade aplicada no transplantio das mudas e
outra metade, em cobertura 60 dias após
o transplantio. Utilizou-se, durante todo
o ciclo, um sistema de irrigação por aspersão, com o objetivo de manter a umidade do solo próxima à capacidade de
campo. O delineamento experimental
foi de blocos ao acaso com quatro repetições e 27 tratamentos (fatorial 3x3x3)
com parcelas de 2,8x4,0 m e 40 plantas
por parcela, com espaçamento de
0,7x0,4 m. Foram descartadas as linhas
externas de plantas, permanecendo 18
plantas na área útil de cada parcela. Efetuaram-se quatro capinas manuais e adicionou-se palha de capim como cobertura morta para auxiliar no controle de
plantas invasoras e a manutenção da
umidade.
Foram realizadas quatro coletas de
material vegetal durante o ciclo, aos 90,
150, 210 e 300 dias após o transplantio
(DAT), sendo coletadas quatro plantas
por parcela e separando-se em folhas
(limbo + pecíolos), propágulo (coroa e
rebentos) e raízes, nas quais foram avaliados os teores de nutrientes na massa
seca. O material foi fragmentado e seco
em estufa de circulação forçada de ar a
55-65 oC por no mínimo 72 horas. Em
seqüência, o material foi finamente
moído em moinho de facas com peneira de 2 mm, para posterior análise química. Para o propágulo aos 90 dias após
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio
o transplante não foi realizada análise dos
teores devido à pequena quantidade de
material para as determinações. As determinações dos teores de macronutrientes e
micronutrientes das plantas foram realizadas conforme a metodologia descrita em
Tedesco et al. (1995).
Os dados foram submetidos à análise de variância e, quando se identificou
significância pelo teste F, as médias foram comparadas pelo teste Duncan a 5%
de probabilidade, trabalhando-se com o
auxílio do programa estatístico Saeg.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produtividade média de raízes comerciais foi de aproximadamente 12
t.ha-1, e não se verificou aumento significativo de produção com o aumento das
doses de nutrientes. Portz et al. (2003),
verificaram que a produção de raízes
comerciais aos 300 DAT, não foi
influenciada pelas doses crescentes de
fósforo e potássio aplicados no plantio
e apresentou correlação negativa com as
doses de nitrogênio, ou seja, a maior
dose promoveu um decréscimo da produção de raízes comerciais. Efeitos negativos da fertilização com nitrogênio
na produção de raízes comerciais também foram observadas por Silva et al.
(1966). No comportamento do acúmulo
de massa seca na planta e suas partes
(Figura 1) observa-se a tendência de rápido crescimento em massa seca do
propágulo e raízes após os 150 DAT e a
tendência quadrática do acúmulo de
massa da parte aérea até o final do ciclo, indicando que o início da
senescência da planta situa-se em torno
dos seis meses de ciclo, fato este também observado por Câmara (1984);
Câmara et al. (1985) e Vieira (1995).
Não houveram correlações significativas entre as massas frescas e secas
das partes da planta e a produção de
raízes comerciais, exceto aos 300 DAT,
quando se observaram correlações significativas (P ≤ 0,01) entre a massa seca
do propágulo e massa fresca das folhas
com a produção de raízes comerciais;
0,46 e 0,45, respectivamente (Portz,
2001). Bustamante (1988) encontrou
correlações positivas entre a produção
da parte subterrânea e a parte aérea, indicando que a planta não beneficiou a
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 1. Correlação entre os acúmulos de nutrientes (g planta-1) nas raízes e a produção de
raízes comerciais, em kg ha-1, aos 300 DAT. Seropédica, UFRRJ, 2001.
*Significativo pelo teste T, ao nível de 5% de probabilidade; **Significativo pelo teste T, ao
nível de 1% de probabilidade.
Tabela 2. Acúmulos médios de macronutrientes (g.planta-1) e micronutrientes (mg.planta-1)
nas folhas, no propágulo e nas raízes, durante o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica,
UFRRJ, 2001.
*Médias seguidas de mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente pelo teste
Duncan a 5%.
porção foliar em detrimento da produção de raízes. Câmara et al. (1985) e
Vieira (1995) observaram correlação
positiva entre a produção da parte sub331
A Portz et al.
Tabela 3. Teores médios de macronutrientes (g.100g-1) e micronutrientes (mg.100g-1) nas folhas,
no propágulo e nas raízes, durante o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica, UFRRJ, 2001.
*Médias seguidas de mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente pelo teste
Duncan a 5%.
terrânea e da parte aérea, ou seja, as plantas de mandioquinha-salsa mais altas, que
foram as mais exuberantes e possuíam a
maior área foliar, produziram maior
quantidade de raízes comerciais.
Não foram encontradas correlações
significativas entre os teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Cu e
Mn) das partes da planta, nas épocas de
amostragens, com a produção de raízes
comerciais aos 300 DAT. No entanto,
observaram-se correlações significativas entre o acúmulo de N, P, K, Ca, Mg
e S nas raízes e a produção de raízes
332
comerciais nos 300 DAT (Tabela 1).
Os acúmulos médios de macro e
micronutrientes nas folhas, propágulos
e raízes, durante o ciclo das plantas, são
apresentados na tabela 2.
Verificou-se, aos 300 DAT, que as
raízes, propágulos e folhas tiveram os
maiores acúmulos de nutrientes, respectivamente nesta ordem. Mesquita Filho
e Souza (1996) verificaram, aos 11 meses, maiores acúmulos de P, K, Cu e Zn
no propágulo, apesar dos teores se apresentarem maiores nas folhas, propágulo
e raízes, respectivamente.
Como a raiz é o órgão preferencial
de reserva na planta e, portanto, o de
maior massa seca aos 300 DAT, observaram-se maiores acúmulos de nutrientes neste órgão, quando comparado às
outras épocas. Segundo Câmara (1984),
a planta é estruturada de modo a ter suas
reservas na parte subterrânea menos sujeitas a variações climáticas e ao ataque
de insetos, garantindo energia para sua
fase reprodutiva, considerando o longo
período desde sua instalação até a produção de sementes, que é de 24 meses.
Observou-se que no acúmulo de nutrientes nas folhas (Tabela 2) as maiores médias estão entre os 150 e 210 DAT,
período de maior exuberância da parte
aérea da planta, e que depois decaem
drasticamente pela senescência e perda
das folhas no final do ciclo vegetativo.
Nos propágulos verificaram-se os maiores acúmulos aos 210 DAT, exceto para
o nitrogênio que foi aos 300 DAT (Tabela 2) o que pode estar relacionado de
alguma forma com o mecanismo de
translocação de reservas para as raízes
no final do ciclo da planta. Nas raízes
observaram-se maiores acúmulos de
nutrientes aos 210 e 300 DAT (Tabela
2), indicando nitidamente ser um órgão
preferencial de reserva da planta, quando esta se aproxima do final do ciclo
vegetativo. Lima et al. (1985), verificaram que as maiores quantidades acumuladas de N, P, K e Zn estavam presentes
nos propágulos; enquanto Ca, Mg, Cu e
Mn, nas raízes e Fe nas folhas. No entanto, os acúmulos podem ser influenciados pelos tratamentos aplicados ao
solo no plantio, a época de coleta, a cultivar cultivada e condições de manejo
da cultura.
Os teores de nutrientes na planta
geralmente estão relacionados com os
acúmulos, apesar de neste trabalho não
terem se correlacionado com a produção de raízes comerciais. Houve uma
tendência de queda dos teores nas folhas ao longo do tempo (Tabela 3),
exceto para o teor de ferro que apresentou um crescimento. A grande queda de
massa das folhas no final do ciclo e a
translocação de assimilados para os
drenos da planta (propágulos e raízes)
possivelmente influenciaram na queda
dos teores de nutrientes neste órgão.
Também se observa queda dos teores no
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio
propágulo com o tempo (Tabela 3), mas
neste caso, pode estar relacionada ao
efeito de diluição devido ao grande
acúmulo de massa neste órgão no final
do ciclo. O mesmo pode ser verificado
para os teores nas raízes (Tabela 3).
Câmara (1984), avaliando níveis de cálcio, magnésio potássio e fósforo, dos
quatro aos 11 meses de ciclo da planta,
observou que não houve grande variação dos teores de nutrientes no tempo.
A mandioquinha-salsa, considerada
rústica por não responder a adubação e
ser resistente, possui um mecanismo fisiológico complexo e ainda pouco estudado. Responde de forma diferenciada
as condições de manejo, podendo acumular quantidades consideráveis de nutrientes (Ortiz & Acin, 1997; Ortiz et
al., 1998) quando disponibilizados no
solo, apesar do acúmulo nem sempre
refletir em maiores produtividades.
Deve-se considerar ainda a adaptabilidade dos clones cultivados nos locais de
cultivo e os tratos culturais aplicados na
planta ao longo do ciclo.
Apesar dos resultados não mostrarem respostas conclusivas, pode-se dizer que a planta possui uma grande demanda de nutrientes a partir dos 150
DAT, período de maior desenvolvimento
das folhas e início de grande acúmulo
no propágulo e raízes, o que pode influenciar a produção de raízes comerciais no final do ciclo da planta.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos colegas de graduação do curso de Agronomia pela ajuda
nos trabalhos de campo e no laborató-
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
rio, ao Departamento de Solos da
UFRRJ pelas dependências e equipamentos utilizados e a FAPERJ pelo
apoio financeiro e bolsa de estudos.
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Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades1
Francisco de Q Porto Filho1; José Francismar de Medeiros1; Hans R Gheyi2; José de A de Matos1; Edivan
R de Souza1; Eduardo R de Sousa Neto1
1
UFERSA-Depto Ciências Ambientais, Mossoró-RN; 2UFCG-CCT-DEAg, Campina Grande-PB; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Dois experimentos consecutivos foram realizados na mesma área,
em Mossoró-RN, com o objetivo de estudar características de crescimento da cultura do melão submetida a diferentes níveis de
salinidade da água de irrigação. Utilizou-se um delineamento experimental em blocos casualizados com quatro repetições, cujos tratamentos foram quatro níveis de salinidade da água (T1=0,6 dS m-1;
T2=1,9 dS m-1; T3= 3,2 dS m-1 e T4= 4,5 dS m-1). Os níveis de
salinidade da água de irrigação afetaram negativamente o índice de
área foliar, fitomassa seca da parte aérea, área foliar específica e
razão de área foliar da parte aérea, inibindo o crescimento. A taxa de
crescimento absoluto da parte aérea foi afetada pelo nível de
salinidade da água de irrigação, enquanto para a taxa de crescimento relativo e a taxa de assimilação líquida da parte aérea não foi
observado efeito dos sais ao longo do ciclo do meloeiro.
Growth of melon plants irrigated with waters of different
salinities
Palavras-chave: Cucumis melo L, qualidade da água, taxa
de assimilação.
Two successive trials were carried out in a field at Mossoró,
RN, Brazil, with the objective of studying growth characteristics of
melon crop under different irrigation levels of water salinity. The
experimental design was a completely randomized blocks with four
replications, with four water salinity levels as treatments (T1=0.6 dS
m-1; T2=1.9 dS m-1; t3= 3.2 dS m-1 and T4= 4.5 dS m-1). Growth was
inhibited by the negative effect of water salinity levels on leaf area
index, shoot dry mass, specific leaf area, and shoot leaf area ratio.
The influence of irrigation of the water salinity level along melon
cycle was observed for shoot absolute growth rate, but not for relative
growth rate and net assimilation rate of shoot.
Keywords: Cucumis melo L, water quality, assimilation rate.
(Recebido para publicação em 28 de julho de 2005; aceito em 1 de setembro de 2006)
O
Brasil produz 349.498 t ano-1 de
melão, dos quais 330.720 t ano-1
são produzidos na Região Nordeste. O
Estado do Rio Grande do Norte é o
maior produtor, respondendo por 55%
do melão brasileiro (IBGE, 2003). Na
região do Pólo Agrícola Mossoró/Açu,
neste Estado, a maior demanda por água
para irrigação tem condicionado à utilização de águas com salinidade mais elevada. Segundo Medeiros (1992),
Martins (1993), Oliveira & Maia (1998),
embora a maioria das fontes de água
apresente boa qualidade, existem águas
de qualidade inferior nessa região que
podem ser utilizadas na irrigação.
A salinização pode causar efeitos
negativos nas plantas que diferem entre
espécies e cultivares. A tolerância das
culturas aos sais é afetada por vários
fatores, incluindo-se aí o estágio de desenvolvimento, a duração da exposição,
as condições ambientais, as propriedades do solo, o tipo e a intensidade do
manejo (Maas, 1990). O meloeiro apre-
senta grande variação no nível de tolerância à salinidade, variando tanto entre cultivares quanto com as condições
ambientais e de manejo (Pizarro, 1990;
Francois & Maas, 1993). Nerson & Paris (1984), estudando quatro cultivares
de melão, observaram que a seleção para
a tolerância à salinidade pode ser realizada a partir do início do desenvolvimento vegetativo da cultura, pois a redução na área foliar e na matéria seca
das plantas jovens se equipara às reduções na produção promovidas pela
salinidade. Nesta cultura, quando se
aumenta a concentração salina da água
de irrigação, diminui uma série de características da planta, como altura, peso
fresco de folhas, ramos e raízes, peso
seco, comprimento e diâmetro de
entrenós e área foliar (Anastasio et al.,
1987; Porto filho et al., 2001).
Segundo Awad & Castro (1983), a
velocidade de crescimento, a disposição,
a área foliar e o número de folhas são
responsáveis pela maior ou menor co-
bertura da superfície do solo e, conseqüentemente, pela eficiência na
interceptação da energia luminosa e no
seu aproveitamento. Informações sobre
a fisiologia da planta são fundamentais
para o desenvolvimento de modelos de
simulação e para a compreensão das
interações entre planta e ambiente. Alguns índices fisiológicos, como o índice de área foliar (IAF) e taxa de crescimento da cultura (TCC), dentre outros,
podem ser comparados na tentativa de
explicar as diferenças na produção econômica de diferentes cultivares ou de
uma mesma cultivar submetida a diferentes tratamentos (Machado et al.,
1982). Na folha ocorrem as trocas gasosas executadas pelos vegetais, efetuando-se a fotossíntese e a transpiração, o
que torna a área foliar uma característica muito utilizada em análise de crescimento (vigor) de plantas. O IAF, a TCC
e o fator de cobertura são os meios mais
acessíveis e precisos para avaliar o crescimento e contribuem em processos fi-
1
Parte da tese de doutorado do 1º autor, apresentada na Universidade Federal de Campina Grande. Trabalho financiado pelo Programa Avança Brasil,
convênio Embrapa/UFERSA e pelo Projeto Melhoria do Rendimento e da Qualidade de Frutos Produzidos no Estado do RN, convênio FINEP/Fundação
Guimarães Duque/UFERSA.
334
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades
siológicos e no comportamento vegetal
(Benincasa, 1988).
Este trabalho teve como objetivo
estudar características de crescimento da
cultura do melão submetida a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi composta de uma seqüência de dois experimentos, conduzidos em 2001 e 2002, com o meloeiro
(Cucumis melo L.), var. inodorus, cv.
AF646, que apresenta frutos com casca
de coloração amarela, no município de
Mossoró-RN, num Latossolo Vermelho
Eutrófico argissólico, textura média
(Embrapa, 1999).
Nos experimentos aplicaram-se
águas de irrigação, com quatro níveis
de salinidade (S1= 0,6, S2= 1,9, S3= 3,2
e S4= 4,5 dS m-1). Na Tabela 1 está a
composição química das quatro águas
utilizadas.
Os quatro tratamentos foram dispostos em blocos inteiramente casualizados,
com quatro repetições, em 16 parcelas
de 36 m2 (6,00x6,00 m). Cada parcela
foi composta por três fileiras de planta
no espaçamento entre fileiras de 2,00 m,
e na fileira, de forma alternada,
espaçamento de 0,38 e 0,12 m tendo
uma planta por cova, resultando numa
população de plantio de 20.000 plantas
ha-1. O experimento II foi uma repetição do I, utilizando-se, exatamente o
mesmo local, tratamentos e delineamento experimental.
A área experimental foi irrigada por
gotejamento, através de quatro sistemas
de irrigação independentes. As lâminas
de irrigação foram determinadas a partir de estimativas da evapotranspiração
da cultura utilizando-se metodologia do
Kc dual proposto pela FAO (Allen et al.,
1998) e ajustadas com base no
monitoramento da umidade do solo com
o uso de tensiômetros em duas repetições do tratamento T1, adotando-se uma
fração de lixiviação de 0,10. O Kc basal
adotado para as fases inicial, intermediária e final correspondeu a 0,15, 1,00
e 0,70, respectivamente. Os
tensiômetros foram instalados nas profundidades de 0,15; 0,30 e 0,45 m numa
distância média de 0,09 m da planta e
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
num raio médio de 0,22 m do gotejador,
na região central da parcela experimental. Diariamente, o potencial mátrico da
água do solo (Ym), na profundidade de
0,15 m, servia para indicar se no momento antes da irrigação a lâmina e a
freqüência de irrigação adotada atendiam ao valor considerado crítico para
o melão (-30 kPa). Tanto os instrumentos a 0,15 m como nas demais profundidades, serviram para quantificar a
água armazenada no solo e, ao se calcular a lâmina de irrigação pela ETc, sabia-se se o solo era capaz de comportála, indicando se estava de acordo com a
necessidade hídrica da planta. No experimento I, as lâminas de irrigação aplicadas nos períodos de 0 a 30, 31 a 50 e
51 a 70 dias após semeadura (DAS) foram, respectivamente, de 108, 136 e 101
mm. No período entre um experimento
e outro (264 dias), a precipitação
pluviométrica foi de 1.228,00 mm e foram aplicados 381 mm de irrigação complementar em cultura intercalar de milho, usando-se a água S3. No experimento II, as lâminas de irrigação aplicadas
nos períodos de 0 a 30, 31 a 50 e 51 a 68
DAS foram, respectivamente, de 95, 132
e 85 mm.
Os valores médios de temperatura
média (Tmed), máxima (Tmax) e mínima (Tmin), umidade relativa (UR), velocidade do vento a 10 m (V), insolação
(I) e ETo para os experimentos I e II
foram de 28,9, 35,0 e 24,2 °C, 65,5%,
5,5 m s-1, 9,1 h e 6,6 mm d-1 e de 28,4,
35,1 e 23,2 °C, 62,8%, 6,0 m s-1, 10,4 h
e 7,1 mm d-1, respectivamente.
Em ambos os experimentos, as adubações foram realizadas de acordo com
a análise de solo da área experimental,
atendendo-se às exigências nutricionais
da cultura, conforme Vivancos (1996) e
distribuídas ao longo do ciclo, em conformidade com as curvas de absorção
apresentadas por Lima (2001). A cultura foi mantida sempre no limpo, através
de capinas manuais com uso de enxada.
O controle das principais pragas e doenças comuns na região foi preventivo,
através do uso de defensivos agrícolas.
O crescimento da cultura foi avaliado através da coleta de uma planta por
parcela, aos 14, 21, 29, 36, 49 e 65 DAS
no experimento I, e aos 16, 23, 30, 37,
44, 51, 58 e 64 DAS no experimento II,
a partir de plantas localizadas nas duas
fileiras externas de cada parcela. As características avaliadas foram: número de
folhas (NF), área do limbo foliar (AF),
fitomassa seca da parte aérea (FSPA),
subdividida em fitomassas secas de ramos (FSR), folhas (FSF) e frutos (FSFr).
A área foliar foi determinada através de
um integrador de área, marca LI-COR,
modelo LI-3100, enquanto a fitomassa
foi obtida por secagem em estufa de circulação de ar forçada a 65 °C e posterior pesagem em balança com precisão
0,01 g.
A partir de FSPA, FSF e da AF obtidas nos diversos tempos de coletas e da
área de ocupação do solo por cada planta (A), nos experimentos I e II, foram
calculadas a área foliar específica
(AFE), razão de área foliar da parte aérea (RAFPA), índice de área foliar
(IAF), taxa de crescimento absoluto da
parte aérea (TCAPA), taxa de crescimento relativo da parte aérea (TCRPA)
e taxa de assimilação líquida da parte
aérea (TALPA).
Os índices AFE, RAFPA e IAF foram determinados a partir de valores
absolutos de cada coleta nos experimentos I e II, de FSPA, FSF, AF e A, através
das equações AFE= AF/FSF (cm2 g-1);
RAFPA= AF/FSPA (cm2 g-1) e IAF= AF/
A (m2 m -2), propostas por Benincasa
(1988).
Com os dados das características AF,
FSPA, AFE, RAFPA e IAF, procedeuse à análise de variância, com ajuste de
equações de regressão. A TCAPA foi
determinada derivando-se a equação
ajustada para FSPA em relação ao tempo (t). A TCRPA e a TALPA foram estimadas através da relação entre a equação de TCAPA e as equações de melhor
ajuste que fornecem, respectivamente,
os valores instantâneos de FSPA e AF,
conforme Radford (1967), Richards
(1969), Negreiros (1995) e Rocha
(2001), por meio das equações TCAPA=
d(FSPA)/dt (g planta-1 dia-1), TCRPA=
TCAPA/FSPA (g g-1 dia-1) e TALPA=
TCAPA/AF (g m-2 dia-1).
As características de crescimento
das plantas foram analisadas por experimento, utilizando-se parcela subdividida para os tratamentos repetidos no
tempo (DAS) (Lima, 1996) e procedeuse à análise de regressão, a fim de se
335
FQ Porto Filho et al.
(°), (*) e (**) Parâmetros da equação significativos, respectivamente, a 0,10; 0,05 e 0,01 de probabilidade, pelo teste t. y1, y2, y3 e y4 denotam os
valores das variáveis nos tratamentos T1, T2, T3 e T4, respectivamente
Figura 1. Índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), razão de área foliar da parte aérea (RAFPA) e área foliar
específica (AFE) do melão irrigado submetido a diferentes níveis de salinidade nos Experimentos (Exp.) I e II. Mossoró-RN, 2001 e 2002.
estabelecer relações entre as características de crescimento e a idade da planta
para cada tratamento, com o emprego de
polinômios ortogonais (Gomes, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No experimento I, pela análise de
variância de índice de área foliar (IAF),
fitomassa seca da parte aérea (FSPA),
336
área foliar específica (AFE) e razão de
área foliar da parte aérea (RAFPA), os
efeitos de tratamento foram significativos a 0,05 de probabilidade para IAF e
não significativos para as outras três
características; no fator tempo (DAS),
a significância foi a 0,01 de probabilidade, em todas as características. O aumento da salinidade da água de irrigação diminuiu linearmente as caracterís-
ticas avaliadas, como expressam as
equações: IAF (m2 m-2)= -0,094** CEa
+ 1,116 (R2= 0,87); FSPA (g planta-1)=4,041* CEa + 74,386 (R2= 0,93); AFE
(cm2 g-1)= -8,705* CEa + 243,25 (R2=
1,00); RAFPA (cm2 g-1)= -3,495* CEa
+ 131,06 (R2= 0,86). Na Tabela 2 encontram-se os valores médios de índice
de área foliar (IAF), fitomassa seca da
parte aérea (FSPA), área foliar específiHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades
*y1, y2, y3 e y4 denotam os valores das variáveis nos tratamentos T1, T2, T3 e T4, respectivamente
Figura 2. Taxa de crescimento absoluto da parte aérea (TCAPA), taxa de crescimento relativo da parte aérea (TCRPA) e taxa de assimilação
líquida da parte aérea (TALPA) do melão irrigado submetido a diferentes níveis de salinidade nos Experimentos (Exp.) I e II. Mossoró-RN,
2001 e 2002.
ca (AFE) e razão de área foliar da parte
aérea (RAFPA) nos experimentos I e II.
No desdobramento de DAS dentro
de cada nível de salinidade (tratamento) para o IAF, a resposta foi cúbica para
os três tratamentos menos salinos e linear para o tratamento mais salino (Figura 1); as equações indicaram valores
de IAF máximo aos 54, 54 e 56 DAS e
maior taxa de crescimento aos 36, 35 e
37 DAS, respectivamente, nos tratamentos T1, T2 e T3. Em T4, na última coleta
(65 DAS), obteve-se o maior IAF, o que
indica retardamento no crescimento devido, provavelmente, ao estresse salino.
Este índice continuou crescendo no final do ciclo devido ao estresse hídrico
imposto pela diminuição da lâmina de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
irrigação no final do ciclo para a
maturação dos frutos ter sido igual ao
determinado para T1, afetando menos T4,
que se encontrava com IAF menor. Resultados semelhantes a estes foram encontrados por Oliveira (1995) para o
meloeiro híbrido Valenciano Amarelo
(Gold-Mine), cujo IAF foi maior aos 51
e 70 DAS, respectivamente, para condições sem e com estresse hídrico. Costa (1999), utilizando este mesmo híbrido, evidenciou que o estresse salino no
período crítico da cultura até os 36 DAS
afeta significativamente o restante do
ciclo.
Para FSPA, de forma semelhante ao
IAF, a resposta foi cúbica aos tratamentos T 1, T 2 e T 3 e quadrática com
concavidade para cima, de grande abertura em T4 (Figura 1). Pelas equações,
verificam-se valores de FSPA máximo
aos 59, 60 e 59 DAS, respectivamente,
nos tratamentos T1, T2 e T3, e maior taxa
de crescimento em todos a 40 DAS. A
defasagem entre as épocas para se atingir os valores máximos e de maior taxa
de crescimento da FSPA, em relação ao
IAF, indica a estreita relação existente
entre a área foliar e a atividade
fotossiteticamente ativa que tem, como
resposta, o acúmulo de matéria seca
(Benincasa, 1988).
A AFE teve ao longo do ciclo resposta cúbica em T1 e linear decrescente
em T2, T3 e T4 (Figura 1). Em T1, a AFE
estimada através da equação cúbica
337
FQ Porto Filho et al.
Tabela 1. Composição química das águas com quatro níveis de salinidade (S) utilizadas no trabalho. Mossoró-RN, 2001 e 2002.
1
água de poço do aqüífero Arenito Açu, prof. de 1000 m; 2 água obtida pela mistura de S1 com S3; 3água de poço do aqüífero Calcário
Jandaíra, prof. de 80 m; 4preparada pela adição de NaCl a água S3,
ajustada (Figura 1), apresentou valores
de 306, 260, 231, 225, 230 e 185 cm2 g-1,
respectivamente, para 15, 21, 29, 36, 49
e 65 DAS, sendo as determinações aos
36 e 49 DAS os pontos de mínimo e
máximo, respectivamente, e maior taxa
de crescimento aos 42 DAS. Embora se
tenha verificado pequena elevação na
AFE aos 49 DAS, houve uma tendência de diminuição desta característica
com a idade das plantas, conforme verificado também por Rocha (2001) para
o feijão de corda consorciado com o
milho. Embora essas oscilações em
AFE, resultantes da taxa de crescimento individual das folhas, possam ocorrer, elas são bastante complexas e difíceis de serem explicadas (Benincasa,
1988). Portanto, ressalta-se que a equação linear decrescente: AFE= -2,004**
DAS + 310,06 (R2= 0,74), com maior
significância de F (p<0,01) e ligeira diminuição do coeficiente de determinação (R2) pode representar o comportamento da AFE para T1, de forma idêntica ao ocorrido em T2, T3 e T4.
Para RAFPA, obteve-se efeito linear
decrescente com o tempo nos quatro tratamentos. Esta característica, por relacionar a área foliar (AF) com toda FSPA
acumulada, reflete a matéria seca produzida pelas folhas através da
fotossíntese e distribuída para os outros
constituintes da parte aérea; também,
tende a apresentar menores oscilações
de valores ao longo do tempo do que a
AFE, que é determinada utilizando-se
apenas a fitomassa seca da folha (FSF).
A diminuição da RAFPA com o tempo
parece ser ontogênica, indicando que,
gradativamente, uma quantidade menor
de assimilados é destinada às folhas
(Negreiros, 1995 e Nóbrega et al.,
2001).
Quando se determinou a TCAPA,
mediante a derivada das equações ajus338
tadas para a FSPA, verificaram-se equações de comportamento quadrático nos
três primeiros níveis salinos (T1, T2 e T3)
e linear no maior nível (T4). Isto significa que na planta irrigada ao longo do
ciclo, com níveis salinos até 3,2 dS m-1,
a TCAPA cresceu até atingir um ponto
máximo a 40 DAS (floração/
frutificação), diminuindo ao final do ciclo. Quando se analisa o tratamento mais
salino, percebe-se que a planta teve crescimento retardado, ou seja, continuou
crescendo até o final do ciclo, com um
coeficiente angular da equação linear de
0,141, o que pode ser constatado na Figura 2.
Ao se analisar a TCRPA (Figura 2),
que representa todo o crescimento resultante da produção de material suficiente para atender às necessidades metabólicas do material já existente e, ainda, para armazenar e/ou construir novo
material estrutural (Benincasa, 1988),
verificou-se ter havido decréscimo dessa taxa ao longo do ciclo, com equações
de comportamento quadrático para os
quatro tratamentos. No entanto, o crescimento foi maior, inicialmente, nos três
primeiros tratamentos, quando comparado com o nível mais salino, que variou pouco durante o ciclo da cultura.
Oliveira (1995) verificou o mesmo comportamento de elevação e queda nas
TCAPA para um híbrido de melão
Valenciano Amarelo (Gold-Mine) cultivado sob condições sem e com estresse
hídrico, com valores máximos aproximados aos, respectivamente, 40 e 36
DAS e, também, decréscimo na TCRPA
ao longo do ciclo do melão, obtendo
maiores valores iniciais e menores reduções no tratamento sem estresse. Por
fim, ao se observar a TALPA, constatou-se que os tratamentos propiciaram
maior ganho assimilatório no início,
decrescendo posteriormente, diferente
do tratamento mais salino, que não variou durante o ciclo da cultura.
De modo geral, a taxa de crescimento das plantas foi afetada pela salinidade.
Para os tratamentos com salinidade inferior a T4 (T1 a T3), a TCAPA cresceu
até a frutificação, diminuindo ao final
do ciclo; a TCRPA e a TALPA foram
elevadas no início e depois decresceram.
Ao ser analisado o efeito do tratamento
mais salino (T4), observa-se que, na
TCAPA, este agiu de forma a retardar o
crescimento, propiciando valores quase constantes de TCRPA e TALPA.
Na análise de variância do experimento II, os efeitos do fator tratamento
foram não significativos (p>0,05) para
IAF, FSPA e RAFPA, e significativos a
0,01 de probabilidade para AFE; o fator
DAS foi altamente significativo
(p<0,01) em todas as características avaliadas, enquanto na interação de tratamentos versus DAS apenas a AFE foi
altamente significativa. O aumento da
salinidade da água, exceto para FSPA,
reduziu linearmente todas as características avaliadas, segundo as equações:
IAF (m2 m-2)= -0,0650* CEa + 1,7637
(R2= 0,69); FSPA (g planta-1)= -5,7792ns
CEa + 139,95 (R2= 0,73); AFE (cm2 g-1)=
-6,9546** CEa + 242,21 (R2= 0,96) e
RAFPA (cm 2 g -1)= -2,2023* CEa +
112,38 (R2= 0,79).
Para o desdobramento de DAS dentro de cada nível de salinidade, o IAF
teve resposta cúbica nos três tratamentos mais salinos e linear para o menos
salino (Figura 1), verificando-se, portanto, pelas equações, valores máximos aos
54, 59 e 55 DAS e maior taxa de crescimento aos 33, 37 e 36 DAS, respectivamente, nos tratamentos T2, T3 e T4. Em
T1 o efeito linear aconteceu, provavelmente, por uma retomada natural de
crescimento da cultura que, após diminuir de 2,52 m2 m-2 para 2,45 m2 m-2 da
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades
antipenultima coleta (51 DAS) para a
penúltima (58 DAS), voltou a aumentar para 3,11 m2 m-2 na última coleta (64
DAS). Em T3, embora tenha ocorrido o
mesmo comportamento verificado para
T1, devido ao aumento da última coleta
ter sido proporcionalmente inferir ao de
T1, a equação de melhor ajuste foi a cúbica. Em T4 verifica-se que, em todas as
coletas, os valores de IAF são inferiores aos dos demais tratamentos e sempre crescentes até a penúltima coleta,
com leve queda no final, indicando o
mesmo retardamento do crescimento
ocorrido no experimento I (Figura 1).
Enfatiza-se o fato de que, para acelerar e uniformizar o processo de
maturação e incrementar o teor de açúcar dos frutos, um dia antes de cada colheita, se provoca estresse hídrico pela
diminuição da lâmina de irrigação aplicada. A não utilização de defensivos
agrícolas e de irrigação, antecedendo o
início da colheita, diminui o crescimento
da planta, antecipando o seu ciclo natural, que poderia se estender por mais
dias, criando novas folhas e produzindo
mais frutos, embora fossem de qualidade inferior. Do exposto, certifica-se de
que o declínio natural esperado para IAF
no final do ciclo e, ao ser modificado
por fatores, como o teor de umidade do
solo, a infestação por pragas e doenças
e o grau de precocidade das plantas,
possa inexistir ou aparecer de forma tão
sutil, que nos dois experimentos os quatro tratamentos estudados apresentaram
ajuste ao modelo linear, com
significância a 0,01 de probabilidade,
não sendo os escolhidos por serem de
menor grau que o cúbico, que apresenta
significância na maioria dos tratamentos estudados, além de representar melhor esta característica ao longo dos
DAS. A verificação de ataque menos
intenso da mosca-branca (Bemísia
argentifólia), minador (Liriomyza sp) e
pulgão (Aphis gossypii) no experimento II que no I, pode ter contribuído para
maior IAF no experimento II (Tabela 2),
ao longo do ciclo, em todos os tratamentos estudados. Verificou-se, também,
que a salinidade média do solo durante
o ciclo da cultura foi maior no experimento I que no II (Tabela 3), contribuindo para que no segundo experimento o
IAF fosse maior.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 2. Valores médios de índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA),
área foliar específica (AFE) e razão de área foliar da parte aérea (RAFPA) durante o ciclo do
meloeiro, irrigado com diferentes níveis de salinidade da água, nos experimentos I e II.
Mossoró-RN, 2001 e 2002.
Tabela 3. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação do solo, em dS
m-1, na camada de 0 a 0,45 m, determinados nos tempos 0, 30, 50 e 70 dias após a semeadura
(DAS) dos experimentos I e II, para os tratamentos T1 a T4. Mossoró-RN, 2001 e 2002.
Na FSPA a resposta foi quadrática
nos quatro tratamentos estudados, sendo que nos três primeiros as equações
foram semelhantes e superiores à do tratamento T4 (Figura 1). Este comportamento quadrático diferente do que ocorreu nos três primeiros tratamentos do
experimento I (cúbico), deve ter sido
idêntico ao verificado no IAF, em virtude do maior ataque da mosca
minadora no experimento I, reduzindo
a fitomassa das folhas, com reflexo na
translocação de assimilados para os frutos neste experimento, mesmo que no
final do ciclo.
Para AFE ao longo do ciclo a resposta foi quadrática para os tratamentos T1 e T2 e cúbica para T3 e T4 (Figura
1). As equações cúbicas ajustadas para
T3 e T4 neste experimento, assemelharam-se à encontrada no experimento I
para o tratamento T1, com oscilações ao
longo do ciclo e menores valores no final. Os valores de AFE, no ponto de
máximo e no final (65 DAS) do experi-
mento II, foram de 233,59 e 200,23 e de
226,11 e 166,90 cm2 g-1, respectivamente, para T3 e T4, indicando superioridade de T3, neste experimento, a T1 no
experimento I. As equações quadráticas
com concavidades para baixo, ajustadas
para T1 e T2, apresentaram pontos de
máximo, respectivamente, a 38 e 37
DAS, diminuindo seus valores até o final do ciclo da cultura. Em todo o período estudado, a AFE em T1, de forma
idêntica ao que aconteceu com o IAF,
foi sempre superior à de T4. De modo
geral, embora os modelos ajustados por
tratamentos, para cada um dos experimentos, tenham sido diferentes, os valores de AFE foram menores no final
do ciclo da cultura e em todas as coletas
de cada tratamento os valores do experimento II tenderam a ser superiores aos
do experimento I.
Na RAFPA, o efeito foi cúbico para
T1 e T2 e linear para T3 e T4, diferindo
um pouco do encontrado para o experimento I, que apresentou efeito linear
339
FQ Porto Filho et al.
para todos os tratamentos, porém se
deve ressaltar que as equações cúbicas
ajustadas para T1 e T2, no experimento
II, são decrescentes, de pequena amplitude (oscilação), apresentando pontos de
máximo e mínimo, respectivamente de
168,6 e 31,2 e de 166,6 e 38,7 cm2 g-1 a
22 e 64 e a 23 e 69 DAS, muito próximos dos valores determinados para T3 e
T4, através de suas equações lineares
decrescentes, neste mesmo período do
ciclo da cultura (Figura 1).
O comportamento da TCAPA com
os DAS para todos os tratamentos foi
linear, indicando crescimento uniforme,
com coeficientes angulares das equações de 0,32; 0,35; 0,31 e 0,21 para, respectivamente, T1, T2, T3 e T4 (Figura 2).
O tratamento T4 (CEa= 4,5 dS m-1),
embora tendo apresentado coeficiente
angular inferior aos dos demais, ainda
suplantou o encontrado no experimento
I, igual a 0,14.
No experimento II, a TCRPA tendeu
a cair ao longo do ciclo nos quatro tratamentos, de forma similar ao experimento I (Figura 2). Aguiar Netto et al.
(2000) estudando a batata sob condições
de estresse hídrico, e Urchei et al. (2000)
e Rocha (2001) estudando o feijão, respectivamente sob condições de irrigação e sequeiro, verificaram, para estas
culturas, a mesma tendência de queda
da taxa de crescimento relativo. Apesar
de Radford (1967) argumentar ser este
índice fisiológico mais apropriado para
se comparar efeitos de diferentes manejos agronômicos, por ser relativo e não
depender de pressuposições matemáticas, verificou-se pouca diferença na
TCRPA entre tratamentos no experimento II, no início do período analisado, com
os tratamentos T1, T3 e T4 assumindo
valores muito próximos entre si e superiores a T2 e, a partir de 30 DAS verificou-se valores muito próximos para todos os tratamentos.
No tratamento menos salino (T1) a
TALPA foi quase constante ao longo do
ciclo da cultura; enquanto nos tratamentos mais salinos, foi mais elevada no
início, apresentando valores superiores
aos tratamentos menos salinos, que depois decresceram e se equipararam aos
30 DAS, permanecendo praticamente
constantes e iguais ao longo do ciclo,
voltando a se elevar levemente apenas
340
no final, com T2 suplantando os demais
tratamentos. Este índice reflete a
fotossíntese líquida (Benincasa, 1988)
e tende a decrescer no final do ciclo das
espécies vegetais, em razão da
senescência foliar como verificaram
Oliveira (1995), Gomes et al. (2000) e
Nóbrega et al. (2001); entretanto, o aparecimento de drenos fortes, no final do
ciclo, tende a aumentar a TALPA, conforme explica Negreiros (1995) e verificado por Aguiar Netto et al. (2000).
Observa-se para os dois experimentos, uma tendência de menor TCAPA em
T4, que nos outros tratamentos menos
salinos; uma tendência de queda da
TCRPA em todos os tratamentos e, ainda que, embora a TALPA tenha apresentado tendência geral de queda, os tratamentos T4 e T1 apresentaram valores
quase constantes nos experimentos I e
II, respectivamente.
Pode-se concluir que os níveis de
salinidade da água de irrigação afetaram
negativamente o índice de área foliar
(IAF), a fitomassa seca da parte aérea
(FSPA), a área foliar específica (AFE)
e a razão de área foliar da parte aérea
(RAFPA), inibindo o crescimento, com
maior intensidade no IAF e menor na
RAFPA.
A taxa de crescimento absoluto da
parte aérea (TCAPA) foi afetada pelo
nível de salinidade da água de irrigação,
enquanto a taxa de crescimento relativo
da parte aérea (TCRPA) e a taxa de assimilação líquida da parte aérea
(TALPA) não apresentaram nitidamente efeito dos sais ao longo do ciclo do
meloeiro.
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Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de
frutificação, na região de Cerrado
Waldir A Marouelli1; Washington L C Silva2
1
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 2Embrapa Sede-PqEB s/nº, 70770-901 Brasília-DF; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O estudo teve por objetivo estabelecer critério para o manejo de
irrigação por gotejamento durante o estádio de frutificação do tomateiro para processamento, nas condições de cerrado do Brasil Central. Avaliaram-se seis regimes de irrigação, com turnos de rega entre 0,25 e 8 dias. A concentração de frutos maduros na colheita aumentou, enquanto a produção de biomassa e o número de frutos por
planta foram reduzidos linearmente com os turnos de rega ao quais
as plantas foram submetidas. A produtividade e a massa média de
frutos comercializáveis apresentaram resposta quadrática aos tratamentos, tendo sido maximizados para um turno de rega de 0,8 dia.
O estande final de plantas, a eficiência de uso de água pelas plantas,
o teor de sólidos solúveis totais e a firmeza de fruto não foram afetados pelos tratamentos. A incidência de frutos podres apresentou correlação linear negativa com o turno de rega, enquanto que a acidez
titulável apresentou correlação positiva. Para o manejo de irrigação
baseado no status da água no solo, a tensão matricial crítica associada ao turno de rega que maximizou a produtividade, avaliada a 20
cm de profundidade, antes de cada irrigação, foi de 10 kPa.
Response of drip-irrigated processing tomatoes to water
regimes during crop fructification stage
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, uso da água, estresse
hídrico, freqüência de irrigação.
Keywords: Lycopersicon esculentum, water stress, irrigation
scheduling, irrigation interval.
The response of drip-irrigated processing tomatoes to irrigation
frequencies, from 0.25 to 8 days, during fructification stage, was
evaluated aiming to establish an irrigation criterion for the “Cerrado”
conditions of Central Brazil. The rate of fully-red tomato fruits at
harvest increased linearly as irrigation interval increased, while
biomass production and number of fruit per plant were linearly
reduced. Both marketable fruit yield and average fruits mass showed
quadratic responses to treatments, reaching a maximum at irrigation
interval of 0.8 day. Plant final stand, plant water use efficiency, total
soluble solids content, and fruit firmness were not affected by
irrigation interval. Rotten fruit rate featured negative linear correlation
with irrigation interval, while the correlation for acidity was positive.
For irrigation scheduling purposes based on soil water status, the
critical matric tension, related to the irrigation interval that maximized
yield, was 10 kPa, evaluated at 20 cm depth.
(Recebido para publicação em 09 de agosto de 2005; aceito em 24 de agosto de 2006)
O
sistema de irrigação por
gotejamento vem se tornando uma
opção economicamente viável para a irrigação
do
tomateiro
para
processamento no Brasil. Isso se deve
às vantagens que o sistema oferece,
como maior produtividade, melhor qualidade de fruto, economia de água e
menor incidência de doenças da parte
aérea. Comparativamente à aspersão, o
gotejamento possibilita ganhos de até
30% de rendimento e de redução no uso
de água, além de reduzir pela metade o
uso de fungicidas (Colla et al., 1999;
Prieto et al., 1999).
Dentre os estádios de desenvolvimento do tomateiro, o de frutificação é
o mais sensível à deficiência de água no
solo, onde irrigações inadequadas comprometem marcadamente o rendimento
e a qualidade de fruto (Marouelli et al.,
1991; Prieto, 1997). Segundo Marouelli
et al. (2003), a produtividade de frutos
342
em tomateiro irrigado por gotejamento
não foi afetada por tensões de água do
solo entre 15 e 70 kPa durante o estádio
vegetativo, mas aumentou linearmente
com a redução da tensão durante o estádio de frutificação. Tal estudo sugere
que maior rendimento poderia ser alcançado para tensões inferiores a 15 kPa,
ou seja, realizando as irrigações em regime de alta freqüência durante o estádio de frutificação.
Além de envolver custos extras com
a aquisição de tensiômetros ou outros
tipos de sensores, a adoção de critérios
para fins de manejo de irrigação com
base no controle da tensão de água no
solo envolve a realização de irrigações
com intervalos variáveis, o que é inconveniente para a maioria dos agricultores, principalmente para condições que
requerem irrigações muito freqüentes.
Para tais condições, é mais oportuno
adotar turnos de rega fixos, visto que as
práticas culturais e demais tarefas existentes na propriedade podem ser previamente planejadas. No entanto, recomendações para o manejo de água com base
em turno de rega devem ser determinadas para condições específicas de clima
e solo (Prieto et al., 1999).
O objetivo do estudo foi avaliar a
resposta
do
tomateiro
para
processamento industrial a diferentes
regimes de irrigação por gotejamento,
nas condições da região de Cerrado do
Planalto Central do Brasil, visando estabelecer a freqüência adequada de rega
durante o estádio de frutificação, assim
como a tensão crítica de água no solo
associada a essa freqüência.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido no campo
experimental da Embrapa Hortaliças,
DF, latitude 15o56’S, longitude 48o08’W
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado
e altitude de 997 m. O clima, segundo
classificação de Köppen, é do tipo Cwa,
tropical de altitude – mesotérmico, com
chuvas no verão e seca no inverno. O
solo é do tipo Latossolo Vermelho
distrófico, fase cerrado e textura argilosa, com retenção de água (%vol.), na
camada de 0 a 40 cm e intervalo de tensão (Ψm) de 5 a 1500 kPa, expressa por:
Os tratamentos, aplicados exclusivamente durante o estádio de frutificação,
consistiram de seis turnos de rega: 0,25
(quatro irrigações por dia); 0,5 (duas irrigações por dia); 1; 2; 4; e 8 dias. O estádio de frutificação correspondeu ao
período entre o início de frutificação
(50% de plantas com pelo menos um fruto) e o início da maturação de frutos (5%
de frutos maduros), ou seja, entre o 31o e
o 88o dia após o transplante das mudas.
O transplante das mudas, do híbrido
Heinz 9992, foi realizado na segunda
semana de maio de 2001, no
espaçamento de 30x120 cm, em solo
previamente irrigado. As parcelas experimentais, posicionadas dentro de uma
área de plantio contínuo, foram de 28,8
m2 (4 fileiras de 6,0 m), tendo sido colhidas as plantas em 5m de cada uma
das duas linhas centrais.
A adubação foi com 200 kg de N,
300 kg de K2O, 600 kg de P2O5, 160 kg
de Ca, 40 kg de Mg, 5 kg de Zn e 2 kg
de B por hectare. Das quantidades totais, 15% do nitrogênio e do potássio,
60% do cálcio e 100% dos demais nutrientes foram aplicados em pré-plantio,
sendo as quantidades restantes
fornecidas
semanalmente
via
fertirrigação, seguindo esquema de
parcelamento apresentado em Marouelli
& Silva (2002). Foram utilizadas as seguintes fontes de nutrientes: uréia, nitrato de potássio, de cálcio e duplo potássio, cloreto de potássio e de cálcio,
super fosfato simples, sulfato magnésio
e de zinco, cal hidratada e bórax.
As irrigações foram realizadas instalando-se uma linha lateral de
gotejadores, espaçados de 30cm e com
vazão de 1,2 L h-1, por linha de plantas.
Para minimizar a formação de zona de
saturação junto ao colo da planta, as laHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
terais foram posicionadas de 5 a 10 cm
em relação à linha de plantio. O manejo
de água durante os estádios de
pegamento de mudas, vegetativo e de
maturação foi conforme Marouelli &
Silva (2002), sendo igual para todos os
tratamentos.
A lâmina de água aplicada nos tratamentos com turno de rega de 0,25,
0,5 e 1 dia foi computada a partir da
evaporação do tanque Classe A e coeficientes de cultura reportados por
Marouelli & Silva (2002). As lâminas
de evaporação de água foram obtidas
em uma estação meteorológica a cerca
de 500 m da área experimental. Nos
demais tratamentos, as lâminas foram
determinadas com base no esgotamento de água no solo (Keller & Bliesner,
1990), considerando 40% de área molhada e profundidade efetiva de raízes
de 40cm. O teor de água no solo foi
determinado pela equação de retenção
de água ajustada, a partir das leituras
de tensiômetros, nos tratamentos de 2
e 4 dias, e por gravimetria no de 8 dias.
Tensiômetros foram instalados (tratamentos de 0,25 a 4 dias) e amostras de
solo coletadas (tratamento de 8 dias)
em cada parcela a cerca de 10cm da
planta e do gotejador (LowengartAycicege et al., 1999) e a 20 cm de profundidade, em plantas distanciadas a 10
cm do gotejador.
As condições climáticas médias durante o estádio de frutificação do tomateiro foram: temperatura do ar de
22,5 oC; umidade relativa do ar de
55,6%; insolação de 9,1 horas; radiação
global de 18,8 MJ m-2 dia-1; velocidade
do vento de 1,1 m s-1; evaporação do
tanque classe A de 6,6 mm dia -1
(evapotranspiração de referência de 5,3
mm dia-1). A ocorrência de chuvas foi
de 71 mm antes do início dos tratamentos, de 4 mm durante o estádio de
frutificação e de 113 mm após o término dos tratamentos.
A colheita dos frutos, em cada tratamento, foi realizada manualmente em
uma única operação. Avaliaram-se as
variáveis: lâmina de água aplicada,
estande final; biomassa; concentração
de frutos maduros; produtividade de frutos; eficiência do uso de água, em quilogramas de frutos comercializáveis por
metro cúbico de água aplicada via irri-
gação (volume líquido); massa média de
fruto; número de frutos por planta; frutos podres; acidez titulável; sólidos solúveis totais; e firmeza. A biomassa foi
determinada secando-se a parte aérea
das plantas a 60oC, excluindo-se todos
os frutos. Para a taxa de concentração
de frutos maduros, produtividade, massa média de fruto e número de frutos
por planta consideraram-se apenas os
maduros, sem danos, independente de
tamanho. A acidez titulável, o teor de
sólidos solúveis totais e a firmeza de
fruto foram determinados segundo
Moretti et al. (1998) e Calbo & Nery
(1995), em amostras de quinze frutos.
O delineamento experimental foi
blocos ao acaso, com quatro repetições.
Os dados foram submetidos à análise de
variância e as variáveis, afetadas pelos
tratamentos, analisadas com regressão
linear pelo método de polinômios
ortogonais. Para tal, usou-se transformação logarítmica dos turnos de rega.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uso de água pelas plantas
A lâmina total líquida de água aplicada via irrigação (Li, mm) ao longo do
ciclo fenológico do tomateiro foi reduzida quanto maior o turno de rega (TR,
dia) durante o estádio de frutificação,
tendo sido a resposta ajustada pela seguinte equação: Li= 347,7 - 5,660xTR 0,466xTR2 (R2= 0,99). Das lâminas totais aplicadas, 155 mm foram fornecidos antes e após o estádio de
frutificação.
A lâmina de irrigação no tratamento
com maior turno de rega (273 mm) foi
21% menor que aquela aplicada no tratamento irrigado mais freqüentemente.
A ocorrência de chuvas durante o
estádio de frutificação totalizou 4 mm,
portanto, não tendo nenhum efeito significativo sobre a resposta do tomateiro
aos tratamentos. Segundo Allen et al.
(1998), o menor uso de água pelas plantas nos tratamentos irrigados menos
freqüentemente deve-se a dois fatores
principais: a) menor perda de água por
evaporação em razão da superfície do
solo permanecer seca por maiores períodos; b) menor transpiração pelas
plantas em razão da maior dificuldade
343
WA Marouelli & WLC Silva
Figura 1. Funções de resposta para concentração de maturação de frutos (Cm), produção de
biomassa (Bi), número de frutos por planta (Nf) e massa média de fruto (Mf) conforme o turno
de rega durante o estádio de frutificação do tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2001.
de extração de água pelas raízes acarretada pelo aumento da tensão de retenção de água pelo solo.
A média das tensões máximas de
água do solo (Ts, kPa), avaliadas a 20
cm de profundidade durante o estádio
de frutificação, teve resposta positiva ao
turno de rega adotado (Ts=
3,3+8,594xTR+0,513xTR2; R2= 0,99).
Pela equação ajustada, as tensões nos
tratamentos de 0,25; 0,5; 1; 2; 4 e 8 dias
foram, respectivamente, 5, 8, 12, 23, 46
e 105 kPa. Verifica-se, portanto, que as
plantas, durante o estádio de
frutificação, foram submetidas a uma
faixa de tensão muito mais ampla que
aquela avaliada por Marouelli et al.
(2003).
Desenvolvimento de plantas
As colheitas dos frutos foram realizadas entre 121 e 122 dias após o transplante das mudas. A concentração de
maturação de frutos aumentou linear344
mente quanto maior o turno de rega adotado (Figura 1). Conforme observado
por Prieto et al. (1999), isto significa que
plantas submetidas a maiores restrições
de água durante o estádio de frutificação
tiveram redução no ciclo de desenvolvimento.
O estande final de plantas (média de
2,8 plantas por m2) não foi afetado significativamente (p>0,05) pelos tratamentos, indicando que os regimes de
irrigação aos quais as plantas foram submetidas não proporcionaram condições
diferenciadas para acarretar maior ou
menor morte de plantas decorrente a
estresse hídrico ou doenças. Resultados
semelhantes foram relatados por
Marouelli et al. (1991, 2003) para plantas de tomateiro submetidas a tensões
de água no solo entre 15 e 460 kPa durante o estádio de frutificação.
A produção de biomassa, avaliada
pela massa seca da parte aérea fora os
frutos, foi reduzida linearmente com o
aumento do intervalo entre irrigação a
que as plantas foram submetidas (Figura 1). Plantas submetidas a condições
de máximo déficit hídrico (turno de rega
de 8 dias) tiveram 13% de redução na
biomassa comparativamente ao tratamento com turno de rega de 0,25 dia.
Colla et al. (1999), por outro lado, não
observaram variações no crescimento de
plantas quando se reduziu a lâmina de
água em até 20% durante todo ciclo do
tomateiro. Tais divergências devem-se,
principalmente, ao fato de que no presente estudo as plantas foram submetidas a um maior déficit de água, com redução de 38% da lâmina aplicada durante o estádio de frutificação.
Produção de frutos
O número de frutos comercializáveis
por planta, que é um dos principais componentes de produção de tomateiro, foi
reduzido linearmente com o aumento do
intervalo entre irrigações (Figura 1).
Esta redução pode ser explicada pelo
menor crescimento das plantas, maior
queda de flores e abortamento de frutos
em plantas submetidas a condições de
maior déficit de água durante o final da
fase de florescimento e início de
frutificação (Marouelli et al., 1991;
Prieto, 1997).
Maior massa média de frutos
comercializáveis foi obtida para um turno de rega de 0,8 dia (Figura 1). Aparentemente, este resultado diverge do
obtido por Marouelli et al. (2003), que
não verificaram diferenças significativas para tensões de água no solo entre
15 e 70 kPa. Tais diferenças podem ser
explicadas pelo fato de que no presente
estudo as plantas foram submetidas a
uma maior amplitude de tensões (5 a 105
kPa). Redução da massa de fruto, mesmo em plantas submetidas a condições
moderadas de deficiência de água no
solo durante o estádio de frutificação,
foi constatada por Colla et al. (1999) em
concordância com o presente estudo. Já
condições de alta umidade no solo no
tratamento irrigado quatro vezes por dia
podem ter prejudicado a aeração na
rizosfera e favorecido a lixiviação de
nutrientes, principalmente de nitrogênio,
tendo contribuído, assim, para reduzir
o tamanho dos frutos.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado
A produtividade de frutos
comercializáveis apresentou resposta
quadrática com os tratamentos (Figura
2), tendo sido maximizada para um turno de rega de 0,8 dia. Com base nos
componentes de produção avaliados,
verifica-se que as diferenças de produtividade observadas foram devidas tanto ao número de frutos por planta quanto à massa dos frutos, haja vista que o
estande de plantas não foi influenciado
pelos diferentes regimes de irrigação.
Pela equação de regressão ajustada para
tensão de água solo em função de turno
de rega, obtém-se que a tensão crítica
associada ao turno de rega de 0,8 dia,
que maximizou a produtividade de frutos, foi de 10 kPa. Esse resultado vem
complementar o trabalho realizado por
Marouelli et al. (2003), que indicava que
a realização de irrigações visando manter a tensão máxima de água no solo
abaixo de 15 kPa poderia ser capaz de
acarretar incrementos de produtividade
de frutos em tomateiro irrigado por
gotejamento.
A eficiência de uso de água pelas
plantas (média de 39,4 kg m-3) não foi
afetada pelos diferentes regimes de irrigação a que as plantas foram submetidas durante o estádio de frutificação,
similarmente ao observado por
Marouelli et al. (2003). Isto indica que
sob condições onde a água é fator
limitante, deve-se manejar a irrigação
visando maximizar a produtividade de
frutos e reduzir a área plantada, de forma a tornar mínimo o custo de produção por unidade de água utilizada. Valores máximos de eficiência do uso de
água reportados na literatura, para tomateiro irrigado por gotejamento, variam de 31,0 a 42,6 kg.m-3 (Phene et al.,
1992; Lowengart-Aycicege et al., 1999).
Qualidade de fruto
A incidência de frutos com podridão
apical (média de 0,2%), o teor de sólidos solúveis totais (média de 5,1%) e a firmeza de fruto (média de 0,329 kgf cm-2)
não foram afetados significativamente
(p>0,05) pelos tratamentos.
A diminuta ocorrência de podridão
apical deveu-se ao adequado suprimento de cálcio à cultura, parte fornecida
via fertirrigação a partir da floração do
tomateiro, e ao fato das plantas não terem sido submetidas a condições extremas de déficit de água no solo
(Hochmuth, 1997), ou seja, a tensão
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figura 2. Funções de resposta para produtividade comercializável de frutos (Pc), taxa de
frutos podre (Fp) e ácido cítrico (%) conforme o turno de rega durante o estádio de frutificação
do tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2001.
média de água no solo não ultrapassou
105 kPa.
Efeito não significativo sobre o teor
de sólidos solúveis em tomateiro submetido a diferentes regimes de irrigação durante o estádio de frutificação
também foi observado por Marouelli et
al. (1991) e Colla et al. (1999). Segundo Lowengart-Aycicege et al. (1999), o
regime hídrico adotado durante o estádio de frutificação tem pequeno efeito
sobre teor de sólidos solúveis de frutos,
mas é decisivo durante o estádio de
maturação do tomateiro.
A incidência de frutos podres apresentou resposta linear negativa com o
turno de rega adotado (Figura 2). O
maior apodrecimento de frutos nos tratamentos irrigados em regime de alta
freqüência deve-se, basicamente, ao
maior tempo de contado de frutos com
a superfície molhada do solo e ao maior
crescimento vegetativo da parte aérea,
criando um ambiente mais úmido dentro do dossel de plantas (Rotem & Palti,
1969). Sob tais condições, várias doenças fúngicas e bacterianas, como a
rizoctoniose e podridão-mole, podem ter
ocorrido principalmente nos frutos em
contato direto com o solo e naqueles
com ferimentos causados por insetos
(Lopes et al., 2000).
Similarmente ao observado por
Colla et al. (1999), verificou-se resposta linear positiva da acidez titulável com
o turno de rega (Figura 2). Assim, plantas submetidas a restrições hídricas produziram frutos mais ácidos que aquelas
irrigadas em regime de mais alta freqüência durante o estádio de
frutificação.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Rain Bird
do Brasil Ltda., pela doação de parte do
sistema de irrigação, e à Unilever
BestFoods do Brasil Ltda., pelo fornecimento das mudas de tomateiro.
345
WA Marouelli & WLC Silva
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Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
OLIVEIRA JÚNIOR AC; FAQUIN V; PINTO JEBP. 2006. Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica. Horticultura Brasileira 24: 347-351.
Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica1
Antônio Claret de Oliveira Júnior; Valdemar Faquin; José Eduardo Brasil P Pinto
UFLA, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A arnica é uma planta amplamente usada na medicina popular
que sofre risco de extinção. Este trabalho objetivou avaliar o crescimento, teor e acúmulo de nutrientes e alumínio na parte aérea de
arnica em resposta à calagem e adubação. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, em amostra de Cambissolo álico, em
esquema fatorial 2x3+1, sendo dois níveis de calagem (sem e com),
três tipos de adubação (mineral, orgânica e mista). Para controle foi
utilizado um tratamento adicional, constituído de solo proveniente
da região endêmica da arnica, para simular suas condições naturais
de desenvolvimento. Foram utilizadas quatro repetições e uma planta
por vaso. Tomaram-se as alturas inicial e final, obtendo-se o crescimento relativo (CR) e determinaram-se as massas secas de parte
aérea (MSPA) e de raiz (MSR). Foram determinados o teor e o
acúmulo de nutrientes e alumínio na MSPA. De modo geral, a arnica
apresentou maiores valores MSPA, MSR e CR com adubos minerais e menores com orgânico. Para MSPA, a calagem foi essencial
somente nos tratamentos que receberam adubo orgânico. A arnica é
uma planta tolerante ao Al, exigente em Zn e Mn e não exigente em
macronutrientes.
Effects of liming and fertilization on growth and nutrition of
arnica
Palavras-chave: nutrição mineral, planta medicinal, cultivo,
Lychnophora pinaster.
Keywords: Mineral nutrition, medicinal plant, cropping,
Lychnophora pinaster.
Arnica is a plant widely used in folk medicine, which is in danger
of extinction. This work aimed to evaluate growth, nutrients and
aluminum contents and quantity in aboveground dry matter under
liming and fertilization. The experiment was carried out in
greenhouse, with allic Cambisol samples in 2x3+1 factorial scheme,
using two liming levels (with and without) and three fertilization
types (mineral, organic and mixed). Control was an additional
treatment, using soil from arnica endemic land, to simulate its natural
conditions of development. Four replications were used and one plant
for each pot. Relative growth (RG) was obtained from initial and
final heights. Aboveground dry matter (ADM) and the root dry matter
(RDM) were determined. The contents and accumulation of nutrients
and aluminum were determined in ADM. Generally, arnica showed
higher ADM, RDM and RG with mineral fertilization and lower
ADM, RDM and RG with organic fertilization. For ADM, liming
was essential only in treatments with organic fertilizer. Arnica is not
Al-tolerant, it is Zn- and Mn-exigent, but is not macronutrientsexigent plant.
(Recebido para publicação em 19 de setembro de 2005; aceito em 27 de julho de 2006)
A
o longo do tempo, a farmacopéia
popular consagrou diversas plantas como medicamentos naturais. No entanto, apesar da alta demanda, ainda é
relativamente pequeno o conhecimento
acumulado sobre o cultivo das espécies
medicinais nativas do Brasil. Isso tem
acarretado grande devastação dos recursos da flora nacional que, além dos danos ambientais, gera dificuldades no
controle de qualidade dos fitofármacos.
Considerado endêmico dos campos
rupestres do Cerrado brasileiro, o gênero Lychnophora apresenta dezenas de
espécies, todas com microendemismo
bastante pronunciado (Semir, 1991).
Devido ao seu amplo uso na medicina
popular, a Lychnophora ericoides, junto das demais espécies do gênero, vêm
sofrendo grande pressão de
extrativismo, sendo consideradas espé-
cies vulneráveis à extinção (Sociedade
Botânica do Brasil, 1992). Essa situação sugere que as espécies encontradas
nos campos rupestres são merecedoras
de grande prioridade de conservação,
visto que essas plantas compõem flora
especializada, de distribuição geográfica muito restrita (Oliveira-Filho; &
Fluminhan-Filho, 1999). Nesse sentido,
Silva (1994) afirma que, se formas de
sobrevivência para Lychnophora
pinaster não forem asseguradas, podese chegar à sua extinção.
Pelo fato do interesse no cultivo comercial de plantas medicinais ser recente, informações sobre o crescimento e
nutrição dessas espécies ainda são escassas e dispersas, sobretudo para as
originadas do Cerrado. Os poucos trabalhos científicos encontrados sobre
arnica fazem referência a estudos
florísticos (Carvalho, 1992), fenológicos
(Silva, 1994), fitoquímicos (Pinheiro,
2002), de micropropagação (Souza,
2003), conservação de germoplasma
(Paron et al., 2005) e produção de óleo
essencial (Oliveira Júnior et al., 2005).
O cultivo em nível comercial da
arnica pode ser capaz de fornecer material vegetal de qualidade para a indústria farmacêutica, auxiliando, inclusive,
na solução do problema de extrativismo
que essa espécie sofre (Souza, 2003).
Dessa forma, estudos a respeito do crescimento de arnica em condições de cultivo ganham destaque, pois podem, inclusive, auxiliar no estabelecimento de
coleções de conservação de
germoplasma, conforme sugerido por
Paron et al. (2005).
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento, o teor e
1
Parte da dissertação do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da Universidade Federal de Lavras, para
obtenção do título de Mestre.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
347
AC Oliveira Júnior et al.
acúmulo de nutrientes e alumínio na
parte aérea de mudas de arnica
(Lychnophora pinaster) em resposta às
aplicações de calcário e de adubos mineral e orgânico.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa de vegetação do Departamento de
Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em amostra de
Cambissolo álico, coletada na profundidade de 0-20 cm, em vasos de 3 dm3.
Após destorroamento, a amostra foi seca
ao ar e peneirada em malha de 4 mm.
Foram tomadas subamostras para caracterizações físicas e químicas (Tabela 1),
conforme Embrapa (1997) e do P-remanescente de acordo com Alvarez V. et
al. (2000).
Os tratamentos foram constituídos
pelo uso ou não de calagem, três tipos
de adubação (mineral, orgânica e mista
– 50% de cada) e um tratamento adicional como controle, simulando as condições naturais de crescimento da arnica.
Os tratamentos foram arranjados em
esquema fatorial 2x3+1, no delineamento
experimental
inteiramente
casualizado, com quatro repetições.
Utilizou-se calcário dolomítico
calcinado, micropulverizado, com 35%
de CaO, 14% de MgO e PRNT= 100%,
para elevar a saturação de bases do solo
para 50%, equivalente a uma dosagem
de 1,3 t ha-1. A adubação mineral, baseada em Novais et al. (1991), constituiu-se de (mg dm-3 de solo) N= 150;
P= 200; K= 150; S-SO4= 40; B= 0,5;
Cu= 0,8 e Zn= 3,00. As doses de N e K
foram parceladas em três vezes (plantio, 30 e 60 dias). Como adubo orgânico foi utilizado o esterco de curral curtido, seco a 65°C, moído e passado em
peneira de 1 mm2. A dose foi baseada
em CFSEMG (1999), adotando-se 32 t
ha-1, dose essa equivalente a dez por
cento do volume de solo, nos vasos dos
tratamentos essencialmente orgânicos.
A análise química do esterco de curral
(Tabela 2) foi realizada conforme
Tedesco et al. (1995). Os tratamentos
com adubação mista receberam metade
das doses dos tratamentos individuais
(50% mineral e 50% orgânica). Após a
aplicação dos tratamentos o solo foi in348
cubado por 40 dias, com umidade de
50% do volume total de poros (VTP),
quando foram amostrados para novas
análises químicas (Tabela 1).
O tratamento controle foi composto
de amostras da camada de 0-20 cm de
profundidade de um Neossolo Litólico,
coletado em Lavras-MG, na Serra da
Bocaina (área endêmica da arnica), com
o intuito de simular as condições naturais da arnica. Esse material também foi
peneirado, incubado pelo mesmo período, porém sem aplicação de qualquer
tratamento de melhoria da fertilidade.
Sua composição física e química está
apresentada na Tabela 1.
Os tratamentos que receberam somente adubação mineral e aquele pertencente ao grupo controle tiveram vasos preenchidos com 2,6 L de solo. Os
demais vasos foram preenchidos com
2,86 L (2,6 L de solo + 10% de esterco)
para adubação orgânica e 2,73 L (2,6
L+5%) para adubação mista.
As mudas de arnica foram produzidas no Laboratório de Biotecnologia da
UFLA, utilizando segmentos nodais,
obtidos por meio de germinação de embriões in vitro, com indução de multiplicação em meio de cultura. Depois de
permanecerem na câmara de crescimento, foram aclimatadas durante 30 dias
em casa de vegetação, em potes plásticos preenchidos com material do
Neossolo Litólico, como descrito em
Souza (2003). Após a aclimatação uma
única muda foi transplantada, com torrão, para os vasos contendo os tratamentos, onde foram cultivadas por 150 dias.
A umidade no solo foi mantida em 50%
do VTP, por meio de irrigações periódicas com água deionizada.
Durante o período de experimento,
foram tomadas medidas das alturas inicial e final das plantas de cada parcela,
para estimar o seu crescimento relativo
(CR); através da equação: CR(%)=
100x[(altura final–altura inicial)/altura
inicial]. Na colheita, as plantas foram
cortadas rente ao solo. Descartou-se a
parte lignificada do caule e o restante
foi seco em estufa de circulação de ar
forçada a 65-70°C e pesadas para obtenção da matéria seca da parte aérea
(MSPA). Em seguida, a MSPA foi moída em moinho do tipo Willey e analisada quanto aos teores de nutrientes e Al,
sendo este último determinado através
do método de colorimetria do aluminon
(Malavolta et al., 1997). As raízes foram retiradas através de destorroamento
e peneiramento do solo seco, determinando-se a massa seca de raízes (MSR).
As variáveis de crescimento (MSPA,
MSR e CR) foram submetidas à análise
de variância e os tratamentos comparados pelo teste de Scott-Knott (p<0,05).
Adicionalmente, foram aplicadas análises de correlações lineares entre as
variáveis de crescimento e os
parâmetros de fertilidade dos solos e
elementos (nutrientes e alumínio) no
tecido vegetal. A significância dos valores de correlação foi comparada pelo
teste de tstudent (1 e 5%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os tratamentos influenciaram significativamente as variáveis de crescimento das plantas de arnica. As produções
de MSPA, MSR e CR foram influenciadas pela interação entre calagem e adubação (Tabela 3). Provavelmente, o efeito da adubação na MSPA, independente da presença de calcário, tenha sido
devido à pronta disponibilidade de nutrientes, fornecidos via adubos minerais.
Para os tratamentos com adubação orgânica, a aplicação de calcário promoveu maior produção de MSPA, possivelmente, devido à elevação do pH (Tabela 1) e conseqüente aumento na atividade microbiológica e mineralização do
esterco. Pode ter sido disponibilizado
mais enxofre, uma vez que houve correlação (r= 0,78*) entre o teor deste nutriente no solo com a MSPA. O teor de
S-SO4 no solo sob adubação orgânica
com calagem foi cerca de 16% maior
que no solo sem calagem e mais próximo do controle (Tabela 1).
De modo geral, a calagem não afetou a MSR, ou seja, não houve diferenças entre os tratamentos em relação à
aplicação de calcário, à exceção do tratamento mineral que teve MSR menor.
Esses resultados demonstram que o crescimento radicular da arnica não é
influenciado por acidez e alta saturação
por Al (m%) do solo. De maneira geral,
estas propriedades do solo afetam negativamente o crescimento das raízes da
grande maioria das plantas de interesse
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica
Tabela 1. Composição química e física do Neossolo Litólico (Controle) e do Cambissolo álico na sua condição natural (CN) e após
aplicação dos tratamentos. Lavras, UFLA, 2004.
econômico. Esse fato pode ser evidenciado pela correlação positiva encontrada entre MSR e o índice m% (r= 0,70*)
e H+Al (r= 0,69*). Houve correlação
inversa entre MSR e os teores de Mg
disponíveis no solo (r= -0,77*). O Ca é
um elemento com função chave na proteção das raízes contra os efeitos negativos do pH baixo (Marschner, 1995) e
uma inibição da absorção de Ca, devido a maior disponibilidade de Mg
(Mengel & Kirkby, 2001), pode ter sido
a causa desse fato, corroborado pela
correlação encontrada entre MSR e
Ca:Mg (r= 0,85*).
Considerando as produções de
MSPA e MSR (Tabela 3), o tratamento
com adubação orgânica promoveu o
menor crescimento da arnica, tanto na
presença quanto na ausência da
calagem. A análise mostrou que o esterco de curral utilizado apresentava baixo teor de P (Tabela 2). Assim, a dose
do adubo orgânico usada nesse tratamento (Tabela 2) forneceu quantidade
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 2. Teores totais e quantidades aplicadas de nutrientes presentes no esterco de curral
usado para adubação orgânica. Lavras, UFLA, 2004.
*Valores entre parênteses representam a quantidade de nutrientes, em mg dm-3, aplicada nos
tratamentos com adubação puramente orgânica.
insuficiente deste nutriente, limitando o
crescimento da arnica, sugerido pelos
valores de correlação encontrados entre o P disponível e MSPA (r= 0,69*) e
MSR (r=0,69*). Portanto, para a dose
de esterco utilizada, a complementação
com nutrientes na forma mineral foi essencial para um crescimento adequado
das plantas. Corrêa Júnior (1994) afirma que, em muitos casos, a
complementação da adubação orgânica,
via adubos minerais, é fundamental
quando se visa à produção adequada de
plantas medicinais. No presente trabalho, o tratamento de adubação mista
comprova esse fato, embora a dose mineral ainda tenha sido insuficiente (Tabela 3).
Analisando a produção de MSPA e
MSR (Tabela 3) e a composição química do solo controle (Tabela 1), pode-se
inferir que a arnica é uma espécie adaptada a altos teores e saturações por Al.
Assim, nas condições deste estudo, a
349
AC Oliveira Júnior et al.
Tabela 3. Produção de matérias secas de parte aérea e raiz e crescimento relativo das plantas
de arnica em função da calagem e adubação e no controle. Lavras, UFLA, 2004.
Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si (Scott-Knott, 5%).
calagem mostrou ser desnecessária para
o crescimento da arnica. Esses resultados estão de acordo com o exposto em
Goodland & Ferri (1979), sobre o crescimento das plantas nativas do Cerrado. Esses autores afirmaram que a tolerância dessas plantas às condições adversas está intimamente relacionada à
alta saturação por Al (m%), ou seja, a
tolerância aumenta com os valores de
m% dos solos. Contudo, para explora-
ção comercial da arnica, ou qualquer
outra atividade que objetive maior crescimento dessa espécie, estudos mais
detalhados de nutrição mineral são necessários.
Para o crescimento relativo (CR), os
tratamentos com adubação mineral resultaram em incrementos maiores (Tabela 3), provavelmente, porque a pronta disponibilidade de nutrientes foi suficiente para alavancar o crescimento
das plantas. Sugere-se que a diferença
observada entre os tratamentos orgânicos, com e sem calagem, provavelmente se deveu a uma maior disponibilidade de S-SO4 no tratamento que recebeu
calcário (Tabela 1).
O acúmulo de determinado nutriente pela planta é função do seu teor no
tecido e, principalmente, da produção de
massa seca. Assim, observa-se que o
acúmulo dos elementos (Tabela 4) seguiu a tendência observada para a massa seca (Tabela 3). Portanto, decresceu
na ordem de adubação mineral, mista e
orgânica. Nesse último tratamento, destaca-se o baixo acúmulo de P e S, reflexo dos baixos crescimento (Tabela 3) e
teores na planta (Tabela 4).
De maneira geral, os teores dos nutrientes na parte aérea da arnica (Tabela 4) não
sofreram variações acentuadas com a aplicação dos tratamentos. Não se encontrou na literatura um referencial nutricional para a arnica. Dessa forma, para
efeito de comparação, adotou-se como
referência os valores médios citados por
Marschner (1995). De maneira geral, os
nutrientes N, P e K mantiveram-se abaixo, enquanto que o Ca, Mg, S, Cu e Fe
situaram-se dentro dos limites citados.
Somente os teores de Zn e Mn apresentaram-se acima dos limites, sobretudo
no controle, indicando maior exigência
da arnica nestes micronutrientes. Os teores de Al também não sofreram variações acentuadas em função dos tratamentos, à exceção da adubação orgânica sem calagem. Neste tratamento, à
Tabela 4. Teores e acúmulos de nutrientes e alumínio na massa seca da parte aérea das plantas de arnica, aos 150 dias de cultivo, em função
da calagem e adubação e no controle. Lavras, UFLA, 2004.
*Valores entre parênteses correspondem aos acúmulos de elementos, em mg planta-1
350
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica
semelhança do controle, o menor teor
de Al na parte aérea se deve, provavelmente, a indisponibilização através de
sua complexação com a matéria orgânica (Andrade et al., 2002).
Todavia, embora tenham sido detectadas algumas variações nos teores dos
nutrientes em função dos tratamentos,
não foi observado, durante o período de
experimento, nenhum sintoma típico de
deficiência ou toxidez, inclusive para o
Al. Pela classificação de Goodland &
Ferri (1979), a arnica se enquadraria no
grupo das plantas tolerantes e não
acumuladoras de Al, uma vez que os teores deste elemento situaram-se entre 20
e 200 mg kg-1 de Al (base massa seca).
Os mecanismos que lhe conferem tal tolerância, segundo Mengel & Kirkby
(2001), são de ordem genética e estão em
consonância com Goodland & Ferri
(1979) a respeito da adaptação das plantas às condições de solos de Cerrado.
Os campos rupestres, pelas suas condições intrínsecas, são considerados
como áreas de preservação permanente
(artigo segundo do Código Florestal Lei 4771/65, alterada pela Lei 7803/89).
Assim, os teores dos nutrientes e alumínio do tratamento controle não devem
ser considerados como um referencial
nutricional para comparação com plantas obtidas em condições de cultivo.
Para essas condições, o presente trabalho indica como referencial nutricional
os teores obtidos no tratamento mineral
sem calagem, pois este apresentou maior
crescimento e, nos tratamentos minerais
a calagem mostrou-se prática desnecessária.
O crescimento (MSPA, MSR e CR)
da arnica foi maior com aplicação de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
fertilizante menor com adubo orgânico.
Para MSPA e CR, a calagem foi essencial somente nos tratamentos que receberam adubo orgânico. A arnica não é
planta exigente em macronutrientes,
mas é em Zn e Mn. Embora não
acumuladora, é tolerante ao Al do solo.
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Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in
the nutrient solution
Jerônimo L Andriolo; Rodrigo dos S Godoi1; Clarissa M Cogo; Orcial C Bortolotto; Gean L da Luz; José
Carlos Madaloz2
UFSM-CCR-Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS; E-mail: [email protected]
ABSTRACT
RESUMO
Lettuce plants, cv. Vera, were grown at five NH4+:NO3- ratios in
the nutrient solution in a 0.15 m deep sand growing bed. A standard
nutrient solution was used, with the composition of, in mmol L-1,
11.0 NO3-; 1.5 H2PO4-; 6.5 SO4— —; 7.5 Ca++; 10.0 K+ and 1.5 Mg++,
and, in mg L-1, 0.42 Mn; 0.26 Zn; 0.05 Cu; 0.50 B; 0.04 Mo, and
4.82 chelate Fe. Ammonium nitrate was used to supply NH 4 +
concentrations of 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11 (T1); 2.5:13.5 (T2); 5:16 (T3); 7.5:18.5 (T4) and 10:21
mmol L-1 (T5) as treatments. A completely randomized experimental
design was used, with four replications and 20 plants per plot. Four
plants of each plot were harvested at 25 days after planting, to
determine shoot and root dry mass, shoot fresh weight and number
of leaves per plant. Number of leaves, shoot fresh and shoot and
root dry mass decreased 25.5%; 52.5% and 68.5% from T1 to T5,
respectively, following polynomial models. Root dry mass was
1.7 g/plant for T1 and T2, and 0.82 g/plant for T3, T4 and T5,
decreasing in a proportion of 51.8%. For lettuce crop production in
hydroponical facilities, the NH4+ threshold limit of about 9-12% of
the total N should be retained.
Crescimento e desenvolvimento da alface sob altas
proporções NH4+:NO3- na solução nutritiva
Keywords: Lactuca sativa, fertigation, hydroponics, ammonium.
Plantas de alface, cv. Vera, foram cultivadas com cinco concentrações de NH4+ na solução nutritiva, em uma camada de areia de
0,15 m de profundidade. Foi empregada uma solução nutritiva padrão, com a composição de, em mmol L-1, 11,0 de NO3-; 1,5 de H2PO4-;
6,5 de SO4— —; 7,5 de Ca++; 10,0 de K+ e 1,5 de Mg++ e, em mg L-1,
0,42 de Mn; 0,26 de Zn; 0,05 de Cu; 0,50 de B; 0,04 de Mo, e 4,82
de Fe quelatizado. Nitrato de amônio foi empregado para adicionar
concentrações de NH4+ de 2,5; 5; 7,5 e 10 mmol L 1 atingindo proporções NH4+:NO3- de 0:11 (T1); 2,5:13,5 (T2); 5:16 (T3); 7,5:18,5
(T4) e 10:21 mmol L-1 (T5) como tratamentos. O delineamento experimental inteiramente casualizado foi empregado, com quatro repetições e 20 plantas por parcela. Quatro plantas foram coletadas
aos 25 dias após o plantio, para determinar a massa fresca e seca da
parte aérea e o número de folhas por planta. O número de folhas, a
massa fresca da parte aérea e a massa seca da parte aérea e das raízes
decresceram 25,5%; 52,5% e 68,5% de T1 para T5, respectivamente, seguindo modelos polinomiais. A massa seca de raízes foi de
1,7 g/planta em T1 e T2 e de 0,82 g/planta em T3, T4 e T5, decrescendo na proporção de 51,8%. Concluiu-se que o limite de concentração de NH4+ entre 9-12% do N total deve ser observado na produção hidropônica de alface.
Palavras-chave: Lactuca sativa, fertirrigação, hidroponia, amônio.
(Recebido para publicação em 20 de outubro de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006)
N
itrogen is one of the most important
mineral nutrients determining plant
growth and crop yield. Its effects are
associated with leaf area growth and
photosynthetic rate (Pinheiro Henriques
& Marcellis, 2000; Pons & Westbeek,
2004). Linear relationships have been
demonstrated between canopy nitrogen
content, in g m-2, and leaf area index
(LAI) in early developmental stages of
several species (Yin et al., 2003).
Carbon, nitrogen and water uptakes
rates are the key processes determining
fresh yield of vegetables (Schenk, 1996;
Yeo, 1999; Shanon & Grieve, 1999). In
hidroponically horticultural production,
1
nutrient solutions at high N
concentration and low electrical
conductivity were used as a tool to
maximize leaf growth and crop yield.
Plants can absorb NH4+ only in a
limited proportion of the nitrogen,
because of its toxicity (Salsac et al.,
1987). Nevertheless, in hydroponical
production of horticultural crops, a
fraction of the total N is supplied as
NH4+ to better control the pH of the
nutrient solution. For the lettuce crop, a
proportion between about 9% and 12%
of the total N has been reported in the
literature (Faquin & Furlani, 1999). The
tolerance of plants to NH4+ varies with
species, environmental factors and plant
stage development (Castro, 1999;
Kotsiras et al., 2002).
One of the most criticizable
characteristics of vegetable soilless
culture is the drainage in the
environment of large amounts of used
nutrient solutions. Recycling and
reusing of such solutions is a current
trend in searching for sustainable
agricultural production systems.
However, this practice might increase
the NO3 concentration in the nutrient
solution, leading to its accumulation in
leaves. Replacing NO3+ by NH4+ could
be a mean to minimize such risk,
Acadêmicos do Curso de Agronomia da UFSM, bolsistas de iniciação científica do Programa PIBIC-CNPq e da FAPERGS, respectivamente.
352
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution
provided toxic levels were not reached.
Data describing the effect of N
concentration and NH4+:NO3 ratios on
hidroponically grown lettuce crops are
scarce in the literature. Effects of
electrical conductivity of the nutrient
solution on plant growth and yield have
been previously demonstrated (Ayers et
al., 1951; Andriolo et al., 2005), but
results were from experiments in which
the concentration of all nutrients was
modified in a similar way. In such
condition, results represent salinity
effects and could not be attributed to any
nutrient in particular.
The goal of this work was to
determine effects of increasing
NH4+:NO3 ratios in the nutrient solution
on growth, development and yield of
hydroponically grown lettuce plants.
MATERIAL AND METHODS
The experiment was carried out
inside a 150 m2 polyethylene tunnel at
UFSM, between February 25 and March
22, 2005. Sand of 0.0015-0.003 m
particle size was used to make up a 0.15 m
depth growing bed over fibber cement
tiles, 3.05 m length and 1.10 m width,
placed over concrete blocks in a slope
of 3%. The tile gullies were previously
filled with 0.015-0.025 m particle size
gravel and covered with a 1,5 x 10-3 m
polyethylene screen. The nutrient
solution was pumped from a 500 L
polyethylene reservoir to the upper side
of the tile and drained down, flowing
back to the same reservoir. Before
planting, the growing bed was covered
by a white polyethylene sheet (For more
details about the experimental set-up,
see Andriolo et al., 2004).
At February 25, 2005, six-leaved
lettuce plantlets, cv. Vera, were
transferred to the growing bed through
cuttings made on the polyethylene sheet,
in a plant density of 25 plants m-2. Water
and nutrients were supplied by means
of a standard nutrient solution with the
following composition, in mmol L-1
(modified from Castellane & Araújo,
1995): 11.0 NO3-; 1.5 H2PO4-; 6.5 SO4— —;
7.5 Ca++; 10.0 K+ and 1.5 Mg++, and, in
mg L-1, 0.42 Mn; 0.26 Zn; 0.05 Cu; 0.50
B; 0.04 Mo, and 4.82 chelate Fe.
Ammonium nitrate was used to supply
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figure 1. Number of leaves (A), shoot fresh (B) and dry mass (C) of lettuce plants grown
hydroponically at NH4+ concentrations of 0; 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11; 2.5:13.5; 5:16; 7.5:18.5 and 10:21 mmol L-1. Santa Maria, UFSM, 2005.
NH4+ concentrations of 2.5; 5; 7.5 and
10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3- ratios
of 0:11 (T1); 2.5:13.5 (T2); 5:16 (T3);
7.5:18.5 (T4) and 10:21 mmol L-1 (T5)
as treatments. Values of pH and
electrical conductivity (EC) were
maintained between 5.1 and 5.9 and 1.7
and 2.8 dS m 1, respectively, by adding
KOH, water or aliquots of new nutrient
solution when necessary. The nutrient
353
JL Andriolo et al.
Figure 2. Relationship between shoot fresh and dry mass accumulation of lettuce plants grown
hydroponically at NH4+ concentrations of 0; 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11; 2.5:13.5; 5:16; 7.5:18.5 and 10:21 mmol L-1. Santa Maria, UFSM, 2005.
solution was not replaced till the end of
the experiment. The nutrient solution was
delivered four times a day, at 8 h AM, 11 h
AM, 14 h PM and 17 h PM, by means of
a pump controlled by a timer. At each
fertigation, a volume of 130 L of nutrient
solution was delivered in each growing
bed. The lateral sides of the tunnel were
opened during the day. A randomised
experimental design was used, with four
replications with 20 plants.
Plants were harvested at 25 days
after planting (DAP), when the first
signs of senescence were identified on
fully expanded older leaves. The number
of leaves longer than 0.01 m was
counted. Shoot fresh weight was
determined and roots were carefully
removed out from the sand and washed
in water. Dry mass of leaves, stem and
roots were determined after drying at
60ºC until constant dry weight was
reached. The effect of treatments was
tested by analysis of variance (ANOVA)
and statistical models were fitted by
regression analysis for variables
differing by the F test (P= 0.05).
RESULTS AND DISCUSSION
Average number of leaves per plant
was 24.5 and 23.2 in T1 and T2, without
354
significant difference, and decreased to
18.2 in T5, following a polynomial
model (Figure 1A). Fresh mass of shoot
organs decreased significantly by a
proportion of 32.6% from T1 to T2 and
by 53.2% from T2 to T5. The decrease
from T4 to T5 was of about 4.4% and
was not significant. Data from this
variable pooled together follow a
polynomial model (Figure 1B). Similar
trend was observed for shoot dry mass,
with 18.2% decrease from T1 to T2 and
42.2% thereafter (Figure 1C). Root dry
mass did not differ among treatments
and the average was 1.2 g/plant.
One of the questions arising from the
present experiment is the nature of the
negative effect of high NH 4 +
concentrations on lettuce plant growth
and development. These two plant
physiological processes could be
affected either by salinity or by ion
toxicity. In a previous paper (Andriolo
et al., 2005), it has been demonstrated
that only fresh weight was reduced by
salinity of the nutrient solution in a
concentration range between about 1.0
and 5.0 dS m -1. This reduction was
related to restrictions in plant water flux
by effect of salinity. Other physiological
processes seem to be involved in NH4+
toxicity, as number of leaves and shoot
fresh weight, and shoot and root dry
weights were affected. In fact, a linear
relationship was found between shoot
and fresh weight, indicating that plant
water content was affected by NH4+ in a
similar way in the five treatments
(Figure 2). This implies restrictions in
both dry mass synthesis and water
uptake by roots. In the literature, effects
of NH4+ toxicity have been attributed to
reduction/inhibition of cation
absorption, especially K +, as a
consequence of ion imbalance (Salsac,
1989; Kotsiras et al., 2002).
Nevertheless, reduction in dry mass
became less pronounced at higher NH4+
concentrations of T4 and T5 (Figure 1C)
and was not recorded in shoot fresh mass
(Figure 1B). A saturation-type response
was fitted by regressions, suggesting a
threshold limit above its adaptative
processes might take place and plants
might survive at high NH 4 +
concentrations in the root media.
The reduction in number of leaves
by increasing ratios of NH 4+ in the
nutrient solution implies that plant
development was affected by limitations
on growth. Growth affecting
development has not been considered in
models of horticultural crops (Streck et
al., 2002, 2003). In such models,
temperature is the key variable used to
estimate the phyllochron index, but this
formalization could only be valid under
non-limiting growing conditions. These
conditions were often not realistic in
horticultural soilless crops, due to
extreme fluctuations in environmental
variables affecting shoot and root
growth of plants. Presented data suggest
that other approaches should be
considered in developmental models for
theses crops, like that proposed by the
Hardwick’s (1987) isometry hypothesis.
Its theoretical basis states that growth
and development of a plant follows a
proportion between accumulation of
metabolic surface area, represented by
leaves, and biomass, disregarding
fluctuations in the environment.
Although growth of roots was
reduced at higher NH4+ concentrations
in the nutrient solution (Figure 1C), this
observation might not be attributed to a
direct effect of NH4+ toxicity. Growth
of roots has been considered as
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution
dependent of the carbon/nitrogen
balance between shoot and root
compartments (Thornley, 1998). Current
hypothesis underlying such models have
considered that roots grow to search for
water and nutrients, especially nitrogen.
In this way, the negative effect of NH4+
recorded in root growth might also be
explained by the higher nitrogen
availability in the nutrient solution. This
hypothesis derives from the higher
values of shoot:root ratio in plants
grown at higher NH4+ concentrations
(Figure 3). This implies that growth of
roots was lower than that of shoot
organs, but NH 4+ toxicity affecting
growth of roots more severely than that
of shoot seems improbable.
Total nitrogen in the nutrient solution
currently more used to grow the lettuce
crop in NFT in Southern Brazil was of
about 16.9 mmol L-1 as NO3- (Castellane
& Araújo, 1995). This concentration is
near to that of 16 mmol L-1 in T2. Thus,
the 32.6% reduction in fresh mass in
plants from T1 to T2 can be attributed
to the 16.6% NH 4 + in the nutrient
solution. It might be concluded that for
commercial purposes of lettuce crop
production in hydroponical facilities, the
NH4+ threshold limit of about 9-12% of
the total N reported in the literature
should be retained.
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Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Figure 3. Shoot:root ratio of lettuce plants grown hydroponically at NH4+ concentrations of
0; 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3- ratios of 0:11; 2.5:13.5; 5:16; 7.5:18.5
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Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface
Cristiaini Kano1; Antonio Ismael Inácio Cardoso1; Andréa R O Higuti1; Roberto L Villas Bôas2
1
UNESP-Depto. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Devido à falta de informações relacionadas à adubação em hortaliças cojo objetivo é a produção de sementes, em culturas em que
ocorre um aumento no ciclo, nota-se a necessidade de se estudar a
influência de doses de nutrientes que proporcionem aumento de produtividade e obtenção de sementes de melhor qualidade. Este trabalho teve o objetivo de avaliar o efeito de diferentes doses de adubo
potássico na produção e qualidade de sementes de alface cultivar
‘Verônica’. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos
casualizados, com cinco tratamentos (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 g planta-1 de K2O) e seis repetições. Os dados foram submetidos à análise
de variância e regressão. Pelos resultados obtidos pode-se concluir
que as doses de K2O avaliadas resultaram em aumento linear na
produção (massa e número) de sementes, mas não afetaram a qualidade fisiológica (germinação e vigor) das mesmas.
Palavras-chave: Lactuca sativa L., adubação potássica, K2O, germinação, vigor.
Potassium rates in the lettuce seed production and quality
There exist a lack of information about the fertilization of
vegetables where occurr an increase of the vegetative cycle, when
the seeds production is the final purpose. The influence of potassium
rates was evaluated in lettuce cultivar Verônica for yield and quality
of seeds. The experiment was conducted in randomized complete
blocks, with five treatments (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5g plant-1 of K2O)
and six replications. The data were submitted to the variance analysis
and to the regression analysis. The K2O rates resulted in a linear
increase in the seed yield (mass and number) but did not affect the
seed quality.
Keywords: Lactuca sativa L., potassium fertilization, K 2O,
germination, vigor.
(Recebido para publicação em 11 de novembro de 2005; aceito em 15 de agosto de 2006)
U
ma planta bem nutrida está em condições de produzir um maior número de sementes viáveis, o que evidencia a influência da nutrição na produção de sementes. No início da fase
reprodutiva, a exigência nutricional para
a maioria das espécies torna-se mais intensa, sendo mais crítica por ocasião da
formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como
o potássio e o nitrogênio, é para elas
translocada. A boa formação do embrião
e do órgão de reserva, assim como sua
composição química, depende da disponibilidade de nutrientes para a planta,
consequentemente, irá influenciar o
metabolismo e o vigor da semente (Carvalho & Nakagawa, 2000).
É grande a importância do fornecimento adequado de nutrientes na produção de sementes, especialmente do
potássio, que ao lado do nitrogênio, é
um dos elementos mais extraídos pelas
plantas. Em quantidades adequadas o
potássio desempenha várias funções na
planta: o controle da turgidez do tecido,
a ativação de muitas enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese, a abertura e fechamento de estômatos, o transporte de carboidratos, a transpiração, a
356
resistência à geada, seca, salinidade e à
doença, a resistência ao acamamento e
a manutenção da qualidade dos produtos (Malavolta, 1980; Marschner, 1995;
Davis et al., 1997). Sua deficiência ocasiona redução no crescimento e na formação da “cabeça” de alface.
Embora existam estudos sobre nutrição mineral e recomendações de adubação para o cultivo comercial de alface, raramente se encontram trabalhos
que abordem os efeitos dos nutrientes
na produção de sementes e, principalmente, na qualidade fisiológica das mesmas. Isso se torna importante, pois,
quando se busca a produção de sementes de alface, ocorre um aumento no ciclo da planta. No entanto, a escassez de
informações relacionadas às exigências
nutricionais, pode impedir a obtenção
de aumento de produtividade e de qualidade das sementes.
Harrington (1960), ao avaliar a germinação de sementes de alface, cenoura e de pimenta oriundas de plantas cultivadas sob severa deficiência de nutrientes, verificou que a deficiência de
potássio ocasionou diminuição na produção de sementes e na porcentagem de
sementes normais. No entanto,
Delouche (1980) ressalta que a resposta típica de plantas cultivadas em solo
de baixa fertilidade é a redução na quantidade de sementes produzidas e não a
sua qualidade.
Kano et al. (2004) testando o efeito
de diferentes doses de fósforo (0; 200;
400; 600 e 800 kg ha-1 de P2O5) na produção de sementes de alface obtiveram
aumento na produção com o aumento
das doses, ajustando a resposta ao modelo linear. Contudo os mesmos autores verificaram que essas doses de fósforo não influenciaram a qualidade das
sementes de alface (Kano et al., 2005),
resultado semelhante ao obtido por
Soffer & Smith (1974).
Quanto ao nitrogênio, Carvalho
(1978), ao avaliar o efeito da adubação
nitrogenada sobre a produção e qualidade de sementes de alface, verificou
que esta não afetou a qualidade e a produção de sementes.
Devido à escassez de informações
relacionadas às exigências nutricionais
da cultura da alface para produção de
sementes, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o efeito de doses de adubo
potássico na produção e qualidade de
sementes de alface.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido na
Fazenda Experimental São Manuel, localizada no município de São Manuel –
SP, pertencente à Faculdade de Ciências
Agronômicas (FCA) da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), Campus de
Botucatu/SP, localizada à latitude sul de
22 o 44’50’’, longitude oeste de
48º34’00’’ e altitude de 750 m.
As plantas foram conduzidas em estufas de 20m de comprimento, 7 m de
largura e 3,8m de altura, na parte mais
alta e, um pé direito de 2,5 m.
O solo utilizado no experimento foi
LATOSSOLO VERMELHO Distrófico
Típico (Embrapa, 1999) com os seguintes resultados obtidos na análise química: pH(CaCl2)=4,0; Presina=2 mg dm-3;
matéria orgânica=2 g dm-3; V%=11; e
os valores de H+Al; K; Ca; Mg; SB e
CTC expressos em mmolc dm-3 respectivamente de: 25; 1,2; 2,0; 1,0; 3,0 e 28.
A análise granulamétrica desse solo indicou 761, 199 e 40 g kg-1 de areia, argila e silte, respectivamente.
A calagem foi realizada 30 dias antes do transplante das mudas, utilizando-se calcário de alta reatividade, de
modo a elevar a saturação de bases a
80% e faixa de pH próxima de 6,0, conforme a recomendação sugerida por Raij
et al. (1996).
A adubação de plantio com nitrogênio e matéria orgânica também foi feita
de acordo com a análise química do solo
e conforme proposta de Raij et al.
(1996), para a produção de “cabeça”.
Foram fornecidos 0,26 g planta-1 de N
na forma de sulfato de amônio e 500 g
planta-1 de Biomixâ como fonte de matéria orgânica. Quanto ao fósforo, utilizou-se uma dose 50% superior (3,9 g
planta-1 de P2O5) à recomendada devido
ao aumento que ocorre no ciclo da alface. Este nutriente foi fornecido apenas
no plantio, utilizando-se o superfosfato
triplo como fonte.
A análise química do Biomixâ indicou valor de pH de 7,7 e os valores de
MO; N; P2O5; K2O; Ca; Mg e de S, expressos em %, respectivamente de: 53;
1,30; 0,90; 0,47; 6,80; 0,25 e 0,34. A
relação C/N foi de 23/1 e a umidade do
composto de 60%.
Na adubação de cobertura foram fornecidos o nitrogênio e o potássio. A
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
adubação de cobertura com nitrogênio
foi feita com nitrato de cálcio (0,19 g
planta-1 de N por aplicação) e realizada
inicialmente aos 10, 18 e aos 24 dias
após o transplante (DAT), conforme recomendação de Raij et al. (1996) para a
produção de “cabeça”. Após as plantas
atingirem o ponto comercial (33DAT),
continuou-se à aplicação semanal dessa mesma dose até a colheita das sementes (121 DAT), fornecendo um total de
3,5 g planta-1 de N durante todo o ciclo
da planta, parcelado em 18 vezes.
Quanto ao potássio, aplicou-se no
plantio 1 g planta -1 de K 2 O (fonte:
cloreto de potássio), exceto para o tratamento T1 – sem potássio, o que
eqüivale a recomendação de Raij et al.
(1996), 150 kg ha-1, para o cultivo de
alface para produção de “cabeça” com
uma população de 150 mil plantas ha-1.
Já em cobertura, o potássio (fonte:
cloreto de potássio) foi fornecido em
duas épocas (no ponto comercial para
colheita da “cabeça”, 33 DAT, e no início do florescimento, 84 DAT) da seguinte forma: T1 - sem potássio (K2O)
no ponto comercial para colheita da “cabeça” (C) e início do florescimento (F);
T2 – 1 g planta-1 no C e sem fornecimento no F; T3 - 1 g planta-1 no C e 0,5
g planta-1 no F; T4 - 1 g planta-1 no C e 1
g planta-1 no F; e T5 - 1 g planta-1 no C e
1,5 g planta-1 no F.
O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados com cinco
tratamentos (doses de K2O) e seis repetições, com a unidade experimental
composta por quatro plantas, as quais
foram todas utilizadas para a obtenção
das sementes. Os tratamentos foram
obtidos somando-se a quantidade de
K2O utilizado no plantio e em cobertura, resultando nas seguintes doses (tratamentos): 0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 g planta-1 de K2O. O potássio em cobertura foi
utilizado visando suprir as necessidades
da cultura para semente, cujo ciclo é
muito superior àquele para a produção
de “cabeça”, considerando-se duas etapas, uma vegetativa e outra reprodutiva.
Utilizou-se a cultivar de alface crespa ‘Verônica’ e a semeadura foi realizada no dia 17/02/04, em bandejas de
poliestireno expandido de 128 células,
contendo substrato comercial para hortaliças. Foram colocadas duas ou três
sementes por célula, com posterior desbaste para uma planta por célula.
As mudas foram transplantadas em
24/03/04 para vasos de plástico com
capacidade para 13 litros, sendo cultivada uma planta por vaso e totalizando
seis linhas de vasos no sentido longitudinal da estufa, espaçadas de 1,0m e os
vasos espaçados de 0,5m entre plantas
(centro a centro dos vasos).
As plantas foram tutoradas de modo
a evitar o tombamento das mesmas na
fase reprodutiva e a irrigação foi realizada através de gotejadores instalados
individualmente nos vasos.
A colheita das sementes foi realizada manualmente na maturidade fisiológica, na fase de pêlos (papos) brancos
sobre as inflorescências, conforme
Reghin et al. (2000), com início aos 121
DAT e final aos 141 DAT. Assim que
coletadas, as sementes foram avaliadas
quanto à produção (massa e número de
sementes por planta), massa de mil sementes e qualidade fisiológica (germinação e vigor) e mantidas em câmara
seca (20ºC e 40% UR) para melhor conservação.
O teste padrão de germinação foi
realizado conforme as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992), com
utilização de caixa gerbox em
germinador a 20ºC. Para a primeira contagem foram consideradas as plântulas
normais contabilizadas e retiradas aos
quatro dias. A contagem final foi realizada aos sete dias, sendo consideradas
germinadas as plântulas com o aparecimento das folhas cotiledonares. As avaliações foram diárias até o 7º dia após a
semeadura, para se obter, conforme
Maguire (1962), o índice de velocidade
de germinação das plântulas (IVG), que
é um indicativo do vigor das sementes.
A qualidade das sementes também
foi avaliada pela porcentagem de
plântulas emergidas em bandejas de
poliestireno expandido contendo
substrato comercial, conforme
metodologia adotada por Lima (2003),
adaptada de Vieira & Carvalho (1994).
A escolha deste substrato ao invés do
solo teve como finalidade simular o que
ocorre na produção comercial de mudas de alface. Dessa forma, procurouse colocar as sementes em um teste que
apresentasse as mesmas condições utilizadas comercialmente pelos produtores.
Foram semeadas 50 sementes por repetição (4x50) para cada parcela e as bandejas foram mantidas em casa-de-vegetação
357
C Kano et al.
Figura 1. Produção de sementes de alface por planta em função de doses de K2O. São
Manuel, FCA/UNESP, 2004.
Figura 2. Número de sementes de alface por planta em função de doses de K2O. São Manuel, FCA/UNESP, 2004.
durante as avaliações. As plântulas foram
consideradas emergidas quando as folhas
cotiledonares estavam totalmente abertas.
As avaliações foram diárias, até o 10º dia
após a semeadura, para se obter o índice
de velocidade de emergência das plântulas
(IVE), conforme Maguire (1962).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e em caso
de efeito significativo, de acordo com o
teste F para tratamentos, foi realizada a
análise de regressão para verificar o efei358
to de doses de potássio nas características avaliadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção de sementes, tanto em
massa como em número, foi influenciada significativamente pelas doses de
potássio. Os valores se ajustaram ao
modelo linear, sendo que a cada aumento de 1,0 g planta-1 de K2O fornecido,
aumentou-se 3,85 g ou aproximadamen-
te 3.845 sementes a mais por planta (Figuras 1 e 2).
Com apenas 2 g de K2O fornecido
por planta, dobrou-se a produção de sementes em relação à testemunha (sem
adição de potássio). Considerando-se o
ajuste dos resultados ao modelo linear,
doses mais elevadas de K2O podem proporcionar incremento na produção e no
número de sementes. Kano et al. (2004)
também relataram aumento linear na
produção de sementes de alface
‘Verônica’ com aumento na dose de P2O5
(0 a 800 kg ha-1), utilizando o mesmo
solo deste experimento.
Ressalta-se que no início da fase
reprodutiva, a exigência nutricional para
a maioria das espécies torna-se mais intensa, sendo mais crítica por ocasião da
formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como
o fósforo, o nitrogênio e o potássio é
para elas translocada (Carvalho &
Nakagawa, 2000). Deste modo, a adubação com K2O nesta etapa mostrou ser
tecnicamente vantajosa.
Constatou-se que a produção de sementes obtida neste trabalho foi superior a relatada por Viggiano (1990) para
a cultivar Regina (3,86 g planta-1), por
Kano et al. (2004) para a cultivar
Verônica (5,0 g planta-1) e superior que
a maior produção obtida nos tratamentos avaliados por Izzeldin et al. (1980)
que foi de (10,5 g planta-1). Os valores
também foram próximos da máxima
produção obtida por Reghin et al.
(2000), em experimento conduzido com
a cultivar Verônica, que foi cerca de 18
g planta-1 e também da produção média
obtida por Carvalho (1978) para a cultivar crespa Gorga (20 g planta-1).
Quanto à qualidade das sementes,
não houve efeito significativo de doses
de potássio para todas as características
avaliadas: massa de mil sementes, índice de velocidade de emergência, total
de plântulas emergidas no 10º dia após
a semeadura em bandeja, primeira contagem do teste de germinação, germinação e índice de velocidade de germinação (Tabela 1).
Para massa de mil sementes obtevese uma média de 1,06 g (Tabela 1), valor
superior ao relatado por Viggiano (1990),
que obteve média de 0,83 g, e semelhante ao máximo valor obtido por Reghin et
al. (2000), que foi de 1,0 g para a cultivar Verônica, bem como ao valor médio
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface
obtido por Carvalho (1978) que foi de
1,09 g. O resultado obtido também esteve acima do intervalo citado por George
(1999), que varia de 0,6 a 1,0 g, dependendo da cultivar de alface.
A germinação foi praticamente máxima em todos tratamentos (mínimo de
99%) (Tabela 1), caracterizando a excelente qualidade das sementes obtidas.
Na primeira contagem, os resultados
obtidos (> 88%) já indicavam o elevado vigor das sementes. Já para a emergência de plântulas aos 10 dias após a
semeadura, entretanto, observou-se valores inferiores, cerca de 69% (Tabela
1). Deve-se considerar que este teste foi
realizado em condições de temperaturas elevadas (média de 33ºC) que podem ter induzido as sementes a uma
dormência secundária. Segundo
Viggiano (1990), sementes de alface
podem ficar dormentes quando
semeadas em substrato com temperaturas superiores à 30ºC. Esta possível
indução de dormência também pode
explicar os maiores valores de coeficiente de variação para as características
avaliadas em substrato.
Kano et al. (2005) verificaram que
doses crescentes de P2O5 também não
afetaram a qualidade das sementes de
alface da mesma cultivar avaliada no
presente estudo. Soffer & Smith (1974)
também verificaram que o aumento no
fornecimento de nutrientes no solo aumentou a produção de sementes de alface, mas não proporcionou correspondente aumento no vigor das mesmas.
De forma semelhante, em outras espécies a adubação potássica também não
afetou a qualidade das sementes logo
após a colheita, como pode ser observado em trabalhos de Rossetto et al.
(1997) com canola, e de Costa et al.
(1983) e Vieira et al. (1987) com soja.
Percebe-se que a planta de alface,
como várias outras espécies, sob condições de estresse nutricional (baixas
quantidades de potássio), reduz sua produção de sementes sem afetar a qualidade das mesmas, provavelmente visando à perpetuação da espécie com a
produção de sementes de alta qualidade. Porém, a adubação com potássio
após a formação da cabeça é altamente
favorável para se obter elevados aumentos de produtividade.
Conclui-se que houve aumento linear
na produção (massa e número) de seHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 1. Média dos resultados dos atributos de qualidade (germinação e vigor) das sementes de alface em cada tratamento. São Manuel, FCA/UNESP, 2004.
IVE= índice de velocidade de emergência; DAS= dias após a semeadura; IVG= índice de
velocidade de germinação; ns= não significativo pelo teste F da análise de variância.
mentes com o aumento das doses de
K2O, enquanto a qualidade das sementes não foi afetada mesmo na ausência
de adubação com K2O.
AGRADECIMENTOS
A CAPES pela concessão da bolsa
de doutorado à primeira autora e à
FAPESP pelo auxílio financeiro (Processo 03/09637-0).
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359
GONZALEZ AF; AYUB RA; REGHIN MY. 2006. Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo aberto e cultivo protegido com
agrotêxtil. Horticultura Brasileira 24: 360-360.
Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo
aberto e cultivo protegido com agrotêxtil
Angela F Gonzalez; Ricardo Antonio Ayub; Marie Y Reghin
UEPG-Depto Fitotecnia e Fitossanidade; Av. Carlos Cavalcanti 4748, 84030-900 Ponta Grossa-PR; E-mail: [email protected];
[email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Folhas de rúcula produzidas em campo aberto e sob cultivo protegido com agrotêxtil foram minimamente processadas, embaladas
inteiras ou picadas em bandejas de poliestireno expandido e cobertas com filme de PVC de 14 micras. O delineamento adotado foi o
inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2x2 (ambiente de
cultivo, forma de preparo e refrigeração a 00C e 100C), com quatro
repetições por tratamento, totalizando 32 bandejas. Os tratamentos
foram armazenados a 0ºC e 10ºC por 10 dias, quando foram avaliadas as variáveis perda de massa (%); pH; sólidos solúveis; acidez
titulável; cor e aparência. A conservação a 0ºC promoveu uma diminuição da perda de peso da rúcula minimamente processada. A utilização de folhas inteiras ou minimamente processadas foi significativa para sólidos solúveis sendo os maiores valores encontrados para
as folhas inteiras. Para folhas picadas observou-se valores de acidez
significativamente maiores para as produzidas sob ambiente natural. Independente da forma de preparo, a rúcula produzida em ambiente natural apresentou menor valor de pH. A cor e aparência da
rúcula não foram influenciadas pelos tratamentos.
Conservation of minimally processed rocket produced under
open field conditions and non woven polypropylene
Leaves of rocket salad produced under open field and non woven
polypropylene were minimally processed and packed entire or
pricked in polyestyrene trays covered with PVC film of 14 micras.
The treatments were stored at 00C and 100C per 10 days, when the
variables weight loss (%); pH; soluble solids; titratable acidity; colour
and appearance were evaluated. The conservation under 0 0 C
promoted a reduction of weight loss on rocket salad minimally
processed. Using entire or minimally processed leaves were
significant for soluble solids the biggest values being found for entire
leaves. For pricked leaves bigger values of acidity were observed
for the produced ones under natural environment. Independent of
the preparation form rocket salad produced under natural environment
presented minor value of pH. The color and appearance of rocket
salad were not influenced by the treatments.
Palavras-chave: Eruca sativa L., polipropileno, vida de prateleira.
Keywords: Eruca sativa; nonwoven of polypropylene; shelf life.
(Recebido para publicação em 2 de dezembro de 2005; aceito em 31 de agosto de 2006)
P
rodutos minimamente processados
são aqueles submetidos a operações
de limpeza, lavagem, seleção,
descascamento, corte, embalagem e
armazenamento, mas que apresentam
qualidade semelhante ao produto fresco (Chitarra, 2000).
Na produção de hortaliças minimamente processadas, normalmente empregam-se as cultivares que melhor se
adaptam ao processamento, sendo esta
preferência atribuída a fatores relacionados a características de matéria prima que favoreçam o frescor do produto
final e fatores econômicos (Ferrari et al.,
2001). A qualidade dos vegetais minimamente processados é dada pela combinação de atributos que determinam seu
valor alimentício. Uma maior ênfase é
dada para a aparência e a forma. O produto deve ser consistente, ter aparência
fresca, ser de cor aceitável, razoavelmente livre de defeitos e livre de inócuos (Shewfelt et al., 1987).
360
A rúcula é uma hortaliça folhosa originária da região Mediterrânea, muito
popular nas regiões de colonização italiana no Brasil. Rica em potássio, enxofre, ferro e vitaminas A e C, é apreciada
pelo sabor picante e cheiro agradável e
acentuado (Trani & Passos, 1998). O
aumento do consumo desta hortaliça
tem sido observado em sua forma minimamente processada, ou seja, com as
folhas já lavadas, higienizadas e prontas para o consumo (Sigrist, 2002). Segundo Cantwell (2001), a rúcula deve
ser armazenada a 0ºC, umidade relativa
95-100% por 7 a 10 dias, tendo uma
baixa produção de etileno (<0,1mL.
Kg-1.h-1). Quando conservada a 20ºC, é
alta sua susceptibilidade ao dano provocado pela presença de etileno.
O cultivo da planta pode ser realizado em ambiente natural e sob cultivo
protegido. O cultivo protegido pode ser
feito com o polipropileno, conhecido
como agrotêxtil, que é usado como uma
manta flutuante sobre as plantas com
boas respostas para o cultivo de folhosas
(Reghin et al., 2001; 2002). Entretanto,
pouco ainda se conhece sobre o efeito
do cultivo protegido no comportamento pós-colheita destes produtos.
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar o comportamento pós-colheita
de rúcula minimamente processada, produzidas em ambiente natural e sob cultivo protegido com agrotêxtil, embaladas em bandejas de isopor recobertas
com PVC e armazenadas a 0ºC e a 10ºC,
por 10 dias.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Universidade Estadual de Ponta Grossa
(PR), sendo a rúcula coletada na área
de olericultura da Fazenda-Escola, pertencente à Universidade, produzidas sob
cultivo protegido, com as plantas cobertas com agrotêxtil como uma manta fluHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo aberto e cultivo protegido com agrotêxtil
tuante e em ambiente natural. A colheita foi realizada procedendo o corte das
plantas rente ao sistema radicular. As
plantas dos dois ambientes de cultivos
foram levadas para o laboratório para
os procedimentos de pós-colheita. Primeiramente, foram pré-refrigeradas,
com seus pecíolos imersos em água e
armazenada durante 12 horas a 10±2ºC
até seu processamento. Decorrido este
período, as folhas foram selecionadas e
padronizadas pelo tamanho, aparência
e integridade e lavadas em água corrente. A metade do material foi separado e
folhas inteiras foram sanitizadas com
solução contendo 150 mg.L-1 de cloro
ativo a 5ºC durante 10 minutos. O enxágüe foi feito com solução a 3 mg.L-1
de cloro ativo a 5ºC por 10 minutos. As
folhas foram centrifugadas por 5 minutos em centrífuga manual e embaladas
em bandejas de isopor recobertas com
PVC de 14 micras. A outra metade foi
picada na espessura de 1-3 mm com facas de aço inoxidável e enxaguadas para
retirada do suco celular proveniente do
corte. O produto foi então sanitizado,
centrifugado e embalado da mesma forma das folhas inteiras. Os tratamentos
foram armazenados a 0ºC no freezer e a
10ºC no refrigerador por 10 dias. Os
seguintes parâmetros físico-químicos
foram avaliados: perda de massa (%),
determinado pela diferença de massa
pesada em balança digital entre a data
inicial e final; pH, determinado através
de leitura direta em potenciômetro do
material processado em água destilada
em processadora de uso doméstico. Os
sólidos solúveis foram determinados
pela leitura direta do material processado em refratômetro manual com correção a 20ºC. A acidez titulável foi determinada titulando-se a amostra até pH 8.1,
com resultado expresso em g.ml-1 de ácido málico (Carvalho et al., 1990) e a cor
e aparência do produto foram avaliados
visualmente aos 10 dias. O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado
em esquema fatorial 2x2x2 (ambiente de
cultivo, forma de preparo e refrigeração
a 00C e 100C), com quatro repetições por
tratamento, totalizando 32 bandejas. Os
resultados foram submetidos à análise de
variância e as médias comparadas pelo
teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Tabela 1. Perda de massa e pH de rúcula minimamente processada, produzida sob agrotêxtil e
em ambiente natural, inteira e picada, conservada a 0ºC e 10ºC. Ponta Grossa, UEPG, 2003.
*Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem
entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
Tabela 2. Sólidos solúveis (ºBrix) e acidez titulável (ácido málico) de rúcula minimamente
processada, produzida sob agrotêxtil e em ambiente natural, inteira e picada, conservada a 0
ºC e 10 ºC. Ponta Grossa, UEPG, 2003.
*Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem
entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Folhas de rúcula armazenadas a 0ºC,
apresentaram menor perda de massa,
tanto em folhas picadas como nas inteiras, quando comparadas às conservadas
a 10ºC (Tabela 1). A temperatura tem
efeito significativo na perda de qualidade, apresentando importante influência no metabolismo do vegetal
(Behrsing, 1998). O autor também observou que a vida útil de alface aumentou entre 48% e 154% quando a temperatura de armazenamento foi reduzida
de 10º C para 4,5ºC. Em cenoura picada
foi observado que a perda de peso está
correlacionada com a perda de qualidade do produto e é dependente da forma
de preparo (Tatsumi et al., 1991). Entretanto, a utilização de rúculas inteiras
foi significativa para as produzidas em
ambiente natural e armazenadas a 0ºC,
comparadas com as produzidas sob
agrotêxtil. Não foi observada diferença
significativa quando as folhas foram
picadas.
O produto proveniente de ambiente
natural quando picadas, apresentou menores valores de pH quando compara-
das as produzidas sob agrotêxtil (Tabela 1). O modo de preparo foi estatisticamente significativo para pH em quase
todos os tratamentos, sendo observados
os maiores valores para as folhas picadas. Sigrist (2002), observou que aumentos de pH tem sido verificados para
diversos produtos inteiros ou que foram
minimamente processados e Barry-Ryan
& O’Beirne (1998), atribuem o aumento deste fator ao aumento da carga
microbiana observada em produtos minimamente processados, o que está de
acordo com Bittencourt et al., (2000),
que observaram elevação do pH de couves armazenadas a 5ºC por 5 dias.
A forma de preparo foi significativa para sólidos solúveis totais, sendo os
menores valores encontrados para as
folhas picadas (Tabela 2), o que está de
acordo com os resultados encontrados
por Roura et al., (2000), em acelgas
minimamente processadas, atribuindose este decréscimo ao aumento da atividade respiratória.
Para folhas picadas, conservadas
tanto a 0oC como a 100C, observou-se
valores de acidez total titulável significativamente maiores para as produzidas
em ambiente natural, quando compara361
AF Gonzales et al.
das ‘as produzidas sob agrotêxtil (Tabela 2). O aumento da respiração em
função da área danificada pelo corte,
com conseqüente consumo de ácido orgânico e decréscimo na acidez total
titulável podem ser as causas de menores valores para as diferenças entre folhas picadas e inteiras, já que as últimas
sofreram apenas os danos mecânicos de
separação das folhas (Sigrist, 2002).
Observou-se também que a microbiota
de folhas de rúcula minimamente processadas aumentou a partir do 3º dia a
5ºC, podendo dessa forma ser responsável pelo aumento do pH e diminuição
da acidez total titulável (Sigrist, 2002).
A cor e aparência do produto minimamente processado não foram influenciadas pelos tratamentos (dados não
demonstrados), sugerindo a possibilidade de extensão do tempo de
armazenamento.
Dessa forma, os resultados observados permitiram concluir que a conservação a 0ºC promove uma diminuição
da perda de peso da rúcula minimamente
processada. A forma de preparo em folhas inteiras aumenta o teor de sólidos
solúveis totais. Os valores de acidez total titulável são maiores para as folhas
picadas produzidas em ambiente natural. Os menores valores de pH foram
encontrados em rúcula oriunda de am-
362
biente natural, independente da forma
de preparo. A cor e aparência da rúcula
minimamente processada não são influenciadas pelos tratamentos.
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Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e
sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília
José Carlos da S Alves1; José Ricardo Peixoto1; Jairo V Vieira2; Leonardo S Boiteux2
1
UnB, 70910-900 Brasília-DF; 2Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O presente trabalho foi implementado com o objetivo de estimar parâmetros genéticos para os seguintes caracteres de importância para o melhoramento genético da cenoura: número de folhas por
planta (NFP), comprimento da maior folha na planta (CF), comprimento da raiz (CR), peso da raiz (PR), diâmetro da raiz (DR) e diâmetro do xilema (DX). Este experimento foi conduzido em condições de campo durante o verão de 1999/2000, sendo utilizadas 69
famílias de meios-irmãos derivadas da cultivar Brasília. As progênies foram cultivadas em delineamento de blocos ao acaso com duas
repetições e parcelas de 2 m2, com quatro linhas de 20 plantas cada.
Os valores observados para coeficiente de variação genética oscilaram de 4,8 a 10,9. Os valores calculados de herdabilidade no sentido
amplo (ha2) foram medianamente altos para todos os caracteres, com
uma variação observada entre 29,9% (para DR) e 77,6% (para CF).
Foram também obtidas estimativas de valores de correlações
fenotípicas, genotípicas e ambientais entre os caracteres avaliados,
com destaque para a magnitude do valor da correlação genotípica
entre PR e DR, de 0,85. Correlação genotípica negativa foi observada entre CR e DX indicando a possibilidade de desenvolver, a partir
de populações derivadas de ‘Brasília’, novas cultivares com arquitetura de raiz mais adequada para a produção de mini-cenouras
(“baby-carrots”). Valores de correlações ambientais negativos e altos foram observados entre PR e DX e entre DR e DX. Este conjunto de informações representa uma importante base de dados genéticos com implicações diretas na otimização do processo de seleção
dentro de populações de cenoura derivadas da cultivar Brasília.
Heritability and genotypic correlation among leaf and root
traits in carrot, cultivar Brasilia progenies
The present work was conducted aiming to estimate genetic
parameters associated with traits of importance to carrot breeding,
including: number of leaves per plant (NL), length of the longest
leaf in the plant (LL), root length (RL), root weight (RW), root
diameter (RD), and xylem diameter (XD). This experiment was
carried out during the rainy summer season (1999/2000) using 69
half-sib families derived from cultivar Brasília. Progenies were
evaluated using a complete randomized block design with two
replications and 2 m2 plots, with four 20-plant rows. The broadsense heritability (ha2) values ranged from 29.9% (for RD) to 77.6%
(for LL). Genotypic, phenotypic, and environmental correlations
displayed a large variation in magnitude with the highest genotypic
correlation (0.85) being observed between the traits RW and RD.
Negative genotypic correlation was observed between RL and XD,
which indicates that the development of new cultivars suitable for
processing as baby-carrots is feasible using populations derived from
cultivar Brasilia. High negative environmental correlation values
were obtained between the traits RW and XD, as well as between
RD and XD. This information would be of extreme importance
aiming to optimize the selection process when using segregating
populations derived from the tropical-adapted cultivar Brasilia.
Palavras-chave: Daucus carota, herdabilidade, parâmetros genético, correlações, cultivo de verão.
Keywords: Daucus carota, genetic parameters, heritability, genetic
correlation, summer cropping
(Recebido para publicação em 23 de fevereiro de 2006; aceito em 29 de agosto de 2006)
A
s cultivares modernas de cenoura
(Daucus carota L.) foram desenvolvidas a partir de populações complexas, fenotipicamente heterogêneas e de
base genética ampla, tendo sido submetidas a diversos ciclos de seleção, em
diferentes regiões da Europa, antes de
alcançar o atual estádio de domesticação
(Vieira, 1988). Estas seleções foram
muito provavelmente focadas em
caracteres de planta e de raiz, sendo feitas via seleção massal (antes do
florescimento) à semelhança dos processos de seleção conduzidos com cebola
(Buso, 1978). O método de seleção
massal tem se mostrado como uma das
estratégias mais eficientes para o me-
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
lhoramento genético da cenoura, permitindo o desenvolvimento de inúmeras
cultivares com adaptação a diferentes
condições agroedafoclimáticas e combinando diversos atributos de interesse
para o cultivo, comercialização,
processamento e consumo desta
hortaliça (Vieira et al., 1983; Casali et
al., 1984; Rubatzky et al., 1999).
Dentro do contexto relativo ao processo de seleção, o conhecimento dos
componentes de variância é de fundamental importância uma vez que propicia as condições para estimar a
herdabilidade, predizer o ganho genético e avaliar as potencialidades de uma
população e a eficiência relativa dos di-
ferentes métodos de melhoramento, auxiliando, desta forma, a identificar a estratégia de seleção mais adequada
(Hallauer & Miranda Filho, 1981). Outro conjunto de informações extremamente útil é aquele obtido através dos
cálculos de correlações. Segundo
Ferreira et al. (2003), a correlação
fenotípica fornece uma estimativa da
influência conjunta de causas genéticas
e ambientais na expressão de uma dada
característica. Por sua vez, os valores de
correlação genotípica (que corresponde
à porção genética da correlação
fenotípica) têm sido empregados para
orientar programas de melhoramento
genético, uma vez que eles refletem a
363
JCS Alves et al.
fração da expressão fenotípica que é de
natureza herdável. Segundo Casali et al.
(1984), a determinação de parâmetros
genéticos-estatísticos de várias características de interesse da cenoura poderiam ter contribuído para avanços ainda
maiores no melhoramento de populações desta hortaliça permitindo o aumento da eficiência do processo de seleção. No entanto, estas informações
ainda estão em grande parte ausentes
para populações provenientes de
germoplasma de cenoura adaptado para
cultivo em regiões tropicais e
subtropicais (Vieira, 1988).
Freqüentemente os programas de
melhoramento genético de cenoura necessitam avaliar características de planta
tais como formato, tamanho, uniformidade e rugosidade da raiz, que são importantes no aspecto comercial da cultura. Os caracteres comprimento, diâmetro e peso de raiz, número de folhas,
comprimento de folhas e diâmetro de
xilema estão intimamente relacionados
com a produtividade e qualidade das
raízes. Todas essas características são de
crucial importância no desenvolvimento de novas populações de cenoura com
melhor aptidão para o processamento e
maior aceitação no mercado in natura
brasileiro (Vieira et al., 2001). Diversos estudos envolvendo diferentes populações de cenoura, avaliadas em diferentes condições edafoclimáticas, têm
sido implementados visando estimar os
valores de herdabilidade (Korla et al.,
1980; Brar & Sukhija, 1980; Timin,
1991; Nunes 1991; Vieira, 2001), bem
como os valores das correlações
genotípicas, fenotípicas e ambientais
(McCollum, 1971; Bhagchandani &
Choudhury, 1980; Nunes, 1991; Vieira
et al., 2001; Singh, 2002; Bhathia et al.,
2002) para a maioria da características
citadas anteriormente. Embora estes estudos tenham fornecido importantes informações, as estimativas de
herdabilidade e correlação estão tipicamente associadas a uma população específica, sob condições ambientais especiais.
Desta forma, objetivo do presente
trabalho foi estimar parâmetros genéticos relacionados a alguns dos principais
caracteres de planta (parte aérea e raiz)
relevantes para o melhoramento da ce364
noura, utilizando-se progênies derivadas
da cultivar Brasília, avaliadas durante o
período de verão no Distrito Federal.
Esta região pode ser considerada como
representativa
das
condições
edafoclimáticas predominantes no Brasil Central.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi implementado no
Centro Nacional de Pesquisas de Hortaliças, em terreno tipo Latossolo vermelho amarelo (LVA) distrófico
(Embrapa, 1999). Foram utilizadas 69
progênies de meios-irmãos obtidas de
uma população derivada da cultivar
Brasília, que foram cultivadas em campo durante o verão de 1999/2000. Estas
progênies foram dispostas no delineamento de blocos casualizados com duas
repetições e parcelas de 2m2, compostas por quatro linhas de 20 plantas cada.
O sistema de cultivo utilizado foi semeadura nos canteiros com posterior desbaste, 30 dias após o semeio. Os canteiros foram estabelecidos (preparo de
solo, correção de acidez de solo e adubação) de acordo com as recomendações
hˆ 2 = σˆ 2 g /como
σˆ 2 f
técnicas da cultura. Empregou-se
adubação química, 200 g da fórmula 414-8 por m2 na ocasião do plantio. Em
cobertura, utilizaram-se 40 g de sulfato
de amônio por m2, logo após o desbaste. Os tratos culturais foram os
comumente recomendados para esta
hortaliça, ressaltando-se que nenhuma
pulverização para controle de pragas ou
doenças foi executada durante o ciclo
de cultivo.
Na colheita (95 dias após o semeio),
retirou-se uma amostra de 13 plantas
competitivas de cada parcela, sendo que
cada uma dessas plantas foi avaliada
para os seguintes caracteres: (1) número de folhas por planta, correspondente
ao número de folhas com no mínimo 5
cm de comprimento em cada planta; (2)
comprimento da maior folha da planta,
tomado do ponto de inserção na raiz até
a extremidade do último folíolo; (3)
comprimento da raiz, medido desde a
inserção das folhas até a ponta da raiz;
(4) peso da raiz, quantificado em balança de precisão de 1 g; (5) diâmetro da
raiz, medido com paquímetro na metade do comprimento da raiz e; (6) diâ-
metro do xilema, medido com
paquímetro na metade do comprimento
da raiz. Em seguida, os dados individuais obtidos foram transformados para
média da parcela e submetidos à análise de variância e covariância, utilizando-se o aplicativo computacional
Genes-UFV (Cruz, 1997). Foram estimados os seguintes parâmetros:
Variância fenotípica entre médias de
σˆ 2 f = (QMP / r ) ,
progênies:
onde: σ̂ 2 f
= variância fenotípica, r=
repetições e QMP= quadrado médio das
progênies;
Variância genotípica entre médias de
progênies:
σˆ 2 g = (QMP / QMR ) / r ,
σ̂ 2 g =
onde:
variância genotípica,
QMP= quadrado médio das progênies,
QMR= quadrado médio do resíduo e r=
repetições;
Variância genética aditiva:
σˆ 2 g = 1 4.σˆ a2 ,
2
onde σˆ a = variância genética aditiva e
σ̂ 2 g = variância genotípica;
Variância ambiental média:
σˆ e2 = (QMR / r ) ,
onde: σ̂ 2 e = variância ambiental,
QMR= quadrado médio do resíduo e r=
repetições;
Herdabilidade no sentido amplo (baseada na média das parcelas)
⇒
onde:
2
hˆa = herdabilidade no sentido
amplo,
σ̂ 2 f
,
σ̂ 2 g =
variância genotípica e
= variância fenotípica;
Coeficiente de variação genética:
CVˆg =
onde:
( σˆ
2
g
)
/ mˆ x100 ,
CVˆg = coeficiente de variação
genética, = variância genotípica e
corresponde a média geral do caráter.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília
Tabela 1. Estimativas das variâncias fenotípicas (Vf), genotípicas (Vg), genética aditiva (Va), ambientais (Ve), herdabilidade no sentido
amplo (ha2), coeficiente de variação genético (CVg) e razão entre coeficiente de variação genético e ambiental (CVg/CVe), para os caracteres
de planta. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000.
1
NFP= número de folhas médio por planta em cada parcela; CF= comprimento médio da maior folha; PR= peso médio da raiz por parcela;
CR= comprimento médio da raiz por parcela; DR= diâmetro médio de raiz por parcela; DX= diâmetro médio do xilema da raiz por parcela.
Correlações fenotípicas:, onde: correlação fenotípica, PMPxy= produto médio das progênies/tratamentos, QMPx=
quadrado médio do caráter x das progênies/tratamentos e QMPTy-= quadrado
médio progênies/tratamentos total;
Correlações ambientais: , onde: correlação ambiental, PMPxy= produto médio do resíduo, QMRx= quadrado médio
do resíduo do caráter X e QMRy= quadrado médio do resíduo do caráter Y;
Correlações genotípicas: , onde: correlação genotípica, estimador da
covariância genética dos caracteres X e
Y e e = estimadores da variância genéticas dos caracteres X e Y, respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferenças significativas entre as 69 famílias de meios-irmãos avaliadas, a 1% de probabilidade, pelo teste F, para os caracteres número médio
de folhas por planta (NFP), comprimento médio da maior folha (CF), peso médio da raiz (PR), comprimento médio
da raiz (CR), diâmetro médio de raiz
(DR) e diâmetro médio do xilema da raiz
(DX), evidenciando que existe variabilidade entre as famílias.
Os valores de herdabilidade no sentido amplo (ha2) foram medianamente
altos para todos os caracteres, exceto
para DR, que foi de 29,9% (Tabela 1).
Valores de herdabilidade relativamente
elevados para essas características em
cenoura já haviam sido reportados anteriormente. Korla et al. (1980) relataram valores de herdabilidade da ordem
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
de 64,3% e 90%, respectivamente para
PR e CF, similares aos verificados no
presente estudo. Por sua vez, Brar &
Sukhija (1980) detectaram valores altos de herdabilidade no sentido amplo
para CF (98%), PR (85%), DR (76%) e
CR (76%). Em estudos conduzidos no
Brasil, Vieira et al. (2001) constataram
valores de herdabilidade para CR que
variaram de 12% a 44% em progênies
derivadas da cultivar Alvorada. As diferenças de valores de herdabilidade
encontrados no presente estudo com
aqueles reportados por Vieira et al.
(2001), Brar & Sukhija (1980) e Timin
(1991) podem ser atribuídas à utilização de populações com diferentes bases genéticas.
Quanto à relação CVg/Cve (Tabela 1)
foram encontrados valores menores que
a unidade para quase todos os caracteres
estudados, evidenciando que a adoção
exclusiva de métodos simples de melhoramento, como seleção massal, não reverterá em ganhos consideráveis, sendo recomendável o emprego de unidades de seleção estruturadas como, por
exemplo, famílias. Segundo Vencovsky
(1987), existe uma situação muito favorável para a obtenção de ganhos na
seleção quando a relação CVg/CVe tende a um (1,0) ou maior que 1,0, na medida em que, nesses casos, a variação
genética supera a variação ambiental.
Por este princípio, a seleção quando é
praticada no primeiro ano maximiza o
ganho genético, que vai paulatinamente diminuindo a partir dos anos subseqüentes. O maior valor da relação CVg/
CVe (1,31) foi observado para CF indi-
cando que seleção para este caráter apresenta as condições mais favoráveis em
termos de ganhos genéticos imediatos.
Os valores dos coeficientes de variação genética (CVg) para os caracteres
estudados variaram de 4,87 a 10,96;
enquanto os valores dos coeficientes de
variação ambiental (CVe) variaram de
5,31 a 13,53. Entretanto, os valores dos
coeficientes de variação ambiental foram baixos para maioria dos caracteres
(Tabela 1), o que denota um bom controle ambiental, eficiência no desenho
experimental e baixa variabilidade genética na população em estudo, exceto
para a característica CF.
O baixo valor de herdabilidade (ha2)
observado para o caráter DR (Tabela 1)
pode ser decorrente do estreitamento
genético após sucessivos ciclos de seleção visando o aumento de produtividade (peso de raiz= PR). O caráter DR
apresenta alto valor de correlação
genotípica com PR (r= 0,84), o que pode
ter conduzido a redução considerável da
variabilidade genética para estes atributos. É interessante comparar os resultados obtidos neste trabalho com os resultados obtidos com progênies da cultivar Brasília, avaliadas em Minas Gerais. No estudo realizado em Minas
Gerais, as estimativas de herdabilidade
para DR, CR e DX foram da ordem de
53,7%, 61,6% e 31,8%, respectivamente (Nunes, 1991). Vale ressaltar que o
valor mais elevado de herdabilidade
(CF= 77,6%) pode ser explicado, em
parte, pela ausência de inclusão deste
atributo como um dos objetivos básicos
nos programas de melhoramento genético de cenoura conduzidos no Brasil.
365
JCS Alves et al.
Tabela 2. Matriz de correlações fenotípicas (rF), genotípicas (rG) e ambientais (rA) entre
caracteres de planta de cenoura de 69 famílias de meios-irmãos provenientes da cultivar
Brasília. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000.
*Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste t; 1NFP= número de folhas médio
por planta em cada parcela; CF= comprimento médio da maior folha; PR= peso médio da
raiz por parcela; CR= comprimento médio da raiz por parcela; DR= diâmetro médio de raiz
por parcela; DX= diâmetro médio do xilema da raiz por parcela.
Foram calculadas ainda as correlações fenotípica, genotípica e ambiental
para os seis caracteres avaliados (Tabela 2). A mencionada magnitude do valor de correlação genotípica positiva
entre PR e DR (0,84) foi muito próxima
ao valor encontrado por McCollum
(1971) para este par de caracteres (r=
0,87). Vieira et al. (2001) também encontraram valor similar (r= 0,90) em progênies da cultivar Alvorada. Singh
(2002), avaliando valores de correlação
em caracteres de raiz de cenoura, verificou a ocorrência de coeficientes de correlação genotípica alta e positiva entre
comprimento e peso de raiz. Estes resultados são de certa maneira esperados uma
vez que peso de raiz é uma característica
dependente, dentre outros atributos, da
largura e comprimento da raiz.
A estimativa do valor de correlação
genotípica negativa observado entre
NFP e DX (r= -0,25), poderia ser decorrente da existência de pleiotropia ou
de alelos ligados em fase de repulsão. É
interessante também notar que a magnitude no valor da correlação genotípica
para NFP e DX parece ser uma característica peculiar do germoplasma tropical brasileiro de cenoura uma vez que
valores relativamente próximos (r= 0,15 e r= -0,28) foram também encon366
trados em trabalhos independentes conduzidos por Nunes (1991) e por Vieira
et al. (2001), respectivamente. Vale ressaltar que a existência de correlação
genotípica negativa entre os pares de
caracteres (CR x DX) indicam a possibilidade de desenvolvimento de populações com qualidade de raiz adequada
para processamento mínimo visando a
produção das chamadas mini-cenouras
(“baby-carrots”) a partir de populações
derivadas da cultivar Brasília. Para alcançar boa qualidade e rendimento na
produção de mini-cenouras, busca-se
combinar menor diâmetro de xilema e
maior comprimento de raiz.
Os valores de correlação genotípicas
(Tabela 2) envolvendo (NFP x CF),
(NFP x PR), (NFP x CR) e (NFP x DR)
são similares àqueles encontrados por
Vieira et al. (2001) para esses mesmos
pares de caracteres na cultivar Alvorada. Adicionalmente, os valores relativos
a correlação genotípica entre NFP e PR
(Tabela 2) são similares aos encontrados por Bhathia et al. (2002). Já a estimativa de correlação genotípica entre
DR e PR (Tabela 2) foi similar ao resultado encontrado por McCollum (1971),
da ordem de 0,87.
Bhagchandani & Choudhury (1980)
constataram alta correlação genotípica
positiva entre DR e DX (r= 0,97), diferentemente do resultado obtido neste
trabalho, r= 0,30 (Tabela 2). Esse fato
pode ser decorrente do diferente grau de
melhoramento das populações utilizadas em cada tipo de estudo. Adicionalmente, vale destacar os sinais negativos
de algumas correlações ambientais entre pares de caracteres indicam que o
ambiente afeta um caráter em detrimento do outro (Tabela 2). Além disso, verificam-se combinações de pares de
caracteres em que os sinais das correlações genotípicas e ambientais são diferentes, indicando que as causas de variação genética e ambiental
presumivelmente influenciaram os
caracteres por meio de diferentes mecanismos fisiológicos (Falconer, 1981).
Os valores de herdabilidade e correlações estabelecidos em outras populações, sob outras circunstâncias de cultivo, podem ser semelhantes se a estrutura genética da população e/ou as condições de ambiente não apresentarem
grandes variações (Vieira, 1988). Desta
forma, o acúmulo de conhecimento sobre os parâmetros genéticos associados
a estas características em populações da
cultivar Brasília pode permitir o estabelecimento estratégias de melhoramento mais efetivas visando desenvolver
cultivares superiores para macro-regiões
cujas condições ambientais sejam relativamente uniformes, tais como o Planalto Central do Brasil.
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367
CASTELO BRANCO M; NOGUEIRA JM; SANTOS RC. 2006. Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO.
Horticultura Brasileira 24:368-372.
Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do
Descoberto - GO1
Marina Castelo Branco2; Jorge M Nogueira3; Rodrigo C dos Santos4
2
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 3UnB-Depto. Economia, Brasília-DF; 4Estudante Faculdade da Terra de
Brasília e Bolsista CNPq; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A cidade de Santo Antônio do Descoberto está localizada a 46
km de Brasília e grande parte da sua população vive abaixo da linha
de pobreza. Neste trabalho, o perfil e o padrão de consumo de hortaliças na cidade foi avaliado. Setenta e três consumidores
freqüentadores do Mercado Municipal e 30 de uma região periférica
(Bairro do Queiroz) foram entrevistados para a coleta de informações sobre hortaliças adquiridas no dia, número de indivíduos na
família e renda familiar. No Mercado Municipal, 92% das famílias
adquiriam hortaliças semanalmente e consumiam os produtos geralmente em no máximo três dias. Trinta e cinco por cento das famílias
tinham renda que as situava abaixo da linha de pobreza. Alface, tomate e batata eram os produtos mais comumente consumidos. Por
outro lado, na região periférica, 86% das famílias entrevistadas estavam abaixo da linha de pobreza e apenas 44% delas adquiriam
hortaliças semanalmente. Alface e cebola eram os produtos mais
consumidos e nenhuma família comprava tomate, provavelmente
devido ao preço elevado deste produto. O tipo e freqüência de hortaliças adquiridos são influenciados pela renda familiar, com as famílias mais pobres consumindo menos.
Profile of vegetable consumers of Santo Antônio do
Descoberto town, Goiás State, Brazil
Palavras-chave: mercado, renda, socioeconomia.
Keywords: market, income, socioeconomics.
Santo Antônio do Descoberto is located 46 km away from Brasília
and the great majority of its population lives under the poverty line.
In this work, vegetable consumption and consumers profile of Santo
Antônio do Descoberto town were evaluated. Seventy consumers in
the Municipal Market and 30 in a peripheral region (‘Bairro do
Queiroz’) were interviewed. Information about vegetables bought
in that day, number of people in the family and family income were
obtained. The results showed that 92% of the families interviewed
at the Municipal Market bought vegetables weekly and consumed
them in nearly three days; 35% of the families were under the poverty
line. Lettuce, tomato and potato were the most consumed vegetables.
On the other hand, in the peripheral region, only 44% of the families
bought vegetables weekly; 86% of the families were under the
poverty line. Lettuce and onion were the main vegetables consumed
in the region. None of the families consumed tomato, probably due
to its high cost. The type and frequency of vegetable consumption
was influenced by the families’ income, where poor families
consumed less vegetables.
(Recebido para publicação em 13 de março de 2006; aceito em 24 de agosto de 2006)
O
município de Santo Antônio do
Descoberto está localizado a 46 km
de Brasília. Em 2000, a população total
da cidade era de 51.897 habitantes, sendo que 48.398 destes se localizavam na
área urbana. A população da cidade era
composta predominantemente de jovens;
26% tinham menos de nove anos e 68%
menos de 29 (Governo do Distrito Federal, 2002). O grau de instrução da população do município é baixo. Segundo levantamento do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em 2004 haviam 32.653
eleitores e 71,86% destes tinham no máximo o primeiro grau incompleto (TREGO, 2004). Atualmente, Santo Antônio
é considerada uma “cidade dormitório”
e calcula-se que diariamente cerca de
10.000 pessoas se dirigem ao Distrito
Federal para prestação de serviço. A população da cidade é pobre. Na área central existe água tratada nas residências.
Na periferia, que vem se expandido rapidamente nos últimos anos, as residências são atendidas por poços artesianos
(Ministério do Meio Ambiente, s.d.).
Não existem estudos sobre as condições de alimentação da população na
cidade, mas sabe-se que este item responde por parte considerável dos rendimentos das famílias pobres. O IBGE
(2004) constatou que para famílias com
renda até R$ 400,00, a alimentação consumiu 32,68% da renda. No entanto, os
padrões alimentares das famílias carentes não são iguais; preferências do consumidor, composição familiar e renda
influenciam estes padrões. Por exemplo,
famílias mais pobres tendem a ter um
menor consumo de hortaliças (Homem
de Melo et al., 1988; Roux et al., 2000;
Vilela & Henz, 2000).
Tendo em vista as condições sócioeconômicas precárias de Santo Antônio
do Descoberto, o objetivo deste trabalho
foi fazer um estudo do mercado consumidor de hortaliças do município. Para
isso foram entrevistados consumidores
que freqüentavam o Mercado Municipal,
o qual comercializa cerca de 70% das
hortaliças da cidade, e consumidores que
viviam no Bairro do Queiroz, localizado
na periferia de Santo Antônio. Este local
era uma antiga fazenda que foi loteada.
O bairro não conta com ruas asfaltadas.
As residências possuem água fornecida
pela SANEAGO ou água bruta prove-
1
Projeto financiado pelo CNPq. Edital MCT/MESA/CNPq/CT Agronegócio 001/2003.
368
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO
niente de cisterna. Algumas residências
possuem fossas para o escoamento do
esgoto sanitário. A segurança do local é
precária. Segundo os moradores, após às
19 h é perigoso sair de casa devido à violência urbana. O Mercado Municipal está
situado à cerca de 7 km do bairro.
Tabela 1. Renda per capita e distribuição da população de crianças (menores de 15 anos) e
de adultos (maiores de 15 anos) de acordo com a renda per capita de famílias entrevistadas
no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa
Hortaliças, 2004.
MATERIAIS E MÉTODOS
Consumidores do Mercado Municipal de Santo Antônio do Descoberto
Nos dias 27/06/2004 e 11/07/2004
foram entrevistados, respectivamente,
40 e 33 consumidores escolhidos aleatoriamente na saída do mercado. Foram
obtidas informações sobre os tipos e
quantidades de hortaliças adquiridas no
dia, freqüência de compra, número de
indivíduos na família, bem como a renda familiar total (Castelo Branco, 2005).
Em 27/06/2004, os entrevistados responderam qual era a faixa de renda da
família (0 a R$ 260,00; R$ 261,00 a R$
520,00; R$ 520,00 a R$ 780,00 ou mais
de R$ 780,00). A exceção foram 12 indivíduos que indicaram a renda familiar
exata. Ocorre porém que a renda por faixas não permitia a determinação da renda per capita familiar. Verificou-se que
a faixa de renda era importante para se
determinar as famílias que se encontravam abaixo da linha de pobreza (0,5 salário mínimo per capita) ou na indigência (renda mensal per capita de 0,25 salário mínimo) (IPEA/IBGE, 2004). Por
isso, o questionário empregado no dia 11/
07 sofreu uma alteração: neste dia perguntou-se diretamente aos entrevistados
o valor exato da renda auferida pela família. Neste dia também foram obtidas
informações sobre o número de crianças
menores de 15 anos presentes nas famílias, a fim de verificar qual população,
adultos ou crianças, era mais afetada pela
pobreza. Todos os dados obtidos foram
tabulados e quando apropriado, empregou-se estatística descritiva na análise.
Consumidores do Bairro do
Queiroz
A fim de avaliar o consumo de hortaliças pela população deste bairro, foi
escolhido ao acaso um quarteirão do
local, o qual era composto por 39 residências. Para a obtenção de dados sobre tipos e quantidades de hortaliças
adquiridas, freqüência de compra de
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
1
Salário mínimo= R$ 260,00; 2Mercado= Mercado Municipal onde n=49 famílias 3Queiroz=
Bairro do Queiroz onde n= 28 famílias; 4Número total crianças= 51; 5Número total adultos= 126
Figura 1. Freqüência de compra de hortaliças de famílias entrevistadas no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa Hortaliças, 2004.
hortaliças e local, número de membros
da família e renda, todas as 39 residências foram visitadas, mas em apenas 30
delas foram encontrados moradores, os
quais responderam o questionário. O
questionário empregado nesta avaliação
foi aplicado no dia 06/07/2004. Os dados foram tabulados e a estatística descritiva foi empregada na análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As 73 famílias entrevistadas no Mercado Municipal eram pouco numerosas;
82% da amostra tinha até cinco membros. Com relação a renda familiar,
34,7% das famílias estavam abaixo da
linha de pobreza (0,5 salário mínimo per
capita) e 18,4 abaixo da linha de indigência (renda per capita inferior a 0,25
salários mínimos) (Tabela 1). No Bairro do Queiroz, as famílias eram mais
numerosas; 48% tinham no máximo cinco membros e 21% tinham entre sete e
onze membros. A realidade econômica
das famílias era pior. Famílias com renda abaixo da linha de pobreza representaram 86% da amostra, e destas, 54%
estavam abaixo da linha de indigência,
número este quase 200% superior ao observado no Mercado Municipal (Tabela 1). Entre as 15 famílias do Bairro
do Queiroz com renda abaixo da linha
de indigência, nove complementavam a
renda familiar com recursos provenientes de programas de transferência de
renda do Governo Federal ou Estadual
(Bolsa Escola ou Renda Cidadã) e duas
viviam exclusivamente de um destes
programas. Os valores recebidos variavam de R$ 15,00 a R$ 65,00. Os programas de transferência de renda têm
como objetivo reduzir a pobreza momentânea da população e reduzir a pobreza futura, se aliado à condições que
melhorem o capital humano, como acesso a educação e saúde pública. Teoricamente estes programas são dirigidos a
famílias carentes (Bourguignon et al.,
369
M Castelo Branco et al.
Figura 2. Hortaliças adquiridas por famílias entrevistadas no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa Hortaliças, 2004.
2003). Por exemplo, para ser elegível
para o Programa Bolsa Família, em 2004
as famílias deveriam estar em situação
de extrema pobreza, com renda mensal
per capita até R$ 50,00 ou deveriam ser
famílias pobres e extremamente pobres
com crianças e jovens entre 0 e 16 incompletos com renda mensal até de R$
100,00 per capita (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome,
s.d.). No entanto, no Bairro do Queiroz
foi observado que duas famílias com
renda per capita superior a 0,75 salário
mínimo (R$ 195,00 na época) eram beneficiadas por um destes programas. Isto
indicava que famílias não incluídas no
critério governamental eram atendidas.
Os fatores que determinaram este problema não foram identificados.
Outro fator que demonstrou a pobreza das famílias do Bairro do Queiroz foi
a avaliação do emprego das famílias. Da
população economicamente ativa da
amostra, 25% estavam desempregados
e 41% tinham emprego informal. No
município eles eram pedreiros,
faxineiros, lavadeiras, carroceiros,
catadores de lata e papelão, ajudantes
de obra, trabalhadores diaristas em fazendas. Um tomava conta de veículos
em Brasília e o outro era ajudante de
caminhão no Distrito Federal. Desse
modo, constatou-se que grande parte dos
empregos informais era encontrada na
própria cidade, talvez pela impossibilidade desta população arcar com os custos do transporte para o DF. Uma grande reivindicação da população local é a
implantação do pólo industrial para a
criação de empregos no município (Mi370
nistério do Meio Ambiente, s.d.). Os trabalhadores com emprego formal representaram 19,6% da amostra. Do total de
10 trabalhadores, apenas três trabalhavam no município, e os demais no DF,
ou seja, estes indivíduos usavam a cidade apenas como dormitório.
Tanto no Mercado Municipal como
no Bairro do Queiroz, foi observado que
as crianças eram mais afetadas pela pobreza do que os adultos (Tabela 1). O
problema era mais acentuado no Bairro
do Queiroz, onde 85% das crianças viviam em famílias com nível de renda
per capita abaixo da linha de indigência. Tais níveis de pobreza permitem
inferir que os níveis de desnutrição devem ser maiores nas crianças do Bairro
quando comparado ao nível de desnutrição das crianças das famílias entrevistadas no Mercado Municipal. Isto
porque os níveis de desnutrição diminuem significativamente com as
melhorias dos padrões de vida (Wagstaff
& Watanabe, 2000). Esta inferência será
constatada a seguir, quando mostrarmos
o consumo de alimentos, e mais especificamente de hortaliças, pelas famílias
dos dois locais.
No que se refere a aquisição de hortaliças, a maior parte das famílias que
freqüentavam o Mercado Municipal
comprava estes produtos pelo menos
uma vez por semana (Figura 1). Alface
e tomate, seguidos de batata, cenoura e
coentro, eram as hortaliças mais
consumidas (Figura 2). O padrão de
consumo de hortaliças desta população
não difere de padrão de consumo do
país. A alface é a folhosa mais
consumida no Brasil. Na cidade de São
Paulo, cada habitante consome quase 2
kg por ano e 40% dos gastos com hortaliças são empregados na aquisição de
alface (Ceasa Campinas, s.d.).
Olerícolas como brócolis, feijão-vagem,
espinafre, agrião, mostarda, abobrinha,
pepino, chuchu, quiabo e jiló foram adquiridas por menos de seis famílias. No
período de levantamento de dados desta pesquisa o clima era desfavorável para
a produção de quiabo e jiló. Com isto, a
disponibilidade no mercado era restrita, provavelmente devido ao preço elevado destes produtos. Informações obtidas junto a donos de “sacolões” da cidade mostraram que na época de inverno, a oferta destes produtos diminui e
com isso os preços se elevam. No verão, o consumo aumenta, acompanhando a redução dos preços (Castelo Branco, 2005).
O gasto médio com hortaliças das
famílias entrevistadas no Mercado Municipal foi de R$ 5,97 no dia 11/06 e de
R$ 6,09 no dia 11/07. A percentagem
da renda familiar gasta com hortaliças
neste dia variou de 0,12% a 3,85%, com
média de 1,11%. Isto significa que, considerando-se quatro semanas em um
mês, uma família poderia gastar em
média 4,44% da sua renda com hortaliças. Algumas famílias relataram que as
hortaliças adquiridas no Mercado Municipal não eram suficientes para o consumo diário. Geralmente as famílias consumiam o volume adquirido em dois ou
três dias e nos outros dias não consumiam estes alimentos, ainda que o desejassem. Este resultado não é novo, como
descrito por Lima et al. (1989) em Minas Gerais. Os autores observaram que
famílias com renda de até dois salários
mínimos tinham um consumo insuficiente de hortaliças e poderiam incluir mais
destes alimentos em suas refeições, se
tivessem renda disponível para tal.
A limitação do consumo de hortaliças expõe crianças e adultos a uma série de doenças, inclusive a cegueira.
Roncada et al. (1981), por exemplo,
observaram em algumas comunidades
do estado de São Paulo um consumo per
capita de 10 a 83 g diária de hortaliças
e consideraram este consumo insignificante [em Cuba, o programa de horta
urbana do Estado planeja que a populaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO
ção do país atinja um consumo de mais
de 200 g per capita diário de hortaliças
(Companión et al., 2001).] Devido ao
baixo consumo de hortaliças, (Roncada
et al 1981) verificaram deficiência de
caroteno e vitamina A na população,
sendo as maiores deficiências observadas em crianças com idade inferior a 10
anos. Isto fazia com que estas estivessem mais expostas à cegueira.
Algumas poucas famílias entrevistadas no Mercado Municipal adquiriam
hortaliças mais de uma vez por semana
em “sacolões” ou em pequenos mercados espalhados pela cidade (Figura 1).
Nestes casos, os consumidores buscavam sempre os menores preços. Uma
família, com um membro trabalhando
em um mercado do Distrito Federal,
adquiria hortaliças também no local de
trabalho. Famílias que adquiriam hortaliças duas vezes por mês ou tinham
consumo irregular representaram menos
de 10% da amostra (Figura 1). A família de consumo irregular o fazia porque
tinha no quintal uma pequena horta com
alface, chuchu e cebolinha.
No Bairro do Queiroz, o consumo
de hortaliças pelas famílias era bastante
inferior; apenas 34% das famílias consumiam estes produtos semanalmente
(Figura 1). Entre as famílias que consumiam hortaliças toda semana, uma o
fazia porque a mulher recolhia alface,
batata e cebola descartados pelos atacadistas aos domingos no Mercado Municipal. Uma outra família tinha uma horta em casa com pimenta, alface, quiabo, chuchu e couve e adquiria semanalmente no Mercado Municipal os produtos que não plantava. No entanto, o gasto com água para irrigação das hortaliças gerava problemas. A conta devida a
companhia estadual de água se tornava
mais elevada quando as hortaliças eram
irrigadas. Sem irrigação, a conta era em
média de R$ 11,00; com esta prática, o
valor chegava a até R$ 31,00 por mês,
ou seja, um aumento de quase 200%. A
alternativa para a redução da conta de
água era o emprego da água usada para
a lavagem da roupa. No município é
comum o uso de sabão de fabricação
caseira, em diferentes pontos da cidade. Como se desconhece a composição
destes produtos, não se sabe o nível de
resíduos que estes poderiam deixar nas
hortaliças consumidas pela família.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Algumas famílias do Bairro do
Queiroz adquiriam hortaliças mais de
uma vez por semana (Figura 1). Neste
caso, isto era geralmente feito porque a
ausência de geladeira impedia a conservação dos produtos. Outras famílias adquiriam hortaliças apenas uma vez por
mês (Figura 1). Uma família tinha esse
nível de consumo porque a mulher ia a
CEASA/DF recolher restos de cenoura,
beterraba e berinjela e nestas ocasiões
chegava a obter até 5 kg destas hortaliças. As folhosas não eram recolhidas devido à rápida deterioração das mesmas.
Famílias que compravam esporadicamente hortaliças ou que nunca adquiriam estes produtos representaram 30%
da amostra (Figura 1). Nestes casos, a
família destinava a renda para a aquisição de produtos básicos como arroz,
feijão, macarrão, óleo e farinha. Seis
famílias relataram que, devido ao trabalho informal, em muitas ocasiões não
dispunham de nenhuma renda, o que fazia com que não pudessem nem adquirir
os produtos básicos para o consumo do
dia. Estas famílias eram bastante numerosas, chefiadas por mulheres e
freqüentemente com adolescentes de 13 a
15 anos que, no momento da entrevista,
se encontravam grávidas do primeiro, segundo ou terceiro filho. Isto significava
que esta parcela da população vivia em
estado de fome crônica, que ocorre quando a alimentação habitual não proporciona energia suficiente para a manutenção
do organismo (Monteiro, 2003).
Alface era a hortaliça mais
consumida pela população do Bairro do
Queiroz, a exemplo do observado com
os consumidores do Mercado Municipal. Em seguida vinham cebola, batata,
coentro e cebolinha. Nenhuma das famílias adquiria tomate, ao contrário dos
consumidores do Mercado Municipal,
onde esta hortaliça era a segunda mais
consumida (Figura 2). A disponibilidade de renda da população e o custo deste produto podem explicar este resultado, fenômeno este já observado por
Brumfield et al. (1993).
Os resultados do consumo de hortaliças das famílias do Mercado Municipal e das famílias do Bairro do Queiroz
confirmam que a disponibilidade de renda e os preços das hortaliças são fatores
determinantes tanto da quantidade como
da qualidade adquirida de cada alimento (Roncada,1975; Castro et al., 2005).
Isto também foi confirmado por Lima
et al. (1989) que analisaram a cesta básica da população de Ponte Nova (MG).
Os autores encontraram, por exemplo,
que famílias na faixa de renda de até dois
salários mínimos consumiam 7 g e 3 g
per capita diária de tomate e cenoura,
respectivamente. Este valor subia para
25 g e 8 g per capita por dia para tomate e cenoura para famílias com renda
superior a 20 salários mínimos.
Outras duas observações realizadas
no trabalho de campo confirmam a importância da disponibilidade de renda
para o consumo de hortaliças. A primeira
foi proporcionada por comerciantes do
Mercado Municipal que indicaram que
o consumo da população era maior nas
duas primeiras semanas do mês, já que
com os salários recebidos, a disponibilidade de renda era maior. A
indisponibilidade de renda para consumo da quantidade de alimentos necessários para a sobrevivência já foi constatada pelo IBGE (2004), que verificou
que 85% das famílias brasileiras tinham
alguma dificuldade para chegar ao fim
do mês com a renda disponível e 47%
considerou insuficiente a quantidade de
alimento consumida habitualmente.
A segunda observação sobre a importância da disponibilidade de renda
para o consumo de hortaliças foi proporcionada pela quantidade de alface
vendida no Mercado Municipal. Em avaliações realizadas com os comerciantes
do local, foi estimado que eram vendidas semanalmente 5.000 cabeças de alface. Considerando que o Mercado Municipal comercializava 70% das hortaliças do município, e, considerando que a
população da cidade girava ao redor de
70.000 habitantes, têm-se que em média
era consumida 0,07 cabeça de alface/habitante/semana. Em Curitiba, por exemplo, foi estimado que o consumo médio
de alface deveria ser de 0,03 cabeças/
pessoa/dia (Silva & Schwonka, 2001).
Em resumo, os resultados deste trabalho confirmaram a existência de famílias extremamente carentes no município de Santo Antônio do Descoberto,
ou seja, famílias onde as necessidades
elementares de alimentação não eram
satisfeitas. No que se refere ao consu371
M Castelo Branco et al.
mo de hortaliças foi constatado que o
consumo destes produtos foi afetado
pela renda, com famílias mais pobres
consumindo menos destes produtos. A
ausência de consumo freqüente de hortaliças deve afetar o estado de saúde da
população de Santo Antônio do Descoberto já que as hortaliças são fontes de
micro-nutrientes, fundamentais para a
manutenção de condições adequadas de
vida (Lock et al., 2005). Neste sentido,
políticas públicas visando propiciar o
acesso direto ou indireto a estes produtos podem contribuir para a melhoria do
estado de saúde das famílias carentes.
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Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes
com bactérias epifíticas e endofíticas
Aldenir de Oliveira1*; Marcos H M dos Santos1; Elineide B da Silveira2; Andréa M A Gomes2; Rosa de LR
Mariano3**
UFRPE, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n°, Dois Irmãos, 52171-030 Recife-PE; 1Estudante de Agronomia; 2Depto. Biologia/
Microbiologia; 3Depto. Agronomia/Fitossanidade; *Bolsista PIBIC/CNPq; **Bolsista Produtividade CNPq; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Bactérias epifíticas e endofíticas (96 isolados) e fungos
endofíticos (69 isolados) foram obtidos de plantas de melão sadias e
testados no controle da mancha-aquosa, em condições de casa de
vegetação, pelo tratamento de sementes pré-inoculadas com
Acidovorax avenae subsp. citrulli ou pelo tratamento de sementes
sadias visando a proteção da planta a posterior inoculação com o
patógeno. As sementes de melão foram microbiolizadas por imersão
nas suspensões (A570= 0,7), semeadas e avaliadas quanto ao período
de incubação (PI), incidência (INC), severidade da doença (SEV) e
redução da severidade da doença (RSD). Apenas a microbiolização
de sementes artificialmente infectadas, utilizando os endofíticos
ENM5 (não identificado), ENM9 (Bacillus cereus), ENM13 (Bacillus
sp.), ENM16 (Bacillus cereus), ENM32 (Bacillus subtilis) e ENM43
(Bacillus sp.), revelou potencial para o controle da mancha-aquosa.
Esses isolados, após o teste de compatibilidade in vitro, foram
reavaliados isoladamente e em misturas dois a dois quanto ao PI,
INC, SEV e RSD, além do índice de doença (IDO) e área abaixo da
curva de progresso da doença (AACPD). Todos os tratamentos diferiram significativamente (P= 0,05) da testemunha, com RSD de até
93,6%, destacando-se os isolados ENM13 e ENM9 com PI de 7,5 e
7,25 dias, SEV de 0,22 e 0,22, IDO de 2,59 e 2,59, e AACPD de
0,22 e 0,39, respectivamente. Ensaios foram realizados in vitro para
a determinação dos possíveis mecanismos de ação envolvidos no
controle biológico. Os isolados ENM13 e ENM9 solubilizaram
fosfato, ENM5 apresentou antibiose contra A. avenae subsp. citrulli,
ENM43 produziu HCN enquanto ENM16 e ENM32 não apresentaram nenhum dos mecanismos testados.
Biocontrol of bacterial blotch of melon by seed treatment
with epiphytic and endophytic bacteria
Palavras-chave: Cucumis melo, Acidovorax avenae subsp. citrulli,
semente, Bacillus spp., controle.
Keywords: Cucumis melo, Acidovorax avenae subsp. citrulli, seed,
Bacillus spp., control
Epiphytic and endophytic bacteria (96 strains) and endophytic
fungi (69 strains) were isolated from symptomless melon plants and
tested for control of fruit blotch under greenhouse conditions, by
treating seeds previously inoculated with Acidovorax avenae subsp.
citrulli or treating healthy seeds in order to protect the plant
challenged later with the pathogen. Melon seeds were microbiolized
by immersion in suspensions (A570= 0,7), sown and evaluated for
incubation period (PI), incidence (INC), disease severity (SEV) and
disease severity reduction (RSD). Only microbiolization of artificially
infected seed using the endophytic ENM5 (not identified), ENM9
(Bacillus cereus), ENM13 (Bacillus sp.), ENM16 (Bacillus cereus),
ENM32 (Bacillus subtilis) and ENM43 (Bacillus sp.), showed
potencial for disease control. After in vitro compatibility tests, these
strains were reevaluated separately and in pairs, in relation to PI,
INC, SEV, RSD, disease index (IDO) and area under disease progress
curve (AACPD). All treatments differed significantly (P= 0.05) from
the control reaching 93.6% of RSD, with emphasis for ENM13 and
ENM9 with 7.5 and 7.25 days of PI, 0.22 and 0.22 of SEV, 2.59 and
2.59 of IDO, and 0.22 and 0.39 of AACPD, respectively. In vitro
tests to determine the putative mechanisms of action involved in
biocontrol were performed. ENM13 and ENM9 solubilized
phosphate, ENM5 presented antibiose against A. avenae subsp.
citrulli, and ENM43 produced HCN while ENM16 and ENM32 did
not show any of the tested mechanisms.
(Recebido para publicação em 27 de julho de 2005; aceito em 11 de agosto de 2006)
A
mancha-aquosa causada por
Acidovorax avenae subsp. citrulli
é a principal doença bacteriana que ocorre nos campos de melão do Nordeste, e
responsável por grandes perdas de produção e depreciação dos frutos, principalmente no Rio Grande do Norte e
Ceará (Sales Júnior & Menezes, 2001).
Desde que Assis et al. (1999) relataram
a ocorrência dessa doença no Rio Grande do Norte em 1997, têm sido assinaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
ladas perdas entre 40 a 50%, atingindo
até 100% em períodos chuvosos (Sales
Júnior & Menezes, 2001). Posteriormente, essa doença também foi relatada no Ceará (Santos & Viana, 2000),
Pernambuco (Mariano & Silveira, 2004)
e Bahia (Mariano et al., 2004a).
Os sintomas da mancha-aquosa podem se manifestar em qualquer fase de
desenvolvimento da planta. Nas folhas
cotiledonares e verdadeiras as lesões são
inicialmente aquosas e em seguida passam a necróticas. Nos frutos as lesões
permanecem aquosas por longo período
e correspondem internamente a uma lesão de cor marrom claro a marrom escuro na polpa, chegando até as sementes.
As medidas eficientes para controle
da doença são escassas, e após
introduzida em uma área é de difícil
erradicação (Sales Júnior & Menezes,
2001). Assim, alternativas para o seu
373
A Oliveira et al.
controle devem ser avaliadas e, dentre
elas, cita-se o controle biológico através de bactérias biocontroladoras
(Medeiros et al., 2002, 2003; Santos,
2004; Fessehaie & Walcott, 2005).
Como a bactéria causadora da mancha-aquosa do melão é disseminada por
meio de sementes infectadas (O’Brien
& Martin, 1999), o tratamento das sementes com microrganismos promotores do
crescimento de plantas que seja eficiente para inibir o patógeno ou proteger a
plântula emergente constitui em alternativa de controle economicamente desejável para o manejo da doença, podendo
ser integrado com outras técnicas para
melhorar a eficiência. Os microrganismos agentes de biocontrole de doenças
de plantas podem atuar através de diferentes mecanismos, como produção de
ácido cianídrico, bacteriocinas e antibióticos, competição por espaço, Fe+3 e outros nutrientes, parasitismo, indução de
resistência e proteção cruzada (Mariano
et al., 2004b).
O presente trabalho teve como objetivos isolar e selecionar microrganismos para o controle biológico da mancha-aquosa do melão em condições de
casa de vegetação, e determinar possíveis mecanismos relacionados ao antagonismo.
MATERIAL E MÉTODOS
Isolamento de microrganismos
Para o isolamento de microrganismos epifíticos e endofíticos foram utilizados raízes, caules, folhas, flores, frutos e/ou sementes de plantas de melão
sadias, oriundas de cultivos comerciais
em Mossoró (RN), Juazeiro (BA) e
Petrolina (PE) e área experimental em
Recife (PE). Para isolamento de bactérias epifíticas e endofíticas foram utilizados métodos descritos por Gomes et
al. (2005) e Oliveira et al. (2004). Nos
dois métodos, as placas foram mantidas
por 48 horas à temperatura ambiente de
27±2ºC. Foram selecionadas colônias
com características distintas umas das
outras, com base nas observações
macroscópicas, como coloração e características de crescimento em meio de
cultura Tryptic Soy Agar – TSA (40 g
de TSA; 10 g ágar; 1000 mL de água
destilada). Estas colônias foram
purificadas e preservadas em meio ágar
nutritivo (3,0 g de extrato de carne; 5,0
374
g de peptona; 18 g de ágar; 1000 mL de
água destilada).
No isolamento dos fungos
endofíticos, empregou-se o método descrito por Oliveira et al. (2004), sendo
as placas incubadas à temperatura ambiente (27±2oC) por sete dias. Após esse
período, as colônias fúngicas desenvolvidas em torno dos fragmentos foram
separadas de acordo com as características das culturas em meio batatadextrose-ágar (20 g de dextrose; 20 g
de ágar; caldo de 200 g de batata cozida
em água, e 1000 mL de água destilada).
As colônias foram purificadas e preservadas no mesmo meio de cultura.
Seleção de microrganismos para
sementes pré-inoculadas
Sementes comerciais de melão híbrido
AF682 foram lavadas em água corrente por
10 minutos, submetidas a secagem por 48
h, inoculadas por infiltração a vácuo com o
inóculo de Acidovorax avenae subsp.
citrulli (Aac1) na concentração de 3,4x107
UFC/mL e armazenadas em sacos de papel após secas. Após sete dias, foram
imersas em suspensões (A570= 0,7) de bactérias epifíticas (34 isolados) e endofíticas
(62 isolados) ou fungos endofíticos (59 isolados), por 10 minutos. As testemunhas
relativas e absolutas foram inoculadas com
o patógeno e com água destilada esterilizada (ADE), respectivamente. Decorridas
16 h procedeu-se a semeadura em bandejas de poliestireno com 120 células contendo substrato comercial Plantmax®. Após
a emergência, as plântulas foram submetidas à câmara úmida por 48 h. O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado com 98 tratamentos (34 isolados de bactérias epifíticas, 62 isolados de
bactérias endofíticas, uma testemunha absoluta e uma testemunha relativa) ou 61 tratamentos (59 isolados de fungos
endofíticos, uma testemunha absoluta e
uma testemunha relativa), respectivamente para os experimentos com as bactérias e
fungos, e oito repetições, sendo a unidade
experimental constituída por uma plântula.
As plântulas foram avaliadas diariamente,
até o quinto dia da retirada da câmara úmida, determinando-se os seguintes componentes da doença: a) período de incubação
(PI), calculado pelo número de dias entre a
emergência das plântulas e o surgimento
dos sintomas da doença. Plântulas sem sintomas da doença tiveram o PI ajustado para
8 dias, correspondendo ao período de avaliação total acrescido de um dia, conforme
proposto por Iamsupasit et al. (1993); b)
incidência (INC), calculada pela porcentagem de plântulas com sintomas da doença
em relação ao total de plântulas avaliadas;
c) severidade da doença (SEV) aos sete dias
após germinação das sementes, estimada
com o auxílio de escala descritiva, com
notas variando de 0 a 5 (Silveira et al.,
2003); e d) redução da severidade da doença (RSD), calculada através da fórmula
RSD= (SEV Testemunha - SEV Tratamento) x 100/SEV Testemunha.
Seleção de microrganismos para
plantas pós-inoculadas
Sementes comerciais de melão (híbrido AF682) foram imersas nas suspensões
dos isolados de bactérias epifíticas e
endofíticas ou de fungos endofíticos (A570=
0,7) durante 10 minutos, sendo postas para
secar em papel de filtro por 16 horas. As
sementes da testemunha foram tratadas
com ADE. Em seguida, efetuou-se o plantio em copos de 500 mL contendo a mistura solo esterilizado/substrato Plantmax®
(1:1 v/v). Após 20 dias as plantas foram
submetidas à câmara úmida por 24 horas e
então pulverizadas com uma suspensão de
Aac1 com concentração de 3,4 x 107 UFC/
mL, sendo novamente mantidas em câmara úmida por 24 horas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado
com 97 tratamentos (34 isolados de bactérias epifíticas, 62 isolados de bactérias
endofíticas e uma testemunha relativa) ou
60 tratamentos (59 isolados de fungos
endofíticos e uma testemunha relativa), respectivamente para os experimentos utilizando bactérias e fungos, e quatro repetições, sendo a unidade experimental constituída por duas folhas de uma planta. As
plantas foram avaliadas diariamente, até
cinco dias após a retirada da câmara úmida, determinando-se os componentes da doença PI, INC, SEV e RSD. Para a determinação da SEV em plantas, foi utilizada a
escala descritiva de notas adaptada por
Silveira et al. (2003).
Efeito de misturas de isolados
bacterianos pelo tratamento de sementes infectadas
Na avaliação da compatibilidade
entre os isolados bacterianos selecionados foi empregado o método de
antibiose bactéria x bactéria (Mariano
et al., 2005), com as suspensões
bacterianas ajustadas para concentração
A570= 0,7. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 30
tratamentos (seis isolados testados entre si) e quatro repetições, sendo cada
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas
repetição constituída por duas placas de
Petri contendo quatro discos cada.
As suspensões dos isolados bacterianos
foram preparadas separadamente e em misturas dois a dois, em volumes iguais, e foram aplicadas às sementes conforme método descrito anteriormente para o tratamento de sementes pré-inoculadas com A.
avenae subsp. citrulli. Além do PI, INC,
SEV e RSD, foi determinado o índice de
doença (IDO) no sétimo dia após a emergência das plântulas, calculado de acordo
com McKinney (1923) pela fórmula IDO=
Ó (grau de escala x freqüência) x 100/ nº
total de unidades x grau máximo da escala,
utilizando-se os dados de severidade da doença, e a área abaixo da curva de progresso
da doença (AACPD), calculada pela fórmula= AACPD= [Σ (yi+yi+1)/2. dti ]/n, onde
yi e yi+1 são os valores de SEV observados
em duas avaliações consecutivas e dti, o
intervalo entre duas avaliações (Shaner &
Finney, 1977). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 22
tratamentos (seis bactérias endofíticas isoladamente, 15 combinações de isolados
bacterianos e uma testemunha relativa) e
cinco repetições, sendo cada repetição constituída por duas plântulas.
Os dados obtidos em todos os experimentos foram submetidos à análise de
variância e, as médias comparadas pelo
teste de Scott-Knott ou Duncan (P= 0,05).
Determinação do mecanismo de
ação dos isolados bacterianos
Os isolados bacterianos previamente
selecionados como eficientes no controle
da mancha-aquosa foram avaliados quanto
a antibiose, produção de ácido cianídrico
(HCN) e solubilização de fosfato, de acordo com os métodos descritos por Cattelan
(1999) e Mariano et al. (2005). Como padrões positivos para produção de HCN e
solubilização de fosfato foram utilizados
respectivamente os isolados de
Burkholderia cepacia GN1201 e
Pseudomonas chlororaphis GN1212. O
delineamento experimental para cada teste
foi inteiramente casualizado, com sete tratamentos (seis bactérias endofíticas e um
padrão positivo) e quatro repetições, sendo cada repetição constituída por uma placa de Petri.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De plantas sadias de melão de diversas localidades foram obtidos 37 isolados de bactérias epifíticas (9 de raízes,
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
10 de caule, 15 de folhas, 1 de flor e 2 de
frutos), dos quais três perderam a viabilidade durante o processo de purificação;
62 isolados de bactérias endofíticas (19
de raízes, 22 de caules, 13 de folhas, 5 de
flores e 3 de sementes) e 59 isolados de
fungos filamentosos endofíticos (19 de
raízes, 14 de caules, 17 de folhas, 5 de
flores, 2 de frutos e 2 sementes). De acordo com McInroy & Kloepper (1995), isolados bacterianos provenientes da própria
comunidade endofítica e epifítica da
planta, podem ser potenciais agentes de
controle biológico.
Dos 96 isolados bacterianos avaliados para o controle da mancha-aquosa
através do tratamento de sementes préinoculadas com A. avenae subsp. citrulli
foram selecionados, respectivamente
quanto, ao período de incubação, incidência e severidade, os endofíticos ENM5
(4,0; 75,0%; 1,6), ENM9 (4,2; 62,5%;
1,9), ENM13 (7,0; 37,5%; 0,63), ENM16
(4,2; 62,5%; 1,9), ENM32 (4,7; 62,5%;
1,6) e ENM43 (4,25; 62,5%; 1,9), que
diferiram significativamente da testemunha relativa (3,0; 87,5%, 2,75) pelo teste
de Scott-Knott (P= 0,05) (dados não exibidos em tabela). Os isolados ENM5,
ENM9 e ENM16 foram obtidos de raízes,
o isolado ENM32 de fragmentos de caule e o ENM43, de folhas de melão.
Dos isolados avaliados, apenas 5%
apresentaram potencial para o controle
da mancha-aquosa, sendo todos
endofíticos. Esse percentual pode ser
considerado elevado, uma vez que na
maioria das pesquisas realizadas com
bactérias promotoras de crescimento de
plantas menos de 1% dos isolados são
eficientes (Chen et al., 1996). Bactérias
endofíticas utilizadas no biocontrole de
doenças de plantas apresentam como
principais vantagens, em relação às
epifíticas, possuírem nicho ecológico
similar ao do patógeno e serem protegidas das diversas influências abióticas
(Halmann et al., 1997).
Os isolados ENM5 (não identificado), ENM9 (Bacillus cereus ), ENM13
(Bacillus sp.), ENM16 (Bacillus cereus
), ENM32 (Bacillus subtilis), e ENM43
(Bacillus sp.), apresentaram compatibilidade in vitro e, tanto isoladamente
quanto em misturas, mostraram-se eficientes no controle da mancha-aquosa
do melão, diferindo significativamente
(P= 0,05) da testemunha em relação as
variáveis severidade, índice de doença
e área abaixo da curva de progresso da
doença (Tabela1). Esses isolados apresentaram redução da severidade da doença de até 93,6% (Figura 1). Não foi
observado efeito aditivo ou sinergístico
significativo para as misturas de isolados no controle da mancha-aquosa. Os
resultados indicam que a aplicação de
apenas um isolado para bacterização de
sementes de melão é mais prática e econômica, destacando-se com maiores níveis de controle os isolados ENM13 e
ENM9, os quais apresentaram respectivamente, período de incubação de 7,5 e
7,25 dias, severidade de 0,22 e 0,22, índice de doença de 2,59 e 2,59, e área
abaixo da curva de progresso da doença
de 0,22 e 0,39 (Tabela 1).
Resultados promissores com utilização
de Bacillus para controle da mancha-aquosa
foram relatados recentemente na literatura. Medeiros et al. (2002) obtiveram controle eficiente da mancha-aquosa em casa
de vegetação com emprego do Bacillus sp.
RAB9 no tratamento de sementes
infectadas. Também Santos (2004) conseguiu o controle através do tratamento de
sementes infectadas com líquidos fermentados com ou sem presença das células de
B. subtilis R14, B. megaterium pv. cerealis
RAB7, B. pumilis C116, Bacillus sp.
MEN2, tendo caracterizado que o mecanismo de ação desses isolados deveu-se a
antibiose e à presença de compostos ativos
parcialmente caracterizados como
lipopeptídeos. Espécies de Bacillus têm
sido amplamente testadas no controle biológico, uma vez que produzem endósporos,
o que facilita a formulação dos produtos
para aplicação comercial. Para o controle
de diferentes doenças, produtos como
Companion, EcoGuard, HiStick N/T,
Kodiak, Rhizo-Plus, Serenade, Subtilex e
YieldShield, a base de Bacillus, são
registrados para uso agrícola nos Estados
Unidos (Mariano et al., 2004b).
O principal modo de disseminação
de A. avenae subsp. citrulli é através das
sementes contaminadas (Hopkins et al.,
1996), provável causa da introdução da
mancha-aquosa no Rio Grande do Norte (Assis et al., 1999), podendo essa
transmissão variar de 10 até 91%
(O‘Brien & Martin, 1999; Oliveira et al.,
2001). Como os isolados endofíticos
selecionados no presente trabalho se
mostraram eficientes, estes poderão ser
indicados para o tratamento de sementes infectadas com A. avenae subsp.
citrulli individualmente ou em combinação com outros métodos de controle.
375
A Oliveira et al.
Tabela 1. Controle da mancha-aquosa do melão com bactérias endofíticas, isoladamente ou
em misturas, através do tratamento de sementes pré-inoculadas com Acidovorax avenae
subsp. citrulli, em casa de vegetação.
1
ENM= isolados de bactérias endofíticas de melão. ENM5 – não identificado; ENM9 –
Bacillus cereus; ENM13 – Bacillus sp.; ENM16 – B. cereus; ENM32 – Bacillus subtilis.
ENM34 – Bacillus sp.; 2Médias de 5 repetições, com duas plântulas cada. Médias de severidade, índice de doença e área abaixo da curva de progresso da doença transformadas segundo √(x+1,0). Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente
entre si pelo teste Duncan (P= 0,05).
Nos ensaios realizados in vitro quanto a determinação dos mecanismos de
ação envolvidos no biocontrole da mancha-aquosa, verificou-se que os isolados ENM13 e ENM9 solubilizaram
fosfato, ENM5 exerceu antibiose contra A. avenae subsp. citrulli e ENM43 produziu HCN. Nenhum dos mecanismos
estudados está relacionado ao controle
exercido pelos isolados ENM16 e
ENM32. Esses mecanismos de ação já foram relatados anteriormente associados ao
controle de doenças por Bacillus spp. e
outras bactérias. Segundo Melo (1998), o
biocontrole exercido por B. megatherium
var. phosphaticum inclui aumento da
solubilização de fosfato orgânico via ação
da fosfatase ou solubilização de fosfatos
inorgânicos com ácidos orgânicos e subseqüente incremento na absorção desse
elemento pela planta, o que a torna mais
376
resistente ao patógeno. Isolados de
Bacillus subtilis (R14), B. pumilis (C116),
B. megaterium pv. cerealis (RAB7) e B.
cereus apresentaram atividade antibiótica
in vitro a Xanthomonas campestris pv.
campestris (Luna et al., 2002). Défago et
al. (1990) apresentaram evidências de que
o HCN é benéfico no controle
microbiológico, sendo esse composto relacionado à supressão da podridão preta
das raízes do fumo pela bactéria
Pseudomonas fluorescens. Na prática, provavelmente, poucos microrganismos exercem um único mecanismo antagônico,
bem como os mecanismos não são mutuamente exclusivos, uma vez que sua importância relativa pode ser variável com
as condições ambientais, estádio de desenvolvimento do agente biocontrolador
e do fitopatógeno (Andrews, 1992). No
presente estudo, apesar da maioria dos iso-
lados testados terem apresentado individualmente mecanismos de ação diferentes, quando avaliados em combinações
não se observou efeito aditivo ou
sinergístico para o controle da manchaaquosa (Tabela 1).
Com relação ao controle da manchaaquosa do melão pela proteção da planta
com bactérias epifíticas e endofíticas, dos
96 isolados testados inicialmente foram
selecionados por diferirem significativamente (P= 0,05) da testemunha pelo teste
de Scott-Knott, respectivamente quanto à
incidência e severidade os endofíticos
ENM2 (66,7%; 2,0), ENM8 (66,7%; 2,0),
ENM24 (66,7%; 1,0) e ENM30 (66,7%;
2,0) (100,0%; 3,0) (dados não exibidos em
tabela). Contudo, esses isolados não se
mostraram eficientes no controle da mancha-aquosa após o experimento ter sido
repetido mais duas vezes. Segundo Fravel
(1999), fatores como a falta de
repetibilidade de resultados obtidos durante o tempo e condução dos experimentos
tem sido um dos maiores obstáculos no
controle biológico de doenças de plantas.
Weller (1988) cita como fatores responsáveis pelo desempenho inconsistente de
um biocontrolador a perda da competitividade ecológica devido à alteração de
alguma característica da bactéria, a variação na colonização pelo antagonista, e a
interferência de fatores bióticos e
abióticos. Em trabalhos realizado por
Medeiros et al. (2003), plantas de melão
foram protegidas contra A. avenae subsp.
citrulli quando pulverizadas aos sete dias
de idade com o isolados de Bacillus spp.
Fessehaie & Walcott (2005) estudaram a
proteção de flores de melancia para evitar-se a infecção das sementes pela bactéria e verificaram uma redução no
percentual de sementes infectadas da ordem de 13,8% quando do tratamento prévio com A. avenae subsp. avenae
(AAA99-2) antes da inoculação com A.
avenae subsp. citrulli.
Dos 59 isolados de fungos
filamentosos endofíticos avaliados nenhum foi eficiente no controle da mancha-aquosa, quer seja no tratamento de
sementes infectadas ou pulverização
sobre as plantas (dados não apresentados). Existem diferentes relatos da utilização de espécies de fungos
filamentosos, a exemplo dos gêneros
Trichoderma, Pythium e Fusarium, porém para o controle de doenças fúngicas,
algumas das quais na filosfera de plantas (Mariano et al., 2000).
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas
Os resultados apresentados demonstram que os seis antagonistas selecionados têm potencial como agentes de
biocontrole da mancha-aquosa em melão. Também, o tratamento de sementes
é de grande potencial por ser método
prático e simples no controle dessa doença importante para os produtores devido às perdas que causa.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq pela
concessão de auxílio financeiro (Proc.
473024/2003-9) e bolsas de iniciação
científica.
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Figura 1. Redução da severidade da mancha-aquosa do melão por isolados de bactérias
endofíticas (ENM5 – não identificado; ENM9 – Bacillus cereus; ENM13 – Bacillus sp.; ENM16
– B. cereus; ENM32 – Bacillus subtilis; ENM43 – Bacillus sp.), através do tratamento de
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377
BEZERRA NETO FV; LEAL NR; COSTA FR; GONÇALVES GM; AMARAL JÚNIOR AT; VASCONCELLOS HO; MIGUEL MELLO M. 2006. Análise
biométrica de linhagens de abóbora. Horticultura Brasileira 24: 378-380.
Análise biométrica de linhagens de abóbora
Francisco V Bezerra Neto1; Nilton R Leal1; Fabiane R Costa1; Gustavo M Gonçalves1; Antônio T do
Amaral Júnior1; Hélio O Vasconcellos2; Miguel Mello3
1
UENF-CCTA-LMGV, Av. Alberto Lamego 2000, Parque Califórnia, 28013-602 Campos dos Goytacazes-RJ; 2EMBRAPA/PESAGRORIO, Rod. BR 465, km 7, 23890-000 Seropédica-RJ; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Cinco caracteres morfoagronômicos, avaliados em sete linhagens de
abóbora (Cucurbita moschata), foram submetidos à estimação de
parâmetros genéticos e à análise de correlações simples e canônicas. As
características foram avaliadas em um experimento em blocos ao acaso,
com três repetições e parcelas de seis plantas. Os caracteres peso médio
de fruto e comprimento longitudinal externo apresentaram herdabilidade
superiores a 80% e índice de variação superior à unidade, demonstrando
que a aplicação de métodos simples de melhoramento como, por exemplo, a seleção massal, poderão resultar em bons ganhos de seleção. Com
relação às correlações simples, para a maioria dos pares de características
(80%) as correlações genotípicas foram maiores que as fenotípicas e de
ambiente. As correlações simples e canônicas demonstraram que o aumento no peso médio de frutos foi acompanhado de aumento na espessura da polpa e nos comprimentos longitudinal e transversal. Por outro lado,
aumento no número médio de frutos apresentou correlação significativa
com redução no comprimento longitudinal e na espessura de polpa e com
incremento do comprimento transversal. Na população em estudo,
genótipos de interesse comercial, contendo fruto de menor tamanho e
polpa espessa, poderão ser obtidos com o emprego da técnica do índice
de seleção, por sobrepujar o sentido das correlações.
Palavras-chave: Cucurbita moschata, parâmetros genéticos, correlações canônicas, ganhos genéticos, seleção, melhoramento.
Biometric analysis of squash lines
Five morphological and agronomic characteristics were evaluated in
seven squash lines. The experiment was carried out in completely
randomized blocks, with three replications, and six-plant plots. Genetic
parameters, as well as simple and canonic correlations were estimated.
Heritability for average fruit weight and external longitudinal length were
higher than 80%, with a variation index higher than one. Thus, application
of simple breeding methods, such as mass selection, will result in good
selection gains. Concerning simple correlations, most of the characteristic
pairs (80%) had genotypic correlations higher than phenotypic and
environmental correlations. Simple and canonical correlations revealed
that fruit average weight increased together with increments in pulp
thickness and longitudinal and transversal fruit length. On the other hand,
plants with more fruits produced smaller fruits (longitudinal length), with
thinner pulp, but with higher transversal length. In this population,
promising commercial genotypes, producing small fruits with thick pulps,
can be obtained using selection indexes.
Keywords: Cucurbita moschata, genetic parameters, canonic
correlations, genetic gains, selection, breeding.
(Recebido para publicação em 24 de fevereiro de 2005; aceito em 31 de setembro de 2006)
A
nálises biométricas, sobretudo as
estimativas de parâmetros genéticos, são de grande importância nos trabalhos de melhoramento. Informações sobre
a variância genotípica, herdabilidade e índice de variação são determinantes na escolha
do método de melhoramento mais adequado à cultura e permitem fazer inferências
sobre a predição de ganhos com a seleção
(Cruz & Regazzi, 2001). Não obstante, o
conhecimento das correlações entre características também assume importância relevante, sobretudo quando se deseja obter ganhos indiretos ou mesmo simultâneos em diferentes características. Uma das vantagens
desse procedimento, além do ganho em si, é
a economia de tempo e de mão-de-obra
(Falconer, 1987). A eficiência da seleção de
um caráter pode ser aumentada quando se
detém este conhecimento, especialmente
quando o caráter principal for de difícil seleção a possuir baixa herdabilidade (Cruz &
Regazzi, 2001).
A utilização de análise biométrica via
correlações canônicas permite obter gan378
hos ainda maiores que a seleção simultânea, uma vez que não se limita à análise de
apenas duas características, mas permite a
seleção de grupos de características. É possível, por exemplo, confrontar caracteres
agronômicos e fisiológicos ou, ainda, agronômicos e caracteres de qualidade de fruto, possuindo assim, uma ampla aplicação
no melhoramento de plantas.
Embora à análise biométrica via correlações canônicas seja uma técnica de
grande potencial de uso para o melhorista,
sua aplicação tem sido rara, vez que nos
últimos anos, poucos trabalhos foram desenvolvidos utilizando-se correlações
canônicas. Vidigal et al. (1997), por exemplo, trabalhando com mandioca e utilizando as técnicas de correlação simples e
canônicas definiram o ideotipo da cultura
para a região noroeste do Paraná, com fins
industriais. Por sua vez, Amaral Júnior et
al. (1997), avaliaram diversas características qualitativas e quantitativas em cinco
cultivares de tomate e seus híbridos e, pelo
estudo de correlações simples, observa-
ram elevada correlação genética entre teor
de carotenóides totais, vitamina C e
betacaroteno. Já a análise das correlações
canônicas revelou que frutos de maior
peso médio tinham maior teor de sólidos
solúveis, vitamina C e betacaroteno. Outrossim, Carvalho et al. (1998) avaliaram
a relação existente entre componentes primários e secundários de produção em pimentão através da análise de correlações
canônicas e observaram que a associação
mais expressiva ocorreu entre caracteres
primários de produção (peso médio e
número total de frutos) e caracteres de
qualidade do fruto (comprimento, largura, relação comprimento/largura e espessura da polpa). Mais recentemente, Viana
et al. (2003), por meio de análises de correlações simples e canônicas, determinaram a relação entre caracteres agronômicos e de qualidade de frutos de maracujá
em duas populações.
Diferentes trabalhos de pesquisa vêm
sendo desenvolvidos com Cucurbitáceas.
Porém, para a espécie Cucurbita
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Análise biométrica de linhagens de abóbora
Tabela 1. Estimativas das variâncias fenotípica (
), genotípica (
) e ambiental (
), da
) e experimental (
)e
herdabilidade ( ), dos coeficientes de variação genotípico (
do índice de variação ( ) para características morfoagronômicas de linhagens de abóbora.
Campos dos Goytacazes, UENF, 2005.
1/
NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento
longitudinal externo; CTE-comprimento transversal externo; ESP-espessura de polpa.
moschata, os trabalhos de melhoramento
ainda são muito incipientes. Embora seja
uma hortaliça de expressão no mercado
nacional, ocupando o sétimo lugar em
volume de produção (Pereira, 1999), cultivares tradicionais, mantidas pelos próprios produtores, ainda são as mais utilizadas para cultivo, vez que são poucas as
cultivares desenvolvidas e adaptadas para
as regiões produtoras. Pesquisas indicam
que o mercado interno prefere frutos menores e com polpa espessa, de onde surge
a necessidade de buscar materiais que
atendam estas exigências do consumidor.
No final da década de 80, teve início o
programa de melhoramento de abóbora na
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio
de Janeiro (PESAGRO-RIO), estação Experimental de Itaguaí. Com o prosseguimento do programa, buscou-se, no presente trabalho, estimar os parâmetros genéticos e quantificar o grau de associação
entre componentes primários e caracteres
do fruto em linhagens de abóbora, visando gerar informações que permitam selecionar materiais superiores, em parceria
com a Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas sete linhagens de
abóbora provenientes de cruzamentos
entre a cultivar Caravela e um cultigene
denominado “São João da Barra”. Para
a avaliação das características, procedeu-se à implementação de um experimento de campo na unidade de apoio a
pesquisa (UAP) da UENF, no ano agrícola de 1999. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso,
com três repetições e parcelas de seis
plantas, dispostas no espaçamento de
3m x 3m. O experimento foi conduzido
utilizando-se os tratos culturais normalHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
mente aplicados à cultura.
Foram avaliadas as características
número médio de frutos por planta
(NMF), peso médio de frutos (PMF),
comprimento longitudinal externo
(CLE), comprimento transversal externo (CTE) e espessura de polpa (ESP).
Foram estimados os seguintes
parâmetros genéticos (Cruz & Regazzi,
2001): variâncias fenotípica, genotípica e
ambiental; herdabilidade; coeficientes de
variação genotípica e experimental e índice de variação. As associações entre os
pares de características foram obtidas pelas correlações fenotípica, genotípica e
ambiental. Para tanto, as covariâncias entre as características X e Y foram calculadas baseando-se no modelo de análise de
variância aleatório, tipo II (Vencovsky &
Barriga, 1992; Cruz & Regazzi, 2001).
Correlações canônicas foram utilizadas
para estimar a máxima correlação entre
combinações lineares de caracteres distribuídos em dois grupos: (1) componentes
primários – NMF e PMF e; (2) caracteres
do fruto - CLE, CTE e ESP. Estimaram-se
ainda os coeficientes de ponderação dos
caracteres em cada combinação linear. Uma
correlação canônica é aquela que maximiza
a relação entre as combinações lineares X1
e Y1, sendo X1 = a1x1 + a2x2 + ... + apxp; e
Y1 = b1y1 + b2y2 + ... + bqyq, (Cruz & Regazzi,
2001), sendo estimadas a partir das matrizes:
R11= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo I;
R22= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo II; e
R12= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo I e II.
As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do programa
computacional Genes (Cruz, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando os valores da herdabilidade
(h2) são superiores a 80% e o índice de
variação é superior a unidade, podem ser
obtidos ganhos de seleção satisfatórios
(Falconer, 1987). Tal situação foi observada para peso médio de fruto e comprimento longitudinal externo (Tabela 1),
indicando que genótipos superiores para
estes caracteres podem ser obtidos pelo
emprego de métodos simples de seleção
como, por exemplo, a seleção massal.
Todavia, mesmo considerando que na pratica as h2 não são baixas para as demais
características, não se exclui a possibilidade de utilização de seleção recorrente
genotípica, para obtenção de ganhos superiores, apesar de ser uma estratégia pouco ou ainda não utilizada em abóbora.
Para a maioria dos pares de características (80%), as correlações genotípicas foram maiores que as fenotípicas e ambientais
(Tabela 2), indicando maior influência do
componente genético em relação aos demais. Além disso, para 40% das associações, houve diferença de sinal entre as correlações genotípicas e ambientais, o que
pode indicar que as causas de variação genética e ambiental influenciaram as características por meio de mecanismos fisiológicos distintos (Falconer, 1987).
Na análise de correlação, a presença de
colinearidade, decorrente de elevadas estimativas de correlações fenotípicas ou
genotípicas entre as características estudadas, produz efeitos diversos nos procedimentos canônicos, tornando os resultados pouco precisos (Carvalho, 1995). Assim, no presente estudo, optou-se por usar apenas os
caracteres com ausência de colinearidade.
As correlações positivas elevadas, tanto genotípica quanto fenotípica, entre peso
médio de frutos e comprimento longitudinal externo (0,89 e 0,87, respectivamente) e entre peso médio e espessura de polpa (0,87 e 0,82, respectivamente) indicam
que genótipos com frutos maiores e de
polpa mais espessa poderiam ser selecionados através do peso médio dos frutos, o
que facilitaria o processo de seleção, uma
vez que o caráter peso médio de frutos é
de mais fácil avaliação que os demais. Ao
contrário, incrementos na característica
número médio de frutos, poderiam representar reduções no peso médio dos frutos,
no comprimento longitudinal e também
na espessura de polpa, em função das cor379
FV Bezerra Neto et al.
relações genotípicas negativas de elevada
magnitude entre estes pares de características, e aumento no comprimento transversal dos frutos (Tabela 2).
Em relação às correlações canônicas
(Tabela 3), os grupos estudados (grupo 1número médio de frutos por planta e peso
médio de frutos; grupo 2- comprimento
longitudinal externo, comprimento transversal externo e espessura de polpa) não
são independentes, pois apresentaram correlações diferentes de zero pelo teste quiquadrado, a 1% de probabilidade (r=
1,30** e 1,00**, para primeira e segunda
correlações canônicas, respectivamente).
Em relação ao primeiro par canônico, é
possível concluir que indivíduos com maior
número médio de frutos tendem a produzir
frutos com menor comprimento longitudinal, menor espessura de polpa e maior comprimento transversal. Portanto, a análise fundamentada nas correlações canônicas (Tabela 3) ratificou o resultado já encontrado
nos estudos da correlação simples (Tabela
2). Em relação ao segundo par canônico, verificou-se que maior peso médio de frutos
determinou aumento na espessura da polpa
e nos comprimentos longitudinal e transversal dos frutos, o que novamente fortalece os
resultados já encontrados no estudo das correlações simples (Tabela 2).
Cumpre elucidar que, a despeito das
associações simples indicarem a perspectiva de seleção de genótipos não muito interessantes para o mercado consumidor,
com base nas correlações genotípicas positivas entre PMF e ESP, a acurada análise
das correlações canônicas possibilita uma
reflexão mais aprofundada a respeito da
perspectiva de sucesso na seleção de
genótipos superiores na população em estudo. Isto posto, por uma análise inicial,
com fulcro no primeiro par canônico, percebe-se a possibilidade de selecionar frutos de tamanho mediano contendo espessura de polpa menor, face à magnitude das
associações entre PMF e ESP de valores
respectivos 0,53 e -0,12. Todavia, o valor
negativo expresso por ESP é próximo de
zero, o que, por conseguinte, não invalida
a hipótese de seleção de genótipos com fruto de tamanho mediano e com polpa de
espessura adequada à preferência do consumidor. Neste aspecto, a experiência do
melhorista associada ao uso de procedimentos de análise genético-estatísticas adequadas, como o emprego da estratégia dos índices de seleção, torna possível a seleção
de genótipos com menor tamanho de fruto
e, concomitantemente, com maior espessura de polpa. O procedimento analítico dos
380
Tabela 2. Estimativas das correlações fenotípica (rf), genotípica (rg) e ambiental (ra) entre características morfoagronômicas de linhagens de abóbora. Campos dos Goytacazes, UENF, 2005.
*
Significativo a 5% de probabilidade pelo teste t.
NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento
longitudinal
1/
Tabela 3. Estimativas das correlações e pares canônicos entre componentes primários (grupo 1)
e caracteres do fruto (grupo 2) em linhagens de abóbora. Campos dos Goytacazes, UENF, 2005.
*
Significativo a 1% de probabilidade pelo teste qui-quadrado.
NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento
longitudinal externo; CTE-comprimento transversal externo; ESP-espessura de polpa.
1/
índices de seleção, pela robustez analítica
e por sobrepujar o sentido das correlações
será, a partir da próxima etapa seletiva do
programa, de absoluta relevância na fidedigna seleção dos genótipos de interesse
ao mercado consumidor.
REFERÊNCIAS
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flavicarpa) populations. Crop Breeding and
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morfoagronômicas e da qualidade das raízes em
cultivares de mandioca (Manihot esculenta
Crantz) adaptadas ao noroeste paranaense. Revista Brasileira de Mandioca.15: 41-48.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
CHIUMARELLI M, FERREIRA MD. 2006. Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas
de armazenamento. Horticultura Brasileira 24: 381-385.
Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes
coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento
Marcela Chiumarelli1; Marcos David Ferreira²
1
UNICAMP-FEA, Campinas-SP, Bolsista Iniciação Científica SAE/UNICAMP; ²UNICAMP-FEAGRI, Campinas-SP,Pesquisador
Colaborador; E-mail: [email protected]; [email protected]
RESUMO
Este estudo visou avaliar o efeito de diferentes coberturas comestíveis sobre a qualidade pós-colheita do tomate de mesa cv. Débora. Foram utilizadas as seguintes coberturas: cera de carnaúba Fruit
Wax H2 (18%), emulsão de resinas Fruit Wax M-AC (18%) e cera
de carnaúba Megh Wax ECF-124 (18%); tomates sem cera serviram
de controle. Foram utilizados 40 frutos por tratamento em delineamento inteiramente casualizado. Após a limpeza e aplicação das ceras,
os frutos foram armazenados a 12,5°C e 25°C e 90% de umidade
relativa. Análises para perda de massa fresca (%), coloração e qualidade foram realizadas durante quinze dias. No final do período de
armazenagem, os frutos foram avaliados quanto à firmeza, pH, concentração de sólidos solúveis, vitamina C e acidez. Foi realizada
também análise sensorial para frutos armazenados nas duas diferentes temperaturas. O tratamento com Megh Wax ECF-124 proporcionou menor perda de massa e frutos mais firmes em ambas as temperaturas. Tomates tratados com Fruit Wax M-AC e Megh Wax ECF124 apresentaram maior porcentagem de frutos apropriados ao consumo. Não houve diferença significativa entre os tratamentos quanto à coloração e análises químicas, exceto para os frutos cobertos
com Fruit Wax M-AC, que apresentaram menor teor de vitamina C
em ambas as temperaturas e maior pH a 25°C. As ceras Fruit Wax
M-AC e Megh Wax ECF-124 não interferiram no sabor e no odor
dos frutos. A aplicação de cera contribui para uma diminuição na
perda de massa e decréscimo no número de frutos descartados devido a danos físicos e podridões, sendo que Megh Wax ECF-124 é
mais eficiente na manutenção da qualidade de tomates de mesa.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, cera, transpiração, conservação.
Quality of ‘Debora’ tomato using different edible coatings
and storage temperatures
This study aimed at evaluating the effect of edible coatings on
tomato cv. Debora post-harvest quality. The following waxing
emulsions were used: wax of carnauba Fruit Wax H2 (18%), emulsion
of resins Fruit Wax M-AC (18%) and wax of carnauba Megh Wax
ECF-124 (18%); tomatoes without wax were used as reference. A
totally randomized experiment was installed using 40 fruits for each
treatment. After cleaning and application of the waxes, the fruits
were stored at 12,5°C and 25°C and 90% RH. Analyses for weight
loss (%), color and quality were carried out during fifteen days. After
storage, fruits were evaluated for firmness, pH, soluble concentration
of solids, vitamin C, total acidity and a sensorial analysis. Tomatoes
treated with Megh Wax ECF-124 presented minor weight losses and
firmer fruits in both temperatures. Fruits treated with Fruit Wax MAC and Megh Wax ECF-124 showed the highest percentage of fruits
edible for consumption. There was no significant difference between
treatments for color and chemical analyses, except for fruits covered
with Fruit Wax M-AC, that showed low level of vitamin C on both
temperatures and higher pH level at 25°C. Fruit Wax M-AC and
Megh Wax ECF-124 did not affect flavor and odor on fruits. Wax
application contributed to reduce weight loss and the number of fruits
discarted due to physical damage and diseases. Megh Wax ECF-124
was the most efficient wax for keeping fruit quality.
Keywords: Lycopersicon esculentum, wax, transpiration,
conservation.
(Recebido para publicação em 10 de dezembro de 2004; aceito em 11 de agosto de 2006)
A
busca por dietas balanceadas, ricas em alimentos vegetais, acarreta aumento no consumo de frutas, legumes e verduras, criando a necessidade
de estudos que disponibilizem os mesmos, em quantidade e com qualidade
adequadas (Marcos, 2001).
O Brasil é o nono produtor mundial
de tomate. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
(2004), foram produzidas 3.595.730 toneladas do fruto em 2002. Segundo o
Agrianual
(2001),
foram
comercializadas na CEAGESP 189.405
toneladas deste produto com um preço
médio de R$ 0,85/kg. Aproximadamente
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
21% desta produção sofre danos que
impossibilitam sua comercialização
(Marcos, 2001). Tal índice é conseqüência
de técnicas inadequadas em todas as etapas do processo, desde o campo até o consumidor final. Porém, as perdas são mais
significativas na pós-colheita, causadas por
injúrias mecânicas, armazenamento impróprio, manuseio e transportes inadequados
e longos períodos de exposição no varejo
(CEAGESP, 2002).
Após a colheita, o tomate apresenta-se como um fruto altamente perecível. O fruto maduro possui uma vida
média de prateleira de uma semana, com
perdas variando entre 25% a 50%, en-
quanto o fruto parcialmente maduro
apresenta uma vida útil de até duas semanas, com 20% a 40% de perdas póscolheita (Barret Reina, 1990).
O tomate apresenta elevado conteúdo de água, estando sujeito às variações
de temperatura e umidade relativa do
ambiente onde se encontra. A perda de
água ocasiona perda de massa e altera a
aparência do fruto (Marcos, 2001). A
utilização de películas comestíveis para
revestir produtos hortifrutícolas mostrase eficaz na redução de perda de água
(Kays et al., 1991; Carvalho Filho, 2000)
e manutenção da qualidade fruto (Oliveira, 1996; Mota, 1999; Ojeda, 2001;
381
M Chiumarelli & MD Ferreira
Feygenberg et al., 2005; Porat et al.,
2005). A cerosidade de um fruto perdida
durante o processo de beneficiamento,
lavagem e polimento tem sido
reconstituída pelo uso de cera, aplicada
por imersão ou pulverização, reduzindo
a perda de água e conferindo aspecto atrativo após a secagem e polimento (São
José & Souza, 1992; Gontard & Guilbert,
1996; Wills et al., 2004).
Neste contexto, este estudo visou
avaliar a manutenção da qualidade em
tomates destinados ao consumo ‘in
natura’ revestidos com diferentes películas comestíveis e armazenados em
diferentes temperaturas.
MATERIAL E MÉTODOS
Tomates destinados ao consumo ‘in
natura’, cv. Débora, foram colhidos em
plantação comercial no município de
Itapira, Estado de São Paulo, e transportados em caixas plásticas ao laboratório
de Tecnologia Pós-Colheita da Faculdade de Engenharia – UNICAMP em
Campinas, SP.
Os frutos foram selecionados no estádio “salada” (CEAGESP, 2000), e lavados com água para eliminação de resíduos provenientes do campo e secos
com toalhas de papel. Em cada tratamento foram utilizados 40 frutos de tomate. Para mensuração dos diâmetros,
utilizou-se paquímetro digital
(Mitutoyo, modelo CD-6’’BS) na parte
mediana/central dos frutos. A aplicação
de cera foi feita com o auxílio de um
pincel e os tratamentos utilizados foram:
controle (imersão em água); emulsão de
resinas Fruit Wax M-AC (18% de ativos, composta por emulsão de
polietileno, resina fumárica, preservante
e água) produzida por Adhetech Química Ind. e Com. Ltda; cera de carnaúba
Fruit Wax H2 (18% de ativos, composta por emulsão de cera de carnaúba,
preservante e água) produzida por
Adhetech Química Ind. e Com. Ltda; e
cera de carnaúba Megh Wax ECF-124
(18% de ativos, composta por emulsão
de cera de carnaúba, tensoativo
aniônico, preservante e água), produzida por Megh Indústria e Comércio Ltda.
Os tomates foram colocados em bandejas plásticas e armazenados em câmaras a temperaturas de 12,5°C e 25°C a
382
90% de umidade relativa por 15 dias. A
temperatura e a umidade foram
monitoradas por termohigrógrafo. Os
frutos foram pesados periodicamente a
cada três dias para calcular a porcentagem de perda de massa fresca. Os tomates foram armazenados durante quinze dias, avaliando-se a extensão da vida
de prateleira através do critério dos padrões de comercialização de acordo com
as “Normas e Padrões de Classificação
do Tomate da CEAGESP” (2000). No
final do período de armazenamento,
baseando-se nesta Norma, os frutos foram avaliados com uma escala de notas
(1-5): 1- apropriado para consumo; 2dano físico externo; 3- dano físico e
podridão associados; 4- podridão; 5excessiva perda de água (frutos murchos
com perda de brilho e elasticidade). Os
resultados foram expressos em porcentagem de frutos.
A coloração dos frutos foi avaliada
periodicamente através do critério presente nas Normas e Padrões de Classificação do Tomate da CEAGESP
(2000). Assim, cada nível de coloração
recebeu a seguinte classificação: (1)
verde; (2) salada; (3) colorido; (4) vermelho; (5) molho. ∆
Para avaliar a firmeza foram utilizados dez tomates de cada tratamento.
Os frutos foram colocados inteiros com
o ponto mediano sobre o maior diâmetro no centro da célula de carga Alfa
Instrumentos (sensibilidade: 2mV/V;
capacidade: 240 Kgf), utilizando a máquina universal de ensaios CML –
Canners (modelo D-180 4C, capacidade: 450 Kgf). A freqüência das leituras
foi de 25 Hz e a taxa de deformação,
constante, de 0,6 mm/s. Adotou-se um
coeficiente de Poisson n de 0,49 e calculou-se o módulo de elasticidade pela
equação presente em Mohsenin (1986),
considerando o fruto esférico, isto é,
R1= R1’.
onde: E= módulo de Elasticidade,
em MPa; F= força de ruptura, em N;
ν = coeficiente de Poisson de 0,49;
=deformação= t*0,6 [mm]; dp= diâmetro da ferramenta, em mm; dt é o
diâmetro do fruto.
Para as análises químicas de pH,
concentração de sólidos solúveis e acidez titulável foram utilizados os métodos descritos por Carvalho et al. (1990).
Para a análise de vitamina C, a determinação foi feita através de titulação com
2,6-Diclorofenol-Indofenol (Benassi &
Antunes, 1988). Para a análise sensorial, foram utilizados os testes de diferença do controle e de aceitabilidade
descritos por Ferreira (2000).
Para análise estatística foi utilizada
análise de variância em esquema fatorial em delineamento inteiramente
casualizado. Os dados coletados foram
submetidos a analise de comparação de
média pelo teste de Tukey ao nível de
5% de significância estatística (Bussab
& Morettin, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se um aumento na perda
de massa fresca (%) em todos os tratamentos (Tabela 1). A 12,5°C, os frutos
tratados com Megh Wax ECF 124 apresentaram menor porcentagem de perda
de massa fresca (52,2% menor que a
perda dos frutos sem cera). Cantwell &
Kasmire (2002) corroboram com esta
informação relatando que a aplicação de
ceras comestíveis reduz perda de água e
melhora a aparência em tomates. A aplicação de cera de carnaúba também demonstrou ser uma barreira eficiente à
perda de água em manga (Baldwin et al.,
1999; Hoa et al., 2002) e abacate
(Feygenberg et al., 2005). Fruit Wax MAC promoveu perda 30,2% menor que o
controle e Fruit Wax H2 apresentou uma
diferença muito pequena em relação aos
tomates sem cera. A 25°C, os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 apresentaram perda de massa fresca 57,2% menor que a perda dos frutos sem cera. Os
tratamentos com Fruit Wax M-AC e Fruit
Wax H2 apresentaram diferenças mínimas entre si, promovendo uma perda de
massa fresca 19,6% menor que a perda
do controle. A diferença encontrada entre as duas ceras de carnaúba utilizadas,
Fruit Wax H2 e Megh Wax ECF-124,
pode estar relacionada a outros componentes da emulsão, como por exemplo,
os tensoativos.
Em relação à qualidade dos tomates
(Figura 1), a 12,5°C, a cera Fruit Wax
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento
M-AC e Megh Wax ECF-124 proporcionaram maior porcentagem de frutos
apropriados ao consumo (80% e 77,6%,
respectivamente). Todavia, quando os
tomates são resfriados, torna-se difícil
a retirada da cera Fruit Wax M-AC da
superfície do fruto. Os tratamentos Fruit
Wax H2 e controle apresentaram maior
índice de podridão em frutos com danos físicos. Apenas Megh Wax ECF 124
não apresentou frutos descartados por
excessiva perda de massa. Para a temperatura de 25°C, a cera Megh Wax ECF
124 proporcionou maior porcentagem
de frutos apropriados ao consumo
(65%). O tratamento com Fruit Wax H2
promoveu maior porcentagem de podridão (27,5%). Nenhum tratamento apresentou frutos com excessiva perda de
água. Notou-se que utilização da cera
Megh Wax ECF-124 a 25°C proporcionou uma porcentagem de frutos apropriados ao consumo superior à porcentagem
de tomates no mesmo estado quando não
encerados e refrigerados. Aliada a refrigeração, a utilização de ceras promoveu
um índice de tomates apropriados ao consumo ainda maior, reduzindo assim as
perdas pós-colheita.
Os frutos armazenados a 12,5°C demoraram a atingir os estádios mais avançados de maturidade do que a 25°C.
Após 15 dias, os frutos armazenados a
12,5°C atingiram a cor vermelha (notas
4,0 a 4,15) enquanto os frutos a 25°C
atingiram o ponto de “molho” (todos
Tabela 1. Perda de massa fresca em frutos de tomate cv. Débora durante armazenamento
por 15 dias, submetidos a diferentes coberturas. Campinas, Unicamp, 2003.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de significância.
Tabela 2. Módulo de elasticidade de tomates tratados com cera após armazenamento por 15
dias na temperatura de 12,5oC e 25oC. Campinas, Unicamp, 2003.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de significância.
tratamentos com nota= 5,0). Jacomino
et al. (2003) relataram que a aplicação
de ceras interferiu tanto na coloração da
casca quanto da polpa da goiaba. Isso
não foi observado em tomates a 12,5°C,
sendo que não houve diferença ao nível
de 5% de significância estatística em
termos de coloração e não houve fruto
que atingisse o estádio “molho”.
Para a temperatura de 25°C, os frutos tratados com Fruit Wax M-AC e
Megh Wax ECF 124 promoveram uma
redução na taxa de maturação até o 8º
dia. Após este período, as taxas de
Figura 1. Porcentagem de frutos descartados em função do tipo de injúria após armazenamento por 15 dias, sendo: 1- apropriado ao
consumo; 2- dano físico externo; 3- dano físico e podridão associados; 4- podridão; e 5- excessiva perda de água (ressecados). Campinas,
Unicamp, 2003.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
383
M Chiumarelli & MD Ferreira
Tabela 3. Acidez total, pH, sólidos solúveis e vitamina C em tomates tratados com diferentes
ceras e armazenados a temperatura de 12,5oC e 25oC por 15 dias. Campinas, Unicamp, 2003.
Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de significância.
maturação de tais tratamentos igualaram-se a taxa do controle. Os frutos tratados com Fruit Wax H2 não mostraram
diferença significativa quanto à coloração em relação ao controle, apresentando inclusive aspecto externo semelhante aos frutos sem cera.
Quanto à firmeza (Tabela 2), a
12,5°C, observou-se que os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 e Fruit
Wax H2 não promoveram diferenças
significativas em relação ao controle ao
nível de 5% de significância estatística.
Fruit Wax M-AC promoveu frutos
10,7% mais firmes (0,2328 MPa) que
os sem cera (0,2103 MPa). Porém, a
25°C, verificou-se que os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 obtiveram um módulo de elasticidade maior
que os dos demais tratamentos (0,1652
MPa), sendo 43,2% mais firmes que os
frutos sem cera (0,1154 MPa). As ceras
Fruit Wax M-AC e Fruit Wax H2 não
promoveram diferenças significativas
em relação ao controle. Observou-se que
a cera, portanto, influencia a resistência
da película do tomate, mantendo a textura do fruto, fato que foi observado por
Vieites et al. (1997) em tomates cobertos com goma de batata e cera Sta-Fresh
e por Hoa et al. (2002) em mangas.
Não houve diferença significativa
(5%) entre os tratamentos mantidos a
12,5oC para concentração de sólidos
solúveis, pH e acidez titulável (Tabela
3). Os valores encontrados para pH, sólidos solúveis, acidez titulável e vitamina C são semelhantes aos citados por
Chitarra & Chitarra (1990) e Marcos
(2001), exceto o pH maior e o baixo teor
384
de vitamina C apresentado pelo tratamento com Fruit Wax M-AC, comportamento semelhante foi observado por
Vieites et. al. (1997) em seu experimento. A 25°C, nenhum tratamento se diferenciou a 5% de significância estatística em relação à concentração de sólidos solúveis totais e acidez titulável total. A cera Fruit Wax M-AC promoveu
frutos com maior pH e menos vitamina
C que os dos frutos sem cera. Notou-se
que a emulsão de resinas (Fruit Wax MAC) provoca alguma reação no fruto,
talvez devido à permeabilidade da cobertura, resultando em baixos teores de
vitamina C, comportamento este não
observado nos frutos cobertos com cera
de carnaúba.
Na análise sensorial, o tratamento
com Megh Wax ECF 124 obteve boa
aceitabilidade, ressaltando a preferência
dos julgadores quanto à textura dos frutos em ambas as temperaturas. Este tratamento não apresentou diferenças de
aroma e sabor em relação ao controle.
Porém, na avaliação visual houve diferenciação, pois a cera confere brilho ao
fruto. A cera Fruit Wax M-AC também
obteve boa aceitação, principalmente
quanto ao odor, não apresentando diferenças de aroma e sabor dos frutos sem
cera. Contudo, na avaliação visual, os
frutos com este tratamento foram os que
apresentaram maior grau de diferença,
pois a superfície do tomate fica opaca.
Os frutos tratados com Fruit Wax H2
foram os que apresentaram menor
aceitabilidade, apesar de não mostrarem
diferenças visuais e de sabor e aroma
em relação ao controle. Verificou-se que
os tomates encerados não se diferenciam
dos sem cera em termos de sabor e aroma, agradando o paladar dos
degustadores.
Baseando-se nos dados apresentados, observa-se que a aplicação de cera
contribui para uma diminuição na perda de massa fresca e decréscimo no número de frutos descartados devido a
danos físicos e podridões, sendo uma
alternativa de baixo custo, eficiente e ao
alcance de pequenos produtores. Frutos
cobertos com Megh Wax ECF-124 demonstram uma menor perda de massa
nas duas temperaturas (12,5°C e 25°C),
bem como um maior número de frutos
apropriados para consumo após
armazenamento. Fruit Wax M-AC é
mais eficiente à temperatura de 12,5°C,
porém torna o fruto opaco e é difícil de
ser retirada. Quanto às mudanças no
estádio de maturação durante
armazenamento observou-se uma aparente redução nestas alterações em frutos tratados com cera em relação a frutos não tratados.
Considerando o fato de que há muitas interrupções na cadeia do frio durante o processo de manuseio e
comercialização, e também como os resultados desta pesquisa, pode-se concluir que a utilização de ceras pode ser
uma opção a ser aplicada para a manutenção da qualidade de tomates.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP e ao
SAE/UNICAMP pelo apoio financeiro.
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385
Errata
No título do artigo “Crescimento e produtividade do tomateiro em cultivo hidropônico NFT em fungos da concentração iônica da solução nutritiva”, publicado no v. 24, n° 2, abril a junho de 2006, p. 175, retifica-se o título para “Crescimento e produtividade do tomateiro em cultivo hidropônico NFT em função da concentração iônica da solução nutritiva”.
Onde se lê a palavra “fungos”, leia-se “função”.
386
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Comunicação
Marilene Leão Alves Bovi (1948 – 2006): uma vida de dedicação à pesquisa com palmito
Marilene Leão Alves Bovi foi pesquisadora científica nível VI, do Instituto Agronômico em Campinas, atuando no Centro de Horticultura, em Campinas, SP. Estava entre as vítimas do
acidente aéreo recém ocorrido no país
Formou-se em engenharia agronômica pela ESALQ/USP, em 1972, sendo PhD em Agronomia, com ênfase em
Melhoramento Genético de Plantas, pela
Florida University, Gainesville (USA),
concluído em 1982. Atuava na área de
melhoramento genético e fitotecnia de
palmeiras produtoras de palmito.
Há 35 anos trabalhando no IAC,
Marilene Bovi é referência nacional e
internacional em sua área de atuação.
Profunda conhecedora de palmito e com
a visão de futuro e a perspicácia que
caracterizam os grandes cientistas, foi
pioneira no Brasil na pesquisa visando
o cultivo da pupunha e a exploração racional do açaí e do palmito juçara. Com
sua liderança, estabeleceu um amplo
programa de estudos com palmeiras produtoras de palmito, com destaque para
as linhas de melhoramento genético, fisiologia do crescimento e da produção,
sistemas de cultivo, manejo sustentado
e tecnologia de sementes, envolvendo
grande números de colaboradores em
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
todo o país. Os resultados de seus trabalhos contribuíram significativamente
para o desenvolvimento sustentável das
matas nativas, contribuindo para a sua
preservação. Ao mesmo tempo, introduziu o plantio comercial de pupunha,
transformando essa cultura em atividade competitiva no agronegócio da
horticultura.
Recebeu seis prêmios em sua prolífica carreira científica, destacando-se o
“Prêmio Frederico de Menezes Veiga”,
outorgado pela Embrapa em 2001, em
reconhecimento à sua contribuição expressiva para a pesquisa com palmito.
Publicou 75 artigos em periódicos
especializados e 159 trabalhos em anais
de eventos. Possui 4 livros publicados,
18 capítulos de livros, além de outros
27 itens de produção técnica. Participou
de 30 eventos no Brasil e exterior. Orientou quatro dissertações de mestrado,
uma tese de doutorado e co-orientou
duas teses de doutorado Também orientou um trabalho de conclusão de curso
na área de agronomia. Entre 1998 e 2002
coordenou seis projetos de pesquisa,
dois deles com financiamento externo.
Atualmente, participava de sete projetos de pesquisa, coordenando seis deles. Em suas atividades profissionais
interagiu com 146 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos.
Foi uma grande incentivadora da
criação do Curso Pós-Graduação em
Agricultura Tropical e Subtropical, do
IAC, onde tinha participação atuante no
conselho do curso e, principalmente
como orientadora, formando diversos
profissionais. Por sua competência, foi
escolhida pela CAPES para representar
a PG-IAC naquele órgão.
Era assessora científica de agências
de fomento, destacando-se FAPESP e
CNPq, colaborava como revisora ad hoc
dos mais importantes periódicos nacionais e como consultora em diversos programas brasileiros de pesquisa de
pupunha. Participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado e doutorado em diversas instituições de pesquisa e ensino do país.
Marilene Bovi foi uma cientista de
reconhecida competência em sua área de
atuação e sempre teve uma participação
destacada no âmbito da ABH, participando ativamente dos CBO´s e, atualmente,
era uma das editoras científicas da Revista Horticultura Brasileira.
Marilene era séria e de personalidade forte, sempre exigente consigo mesma e com seus orientados e colaboradores, mas sensível o suficiente para
respeitar os limites de cada um. Aberta
e acessível com aqueles que queriam de
fato pesquisar e aprender fazendo. Incentivava seus alunos e estagiários a
estudar e adorava estar no campo junto
aos seus experimentos. Era defensora da
pesquisa regional, tanto que coordenava projetos com pupunha em diversos
Pólos Regionais de Pesquisa localizados no litoral e no planalto do estado de
São Paulo, onde considerava ser a cultura viável.
Apesar de cientista renomada, destacava-se pela discrição, simplicidade e
pelo zelo familiar. Ela residia em Campinas (SP) e era casada há 32 anos com
o também pesquisador do IAC, Odair
Alves Bovi, com quem teve dois filhos.
(Arlete Marchi Tavares de Melo,
Pesquisadora Científica, IACAPTA, Centro de Horticultura,
Campinas, SP, e-mail:
[email protected])
387
normas
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O periódico Horticultura Brasileira é a revista oficial da
Associação Brasileira de Horticultura. Horticultura Brasileira destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que
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2. Carta ao Editor: assunto de interesse geral. Será
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4. Comunicação Científica: comunicação ou nota científica relatando informações resultantes de observações de
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cuja reproducibilidade é claramente demonstrada;
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resultados de utilização imediata pelo setor produtivo como,
por exemplo, ensaios originais com agrotóxicos, fertilizantes
ou cultivares, realizados com aplicação rigorosa de
metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente
demonstrada;
6. Nova Cultivar: relato de novas cultivares e
germoplasma, contendo descrição e disponibilidade, com
dados comparativos.
Submissão dos trabalhos
O texto deve ser composto em programa Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fonte Arial, tamanho doze. Páginas e linhas devem ser numeradas. Adicione ao final do
388
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7. Material e Métodos;
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processing fee (BRL $ 50,00). Rejected papers will not be
returned to the author(s).
Papers published in Horticultura Brasileira have the
following format:
1. Title: limited to 15 words. Avoid using scientific
names, unless there is no common name in the idiom used in
the paper;
2. Name(s) of author(s): Author(s) name(s) in full.
Abbreviate only middle family names. Use superscript
numbers to relate authors to addresses. Please refer the most
recent issues of Horticultura Brasileira for format;
3. Address(es): Full name of the Institution and
Department, if applicable, with post address and the author(s)
e-mail address(es). Use superscript numbers to relate addresses
to authors. Please refer the most recent issues of Horticultura
Brasileira for format;
4. Abstract and keywords: abstract limited to 1,400
characters (excluding spaces). Select up to six keywords,
starting with the scientific names of the organism(s) the study
deals with. It is not necessary to repeat words that are already
in the title;
5. Abstract, title and keywords in Portuguese: abstract,
title and keywords in Portuguese should be adequate versions
of their similar in English. Horticultura Brasileira will provide
Portuguese versions for non-Portuguese speaking authors;
6. Introduction;
7. Material and Methods;
8. Results and Discussion;
9. Acknowledgements, when applicable;
10. References: authors are asked to not exceed 30
bibliographic references. Make sure that at least half of the
references were published recently (up to 10 years).
Exceptional cases can be considered, regarding that authors
389
cias bibliográficas, a maioria com publicação recente (inferior a 10 anos). Casos excepcionais serão considerados, desde que devidamente justificados na carta de submissão do
trabalho. Todas as referências deverão ter sido citadas no texto. Evite a citação de resumos de congresso;
11. Figuras e Tabelas: o limite para cada categoria (figuras, tabelas e gráficos) é 3, com limite geral de 5. Verifique se
figuras, tabelas e gráficos não estão redundantes.
Este roteiro deverá ser utilizado para a seção Pesquisa. Para
as demais seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos números de Horticultura Brasileira. Para maior
detalhamento consulte os números mais recentes de Horticultura
Brasileira, disponíveis também nos sítios eletrônicos
www.scielo.br/hb e www.abhorticultura.com.br/Revista.
As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os
exemplos: Resende & Costa (2005) ou (Resende & Costa, 2005).
Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et
alli, de forma abreviada, em itálico, como segue: Melo Filho et al.
(2005) ou (Melo Filho et al., 2005). Quando houver mais de um
artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, indicar por uma
letra minúscula, logo após a data de publicação do trabalho, como
segue: 2005a, 2005b. Quando houver mais de um artigo do(s)
mesmo(s) autor(es), em anos diferentes, separar os anos por vírgula, como segue: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) ou “...segundo Inoue-Nagata et al. (2003, 2004)...”. Quando vários trabalhos
forem citados em série, utilize ordem cronológica de publicação.
Na seção “Referências”, organize os trabalhos em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor. Quando houver mais de
um trabalho citado cujos autores sejam exatamente os mesmos,
utilize ordem cronológica de publicação. Utilize para a seção “Referências” o padrão internacional, conforme os exemplos:
a) Periódico
MADEIRA NR; TEIXEIRA JB; ARIMURA CT;
JUNQUEIRA CS. 2005. Influência da concentração de BAP
e AG3 no desenvolvimento in vitro de mandioquinha-salsa.
Horticultura Brasileira 23: 982-985.
b) Livro
FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de olericultura.
Viçosa: UFV. 402p.
c) Capítulo de livro
FONTES EG; MELO, PE de. 1999. Avaliação de riscos
na introdução no ambiente de plantas transgênicas. In: TORRES AC; CALDAS LS; BUSO JA (eds). Cultura de tecidos e
transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica/Embrapa Hortaliças. p. 815-843.
d) Tese
SILVA C. 1992. Herança da resistência à murcha de
Phytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: USP
– ESALQ. 72p (Tese mestrado).
e) Trabalhos completos apresentados em congressos
(quando não incluídos em periódicos):
Anais
HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC;
FURLANI PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR.
1977. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4.
Anais... Salvador: SBF. p. 357-364.
390
mention their reasons at the submission letter. Avoid citing
conference abstracts;
11. Figures and Tables: the limit for tables, figures, and
charts is 3 for each, with a total limit of 5. Exceptional cases
can be considered, regarding that authors mention their reasons
at the submission letter. Please, make sure that tables, figures, and charts are not redundant;
This structure will be used for the Research section. For
other sections, please refer to the most recent issues of
Horticultura Brasileira, available also at www.scielo.br/hb e
www.abhorticultura.com.br/Revista.
Bibliographic references within the text should have the
following format: Resende & Costa (2005) or (Resende &
Costa, 2005). When there are more than two authors, use the
Latin expression et alli in its reduced form, in italics, as
follows: Melo Filho et al. (2005) or (Melo Filho et al., 2005).
References to studies done by the same author in the same
year should be noted in the text and in the list of References
by the letters a, b, etc., as for example: 1997a, 1997b. In
citations involving more than one paper from the same
author(s) published in different years, separate years with
commas: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) or “...accordingly
to Inoue-Nagata et al. (2003, 2004)...”. When citing papers in
tandem in the text, sort them chronologically.
In “References”, order citations alphabetically, according
to first author’s family name, without numbering. When there
is more than one paper from exactly the same authors, list
them in chronological order. References should appear
accordingly to the international format, as follows:
a) Journal
GARCIA-GARRIDO JM; OCAMPO JA. 2002.
Regulation of the plant defense response in arbuscular
mycorrhizal symbiosis. Journal of Experimental Botany 53:
1377-1386.
b) Book
BREWSTER JL. 1994. Onions and other vegetable
alliums. Wallingford: CAB International. 236p.
c) Chapter
ATKINSON D. 2000. Root characteristics: why and what
to measure? In: SMIT AL; BENGOUGH AG; ENGELS C;
van NORDWIJK M; PELLERIN S; van de GEIJN SC (eds).
Root methods: a handbook. Berlin: Springer-Verlag. p. 1-32.
d) Thesis
DORLAND E. 2004. Ecological restoration of heaths and
matgrass swards: bottlenecks and solutions. Utrecht: Utrecht
University. 86p (Ph.D. thesis).
e) Full papers presented in conferences (when not
included in referred journals)
Proceedings
HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC;
FURLANI PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR.
1977. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4.
Anais... Salvador: SBF. p. 357-364.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
CD-ROM
AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA
FHF. 2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e
qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB (CDROM).
f) Trabalhos apresentados em meio eletrônico:
Periódico
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not
just online journalism. APS News Online. Disponível em http:/
/www.hps.org/hpsnews/19065.html. Acessado em 25 de novembro de 1998.
Trabalhos completos apresentados em congresso
SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos
do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Disponível em: http://
www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Acessado em 21
de janeiro de 1997.
Sítios eletrônicos
USDA - United States Department of Agriculture. 2004,
15 de novembro. World asparagus situation & outlook. Disponível em http://www.fas.usda.gov/
Em caso de dúvidas, entre em contato com a Comissão
Editorial ou consulte os números mais recentes de Horticultura
Brasileira.
Processo de tramitação
Os artigos serão submetidos à Comissão Editorial, que
fará uma avaliação preliminar (escopo do trabalho, atendimento às normas de publicação, qualidade técnica e qualidade do texto). A decisão da Comissão Editorial (adequado para
tramitação, ou não adequado) será comunicada ao autor de
correspondência por via eletrônica. Caso sejam necessárias
modificações, o(s) autor(es) poderão submeter uma nova versão para avaliação. Caso a tramitação seja aprovada, a Comissão Editorial encaminhará o trabalho a dois assessores ad
hoc especialistas naquela área de pesquisa. Tão logo haja dois
pareceres, o trabalho é enviado a um Editor Científico, também especialista, que emitirá seu parecer: (1) recomendado
para publicação, (2) necessidade de alterações ou (3) não recomendado para publicação. Caso o trabalho seja recomendado ou não recomendado para publicação, será encaminhado ao Editor Associado. Caso sejam necessárias modificações, os autores produzirão uma nova versão que deverá ser
enviada à Comissão Editorial. Esta, por sua vez, remeterá a
nova versão ao Editor Científico para avaliação. O Editor
Científico poderá recomendar ou não a nova versão. Em ambos os casos, o trabalho é remetido para o Editor Associado,
que emitirá o parecer final. Cabe ao Editor Associado a responsabilidade pelo aceite ou rejeição do trabalho. Nenhuma
alteração é incorporada ao trabalho sem a aprovação do(s)
autor(es). Após o aceite em definitivo do trabalho, o autor de
correspondência receberá uma cópia eletrônica da prova tipográfica, que deverá ser devolvida à Comissão Editorial em
48 horas. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. Alterações, adições, deleções e edições imHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
CD-ROM
AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA
FHF. 2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e
qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB (CDROM).
f) Papers published in electronic media
Journal
KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not
just online journalism. APS News Online. Available at http://
www.hps.org/hpsnews/19065.html. Accessed in November
25, 1998.
Full papers presented in conferences
SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos
do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Available at http://
www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Accessed in
January 21, 1997.
Electronic Sites
USDA - United States Department of Agriculture. 2004,
November 15. World asparagus situation & outlook. Available
at http://www.fas.usda.gov/
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research area. As soon as they evaluate the manuscript, it is
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analyzes the manuscript and forwards it back to the Editorial
Board, (1) recommending it for publication, (2) suggesting
modifications or (3) do not recommending for publication. If
recommended for publication or not, the manuscript is
reviewed by the Associate Editor, who holds the responsibility
for the final decision. If modifications are suggested, the
manuscript is returned to the author(s), who, based on the
suggestions, produces a new version. Following, the Scientific
Editor checks the new version and recommend it or not for
publication. In both cases, it is sent to the Associate Editor,
for the final decision. No modifications are incorporated to
the manuscript without the approval of the author(s). Once
the paper is accepted, an electronic copy of the galley proof
is sent to the correspondence author who should make any
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391
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392
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Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
Hortaliças não-convencionais
Muitas plantas denominadas “matos”, “daninhas”, “invasoras” ou
“inços” são espécies com importância ecológica e significativo potencial econômico como alimentícias.
Entre essas plantas, aquelas classificadas como hortaliças são as mais
negligenciadas. Nos países tropicais
e subtropicais, detentores da maior
biodiversidade, a falta de pesquisa a
longo prazo, divulgação, valorização e valoração das espécies nativas é um contra-senso à tão citada e
defendida riqueza biológica.
O uso e a valorização das hortaliças não-convencionais (HNC) são
ainda menores quando comparados às frutas não-convencionais,
que têm o apelo da cor, doçura e
suculência. Ainda assim, algumas
espécies de HNC fazem parte da
culinária regional. Entre estas
destacam-se, na região Norte do
Brasil, o jambu (Acmella
oleracea (L.) R.K.Jansen Asteraceae), componente essencial do tacacá, prato típico da culinária amazônica, e a chicóriade-caboclo (Eryngium foetidum
L. - Apiaceae), já cultivada e
comercializada como um condimento essencial em alguns pratos.
No Sul do Brasil há várias espécies deste gênero merecedoras de
pesquisas (e.g., E. nudicaule
Lam., E. horridum Malme e E.
pandanifolium Cham. &
Schlecht.). A primeira é similar à
espécie cultivada. Das duas últimas podem ser consumidas as
bases caulinares e os tenros
escapos das inflorescências jovens cozidos, gratinados ou em
picles.
Merece menção também o orapro-nóbis ou carne-de-pobre
(Pereskia aculeata Mill.Cactaceae; capa, imagem superior esquerda), mais usado na culinária mineira. Mesmo com o
Festival do Ora-Pro-Nóbis realizado em Minas Gerais e muitos
trabalhos publicados, ainda é
grande o potencial inexplorado
desta espécie pela indústria alimentícia. O ora-pro-nóbis pertence a um dos dois gêneros das
cactáceas que apresenta folhas
verdadeiras. Muitas espécies desta família, além de produtoras de
frutos comestíveis, podem ter
seus cladódios usados como verdura, com diferentes modos e opções de preparo. O uso das
Cactaceae é comum no México,
como o nopal (Nopalea
cochenillifera (L.) Lyons), espécie também cultivada no Brasil
como ornamental e forrageira e
que pode ser consumida como
verdura e sucos verdes.
Entre as hortaliças subutilizadas,
destacam-se as taiobas, taiás,
mangarás
e
mangaritos
(Xanthosoma spp. - Araceae).
Deste gênero nativo salienta-se a
taioba (X. sagittifolium (L.)
Schott; capa, imagem inferior direita) que, além das folhas, produz grande quantidade de tubérculos amiláceos, saborosos quando consumidos cozidos, fritos,
ensopados ou transformados em
pães e bolos. Entre as
Dioscoreaceae nativas algumas
também podem ter seus tubérculos consumidos, e.g., a caratinga
(Dioscorea dodecaneura Vell.).
No Sul do país há uma hortaliça
tuberosa, de uso local consagrado e com alto valor de mercado:
Tropaeolum pentaphyllum Lam.
– Tropaeolaceae. (Capa, imagens
no canto inferior esquerdo). Esta
espécie possui diversos nomes
populares:
cinco-chagas,
sapatinho-do-diabo, sapatinhode-iaiá, chagas-miúdas, falsocrem, crem-trepador, crem-domato e capuchinha, entre outros.
Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006
No entanto, os mais difundidos no
comércio são batata-crem ou
crem. Os tubérculos, que chegam
a atingir mais de 500 g, apresentam casca suberosa e fissurada e
região interna branca, com odor
forte e sabor pungente. Ralados e
conservados em vinagre são usados como condimento em diferentes pratos a base de carnes e
sopas. As folhas e flores cruas em
saladas ou refogadas são muito
saborosas e atrativas, mas com
uso pouco conhecido. O mesmo
ocorrendo com os frutos picantes
que podem ser consumidos em
conservas. No entanto, apesar do
uso tradicional como medicinal e
condimentar e do potencial para
cultivo em maior escala e
domesticação, pouco se conhece
sobre sua biologia e aspectos
fitotécnicos.
Outra hortaliça diferenciada é um
parente silvestre do mamoeiro,
com uso regional consagrado e
grande potencial econômico. É a
espécie Vasconcella quercifolia
A. St.-Hil – Caricaceae (Capa,
imagem superior direita), mais
conhecida pelo sinônimo Carica
quercifolia (A. St.-Hil.) Hieron.
É chamada de jaracatiá, coco-depobre, pau-de-coco, mamute,
mamãozinho-do-mato e mamãobrabo. No Rio Grande do Sul é
elaborado e comercializado um
doce sob o nome de doce-dejaracatiá, doce-do-pau ou pau-ralado, denominações advindas do
fato de que é elaborado com a
medula ralada dos ramos e tronco. Como a espécie apresenta
crescimento rápido e ramificação,
a matéria-prima para a confecção
do doce é obtida dos ramos mais
grossos podados, não precisando
eliminar as árvores. Os frutos verdes ainda são umas das melhores
fontes de papaína, uma enzima
proteolítica usada na indústria alimentícia e farmacológica.
As espécies salientadas permitem
vislumbrar a enorme disponibilidade alimentar a ser pesquisada e
explorada. No entanto o padrão
alimentar está cada vez mais
globalizado. Nos alimentamos
com nada mais que 10 a 20 espécies por dia, considerando todas
as refeições. A média anual não
ultrapassa 100 espécies e, em geral, 52% das espécies utilizadas
na alimentação mundial têm origem na Eurásia. Esta especialização alimentar e a baixa
sazonalidade podem restringir a
diversidade de nutrientes ingeridos,
especialmente
oligoelementos e substâncias
antioxidantes. Neste aspecto, as
hortaliças (folhosas, tuberosas,
floríferas), especialmente as
HNC, contribuem sobremaneira
com micronutrientes vitais para o
correto funcionamento do organismo humano, bem como com
altos teores de fibra alimentar,
itens presentes em baixíssimo teor
em alguns alimentos industrializados de amplo consumo.
A riqueza de HNC do Brasil é
imensa. Neste artigo foram feitas
apenas algumas considerações gerais sobre umas poucas espécies,
com o intuito tão somente de chamar a atenção para a
biodiversidade brasileira, sem a
mínima pretensão de listar as espécies-chave. Cabe frisar mais
uma vez a necessidade de pesquisas sobre caracterização e conservação de recursos genéticos, melhoramento, sistemas de cultivo e
processamento agroindustrial das
espécies de HNC, especialmente
as nativas. O fomento a linhas de
pesquisas duradouras voltadas
para o estudo das HNC é urgente,
para se conhecer melhor, produzir
e conservar esta fitodiversidade.
Do contrário, daqui a dezenas de
anos nossas espécies, aquelas não
extintas ou com reduzida variabilidade genética pela destruição dos
hábitats, ainda estarão precedidas
das palavras “potenciais” ou “promissoras”.
Valdely F. Kinupp; Ingrid B.I.
de Barros - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
– Faculdade de Agronomia,
PPG Fitotecnia, Depto. de
Horticultura e Silvicultura,
Av. Bento Gonçalves, 7.712,
Agronomia, 91.540-000 Porto
Alegre-RS;
[email protected];
[email protected])
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