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Pecuária Biológica Bovinos para a Carne 1 C C b Z 2 ÍNDICE INTRODUÇÃO GERAL CAPÍTULO I 1. COMPETÊNCIAS DE GESTÃO 1.1. Supervisão e controlo da aplicação dos regulamentos 1.1.a Conversão para uma agricultura biológica 1.1.b Certificação biológica (de acordo com os padrões da UE e da IFOAM) 1.1.c Formas oficiais na relação com os organismos de certificação 1.1.d Apoios à agricultura biológica 1.2. Planeamento da produção, monitorização e controlo 1.2.a Selecção de raças de gado 1.2.b Concepção dum programa de alimentação 1.2.c Planeamento do controlo de saúde e higiene CAPÍTULO II 2. COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 2.1. Planeamento e gestão de compras 2.1.a Selecção de fornecedores 2.1.b Escolha dos canais de distribuição 2.2. Comercialização de produtos da quinta 2.2.a Selecção do consumidor 2.2.b Como vender produtos biológicos CAPÍTULO III MÓDULO I ALIMENTAÇÃO DE BOVINOS BIOLÓGICOS PARA CARNE 1. GESTÃO DO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO 1.1. NECESSIDADES NUTRITIVAS DOS ANIMAIS 1.2. DISTRIBUIÇÃO EM LOTES 1.3. ELABORAÇÃO DE RAÇÕES BIOLÓGICAS E A SUA ROTULAGEM 2. CULTIVO DE FORRAGEM PARA A ALIMENTAÇÃO DE GADO BIOLÓGICO 2.1. BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA BIOLÓGICA 2.2. CULTURAS FORRAGEIRAS MÓDULO II REPRODUÇÃO DO GADO BOVINO BIOLÓGICO 4 7 8 11 12 30 32 34 36 37 39 43 49 50 52 52 55 57 61 67 68 73 76 83 72 83 92 95 1. ACASALAMENTO NATURAL 2. PLANOS DE CRIAÇÃO 3. CUIDADOS DURANTE O NASCIMENTO MÓDULO III CUIDADO E MANEIO DO GADO BOVINO BIOLÓGICO 1. CONTROLO DO PASTOREIO 2. ESTABULAÇÃO 3. BEM-ESTAR ANIMAL 3.1. O que provoca a falta de bem-estar animal? 3.2. Factores de stress 4.CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DO GADO BOVINO BIOLÓGICO 5. ABATE DO GADO BOVINO MÓDULO IV IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS SANITÁRIAS 1. PREVENÇÃO DE DOENÇAS 2.TRATAMENTOS ALTERNATIVOS NA PRODUÇÃO BIOLÓGICA 2.1. Homeopatia 2.2. Fitoterapia 2.3. Aromaterapia 3.OPERAÇÕES DE DESPARASITAÇÃO E VACINAÇÃO DO GADO MÓDULO V MANUTENÇÃO DAS INSTALAÇÕES 1. NORMAS SOBRE A DIMENSÃO E DENSIDADE NAS INSTALAÇÕES 2. CONDIÇÕES DE SEGURANÇA E HABITABILIDADE DAS INSTALAÇÕES 3. CONDIÇÕES SANITÁRIAS E DE HIGIENE NAS INSTALAÇÕES 3.1. Factores que influenciam o estado sanitário do gado 3.2. Limpeza das instalações MÓDULO VI GESTÃO DE RESÍDUOS 1. ARMAZENAGEM E ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS 1.1. Estrume 1.2. Tratamento do estrume 2. TRATAMENTO DE RESÍDUOS 2.1. Resíduos inorgânicos 2.2. Compostagem 96 102 105 111 CONCLUSÃO GLOSSÁRIO INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 183 184 187 3 112 115 119 120 122 125 131 103 135 136 140 140 144 146 150 155 156 161 164 164 168 171 172 173 175 177 177 178 INTRODUÇÃO GERAL Este manual é o resultado do trabalho comum de um grupo de centros de formação de Espanha (Instituto de Formación y Estudios Sociales-IFES), Áustria (Amadeus Verein), Itália (Biocert), Suécia (Lantbrukarnas Riksförbund - LRF), Alemanha (BFW - Competenz Centrum Europa) e Portugal (Escola Superior Agrária de Ponte de Lima), com a cooperação de uma Organização de Criadores Espanhóis (Unión de Pequeños Agricultores y Ganaderos – UPA), de uma Organização de Formação Italiana (Istituto Nazionale di Istruzione Professionale Agricola-INIPA) e de dois Departamentos da Universidade Complutense de Madrid (Teoria e História de Educação e Métodos para Pesquisa e Diagnose em Educação). O manual é o produto final de um projecto Leonardo da Vinci (Forecologia-Número de Referência - ES/03/B/F/PP-149080). “Leonardo da Vinci” é um programa de dotação de fundos para a União Europeia, apoiando projectos vocacionados para o desenvolvimento da Formação Profissional na União Europeia. O principal objectivo deste projecto “Forecologia” foi promover a formação em agricultura biológica, permitindo que os agricultores e produtores adaptem as suas produções às condições necessárias para se tornarem produtores biológicos. Desta forma, os usuários deste manual serão principalmente profissionais que já trabalham no sector agrícola e, preferencialmente, pequenos agricultores. Desta forma, este manual deve ser entendido numa óptica de re-qualificação ou de formação permanente. 4 Este manual é composto por quatro capítulos principais, descritos sucintamente nesta Introdução: 1 - O primeiro capítulo, relativo a assuntos relacionados com aspectos de administração, cobre aspectos relacionados com conversão em agricultura biológica, a certificação segundo a UE e os padrões da IFOAM, as incumbências dos corpos de certificação e o fornecimento de instrumentos de apoio às explorações agrícolas em produção biológica. Como a produção biológica reveste-se de alguma especificidade no que diz respeito à planificação da produção, estes capítulos estão relacionados com a inventariação e caracterização de aspectos relacionados com o solo e avaliação das exigências das plantas, como incidências de peste e exigências nutricionais. 2-O segundo capítulo inclui informação sobre selecção de fornecedores (considerando que todos os produtos fornecidos têm que ser produzidas cumprindo as exigências de produção biológica) e a escolha de redes de distribuição. São também abordados aspectos relativos à comercialização de produtos biológicos, nomeadamente selecção dos clientes e algumas sugestões de como vender estes produtos. 3 – No que diz respeito à produção em modo biológico de bovinos de carne, serão abordados aspectos relacionados com a alimentação, a reprodução e o maneio dos animais bem como a sua saúde e higiene. Relativamente às doenças, serão abordadas matérias relacionadas com a sua prevenção e também com os possíveis tratamentos alternativos. Por último, serão analisados aspectos relativos às instalações e ao tratamento dos resíduos da exploração. 4 – Neste último capítulo será apresentada uma breve introdução aos computadores e à informática. Pretende-se dotar os formandos de uma formação básica sobre computadores, sistemas de informação e tecnologias de comunicação, realçando o seu potencial na produção em explorações biológicas. 5 C C Z 6 b CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 7 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 1.1 Supervisão e controlo da aplicação dos regulamentos Os produtores têm a hipótese de explorar várias oportunidades económicas, saídas de uma estrutura detalhada levada a cabo pela Comissão Europeia no sector da agricultura biológica. De facto, esta estrutura tem como objectivo a integração da protecção ambiental na agricultura, ao promover e a gerir a qualidade e segurança na produção alimentar. De modo particular, o Regulamento 2092/91 prevê em detalhe como gerir a produção de produtos biológicos nos Estados Membros. Este Regulamento foi revisto várias vezes. Um texto consolidado foi reunido pelo Gabinete de Publicações Oficiais das Comunidades Europeias e foi publicado no seu site oficial 1. É pertinente sublinhar que as leis relativas aos produtos biológicos estão assentes num sistema de base voluntária, e o logótipo da agricultura biológica pode também ser usado em conjunto com outros logótipos de nível público ou privado, para identificar produtos biológicos. Para classificar um produto como biológico, este tem de estar totalmente de acordo com o previsto no Regulamento supracitado, que prevê regras mínimas relativas à produção, processamento e importação de produtos biológicos, incluindo normas de inspecção, marketing e rotulagem, para toda a Europa. Esta classificação poderá depois ser utilizada por outros produtores, cujos sistemas e produtos estejam de acordo com os requerimentos do Regulamento, e portanto aprovados pela inspecção. O logótipo para os produtos biológicos foi criado em 2000 a um nível Europeu, e pode ser usado em todo o Espaço Europeu. Este logótipo só pode ser usado nos produtos biológicos que atinjam um mínimo de 95% dos ingredientes, e se 1 8 http://europa.eu.int/eur-lex COMPETÊNCIAS DA GESTÃO A Comissão Europeia identificou o conceito de rastreabilidade (possibilidade de seguir as rotas dum produto, desde o inicio até à venda final e vice versa) como uma das suas principais prioridades. Desde Janeiro de 2005, o Regulamento nº 178/02, adoptou o sistema obrigatório de rastreabilidade alimentar. O Regulamento prevê os princípios gerais e as exigências da lei alimentar, criando a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar e especificando os procedimentos a tomar relacionados com a segurança alimentar. A rastreabilidade tornou-se objecto de particular atenção entre os produtores agro-alimentares, instituições e consumidores, justificada em larga medida por questões relacionadas com a qualidade e segurança alimentar (lembremo-nos da crise da BSE) e a “garantia de proveniência” (contaminação com produtos geneticamente manipulados - OGM). A possibilidade de tomar medidas rápidas, efectivas e seguras em resposta a emergências sanitárias através da cadeia alimentar é de enorme importância (podemos também falar da “rastreabilidade de responsabilidades”). A rastreabilidade da cadeia alimentar faz referência a todos os elementos que possam surgir “desde o campo até à mesa”, com o objectivo de aprofundar a qualidade dos produtos. Toda esta informação deve ser gerida através de verdadeiros sistemas 9 CAPÍTULO I tiverem sido processados, embalados e rotulados na UE ou em países estrangeiros que tenham um sistema de inspecção equivalente. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO informativos da cadeia alimentar, com vários pontos de acesso, nomeadamente para o público em geral, Autoridades Sanitárias, organismos de certificação, técnicos responsáveis e gestores de negócio com o objectivo de criar um sistema minucioso e transparente. Para atingir este objectivo, os principais documentos a preparar são: a) O manual técnico disciplinar da rastreabilidade, cujo princípio é escrever tudo o que todos fazem (… e depois fazer tudo o que está escrito!), para garantir a rastreabilidade da cadeia. b) O sistema documental, que é composto por procedimentos operacionais, instruções e documentos que cada empresa da cadeia alimentar tem de adoptar para garantir o correcto funcionamento do sistema. c) O esboço da Certificação, que destaca as regras através das quais as agência reguladora e os operadores da cadeia têm de respeitar entre eles, para garantir a conformidade do produto com as normas de referência. d) A tabela de volume, que representa o método onde as várias fases de produção são delineadas. Também distingue as fases em que a rastreabilidade pode ser mais facilmente comprometida. É portanto um documento que descreve a história do lote do produto (entendido como o lote mais reduzido que é o mais próximo do lote para venda). e) O plano de controlo, que é o documento que indica o tipo e as formalidades das operações a levar a cabo para a verificação das especificações do produto durante o ciclo de produção (recolha de amostras, análises químicas, laboratórios, etc.) Estas verificações são normalmente conduzidas pela empresa principal da cadeia de produção e por uma terceira empresa, no caso de certificação. Naturalmente para a cadeia do produto biológico, a actividade levada a cabo por Agências de controlo e certificação, autorizadas pelas autoridades nacionais, em conformidade com o disposto no Regulamento (CEE) nº 2092/91, é essencial. Estes organismos 10 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO Os agricultores, com o intuito de produzir de acordo com os métodos biológicos, têm de planear cuidadosamente a reconversão da produção das suas culturas, do ponto de vista técnico e burocrático, respeitando as normas estabelecidas, permitindo o controlo da cultura por empresas qualificadas (competência da Autoridade Nacional), e contactando associações privadas do sector ou centros de assistência públicos. 1.1.a Conversão para uma agricultura biológica De um ponto de vista técnico, a conversão é o período em que a agricultura dirigida segundo métodos convencionais, inicia uma correcta e eficaz aplicação dos métodos da agricultura biológica. Deste modo, podemos defini-la simultaneamente como uma “conversão burocrática”, que não permite que os produtos sejam vendidos como produzidos em Modo Biológico, e como uma “conversão agrária”, que visa optimizar os métodos de produção do ponto de vista técnico. A Comunidade Europeia estabelece que qualquer exploração agrícola interessada em adoptar os métodos biológicos, deve passar por uma fase de conversão de dois anos no caso de colheitas herbáceas, e de três anos para colheitas perenes. Os inspectores podem prolongar ou reduzir este período, baseando-se na história da cultura através de documentação. Todos os planos de agricultura têm de ser aprovados previamente pelos inspectores, começando pelo plano de conversão. 11 CAPÍTULO I funcionam com base em manuais operacionais especializados, profundamente planeados, de forma a garantir o controlo de toda a cadeia do produto em todas as suas fases. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 1.1.b Certificação biológica (de acordo com os padrões da UE e da IFOAM) As normas da UE prevêem que cada Estado Membro tenha o seu próprio sistema de inspecção e certificação, operando através de autoridades de inspecção e supervisionamento dos organismos inspectores (Tabela 1), que têm de respeitar as normas internacionais de qualidade EN 45011 ou ISO 65. Tabela 1: Lista de Entidades Acreditadas nos países envolvidos no projecto acreditados. LISTA DE MEMBROS OU AUTORIDADES PÚBLICAS ENCARREGUES DA INSPECÇÃO, DE ACORDO COM O ARTIGO 15 DO REGULAMENTO 2092/91 (ECC) (Extracto de informação No. 2005/C16/01 do Jornal Oficial da União Europeia 20.01.2005) ESPANHA - Asociacion Comite Andaluz de Agricultura Ecologica (C.A.A.E.) Cortijo de Cuarto, s/n - Apartado de correos 11107 - E-41080 BELLAVISTA (Sevilla) - Tel.: +34 954 689 390 - Fax: +34 954 680 435 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.caae.es - SOHISCERT SA (Organismo privado autorizado) C/ Alcalde Fernandez Heredia, no 20 - E-41710 Utrera (Sevilla) Tel.: +34 955 86 80 51, +34 902 195 463 - Fax: +34 955 86 81 37 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.sohiscert.com - Comite de Agricultura Ecologica de la Comunidad de Madrid C/ Bravo Murillo, 101 - E-28020 Madrid - Tel.: +34 91 535 30 99 Fax: +34 91 553 85 74 - E-mail: [email protected] - http://www.caem.es - Consejo Regulador de la Agricultura Ecologica de Canarias C/Valentin Sanz, 4, 3o - E-38003 Santa Cruz de Tenerife Tel.: +34 922 47 59 81/47 59 82/47 59 83 - Fax: +34 922 47 59 80 - Entidad certificadora de alimentos de Espana C/ Estudio no 33 - E-28023 Aravaca (Madrid) - Tel.: +34 91 357 12 00 Fax: +34 91 307 15 44 - E-mail: [email protected] 12 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I - AGROCOLOR, S.L. Ctra. De Ronda, no 11 - E-04004 ALMERIA - Tel.: +34 950 280 380 Fax: +34 950 281 331 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.agrocolor.com - Comite de Agricultura Ecologica de la Comunidad Valenciana Cami de la Marjal, s/n Edificio C.I.D.E. - E-46470 Albal (Valencia) Tel.: +34 961 22 05 60 - Fax: +34 961 22 05 61 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.cae-cv.com - Consejo Catalan de la Produccion Agraria Ecologica C/ Sabino de Arana, 22-24 - E-08028 Barcelona - Tel.: +34 93 409 11 22 Fax: +34 93 409 11 23 - E-mail: [email protected] - Consejo Balear de la Produccion Agraria Ecologica C/ Celleters, 25 (Edif. Centro BIT) - E-07300 INCA (Mallorca) Tel./Fax: +34 971 88 70 14 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.cbpae.org - Consejo de Agricultura Ecologica de Castilla y Leon C/Pio del Rio Hortega, 1 - 5 A - E-47014 Valladolid - Tel.: +34 983/343855 Tel./Fax: +34 983/34 26 40 - E-mail: [email protected] - Consejo de la Produccion Agraria Ecologica de Navarra Avda - San Jorge, 81 Entreplanta - E-31012 Pamplona - Iruna Tel.: +34 948-17 83 32 - Fax: +34 948-25 15 33 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.cpaen.org - Comite Aragones de Agricultura Ecologica Edificio Centrorigen - Ctra. Cogullada, 65 - Mercazaragoza - E-50014 Zaragoza - Tel.: +34 976 47 57 78 - Fax: +34 976 47 58 17 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.caaearagon.com - Entitad certificadora de alimentos de Espana SA (ECAL, SA) C/Miguel Yuste, 16-5a planta - 28037 MADRID Tel.: +34 913 046 051 - Fax: +34 93 13 275 028 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] - Consejo de Agricultura Ecologica de la Region de Murcia Avda del Rio Segura, 7 - E-30002 Murcia - Tel.: +34 968 355488 Fax: +34 968 223307 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.caermurcia.org - Consejo de la Produccion Agraria Ecologica del Principado de Asturias Avda. Prudencio Gonzalez, 81 - E-33424 Posada de Llanera (Asturias) Tel./Fax: +34 985 77 35 58 - E-mail: [email protected] 13 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO - Direccion de Politica e Industria Agroalimentaria Departamento de Agricultura y Pesca C/Donosti - San Sebastian, 1 - E-01010 Vitoria - Gasteiz Tel.: +34 945 01 97 06 - Fax:+34 945 01 97 01 - E-mail: [email protected] - Consejo Regulador Agroalimentario Ecologico de Extremadura C/ Padre Tomas, 4, 1a - E-06011 Badajoz - Tel.: +34 924 01 08 60 Fax: +34 924 01 08 47 - E-mail: [email protected] - Comite Extremeno de la Produccion Agraria Ecologica Avda. Portugal, s/n - E-06800 Merida (Badajoz) - Tel.: +34 924 00 22 74 Fax: +34 924 00 21 26 - E-mail: [email protected] http://aym.juntaex.es/organizacion/explotaciones/cepae/ - Consejo Regulador de la Agricultura Ecologica de Galicia Apdo de correos 55 - E-27400 Monforte de Lemos (Lugo) Tel.: +34 982 405300 - Fax: +34 982 416530 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.craega.es - Instituto de Calidad de La Rioja Consejeria de Agricultura y Desarrollo Economico Avda de la Paz, 8-10 - E-26071 Logrono (La Rioja) - Tel.: +34 941 29 16 00 Fax: +34 941 29 16 02 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.larioja.org/agricultura - Consejo Regulador de la Agricultura Ecologica de Cantabria C/Heroes Dos de Mayo, s/n - E-39600 Muriedas-Camargo (Cantabria) Tel./Fax: +34 942 26 23 76 - E-mail: [email protected] - SOHISCERT, SA (Organismo privado autorizado) C/ Alcalde Fernandez Heredia, 20 - E-41710 Utrera (Sevilla) Tel.: +34 95 586 80 51 - Fax: +34 95 586 81 37 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.sohiscert.com - BCS Oko - Garantie GmbH - BCS Espana C/Sant Andreu, 57 - 08490-TORDERA (Barcelona) - Tel.: +34 93 765 03 80 Fax: +34 93 764 17 84 - E-mail: [email protected] - SOHISCERT, SA (Organismo privado aut.) C/ Alcalde Fernandez Heredia, 20 - E-41710 Utrera (Sevilla) Tel.: +34 95 586 80 51, +34 902 195 463 - Fax: + 34 95 586 81 37 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.sohiscert.com Delegacion en Toledo: C/ Italia, 113 - 45005 Toledo - Tel.: 925 28 04 68 - Fax: 925 28 02 02 E-mail: [email protected] 14 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I - ECAL PLUS, SA C/ des Estudio, 33 - 28023 MADRID - Tel.: +34 917 402 660 Fax: +34 917 402 661 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.ecalplus.com Delegacion en Toledo: C/ Italia, 113 - 45005 Toledo - Tel.: 925 28 04 68 - Fax: 925 28 02 02 E-mail: [email protected] - Servicios de Inspeccion y certificacion S.L. C/ Ciudad, 13-1o - E-41710 Utrera (Sevilla) - Tel.: +34 95 586 80 51 Fax: +34 95 586 81 37 - E-mail: [email protected] Internet: http://www.sohiscert.com ITALIA - ICEA - Istituto per la Certificazione Etica e Ambientale Strada Maggiore, 29 - I-40125 Bologna - Tel.: +39 051/272986 Fax: +39 051/232011 - E-mail: [email protected] - Internet: www.icea.info - Suolo & Salute srl Via Paolo Borsellino, 12/B - I-61032 Fano (PU) Tel./Fax: +39 0721/830373 - E-mail: [email protected] Internet: www.suoloesalute.it - IMC srl Istituto Mediterraneo di Certificazione Via Carlo Pisacane, 32 - I-60019 Senigallia (AN) Tel.: +39 0717928725/7930179 - Fax: +39 071/7910043 E-mail: [email protected] - Internet: www.imcert.it - Bioagricert srl Via dei Macabraccia, 8 - I-40033 Casalecchio Di Reno (BO) Tel.: +39 051562158 - Fax: +39 051564294 - E-mail: [email protected] Internet: www.bioagricert.org - Q.C. & I. . Gesellschaft fur kontrolle und zertifizierung von Qualitatssicherungssystemen GmbH Mechtildisstrasse 9 - D-50678-KOLN - Tel.: +49(0) 221 943 92-09 Fax: +49(0) 221 943 92-11 - E-mail: [email protected] Internet: www.qci.de - BIKO TIROL - Verband Kontrollservice Tirol Brixnerstrasse 1 - A-6020 INNSBRUCK - Tel.: +43 512/5929337 Fax: +43 512/5929212 - E-mail: [email protected] Internet: www.kontrollservice-tirol.at - Consorzio Controllo Prodotti Biologici - CCPB via Jacopo Barozzi 8 - I-40126 Bologna - Tel.: +39 051/254688-6089811 Fax: +39 051/254842 - E-mail: [email protected] Internet: www.ccpb.it 15 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO - CODEX srl Via Duca degli Abruzzi, 41 - I-95048 Scordia (Ct) Tel.: +39 095-650634/716 - Fax: +39 095-650356 E-mail: [email protected] - Internet: www.codexsrl.it - Q.C. & I. International Services sas Villa Parigini - Localita Basciano - I-55035 Monteriggioni (Si) Tel.:+39 (0)577/327234 - Fax: +39 (0)577/329907 - E-mail: [email protected] Internet: www.qci.it - Ecocert Italia srl Corso delle Province 60 - I-95127 Catania - Tel.: +39 095/442746 - 433071 Fax: +39 095/505094 - E-mail: [email protected] Internet: www.ecocertitalia.it - BIOS srl Via Monte Grappa 37/C - I-36063 Marostica (Vi) - Tel.: +39 0424/471125 Fax: +39 0424/476947 - E-mail: [email protected] Internet: www.certbios.it - Eco System International Certificazioni srl Via Monte San Michele 49 I-73100 Lecce - Tel.: +39 0832318433 - Fax: +39 0832-311589 E-mail: [email protected] - Internet: www.ecosystem-srl.com - BIOZOO srl Via Chironi 9 - 07100 SASSARI - Tel.: +39 079-276537 Fax: +39 1782247626 - E-mail: [email protected] Internet: www.biozoo.org - Eco System International Certificazioni srl Via Monte San Michele 49 - I-73100 Lecce - Tel.: +39 0832318433 Fax: +39 0832-311589 - E-mail: [email protected] Internet: www.ecosystem-srl.com - BIOZOO srl Via Chironi 9 - 07100 SASSARI - Tel.: +39 079-276537 Fax: +39 1782247626 - E-mail: [email protected] Internet: www.biozoo.org - ABC Fratelli Bartolomeo via Cirillo n.21 - I-70020 Toritto (BA) - Tel./Fax: +39 0803839578 E-mail: [email protected] - ANCCP S.r.l via Rombon 11 - I-20134 MILANO - Tel.: +39 022104071 Fax: +39 02 210407218 - E-mail: [email protected] - Internet: www.anccp.it 16 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I - Sidel S.p.a. via Larga n.34/2 - I-40138 BOLOGNA - Tel.: +39 022104071 Fax: +39 051 6012227 - http://www.sidelitalia.it - ICS - Control System Insurance srl Viale Ombrone, 5 - I-58100 Grosseto - Tel.: +39 0564417987 Fax: +39 0564410465 - E-mail: [email protected] Internet: www.bioics.com - Certiquality - Istituto di certificazione della qualità Via Gaetano Giardino 4 (P.za Diaz) - I-20123 Milano Tel.: +39 02806917.1 - Fax: +39 0286465295 E-mail: [email protected] - Internet: www.certiquality.it - ABCERT - AliconBioCert GmbH Martinstrasse 42-44 - D-73728 Esslingen - Tel.: +49 (0) 711/351792-0 Fax: +49 (0) 711/351792-200 - E-mail: [email protected] Internet: www.abcert.de - INAC - International Nutrition and Agriculture Certification In der Kammerliethe 1 - D-37213 Witzenhausen Tel.: +49 (0) 5542/91 14 00 - Fax: +49 (0) 5542/91 14 01 E-mail: [email protected] Internet: www.inac-certification.com - IMO - Institut fur Marktokologie Obere Laube 51/53 - D-78409 Konstanz - Tel.: +49 (0) 7531/81301-0 Fax: +49 (0) 7531/81301-29 - E-mail: [email protected] Internet: www.imo-control.net ALEMANHA - BCS Oko-Garantie GmbH Control System Peter Grosch Cimbernstr. 21 - D-90402 Nurnberg - Tel.: +49 (0)911/424390 Fax: +49 (0)911/492239 - E-mail: [email protected] - http://bcs-oeko.de - Lacon GmbH (Privatinstitut fur Qualitatssicherung und Zertifizierung okologisch erzeugter Lebensmittel) Weingartenstrase 15 - D-77654 Offenburg - Tel.: +49 (0)781/55802 Fax: +49 (0)781/55812 - E-mail: [email protected] http://lacon-institut.com - IMO Institut fur Marktokologie GmbH Obere Laube 51/53 - D-78462 Konstanz - Tel.: +49 (0)7531/915273 Fax: +49 (0)7531/915274 - E-mail: [email protected] - http://www.imo.ch - ABCert GmbH Martinstrase 42-44 - D-73728 Esslingen - Tel.: +49 (0)711/3517920 Fax: +49 (0)711/35179220 - E-mail: [email protected] - www.abcert.de 17 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO - Prufverein Verarbeitung Okologische Landbauprodukte e.V. Vorholzstr. 36 - D- 76137 Karlsruhe - Tel.: +49(0)721/3523920 Fax: +49(0)721/3523909 - E-mail: [email protected] http://www. pruefverein.de - Certification Services International CSI GmbH Flughafendamm 9a - D-28199 Bremen - Tel.: +49 (0)421/5977322/594770 Fax: +49 (0)421/594771 - E-Mail: [email protected] http://www. csicert.com - Kontrollstelle fur okologischen Landbau GmbH Dorfstrasse 11 - D-07646 Tissa - Tel.: +49 (0)36428/62743 Fax: +49 (0)36428/62743 - E-Mail: [email protected] - Fachverein fur Oko-Kontrolle e.V. Karl-Liebknecht Str 26 - D-19395 Karow - Tel.: +49 (0)38738/70755 Fax: +49 (0)38738/70756 - E-Mail: [email protected] http://www.fachverein.de - ÖKOP Zertifizierungs GmbH Schlesische Strase 17 d - D-94315 Straubing - Tel.: +49 (0)9421/703075 Fax: +49 (0)09421/703075 - E-Mail: [email protected] http://www.oekop.de - GfRS Gesellschaft fur Ressourcenschutz mbH Prinzenstrasse 4 - 37073 Gottingen - Tel.: +49 (0)551/58657 Fax: +49 (0)551/58774 - E-mail: [email protected] Internet: www.gfrs.de - EG-Kontrollstelle Kiel - Kiel Landwirschaftskammer Schleswig-Holstein Holstenstrasse 106-108 - D-24103 Kiel - Tel.: +49 (0)431/9797315 Fax: +49 (0)431/9797130 - E-mail: [email protected] http://www.lwk-sh.de - AGRECO R.F. GODERZ GmbH Mundener Strasse 19 - D-37218 Witzenhausen - Tel.: +49 (0)5542/4044 Fax: +49 (0)5542/6540 - E-mail: [email protected] - QC&I Gesellschaft fur Kontrolle und Zertifizierung von Qualitatssicher ungssystemen mbH Mechtildisstr. 9 - D-50678 Koln - Tel.:+49 (0)221/9439209 or 0221/9439210 - Fax: +49 (0)221/9439211 - E-mail: [email protected] http://www.qci.de - Grunstempel e.V. EU Kontrollstelle fur okologische Erzeugung und Verarbeitung landwirtschaftlicher Produkte Windmuhlenbreite 25d - D-39164 Wanzleben - Tel.: +49 (0)39209/46696 Fax: +49 (0)39209/46696 - E-Mail: [email protected] 18 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I - Kontrollverein okologischer Landbau e.V. Vorholzstr. 36 - D-76137 Karlsruhe - Tel.: +49 (0)7231/105940 Fax: +49 (0)7231/353078 - E-Mail: [email protected] http://www.kontrollverein.de - INAC GmbH International Nutrition and Agriculture Certification In der Kammersliethe 1 D-37213 Witzenhausen - Tel.: +49 (0)5542/911400 Fax: +49 (0)5542/911401 - E-Mail: [email protected] http://www.inac-certification.com - Agro-Oko-Consult Berlin GmbH Rhinstrasse 137 - D-10315 Berlin - Tel.: +49 (0)30/54782352 Fax: +49 (0)30/54782354 - E-Mail: [email protected] - http://www.aoec.de - Ars Probata GmbH Gustav-Adolf-Str. 143 - D-13086 Berlin - Tel.: +49 (0)30/4716092 Fax: +49 (0)30/4717921 - E-Mail: [email protected] http://www.ars-probata.de - QAL Gesellschaft fur Qualitatssicherung in der Agrar- und Lebensmittelwirtschaft mbH Am Branden 6b - D-85256 Vierkirchen - Tel.: +49 (0)8139/9368-30 Fax: +49 (0)8139/9368-57 - E-Mail: [email protected] http://www.qal-gmbh.de - LAB Landwirtschaftliche Beratung der Agrarverbande Brandenburg Siedler-Str. 3a - D-03058 Gros-Gaglow - Tel./Fax: +49 (0)355/541466/ 541465 - E-Mail: [email protected] - TUV Management Service GmbH Ridlerstrase 57 - D-80339 Munchen - Tel.: +49 (0)89/51901909 Fax: +49 (0)89/51901915 - E-Mail: [email protected] http://www.tuevsued.de/management_services - RWTUV Systems GmbH Okokontrollstelle Langemarckstrase 20 - D-45141 Essen - Tel.: +49 (0)201/8253404 Fax: +49 (0)201/8253290 - E-Mail: [email protected] http://www.rwtuev.de AUSTRIA - Gesellschaft zur Kontrolle der Echtheit biologischer Produkte G.m.b.H Austria Bio Garantie, ABG Königsbrunnerstraße 8 - A-2202 Enzersfeld - Tel. +43 22 62 67 22 12 Fax +43 22 62 67 41 43 - E-mail: [email protected] - Internet: www.abg.at - BIOS - Biokontrollservice Osterreich Feyregg 39 - A-4552 Wartberg - Tel.: +43 7587 7178 Fax:+43 7587 7178-11 - E-mail: [email protected] Internet: www.bios-kontrolle.at 19 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO - Salzburger Landwirtschaftliche - Kontrolle GmbH (SLK) Maria-Cebotari-Strasse 3 - A- 5020 Salzburg - Tel.: +43 662 649 483 Fax: +43 662 649 483 19 - http://www.slk.at - BIKO, Verband KontrollserviceTirol Brixnerstasse 1 - A-6020 Innsbruck - Tel.: +43 512 5929-337 Fax: +43 512 5929-212 - LACON - Privatinstitut fur Qualitatssicherung und Zertifizierung okologisch erzeugter Lebensmittel GmbH Arnreit 13 - A - 4122 Arnreit - Tel.: +43 72 82 77 11 Fax: +43 72 82 77 11-4 - http://www.lacon-institut.com - GfRS Gesellschaft fur Ressourcenschutz mbH Prinzenstrase 4 - D-37073 Gottingen - Tel.: +49 551 58657 Fax: +49 551 58774 - http://www.gfrs.de - LVA - Lebensmittelversuchsanstalt Blaasstrasse 29 - A-1190 Wien - Tel.: +43 1 368 85 55-0 Fax: +43 1 368 85 55-20 - http://www.lva.co.at - SGS Austria Controll - Co. GmbH Johannesgasse 14 - A-1015 Wien - Tel.: +43 1 512 25 67-0 Fax: +43 1 512 25 67-9 PORTUGAL - SOCERT-PORTUGAL - Certificacao Ecologica, Lda Rua Alexandre Herculano, 68 - 1 Esq - E-2520 Peniche Tel.: +351 262 785117 - Fax: +351 262 787171 E-mail: [email protected] - SATIVA, DESENVOLVIMENTO RURAL, Lda Av. Visconde Valmor, 11 - 3o - 1000-289 LISBOA - Tel.: +351 21 799 11 00 Fax: +351 21 799 11 19 - E-mail: [email protected] - Certiplanet, Certificacao da Agricultura, Floresta e Pescas, Unipessoal, Lda. Av. do Porto de Pescas, Lote C . 15, 1o C - 2520 . 208 Peniche Tel.: 262 789 005 - Fax: 262 789 005 E-mail: [email protected] SUÉCIA 20 - KRAV Box 1940 - S-751 49 Uppsala - Tel.: +46 18 10 02 90 - Fax: +46 18 10 03 66 E-mail: [email protected] - http://www.krav.se COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 21 CAPÍTULO I Qualquer operador que produza, prepare ou importe bens produzidos de acordo com o Modo de Produção Biológico, tem de comunicar a sua actividade às autoridades competentes do Estado membro em que a actividade tome lugar. A inspecção requer que o produtor trace uma descrição completa da sua unidade de produção, identificando as instalações de armazenamento, áreas de colheita e de embalagem. Quando este relatório estiver delineado, o produtor tem de notificar a Inspecção do seu planeamento de produção anual. O sistema de certificação consiste em auditar e aprovar a gestão do processo produtivo implementado pelo operador que pretende obter produtos biológicos, acompanhado por uma constante monitorização da conformidade do processo e pela análise de amostras colhidas no local de produção/transformação ou mercado. O objectivo desta estrutura de certificação, através duma avaliação inicial e subsequente monitorização é garantir aos consumidores uma garantia independente e fidedigna, certificando os produtos de acordo com os requisitos da actual legislação relativamente a produtos de agricultura biológica. A actividade dos organismos de certificação é financiada por quotas pagas pelos operadores. Estas quotas são proporcionais ao tamanho e tipologia do negócio e garantem a cobertura dos custos decorrentes das actividades de controlo e certificação. Há que notar que a palavra “biológico” não tem o mesmo significado em todo o mundo, porque a nível internacional a produção de produtos biológicos e as regras de transformação não estão harmonizadas. A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Biológica (IFOAM), nos seus conceitos base, define a forma como os produtos biológicos devem cultivados, produzidos, processados e manuseados. Eles são apresentados como princípios gerais (Tabela nº 2), recomendações, e são o reflexo do estado actual da produção biológica e métodos de transformação, fornecendo CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO um enquadramento legal para os organismos de certificação e de regulação mundial. A principal preocupação é evitar que sejam usados parâmetros nacionais como barreiras ao comércio 2. A IFOAM apoia os critérios do desenvolvimento regional, desde que consistentes com os objectivos básicos dos Princípios da IFOAM. Os standards internacionais e regionais podem ser harmonizados através deste processo de aprovação. A harmonização dos procedimentos relativos à produção agrária também foi permitida pela Organizações das Nações Unidas FAO e WHO (Organização Mundial de Saúde). As linhas mestras da FAO e da WHO constituem importantes linhas de orientação, úteis para o estabelecimento de normas para promotores públicos e privados, interessados em desenvolver regulamentos nesta área. Em particular, a Comissão do Codex Alimentarius, uma organização conjunta dos Programas de Normas Alimentares da FAO/WHO, que surgiu em 1991 (com a participação de organizações observadoras como a IFOAM e as Instituições da UE) com o objectivo de elaborar normas para a produção, transformação, etiquetagem e marketing de alimentos produzidos em Modo de Produção Biológico. Os requisitos destas normas do Codex estão em conformidade com os princípios da IFOAM e com o Regulamento para os alimentos biológicos da UE. Os princípios do comércio de alimentos biológicos valorizam as normas e regras em vigor nos vários países, sendo que as regras da UE são predominantes. Estes princípios definem a natureza da produção de alimentos biológicos e pretendem impedir a comunicação de informações que poderiam enganar os consumidores acerca da 2 22 As normas da IFOAM estão disponíveis no site: www.ifoam.org COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 3 Mais informação acerca do Codex Alimentarius está disponível na sua página: www.codexalimentarius.net. Existe também uma página especial sobre agricultura biológica no site da FAO: www.fao.org/organicag. 23 CAPÍTULO I qualidade do produto ou da forma como foi produzido. Este Codex Alimentarius constitui uma base importante para a harmonização das leis internacionais, fortalecendo a confiança do consumidor e constituindo um elemento fundamental para um julgamento equivalente sob as regras da Organização Mundial de Comércio. Os princípios do Codex para alimentos produzidos em Modo de Produção Biológico serão regularmente revistos, pelo menos todos os quatro anos, baseando-se nos procedimentos previstos no Codex 3. É importante sublinhar que, tanto as normas como os logótipos nacionais para os produtos biológicos, foram aceites por vários países da EU. Nalguns países europeus, associações de agricultores formularam as suas regras internas e delinearam esquemas muito antes dos regulamentos nacionais e europeus terem surgido. As marcas e rótulos de qualidade referidos (por exemplo no Reino Unido, Itália, Dinamarca, Áustria, Hungria, Suécia e Suiça) são normalmente alvo da confiança dos consumidores. Para obter logótipos “privados” para os produtos biológicos, é necessário que todos os operadores estrangeiros (produtores, processadores e comerciantes), não só preencham os estatutos estabelecidos pelos Regulamentos da UE ou outros regulamentos nacionais, mas também cumpram com os respectivos parâmetros privados de etiquetagem. A utilização destes logótipos “privados” necessita de uma verificação adicional de concordância e certificação. Alguns organismos europeus de inspecção com acreditação dos Ministérios da Agricultura dos EUA e Japão, podem oferecer certificações válidas e reconhecidas para os operadores biológicos europeus, na expectativa de exportar produtos para estes países. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO Estas certificações são: NOP4 – Programa Biológico Nacional (tabela 2) para a zona dos EUA e JAS 5 – Regulamento Agrícola Japonês (tabela 3) para a área do Japão. O Serviço Internacional de Acreditação Biológica (IOAS) é uma organização independente sem fins lucrativos registada no Delaware, EUA que oferece uma vigilância internacional da certificação biológica, através dum processo voluntário de acreditação para organismos de certificação actuantes no campo da agricultura biológica 6. O IOAS implementa o programa de acreditação da IFOAM, que é uma indústria baseada na garantia global da integridade biológica, aliviada pelas barreiras nacionais e implementada por um organismo que não possui outros interesses. Tabela 2: Princípios da Agricultura Biológica segundo a IFOAM Depois de uma participação num intenso processo, em Setembro de 2005 a Assembleia-geral da IFOAM de Adelaide – Austrália – aprovou os novos (revistos) Princípios da Agricultura Biológica*. Estes princípios são a base do crescimento e desenvolvimento da agricultura biológica. Princípio da saúde A Agricultura Biológica deve sustentar e valorizar a saúde do solo, plantas, animais, humanos e o planeta com um todo, indivisível. Este princípio destaca que a saúde dos indivíduos e das comunidades não pode ser separado da saúde dos ecossistemas – terrenos saudáveis produzem colheitas saudáveis que nutrem a saúde dos animais e das pessoas. A saúde é o todo e a integridade dos sistemas vivos. Não é só a ausência de doenças, mas a manutenção do bem-estar físico, mental, social e ecológico. Imunidade, recuperação e regeneração são características chave da saúde. O papel da agricultura biológica, seja na cultura, transformação, distribuição ou consumo, é o de garantir e valorizar a saúde dos ecossistemas e organismos desde o mais pequeno no solo, ao ser humano. Em particular, a agricultura biológica deve produzir alimentos de alta qualidade, nutricionais, que contribuam para um cuidado preventivo da saúde e bem-estar. Como consequência, devem ser evitados fertilizantes, pesticidas, drogas animais e aditivos alimentares que podem ter efeitos adversos na saúde. 24 5 4 http://www.usda.gov/nop/indexlE.htm http://www.maff.go.jp/soshiki/syokuhin/hinshitu/e_label/index.htm 6 http://www.ioas.org COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I Princípio da ecologia A agricultura biológica deve ser baseada em ciclos e sistemas ecológicos vivos, trabalhar com eles, estimulá-los e ajudar a sustentá-los. Este princípio baseia a agricultura biológica nos sistemas ecológicos vivos. Declara que a produção deve ser baseada em processos ecológicos e na reciclagem. A nutrição e o bem-estar são atingidos através da ideia de ecologia do ambiente. Por exemplo, no caso das colheitas, o elemento é o solo vivo; para os animais é o ecossistema da quinta; para o peixe e os organismos marinhos, o ambiente aquático. Princípio da honestidade A Agricultura Biológica deve ser construída em relações que garantam a justiça, com ênfase no ambiente comum e nas oportunidades da vida. A honestidade é caracterizada pela equidade, respeito, justiça e supervisão de um mundo partilhado por pessoas e nas suas relações com os outros seres vivos. Este princípio enfatiza que aqueles envolvidos na agricultura biológica devem conduzir as relações humanas de forma a garantir a honestidade a todos os níveis e a todos os intervenientes – agricultores, trabalhadores, processadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. A agricultura biológica deve fornecer a todos os envolvidos uma boa qualidade de vida e contribuir para a soberania dos alimentos e redução da pobreza. Tem como objectivo produzir uma oferta suficiente de alimentos de boa qualidade e outros produtos. Este princípio insiste que os animais devem ter as condições e oportunidades de vida de acordo com a sua fisiologia, comportamento natural e bem-estar. Os recursos naturais e ambientais usados para a produção e consumo devem ser geridos de uma forma social e ecologicamente justa e devem ter em consideração as gerações futuras. A honestidade requer sistemas de produção, distribuição e comércio que sejam abertos e equitativos e respeitem os custos reais ambientais e sociais. Princípio do cuidado A Agricultura Biológica deve ser gerida de uma forma preventiva e responsável para proteger a saúde e o bem-estar das gerações actuais e futuras e do ambiente. A agricultura biológica é um sistema vivo e dinâmico, que responde a exigências e condições internas e externas. Os praticantes da agricultura biológica podem realçar a eficiência e o aumento de produtividade, sem contudo nunca colocar em causa a saúde e o bem-estar. Consequentemente, as novas tecnologias devem ser utilizadas e os métodos existentes revistos. Dada a incompleta compreensão dos ecossistemas e da agricultura, devem ser tomados alguns cuidados. Este princípio enfatiza que a precaução e a responsabilidade são as preocupações chave na gestão, desenvolvimento e escolhas tecnológicas na agricultura biológica. A ciência é necessária para garantir que a agricultura biológica é saudável, segura e ecologicamente sã. Contudo, o conhecimento científico per si não é suficiente. Experiência prática, sabedoria acumulada, tradicional e inata oferecem soluções válidas, testadas pelo tempo. A agricultura biológica deve prevenir riscos significativos ao adoptar as tecnologias apropriadas 25 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO e ao rejeitar as indesejáveis, como a manipulação genética. Os decisores devem reflectir os valores e as necessidades de todos os que possam ser afectados, através de processos transparentes e participativos. __________________________ * Normas da IFOAM para a Produção Biológica e transformação, Ed. IFOAM, Bonn, 2005 (www.ifoam.org). Tabela 3: O Programa Biológico Nacional dos EUA (NOP) O programa Biológico Nacional dos EUA (NOP) foi totalmente implementado a 21 de Outubro de 2002, sob direcção do Serviço de Marketing Agrícola, um ramo do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O NOP é uma lei federal que requer que todos os produtos alimentares biológicos se rejam pelos mesmos critérios e sejam certificados sob o mesmo processo de certificação. Cenário do Programa Biológico Nacional O NOP desenvolveu critérios biológicos nacionais e estabeleceu um programa regulamentar de certificação baseado nas recomendações do 15º membro do Conselho Nacional de Critérios Biológicos (NOSB). O NOSB é decretado pelo Secretário da Agricultura e inclui representantes das seguintes categorias: agricultor/produtor; manobrador/processador; retalhista; consumidor/interesse público; ambientalista; cientistas; e agências certificadores. Em conjunto com as recomendações do NOSB, o USDA reviu os programas de certificação estatais, privados e estrangeiros para ajudar a formular estes regulamentos. Os regulamentos do NOP são suficientemente flexíveis para incorporar uma larga área de produtos em todas as regiões dos Estados Unidos. O que são os regulamentos do NOP? Os regulamentos proíbem o uso de manipulação genética, radiação ionizada e fertilizantes de resíduos de esgotos na produção e transformação biológica. Regra geral, todas as substâncias naturais (não sintéticas) são permitidas na produção biológica e todas as substâncias sintéticas são proibidas. A lista Nacional de Substâncias Sintéticas Permitidas e das Substâncias Não-Sintéticas proibidas é uma das secções do Regulamento e contém as excepções específicas à regra. 26 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I Os critérios de produção e manuseamento referem-se à colheita da produção biológica, colheita selvagem, maneio de gado, transformação e manuseamento dos produtos de cultura biológica. As produções biológicas são produzidas sem o uso de pesticidas, fertilizantes petrolíferos e fertilizantes de resíduos de esgotos. Os animais criados duma forma biológica devem ser alimentados apenas de alimentos biológicos e com acesso ao exterior. Não devem tomar quaisquer antibióticos ou hormonas. Os critérios de classificação são baseados na percentagem de ingredientes biológicos no produto: o Produtos classificados como “100% biológicos” devem conter apenas ingredientes produzidos em Modo Biológico. Podem ostentar o selo biológico do USDA. o Os produtos biológicos processados devem conter pelo menos 95% de ingredientes produzidos em Modo Biológico. Podem ostentar o selo biológico do USDA. o Os produtos processados que contenham pelo menos 70% de ingredientes biológicos, podem usar a frase “feito com produtos biológicos” e mostrar até três dos ingredientes biológicos ou grupos alimentares no principal painel de apresentação. Por exemplo, uma sopa feita com pelo menos 70% de ingredientes biológicos, onde apenas os vegetais podem ser classificados biológicos pode ser referido com a frase “feito com ervilhas, batatas e cenouras biológicas” ou “feito com vegetais biológicos”. O selo do USDA não pode ser usado na embalagem. o Os produtos processados que contenham menos de 70% de ingredientes biológicos não podem usar o termo “biológico” a não ser para identificar os ingredientes específicos que sejam produzidos em Modo Biológico na tabela de ingredientes. Os critérios de certificação estabelecem os requerimentos que a produção biológica e as operações de manuseamento devem observar para serem acreditados pelas agências de certificação do USDA. A informação que o candidato deve apresentar à agência certificadora inclui a aplicação do plano de sistema biológico. Este plano descreve (entre outras coisas), práticas e substâncias usadas na produção, procedimentos de arquivo e práticas para prevenir a mistura de produtos biológicos com não biológicos. A certificação regula também que devem ser feitas inspecções no local. Quintas e produtores que vendam menos de $5.000 por ano de produtos produzidos em Modo Biológico estão dispensados de certificação. Eles podem classificar os seus produtos como biológicos, se estiverem em conformidade com os critérios, mas não podem exibir o selo biológico da USDA. Os retalhistas, como mercearias e restaurantes, não necessitam de ser certificados. 27 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO Os critérios de acreditação estabelecem os requerimentos que um candidato deve respeitar de forma a tornar-se uma agência certificada do USDA. Os critérios estão desenvolvidos para garantir que todas as agências ajam de forma consistente e imparcial. Os candidatos com sucesso empregarão pessoal com experiência, demonstrarão a sua capacidade para certificar produtores e transformadores biológicos, prevenir conflitos de interesse e manter confidencialidade. Os produtos agrícolas importados podem ser vendidos nos EUA apenas se forem certificados pelas agências de certificação acreditados do USDA. O USDA acreditou agências certificadoras em vários países estrangeiros e tem várias propostas em curso. Em substituição da acreditação do USDA, uma agência estrangeira de certificação pode ser reconhecida quando o USDA determinar, sob o pedido de um Governo estrangeiro, desde que o governo da agência estrangeira seja capaz de avaliar e fazer acreditações de acordo com os requisitos do Programa Biológico Nacional do USDA. Tabela 4: JAS – Critérios Agrícolas Japoneses Os critérios do JAS para Produtos Biológicos e para Alimentos Biológicos Processados foram estabelecidos no ano de 2000 com base nas linhas mestras para a Produção, Transformação, Classificação e Marketing de Alimentos Produzidos em Modo Biológico e foi adoptado pela Comissão do Codex Alimentarius. O sistema biológico do JAS foi aprofundado com a inclusão dos Critérios para os Produtos de gado biológico, dos alimentos processados de gado biológico e da alimentação do gado biológico, que tiveram efeito a partir de Novembro 2005. As Entidades Certificadoras, certificadas pelos Organismos Registados de Certificação Japoneses ou Organismos Ultramarinos de Certificação garantem a certificação da produção de alimentos ou rações biológicas de acordo com os Critérios da JAS para que possam colocar o selo da JAS nos seus produtos. 28 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I Os regulamentos da JAS para os produtos biológicos requerem que, começando a 1 de Abril de 2001 (até 2002), todos os produtos classificados como biológicos devem ser certificados por uma organização de certificação japonesa (RCO) ou uma estrangeira (RFCO), registadas no Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca (MAFF), e ostentem no rótulo o logótipo da JAS e o nome do organismo autorizado de certificação. Apenas os organismos registados podem autorizar os operadores a ostentar os logótipos do JAS nos seus rótulos. O logótipo da JAS, como uma marca de qualidade, foi introduzido no sentido de proteger o mercado japonês e os seus consumidores. A este sistema foi oficialmente reconhecida a equivalência aos regulamentos europeus, com a excepção dum produto permitido pelo Regulamento da CEE Nº 2092/91 para o tratamento foliáceo das macieiras (AnexoII B), o cloreto de cálcio. Em resumo, a equivalência significa que os critérios de certificação e as referências de produção/transformação/embalagem são standards para operadores que desejem exportar os seus produtos biológicos para o Japão sob a marca do JAS, são os mesmos adoptados na Comunidade Europeia de acordo com o Regulamento 2092/91 da CEE. Contudo, os regulamentos do JAS mostram algumas diferenças. Por exemplo, eles não cobrem bebidas alcoólicas e produtos de origem animal (incluindo produtos vindos da apicultura). As normas requerem que só as operações de transformação (classificação) e de marketing sejam controladas por um organismo de certificação japonês ou estrangeiro, reconhecido pelo MAFF. Todavia, em observância do regime de controlo da Comunidade, tanto os produtores como os consumidores finais devem garantir que também os ingredientes dos fornecedores e os alimentos dos subcontratados estejam em conformidade com o Regulamento 2092/91 da CEE. Em comparação com o Regulamento 2092/91 da CEE, os regulamentos da classificação do JAS apresentam as seguintes diferenças: • Se o produto final contiver simultaneamente produtos biológicos e ingredientes em conversão para o Modo Biológico, o rótulo deve mostrar claramente quais são os componentes biológicos e os convertidos. Por sua vez, a UE não permite 29 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO • • o uso de ingredientes crus ainda em processo de Conversão na preparação de produtos com vários ingredientes. A etiqueta deve exibir sempre a marca do JAS. Se a marca do JAS não estiver presente, a etiqueta não deve conter expressões como biológico, produto biológico, 100% biológico, biológico exterior, X % biológico, ou qualquer outra afirmação que se refira ao Modo de produção Biológico. Se o produto acabado não tiver o selo do JAS, mas os ingredientes tiverem, será possível escrever, por exemplo, “salada feita com vegetais biológicos” ou “ketchup feito com tomates produzidos de forma biológica”. A função do responsável pela classificação do produto é decidir quais são os quinhões ou lotes de produtos que realmente cumprem os métodos da produção biológica de acordo com as normas da JAS, e quais não o são. A presença de uma pessoa com esta responsabilidade é de extrema importância para garantir o cumprimento do estabelecido no Regulamento 2092/91 CEE, desde a sua última revisão ao Anexo III, que especifica os requisitos de controlo mínimo, e estabelece que o operador é obrigado a avisar o organismo de certificação de qualquer dúvida que possa surgir acerca da conformidade do produto e suspender a sua venda até que tudo fique apurado. 1.1.c Elementos oficiais na relação com os organismos de certificação Uma característica relevante do sistema que rege a agricultura biológica do ponto de vista administrativo é o número de compromissos previstos para os produtores, tal como a documentação a apresentar, e a aceitação das inspecções periódicas levadas a cabo por organismos acreditados de certificação. De modo a atingir a certificação de produtos obtidos em Modo de Produção Biológico, é necessário respeitar os seguintes procedimentos: 1) Envio da notificação da Produção em Modo Biológico. Tem 30 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 3) 4) 5) 6) 31 CAPÍTULO I 2) de ser submetida à autoridade e organismo de certificação a nível nacional. O conteúdo desta documentação tem de ser actualizado quando houver alterações nas actividades de produção ou na eventualidade de ocorrerem aquisições, vendas ou alterações dos titulares. Avaliação do primeiro documento. O organismo de certificação tem de ter acesso aos primeiros documentos requeridos ao produtor. Se houver uma avaliação negativa (ou seja, documentos incompletos ou inadequados), será pedido ao operador documentação adicional num determinado prazo, a ser respeitado sob pena de ser excluído do sistema de produção biológico. Início das visitas de inspecção. Os técnicos destacados pelo controlo do organismo acreditado devem verificar que todo o processo de organização e gestão da produção possam ser considerados adequados e coerentes com as normas do sector. Também têm a função de aconselhar e ajudar o agricultor de forma a atingir os compromissos estabelecidos. Admissão ao sistema de controlo. A Comissão de Certificação avalia os documentos do agricultor e o relatório da visita de inspecção. Consequentemente, decide se admite a exploração agrícola no sistema de produção biológica. Declaração de conformidade. Este passo é dirigido à especificação da concordância positiva, à tipologia da produção, ao número de registo no Registo de Operadores Controlados e à data de início e fim da validade do atestado. Plano anual de produção. Este documento tem de ser notificado ao Organismo de Certificação pelo responsável da unidade de produção, até ao dia 31 de Janeiro de cada ano. Qualquer alteração substancial na colheita, dimensão ou estimativa de produção que possa ocorrer depois do envio do Plano Anual de Produção, deve ser notificada ao Organismo Certificador. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 7) 8) Plano de desenvolvimento anual. Este documento deve indicar todos os produtos que o operador pretende desenvolver na sua quinta, em unidades terceiras ou em nome de terceiros de acordo com os regulamentos acerca da gestão da produção biológica. Certificado do produto e Autorização da impressão dos rótulos. A autorização da impressão dos rótulos oficiais para um produto biológico pode ser pedida por qualquer operador que tenha sido aceite no sistema de inspecção. O operador submetido à inspecção terá de seguir os pressupostos dos regulamentos nacionais e comunitários no que diz respeito à produção biológica, fornecer a documentação pedida pelo sistema de inspecção, permitir aos inspectores de certificação acesso aos locais de produção e fornecer os registos e documentação solicitados (por exemplo facturas, registos do IVA, etc.). O operador terá também de pôr à disposição dos inspectores todos os produtos e materiais originários da colheita ou do gado e todos os ingredientes de origem agrícola ou não agrícola para análise. Qualquer alteração substancial terá de ser notificada. 1.1.d Apoios à agricultura biológica A União Europeia apoia a agricultura biológica através das medidas Agro-ambientais previstas nos Regulamentos 2078/02 CEE 1257/99 CEE. Em 2003, os programas agro-ambientais apoiavam quase metade da área de produção biológica nos 15 países da UE. O número de explorações biológicas e em conversão apoiado foi de 86.000 e representava cerca de 64% de todas as produções biológicas7. Fonte: Comissão Europeia, Novembro 2005 7 32 Relatório da Comissão Europeia (G2 EW - JK D (2005) “Produção Biológica na União Europeia - Factos e Números”, Bruxelas, 3 de Novembro 2005. COMPETÊNCIAS DA GESTÃO (2003). Percentagem de terrenos apoiados na Europa dos 15. O Regulamento 1257/99 (que se sobrepõem significativamente ao Regulamento 2078/92) estipula que os agricultores devem comprometer-se por um período mínimo de 5 anos e providencia ajuda em relação à área e ao tipo de cultura a que se refere o compromisso. Os montantes máximos dos fundos mutuais são concedidos anualmente, e variam entre os 600 €/ha para as colheitas anuais e os 900 €/ha para colheitas perenes especializadas e 450 €/ha para outras utilizações da terra. É aconselhável pertencer a uma organização de produtores, por várias razões: o sector biológico está a sofrer um rápido desenvolvimento e só os membros têm garantia de acesso a programas de formação e informação; o acesso aos canais de venda é exclusivo dos membros; as cooperativas de produtores representam os interesses dos agricultores biológicos no domínio público. 33 CAPÍTULO I Imagem 3: Terrenos biológicos apoiados pelos programas agro-ambientais na Europa CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 1.2 Planeamento da produção, monitorização e controlo De acordo com a definição do Codex Alimentarius, “a agricultura biológica é um sistema de gestão de produção holística, que promove e valoriza a saúde do ecossistema, incluindo a biodiversidade, os ciclos biológicos e a actividade biológica dos solos; os métodos de produção biológica dão prioridade ao uso de práticas de gestão inputs exteriores à quinta, tendo em consideração que as condições regionais requerem sistemas locais adaptados. Isto é atingido pelo uso, quando possível, de métodos agrónomos, biológicos e mecânicos, por oposição ao uso de materiais sintéticos, para cumprir funções específicas dentro do sistema. As actividades humanas levaram ao desaparecimento da paisagem natural. Consequentemente, a qualidade ambiental degradou-se e a biodiversidade. No terreno agrícola, a simplificação dos ecossistemas levou a um aumento dos problemas na gestão das actividades produtivas (por exemplo o uso de produtos externos no ciclo de produção da quinta). Na cultura biológica, normalmente é reintroduzida a complexidade do ecossistema, combinado culturas diversificadas de plantas com uma boa rotação, os níveis de produção em linha com as normas territoriais, gado, elementos naturais e um bom aproveitamento da terra. Estas combinações de produção trazem óptimos retornos dos recursos naturais disponíveis e de métodos de regulamentação natural. A agricultura biológica é um método e não apenas uma simples acção de substituir fertilizantes químicos ou princípios activos por substancias naturais. 34 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 35 CAPÍTULO I A conversão para uma agricultura biológica significa, acima de tudo, o melhoramento da fertilidade biológica do solo e o equilíbrio do ecossistema da cultura. O objectivo principal de um plano de conversão é ajudar os agricultores a atingir os seus objectivos durante o período de conversão. Um plano de conversão transmite uma imagem de assimilação, analisando os prós e os contras da informação adquirida com o objectivo de adquirir todas as soluções técnicas. Num plano de conversão, devem ser cuidadosamente avaliados os seguintes itens: • Cronologia do uso do solo: Uma tarefa importante do agricultor biológico é debruçar-se sobre a cronologia do terreno, recolha de informação exaustiva sobre os processos agronómicos, seus problemas e falhas; • Qualidade do solo: é um passo importante para um bom plano de fertilização do solo; • Situação socio-ambiental: um agricultor que se proponha converter o seu método de produção deve conhecer também outras produções biológicas próximas. Desta forma ele poderá trocar experiências e receber conselhos importantes, não se sentindo um pioneiro. Deverá também reunir informação sobre pontos de venda ou agentes que possam comprar os seus produtos. • Consciencialização dos agricultores e know-how: estes elementos têm um papel importante na definição das metodologias mais adequadas para introduzir inovações na produção e recolher o apoio técnico necessário. • Equipamento existente na quinta e potenciais investimentos: o tempo necessário para implementar opções agrárias depende, não só da convicção do agricultor, mas também da disponibilidade das matérias-primas necessárias, do equipamento da quinta e do terreno. A vontade do agricultor em investir na quinta também influencia os timings da implementação. Conselheiros especializados poderão sugerir soluções alternativas onde valha a CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO pena investir e que não comprometam outras decisões técnicas. • Limitações. Alguns limites de natureza organizacional ou ambiental podem afectar fortemente opções técnicas e requerer uma cuidada ponderação em acções a serem tomadas para atingir tais objectivos. Algumas das mais frequentes são limites ambientais e políticos, auto-estradas ou fontes de poluição nas cercanias, falta de apoios na área e falta de subsídios de Planos Regionais. A informação recolhida ajudará o agricultor a definir o Plano de Conversão, que incluirá soluções técnicas e que ele considerará como as mais indicadas para a sua empresa. Um plano de conversão também é útil para realçar o facto de que na agricultura biológica, nenhuma acção tem um fim em si próprio, servindo em simultâneo múltiplos objectivos. As acções só serão eficazes se o equilíbrio do solo e do ecossistema for respeitado. Para desenvolver um plano de produção eficaz, iremos analisar os principais aspectos a ser considerados pelo agricultor: selecção de raças de gado, concepção de um programa de alimentação e Planeamento do controlo de saúde e higiene. 1.2.a Selecção de raças A escolha de raças, métodos de criação e variedades devem estar em conformidade com os princípios da produção biológica, tomando em conta: a) A sua adaptabilidade às condições locais; b) A vitalidade e resistência à doença; c) A ausência de doenças específicas e problemas de saúde associados a algumas raças ou espécies (síndroma de stress, abortos espontâneos, etc.) 36 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 1.2.b Concepção dum programa de alimentação O gado tem de ser alimentado por rações compostas com ingredientes biológicos. O processo de alimentação (e a alimentação em si) deve ter garantias de qualidade de produção, dando prioridade ao bem-estar dos animais em detrimento da maximização da produção. Isto significa que as rações devem conter valores nutricionais adequados às necessidades do gado. A engorda é considerada um método reversível, pelo que a alimentação forçada é estritamente proibida. Se a engorda tiver de ser interrompida devido a constrangimentos do mercado ou outras alterações, o gado deve continuar a ser alimentado normalmente. É preferível que a ração provenha da própria unidade de criação e, quando isto não for possível, que seja comprada a outras quintas biológicas, devidamente certificadas. As regiões de prática da transumância (deslocações dos rebanhos para melhores pastagens) devem ser designadas pelos Estados Membros, se for necessário. A alimentação deve ser o mais natural possível. Desta forma, os mamíferos recém nascidos devem ser alimentados com leite inteiro, preferencialmente materno. Todos os mamíferos devem ser alimentados com leite natural (a alimentação com leite artificial não é aceite) por um período mínimo, que depende da espécie, mas que normalmente é significantemente mais longo do que nas produções não biológicas. Este período mínimo é de três meses para o gado bovino (incluindo búfalos e bisontes) e de 40 dias para o gado suíno. 37 CAPÍTULO I Não há regras detalhadas para a escolha das raças, sendo no entanto preferível usar raças autóctones, na medida em que possuem melhores condições produtivas no contexto de agricultura biológica. Estas raças têm uma diversidade biológica muito maior do que as híbridas, são tradicionalmente seleccionadas através das suas condições e é esperado que criem menos problemas veterinários, num contexto produtivo bem estabelecido. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO Devido aos hábitos alimentares dos herbívoros, estes devem permanecer nas pastagens o maior tempo possível, desde que as condições climatéricas não afectem a saúde dos animais (ou a qualidade das pastagens). Este período pode ser diminuído com a autorização dos Organismos de Inspecção se as condições de pastagem não fornecerem a quantidade e qualidade adequadas ou em períodos extremamente frios ou quentes do ano. A segunda consequência da digestão dos herbívoros é fornecer pelo menos 60% de matéria seca nas rações diárias de palha, forragem fresca ou seca ou silagem. A ração de origem animal (quer de origem convencional quer biológica) só pode ser usada se estiver mencionada na regulamentação. O uso de carne ou derivados é proibido, mas o uso de peixe e outros animais marinhos e seus derivados, bem como leite e lacticínios são permitidos. De um modo geral, todas as necessidades nutricionais devem ser preenchidas por alimentos naturais, principalmente erva. Quando houver falta de minerais, vitaminas ou pró-vitaminas, os aditivos nutricionais podem ser usados para satisfazer as necessidades nutricionais dos animais. De qualquer forma, esta permissão só é válida se estes produtos estiverem inscritos no regulamento. As vitaminas artificiais podem ser usadas, desde que tenham as substâncias químicas bem definidas e possuam efeitos similares aos das substâncias naturais. As mesmas regras aplicam-se às enzimas, microrganismos, ligaduras, agentes anti-coalhantes e coagulantes. Não podem de forma alguma ser utilizados antibióticos, substâncias medicinais indutoras de crescimento ou qualquer outra substância que induza o aumento de produção. Todas as rações devem estar isentas de qualquer medicamento sintético. Seguindo a proibição geral dos organismos geneticamente modificados (OGM) ou seus decorrentes, a origem das rações é válida para todo o procedimento de alimentação. Nenhum destes materiais pode ser usado para alimentação directa, aditivos de silagem ou condições de conservação. 38 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO CAPÍTULO I 1.2.c Planeamento do controlo de saúde e higiene A gestão da saúde animal deve ser baseada na prevenção, através de medidas como: • Selecção apropriada de raças e de espécies. • Dieta equilibrada e de alta qualidade; • Ambiente favorável; • Densidade adequada para a criação; • Instalações adequadas; • Sistemas produtivos equilibrados. O uso preventivo de produtos quimicamente sintetizados da medicina alopática não é autorizado. A prevenção de doenças nas criações de gado biológico deve ser baseada nos seguintes princípios: • Selecção de raças ou espécies apropriadas às condições locais, sendo as raças autóctones mais aconselhadas. • A aplicação de práticas de produção animal adequadas aos requisitos de cada espécie encoraja formas de exploração de ar livre, como meio de prevenção de infecções e de resistência a doenças. • A utilização de rações de alta qualidade, conjuntamente com exercício regular e acesso às pastagens, encoraja a defesa imunológica natural dos animais. • Garantir uma densidade apropriada do gado, evitando o excesso de gado, que pode resultar em problemas de saúde. Se, apesar de todas as medidas preventivas acima descritas, um animal ficar doente ou magoado, deve ser imediatamente tratado e, se necessário, isola-lo em boas condições. O tratamento tem de ser o mais natural possível, sendo o principal objectivo curar o animal magoado, sem prolongar o seu sofrimento. 39 CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO O uso de produtos da medicina veterinária na produção biológica deve seguir os seguintes princípios: • Os produtos podem ser usados se estiverem previstos no regulamento, sendo que os não incluídos não poderão ser usados; • É recomendável o uso de produtos fioterapeuticos e homeopáticos ou elementos listados no regulamento, em vez dos produtos ou antibióticos quimicamente sintetizados da medicina veterinária alopática. Estes produtos devem ser usados unicamente se forem específicos para a espécie do animal que precisa de tratamento. • Se o tratamento for necessário para aliviar o animal ou evitar a sua morte e os produtos mencionados acima não surtirem efeito, os produtos quimicamente sintetizados da medicina veterinária alopática podem ser usados; • Qualquer utilização de produtos médicos sintetizados tem de ser prescritos por um veterinário e a sua supervisão é necessária durante o tratamento; • O uso de produtos ou antibióticos quimicamente sintetizados da medicina veterinária alopática para tratamento preventivo é proibido; • O uso de substâncias para incrementar o crescimento é proibido (incluindo antibióticos e outras ajudas artificiais para propósitos de crescimento) • Qualquer uso de hormonas ou substâncias semelhantes para controlar a reprodução (por exemplo a indução ou sincronização do cio) ou para outros propósitos, é proibido. As hormonas podem ser usadas para animais em concreto, como forma de tratamento veterinário terapêutico, de acordo com as condições mencionadas acima. • Se a unidade está situada numa área infectada, devem ser usados todos os tratamentos veterinários. Quando a doença for isolada, o uso de produtos medicinais imunológicos deve ser autorizado. Sempre que os produtos medicinais veterinários forem usados, devem ser acompanhados da seguinte documentação: 40 COMPETÊNCIAS DA GESTÃO 41 CAPÍTULO I o O tipo de produto (incluindo a indicação das substâncias farmaco lógicas activas envolvidas); o Diagnóstico detalhado; o Posologia; o Método de administração; o Duração do tratamento; o Período legal de levantamento do tratamento. Toda esta informação tem de ser declarada ao organismo de inspecção antes do gado ou dos seus produtos serem classificados como produzidos em Modo Biológico e o gado tratado deve ser claramente identificado. O período de levantamento do tratamento entre a última administração dum produto ou antibiótico quimicamente sintetizado da medicina veterinária alopática sob condições normais de utilização e a produção de derivados desses animais deve ser no mínimo de 48 horas ou o dobro do período legal de levantamento. O gado deve recomeçar o seu período de conversão se tiver recebido mais de duas ou três dosagens de tratamento alopático (à excepção dos tratamentos ou vacinações mencionadas anteriormente) no prazo dum ano. O mesmo acontece depois de uma dosagem de tratamento, se a vida produtiva dum animal ou grupo for inferior a um ano. Antes do fim do período de conversão, o gado ou os seus produtos derivados não podem ser vendidos como biológicos. Já destacámos a prevenção como o aspecto mais importante do trabalho veterinário numa exploração biológica. Quando os animais vivem em boas condições e são mantidas as regras de higiene e a protecção contra as doenças, o seu sistema imunitário é forte e os animais não têm propensão para adoecer. Uma regra geral da produção biológica é que os animais e o seu ambiente devem ser protegidos contra agentes estritamente patogénicos. No caso de agentes patogénicos facultativos, é necessária uma relação equilibrada entre o agente e o animal. Deve ser repetidamente realçado que todos os tratamentos de rotina são proibidos, em conjunto com os materiais terapêuticos que são acumulados no organismo dos animais. CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS DA GESTÃO Na área das actividades relacionadas com a saúde dos animais, é útil familiarizarmo-nos com as doenças que mais frequentemente surgem devido às condições locais e desenvolver uma estratégia de prevenção contra eles (horários de pasto, reestruturação dos estábulos e pátios, etc.). Devemos esforçar-nos para criar manadas livres de doenças infecciosas. Se repararmos nalgum sinal de doença num animal, devemos isolá-lo dos outros. Se o animal precisar de tratamento, os métodos naturais e a chamada medicina alternativa devem ser prioritários. Se estes métodos não tiverem sucesso (para salvar a vida do animal), são autorizados tratamento com antibióticos ou intervenções cirúrgicas. No caso da terapia com antibióticos, deverá ser respeitado o dobro do período prescrito. Correcções de carácter estético e mutilações ou amputações são proibidas no Modo de Produção Biológico. Algumas intervenções são permitidas por razões de segurança (por exemplo descornar animais jovens), desde que o objectivo seja aumentar o seu bem-estar ou melhorar as condições de higiene dos animais. De acordo com os regulamentos, a castração também é autorizada, se permitir a produção de alguns produtos convencionais (tipos de carne de porco, capões, bois). Estas intervenções devem ser feitas por profissionais capacitados, que devem usar os métodos menos dolorosos para garantir que o sofrimento do animal é minimizado. Durante o transporte dos animais, deve ter-se a preocupação de reduzir o stress ao mínimo, de acordo com as normas de protecção dos animais. Equipamentos electrónicos não são permitidos durante o transporte. A administração de sedativos alopáticos não é permitida no transporte. 42 CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 43 CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS Os baixos preços dos produtos agrícolas e o aumento dos custos de distribuição ocorrem também no sector biológico e estão a levar os agricultores a procurar formas de manter a viabilidade económica 8. Só uma pequena parte do preço final dum produto biológico, pago pelo consumidor, vai para o produtor. A parte restante é dividida nas passagens do produtor para o vendedor e para o retalhista. Deste modo, a oportunidade de colocar os consumidores em contacto directo com os produtores representa uma vantagem considerável para as duas partes em termos de custos, conhecimento mútuo e crescimento cultural. A criação desta perspectiva é um importante passo para melhorar a agricultura biológica como um modelo inovador e sustentável. A participação em feiras do sector é essencial para o agricultor biológico, permitindo exibir os seus produtos e finalizar acordos comerciais. Nas tabelas seguintes pode encontrar as características das principais feiras biológicas: a Biofach na Alemanha e a Sana em Itália. Tabela 7: BIOFACH, a Feira Mundial de Produtos Biológicos Nuremberga (ALEMANHA), Fevereiro A BioFach, Feira Mundial de Produtos Biológicos, distingue-se pela sua força, inter nacionalidade e poder inovativo. Junta aproximadamente 2.100 expositores – dois terços estrangeiros – e mais de 37.000 visitantes de mais de 110 países do mundo, em Nuremberga, todos os anos em Fevereiro. Sob o patrocínio da IFOAM, a BioFach tem critérios de admissão rígidos, garantindo a constante qualidade dos produtos em exposição. A BioFach está presente em quatro continentes, com eventos próprios no Japão, Estados Unidos, África do Sul e China. O desenvolvimento, a longo prazo, de novos mercados ultramarinos para produtos biológicos é uma extraordinária oportunidade bem como um enorme desafio para muitas empresas. Um determinado número de condições deve ser respeitado para uma entrada com sucesso no nicho de mercado biológico dum país estrangeiro. Todos os países têm requisitos muito próprios, no que diz respeito às estruturas comerciais, normas, legislação e comportamento do consumidor. 44 8 Cristina Grandi (Ligação do gabinete do IFOAM ao FAO), Mercados alternativos para os produtos biológicos, procedimentos da mesa redonda internacional “Agricultura biológica e Ligações de Mercado”, organizada pela FAO e pelo IFOAM, Novembro 2005. COMPETÊNCIAS COMERCIAIS CAPÍTULO II Uma empresa que queira adquirir uma estrutura sólida para os seus produtos no estrangeiro, é aconselhada a informar-se sobre os requisitos do próprio país. A presença numa feira nesse país oferece uma excelente oportunidade para tal. Os expositores profissionais internacionais da Feira Global de Nuremberga conhecem os mercados, têm experiência e dispõem de um equipamento relevante. A Feira Global de Nuremberga é responsável pela organização, em nome do Ministério Federal da Alimentação, Agricultura e Protecção do Consumidor (BMELV), tendo o apoio da Associação Alemã de Organização de Feiras de Comércio (AUMA). O conceito estabelecido oferece soluções para todos os assuntos técnicos e organizacionais ligados com a exposição nestes eventos. As empresas interessadas em entrar para os mercados biológicos da Ásia, América do Norte e Africa do Sul devem inscrever-se todos os anos para garantir um espaço no pavilhão alemão, já que há imensa procura. Actividade na Feira (fonte: NürnbergMesse) __ http://www.biofach.de Tabela 8: SANA Exposição Internacional de Produtos Naturais Bolonha (ITÁLIA), Setembro A SANA, Exposição Internacional de Produtos Naturais – Nutrição, Sade e Ambiente é um dos eventos mais importantes de todo o mundo natural: • 85.000 m2 de espaço de exibição • 16 Pavilhões • 1.600 Expositores, incluindo 400 oriundos de 45 países da Europa, EUA, Ásia, Oceânia e Africa. • 70.000 Visitantes – incluindo 50.000 agricultores. • 3.500 Comerciais • 70 Congressos • 900 Jornalistas A macro-área de Nutrição, presente desde a 1ª exposição, ocupa até 7 pavilhões destinados aos produtos biológicos e certificados. Aqui encontrará os produtores 45 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS de Itália e as delegações oficiais de vários países estrangeiros, desde o “A” de Argentina, ao “U” de Uganda, passando pela Áustria, Brasil, Alemanha, Tunísia, etc. CAPÍTULO II Os seis pavilhões destinados à saúde incluem todos os produtos, tecnologias e instrumentos necessários para conseguir um bem-estar holístico de uma forma natural: desde ervas e produtos fitoterapeuticos a cosméticos naturais, medicinas não convencionais e centros de bem-estar. Viver duma forma “natural” implica estar atento ao ambiente em que vivemos e trabalhamos, às roupas que usamos e ao impacto ambiental de todos os produtos e instrumento de uso comum. As tecnologias e produtos para a construção ecosustentável, a mobília ecológica e os tecidos naturais encontrados na área da SANA Ambiente são o cenário perfeito. A SANA, sempre procurando cuidadosamente o desenvolvimento da educação ecológica, criou, em cooperação com a Bologna Fiere, o primeiro hall de exposição totalmente dedicado a jogos e à educação amiga do ambiente: a SANALANDIA. Dentro dum jardim real, foram criadas áreas para brincar livremente ou para fazer actividades específicas (laboratórios de reciclagem, desenho e escultura, onde todos os trabalhos feitos pelas crianças estão expostos ao longo da feira). Sessões de leitura e shows sobre ecologia decorrem num teatro construído para o efeito. Dentro de cabanas de madeira, associações e patrocinadores fazem sessões de prova de comida biológica e brinquedos feitos de materiais amigos do ambiente. A SANA, para além de ser um evento com fortes intuitos comerciais, tem uma valência cultural muito forte. Todos os anos, o calendário de eventos inclui dezenas de congressos, workshops e mesas redondas de debate, que atraem milhares de profissionais de Itália e do estrangeiro, e público em geral. A tudo isto, ainda podemos juntar vários eventos especiais e exposições, destacando a nova “moda eco” e sectores emergentes. A possibilidade de ver uma panóplia de produtos de qualidade, o valor cultural do show e o interesse dos temas abordados, atraem todos os anos centenas de jornalistas italianos e estrangeiros. Estes tratam de divulgar as mensagens da SANA e toda a informação disponível sobre produtos naturais através dos jornais, revistas, rádio, televisão e Internet. A SANA sempre se empenhou em aproximar os consumidores e as Instituições das novidades e qualidades dos produtos biológicos e amigos do ambiente, implementando – através de milhares de expositores e da presença de centenas 46 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS CAPÍTULO II de jornalistas e líderes de opinião – temas globais e um poder de comunicação que ajudaram a mostrar e a estabelecer os produtos biológicos no mercado nacional e internacional. Os produtores, as suas associações, e os grupos de distribuição de larga escala precisam agora de implementar todas as estratégias necessárias para completar o processo de expansão e estabelecimento dos produtos biológicos nos hábitos dos consumidores, conscientes de que o sucesso dum mercado natural e sustentável andará de mão dada com o alcance dum equilíbrio ambiental, produtivo e de consumo, baseado em produtos de qualidade que podem ser devidamente identificados, apreciados e seleccionados em eficientes canais de distribuição, garantindo uma segurança máxima, uma cadeia de produtos abrangente, a preços competitivos, para promover contactos com os locais de produção. __ http://www.sana.it Entre 1990 e 2000, o mercado biológico da Europa cresceu a uma média de 25% por ano atingindo um volume de vendas de 11 biliões de euros em 2004 9 (o valor de mercado dos produtos biológicos no mundo atingiu os 23,5 biliões de euros10). A Alemanha foi o maior mercado nacional na Europa com um share de 30% do volume total do mercado da União Europeia (3,5 bio €). Os mercados nacionais com vendas de produtos biológicos que ultrapassam o bilião de euros são o do Reino Unido (1.6 bio €), Itália (1.4 bio €) e França (1.2 bio €). A Dinamarca está em primeiro lugar, com uma média de consumo per capita de mais de 60€, seguida da Suécia (45€), Áustria (41€) e Alemanha (cerca de 40€). Em vários outros países da UE a média de gastos de produtos biológicos por consumidor estava acima dos 20€: Bélgica (29€), Holanda (26€), França (25€), Reino Unido (24€) e Itália (24€). 9 Comissão Europeia - Direcção Geral da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Relatório “Produção Biológica na União Europeia - Factos e Números”, Bruxelas, 2005. 10 O Mundo da Agricultura Biológica 2006 - Estatísticas e Tendências Emergentes - 8ª edição da revista, Ed. IFOAM, Bona, 2006 (www.ifoam.org). 47 CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS Esta tendência desenvolveu-se por uma série de razões: • Falta de confiança nos produtos não biológicos, depois de uma longa fase de receio da qualidade dos produtos. • Determinação em evitar os resíduos de pesticida nos alimentos. • Determinação em comer alimentos produzidos sem o recurso a organismos geneticamente modificados (OGMs). • Procura dos mais altos standards de saúde animal. • Procura de protecção e valorização ambiental. • Desejo de proteger o ambiente da contaminação dos OGMs. • Confiança no programa externo de inspecção e parâmetros legais para a produção, cobrindo toda a produção biológica e transformação. • Saúde e segurança das produções e dos trabalhadores em todo o mundo. As principais propostas da Comissão Europeia no Plano Europeu de Acção para Alimentos e Produção Biológica11 concentram-se no “desenvolvimento influenciado pela informação do mercado da alimentação biológica, aumentando a consciência dos consumidores, garantindo mais informação e promoção aos consumidores e produtores, estimulando o uso do logótipo da UE, incluindo os produtos importados, oferecendo mais transparência nos diferentes critérios, e melhorando a disponibilidade da produção, das estatísticas da procura e da oferta como política e instrumentos de marketing”. A primeira acção do Plano diz respeito ao mercado dos alimentos biológicos: “... Introduziram-se revisões ao Regulamento do Conselho (CE) Nº 2826/00 (promoção interna de marketing) que dariam à Comissão maiores possibilidades de acção directa, de forma a organizar campanhas de informação e promoção da agricultura biológica. Isto será possível com o lançamento duma campanha multi anual no espaço europeu de informação e promoção, durante vários anos, informando os consumidores, cantinas de instituições públicas, escolas e outros agentes importantes da cadeia alimentar, 11 48 COM (2004) 415 final - Bruxelas, 10.06.2004. COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 2.1 Planeamento e gestão de compras O agricultor que deseje adoptar um método de produção biológica tem de submeter o seu método a um complexo controlo de produção, relativo a todas as fases da cadeia alimentar. Será necessário seleccionar os fornecedores de ferramentas técnicas e matériasprimas. Todos devem submeter-se ao sistema de controlo da União Europeia. Em particular, os produtores de produtos provenientes de outros sectores, devem planear as compras, para evitar paragens imprevistas da produção. Além disso, seria aconselhável ter contractos com diferentes fornecedores em vez duma dependência de um único. Assim, será possível dar continuidade aos processos de produção mesmo em caso de problemas de aprovisionamento. 49 CAPÍTULO II sobre os méritos da agricultura biológica, especialmente os seus benefícios ambientais, aumentando a consciência do consumidor e o reconhecimento dos produtos biológicos e do logótipo da UE. Além disso, será lançada informação adaptada e campanhas de promoção para tipos de consumidores bem definidos, tal como o consumidor casual ou cantinas públicas. Pretende-se, também, aumentar os esforços de cooperação da Comissão com os Estados membros e as organizações profissionais de modo a desenvolver uma estratégia para as campanhas”. CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS É de sublinhar que, no sector da agricultura biológica, não é tão fácil encontrar matérias-primas, e em alguns períodos de falta de produção, os custos podem subir consideravelmente. É aconselhável definir preços previamente com os fornecedores, procurando uma média entre o preço mais alto e o mais baixo (dependendo da evolução do mercado). É também importante planear a compra de meios técnicos (por exemplo sementes, fertilizantes) que nem sempre são fáceis de encontrar, especialmente em áreas mais afastadas. De facto, na agricultura biológica a gestão de compras, e em geral, todas as fases do processo produtivo, têm de se basear num planeamento rígido, para evitar problemas técnicos e burocráticos. 2.1.a Selecção de fornecedores Para evitar compras que não estejam de acordo com as normas da UE – em constante progresso e evolução – os agricultores devem adquirir os meios técnicos em fornecedores especializados, capazes de fornecer apoio técnico qualificado e instruções. Ao nível europeu, o Regulamento nº 2029/91 faz a relação de todos os componentes permitidos na agricultura biológica. Contudo, os componentes específicos autorizados a nível nacional podem variar consideravelmente de país para país, pois os materiais e o seu uso também colidem com a legislação nacional além de que alguns aspectos das normas da UE são interpretados e desenvolvidos de diferentes formas nos vários Estados membros12. 12 O Projecto de “Avaliação dos inputs biológicos” é um projecto de acção concertada da UE, levado a cabo pelo Programa de qualidade de vida no trabalho (5th Framework Programme) sobre a avaliação dos inputs autorizados para uso na agricultura biológica (www.organicinputs.org). 50 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 13 www.isnp.it/fertab_eng/index.htm www.organicxseeds.com 15 www.biobank.it 14 51 CAPÍTULO II Pode-se ter alguma dificuldade em encontrar os fertilizantes específicos, as sementes, os produtos de controlo de pestes e equipamento para a produção biológica. Em alguns países existem registos oficiais dos produtores e distribuidores. Por exemplo, o Ministério Italiano da Agricultura exige que todas as empresas responsáveis pela produção e/ou distribuição de fertilizantes e adubos que exibem o rótulo “licenciado para a agricultura biológica” façam um registo no “Instituto Experimental para a Nutrição das Plantas”, com uma comunicação específica e uma reprodução do rótulo do produto. Logo que os testes necessários sejam efectuados, o Instituto tem de actualizar, periodicamente, a lista de empresas e produtos para os quais a documentação supra mencionada foi apresentada13. A lista publicada, conhecida como “Registo dos Fertilizantes Biológicos e Adubos (F+SC)” contem os inputs cujas comunicações foram verificadas. Para inserir novas comunicações no Registo, está prevista uma actualização contínua. Também existem bases de dados na web; por exemplo, “OrganicXseeds”: a base de dados dos fornecedores europeus dirigida por um consórcio de organizações14. As Listas de fornecedores biológicos certificados (como por exemplo, a Bio Europe15, editada em Itália) estão disponíveis na Internet, com informação detalhada sobre as companhias de inputs biológicos. É de sublinhar que, no que diz respeito à transformação da agricultura biológica, as matérias-primas também têm de ser produzidas em propriedades certificadas e monitorizadas segundo as regras da EU. Consequentemente, ao comprar, é necessário ter uma certificação oficial que deve ser inserida nos registos da quinta. Particularmente, quando a compra está relacionada com forragem e sementes, é importante ter uma certificação de produto livre de OGM. COMPETÊNCIAS COMERCIAIS CAPÍTULO II 2.1.b Escolha dos canais de distribuição Normalmente o agricultor tem de se dirigir a fornecedores mistos (produtores convencionais/biológicos), devido à falta de centros especializados em ferramentas/produtos para a agricultura biológica. É aconselhável comprar a vendedores especializados via Internet. Desta forma, haverá sempre menos riscos relacionados com a qualidade dos produtos e conformidade com os critérios da UE, mesmo se os preços forem mais elevados devido ao transporte. Normalmente é possível aceder à descrição do produto em causa on-line. 2.2. Comercialização de produtos da quinta No sector biológico, o comércio tem sido debatido há muito tempo. No princípio, a discussão girava em torno do direito de os produtos biológicos estarem presentes nos supermercados. Hoje a discussão está entre os mercados locais, cantinas públicos (escolas, hospitais, etc.) e o comércio justo. 52 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS Tabela 9: Semana Biológica nas cantinas da Comissão Europeia e do Concelho Europeu em Bruxelas. Áustria 2006 – Presidência da União Europeia CAPÍTULO II O Grupo do IFOAM da EU organizou, em conjunto com a Presidência Austríaca da EU, uma SEMANA BIOLÓGICA nas cantinas da Comissão Europeia e do Conselho Europeu em Bruxelas. O evento teve lugar do dia 17 ao 24 de Maio de 2006. Durante este período, os funcionários da UE e os seus convidados, tiveram a oportunidade de experimentar várias refeições biológicas. Esta iniciativa pública/privada tem como objectivo apoiar o uso de alimentos biológicos nas cantinas públicas e sublinhar o papel do catering para um desenvolvimento dinâmico no sector biológico. A cantina da Comissão e o Concelho, ao servir diariamente milhares de refeições, pode dar um bom exemplo para o sector biológico. O sector privado já implementou com sucesso o catering biológico nas suas cantinas, como é exemplo a IKEA (1 milhão de refeições), os Hotéis Scandic ou o Banco WestLB com 22% de refeições biológicas. Na Holanda, dez grandes ONGs que, em conjunto, têm quatro milhões de membros, assinaram em 2005 um compromisso para alterar completamente para o catering biológico. Estes exemplos demonstram que o catering biológico contribui significantemente para o aumento do mercado de produtos biológicos. As Instituições Nacionais e Europeias devem ter este aspecto em conta. Ao iniciar a “Semana Biológica”, a Presidência Austríaca e o Grupo do IFOAM da UE sublinham a importância da implementação do Plano de Acção Europeu na Agricultura e Alimentação Biológica. As autoridades públicas são grandes consumidoras na Europa, gastando 16% do Produto Doméstico Bruto (GDP) da UE (que é uma soma equivalente a metade do GDP Alemão). Ao usarem o seu poder de compra e optarem por produtos e serviços que também respeitam o meio ambiente, eles também podem ter um importante contributo para o desenvolvimento sustentável. Comprar produtos biológicos é também dar o exemplo e influenciar o mercado. Ao promover a aquisição de produtos biológicos, as 53 CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS autoridades públicas podem dar à indústria incentivos reais para o desenvolvimento de tecnologias biológicas. Nalguns produtos, trabalhos e sectores, o impacto pode ser particularmente significante, já que as compras públicas lideram uma grande parte do mercado. A Comissão Europeia concebeu um caderno16 sobre a aquisição pública ambiental, para ajudar as autoridades públicas a lançar uma política de compra biológica com sucesso. Este caderno explica as possibilidades oferecidas pelas normas da UE de uma forma prática, e aponta soluções simples e efectivas que podem ser usadas nos procedimentos de aquisição pública. O caderno17 está disponível no website EUROPA da Comissão Pública de Aquisição Biológica, que contem mais informações práticas, links úteis e informações de contactos. A agricultura biológica é um potencial contribuidor para o crescimento e diversificação económica local e regional, melhoria da identidade local e marketing, contribuindo assim para a revitalização das comunidades rurais e cidades. Por exemplo, em Itália existe uma rede, chamada Città del BIO (Bio-Towns) 18, abertas a todos os administradores locais que já investiram em politicas de apoio biológico. A introdução dos alimentos biológicos nas cantinas escolares será uma das primeiras áreas em que o Bio-Towns irá começar a trabalhar, juntamente com um compromisso sobre educação alimentar e educação de consumo. A rede também promove o “Bio-Distrito Rural”, que não é um novo corpo administrativo, mas antes um 16 54 Comissão das Comunidades Europeias, Caderno sobre a aquisição pública, Bruxelas 18.8.2004 - SEC (2004) 1050. 17 http://europa.eu.int/comm/environment/gpp. 18 www.cittadelbio.it COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 2.2.a Selecção do consumidor A importância dos canais de vendas individuais diferencia-se através dos Estados-membros. Por um lado, na Bélgica, Alemanha, Grécia, França, Luxemburgo, Irlanda, Itália, Holanda e Espanha, o marketing directo e o marketing através de lojas especializadas dominam o sector biológico. No entanto, nos últimos anos, o número de vendas a retalho aumentou significantemente nestes países. Por outro lado, na Dinamarca, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Irlanda, Hungria e República Checa, a maior parte das vendas concentram-se nos supermercados (mais de 60%) e em lojas não especializadas. Os especialistas estão convencidos de que nos países onde os produtos biológicos são vendidos principalmente em supermercados, o crescimento e parcelas do mercado são (e continuarão a ser) maiores do que noutros Estados-membros19. A venda directa, em todas as formas, é o mais importante canal de venda dos produtos biológicos, tanto para o consumidor, como para o agricultor. As vantagens para o consumidor são as seguintes: redução dos preços, respeito da época e frescura do produto, conhecimento dos produtos e sua origem. Vantagens para o produtor: aumento do lucro, relação directa com os consumidores, o novo papel do agricultor, distribuição de produtos/variedades locais. 19 Relatório da Comissão Europeia (G2 EW - JK D (2005)) “Agricultura Biológica na União Europeia - factos e números”, Bruxelas, 3 de Novembro de 2005. 55 CAPÍTULO II organismo de cooperação com objectivo de atrair e coordenar novos investimentos. É um instrumento programado de larga participação entre os decisores públicos e privados, que estão envolvidos no sistema produtivo local, e que atingem um maior poder de negociação, no que respeita a assuntos relacionados com a agricultura biológica, turismo rural, artesanato e pequenas indústrias. CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS Há diferentes opções para a venda directa: • “Agricultores na cidade”: mercados locais, grupos de compra, eventos promocionais; • “Citadinos no campo”: venda “à porta da quinta”, férias na quinta, etc. O marketing directo e os mercados dos agricultores são muito importantes nas áreas rurais, particularmente em conjunto com o turismo em quintas e restaurantes locais. Figura 5: “exemplo de citadinos no campo” Figura 6: exemplo dos “agricultores na cidade” Os hipermercados (multiple retail outlets) podem transaccionar mais produtos do que lojas de produtos biológicos, e são um importante ponto de contacto dos consumidores com os produtos biológicos. Alguns supermercados têm apoiado iniciativas para desenvolver a procura de produtos biológicos. O número de supermercados 56 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 2.2.b Como vender produtos biológicos A cadeia de oferta de produtos biológicos é um sector tipicamente conduzido pelos consumidores. Os consumidores frequentes de produtos biológicos exigem mais transparência e honestidade através de todos os segmentos da cadeia de oferta biológica. Um slogan recorrente é: compre local, feito de forma biológica e correcta 20. A transparência e a rastreabilidade são ferramentas essenciais de marketing para as produções biológicas. A UE, de acordo com o previsto no Regulamento Nº 178/02, torna obrigatório a adopção dum sistema de rastreabilidade para os alimentos, a começar em Janeiro de 2005. O marketing dum produto agro-industrial passível de ser investigado é caracterizado pela distribuição dos conteúdos informativos obtidos durante os processos de rastreabilidade, comunicando eficientemente os dados e qualquer outra informação do produto, com baixos custos. Assim, toda a informação reunida pelos sistemas informativos está disponível para o consumidor (em conjunto com o produtor e o distribuidor). Tudo isto valoriza o produto final e permite abrir novas perspectivas no sector do marketing. 20 Nadia El-Hage Scialabba (FAO), Tendências Globais da Agricultura Biológica nos Mercados e Países exigem a assistência da FAO, Procedimentos da Mesa Redonda Internacional “Agricultura Biológica e Ligações dos Mercados”, organizada pela FAO e pelo IFOAM, Roma, Novembro de 2005. 57 CAPÍTULO II biológicos continua a aumentar. Contudo, alguns consumidores preferem outros locais de venda, para um contacto mais próximo com os produtores e menos canais de marketing (com mais vantagens para os agricultores, também). Há uma procura crescente do sector do catering e serviços alimentares. O número de restaurantes, cafés e bares que servem produtos biológicos está a crescer. Os Governos nacionais também estão a encorajar o uso de produtos biológicos nas instituições públicas. Um número crescente de escolas estão já a usar produtos biológicos nas suas refeições. CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS As potencialidades são enormes, tendo em conta a imagem e o valor de um produto totalmente novo e documentado. O instrumento tecnológico utilizado para realização da tarefa pode estar no uso do browser dum portal da Internet, capaz de avisar o consumidor e de o informar acerca do produto que está prestes a comprar. Basicamente, dá ao consumidor a sensação de entrar “virtualmente” na empresa e conhecer quem produziu aquilo que vai consumir. Figura 7: exemplo do portal da Internet sobre a rastreabilidade da alimentação biológica 58 COMPETÊNCIAS COMERCIAIS 59 CAPÍTULO II Na agricultura tradicional, antes da industrialização, a confiança do consumidor baseava-se no contacto directo com o produtor. Ao comprar produtos alimentares, o cidadão sabia qual era a sua proveniência e até quem os tinha produzido. A globalização do mercado alimentar criou uma distância, não só física como mental, entre produtores e consumidores, o que veio preocupar os consumidores. Tal distância pode ser compensada através do instrumento da rastreabilidade. O marketing também evoluiu. O sec. XX foi caracterizado pelo sucesso da produção em massa, com o objectivo de vender o mesmo produto ao maior número possível de consumidores. Este novo século é o de produtos específicos, individualizados, “só para si”, que podem ser produzidos em grandes quantidades, isto é, a baixo preço, mas em versões individuais e com a ajuda das novas tecnologias. A tendência actual é a do marketing one-to-one, que procura vender uma quantidade de produtos variados a um consumidor, a uma família. O uso da Internet tornou-se vulgar no contacto entre parceiros de negócio (B2B, business to business), em aquisições e logística. Portanto, o marketing de precisão é personalização (especificação em massa e avaliação dinâmica) de produtos e serviços. O objectivo é o de satisfazer desejos individuais, a preços individuais mais baixos provenientes das vantagens do volume da produção em massa (por exemplo, o e-commerce). Os outputs destes mercados alternativos permitem tanto a redução dos preços do consumidor, como o aumento do rendimento do agricultor. Também dá aos consumidores a possibilidade de saber onde e como os produtos são cultivados. Há uma clara diferença qualitativa entre as várias formas de sistemas de marketing directo e a venda a um mercado em massa anónimo. O contacto directo com os consumidores tem um enorme valor, e ao comprarem directamente aos agricultores, os consumidores têm um elo de ligação mais forte à terra, interessando-se mais e compreendendo melhor o sistema de agricultura. CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS COMERCIAIS Figura 8: exemplo de E-commerce: www.eurorganicshop.com Em todo o mundo, o movimento biológico tem mostrado um interesse crescente nestes sistemas de marketing directo. Têm sido feitas experiências tanto em países desenvolvidos, com em vias de desenvolvimento, e em alguns casos, com apoio dos Governos. O IFOAM apoia estas iniciativas, desenvolvendo instrumentos, e trocando experiências 21. 21 Cristina Grandi (Ligação do gabinete do IFOAM ao FAO), Mercados alternativos para os produtos biológicos, procedimentos da mesa redonda internacional “Agricultura biológica e Ligações de Mercado”, organizada pela FAO e pelo IFOAM, Novembro 2005. 60 CAPÍTULO III PRODUÇÃO DE BOVINOS PARA CARNE 61 INTRODUÇÃO CAPÍTULO III 1 - INTRODUÇÃO Para que uma exploração de gado bovino de carne tradicional se possa converter ao sistema de produção biológica é necessário que se siga uma série de regras muito importantes no que diz respeito ao maneio diário dos animais. A alimentação, a reprodução e o maneio dos animais, a higiene, juntamente com as instalações e o tratamento dos resíduos são dos principais aspectos que se devem conhecer e por em prática para converter uma exploração convencional em biológica, estando nestes aspectos incluídas as diferenças fundamentais em relação à criação de gado convencional. Todos os temas apresentados neste capítulo de criação biológica de gado bovino para carne estão relacionados e não podem ser tratados de forma isolada, uma vez que o seu conjunto influencia os animais. Assim é preciso tentar manter um equilíbrio especial entre todos eles, sem que nenhum seja afectado gravemente, já que as repercussões serão imediatas. Desta maneira, não se pode falar da alimentação como um factor isolado, porque afecta decisivamente a reprodução e a saúde dos animais. Uma alimentação deficiente, tanto em qualidade como em quantidade, em épocas de escassez, reflecte-se negativamente no cio dos animais, no peso das crias ao nascimento, numa maior incidência da retenção da placenta, etc. A sobrealimentação em vacas em que o parto está próximo pode dar origem a complicações no parto. 62 INTRODUÇÃO Alterações no tipo de alimentação como, por exemplo, excesso de hidratos de carbono ou escassez de fibra bruta, terão consequências negativas sobre a saúde dos animais e serão factores propiciadores à ocorrência de patologias. Outro exemplo, que confirma as relações que existem entre todos estes pontos e o bem-estar animal, é quando os animais habituados a estar ao ar livre se encontram no seu meio envolvente e podem realizar as acções típicas do seu comportamento natural, como enlamear-se, deitar-se, esticar-se, jogar, lutar, etc., a possibilidade de apresentarem sintomas de doença diminui. Contudo, quando parte do seu comportamento inato está reprimido, ou algumas características típicas do seu comportamento são reprimidas, estão submetidos a algum stress e a possibilidade de adoecerem é muito maior. Uma má planificação das instalações, como por exemplo, a quantidade excessiva de dejectos nos pavilhões, uma elevada ventilação ou temperaturas demasiado altas, favorecem o aparecimento de certas patologias respiratórias ou infecções dos cascos dos animais. Por tudo isto, é conveniente um correcto controlo de todos estes factores e das suas inter relações para assim se evitar a predisposição dos animais ao aparecimento de patologias. Ao longo dos diferentes temas que estão incluídos neste capítulo vão ser estabelecidas as normas gerais que figuram no Regulamento Comunitário 2092/91 sobre a produção biológica agrícola e animal. 63 CAPÍTULO III Se se administra uma pequena quantidade de alimento, aumenta o stress e o mal-estar dos animais, dando origem a lutas com o possível aparecimento de lesões nos mais fortes, bem como o emagrecimento e a predisposição para patologias nos mais débeis. CAPÍTULO III INTRODUÇÃO No entanto, é muito importante ter em atenção que cada exploração é diferente e terá imensos factores que facilitam ou não a sua reconversão. A alimentação (Módulo I) tem como aspecto mais importante a utilização e o aproveitamento dos recursos naturais assim como o fornecimento de suplementos em épocas de escassez como rações ou forragens de produção biológica. Nas explorações de gado que tenham possibilidade de converter também a agricultura deve ser um factor a considerar porque os dois tipos de produção são complementares e melhoram a rentabilidade da exploração. Os conceitos para o cultivo de cereais biológicos, utilizados tanto para a produção de forragem como para o aproveitamento do grão e da palha, são abordados também neste capitulo, assim como o modo de gerir o programa de alimentação do gado, as suas necessidades nutritivas, a distribuição em lotes, a elaboração de rações biológicas e a sua rotulagem. No tema da reprodução (Módulo II) é dado principal destaque à prática da cobertura natural, ainda que esteja permitida a inseminação artificial. É conveniente o estudo dos planos de reprodução para assegurar a reposição de mães reprodutoras com bons índices de produção. Também são abordados os aspectos relativos aos sintomas e cuidados antes e depois do nascimento, tanto das mães como dos vitelos. No Módulo III, relativo ao cuidado e maneio do gado bovino biológico, é dada especial atenção ás práticas a seguir para satisfazer as necessidades típicas dos animais e favorecer o bem-estar animal, bem como para diminuir ao máximo as acções que façam do transporte dos animais um factor de stress. Também são estabelecidas regras para o controlo do pastoreio, da quantidade de cabeças na exploração e são também apresentadas as vantagens e inconvenientes de estabular 64 INTRODUÇÃO o gado. O abate dos animais é uma etapa muito importante na produção de carne de qualidade. As instalações (Módulo V) devem garantir uma liberdade de movimentos dos animais bem como condições de limpeza e higiene compatíveis com o bem-estar animal. Dependendo do tipo de explorações é possível que a engorda se realize ao ar livre, pelo que as instalações necessárias são poucas. No caso da engorda se realizar dentro das instalações, estas deveram estar adaptadas e promover ao máximo a comodidade do animal. A gestão e o tratamento de resíduos (Módulo VI) fecham o ciclo dentro de uma exploração com estas características. É conveniente um tratamento adequado dos resíduos a fim de assegurar o equilíbrio com o meio ambiente e evitar a contaminação do meio em que vivem os animais. A fertilização das parcelas com composto ou estrume biológico são os métodos mais utilizados na criação biológica de gado. Em síntese, serão abordados todos aqueles aspectos que têm especial interesse para o produtor que queira constituir uma exploração 65 CAPÍTULO III Outra das principias diferenças em relação ao maneio convencional é a aplicação de medidas e produtos sanitários, que são desenvolvidos no módulo IV. Na criação biológica de gado o estado sanitário da exploração está mais baseado na prevenção do que no tratamento das doenças. A prevenção é realizada mediante um maneio adequado dos animais, garantindo uma alimentação de qualidade e reduzindo ao máximo as situações de stress que predisponham o aparecimento de patologias. No caso de ocorrer alguma doença, o tratamento deverá ser realizado, primeiro, mediante a utilização de terapias alternativas e, em último caso, recorrendo à utilização de produtos de síntese química. INTRODUÇÃO CAPÍTULO III biológica de gado e oferecer ao mercado uma carne de qualidade, sem componentes químicos, levando a cabo uma produção em equilíbrio com o meio ambiente e contribuindo para a sua conservação. 66 Módulo I CAPÍTULO III ALIMENTAÇÃO DE BOVINOS BIOLÓGICOS PARA CARNE 67 MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III 1 - GESTÃO DO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO Numa exploração de bovinos de carne de produção biológica, a alimentação é feita durante a maior parte do tempo com os recursos naturais que existem nas parcelas e que se encontram à disposição do gado. Dentro destes recursos estão incluídos o prado propriamente dito, as folhas das árvores, os frutos, os rebentos, etc. A alimentação deve assegurar a qualidade da produção final e a administração das necessidades nutritivas do gado nas diferentes etapas da sua vida. Uma alimentação deficiente dos animais pode dar lugar ao aparecimento de doenças e à diminuição dos índices produtivos. A falta de minerais, vitaminas, fibra, concentrado, etc. cria problemas que chegam a por em risco a vida do animal. A alimentação biológica está baseada, em grande medida, no aproveitamento os recursos naturais mediante um sistema de pastoreio em rotação, que ajusta a carga animal à dimensão de cada parcela e evita assim os problemas de sobrepastoreio. Esta tem consequências negativas sobre o meio como a erosão do solo, a dificuldade para a recuperação da pastagem e a acumulação de estrume e de elevadas concentrações de azoto que podem levar ao aparecimento de patologias. Para adequar a carga animal à dimensão de cada parcela, foi estabelecido um número máximo de animais por hectare que, por sua vez, está relacionado com a concentração máxima de azoto por 68 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I hectare e ano (170 Kg N/ha/ano) que um solo pode absorver evitando assim a contaminação. Idade do animal Vitelos com menos de um ano Vitelos de um a dois anos Nº de animais por hectare (170 kg de N/ha/ano) 5 3,3 2 Vitelas para criação / engorda 2,5 Vacas 2,5 Em épocas em que os recursos naturais são escassos, será necessário proporcionar ao gado forragens e rações biológicas. Nas explorações em processo de reconversão, onde se cultive forragens e cereais para a alimentação do gado (auto abastecimento), estará autorizada a inclusão de até 60% de matéria seca de alimentos em reconversão. No caso de explorações que não estejam a fazer a reconversão da agricultura, só está permitida a inclusão de 30% de matéria seca de alimentos em reconversão. A porção diária de fibra em matéria seca constituída por forragens secas, frescas, fenos, etc. deve representar pelo menos 60%. Haverá épocas ou etapas da vida do animal em que será necessário administrar ração para completar as suas necessidades nutritivas. O órgão de controlo estudará e avaliará cada situação de maneira isolada. As rações devem estar isentas de antibióticos, factores de crescimento, herbicidas, pesticidas, etc. As sementes não podem ser transgénicas nem ser oriundas de organismos geneticamente modificados ou derivados deles. 69 CAPÍTULO III Machos com mais de dois anos MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III Até Agosto de 2005 estava permitido até 10% de alimentos convencionais, sempre que o produtor demonstrasse ao órgão competente que não podia obter alimentos exclusivamente biológicos. Esta percentagem podia ser incrementada em situações excepcionais como doenças infecciosas, consequências das condições meteorológicas, incêndios, etc., mas sempre mediante um estudo prévio de cada situação elaborado pelo órgão de controlo. A partir desta data, a percentagem máxima de alimentos convencionais que poderá ser autorizada em circunstâncias especiais, e depois de uma análise exaustiva por parte da autoridade competente, será ajustada segundo o seguinte calendário: - De 25 de Agosto de 2005 a 31 de Dezembro de 2007, até 15%. De 1 de Janeiro de 2008 a 31 de Dezembro de 2009, até 10%. De 1 de Janeiro de 2010 a 31 de Dezembro de 2011, até 5%. As matérias-primas que se autorizam para a elaboração de rações biológicas devem ser obtidas segundo as normas de produção biológica e respeitando o equilíbrio com o meio ambiente em que se desenvolvem. Figuram na parte C do Anexo II do Regulamento 2092/91(1). Existe uma grande variedade de matérias-primas, pelo que não é muito difícil formular uma ração que satisfaça as necessidades nutritivas dos animais. (1) Regulamento (CEE) N° 2092/91 do Conselho de 24 de Junho de 1991, sobre a produção agrícola biológica e a sua indicação nos produtos agrários e alimentares. * O sal de mina é muito fácil de encontrar, e pode ser aproveitado em bolas de sal para a alimentação dos animais. 70 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I DESCRIÇÃO Cereais, sementes, produtos e subprodutos Aveia, cevada, arroz, milho painço, centeio, sorgo, trigo, espelta, tritical, milho, malte, resíduos de cervejeiras, etc. Sementes oleaginosas, frutos oleaginosos, produtos e subprodutos Colza, fava de soja, girassol, algodão, linho, sésamo, semente de palma, abóbora, azeitonas, azeites vegetais, etc. Sementes leguminosas, produtos e subprodutos Grão-de-bico, sementes de ervilhaca-de-pombo, semente de alfarroba, ervilhas, favas, sementes de fava-forrageira, ervilhacas, tremoço, etc. Tubérculos, raízes, produtos e subprodutos Beterraba, batata, batata-doce, mandioca. Outras sementes e frutos, produtos e subprodutos Alfarrobas, abóboras, polpa de citrinos, maçã, marmelos, peras, pêssegos, figos, uvas, castanhas, bolotas, nozes, avelãs, cacau, etc. Forragens e forragens grosseiras Luzerna, trevo, erva de plantas forrageiras, feno, forragem ensilada, palha de cereais e raízes vegetais para forragens. Outros subprodutos Melaço, algas, extractos proteicos vegetais, especiarias e plantas aromáticas. Leite e produtos lácteos Leite cru, em pó, desnatado, soro de leite, caseína, lactose, coalho, leite cortado, etc. Peixe, produtos e subprodutos Peixe, óleo de peixe, óleo de fígado de bacalhau não refinado, etc. Ovos e ovoprodutos Ovos e ovoprodutos. CAPÍTULO III ORIGEM VEGETAL Também se podem encontrar listas de completos vitamínicos, oligoelementos e vitaminas autorizadas que podem ser usadas no caso de ser necessário (parte C e parte D do Anexo II do Regulamento 2092/91). Entre as matérias-primas de origem animal (capítulo 3 da parte C do Anexo II), incluem-se as seguintes substâncias e os seus derivados: 71 CAPÍTULO III MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne SUBSTÂNCIA DERIVADOS Sódio Sal marinho sem refinar, sal de mina*, sulfato de sódio, carbonato de sódio, etc. Potássio Cloreto de potássio Cálcio Carbonato de cálcio, conchas de animais aquáticos, lactato de cálcio, etc. Fósforo Fosfato bicálcico e monocálcico desfluorado, monosódico, fosfato cálcico e magnésico, etc. Magnésio Sulfato de magnésio, óxido de magnésio, fosfato de magnésio, etc. Enxofre Sulfato de sódio Em relação à utilização de vitaminas, somente estão incluídas as substâncias autorizadas conforme o Regulamento (CE) nº 1831/2003 do Parlamento Europeu. - Vitaminas que derivem de matérias-primas presentes de forma natural nos alimentos para ruminantes. Vitaminas de síntese A, D e E idênticas ás vitaminas naturais e que estejam quimicamente definidas, sempre sob a autorização do órgão de controlo do Estado membro. Com todas estas matérias-primas autorizadas é possível fabricar qualquer tipo de ração. As fábricas especializadas na sua elaboração, ou com linhas separadas de produção biológica, utilizam uma grande quantidade de fórmulas com muitas variantes segundo o fabricante. Normalmente utilizam as matérias-primas mais abundantes no mercado. Frequentemente, antes de começar a sementeira, são estabelecidos acordos entre os agricultores e as fábricas de ração para ver qual é o elemento que mais utilizam e que quantidades necessitam. Por vezes, as fórmulas da ração são alteradas devido a prejuízos nas colheitas provocados por variações climáticas no decorrer do ano. 72 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I 1.1 Necessidades nutritivas dos animais Na criação de gado biológica não é necessário saber exactamente que contribuição de energia, proteínas, etc., necessita um animal para chegar ao peso final no menor tempo possível. É suficiente que a quantidade de alimento seja suficiente, sempre e quando se observe nos animais um aumento de peso progressivo dentro de um espaço de tempo razoável. Aproximadamente, os machos entre os 14 e 15 meses atingem 300 quilos de carcaça, todavia dependerá de muitos factores como a genética o tipo de engorda, a mãe, etc. Quando os animais são criados no campo, é muito difícil saber a quantidade de fibra ou de proteína que comem porque aproveitam todo o tipo de rebentos, frutos, flores e, naturalmente, o pasto. Na produção biológica a principal diferença é a qualidade do produto, mas não se pode descurar os rendimentos obtidos para rentabilizar a exploração. A partir do momento em que esta diferença de qualidade não seja apreciável quando comparada com a produção convencional, a exploração deixará de ser rentável. A capacidade para procurar e aproveitar os recursos naturais que têm os animais de raças autóctones, juntamente com o maneio 73 CAPÍTULO III Actualmente existem muitos estudos sobre as necessidades nutritivas dos animais em cada etapa da sua vida, que incluem tabelas com cálculos da contribuição de energia, proteína, cálcio, fósforo, etc. necessários aos animais para obter o máximo rendimento, sem ter em conta a qualidade do produto. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III implementado em relação ao bem-estar e higiene animal, proporciona à carne características de textura, sabor e cheiro (características organolépticas) diferenciáveis do resto dos produtos. É importante conhecer o valor nutritivo (em kg. de matéria seca) de alguns alimentos administrados aos animais em épocas de escassez de recursos para evitar deficiências na alimentação. Pode haver diferenças no valor nutritivo das matérias-primas de diferentes colheitas devido ao tipo de solo, ás variedades plantadas, a problemas de seca, temporais, pragas, etc. Na seguinte tabela estão incluídos os parâmetros que medem o valor nutritivo de alguns alimentos: MS (%) FB (%) PB (%) Energia bruta (kcal/kg) Ca (g/kg) P (g/kg) Aveia em grão (Avena sativa, L.) 88,1 12,2 9,8 4.100 1,1 3,2 Trigo mole em grão (Triticum aestivum, L.) 86,8 2,2 10,5 3.780 0,7 3,2 ALIMENTOS Trigo duro (Triticum durum, L) 87,6 2,7 14,5 3.880 0,8 3,4 Centeio (Secale cereale, L) 87,3 1,9 9,0 3.750 1 3 Milho em grão (Zea mays, L.) 86,4 2,2 8,1 3.860 0,4 2,6 Cevada em grão (Hordeum spp.) de 2 e 6 espiguetas 86,7 4,6 10,1 3.810 0,7 3,4 Tremoço em grão (Lupinus albus, L.) 88,6 11,4 34,1 4.490 3,4 3,8 Ervinha em grão (Pisum sativum, L.) 86,4 5,2 20,7 3.770 1,1 4,0 89 3,5 19,9 4.190 1,1 3,6 91,4 38,2 3,8 4.040 4,4 0,7 Grão-de-bico (Cicer arietinum, L) Palha de trigo (Triticum spp.) (MS: Matéria seca FB: Fibra bruta PB: Proteína bruta Ca: Cálcio P: Fósforo) (Todos os valores estão expresso em relação à matéria fresca) 74 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I Durante as diferentes etapas de crescimento dos animais podem produzir-se diversas alterações na alimentação. Também há que ter em atenção que os agricultores não semeiam todos os anos as mesmas espécies e há que ir alterando a quantidade segundo as matérias-primas que estão disponíveis. Por outro lado estão as alterações devido à passagem dos animais pelos diferentes lotes. Há explorações que fornecem diferentes formulações, dependendo do lote de animais. No entanto, fica muito caro disponibilizar diferentes tipos de ração para cada lote logo esta disponibilidade dependerá da exploração. As alterações de alimentação devem realizar-se de forma progressiva, misturando gradualmente a ração a incluir com a habitual, até que a totalidade da ração seja alterada. A água tem que estar sempre à disposição (ad libitum), e o açude limpo para evitar problemas com parasitas, infecções ou intoxicações. 75 CAPÍTULO III Por um lado, estão as variações devidas às alterações na quantidade normal de ração. Por vezes substituem-se umas matérias-primas por outras por motivos de escassez ou porque diferenças no tipo de leguminosa (fornece proteína) ou no tipo de cereal (fornece hidratos de carbono). As condições climatéricas limitam as produções, há momentos, por exemplo, que existe mais ervilhaca, outras vezes mais ervilhaca-de-pombo ou soja, da mesma forma que acontece com os cereais, que se cultivam mais ou menos dependendo das precipitações e das temperaturas. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III 1.2 Distribuição em lotes Cada etapa da vida do animal tem necessidades alimentares concretas. Por isso é aconselhável a divisão da exploração em lotes, que vão necessitar de um maneio específico e mais individualizado dos animais, o que implicará uma maior necessidade de mão-de-obra e horas de trabalho. • Lote de engorda Durante a primeira etapa da sua vida, o ruminante comporta-se como monogástrico. O alimento base do leite materno passa directamente para o abomaso através da goteira esofágica. O funcionamento deste reflexo depende dos receptores situados na faringe e a da ingestão tranquila de pequenas quantidades. À medida que o vitelo cresce e tem contacto com a água e os alimentos sólidos (erva fresca, feno, ração), começa o desenvolvimento do retículo e do rumen para assimilar e degradar os compostos. A partir deste momento, o aumento de fibra na ração favorecerá o desenvolvimento da musculatura dos sacos do rumen e o início da sua actividade. O desmame deve produzir-se, no mínimo, a partir dos três meses, quando se tem a garantia de que o vitelo tolera bem o consumo de concentrados e forragem para o seu correcto desenvolvimento. Habitualmente este realiza-se aos seis ou sete meses, dependendo do estado corporal das mães, das crias e da abundância ou não de pastos segundo a época do ano. 76 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I Os machos devem ser separados das fêmeas e, se possível, separar os vitelos recém desmamados dos que estão a terminar, já que os maiores não deixarão os restantes alimentar-se correctamente. (Imagem 1: Lote de vitelos de engorda) 77 CAPÍTULO III A forma de alimentar este lote dependerá do tipo de engorda que seja planificado pela exploração de gado. Se a engorda de vitelos se realizar no interior de instalações, os animais encontram-se estabulados (seguindo as normas de estabulação e instalações que determina o Regulamento 2029/91 e que serão referidas mais à frente) e os alimentos são colocados na manjedoura, seja de forma manual, recorrendo ao tractor ou ao carrinho de mão, seja de forma automatizada. Se se realizar a engorda de vitelos ao ar livre não são necessárias as instalações e a alimentação é disponibilizada em comedouros em épocas de escassez. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III As alterações de origem alimentar mais frequentes neste lote são: - Sobrecargas devido ao consumo excessivo de ração durante as etapas de iniciação ou depois de estar algum tempo privado dela. Costumam desencadear diarreias normalmente superadas depois de uns dias a dieta ou à base de forragem que estimula o movimento do rumen. - Meteorismo: formação de grandes quantidades de gás (meteorismo gasoso) ou de borbulhas (meteorismo espumoso) enquanto a sua libertação se encontra inibida. Entre as causas que geram esta inibição está a alimentação fraca em fibra, de erva com geada e neve, de grande quantidades de água, de erva em más condições, de elevadas concentrações de leguminosas, de plantas que contêm ácido cianídrico, etc. - Indigestão simples: ocorre quando são administradas forragens muito fibrosas com muitos rebentos, ingestão de alimentos frios e água, diminuição da flora e actividade metabólica por falta de sais. Tudo isto origina deficiências na cadeia de reacções que participam na digestão normal (reacções enzimáticas) desencadeando de maneira secundária alterações na ruminagem e disfunções bioquímicas. - Indigestão que evolui com acidose: originada pelo consumo excessivo de hidratos de carbono (beterraba e seus derivados) ou de cereais, que aumenta a produção de ácido láctico no rumen (o pH diminui) e posteriormente é absorvido passando para o sangue. O animal não rumina, apresenta fastio e pode estar associado também a meteorismos (acumulação de gás no rumen) e à disseminação do ácido láctico pelo organismo chegando ao fígado onde se pode enquistar (abcessos hepáticos). 78 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I Indigestão com alcalose: neste caso são administradas em excesso substâncias azotadas. Evolui com um aumento da cadeia normal de reacções que se dão no rumen (reacções enzimáticas) produzindo elevadas concentrações de azoto que aumentam o pH ruminal e destroem a flora aí presente. A ruminagem é alterada e o animal apresenta sobrecarga e diminuição da concentração de magnésio (hipomagnesemia). - Intoxicações por consumo excessivo de bolotas, fetos, etc. Estas alterações podem observar-se nos restantes lotes com maior ou menor frequência. Geralmente, se as regras de maneio são as adequadas, a percentagem de mortalidade no lote de engorda é muito baixa, inferior a 1%, podendo chegar a 5% em vitelos se se contarem os recém nascidos. • Lote de reposição As novilhas requerem cuidados muito especiais. O início da actividade reprodutiva depende em grande medida da raça da selecção que o produtor vá realizando na sua exploração. A capacidade reprodutora inicia-se muito cedo, pelo que a administração de nutrientes deve satisfazer todas as necessidades para o seu próprio crescimento e formação, assim como o desenvolvimento da sua cria e a sua lactação. (Imagem 2: Novilhas de reposição de raça autóctone: Avileña-negra Ibérica) 79 CAPÍTULO III - MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III A gestação, a lactação e o crescimento são actividades que necessitam de muitos nutrientes. Resulta essencial conseguir que a fêmeas comecem a sua função reprodutora em condições fisiológicas adequadas. - Maturação corporal. É aconselhável que tenham suficientes reservas de cálcio e fósforo para a produção de leite e reservas de energia para a sua manutenção geral. Se não se consegue uma maturação corporal adequada, os primeiros cios demoraram a manifestar-se e diminuirá a capacidade de ovulação. - Condição corporal. É a medida do estado de reservas do animal. Todas as fêmeas devem chegar ao parto com um estado de condição corporal intermédio, de nível 3 (no qual se podem apalpar bem as costelas). Se as novilhas chegam ao parto com uma condição corporal baixa (menor que 3), durante a lactação diminuem os seus níveis de gordura e emagrecem muito. Se as novilhas têm uma condição corporal muito alta (maior que 3), as ovulações são escassas, perdem-se os ciclos, a capacidade de placentação fica diminuída, etc. Outros problemas que se podem colocar por falta de desenvolvimento das novilhas são: dificuldades no parto, vitelos debilitados, ausência de instinto maternal e abandono dos vitelos. • Lote de vacas em gestação As alterações que se produzem nesta etapa são muito importantes. As necessidades nutricionais das vacas gestantes distribuem-se da seguinte forma: - 80 Gestação. No primeiro terço da gestação o feto cresce muito pouco. Todavia, as necessidades no último terço da gestação Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I - - Resumindo, a mãe gasta os nutrientes por esta ordem de prioridade; primeiro, o feto; em segundo lugar, a sua manutenção; e em terceiro, o seu crescimento. Desta forma, qualquer deficiência na nutrição vai repercutir-se directamente no estado da mãe. • Lote de vacas paridas É muito importante que as necessidades nutricionais deste lote estejam satisfeitas, já que as deficiências na alimentação podem originar problemas tanto para a mãe como para o vitelo. A falta de concentrado ou de forragem de alto conteúdo energético produz quebras na condição corporal da vaca, diminuição da quantidade e qualidade do leite, doenças, etc., que afectam directamente o vitelo e geram desnutrição, diarreias, perda de peso… (Imagem 3: Vaca com vitelo de uns dois meses com cio) 81 CAPÍTULO III aumentam. Manutenção da mãe. As alterações hormonais tão profundas que se produzem durante a gestação implicam um grande consumo metabólico e maiores necessidades a nível nutricional. Crescimento. As vacas continuam a crescer e a formar-se aproximadamente até ao terceiro parto. A partir daí, estabilizam e as necessidades ficam distribuídas entre a sua manutenção e a formação e cria do vitelo. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne Neste lote deverá ser vigiado especialmente: - CAPÍTULO III - 82 O nascimento de crias no Inverno, uma vez que podem passar de 38 ºC a -10 ºC quando está a gear ou nevar. É importantíssimo que mamem rapidamente o colostro para que o vitelo adquira uma boa imunidade. As diarreias no verão. Rapidamente ocorre a desidratação do animal e pode morrer em pouco tempo. As deficiências em selénio e vitamina E encontram-se associadas à doença “do músculo branco” ou “distrofia muscular degenerativa”, que termina com alterações na mobilidade, andar cambaleante, tremores, prostração. Pode ser evitado com silagem de gramíneas e ração e, em caso de necessidade, com a utilização de suplementos vitamínicos sempre que o organismo de controlo correspondente o autorize. Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I 1.3. Elaboração de rações Biológicas e a sua rotulagem O fabricante deve garantir uma separação física eficaz entre os alimentos destinados á produção biológica e os de produção convencional. O fluxo de fabrico deve estar completamente diferenciado dos restantes fluxos de elaboração não sujeitas ás normas biológicas. No caso de se efectuarem operações no mesmo fluxo, deverão realizar-se separadamente e proceder-se à limpeza adequada antes da elaboração da ração biológica e sempre mediante autorização do organismo de controlo competente. É obrigatório manter um registo de quantidades, produtos e destinatários que foram fornecidos. O órgão de controlo realizará análises aleatórias às amostras. Quando um produtor pondera converter a sua exploração á produção biológica, deve planificar quem e como lhe vai fornecer a ração biológica necessária para os animais em épocas de escassez ou para complementar a alimentação de alguns lotes. 83 CAPÍTULO III Para a elaboração de rações biológicas é obrigatório realizar uma descrição de todas as instalações que vão ter intervenção no seu fabrico (recepção, elaboração e armazenamento dos produtos). Além disso, será necessário possuir um registo onde constem as matériasprimas, os animais para os quais estão destinadas e as fórmulas que estejam previstas para produção. Deverão ser tomadas as medidas necessárias para evitar a contaminação com substâncias não autorizadas e cumprir os requisitos do sistema de análise de perigos e controlo de pontos críticos. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III Há duas formas de obter ração biológica na exploração: 1) Comprar ração biológica. Algumas fábricas de rações autorizadas realizam este concentrado à base de matérias-primas biológicas ou em reconversão, segundo as normas de fabrico descritas anteriormente. Normalmente esta ração pode ser fornecida a granel, e ser descarregada em silos, ou em sacos para ser utilizada à medida das necessidades. Dependendo da estrutura de cada exploração deverá ser escolhido o tipo de fornecimento mais adequado. O transporte dos alimentos biológicos para as explorações deve realizar-se de forma isolada e, se se efectuar de forma simultânea com outro tipo de alimentos, deve existir uma separação física entre ambos. Quando se trata de ração a granel, deve ser acompanhada de uma cópia do documento de circulação, que inclui os seguintes dados: - Organismo de controlo do qual depende o operador. Produtor ou distribuidor com o nome, a direcção e o número de operador. Receptor ou comprador com o nome, a direcção, o número de operador e o organismo de controlo do qual depende. Relação de produtos, quantidade e forma de envio. Matrícula do transporte. Data. As outras cópias do documento de circulação são entregues ao organismo de controlo e ao produtor. No caso do fornecimento em sacos, cada um deles terá inscrito num autocolante a informação obrigatória para qualquer tipo de ração. Além disso, deverá possuir um outro autocolante onde figurem, entre outros dados: 84 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I - 2) Produzir ração biológica. Há explorações, que com um nível sanitário e um maneio adequado, podem produzir com relativa facilidade a sua própria ração sem necessidade de depender do fornecimento de fabricantes, que encarecem o preço do produto final. Para isso, convém realizar acordos com os agricultores para que forneçam o grão que não semeiam e necessário para realizar a ração. Desta forma, o produtor de gado não terá problemas em encontrar grão para preparar a ração e o agricultor não encontrará dificuldades para o vender. O transporte do grão deve ser acompanhado de um documento de circulação onde figurem, entre outros dados, o número de operador do produtor e o órgão de controlo do qual depende, a espécie do grão e a quantidade vendida, os dados do destinatário e o seu número de operador, a data, etc. Uma ração para alimentação de gado bovino pode ser feita de uma forma fácil moendo um cereal com uma leguminosa. O cereal tem que estar numa proporção inferior a 80% (70-75%) e contribuirá com os hidratos de carbono, enquanto que a leguminosa deve estar numa proporção de aproximadamente 20% e proporcionará a proteína necessária para o animal. Este tipo de ração juntamente com o aproveitamento do pasto em parcelas onde os animais se encontram 85 CAPÍTULO III - O órgão de controlo. O número de operador de quem produz a ração. A lista de matérias-primas utilizadas que provêem de agricultura biológica. A lista de matérias-primas utilizadas que provêem de agricultura em reconversão. A lista de matérias-primas convencionais, no caso de existir alguma. MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne ao ar livre, ou da forragem, feno ou palha quando estejam dentro das instalações, contribuirá para que os animais estejam em bom estado e que a carne obtida seja de excelente qualidade. CAPÍTULO III (Imagem 4: Ração realizada numa exploração para o seu próprio consumo, composta por cevada e alfarrobas.) (Imagem 5: Aproveitamento dos recursos naturais.) (Imagem 6: Macho de engorda alimentado à base de recursos naturais e de ração.) 86 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I 2. CULTIVO DE FORRAGEM PARA A ALIMENTAÇÃO DE GADO BIOLÓGICO Como objectivos da relação entre a agricultura e a produção de gado biológica podemos encontrar: - Produção de alimentos de alta qualidade respeitando o meio ambiente no qual se desenvolvem. Conservação ou aumento da fertilidade da terra e da sua actividade biológica. Desenvolvimento de explorações mistas de agricultura e criação de gado. Controlo de pragas sem necessidade de utilização de herbicidas, pesticidas, etc. Utilização de recursos renováveis e sistemas de produção agrícola local. Aumento e fixação de mão-de-obra nas aldeias para evitar o seu abandono. 87 CAPÍTULO III Neste tipo de produção biológica é evidente a ligação que existe entre a produção de gado e a agricultura, de maneira que se complementam e fazem com que na exploração biológica impere a qualidade e a rentabilidade económica. CAPÍTULO III MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne (Imagem 7: Campo de cevada em equilíbrio com o meio no qual se desenvolve.) 2.1. Bases para o desenvolvimento da Agricultura Biológica Existem muitas diferenças entre as diferentes culturas, mas o objectivo é o mesmo: obter uma colheita de elevada qualidade e economicamente rentável. O período de reconversão da terra dependerá dos tipos de tratamentos recebidos anteriormente e da utilização que se irá dar a partir desse momento. Será realizado um estudo pelo organismo de controlo que determinará concretamente o tempo necessário para essa reconversão. Normalmente oscila entre dois e três anos. 88 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I Sementes a utilizar: Devem ser sementes obtidas mediante reprodução vegetativa, não podem provir de organismos geneticamente modificados e no seu método de produção podem ter sido utilizadas as substâncias que figurem nos anexos I e II do Regulamento 2092/91 (sempre que o Estado membro o permita na sua legislação) CAPÍTULO III Principais regras para o desenvolvimento da agricultura biológica: • Lavouras As lavouras são um conjunto de operações mecânicas ou manuais para trabalhar o solo e obter um bom desenvolvimento das plantas. Há que destacar a importância de não mobilizar em muita profundidade (nunca mais de 25 cm) com o objectivo de não misturar as diferentes camadas da terra. Deve deixar-se que os ciclos do solo se completem sozinhos para um melhor desenvolvimento do ciclo seguinte. A associação de plantas com diferentes tipos de raízes e a rotação das culturas, contribuem para a alteração da profundidade do solo e para um melhor aproveitamento da água e dos nutrientes por parte das plantas. Para proteger o solo de problemas de erosão é conveniente não desagregá-lo demasiado e manter restos vegetais como os restolhos, que ajudam à sua conservação. • Fertilização Está proibida a fertilização com qualquer substância tóxica ou de síntese química. Para realizar uma fertilização adequada é possível a utilização de estrume e de outros materiais provenientes de explorações com produção biológica. O estrume de explorações convencionais não é adequado, uma vez que é rico em resíduos químicos que permanecem no solo e destroem parte dos microrganismos e os 89 CAPÍTULO III MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne macrorganismos responsáveis pela decomposição natural da matéria. Os fungos e as bactérias decompõem restos de animais e plantas e permitem a assimilação dos nutrientes pelas plantas. A presença de minhocas assegura uma excelente qualidade os solos e multiplica as concentrações de micro e macroelementos assimiláveis pelas plantas. Além disso, favorece a boa oxigenação do solo e a chegada de água e nutrientes ás culturas. Outros animais que contribuem para o bom funcionamento do solo são as abelhas, borboletas e ouriços que facilitam a fertilização das plantas e evitam o aparecimento de pragas. Um correctivo muito utilizado na agricultura biológica é o composto. Trata-se de uma técnica relativamente simples com a qual se realiza a degradação da matéria orgânica, de forma a torná-la assimilável pelas plantas. Esta técnica será explicada mais à frente no módulo VI sobre gestão de resíduos. Frequentemente são feitas sementeiras de leguminosas (ervilhaca, ervilha, tremoço) ou de gramíneas associadas a leguminosas (aveia e ervilhaca) para posteriormente as deixar no solo e utilizá-la como fertilizante verde para as culturas. As leguminosas têm a capacidade de fixar o azoto ao solo. • Rotação das culturas A rotação das culturas é mais um método de fertilização e prevenção de pragas. O cultivo do mesmo tipo de planta durante muitos anos favorece o esgotamento dos solos e dos micronutrientes que essa planta necessita, Cada planta, através do seu sistema radicular, retira do solo os nutrientes que utiliza para o seu crescimento. Se esta situação se repete todos os anos, as reservas de nutrientes esgotam-se. Por isso é importante fazer a rotação das culturas com espécies com tamanhos de raiz e necessidades diferentes. A rotação 90 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I de culturas todos os anos também evita a transmissão de parasitas de um ano para outro. As associações de culturas promovem benefícios de ambas as plantas ou, pelo menos, de uma delas. As espécies associadas não devem competir pelos mesmos nutrientes e podem semear-se em diferentes linhas para facilitar a colheita em separado. Muitos dos métodos anteriormente mencionados, tais como a rotação e a associação de culturas, o predomínio de animais insectívoros (os ouriços, lagartixas, e sapos) e a utilização de variedades autóctones, previnem o aparecimento de pragas e doenças. Também se pode utilizar uma grande variedade de plantas aromáticas semeadas próximo das culturas ou entre elas, que devido ao seu odor atraem polinizadores e evitam a propagação das pragas. Por outro lado, existem macerações e extractos de plantas que funcionam como insecticidas vegetais, tais como preparados de piretrina e rotenona, entre muitas que têm acção contra os pulgões e gorgulhos. Nas partes A e B do anexo II do Regulamento 2092/91 é apresentada uma lista dos produtos fitossanitários que se utilizam, como fertilizantes, correctivos acondicionadores do solo e pesticidas, respeitando sempre as disposições especificas do Estado membro onde se utilizem. 91 CAPÍTULO III • Tratamento de pragas e doenças MÓDULO I | Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne CAPÍTULO III 2.2. Culturas Forrageiras É conveniente planificar com antecedência a alimentação seleccionada para cada exploração de forma a assegurar o abastecimento durante todo o ano. Algumas explorações bovinas contam com agricultura associada e podem ser auto-suficientes, ou até mesmo estabelecer contactos com outras explorações biológicas que necessitem deste tipo de alimento. Estas últimas deverão realizar acordos com agricultores biológicos (cooperativas ou associações) para assegurar o fornecimento de ração e forragem durante as épocas de escassez. As forragens, no sentido lato da palavra, são culturas semeadas para proceder ao seu corte, em certos casos, e ao aproveitamento pelo gado noutros. O tipo de forragem a cultivar depende, entre outros factores, das variedades locais que melhor se adaptam ao solo, das características climáticas da zona e das necessidades da exploração pecuária. (Imagem 8: Forragem de ervilhaca.) 92 Alimentação de Bovinos Biológicos para a Carne | MÓDULO I O criador de gado terá que avaliar, em primeiro lugar, a variedade a semear e, em segundo lugar, se o vai recolher como forragem ou se espera para recolher o grão e utilizá-lo na elaboração da ração. O cultivo deve ser feito de acordo com as regras descritas anteriormente. Para enriquecer os prados onde pastam os animais podem introduzir-se gramíneas ou leguminosas que asseguram um alimento de excelente qualidade. 93 CAPÍTULO III Existem muitos factores que intervêm no cultivo de uma espécie ou de outra. A frequência de chuvas, o sol, a humidade, a proximidade das montanhas, etc., favorecem a sementeira de uma determinada variedade e, por esse motivo, é tão grande a diversidade de culturas forrageiras. 94 CAPÍTULO III Módulo II CAPÍTULO III REPRODUÇÃO DO GADO BOVINO BIOLÓGICO 95 MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III 1. Acasalamento NATURAL Em termos de reprodução do gado bovino na exploração biológica, há que deixar que cada animal tenha o seu ritmo, uma vez que não se podem acelerar os ciclos biológicos nem estimular o seu início. A reprodução deve realizar-se mediante acasalamento natural, embora também esteja permitida a inseminação artificial. Esta última praticamente não se utiliza pela dificuldade de maneio que requerem este tipo de raças e pelo problema que supõe meter as vacas em mangas cada vez que se detecta o cio de uma delas. Está totalmente proibido qualquer outro tipo de maneio da reprodução como a transferência de embriões ou os tratamentos hormonais, que acelerem o ciclo reprodutivo normal do animal. A castração física está permitida para realizar outro tipo de produção de diferente qualidade, como a carne de boi. Esta operação deve ser sempre efectuada por pessoal qualificado e evitando o sofrimento do animal. A maioria das explorações tem um ciclo de cobrições contínuo ao longo do ano. Os touros permanecem com as fêmeas todo o tempo, o que supõe vantagens e inconvenientes. 96 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II CAPÍTULO III (Imagem 9: Exploração onde os reprodutores permanecem com as fêmeas durante todo o ano.) Vantagens: . Podem ficar prenhas as fêmeas que já o forma anteriormente. Assim, evita-se que algumas fêmeas não sejam cobertas até à chegada da nova etapa de cobrições, o que levaria a um atraso em todo o ciclo da vaca e a consequentes perdas económicas. . Diminuição dos intervalos entre partos. Quando as vacas estão todo o ano com o touro, há mais garantias que quando tenham os primeiros cios férteis estas serão cobertas. . Existe a possibilidade de criar um ciclo contínuo de comercialização de vitelos e manter o abastecimento do mercado que tanto trabalho custa a conseguir. 97 MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico Inconvenientes: - Podem ficar prenhas fêmeas demasiado jovens ou vacas que ainda não se encontram recuperadas do parto anterior. CAPÍTULO III - O touro está continuamente em contacto com as vacas e diminui a sua fertilidade. -Ocorrem partos em épocas com condições climatéricas desfavoráveis, o que pode levar ao aparecimento de problemas de pneumonias no Inverno ou diarreias no Verão. A concentração dos partos obriga a ter em conta a época de maior abundância de pastos nas parcelas para assegurar o desenvolvimento do vitelo e uma boa manutenção da mãe, sem necessidade de gastos adicionais de concentrado e forragens. Nesta situação os touros permanecem separados das fêmeas durante o tempo que o produtor entenda por conveniente para facilitar o maneio do gado. A proporção adequada de touros que garante uma correcta taxa de cobrição é de aproximadamente 4%. Em determinadas circunstâncias, como em zonas de montanha, o gado é separado e o touro pode permanecer todo o Verão com um número reduzido de fêmeas, enquanto que o resto da manada permanece sem touro. Nestas ocasiões é conveniente aumentar a proporção de touros e promover a realização das cobrições de toda a manada. Para um bom funcionamento da exploração há que ter um controlo exaustivo de cada vaca. Pode-se elaborar uma ficha para cada vaca onde conste o número de partos, o tempo que demora a ficar prenha, se repete muitas vezes ou não, de que touro fica prenha e todos os dados referentes ao vitelo, 98 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II tais como o desenvolvimento, o sexo, a raça e o destino (engorda ou recria). Uma vaca tem uma gestação de aproximadamente 9 meses podendo haver algumas variações dependendo da raça e do factor individual. Se as vacas estão com o touro durante todo o tempo, normalmente iniciam o cio aproximadamente 2 meses após o parto. As vacas com boa capacidade reprodutora costumam ficar prenhas logo no primeiro cio, mas há situações que dependem de cada animal ou do próprio maneio de cada exploração, como por exemplo, o estado de carnes, se ficaram bem limpas do parto anterior, as condições meteorológicas, se comeram erva verde ou não, etc. Existe uma série de factores individuais e de maneio que fazem com que as vacas demorem mais ou menos a ficar prenhas de novo. Por isso, há que analisar cada situação e averiguar as causas do atraso. Através do registo dos dados se saberá quando pariu a última vez, como foi o parto, se teve retenção da placenta, o número de partos que já teve, etc. Como já foi comentado anteriormente, numa exploração biológica não se devem forçar os ciclos naturais. Deve-se deixar que cada animal siga o seu ritmo normal, sem tentar retirar o máximo rendimento mas, como é claro, assegurando uma produção rentável. Em relação aos reprodutores, o exame dos genitais masculinos tem 99 CAPÍTULO III Com uma ficha completa de cada vaca será fácil descartar a existência de problemas de fertilidade ou de falta de amplitude reprodutiva. Neste registo vão-se destacar as vacas mais reprodutoras e com melhores qualidades tanto maternais como para a produção, podendo-se assim realizar uma selecção de todas elas para assegurar a sua descendência. MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico grande importância uma vez que só são rentáveis quando o seu funcionamento é o correcto. Nos animais de engorda, unicamente se presta atenção a este aspecto quando afecta o desenvolvimento do resto do organismo. CAPÍTULO III Para avaliar a capacidade reprodutiva dos touros e o estado sanitário geral, devem-se observar as seguintes indicações: - Avaliação do estado sanitário geral dos animais. Realizar análises de sangue, de fezes e um reconhecimento completo para descartar alguma doença que afecte o bom estado geral e, secundariamente, a capacidade reprodutiva do animal. Observação do estado dos aprumos (deve-se garantir uma correcta posição das extremidades, que os ligamentos não estejam danificados, o bom estado dos cascos, etc.). - Exame visual para assegurar que não é portador de características indesejáveis perceptíveis visualmente e que possam transmitir-se à descendência. - Avaliação dos genitais mediante a inspecção e apalpação para garantir a cobrição. Realização de exames com a finalidade de controlar as doenças de transmissão venérea para evitar a sua propagação ao resto da manada. - Comprovar a capacidade de transferência das características à descendência. - Observação do comportamento sexual do macho perante uma fêmea no cio. Normalmente tem três fases: começa com a excitação e os mugidos, de seguida produz-se uma aproximação à fêmea e, finalmente, desencadeiam-se os reflexos típicos do acasalamento. 100 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II A selecção de um bom reprodutor é primordial para o maneio reprodutivo da exploração de gado bovino. Deve-se ter em conta que a sua descendência será o futuro da exploração. CAPÍTULO III 101 MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III 2. Planos de Criação Conforme já referido anteriormente, as raças autóctones são necessárias para melhorar o maneio da exploração bovina. Garantem altos índices de fertilidade, facilidade no parto, baixo intervalo entre partos… Todavia, as crias costumam ter rendimentos em carne baixos e uma conformação pouco valorizada no momento da venda. Para melhorar as características de rendimento e conformação realiza-se o cruzamento com reprodutores com mais aptidão para carne, como as raças limousine e charolesa. A introdução de machos reprodutores não provenientes de parcelas biológicas está autorizada sempre que sejam criados e alimentados conforme as regras de produção biológica do conjunto da exploração. Deve-se garantir o estado sanitário de todos os animais novos que sejam incorporados à exploração mediante a realização de inspecções ou análises. Por isso, numa exploração biológica de gado bovino para carne seria conveniente ter dois tipos de reprodutores. a) Um reprodutor de raça autóctone No cruzamento deste reprodutor com as fêmeas de raça autóctone permanecem as características principais na descendência e, preservase assim, a raça e todas as suas qualidades. 102 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II CAPÍTULO III (Imagem 10: Reprodutor de raça Avileña-negra Ibérica. A configuração dos quartos traseiros difere bastante da dos toros do chamado “cruzamento industrial”.) As fêmeas que nasçam deste cruzamento serão destinadas à reposição, aproximadamente um 10%. Os machos serão destinados à engorda; a sua conformação não é a ideal para obter bons rendimentos, mas é a única forma de garantir as características da raça na descendência. Algum dos machos poderá ser destinado a reprodutor tendo em conta as qualidades da mãe e evitando assim a introdução de animais alheios à exploração cujo estado sanitário se desconhece. Em relação à qualidade da carne que se produz neste tipo de cruzamento é superior à do resto dos cruzamentos que se possam fazer. Apresenta-se suculenta, é saborosa e, dependendo da raça, muito rica em ferro. Além disso desenvolve-se em equilíbrio com o meio que os rodeia. 103 MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III b) Um reprodutor com aptidão para carne Este é o denominado “cruzamento industrial” que se realiza frequentemente com as raças limousine e charolesa. As crias (machos ou fêmeas) nascidas deste cruzamento melhoraram a sua conformação e o seu rendimento em carnes e serão mais rentáveis no momento da venda. As novilhas não devem ser cruzadas com machos de aptidão para carne devido ao perigo de partos distócitos ou difíceis, sobre os quais se falará posteriormente. As fêmeas deste cruzamento perdem rusticidade, pelo que se aconselha a não utilizálas para reposição. Também apresentam uma maior percentagem de complicações no parto. (Imagem 11: Reprodutor charolês. A configuração dos quartos traseiros é de maior valor económico, são mais largos e têm as massas musculares melhor formadas.) 104 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II 3. Cuidados durante o nascimento a) Cuidados antes do parto Quando uma vaca está próxima do parto apresenta uma série de sintomas que alertam no sentido de se proceder à correcta gestão do animal, evitando possíveis complicações. Os partos das novilhas requerem cuidados especiais. Nestes casos, desconhece-se o comportamento e, sobretudo, se as dimensões da novilha são suficientes para que o vitelo nasça sem problemas. Tal como já foi referido anteriormente, aconselha-se o cruzamento com um touro autóctone. Se tiver de ser um reprodutor com aptidão para carne, deverá escolher-se um limousine porque dá crias mais pequenas mas com uma percentagem posterior de reconversão elevada. (Imagem 12: Novilha para cruzar com um macho autóctone e evitar problemas de partos difíceis.) 105 CAPÍTULO III Os cuidados que o gado requer durante a gestação e o nascimento variam em função da fase do parto, explicando-se em seguida as condições especificas a ter em conta antes, durante e depois do parto. MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico Nas últimas semanas antes do parto a cria provoca grande desgaste na mãe, sendo conveniente ir aumentando a ração de concentrado e reduzir possíveis deficiências que se repercutirão na mãe e no vitelo. CAPÍTULO III Quando se prevêem alterações meteorológicas deve-se reforçar os cuidados dispensados às fêmeas, uma vez que o mais provável é que o parto se adiante. Os sintomas característicos anteriores ao parto são: - A vaca não está tranquila e separa-se dos restantes. - Começa a produção láctea e são visíveis os tetos carregados. - Aumenta a frequência das micções. - Edema da vulva. - Aparecimento do muco cervical. - Relaxamento dos ligamentos pélvicos da vaca com o consequente afundamento do abdómen. Nem todos os animais apresentam estes sintomas. É frequente ver vacas que na proximidade do parto ainda não iniciaram a produção láctea e com o ubere descarregado. No entanto, após o parto desencadeia-se todo o mecanismo hormonal. O tempo que decorre entre o aparecimento dos sintomas e o parto é muito variável e depende de cada animal, podendo oscilar desde várias horas até uma semana. Em algumas situações, quando o vitelo começa a colocar-se no canal do parto, a vaca fica agitada 4 ou 5 dias antes de parir e apresenta cólicas. 106 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II b) Cuidados durante o parto Uma vez iniciado o parto, na maioria dos casos, dá-se o nascimento do animal sem problemas. Aproximadamente 98% das fêmeas pare sem complicações quando se tiveram em atenção as regras de maneio referidas anteriormente. CAPÍTULO III (Imagem 13: Novilha com a cria de dois dias) Não acontece o mesmo com as fêmeas mestiças, cuja percentagem de partos difíceis pode chegar aos 10%. Existem diferentes causas que dificultam o nascimento do vitelo. Entre as mais importante, destacamos: - Desproporção entre o tamanho do vitelo e a mãe. Isto é frequente em fêmeas prenhes muito jovens de touros inadequados ou com alterações morfológicas da pélvis. São desfavoráveis as pélvis compridas e estreitas e garupa descida. - Posição alterada do feto. O feto mal colocado no canal do parto impede o nascimento. Pode ter a cabeça lateral, flectida numa das extremidades ou estar colocado transversalmente no canal do parto, etc. 107 MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico - Partos gemelares. - Malformações fetais. CAPÍTULO III - Torção uterina. O útero onde o vitelo esteve implantado toda a gestação, dá meia volta e aparece flectido. Desenvolve-se no final da gestação ou na primeira fase do parto e frequentemente fica-se a dever aos movimentos do vitelo para se colocar no canal do parto. Normalmente está associada a um vitelo grande. - Pouca dilatação do cérvix. O cérvix é o colo do útero e é necessário que dilate para que o vitelo consiga nascer. Se não dilata, o vitelo terá dificuldades para sair. Por vezes, está relacionada com uma posição de nádegas do vitelo. As patas traseiras no canal do parto são insuficientes para estimular as contracções abdominais e desencadear o parto, e pode-se correr o risco de morte do vitelo. Nestes casos é conveniente pedir ajuda a um médico veterinário para que avalie a situação e dê possíveis soluções. c) Cuidados pós- parto Imediatamente após o nascimento do vitelo é conveniente retirar-lhe das fossas nasais e da boca os restos de liquido amniótico para que não ocorram pneumonias por aspiração. Mais à frente indicaremos numerosos medicamentos homeopáticos que estimulam a respiração em vitelos recém-nascidos. Quando o criador não está presente é a mãe que lambe o vitelo para o limpar. A desinfecção do cordão umbilical é conveniente para prevenir o 108 Reprodução do Gado Bovino Biológico | MÓDULO II aparecimento de onfaloflebite (infecção do umbigo) e a possibilidade de disseminação da infecção pelo organismo. Se o vitelo expulsar o mecónio nas primeiras horas de vida é um sinal de que ingeriu o colostro. No exame ao aparelho genital evitar complicações, tais como: - Descolamento da parede vaginal por lubrificação deficiente, vitelos grandes ou dilatação anormal. - Lacerações no recto e contaminação da vagina por um vitelo muito grande ou com má apresentação. - Retenção da placenta por partos prolongados, deficiências em vitamina E e selénio. Após alguns dias a placenta decompõe-se e expulsa uma secreção uterina muito suja. - Metrites. Infecção uterina. A vaca apresenta sinais sistémicos que começam com febre, inapetência, secreções vulvares castanhas e mal cheirosas de consistência líquida. - Prolapso uterino. Saída do útero para o exterior. Acontece com alguma frequência poucas horas após o parto e pode estar associado a baixas concentrações de cálcio no sangue ou retenção placentária. Tal como para todos os problemas referidos anteriormente, será conveniente que o veterinário trate o animal. A involução uterina e a regeneração do endométrio demoram cerca 109 CAPÍTULO III No que diz respeito à fêmea, antes de proceder à avaliação do seu estado geral e efectuar a inspecção ao aparelho genital é conveniente, na medida do possível, levantar o animal. Nos animais que não se levantam depois do parto é preciso controlar a circulação sanguínea, o aparelho locomotor e o sistema nervoso para identificar a causa do problema e tomar a decisão necessária. MÓDULO II | Reprodução do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III de 50 dias até estar completa. Durante esses dias e mais algumas semanas é possível observar vestígios de lóquios e corrimento amarelado através da vagina. O intervalo entre o parto e a primeira ovulação depende da raça, da alimentação, do estado de carnes e da época do ano. Normalmente oscila entre um mês e meio e dois meses. Geralmente recomenda-se que as vacas não sejam cobertas antes de 50 dias, uma vez que antes disso as taxas de concepção são muito baixas. 110 Módulo III CAPÍTULO III CUIDADO E MANEIO DO GADO BOVINO BIOLÓGICO 111 MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III 1. Controlo do pastoreio Nas explorações de gado bovino biológico o aproveitamento dos recursos naturais e o contacto com o ambiente garantem, para além de uma excelente qualidade do produto final, o fortalecimento do sistema imunitário dos animais, que os torna mais resistentes ás doenças. A rotação do gado pelas várias parcelas da exploração garante uma alimentação à base de erva fresca, rebentos, flores e frutos, que no lote de engorda configura a principal diferença em relação à produção de gado convencional. Estes são os alimentos mais biológicos que se podem dar ao gado. Os excrementos dos animais ajudam a incrementar a fertilidade do solo e a qualidade da erva. No caso das explorações com parcelas com muitos hectares, é conveniente a divisão em parcelas mais pequenas para ter um maior controlo dos animais e melhorar assim o aproveitamento de cada zona. O cercado das parcelas deve realizar-se de maneira adequada para assegurar que os animais não se juntem com outros ou que fujam e provoquem acidentes. Dentro de uma exploração pode haver parcelas com pastos de melhor ou pior qualidade, mais frescos ou mais secos, e com mais ou menos arbustos. Por isso, é muito importante programar o pastoreio de cada parcela e aproveitar os recursos nelas disponíveis consoante a estação do ano. 112 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III Em certas ocasiões há tendência para limpar as parcelas de arbustos e silvas sem ter em conta os benefícios que este mato pode proporcionar ao gado e ao resto dos animais da zona, já que os pode proteger da chuva, do sol, do vento, etc. Dever ser dada especial atenção ás áreas pastoreadas pelos machos de engorda, onde os prados têm mais problemas de erosão porque estes animais lutam entre si, coçam-se, escavam e destroem a zona mesmo quando o encabeçamento não é muito elevado. Para evitar estes inconvenientes de desgaste do prado, é aconselhável que os machos de engorda aproveitem: - No Inverno, terrenos secos e porosos para que não empapem. - No Verão, prados resistentes ao pisoteio para melhorar a sua adubação e fertilidade. Este é um ponto onde se encontra uma grande diferença em relação aos locais de engorda tradicionais, onde é frequente que os vitelos se encontrem em zonas com grandes quantidades de estrume que diminui o seu bem-estar e rendimento. No entanto, o lote de fêmeas de engorda com um encabeçamento adequado favorece a adubação da zona sem erodir o prado. 113 CAPÍTULO III Quando os animais da exploração passam todo o tempo ao ar livre necessitam de resguardos para se refugiarem das condições climatéricas adversas; podem ser as paredes das parcelas quando feitas de pedra, árvores, arbustos (silvas ou matos), rochedos, etc. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III Imagem 1. Lote de vitelas de engorda. Observa-se o prado sem erosão. Com um encabeçamento óptimo de animais por hectare, evitamse possíveis problemas de sobrepastoreio, encharcamento e erosão do solo. O sobrepastoreio de uma parcela manifesta-se quando se mantém demasiado gado numa superfície de pastoreio. Tem as seguintes consequências: - Empobrecimento dos solos. - Perda de espécies comestíveis. - Parte do coberto vegetal perde-se e favorece-se a erosão. - Se não existe coberto vegetal, a quantidade de água evaporada é maior e o solo armazena menos água para os períodos de seca. Devido a estas consequências, é conveniente controlar o encabeçamento de cada parcela para evitar problemas de sobrepastoreio e assegurar a recuperação da parcela para que possa manter animais noutro período. 114 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III 2. Estabulação Se os animais permanecem estabulados durante alguns períodos do ano, os alojamentos devem permitir liberdade de movimentos sem restringir as suas necessidades habituais: manter-se de pé, deitados, limparem-se, esticarem-se… O acesso ao pasto e ás zonas livres deve ser permitido o máximo de tempo possível, para favorecer o seu comportamento normal Os tipos de superfícies a usar em estabulação e zonas de exercício, encontram-se estabelecidas no Anexo VIII do Regulamento (CEE) 2092/91 do Conselho sobre a produção agrícola biológica e a sua indicação nos produtos agrícolas e alimentícios, descritas no capítulo de instalações. Nem todos os animais suportam permanecer estabulados. Tornase muito complicado o maneio e a manutenção em estábulos de algumas raças habituadas a permanecer todo o tempo ao ar livre. Os animais entram em stress, lutam, impacientam-se e até deixam de comer. Por isso é muito importante escolher uma raça autóctone para que o desenvolvimento se possa realizar ao ar livre, em parcelas com resguardos, e assegurar a resistência destas raças ás variações climáticas típicas da zona. É proibido manter os animais atados, podendo o órgão de controlo 115 CAPÍTULO III Neste tipo de produção não é obrigatória a utilização de alojamentos para estabular o gado sempre que as condições climatéricas permitam realizar a sua vida normal ao ar livre. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III correspondente autoriza-lo em casos concretos e durante períodos limitados. Em relação ao lote de engorda, é aconselhável, sempre que as condições climatológicas o permitam, engordar os vitelos ao ar livre para que possam pastar tranquilamente, fazer exercício, lutar, brincar, deitar-se nos prados, coçar-se, etc. As parcelas devem estar bem vedadas e com protecções para que os animais tenham onde refugiar-se no Verão e no Inverno. Ao contrário do que possa parecer, estes animais adaptam-se perfeitamente ás variações de temperatura e ás condições climatéricas adversas da vida ao ar livre, potenciando-se o seu sistema imunitário e a resistência ás doenças. Os problemas do tipo respiratório são mínimos uma vez que não estão reunidos em estábulos, onde a circulação de microrganismos e as concentrações de azoto favorece o aparecimento deste tipo de doenças. Todavia, segundo a legislação, a fase final de engorda do gado biológico pode efectuar-se no estábulo quando o tempo no interior não supere a quinta parte da vida do animal, e nunca mais de três meses. O rendimento das carcaças dos animais criados ao ar livre é semelhante à dos vitelos estabulados. Os animais criados ao ar livre, gozam de bem-estar e carecem de stress desde que nascem até que são abatidos, não tendo necessidade imperiosa de correr porque nunca se sentiram fechados, o que proporciona uma taxa muito elevada de transformação de alimento em carne. Vantagens e inconvenientes da engorda de vitelos ao ar livre 116 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III Vantagens da engorda de vitelos ao ar livre: . Inconvenientes da engorda de vitelos ao ar livre: - Deve ter-se muito cuidado com as condições climatéricas adversas e dispor de protecções nas parcelas - Em épocas de escassez de pastos, deve deslocar-se à parcela todos os dias para alimentar os animais. - Duma forma geral, convém ir todos os dias ver os animais para verificar se têm algum problema. - O aumento de peso dos animais pode ser menor, mas as diferenças são mínimas e dependentes da raça e da época do ano. No Inverno, costumam comer mais para manter a temperatura corporal. 117 CAPÍTULO III Não são necessários grandes investimentos em instalações, estas só são necessárias para guardar as rações e as forragens nas épocas de escassez. . Os animais criam-se no seu habitat, em equilíbrio com o meio ambiente onde se desenvolvem. Estão adaptados ás variações de temperatura. . A qualidade da carne destes animais é maior, sobretudo em relação ao sabor, devido à possibilidade de comerem os alimentos naturais que a parcela proporciona. . Pode-se utilizar para alimentar os animais a palha que noutras explorações se destina ás camas. . Os animais fertilizam as parcelas onde pastam. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico Vantagens e inconvenientes da engorda de vitelos estabulados Vantagens da engorda de vitelos estabulados: . CAPÍTULO III Não apresenta nenhum problema face ás condições climatéricas adversas. . Maior aumento do peso dos vitelos. Inconvenientes da engorda de vitelos estabulados: - Os investimentos destinados a instalações e maquinaria são elevados. - O animal não se desenvolve no seu ambiente e, ocasionalmente, ocorrem problemas de stress. - Tendência para o aparecimento de patologias devido a um maior contacto entre os animais e facilidade de transmissão de vírus (principalmente respiratórios). - Utilização de palha para camas. De acordo com estes factores, cada produtor avaliará o tipo de engorda dos seus vitelos tendo em consideração as condições da sua exploração. 118 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III 3. Bem-Estar animal Cada vez se relaciona mais estes factores com a melhoria da qualidade do produto e com o respeito pelo meio ambiente. Existem muitas definições de bem-estar animal, e geralmente é relacionada com a ausência de sofrimento ou com a capacidade que os animais têm para se adaptarem com êxito a um determinado ambiente. Os parâmetros que se empregam nestas definições não se podem quantificar sendo bastante difícil a sua avaliação. Imagem 2. Vitelos de engorda completamente adaptados ao meio. 119 CAPÍTULO III O bem-estar animal, como a alimentação, a higiene e o maneio, são os principais factores que diferenciam a exploração bovina biológica da exploração tradicional. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III No entanto, a falta de bem-estar animal traduz-se em consequências negativas sobre a produção e a higiene. Estas consequências podem ser avaliadas através de diferentes métodos de análise de hormonas e de metabolitos energéticos, medição de constantes vitais (como o ritmo cardíaco e temperatura corporal), ruminação, observação do comportamento, incidência de doenças, etc. 3.1. O que provoca a falta de bem-estar animal? Quando um animal tenta adaptar-se a uma alteração no seu ambiente, são gerados estímulos que se transmitem por via nervosa e fazem com que o animal comece a sua adaptação ao ambiente. Na tentativa de adaptação ocorrem uma série de alterações, de comportamento e sanguíneos, que contribuem para uma adaptação definitiva do animal ao novo meio envolvente. Quando os estímulos se repetem de forma continuada no tempo ou aumentam a sua intensidade, o mecanismo de adaptação não funciona e o animal não se consegue adaptar ao meio envolvente. As consequências directas desta falta de adaptação ao meio envolvente são: a) Diminuição da ingestão diária de alimento e atraso do crescimento. Factores de stress Aumento da libertação de substancias (glucocorticoides) Estimulam o consumo de proteína Bloqueiam a secreção da hormona do crescimento 120 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III b) Alterações na ruminagem que originam abaixamento do pH (acidose) e do aproveitamento de nutrientes. A ruminagem tem duas funções: Regra geral, quanto mais tempo dedicam os ruminantes a ruminar, menos destinam a dormir, já que a ruminagem provoca um estado de sonolência. Quando existe períodos de stress o animal não pode realizar correctamente a ruminagem ou pode mesmo ficar bloqueada, a produção de saliva está alterada e apresenta maior predisposição para ocorrerem transtornos digestivos tais como a acidose. c) Diminuição do sistema imunitário e maior risco de doenças. Através de estudos clínicos e experimentais comprovou-se que existe uma relação complexa entre o sistema imunitário e os factores de stress, de modo que animais submetidos a um stress intenso e prolongado têm maior probabilidade de adoecer. d) Baixa qualidade da carne devido a um pH demasiado alto. Depois de uma situação de stress muito intenso, no momento do abate as reservas de um metabolito muscular, glicogénio, estão esgotadas, o que impede que o pH da carne baixe até 5,5 ou 5,6. Este tipo de carne denomina-se “DFD” e caracteriza-se por ser mais escura, mais firme, mais seca e de pior conservação. 121 CAPÍTULO III - Desmembrar o alimento e assimilar os nutrientes. - Produzir grande quantidade de saliva que, devido ao seu conteúdo em fosfatos e carbonatos, diminui o pH do rumen e evita o risco de acidose. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III 3.2. Factores de stress Qualquer operação de maneio com os animais diferente das habituais desencadeia um factor de stress. Estas operações são muitas vezes inevitáveis, mas está nas nossas mãos conseguir que se realizem de forma cuidadosa para minimizar os seus efeitos ao máximo. Entre as práticas de maneio que podem produzir stress destacam-se as seguintes: - Entrada nos currais e passagem pela manga. Os animais relacionam os currais e a manga com efeitos negativos. É aconselhável, por exemplo, dar de comer de vez em quando nos currais ou acaricia-los quando estão na manga. É importante que os animais se sintam tranquilos e habituados a entrar no curral. - Gritos e pancadas do tratador. Falar e actuar com tranquilidade pode evitar que os animais fiquem nervosos. - Utilização de aparelhos eléctricos. Na produção de gado biológica a utilização de aguilhão eléctrico de encaminhamento está proibida. Para fazer com que o gado entre em determinados lugares não é necessário o uso destes equipamentos eléctrico, basta habituar os animais a entrar nos sítios para comer, utilizando um maneio descontraído, sem gritos, para evitar que se assustem e façam o contrário do que se pretende. - Isolamento. Estes animais têm necessidade de manter um contacto táctil e visual com outros congéneres. Está proibido manter os vitelos em alojamentos individuais depois da primeira semana de vida. 122 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III - Descorna. O corno é um meio de defesa natural perante outros animais (cães, raposas, lobos). Não está autorizado o corte de cornos de modo sistemático, só é permitido em situações especiais. Neste caso, a descorna pode realizar-se com anestesia local até aos dez dias de vida, e quando a idade for superior, deve-se aplicar anestesia local e aplicar tratamentos normais contra a dor. - Tipo de piso inadequado. Embora pareça que não tem influência, o tipo de solo interfere directamente no bem-estar dos animais. Alguns pisos favorecem o aparecimento de coxeira por serem escorregadios, levando os animais a evitar esses locais. O melhor piso é o coberto de palha, porque é um material que absorve bem os dejectos e proporciona um ambiente seco, sem cheiros e que não escorrega. - Manter animais atados. Os organismos de controlo só permitem esta prática em casos específicos, uma vez que esta prática é muito traumatizante para os animais. Do ponto de vista do bem-estar animal, o melhor sistema é manter os animais em grupos não muito grandes permitindo que tenham contacto visual e táctil com o resto dos congéneres. Desta forma desenvolvem-se de uma forma mais tranquila e sem stress. - Transporte, carga e descarga. A informação sobre estes factores será desenvolvida no capítulo seguinte sobre condições de transporte de gado bovino biológico. 123 CAPÍTULO III - Corte da cauda. Da mesma forma que a descorna, também está proibido, e só se autoriza em casos excepcionais. A cauda é o meio que o animal utiliza para enxotar as moscas. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III O pessoal da exploração pode minimizar os efeitos negativos destas práticas se forem realizadas com cuidado. As regras de maneio para diminuir os factores de stress não requerem nem mais nem menos trabalho, simplesmente pretendem aumentar o bem-estar dos animais para conseguir que ofereçam um produto de maior qualidade. Em resumo, umas boas práticas de maneio diminuem o stress e mantêm um nível imunitário adequado que garante o bom estado de saúde dos animais da exploração. Entre as práticas de maneio mais importantes que favorecem o bem-estar animal, destacam-se: - Os animais necessitam de um tratamento correcto, tranquilo, com um maneio adequado, sem pancadas nem gritos. - Ter os animais desde jovens próximo do tratador para que o conheçam e lhe obedeçam. - Os animais devem ser criados no seu meio ambiente, sem grandes alterações que provoquem situações de stress. - De vez em quando devem ser acarinhados. Desta forma eles sentem e distinguem perfeitamente quando agiram bem ou mal. - Uma boa alimentação, tanto em qualidade com em quantidade, favorecerá um estado sanitário dos animais saudável. - Manter os grupos de animais sem alterações, não introduzir animais desconhecidos, principalmente se são grandes, porque haverá lutas pela hierarquia dentro do grupo. - Uma correcta higiene das instalações diminuirá o aparecimento de doenças infecto-contagiosas. 124 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III 4. Condições de transporte do gado bovino biológico O transporte constitui mais uma etapa na produção de carne e é muito importante na qualidade final do produto. A carga e descarga são os pontos críticos no transporte dos animais. O pessoal encarregado desta operação deve prestar especial atenção ao tipo de piso das rampas para que os animais não resvalem, à inclinação das rampas de subida e descida, que não deve ser excessiva, à presença e eficácia de baias laterais para que os animais não caiam e, sobretudo, não permitir a introdução nos camiões de animais atados ou arrastados, para minimizar o sofrimento destes. A carga e descarga dos animais deve realizar-se com calma, para que observem o que os rodeia e com o cuidado necessário para evitar que sofram traumatismos, feridas ou fracturas. É conveniente que tenham a passagem livre para que consigam ver onde pisam e para onde se dirigem. Também se pode colocar alguma palha na rampa para imitar o meio envolvente. É proibida a utilização de mecanismos eléctricos que obriguem os animais a subir ou a descer do veículo de transporte. 125 CAPÍTULO III A operação de transporte é na sua totalidade um factor de stress gerador de nervosismo e ansiedade. Qualquer animal reage com medo perante uma situação nova como o transporte, o que se agravará quando as condições que rodeiam a carga e descarga não são as melhores. Deve-se sempre evitar que o animal sofra desnecessariamente. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico Uma parte da norma referente à protecção dos animais durante o transporte foi modificada e o novo regulamento (CE) 1/2005, relativo à protecção dos animais durante o transporte, entrará em vigor em 2007. Desta norma destacam-se os seguintes aspectos: CAPÍTULO III - Será necessário o registo de todos os veículos e uma autorização para os veículos destinados a fazer viagens maiores (mais de oito horas). - Os condutores dos camiões deverão realizar cursos de formação obrigatória. - As responsabilidades e obrigações devem estar repartidas por todo o pessoal envolvido, desde transportadores a intermediários, criadores, veterinários, etc. - Os camiões devem ser dotados dos melhores equipamentos. Quando o transporte durar mais de oito horas, os camiões devem ter boas camas para a comodidade dos animais e para permitir uma correcta absorção de urina e fezes; fornecimento de forragem e água suficiente; ventilação mecânica; separação entre os animais; regulação da temperatura; sistema de alerta na cabina do condutor. - Devem estabelecer-se uma série de medidas a tomar durante a carga e descarga dos animais e são proibidos todos os tipos de maus-tratos aos animais, como a utilização de aguilhão eléctrico. - É proibido o transporte a longas distâncias de bezerros com o umbigo sem cicatrizar e menores de duas semanas. - Estabelece um sistema de maiores sanções quando não houver comprimento das medidas legislativas. 126 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III Imagem 3. Transporte individual de gado. • Temperatura. O controlo da temperatura é um factor a destacar. Em viagens longas, principalmente durante a época de calor, os animais devem transportar-se durante a noite ou pela madrugada. Os aumentos bruscos de temperatura têm consequências graves, colocando os animais em perigo de vida (por “golpe de calor”) e predispondo-os a carne de baixa qualidade. • Humidade. Está sempre relacionada com a temperatura. Com temperaturas baixas, a humidade excessiva aumenta as perdas de calor. • Ventilação. Os problemas de ventilação acentuam-se quando os camiões param e não se estabelece um sistema automático de ventilação. A ventilação fornece oxigénio aos animais, elimina os gases produzidos e ajuda a equilibrar o excesso de temperatura. • Densidade de carga. Quanto maior a densidade menor o bemestar dos animais, uma vez que se impedem os comportamentos típicos. 127 CAPÍTULO III Os factores ambientais durante o transporte são muito importantes e podem chegar a condicionar situações de stress: MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico Evidentemente, introduzir os animais num camião gera-lhes um stress que não se pode evitar, mas que se deve atenuar tanto quanto possível. Para minimizar o stress do momento de subida para o camião podem seguir-se uma série de regras: CAPÍTULO III - Tentar que a rampa de subida não resvale, colocar palha ou terra para que o animal não caia. - O ruído da chapa da rampa ao pisar é muito intenso e os animais assustam-se muito, pode-se colocar uma boa cama de palha ou tábuas de madeira que produzem menos ruído ao pisar. - A palha na rampa torna o meio familiar e entretanto começam a mordiscar e sobem para o camião. - É conveniente que dentro do camião se veja luz uma vez que perante a escuridão os animais recuam. - Não utilizar aguilhões e, em princípio, também não utilizar paus para não enervar os animais logo no início. - Falar tranquilamente com os animais, sem gritos que os ponham nervosos. O uso de tranquilizantes de síntese química para o transporte de animais está proibido antes e durante o trajecto. O transporte de animais pode realizar-se por diferentes motivos, quer para os transportar entre explorações ou dentro da mesma, quer para abate. a) Quando se realizar o transporte de animais para outra exploração independente ou para outra zona da exploração é conveniente, 128 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III à chegada dos animais, fazer uma inspecção geral a cada um, mantê-los isolados doutros animais (quarentena) e fornecer-lhes água e forragem ou feno de elevada qualidade, para facilitar a sua adaptação ao novo meio e evitar que desenvolvam doenças. Além disso, podem surgir outras consequências tais como: - Perdas de peso que dependem da idade, sexo..., mas fundamentalmente da duração da viajem. Em viagens curtas, ficam-se a dever a sudação, urina ou fezes. Se à chegada à exploração se re-hidratarem os animais, repõe-se uma parte das perdas. Em viagens mais longas, superiores a quatro horas, já se dão perdas na carcaça, o que acarreta perdas económicas. - Doenças como o tétano do transporte que ocorre em vacas em avançado estado de gestação ou recém paridas. Normalmente respondem à administração de cálcio, no entanto, no matadouro as carcaças serão rejeitadas. - Roturas, lacerações, luxações. O transporte dos animais, tanto para outras explorações como para abate, deve ser realizado por pessoal qualificado que garanta o bom trato dos animais, sem colocar em perigo a sua vida e evitando qualquer sofrimento inútil. 129 CAPÍTULO III b) No caso do transporte para abate, devem diminuir-se as circunstancias geradoras de stress nos animais. As carnes DFD (escuras, firmes e secas), de pior aceitação comercial, são consequência directa do intenso stress antes do abate. Em poucas horas pode-se anular o trabalho de muitos meses. Por isso, o criador deve assegurar-se que esta tarefa seja desempenhada por pessoal responsável e qualificado. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico O tratador deve assegurar-se que todo o processo se desenrola correctamente para que todos os cuidados que dispensou ao animal se traduzam: CAPÍTULO III - Numa boa qualidade da carne, se o destino for o abate. - Um animal são e forte, se o destino for a recria ou o crescimento noutra exploração. 130 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III 5. Abate do gado bovino O abate dos animais pode dividir-se em duas fases: o atordoamento (insensibilização) e a sangria. Deve-se atordoar todos os animais antes do abate. O atordoamento é todo o processo que, quando aplicado ao animal, provoca de imediato um estado de inconsciência que se prolonga até à sua morte. O período de tempo entre o atordoamento e a sangria é muito importante se se quer obter um produto de qualidade. A duração excessiva deste período, sobretudo se o atordoamento foi defeituoso, dá origem ao aparecimento de umas pequenas hemorragias na carcaça que a tornam pouco apetecível, diminuindo a sua qualidade. O matadouro para o abate de animais biológicos e para a sua comercialização como tal, deve estar autorizado pelos organismos oficiais de controlo. Em condições ideais deveriam existir matadouros que só abatessem animais biológicos. No entanto, como o mercado não é tão grande, são autorizados dias concretos para o abate deste tipo de gado. 131 CAPÍTULO III Uma vez que alguns animais do lote de engorda começam a alcançar um tamanho considerável e, de acordo com o mercado de que solicita este tipo de carne, procede-se ao abate. O abate vai-se fazendo segundo a procura do consumidor ou da pessoa que comercializa esta carne. MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III Os matadouros deverão ter um livro de registo dos animais biológicos abatidos, onde constará: • A data de entrada no matadouro. • O documento de identificação bovina. • O número do operador e os dados do proprietário do animal. • A data do abate. • O número da guia de circulação. • A rotulagem em como se trata de um produto biológico. • O destino da carcaça. O abate dos animais de produção biológica deverá ser em primeiro lugar para evitar possíveis problemas de contaminação. No caso de ser no último turno, deverão efectuar-se as tarefas de limpeza e desinfecção de toda a cadeia para proceder ao abate. As carcaças irão identificadas com a documentação correspondente, onde devem constar os seguintes dados: proprietário, destinatário, peso, documento de identificação bovina, selo biológico e o número da guia. A carne é um produto muito complexo que, como vimos, é influenciado por muitos factores que modificam a sua qualidade e que podem ser considerados como pontos críticos de controlo. Estes devem ser analisados porque acarretam uma perda da qualidade da carne e a possibilidade de rejeições no matadouro, o que se traduz numa perda económica. Entre outros factores, destacamos: - Ambientais: a temperatura, a cama, a humidade, o ruído e, em conjunto, a sanidade dos animais, intervêm directamente no bem-estar. Qualquer patologia dos animais pode dar lugar a prejuízos e a rejeições no matadouro. 132 Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico | MÓDULO III - Transporte e pré-abate: a carga, a duração da viagem, as condições de transporte, a descarga e o tempo de espera até ao abate, acentuam o stress animal favorecendo uma baixa qualidade da carne, que em certas situações pode ser rejeitada. - Dependente do próprio animal, tal como o factor individual, a genética, a raça, o sexo e a idade. - Animais abatidos com a mesma idade: as “raças precoces” terão menos peso na data de abate, mas terão mais gordura. - Animais abatidos com o mesmo peso: as “raças precoces” serão mais velhas que as de “maturidade tardia”, mas terão mais gordura. - Existem diferenças entre a carne de um macho e de uma fêmea. As fêmeas costumam ter a gordura entremeada o que dá uma suculência especial à carne e também costumam ser mais tenras. - Abate dos animais: maneio, atordoamento, sangria, preparação da carcaça, higiene. É um ponto-chave na qualidade das carcaças, como já foi referido anteriormente. Em determinadas ocasiões, as carcaças chegam às salas de desmancha contaminadas por bactérias e conteúdo fecal devido à má manipulação. 133 CAPÍTULO III - O desenvolvimento e o crescimento dos animais até ao peso de abate diferem segundo a raça. As “raças precoces” costumam ser de tamanho pequeno e o seu desenvolvimento é maior e mais rápido. As raças denominadas de “maturidade tardia” têm um desenvolvimento mais lento e alcançam tamanhos superiores. Quando se comparam estas duas raças, obtemos as seguintes conclusões: MÓDULO III | Cuidado e Maneio do Gado Bovino Biológico CAPÍTULO III - Factores de produção: quantidade de ração, características, qualidade e matérias-primas. Este ponto é muito importante na qualidade da carcaça. São factores que intervêm directamente e dão um sabor diferente à carne. Todos estes factores intervêm directamente na qualidade da carcaça e na sua posterior rentabilidade económica. Em alguns pontos é possível intervir directamente, noutros o criador deve assegurar o correcto tratamento dos seus animais. 134 Módulo IV CAPÍTULO III IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS SANITÁRIAS 135 MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias CAPÍTULO III 1. Prevenção de doenças A grande maioria das doenças que se desenvolvem nas explorações de gado bovino biológico pode ser evitada mediante um correcto maneio e uma higiene adequada. A prevenção de doenças pode conseguir-se seguindo uma série de regras que de forma geral constituem as bases em que assenta a produção biológica. A selecção de raças autóctones é um dos factores mais importantes, uma vez que se adaptam bem ao meio envolvente. São animais fortes, rústicos e mais resistentes ás doenças. Estão habituados ás temperaturas da zona, à procura de alimentos, à altitude, ás condições climatéricas, etc. Transformam bem alimentos de baixa qualidade em carnes saborosas e apresentam altos níveis reprodutivos. A alimentação destes animais à base de recursos naturais e rações e forragens biológicos de alta qualidade garante um bom estado nutricional assim como o fortalecimento do sistema imunitário, e torna-os mais fortes em relação ao aparecimento de doenças. O trato que recebem os animais, junto com o controlo do encabeçamento, diminui, por sua vez, o aparecimento de patologias. Tendo em conta estes pressupostos, os problemas sanitários na exploração reduzem-se imenso. Ainda assim, pode dar-se o caso de que um animal fique doente, então deverá ser atendido o mais rapidamente possível para evitar o seu agravamento e que a sua vida corra perigo. 136 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV É conveniente averiguar rapidamente a causa da doença para: - Evitar problemas de contágio ao resto do rebanho (e manter, na medida do possível, o animal isolado) Corrigir as deficiências que provocaram essa situação Se o tratamento usando os produtos anteriormente descritos não for eficaz, e o veterinário da exploração o considerar oportuno, poderá ser autorizado de modo isolado o uso de antibióticos ou medicamentos alopáticos ou de síntese química. A utilização deste tipo de medicamentos obriga ao dobro do intervalo de segurança descrito no prospecto para os tratamentos em produção bovina tradicional. O intervalo de segurança é o tempo durante o qual depois de ser submetido a um tratamento químico, nenhum produto que se obtenha do animal pode ser utilizado para consumo humano. As substâncias que não apresentam intervalo de segurança, deveram ter um tempo de espera de 48 horas. Quando numa exploração biológica se utilizam medicamentos de síntese química, o veterinário deverá enviar um relatório ao órgão de controlo correspondente com a informação sobre o tipo de medicamento, o número de identificação do animal tratado, a data de administração, a dose, o motivo da sua utilização e o intervalo de segurança total. Do mesmo modo, o produtor deverá manter uma relação dos animais tratados e de todos os dados presentes no relatório do veterinário. 137 CAPÍTULO III O tratamento dos animais doentes deve basear-se em produtos fitoterapêuticos homeopáticos, de aromaterapia, oligoelementos ou substâncias que constem no capítulo 3 da secção C do Anexo II do Regulamento 2092/91. Com eles garante-se uma rápida cura do animal evitando sofrimentos desnecessários. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias CAPÍTULO III Está proibido qualquer tratamento preventivo com medicamentos de síntese química. Neste sentido, deverá ter-se especial atenção à alimentação do gado, uma vez que em algumas fórmulas de rações convencionais é habitual encontrar antibióticos para prevenir o desenvolvimento de doenças. Também não estão autorizadas substâncias artificiais como antibióticos e hormonas, utilizadas para prevenir doenças, estimular o crescimento ou induzir a sincronização do cio. Em casos particulares, e com a correspondente prescrição veterinária, poderão sim ser utilizadas para o tratamento isolado de patologias. Quando um animal apresenta sintomas de doença e é necessário administrar antibióticos, os microrganismos causadores podem ter ganho resistências e dificultar a recuperação do animal com êxito. Mas mais importantes são as consequências que este tipo de tratamento tem na saúde das pessoas e no meio ambiente. Além disso, estas substâncias são eliminadas pelas fezes e permanecem acumuladas no solo durante anos (hoje em dia, grande percentagem dos tumores e as resistências aos antibióticos que se originam nas pessoas estão relacionadas com a alimentação). Todas as medidas tomadas pelo Estado membro em relação a campanhas sanitárias do gado, declaração de doenças obrigatórias, vacinação e testes oficiais, são obrigatórias para todas as explorações biológicas. Para que os animais de uma exploração biológica possam ser vendidos com tal, não podem ter recebido mais de três tratamentos por ano excepto vacinações, desparasitações e medidas oficiais, que não se incluem. 138 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV Não estão autorizados a descorna e o corte da cauda de modo sistemático. Só poderão ser autorizados pelo órgão de controlo competente em casos isolados por problemas de maneio. CAPÍTULO III 139 MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias 2. Tratamentos alternativos na produção biológica CAPÍTULO III 2.1. Homeopatia A homeopatia utiliza substâncias naturais de origem animal, vegetal ou mineral para tratar as modificações no estado saúde. Existem mais de três mil medicamentos homeopáticos que se obtêm mediantes a agitação e a diluição sucessiva da substância de que partimos. Desta forma, a concentração que existe no medicamento final é muito reduzida. Como é possível que concentrações tão pequenas de uma substância curem a doença? Quando em biologia se diz que deve ser o organismo a reagir perante a doença para a curar, as doses pequenas estimulam e favorecem a resposta. O medicamento homeopático actua sobre o sistema imunitário estimulando mecanismos de defesa e levando a que o animal reaja por si próprio. Os antibióticos, por sua vez, destroem directamente o germe que provoca a patologia. Não potenciam a formação de defesas, que realmente são as que se encontram fragilizadas e, por isso, o germe coloniza o organismo. A homeopatia baseia-se numa lei principal bastante complexa que se denomina “lei da igualdade”. Quando a um animal são se lhe administra uma substância, produz-se no seu organismo sintomas característicos; se esta substância é administrada em concentrações 140 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV mínimas (infinitesimais), é capaz de tratar esses mesmos sintomas num animal doente. O conjunto de sintomas que produzem cada substância está estudada e compilada em manuais à já muitos anos. Por exemplo, analisemos o caso dos vitelos com diarreia. As fezes de um são amareladas, liquidas, saem em jacto e são acompanhadas de dores (dão patadas) e espasmos. Também notaremos que o vitelo está bastante débil e que melhora deitado. As fezes do outro vitelo são sanguinolentas, como com muco, têm espasmos com a sensação de que nunca mais terminam e pioram quando deitados e com frio. Não é difícil diferenciar os sintomas, só é necessário observar com atenção. Nas explorações convencionais os dois receberiam o mesmo tratamento à base de antibióticos e anti inflamatórios. Todavia, nas explorações biológicas recebem tratamentos diferentes porque a forma da diarreia é totalmente diferente. No primeiro caso, poderia ser administrado Podophyllum peltatum e no segundo Mercurius solubilis. Os medicamentos homeopáticos não provocam efeitos secundários porque, como já dissemos, actuam estimulando os mecanismos de defesa e não directamente sobre as lesões. A homeopatia não faz milagres e não consegue solucionar lesões irreversíveis ou patologias que necessitam de uma intervenção cirúrgica, mas ajudará a diminuir os efeitos dessas lesões ou a facilitar uma rápida recuperação depois da cirurgia. 141 CAPÍTULO III Em homeopatia, como na produção biológica, não existe um tratamento comum para cada doença. Os doentes não estão classificados mediante a sua patologia. Cada paciente é diferente porque manifesta os sintomas de forma diferente. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias A frequência de administração varia muito de uns medicamentos homeopáticos para outros. Regra geral, podem ser agrupados segundo o processo como são administrados. CAPÍTULO III - Quando se realize o tratamento de processos muito agudos e ocorridos recentemente como a picada de uma vespa, um traumatismo, uma queimadura, etc., serão dadas diluições baixas dos medicamentos administradas frequentemente e espaçando-as em função das melhoras. - No tratamento de processos agudos, com sintomatologia mais lenta, como diarreia ou pneumonia, utilizam-se também diluições baixas administradas 3 a 5 vezes ao dia. - Em processos crónicos que se prolongam por muito tempo e que com a medicina convencional necessitam de medicação para o resto da vida, a homeopatia tem muito bons resultados. Em problemas de artrose ou dermatites crónicas, consegue curar ou diminuir os sintomas que se manifestam até ao ponto de prescindir da medicação. São administradas altas diluições com uma periodicidade que varia desde uma vez ao dia até uma vez por semana ou ao mês, dependendo de cada caso. Estas normas servem somente para orientação. Em cada caso especifico deve ser realizado um exame completo tendo especial atenção forma que cada animal tem de manifestar o problema para encontrar o tratamento adequado. Detalhes que aparecem normalmente nas inspecções rotineiras e que a medicina convencional não releva, em homeopatia têm muita importância. Por exemplo, como bebe a água: em goles curtos ou compridos; se está muito tempo parado ou se se movimenta com frequência; se se apoia mais sobre um lado do que sobre o outro; se melhora quando está frio ou quando está calor, etc. 142 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV As formas de apresentação dos medicamentos homeopáticos são várias e podem ser em grânulos, injectáveis, pomadas, aerossóis, etc. A mais utilizada é em grânulos que se podem administrar dissolvidos na água de bebida. Em homeopatia, o factor mais importante para que um tratamento funcione é escolher bem o medicamento e a diluição à que será administrado. Cada medicamento tem uma série de pequenas características tanto de sintomas como de comportamentos típicos que devem ser ponderados. Os medicamentos homeopáticos vendem-se em farmácias e são os mesmos para pessoas e animais. Nalguns países não há medicamentos homeopáticos registados para uso veterinário. No entanto, noutros, além de estarem registados para uso veterinário, a homeopatia faz parte da formação de médicos e veterinários. Alguns exemplos de medicamentos homeopáticos mais utilizados: - Apis mellifica. Prepara-se a partir de uma abelha inteira. Devemos recordar-nos dos sintomas típicos que se produzem quando pica uma abelha. Aparece uma inflamação muito rápida da zona, de cor avermelhada, que dói e que se pode aliviar com aplicações de frio. Vendo estes sintomas pode-se utilizar, entre outros, para 143 CAPÍTULO III A dose em homeopatia, embora parece estranho, não é importante. É suficiente que o organismo receba com relativa frequência (dependendo do caso, como se explicou anteriormente) os estímulos para reagir e que estimule o seu sistema imunitário. A dose normal em gado adulto é de 10 grânulos e 5 grânulos em vitelos jovens. Os problemas de sobre dosagem também não existem porque, como se trabalha com substâncias tão diluídas, nunca se podem produzir intoxicações. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias problemas de pele tais como queimaduras pelo sol, picaduras de insectos, alergias, etc. CAPÍTULO III - Carbo vegetabilis. É o carvão de madeiras não resinosas obtido preferencialmente do salgueiro. Está indicado para insuficiências respiratórias onde a frequência e a profundidade da respiração se encontram diminuídas. Apresenta bons resultados em vitelos recém nascidos. - Arsenicum album. Tem a sua origem no anidrido arsenioso. Em condições normais é um tóxico muito potente e provoca uma grande quantidade de sintomas. Em intoxicações crónicas observou-se um pronunciado abatimento com emagrecimento, cansaço, inflamação de partes do aparelho digestivo, etc. Desta forma, o Arsenicum album em grandes diluições poderá ser utilizado, entre outras muitas coisas, em problemas de diarreias agudas com fezes malcheirosas, irritantes acompanhadas de emagrecimento, cansaço e estados de debilidade prolongados. - Arnica montana. É uma planta abundante em pastos de montanha. Aplicada localmente, provoca dores nos músculos que aparecem depois de esforços ou em resultado de contusões. Está indicada para todo o tipo de traumatismos, tanto em aplicação local como generalizada. 2.2. Fitoterapia Consiste na utilização de plantas ou derivados naturais para corrigir alterações no animal. Os princípios activos são substâncias que a planta sintetizou e armazenou durante o seu crescimento. 144 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV Numa só planta podem existir vários compostos activos do ponto de vista curativo. Entre eles, normalmente há um que determinará a aplicação de cada espécie ao processo patológico, dependendo da sua quantidade ou da potência da sua actividade. O resto dos compostos da planta podem ajudar directamente nessa acção. Alguns exemplos das plantas mais utilizadas são: - Avena sativa. Possui vitaminas dos grupos B, K e E e minerais como o fósforo, cobalto e magnésio. Está indicada para problemas do sistema nervoso acompanhados de falta de apetite. - Calendula officinalis. Tem óleos essenciais para além de outras substâncias que favorecem a cicatrização de feridas, utiliza-se também para lavagem de infecções cutâneas ou para acalmar dores nas articulações. - Eucaliptus. O princípio activo é o óleo essencial que se encontra nas folhas. É bastante útil em problemas respiratórios que porque desinfecta as vias e inibe a formação de ranho. - Passiflora incarnata. O nome comum desta planta é maracujá. Contém uma substância sedativa indicada em alterações nervosas que se apresentam com insónias ou em estados de excitação. - Echinacea angustifolia. Contem óleo essencial que se considera um potente anti bacteriano no combate contra as infecções. Incrementa o sistema imunitário e também se utiliza em septicémias ocorridas após o parto. 145 CAPÍTULO III Os compostos activos não se distribuem de maneira uniforme na planta, concentrando-se habitualmente em flores e folhas, embora também possam estar nas raízes. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias CAPÍTULO III - Carduus marianus. Comummente chamado cardo mariano, tem compostos protectores do fígado e costuma estar indicado na recuperação de problemas hepáticos. A homeopatia utiliza grande parte dos produtos fitoterapêuticos, mas não podem ser classificados como medicamentos homeopáticos porque não seguem uma das principais leis em que se baseia a homeopatia (a “lei da igualdade”). 2.3. Aromaterapia Cada planta tem determinadas propriedades: diminuir a inflamação, acalmar a dor, desinfectar, tranquilizar, etc. A aromaterapia baseiase na utilização de óleos essenciais provenientes de plantas. Os princípios que formam estes óleos são absorvidos e passam para o sangue activando uma série de reacções químicas para tentar restabelecer o equilíbrio no organismo. Do mesmo modo que nas terapias anteriores, o tratamento é personalizado em função das características e as reacções de cada animal. Alguns dos óleos mais utilizados são: - Pinheiro: Obtém-se da resina. Alivia as dores musculares. - Lavanda: Extrai-se das flores. Usa-se para a desinfecção de feridas e para reduzir a inflamação. - Eucalipto: O óleo obtém-se das folhas. Muito útil como repelente de insectos. 146 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV 2.4. Oligoelementos e substancias autorizadas Estão autorizadas as seguintes matérias-primas: SUBSTÂNCIA DERIVADOS O SEU DEFICIT PROVOCA Sódio Sal marinho sem refinar, sal de mina*, sulfato de sódio, carbonato de sódio, etc. Comportamento anormal em que o animal come e lambe tudo: chão, urina e suor de outros animais. Potássio Cloreto de potássio Diminuição do apetite, debilidade muscular, andar rígido. Cálcio Carbonato de cálcio, conchas de animais aquáticos, lactato de cálcio, etc. Ossos débeis, crescimento reduzido, coxeiras, possibilidade de fracturas, dor articular. Fósforo Fosfato bicálcico e monocálcico desfluorado, monosódico, fosfato cálcico e magnésico, etc. Atraso no crescimento, comportamento anormal, diminuição da fertilidade. Magnésio Sulfato de magnésio, óxido de magnésio, fosfato de magnésio, etc. Atraso no crescimento, rigidez muscular, ataques com perda de consciência. Enxofre Sulfato de sódio Diminuição do crescimento e da síntese de proteína. * O sal de mina é muito fácil de encontrar, e pode ser aproveitado em bolas de sal para a alimentação dos animais 147 CAPÍTULO III Neste âmbito estão autorizadas algumas matérias-primas de origem mineral que se listam no ponto 3 da secção C do anexo II do Regulamento 2092/91, assim como determinados oligoelementos utilizados em ocasiões como aditivos na alimentação animal, e que se encontram recolhidos na secção D do mesmo anexo (Anexo II do Regulamento 2092/91). MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias Entre os oligoelementos autorizados como aditivos na alimentação animal destacam-se: CAPÍTULO III (E1) Ferro: carbonato ferroso, sulfato ferroso, óxido férrico. A sua carência provoca susceptibilidade a infecções e anemia. (E2) Iodo: iodato de cálcio anidro, iodato de cálcio hexa-hidratado, iodeto de sódio. O seu deficit favorece o aparecimento de bócio, infertilidade, alterações na pele e envelhecimento. (E3) Cobalto: sulfato de cobalto, carbonato básico de cobalto. O seu deficit provoca anorexia, anemia, infertilidade e susceptibilidade ao aparecimento de doenças. (E4) Cobre: óxido cúprico, carbonato de cobre, sulfato de cobre. Os sintomas de deficiência são despigmentação de certas zonas do pelo, alterações cardiovasculares e ósseas, diarreia, etc. (E5) Manganês: carbonato manganoso, óxido manganoso. Quando há deficit deste oligoelemento produzem-se dores nas articulações, alterações reprodutivas, dificuldade para se manter de pé. (E6) Zinco: carbonato de zinco, óxido de zinco. O seu deficit provoca anorexia, gretas na pele e transtornos na reprodução. (E7) Molibdénio: molibdato de amónio, molibdato de sódio. O seu deficit provoca perda de apetite, embora as quantidades necessárias sejam extremamente baixas. (E8) Selénio: selenato de sódio. 148 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV A sua carência produz reprodutivas e diarreias. degenerações musculares, alterações Todas estas substâncias são utilizadas, na maioria dos casos, como correctores minerais em rações para evitar deficiências que originem problemas de fragilidade de ossos, coxeiras, musculares, sintomas nervosos, etc. Em épocas de escassez de alimentos, ou quando devido ás condições climatéricas os animais não comem bastante feno ou pasto nas parcelas, podem ocorrer deficiências destes minerais e começarem a aparecer complicações. 149 CAPÍTULO III Em condições normais, quando os animais comem pasto ou feno de erva à descrição, estes oligoelementos são assimilados directamente através da alimentação e não é necessário administra-los na ração. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias CAPÍTULO III 3. Operações de desparasitação e vacinação do gado Na produção biológica está proibido qualquer tipo de tratamento utilizado de modo preventivo. As vacinações e as desparasitações serão autorizadas pelo órgão de controlo somente em casos concretos e depois da análise do problema em cada exploração. O número de tratamentos realizados anualmente estará limitado e tenderá a diminuir progressivamente. Desta forma deverá ser encontrado o melhor momento para realizar o tratamento e obter a melhor eficácia. Por outro lado, deve ser prestada especial atenção à transmissão de doenças dos animais ao homem (zoonose) estabelecendo sistemas de controlo baseados no isolamento dos animais suspeitos de se encontrarem doentes, amostras complementares de análise, cuidados de higiene como a utilização de luvas, mascaras, etc. São de cumprimento obrigatório todas as medidas oficiais para a erradicação de doenças que cada país tenha estabelecido. Vacinação O órgão de controlo estudará cada situação e todos os aspectos que possam influenciar o desenvolvimento de uma determinada doença numa zona. Deve saber-se quando há realmente um problema nos animais e averiguar qual a causa desse problema. 150 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV Deve-se utilizar vacinas que tenham a máxima eficiência e sejam as mais inofensivas possíveis. Não está autorizado o uso de vacinas criadas recorrendo à manipulação genética. A vacinação de vitelos muito jovens não é aconselhável porque costumam possuir boas defesas graças ao colostro recebido da mãe. Desparasitação O parasitismo é um tipo de relação que se estabelece entre dois seres vivos, um deles, geralmente o mais pequeno, chama-se parasita e o de maior tamanho denomina-se hospedeiro (neste caso, o gado bovino). O parasita alimenta-se do hospedeiro sem que este obtenha nada em troca. Quando a abundância de parasitas é elevada, começam a produzir-se danos no organismo do animal que conduzem a uma diminuição da produtividade e ao aparecimento de lesões que podem comprometer a sua vida. Os sintomas que se observam num animal parasitado são muito 151 CAPÍTULO III Por exemplo, em determinadas zonas é frequente a autorização para a vacinação do carbúnculo sintomático. Esta doença desenvolve-se geralmente muito rapidamente e termina com a morte fulminante dos animais sem deixar lesões. Nos casos de desenvolvimento da doença mais lento (agudo), observam-se animais com coxeiras por dores musculares, em apalpação encontram-se borbulhas no espaço entre a pele e o músculo e aumenta a temperatura corporal. Se nestas zonas não fosse possível a vacinação, não se poderia realizar produção bovina biológica porque as baixas provocadas por esta doença seriam muito elevadas. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias CAPÍTULO III variáveis e depende do tipo de parasita, mas geralmente costumam provocar diarreias e alterações na pelagem. A pelagem de um animal que goza de boa saúde tem uma coloração intensa e um pelo brilhante. Quando tem algum tipo de deficiência ou alteração, não há brilho no pelo, está como que despenteado e não se lambe. Cada tipo de parasita tem diferentes características no que diz respeito à sua localização, tipo de hospedeiro, percurso que realiza dentro do organismo, lesão que provoca, duração do tempo de alojamento no hospedeiro, etc. Assim sendo, quando há algum problema na exploração é necessário saber a que se deve e o que é que o está a provocar. Um dos métodos mais simples e frequentemente utilizados para diagnosticar uma parasitose é a análise sistematizada das fezes. É conveniente recolher amostras de fezes em várias épocas do ano para verificar a quantidade de parasitas que se vão eliminando. A análise de fezes uns dias antes e uns dias depois de desparasitar é muito interessante para se comprovar que o antiparasitário utilizado é o mais adequado. As fezes deve recolher-se assim que tenham sido expulsas, ou até mesmo directamente do intestino do animal, num recipiente limpo. Outros métodos para o diagnóstico de parasitas podem ser as análises de sangue ou de pele. Estes últimos realizam-se em parasitoses de pele que se desenvolvem frequentemente com descamações, comichões, avermelhamento da zona, queda de pelo, etc. Em caso de morte do animal, deve ser efectuada uma inspecção completa (necropsia) de todos os tecidos, órgãos e músculos para visualizar o tipo de lesões que provoca o parasita em questão e definir tratamentos eficazes contra ele. 152 Implementação de Medidas Sanitárias | MÓDULO IV Deve ser dada especial atenção ás diarreias provocadas por parasitas dos vitelos porque se podem complicar com outro tipo de infecções que levam à morte do animal em poucos dias. Uma vez diagnosticado o parasita e conhecida a forma de vida e alimentação deverá ser administrado o tratamento antiparasitário mais adequado. Os antiparasitários devem ser o mais inofensivo possível para o animal, com elevada margem de dosagem de forma a evitar problemas de intoxicações, facilmente administráveis, que deixem a menor concentração de resíduos possíveis e que só tenham acção sobre o parasita. É difícil que qualquer dos anti-parasitários que existem actualmente no mercado cumpram todas estas características. Alguns produtos deixam resíduos nas fezes, como os derivados das ivermectinas (principio farmacológico) que intoxicam os escaravelhos encarregues de as decompor para serem assimiladas pelo solo A administração de produtos químicos por via oral é muito complicada porque as vacas não abrem a boca e escondem a cabeça, mas costumam ser substâncias que deixam poucos resíduos. No que diz respeito à administração de tratamentos alternativos, como a fitoterapia obtiveram-se muito bons resultados e eliminamse os inconvenientes anteriormente descrito. Utilizam-se como antiparasitários, entre outros, o absinto, o alho e o tomilho na água de 153 CAPÍTULO III Podem ser autorizados antiparasitas de síntese química com a limitação de reduzir ao máximo o número de tratamentos por ano e por animal. MÓDULO IV | Implementação de Medidas Sanitárias bebida. O poejo é utilizado como antiparasitário externo quando há pulgas e mosquitos. CAPÍTULO III Os métodos de controlo das parasitoses devem basear-se em medidas preventivas. Tenta-se chegar a uma situação de harmonia entre o parasita e o animal sem que sejam diminuídos os índices produtivos. A eliminação total dos parasitas é impossível porque o seu habitat, da mesma forma que o do animal, é o meio ambiente. (Imagem 4. Vacas pastando num prado onde há parasitas. De momento convivem em equilíbrio.) Entres as medidas a adoptar para evitar tratamentos antiparasitários, destacam-se: - O aproveitamento dos pastos em épocas de menor concentração de parasitas, segundo as análises realizadas em cada exploração. - Evitar as zonas encharcadas que favorecem o desenvolvimento e a manutenção de muitos ciclos de parasitas. - Tentar não pastar nas parcelas todos os anos, deixar algumas sem aproveitar um ano, já que diminui consideravelmente a contaminação do pasto. - As novilhas e os animais mais jovens devem pastar nas parcelas mais seguras fa exploração. O gado adulto desenvolve alguma resistência e atinge melhor o equilíbrio com o parasita sem que seja afectado. - No caso de explorações que também gado ovino, é muito interessante o pastoreio rotacional. Desenvolve-se uma boa imunidade se nas parcelas que um ano são aproveitadas para bovinos, no ano seguinte se instalar o gado ovino. 154 Módulo V CAPÍTULO III MANUTENÇÃO DAS INSTALAÇÕES 155 MÓDULO V | Manutenção das Instalações CAPÍTULO III 1. Normas sobre a dimensão e densidade nas instalações As instalações para alojamento do gado bovino biológico para carne não são obrigatórias se as condições climáticas permitem o adequado desenvolvimento do animal. Na maioria dos casos, o lote de vacas reprodutoras, se as condições meteorológicas o permitirem, podem permanecer ao ar livre durante todo o ano. Relativamente aos lotes de engorda, existem muitas diferenças dependendo do sistema de produção das explorações. 1.1. Explorações com engorda de vitelos ao ar livre Tal como já se explicou anteriormente, algumas explorações não tem instalações específicas para a engorda de vitelos. Os animais permanecem no campo desde que nascem até que vão para abate. São criados com as mães até ao momento do desmame (por volta dos seis ou sete meses), depois são separados delas e passam o tempo restante a pastar nas diferentes parcelas da exploração. 156 Manutenção das Instalações | MÓDULO V CAPÍTULO III (Imagem 1: Os vitelos permanecem com as mães até aos seis meses aproximadamente) É conveniente manter um sistema de rotação de pastos para evitar problemas de erosão da pastagem ou sobrepastoreio. Nestas explorações, onde a engorda de vitelos se realiza de forma extensiva, é necessário dispor de resguardos naturais como árvores, arbustos ou matagais, sobretudo em épocas de intenso calor ou frio. Se se tratar de parcelas que careçam deste tipo de refúgios, devem construir-se pequenos cobertos que não produzam impactos negativos no meio. Quando os animais já não se alimentam das pastagens, alterna-se a distribuição de toldas e manjedouras por toda a parcela. 157 MÓDULO V | Manutenção das Instalações CAPÍTULO III 1.2. Explorações com engorda de vitelos dentro das instalações Noutras explorações existem instalações para alojar os animais de engorda, que devem satisfazer as necessidades mínimas do gado sem afectar o seu comportamento natural. Todos os animais devem ter espaço suficiente que lhes permita realizar as suas necessidades normais com liberdade de movimentos como deitar-se, lamber-se, esticar-se, girar-se, etc. Permitir-lhes também acesso fácil a alimentação e à água. Devem ter-se em conta outros factores dependentes do grupo como o número de indivíduos e a divisão por sexos, garantindo sempre o bem-estar animal. Além disso, devem favorecer-se as condições de maneio para a administração de uma alimentação adequada a cada grupo e para satisfazer melhor as suas necessidades. As instalações devem contemplar uma zona coberta, total ou parcialmente, e outra de exercício ou espaço ao ar livre. Estas zonas poderão ser utilizadas quando as características fisiológicas, atmosféricas e do solo o permitam. O gado deverá ter livre acesso aos pastos a maior parte de tempo possível. Nas épocas em que os animais podem pastar no campo e a superfície da zona coberta seja compatível com uma adequada liberdade de movimentos, poderá suspender-se o acesso à zona de exercícios, sobretudo nos meses de Inverno. 158 Manutenção das Instalações | MÓDULO V A fase final da engorda dos vitelos poderá realizar-se no interior das instalações sem necessidade de dispor de zonas de exercício, quando esta fase não supere a quinta parte da vida do animal e sempre menos de três meses. Zona coberta Vacas e gado de engorda Touros Zona ao ar livre Peso vivo (kg) m2 por animal m2 por animal Até 100 1,5 1,1 Até 200 2,5 1,9 Até 350 4,0 3 Mais de 350 5 (mínimo 1 m2 cada 100 kg) 3,7 (mínimo 0,75 m2 cada 100 kg) 10 30 Além deste tipo de instalações para alojamento do gado, numa exploração de bovinos de produção biológica devem destacar-se outros meios que facilitem o maneio e a realização das tarefas típicas da exploração. É conveniente ter uma nave para armazenamento de rações, feno e forragens necessários em épocas de escassez, assim como para guardar maquinaria de uso agrícolas. As explorações mais modernas 159 CAPÍTULO III As superfícies mínimas cobertas para a estabulação e para as zonas de exercício estão legisladas no anexo VIII do regulamento 2092/91. Existem diferenças em função do peso mínimo em vivo do animal. MÓDULO V | Manutenção das Instalações CAPÍTULO III terão silos para armazenamento das rações ou cereais e a sua distribuição pelos animais realizar-se-á de forma automatizada. Para tratar o gado mais facilmente e realizar as operações habituais, como os tratamentos sanitários, as desparasitações ou a vacinação, é útil ter mangas e currais que agilizem o trabalho. Eventualmente poderão ser portáteis, o que melhorará o seu manejo, para não ter de deslocar todos os animais até lugares fixos. É conveniente que existam diferentes currais para separar os animais em lotes pequenos e tentar assim que não lutem, porque em espaços tão limitados os animais mais fortes podem ferir os restantes. As mangas devem construir-se abrigadas dos ventos dominantes e dos rigores meteorológicos. Quando programar o isolamento ou o cuidado a animais doentes, é vantajosa a possibilidade de ter uma zona individualizada dentro da nave onde possa realizar estes trabalhos, evitando assim possíveis transmissões de doenças. Desta forma os animais estão protegidos dos rigores do tempo, reduzindo ao máximo o seu sofrimento e facilita-se o seu repouso diminuindo, na medida do possível, o período de convalescença. 160 Manutenção das Instalações | MÓDULO V 2. Condições de segurança e habilidade das instalações As instalações devem ser construídas com materiais fáceis de limpar para evitar contaminações, a diminuição do bem-estar animal e o aparecimento de doenças. Quando ocorra algum problema, a desinfecção das instalações deve puder realizar-se com facilidade. É conveniente que as construções da exploração estejam divididas em vários edifícios para facilitar o controlo da ventilação, da humidade e da temperatura. Em pavilhões de grandes dimensões é complicado manter estes parâmetros dentro dos limites aceitáveis, sendo os problemas mais frequentes os relacionados com a ventilação. Estes edifícios devem estar orientados de maneira a facilitar a entrada de luz e a ventilação natural. Dependendo das características climatológicas da zona, deve-se adequar a orientação para aproveitar o sol no Inverno e evitar o excesso de calor no Verão. Para isso, o eixo longitudinal do edifício deve ter a orientação este-oeste, com uma fachada para norte e outra para sul. Também é importante, principalmente em zonas com ventos fortes, que o eixo maior do edifício tenha a direcção dos ventos dominantes. As barreiras de separação entre lotes de animais dentro das naves devem ser o mais seguras possível e com terminações rombas para evitar ferimentos nos animais. 161 CAPÍTULO III Para que as condições de segurança e habitabilidade das instalações sejam óptimas devem obedecer a determinadas regras. São factores importantes a ter em conta porque podem favorecer o aparecimento de muitas patologias. MÓDULO V | Manutenção das Instalações CAPÍTULO III O solo dos alojamentos deve ser liso e de material não escorregadio, porque senão pode gerar problemas nos ossos e nos músculos dos animais. Estes, no seu comportamento natural, gostam de brincar, montar e realizar movimentos que juntamente com uma má pavimentação do chão podem produzir várias complicações. Os animais normalmente conseguem reconhecer as zonas escorregadias e evitam circular nelas. Por exemplo, se para irem beber têm de passar por uma zona resvaladiça, cada vez beberão menos o que pode dar lugar a transtornos associados a uma diminuição do consumo de água: os animais comerão menos e o seu crescimento e bem-estar será reduzido. Num sistema de produção biológica de gado, a superfície máxima de solo com grades ou travessas pode ser, no máximo, metade sendo o restante de solo firme. Os solos com excessiva acumulação de estrume produzem um amolecimento das unhas dos animais e originam infecções no casco. Alguns dos problemas que podem derivar de um solo inadequado são: - Fracturas de ossos. - Problemas nas articulações. - Coxeiras. - Infecções dos cascos (designadas pododermatites). - Dores musculares. A zona de descanso deverá ser constituída por camas secas, limpas, cómodas e com espaço suficiente de maneira a facilitar o repouso dos animais. As camas devem ser de palha ou de qualquer outro material natural e devem mudar-se ou limpar-se sempre que necessário. 162 Manutenção das Instalações | MÓDULO V Os comedouros e bebedouros devem situar-se em zonas de fácil acesso para favorecer assim o consumo dos alimentos e aumentar o rendimento em carnes dos animais. É preciso ter em conta que quanto mais intensivo for o processo de produção, maiores serão os cuidados que se tem de dispensar ao gado de maneira a preservar o seu bem-estar. CAPÍTULO III 163 MÓDULO V | Manutenção das Instalações CAPÍTULO III 3. Condições sanitárias e de higiene nas instalações Uma boa higiene das instalações favorecerá a sua manutenção, o seu bom funcionamento e terá consequências positivas na saúde dos animais. No entanto, além das condições de higiene, deve-se prestar especial atenção a uma série de factores próprios das instalações que influenciam directamente o estado sanitário do gado, tais como a ventilação, a temperatura, a humidade relativa, as elevadas concentrações de gases, o pó e o estrume. 3.1. Factores que influenciam o estado sanitário do gado Ventilação É conveniente assegurar um modo de ventilação natural sem que haja necessidade de recorrer a sistemas mecânicos porque, para além destes implicarem um gasto económico elevado, em ocasiões que não se controlem bem podem gerar problemas tanto por excesso como por defeito de ventilação. Aconselha-se a ter cuidado com as correntes de ar já que favorecem o aparecimento de doenças. Temperatura A temperatura óptima dependerá do desenho da exploração, da concentração de animais e de outros factores como a ventilação e 164 Manutenção das Instalações | MÓDULO V a humidade. Não devem existir mudanças bruscas porque o animal demora algum tempo a adaptar-se às novas temperaturas. Humidade Uma humidade baixa produz secura nas vias respiratórias altas e facilita o aparecimento de doenças respiratórias. a eliminação de calor por parte do animal e provoca stress por calor. Pelo contrário, quando humidade elevada é acompanhada de temperaturas baixas, o corpo dos animais fica húmido assim como a cama e há um aumento da sensação de frio. Por isso, é preciso ter cuidado quando os animais estão no campo em dias de chuva e vento e baixas temperatura pois diminui a sua capacidade de regular a sua temperatura corporal. Elevadas concentrações de gases Um dos gases que é produzido em maior quantidade é o amoníaco proveniente da degradação da urina e da decomposição de parte da matéria orgânica. As emissões de amoníaco são influenciadas directamente pela maioria dos factores descritos anteriormente. Quanto mais baixa for a temperatura, mais lentas serão as reacções de decomposição da matéria e menor a libertação de amoníaco. Por isto, o período com maior libertação de amoníaco é ao meio-dia no Verão, quando é necessário redobrar os cuidados. 165 CAPÍTULO III Uma humidade elevada acompanhada de temperaturas altas dificulta MÓDULO V | Manutenção das Instalações A ventilação aumenta a libertação de amoníaco e facilita a eliminação CAPÍTULO III de outras emissões gasosas. O aumento da concentração de amoníaco irrita a mucosa respiratória, que se traduz numa alteração dos mecanismos naturais de defesa do animal. Favorece o aparecimento de problemas respiratórios, a falta de bem-estar animal e, consequentemente, um atraso no seu crescimento. Por vezes observam-se lotes de animais a tossir e, erradamente, atribui-se a agentes víricos, quando na verdade é um problema de maneio que se soluciona com a limpeza do estrume, a diminuição do número de animais por lote e o fornecimento de uma quantidade abundante de palha para que absorva o amoníaco da urina. Pó O pó que pode existir nas instalações é originado na zona de armazenamento do feno, das rações, etc., ou da zona de exercício nas épocas mais secas. É necessário tentar diminuir as concentrações elevadas de pó através da ventilação da zona, regas, etc. Estrume É muito importante que a inclinação do solo e do sistema de esgotos facilitem as operações de limpeza das instalações e favoreçam uma boa drenagem de urina, fezes e das águas de limpeza. Uma quantidade excessiva de estrume no lote de engorda influencia negativamente o bem-estar animal e reflecte-se numa diminuição dos ganhos de peso dos animais. 166 Manutenção das Instalações | MÓDULO V CAPÍTULO III (Imagem 2: Uma quantidade excessiva de estrume influencia negativamente o bem-estar animal.) Deve-se garantir que todos estes factores se mantêm dentro dos limites não prejudiciais para os animais. Quando não se controla algum destes factores ou existam relações negativas entre eles, há uma maior predisposição para o aparecimento de patologias do gado. Os sintomas mais frequentes que tem origem nestas causas são: - Insuficiências respiratórias. - Diarreias. - Moncos. - Irritação das mucosas. - Lacrimejo dos olhos. - Tosse. Também é preciso ter em conta que quanto mais especializados forem os animais da exploração para a produção de carne, maiores terão de ser os cuidados dispensados para a sua manutenção e o seu crescimento. 167 MÓDULO V | Manutenção das Instalações Todas as acções de maneio a favor do bem-estar dos animais terão repercussões numa eficiente conversão do alimento em carne. CAPÍTULO III 3.2. Limpeza das instalações Deve realizar-se uma limpeza adequada das instalações com a finalidade de evitar problemas de contágio de doenças entre os animais e o desenvolvimento de agentes patogénicos. Na limpeza das instalações deve-se incluir a desinfecção dos alojamentos, utensílios, separações entre os lotes, etc. Os restos de comida, estrume, urina e as camas devem retirar-se com certa frequência, para diminuir os cheiros e evitar as altas concentrações de amoníaco. Com esta medida evitam-se também os insectos, os roedores, os pássaros, etc., que contribuem para a contaminação da zona e para a propagação de doenças. Para a eliminação destes agentes (roedores, pássaros, insectos) só se podem utilizar microrganismos (bactérias, vírus e fungos) não modificados geneticamente e autorizados pelo controlo biológico de pragas estabelecido na secção 2 da parte B do anexo II do Regulamento 2092/91. Quando um lote de animais vai para abate é muito importante fazer uma limpeza a fundo das instalações que estes ocupavam, para evitar problemas de contaminações e favorecer a entrada do lote seguinte em condições de higiene adequadas. A limpeza das instalações deve realizar-se com certa frequência, cabendo ao tratador avaliar de quanto em quanto tempo é necessária. Para isso, deve ter em consideração o número de animais por lote, a duração da cama em bom estado, os restos de comida, etc. 168 Manutenção das Instalações | MÓDULO V Os animais devem estar em boas condições de higiene uma vez que o estado sanitário destes influencia directamente o rendimento. Para a limpeza e desinfecção das instalações, utensílios e equipamentos utilizados na criação dos animais, estão autorizados uma série de produtos que constam na parte E do anexo II do Regulamento 2092/91. Destacamos: - Sabão de potassa e soda. - Água e vapor. - Leite de cal. - Cal. - Cal viva. - Lixívia líquida (hipoclorito de sódio). - Soda cáustica. - Peróxido de hidrogénio. - Essências naturais de plantas. - Ácido cítrico, peracético, láctico. - Álcool. - Carbonato de sódio. 169 CAPÍTULO III É preciso prestar especial atenção à desinfecção de zonas onde tenham estado animais doentes. A limpeza dessas zonas deve fazerse de forma consciente, retirando primeiro os restos de comida e de estrume, aplicando de seguida os desinfectantes. Estes produtos perdem eficácia na presença de matéria orgânica, pelo que só se devem aplicar depois de se ter realizado uma limpeza a fundo de todos os resíduos orgânicos. 170 CAPÍTULO III Módulo VI CAPÍTULO III GESTÃO DE RESÍDUOS 171 MÓDULO VI | Gestão de Resíduos CAPÍTULO III 1. Armazenagem e eliminação de resíduos Nas explorações onde se realiza um sistema de produção biológica, é obrigatório demonstrar, a exemplo do que acontece com os animais, um grande respeito pelo meio ambiente. Não se pode desenvolver correctamente uma produção de gado biológico se sistematicamente se quebra o equilíbrio com a natureza, por se requererem condições óptimas no campo e nos pastos onde se criam os animais. Numa exploração de gado bovino biológico geram-se resíduos orgânicos e inorgânicos que se devem tentar aproveitar e reutilizar. São considerados resíduos inorgânicos as embalagens de plástico, o papel e o cartão, os restos de medicamentos, seringas, etc. Alguns podem ser reciclados (papel, embalagens, cartão) e outros são levados para contentores especiais para serem tratados de forma independente, tais como os restos de medicamentos ou as seringas. Os resíduos inorgânicos nunca devem ser abandonados no campo nem se deve despejar o seu conteúdo nos rios porque, na maioria dos casos, são nocivos e destroem a flora e a fauna das redondezas quebrando o equilíbrio com o meio envolvente. Os resíduos orgânicos são substâncias que se obtêm secundariamente na produção de gado bovino e que, bem trabalhados, representam um factor importante para a rentabilidade da exploração. A principal utilidade da maioria destes resíduos é a fertilização. O tipo e a quantidade de resíduos variam em função do sistema de produção estabelecido. Em explorações com instalações para 172 Gestão de Resíduos | MÓDULO VI Entre os resíduos orgânicos das explorações bovinas podem-se destacar os seguintes: - Dejectos sólidos. - Urina. - Restos de camas, palha, serrim, etc. - Restos de comida, ração, feno, forragem, etc. - Agua dos açudes. - Gases. - Água de limpeza. De todos eles, a maior percentagem corresponde aos excrementos sólidos e líquidos dos animais, seguindo-se os restos das camas e água. 1.1. Estrume Chama-se composto á mistura curtida de excrementos sólidos, líquidos, cama, restos de comida e água. O chorume é o estrume líquido que se forma depois da utilização de água para a limpeza das instalações. 173 CAPÍTULO III o lote de engorda, as quantidades de resíduos serão maiores que nas explorações onde este lote permanece ao ar livre e pastando nos prados. Neste último caso, os resíduos orgânicos passarão directamente para o terreno. Haverá zonas dentro das parcelas onde a concentração de excrementos é maior e outras zonas onde haverá mais restos de comida. Por isso, é conveniente realizar a mobilização dessas parcelas para facilitar o espalhamento de todos os resíduos e tentar fazer uma fertilização uniforme do terreno. MÓDULO VI | Gestão de Resíduos CAPÍTULO III Há muitas diferenças no que diz respeito à composição dos excrementos dependendo da exploração, e variará em função da genética, da alimentação, do estado fisiológico, da idade, da época do ano, etc. A alimentação dos animais influencia decisivamente a produção de resíduos já que existem determinadas matérias primas que fazem com que as dejecções sejam mais liquidas e criem problemas de humidade nas camas. É conveniente realizar análises para determinar as características dos dejectos e conhecer assim o seu valor para a utilização como adubo. Em relação à composição dos excrementos, a percentagem mais elevada corresponde à água, depois à matéria seca, azoto, fósforo, potássio, cálcio e magnésio. De outra forma, a utilização destes material como adubo dentro da própria exploração favorecerá a fertilização das parcelas e aumentará a produção de pasto para o consumo animal, seja por consumo directo por parte dos animais seja mediante a realização de feno ou forragens. A concentração de estrume que se deve aplicar nas parcelas está limitada e legislada com a finalidade de evitar problemas de acumulação excessiva de concentrações de azoto. A quantidade total de estrume por exploração não poderá exceder os 170 kg de azoto por hectare de superfície agrícola e ano. Para conhecer o encabeçamento correcto e não exceder o limite de azoto estipulado, forma estabelecidos uns limites pelas autoridades competentes dos Estados membros, sempre orientadas pelas quantidades que constam do anexo VII do Regulamento 2029/91, onde é apresentado o número máximo de animais por hectare equivalente a 170 kg de azoto por hectare e ano. O número máximo de animais por hectare em relação a situações de sobre pastoreio e contaminação excessiva do terreno também está regulamentado pelo Regulamento 2029/91 (indicado no módulo I). 174 Gestão de Resíduos | MÓDULO VI No caso de se ultrapassarem estes limites, o encabeçamento terá que ser diminuída e ajustada. As explorações biológicas poderão recorrer a contratos com outras explorações biológicas para beneficiar do estrume excedentário e espalha-lo nas suas parcelas como adubo. 1.2. Tratamento do estrume Existem diferenças em relação ao tratamento do estrume de acordo com o sistema de produção. Quando a engorda de vitelos se realiza no campo, não se acumula estrume, unicamente se deve espalhar pela parcela com a ajuda de um tractor, tendo o cuidado de não se ultrapassar o limite máximo de concentração de azoto. Se a engorda dos vitelos é feita dentro das instalações, será necessário retirar o estrume com frequência para que as condições higiénicosanitárias dos animais não sejam reduzidas. O piso das instalações deve ser impermeável. É conveniente que sejam colocadas camas abundantes, que devem ser mudadas frequentemente, para que as condições de habitabilidade e higiene das instalações sejam as adequadas para um bom desenvolvimento dos animais. 175 CAPÍTULO III Os Estados membros poderão reduzir estes limites tendo em conta as características da zona e a existência de um outro fornecimento de azoto ao terreno. MÓDULO VI | Gestão de Resíduos CAPÍTULO III Uma vez retirado o estrume das instalações, este é levado para a nitreira. Esta deve ter as condições necessárias para evitar a contaminação das águas subterrâneas ou a filtração através do solo (solo impermeabilizado). Na nitreira ocorre um processo semelhante à compostagem. Dependendo das condições climatéricas de cada zona, determinar-se-á se é necessário protegê-lo, regá-lo, arejá-lo e quanto tempo demorará a amadurecer. (Imagem 3: Monte de estrume já maduro.) No campo, as situações a ter em conta relativamente ao estrume são muitas e variam segundo o tipo de solo. Regra geral, é conveniente espalhá-lo cedo (Outono ou Inverno) e da forma mais homogénea possível para que quando se faça a sementeira, a sua decomposição seja já avançada. A quantidade a colocar no terreno dependerá do tipo de estrume, as características típicas do solo, o tipo de cultura, etc. Por exemplo, em terrenos argilosos utilizam-se grandes quantidades de estrume muito maduro. No entanto, em solos arenosos usam-se menores quantidades de estrume e não é necessário que esteja tão maduro. 176 Gestão de Resíduos | MÓDULO VI 2. Tratamento de resíduos 2.1. Resíduos inorgânicos Os resíduos inorgânicos devem distribuir-se em diferenciados para dar a cada um o destino adequado. recipientes - O papel e o cartão podem ser utilizados no processo de compostagem (que se explicará a seguir) sempre que não tenha sido tratado quimicamente, isto é, que não tenha sido impresso. Caso contrário não são válidos para elaborar composto biológico, mas poderão sim ser enviados para a reciclagem. - Os restos de medicamentos e seringas são considerados materiais biológicos que devem entregar-se nos locais de tratamento deste tipo de resíduos. - Os óleos de tractores, carros e maquinaria também se tratam em locais específicos. Deve-se ter especial cuidado em não verter estas substâncias nos rios nem nos campos porque permanecem no ambiente durante muitos anos. 177 CAPÍTULO III Como já se explicou anteriormente, a maioria dos resíduos que se produzem na exploração podem ter um tratamento adequado que evite a contaminação do meio ambiente. Para conseguir um bom tratamento dos resíduos, deve ser feita uma correcta separação de cada tipo. MÓDULO VI | Gestão de Resíduos CAPÍTULO III - Os plásticos também podem ser reciclados e reutilizados, não devem permanecer no campo. - Outro tipo de resíduos como arames e cordas, materiais que se produzem em qualquer exploração e que são perfeitamente reutilizáveis. Quando ficam abandonados no campo por descuido ou amontoados representam um perigo para o gado, já que podem produzir doenças associadas a obstruções digestivas, no caso das cordas, ou perfurações digestivas, no caso dos arames. Com a reciclagem e a reutilização contribui-se para que muitos materiais que antigamente só tinham uma utilização e iam directamente para o lixo voltem a ser utilizados sem contaminar o meio ambiente. (Imagem 4: Reciclagem de resíduos.) 2.2. Compostagem Um dos métodos mais importantes da produção biológica em ralação ao tratamento de resíduos é a compostagem. Como já se explicou no capítulo sobre fertilização em agricultura biológica, trata-se de uma 178 Gestão de Resíduos | MÓDULO VI O composto é um produto usado como fertilizante e para o produzir são utilizados a grande maioria dos resíduos da exploração. Para realizar um bom composto é necessário ter um local onde começar a acumular a matéria orgânica que se vá degradar. Há que escolher bem o local onde se vai situar para evitar problemas de arrastamento de matéria orgânica pela água, de excessiva ventilação ou temperatura. É conveniente construí-lo resguardado das inclemências meteorológicas. (Imagem 5: Compostador.) 179 CAPÍTULO III técnica relativamente simples pela qual se realiza a degradação da matéria orgânica para ser assimilável pelas plantas. É um processo com o qual se consegue uma mistura homogénea rica em matéria orgânica donde predomina uma grande quantidade de minerais e outros nutrientes. A compostagem é similar aos processos que decorrem diariamente na natureza. Por exemplo, no Outono, quando as folhas caem, apodrecem junto aos pés de outros vegetais, e fornecem, junto com a água, o ar e vários microrganismos, a matéria orgânica que necessitam para germinar no ano seguinte. CAPÍTULO III MÓDULO VI | Gestão de Resíduos O compostador tem que estar em contacto com o solo porque favorece o intercâmbio de microrganismos que intervêm no processo de degradação da matéria orgânica. O tamanho das partículas tem influência na velocidade de decomposição, quanto mais pequeno for o tamanho dos materiais a compostar, menor será o tempo de decomposição. A presença de alguns elementos como o carbono, azoto, fósforo e outros constituintes torna-se essencial para as reacções de degradação da matéria que se produzem por parte dos microrganismos. Em condições normais, a natureza não necessita de nada que não possa obter do campo. Pode ser adicionado um acelerador biológico para diminuir o tempo de decomposição da matéria. Quando se deposite a matéria orgânica, adiciona-se acelerador a cada 20 cm para que o processo arranque com mais força e dure menos tempo. O que se pode utilizar para obter um bom composto? - Restos vegetais como palha, folhas secas, pinhas, uvas, ramos, casca de fruta, serrim (sem tratar), cartão, papeis, etc. - Todo o produto procedente da produção biológica. - Restos animais tais como peles, farinhas, ossos, restos de matadouro, estrume que incorpora azoto. - Restos minerais como granitos, calcários, silicatos, fosfatos que incorporam oligoelementos indispensáveis para as plantas. No processo de compostagem a temperatura varia conforme a actividade microbiana, no interior atingirá aproximadamente 60 ºC. Considera-se um composto maduro quando depois de várias fases de variação de temperatura, esta se mantém e iguala a ambiental. O valor de pH óptimo oscila entre 5 e 8. O aumento da ventilação pode arrefecer o composto e retardar o processo. A humidade 180 Gestão de Resíduos | MÓDULO VI óptima dependerá do tipo de microrganismo presente na mistura, mas normalmente varia entre os 30% e os 60%. Possivelmente haverá necessidade de regar em épocas de calor excessivo, em condições normais a água proveniente dos vegetais é suficiente. (Imagem 6: Composto maduro carregado para posterior utilização.) Para a obtenção de composto não se devem utilizar: - Restos de vegetais que tenham sido tratados em processos químicos. - Cascas de citrinos porque são demasiado ácidas. - Óleos e gorduras. - Qualquer material não biodegradável. 181 CAPÍTULO III Ao fim de três ou quatro meses estará formado um composto fresco onde ainda se podem identificar restos dos materiais utilizados. Passados mais dois meses (cinco ou seis no total), obteremos uma mistura de cor preto escuro, os restos de vegetais, animais e minerais foram decompostos e obtém-se um material com elevada percentagem de oligoelementos e nutrientes. Uma vez obtido o composto, podem ser adicionadas cinzas de madeira, que incorpora potássio, ou estrume proveniente de animais de explorações biológicas, que ajuda a manter o equilíbrio entre nutrientes. MÓDULO VI | Gestão de Resíduos CAPÍTULO III Os resultados que se atingem com a compostagem no que diz respeito à fertilização dos solos serão semelhantes ou melhores aos que se conseguem com adubos químicos. Além do mais, não se produzem os efeitos negativos como a contaminação dos aquíferos por excesso de azoto e o esgotamento da matéria orgânica. O composto enriquece o solo em matéria orgânica e microrganismos que ajudam à sua fertilização. 182 CAPÍTULO IV CONCLUSÃO 183 CONCLUSÃO A produção biológica de gado bovino para carne constitui uma forma mais de produzir carne, caracterizada por uma série de pormenores que a diferenciam da produção convencional. CAPÍTULO IV Para que um produtor de gado possa reconverter a sua exploração em biológica tem que modificar a forma de criar o seu gado. Em primeiro lugar, na exploração biológica é dada uma maior importância à qualidade do que à quantidade, tendo sempre em atenção que a exploração deve ser rentável, uma vez que se vai viver dela. Normalmente pensa-se que neste tipo de produção o gado requer mais cuidados e meios especiais, que os animais demorarão mais a engordar ou que são mais sensíveis a doenças por estarem ao ar livre, mas nada disto é verdade. Os animais são de raças autóctones, típicas da zona na que vivem e na qual se adaptam e desenvolvem sem nenhum problema. São mais resistentes e suportam bem as condições climatéricas adversas. Os vitelos destinados ao lote de engorda atingem pesos semelhantes aos das explorações convencionais, embora sejam engordados em parcelas ao ar livre. Estes animais estão adaptados ao meio envolvente, aproveitando os recursos da parcela, lutam, brincam e deitam-se nos prados quando o sol nasce ou nos resguardos quando chove ou faz vento. As possibilidades de adoecer são muito 184 CONCLUSÃO baixas, o seu corpo vai-se adaptando gradualmente ás alterações de temperatura do ambiente em que estão. Os animais praticamente não adoecem, pelo que existe uma poupança importante tanto em medicamentos caros e em serviços veterinários, como em mão-de-obra. Quando há animais doentes numa exploração temos que dar-lhes mais atenção e consomem mais tempo e mais trabalho, para além das preocupações que representam para o produtor. O tratamento do gado com terapias alternativas torna-se vantajoso tanto do ponto de vista sanitário como do ponto de vista económico: Para realizar este tipo de produção não são necessários grandes investimentos nem é necessário dispor de pavilhões de enormes dimensões porque os animais podem ser criados no exterior. A alimentação do gado à base de recursos naturais e alimentos de alta qualidade, facilita o trabalho na exploração e favorece o crescimento de animais sãos e com grandes rendimentos produtivos. 185 CAPÍTULO IV - São tratamentos mais baratos e os medicamentos têm uma validade muito grande. - Os resultados são surpreendentes. Se se administra rapidamente o tratamento adequado, as alterações reversíveis são corrigidas com relativa facilidade (dependendo do caso). - No provocam resistências e podem ser utilizados as vezes que seja necessário. - Não tem efeitos secundários. - Não permanecem na carcaça do animal, não deixam resíduos. - O intervalo de segurança é de 48 horas. CONCLUSÃO A mão-de-obra necessária pode ser menor, mesmo quando comparada com explorações convencionais, uma vez que em explorações com engorda no exterior não é necessário retirar o estrume das instalações e a adubação das parcelas é realizada directamente pelo gado. O principal inconveniente que encontra hoje em dia o produtor biológico é a procura de rações biológicas e o seu preço elevado. Por isso, é aconselhável realizar acordos com agricultores para a compra de grão e a produção da ração para utilização na exploração. CAPÍTULO IV O respeito pelo meio ambiente envolvente e que fornece o alimento aos seus animais é essencial para chegar a um equilíbrio e obter a verdadeira rentabilidade da exploração. Um correcto maneio do gado que garanta o bem-estar animal será claramente visível num aumento da conversão de alimento em carne e na diminuição das doenças. A produção de gado biológico tem como finalidade, entre muitas outros aspectos, oferecer um produto de qualidade, saudável e claramente diferenciável do restante. Neste tipo de produção, para além dos controlos efectuados pelos órgãos competentes, devem ser os próprios produtores os interessados em oferecer um produto diferente, de qualidade e com bom sabor e textura e, sobre tudo, saudável. 186 CAPÍTULO V GLOSSÁRIO 187 GLOSSÁRIO A ACTIVIDADE BIOLÓGICA – É um indicador importante da decomposição da matéria orgânica do solo. Uma alta actividade biológica, promove metabolismos entre o solo e as plantas, e é uma parte essencial da produção sustentável de plantas e da utilização de fertilizantes. ACUPUNCTURA – Terapia de origem chinesa, usada em agricultura biológica para tratamento veterinário nos casos de alergias e problemas de cartilagens, cólicas nos cavalos, dificuldades reprodutivas nos bovinos, mastite, prevenção de crises diarreicas nos porcos e problemas de choco nas galinhas. CAPÍTULO V ADITIVO – substância que se incorpora a um produto alimentar com objectivo de alterar a apresentação, conservação, intensificação de sabor ou outros. ADUBOS VERDES - esta prática consiste em semear sementes de uma espécie única ou de misturas de espécies herbáceas sem ter por objectivo a colheita dos produtos mas sim a incorporação do bio massa verde no solo. AGRICULTURA BIODINÂMICA – É baseada numa série de conferências realizadas por um filósofo austríaco Rudolf Steiner em 1924. É um tipo de agricultura que procura utilizar activamente as forças saudáveis da natureza. É o movimento de agricultura não química mais antigo, antecedendo o movimento de agricultura orgânica em cerca de 20 anos e actualmente divulgado em todo o mundo. AGRICULTURA BIOLÓGICA - “a agricultura biológica é um sistema de gestão de produção holistico que promove e enriquece a saúde do agro ecossistema incluindo biodiversidade ciclos biológicos e actividade biológica dos solos. Os métodos de Produção Biológicos realçam 188 GLOSSÁRIO o uso de praticas de gestão em vez do uso de inputs do exterior da quinta, tendo em conta que as condições regionais precisam de sistemas adaptados localmente. Isto é conseguido utilizando quando possível, métodos agronómicos biológicos e mecânicos ao contrario de materiais sintéticos, para satisfazer qualquer função especifica dentro do sistema ( Definição do Codex Alimentarius) AGRICULTURA CONVENCIONAL – Sistema agrícola industrializado caracterizado pela mecanização, monoculturas, e uso de inputs sintéticos, como por exemplo, fertilizantes químicos e pesticidas, e que valoriza a maximização da produtividade e do lucro. A agricultura industrializada tornou-se convencional apenas nos últimos 60 anos (desde a Segunda Guerra Mundial). AGRICULTURA SUSTENTÁVEL - refere se a um sistema agrícola que é ecologicamente saudável e economicamente viável e socialmente justa, um sistema capaz de manter a produtividade indefinidamente. AGRO ECOSSISTEMA – É uma associação dinâmica de culturas, pasta- 189 CAPÍTULO V AGRICULTURA NATURAL - reflecte as experiências e filosofias do agricultor Japonês Massanobu Fukuoka. Os seus livros The One Straw Revolution: Na Introduction to Natural Farming (Emmaus Rodale Press 1978) e The Natural Way of Farming:The Theory and Practice of Green Phylosophy (Tokyo, New York, Japan Publications, 1985), descrevem o que ele designa de “agricultura deixa andar” e uma vida de estudo do meio. O seu método de cultivo não envolve qualquer tipo de aragem nem fertilizantes nem o uso de pesticidas nem a remoção de ervas daninhas assim como podas e envolvendo pouco trabalho. Ele realiza tudo isto e obtém colheitas abundantes sincronizando cuidadosamente a altura do seu semear e combinações cuidadosas de plantas (policultura). Em suma, Fukuoka elevou a um alto nível arte de trabalhar com a natureza. GLOSSÁRIO gens, gado, flora, fauna, atmosfera, solos e água. Os agros ecossistemas situam-se dentro de áreas mais vastas, que incluem terra não cultivada, sistemas de drenagem, comunidades rurais e vida selvagem. AGRO-ECOLOGIA – Estudo das interacções dos organismos vivos entre si e com o seu meio, num sistema agrícola. ALOPÁTICO - medicamento alopático ( antinflamatorio, analgésico, etc.) trata de suprimir a dor e não a cura. ANTIAGLOMERANTE - substância que retarda ou evita a aglomeração. ANTI-OXIDANTE - substância que retarda ou evita a oxidação. CAPÍTULO V ANTIPARASITÁRIO – substância que destrói os parasitas. ARABILIDADE - estrutura física do solo que influencia o crescimento da planta. Um solo arável é poroso, permitindo a fácil infiltração de água e favorece o crescimento das raízes sem obstáculos. AUDITORIA – Análise sistemática e funcionalmente independente que verifica se as actividades e respectivos resultados atingem os objectivos propostos. AUTÓCTONE – nascido na própria terra em que habita. AUTOTRÓFICO – ser fotossintetizante (transformam a energia solar em energia química). AZADIRACHTIN – Insecticida extraído da árvore asiática Azadirachta indica ou “Neem tree”. 190 GLOSSÁRIO B BIO-CIDADES – Rede de entidades publica que já investiram em politicas de apoio à agricultura biológica (www.cittadelbio.it). BIODIVERSIDADE – A biodiversidade agrícola engloba a variedade e a capacidade de mudança dos animais, plantas e microorganismos necessários para desempenhar funções chave do agro ecossitema, da sua estrutura, dos procedimentos e para o apoio à produção de alimentos e segurança alimentar (definição da FAO). BACILLUS THURINGIENSIS – É uma das preparações bacteriológicas mais utilizadas na agricultura biológica (activo contra muitas variedades de mosquitos Lepidoptera e coleóptera, etc). BSE – Encefalopatia Espongiforme dos Bovinos. CULTURAS FORRAGEIRAS – Incluem luzerna, cevada trevo, milho e sorgo e qualquer outra colheita em que a planta seja usada para alimentar gado e outros ruminantes. COMÉRCIO JUSTO- parceria de comércio baseado na igualdade, dialogo, transparência e respeito. COMPOSTO – Reciclagem de biomassa dentro da unidade biológica. Durante a compostagem, as matérias orgânicas são transformadas em húmus. 191 CAPÍTULO V C GLOSSÁRIO CN - Cabeças normais. CONTAMINAÇÃO – Poluição de produtos ou de solo biológico, ou contacto com qualquer material que torne o produto impróprio para certificação biológica. CAPÍTULO V CONTROLO BIOLÓGICO – Usa inimigos naturais para manter populações fitó-fagas dentro de limites razoáveis, e consequentemente aumentar o número de espécies no ecossistema agrícola, tornandoo, assim, mais estável e complexo. Todos os animais e plantas têm inimigos naturais (predadores, parasitas, patogénicos ou concorrentes) que ajudam a evitar uma proliferação descontrolada. As populações naturais de predadores (por exemplo, escaravelhos, coccinela, vespas, ácaros) e parasitas (mosca, nemátodes) são muito úteis na redução de infestações e das pragas. Contudo, por vezes, tem de se tolerar um certo nível de infestação para atrair e manter as populações inimigas naturais. CULTURAS DE COBERTURA – Consiste em instalar uma cultura, mas não necessariamente para colheita, durante os meses em que o terreno está ocupado. Desta forma, a proliferação e disseminação de ervas daninhas é impedida. D DOP - Designação de origem protegida 192 GLOSSÁRIO E ECOSSISTEMA – Sistema natural que é formado por interacções dinâmicas entre elementos bióticos e não bióticos numa área definida. Elementos bióticos incluem plantas, insectos (pragas, inimigos naturais e decompositores), micróbios e outros organismos vivos, e elementos não bióticos como os componentes do clima: temperatura, humidade relativa, vento, sol, chuva e solo. ENZIMA – catalizador (aceleram as reacções bioquímicas). EQUILÍBRIO ENERGÉTICO DA QUINTA – Análise do consumo de energia, e da sua eficácia, de forma a avaliar o seu impacto nas alterações climáticas (isto é, emissão de gases - efeito de estufa) e redução do consumo de combustíveis fósseis. ESSÊNCIAS DE PLANTAS - são uma mistura de substâncias naturais derivadas de diversas partes das plantas como as flores, sementes e frutos. São utilizados como insecticidas causando asfixia nos insectos e nos seus ovos. Agem também como repelentes. 193 CAPÍTULO V ENGENHARIA GENÉTICA - são técnicas de biologia molecular (como a técnica do DNA Recombinante) pelo qual material genético de plantas, animais, microorganismos e outras unidades biológicas são alterados de modo a ocorrer resultados que não poderiam ser obtidos por métodos de acasalamento naturais ou recombinação natura. Técnicas de recombinação genética incluem, embora não estejam limitadas só a isso: a técnica do DNA recombinante, fusão de células, injecção micro e macro, delecção de genes e duplicação. Organismos geneticamente modificados não incluem organismos que resultam de técnicas como cruzamentos, conjugação e hibridação natural (definição de IOAM) GLOSSÁRIO CAPÍTULO V ESSÊNCIAS MINERAIS - agem essencialmente através da asfixia sufocando os insectos e os seus ovos. Também são activos como repelentes para a alimentação ou depósito de ovos. Essências Minerais são activos essencialmente através do contacto directo com insectos pequenos como por exemplo as diapididae, coccidae, afideos, psyla e ácaros. Podem ser activos contra oidium e ervas daninhas (devido à sua fito toxicidade). Área de aplicação: arvores de frutos, horticultura e plantas ornamentais. EROSÃO – A erosão do solo pelo vento e água é um problema mundial (Pimental 1995). Assume-se que a erosão é a causa da degradação do solo em todo o mundo (Oldeman 1994). O efeito de erosão no solo, ocorre em terrenos desgastados (efeitos locais: perda da camada superior do solo fértil, mudanças na dinâmica das aguas no solo, estado dos nutrientes, características da matéria orgânica no solo, organismos e profundidade do solo) e rio abaixo (com efeitos colaterais, nutrientes impróprios, pesticidas e sedimentos que emergem das aguas). Os sistemas de agricultura biológica provocam uma erosão do solo mais baixa do que os convencionais. F FITOTERAPÉUTICO – produto obtidos a partir de preparados de plantas e utilizado em tratamentos. FEROMONAS - Substancias químicas produzidas por seres vivos utilizados para comunicação química entre os indivíduos da mesma espécie influenciando comportamentos (agregação, interacção sexual e sinais de alerta) e/ou o desenvolvimento morfológico de outros seres vivos. Podem ser produzidas artificialmente em laboratório e tem diferentes aplicações na agricultura como o controle de pragas sendo usado como apelativos em armadilhas com insecticidas. 194 GLOSSÁRIO G GESTÃO DA FERTILIDADE DO SOLO - “a manutenção da fertilidade dos solos é a primeira condição para que qualquer tipo de sistema de agricultura permanente.” Com estas palavras, nos anos quarenta, o famoso Agrónomo Sir Albert Howard elaborou os princípios dos métodos da agricultura biológica. A fertilidade dos solos é a capacidade do solo em sustentar uma produção de plantas a longo prazo. GESTÂO HOLISTICA - é um processo de gestão que permite que as pessoas tomem decisões que satisfaçam as necessidades imediatos sem comprometer o bem-estar de futuras gerações. Os gestores deverão usar um processo simples de avaliação para garantir que as decisões tomadas serão economicamente, ambientalmente e socialmente sustentáveis. HACCP - (Analise de Risco e Pontos Críticos de Controle) é a aplicação sistemática de boa pratica para a prevenção de problemas relacionados com a saúde alimentar promovendo a produção de alimentos seguros. HOMEOPATIA - terapia sistematizada por Hahnemann no principio do século XIX permitindo uma suave recuperação do equilíbrio biológico do organismo perturbado , activando mecanismos de defesa. HOMEOPÁTICO - medicamento homeopático usa-se em doses mínimas e é utilizado não para curar mas para restabelecer o equilíbrio vital do individuo. 195 CAPÍTULO V H GLOSSÁRIO HÚMUS - Matéria orgânica decomposta, rica em nutrientes que posteriormente poderão ser utilizados pelas plantas. I IMUNOLÓGICO – agente que reforça a imunidade (defesas) de um indivíduo. IFOAM - Federação Internacional de agricultura biológica. CAPÍTULO V IGP – Indicação geográfica protegida. INSECTOS ENTOMOFAGOS – São a maior parte dos agentes usados no controlo biológico. São classificados como predadores ou como parasitóides, cada qual com características completamente diferentes, que contribuem para a sua eficácia como agentes de controlo biológico. Os predadores são organismos que atacam e se alimentam dos indivíduos responsáveis por pragas. Alguns são predadores durante o seu ciclo de vida (fitosídeos, miríadeos, coccinelideos, antocorídeos), enquanto outros só o são no estado de larva. Os parasitóides são parasitas no seu estado imaturo, quando a larva se desenvolvem dentro do hospedeiro são endoparasitas, no seu exterior são ectoparasitas. L LEVEDURA – agente de fermentação. LÍPIDO – substância vulgarmente designada de gordura. LOGÓTIPO - Regulação (EC) No 331/2000 estabeleceu o logótipo europeu para produções biológicas. 196 GLOSSÁRIO M MOBILIZAÇÃO DO SOLO - o objectivo é criar as condições físicas apropriadas através de intervenções mecânicas, que fornecem condições óptimas para as plantas MONOGÁSTRICO – animais com um só compartimento gástrico. MARKETING TERRITORIAL – a agricultura biológica representa um potencial contributo para o desenvolvimento e diversificação da economia no espaço rural, promovendo e valorizando as identidades locais e constituindo um importante contributo ara a revitalização das comunidades rurais. O OGM - Organismos Geneticamente Modificados. OMS - Organização Mundial de Saúde ORGANISMO DE CERTIFICAÇÃO – Conduz a certificação e o controlo biológico. ORGANISMOS DECOMPOSITORES – São organismos que se alimentam de material orgânico morto, transformando-o em húmus. 197 CAPÍTULO V MULCHING - a pratica de espalhar matérias orgânicas - como por exemplo palha, adubo ou aparas de madeira. - sobre solo sem cultivo e entre plantações. Mulching ajuda a conservar a humidade, controlar ervas daninhas e contribui para o desenvolvimento de matéria orgânica na terra. GLOSSÁRIO P PAC – Política Agrícola Comum PARASITAS PATOGÉNICOS (bactéria, vírus e fungos) - Utilizado em controle biológico muitas vezes destroem o seu portador e libertam milhões de esporos que serão dispersados e infectarão outros indivíduos. O microrganismo mais famosos e difundido é o Bacillus Bhuringiensis. Um outro vírus vulgarmente usado e o vírus Granulosis, activo na Cydia Pomonella.. CAPÍTULO V PERÍODO DE CONVERSÃO – As regras comunitárias que regulamentam a agricultura biológica, exigem que qualquer quinta que pretenda passar a adoptar métodos biológicos seja obrigada a uma fase de conversão de 2 anos no caso de herbáceas anuais, e de 3 no caso de perenes. AGRICULTURA PERMANENTE - o movimento começado na Austrália em 1975. A ideia básica foi desenvolvida por Bill Mollison, “o termo agricultura permanente descreve um sistema integrado desenvolvendo-se contínua e sucessivamente baseado numa rede ecológica de relações entre plantas e animais úteis para o ser Humano.” (Mollison 1978). PRINCÍPIO DE PRECAUÇÃO - princípio que dita, quando uma actividade ameaça o ambiente ou a saúde humana devem ser tomadas medidas de precaução mesmo se a relação efeito causa não tenha qualquer suporte científico. PRINCÍPIOS DE AGRICULTURA BIOLÓGICA - adoptado pela assembleia-geral da IFOAM em Adelaide, Setembro 2006: Saúde (a agricultura biológica deve sustentar e enriquecer a saúde do solo plantas, animais, humanas e o planeta como um conjunto indivisível), Ecologia 198 GLOSSÁRIO (a Agricultura Biológica deve se basear em sistemas e ciclos ecológicos vivos, trabalhando com eles, estimulando-os e permitindo a sua sustentabilidade, Justiça (A Agricultura biológica deverá desenvolver relações que garantem justiça no que diz respeito ao ambiente comum e oportunidades de vida., Cuidado (a agricultura biológica deve ser gerida de um modo responsável e com precaução com o intuito de salvaguardar a saúde e bem estar das gerações actuais e futuras e o ambiente. PRODUÇÃO DIVIDIDA/PARCIAL - onde somente parte da quinta ou da unidade de processamento é certificado como biológico. O resto da propriedade poderá não ser biológico, em conversão biológica ou biológica mas não certificado. (definição de IFOAM). Ver também “produção paralela”. PYRETHRINS - extraído de Chrysanthemum cinerariaefolium, são insecticidas naturais. PIRETRÓIDES - grupo de pesticidas artificiais desenvolvidos para o controlo de pragas de insectos Q QUASSIA - insecticida natural derivada de uma árvore Quassia amara, 199 CAPÍTULO V PRODUÇÃO PARALELA - qualquer produção em que a mesma unidade esta cultivando, criando, tratando ou processando os mesmos produtos ora num sistema biológico certificado ora num não certificado ou não biológico. A situação com produção biológica e produção em estado de conversão do mesmo produto é também produção paralela (definição de IFOAM). Produção paralela é um exemplo especial de produção dividida. GLOSSÁRIO indígena do Suriname e da Picrasma excelsa (Jamaican Quassia). Activo contra afidios e moscas. Área de aplicação, horticultura, árvores de frutos, viticultura, silvicultura, plantas ornamentais. QUINTAS PEDAGÓGICAS – Quintas com actividades educacionais, dirigidas a crianças em idade escolar ou a outros grupos. R CAPÍTULO V RASTREABILIDADE – refere todo o percurso de um produto (animal produtor de alimento, ingredientes a serem incorporados na comida, alimentos vários) desde a sua origem acompanhando todas as etapas de produção, processamento e distribuição, inclui todas as etapas do “campo á mesa”. RESISTÊNCIA - capacidade dos insectos de se adaptarem a um pesticida durante um período de tempo tornando o pesticida cada vez menos eficaz e necessitando de aplicações cada vez mais intensivas e abundantes para obter o mesmo resultado. ROTAÇÃO - as plantas são cultivadas numa sequencia definida na mesma parcela de terra. ROTENONA - é um insecticida natural extraído das raízes de algumas plantas tropicais da família das leguminosas, Derris elliptica, Derris spp., Lonchocarpus utilis, Tephrosia spp. Rotenona tem um larga gama de actividades, afidios, tripes, Lepidoptera, Díptera, Coleóptera, etc. é também relativamente eficaz contra ácaros. Área de aplicação: horticultura, arvores de fruto plantas ornamentais, mosquitos e moscas. É também utilizada em medicina veterinária contra moscas Hypoderma. 200 GLOSSÁRIO RODENTICIDA – substância de combate a roedores. S SINTÉTICO - produzido por processos químicos e industriais. Poderão incluir produtos não encontrados na Natureza, ou simulações de produtos de fontes naturais (mas não são extraídos de matérias primas puras) SULFATO DE CALCIO - (calcium polysulphide) - e usado como insecticida e fungicida. Protecção de Colheitas. Área de aplicação, citrinos, pessegueiros macieiras, cerejeiras, vinhas, oliveiras e damasqueiro. SAU - Superfície Agrícola Útil TÉCNICA DE CONSERVAÇÃO DO SOLO – Refere-se a uma grande variedade de métodos de tratamento do solo, consiste em deixar os resíduos, cobrindo o solo e reduzindo assim os efeitos da erosão do vento e da água. Estas práticas minimizam a perda de nutrientes, a diminuição da capacidade de armazenamento e os estragos nas colheitas. TERAPIA AYURVEDICA – Utilização de produtos feitos à base de ervas e minerais naturais para fortalecer a imunidade dos animais. TSG - Garantia de especialização tradicional 201 CAPÍTULO V T GLOSSÁRIO W WWOOF - (Willing Workers On Organic Farms) Trabalhadores Voluntários em Quintas biológicas, é uma rede de troca mundial onde é dado acolhimento, experiência pratica e teórica em troca de trabalho. São possíveis estadias de diversas durações. WWOF fornece excelentes oportunidades para treinos biológicos,mudar para uma vida rural, partilha de cultura e fazer parte de um movimento biológico. (www.wwoof.org) Z CAPÍTULO V ZONA TAMPÃO – Zona de fronteira claramente definida e identificável que delimita uma unidade biológica e que é estabelecida para limitar a aplicação ou contacto com substâncias proibidas provenientes das áreas adjacentes (definição do IFOAM). 202 CAPÍTULO VI INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 203 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 1. Descrição do Computador Pessoal (PC) O computador pessoal é constituido pelo seu hardware – os elementos visíveis – e pelo software – os programas do computador. Em cada computador, o hardware e o software podem ser differentes. O hardware é composto por: CAPÍTULO VI • O CPU (Unidade Central de Processamento) • Os periféricos, que são elementos ligados ao CPU, utilizados para inserir ou visualizar dados. Os mais comuns sendo o rato, o monitor e o teclado. Com todos estes elementos e depois de ligado à corrente o computador irá funcionar. Teremos de verificar se o computador está ligado à corrente e depois ligar o interruptor. A partir deste momento o computador começa a reconhecer todos os seus elementos e começa a funcionar. 204 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 1.1 Os Periféricos Mais Utilizados Monitor. O monitor permite visualizar aquilo que o computador está a processar. Normalmente o monitor está ligado à corrente com um fio diferente do CPU. A qualidade da imagem do monitor depende do seu tamanho (que é medido em polegadas), a resolução e a placa gráfica. Teclado. É muito semelhante a uma máquina de escrever tradicional, mas inclui algumas teclas com funções específicas (Ctrl, Esc, Alt, F1, F2,...) Rato. Este mecanismo transmite movimentos manuais ao cursor no monitor, que pode ter várias formas (uma seta, uma mão...). Tem dois butões (alguns modelos têm um terceiro butão ou uma roda). Os seus usos são: 205 CAPÍTULO VI • Butão Esquerdo: é o mais utilizado e tem três funções diferentes: - escolher: carregar (clicar) no butão esquerdo uma vez; - activar: carrega-se no butão esquerdo duas vezes e rápidamente (duplo clic) - transportar objectos: coloca-se a seta (cursor) em cima do elemento a transportar e mantém-se o butão esquerdo carregado enquanto movimentamos o rato para a àrea para onde pretendemos fazer o transporte. Para largar o nosso elemento no seu destino, basta largar o butão esquerdo. • Butão Direito: geralmente serve para dar acesso a informação ou outras funções do programa com o qual estamos a trabalhar. INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES Unidades de Armazenamento. Este mecanismos permitem o armazenamento de dados vindo de outros computadores, mas também permitem armazenar os nossos dados de modo a não ocupar espaço no disco duro. Existem vários: CAPÍTULO VI • A drive de disquetes. Permite ler e salvar dados em ficheiros pequenos. • A drive de CD (Compact Disc), para ler e gravar. A capacidade de armazenamento de um CD é muito maior do que o espaço de uma disquete. • A drive de DVD (Digital Versatile Disc). Este mecanismo de armazenamento pode ser utilizado para salvar dados e grandes ficheiros, tais como filmes de alta qualidade de som e imagem. DVDs são semelhantes aos CDs, mas tem uma capacidade de armazenamento sete vezes maior que a capacidade do CD. Impressora. Este periférico permite imprimir em papel os trabalhos realizados num computador. As mais utilizadas são as impressoras a jacto de tinta e as impressoras a laser. Há impressoras a preto e branco e outras a cores. Em qualquer dos casos, os toners (mecanismos que armazenam a tinta) são diferentes conforme o modelo da impressora. Com estes cinco periféricos acima mencionados podemos dizer que ficamos com um posto de trabalho com PC completo. Mas podemos ter outros periféricos para funções mais específicas: colunas de som, auscultadores, joystick, caneta optica, scanner (digitalizador), câmara digital, webcam, módem, dispositivo infravermelho... Na maioria dos periféricos iremos encontrar dois fios: um que se liga ao CPU e o outro à tomada eléctrica. Alguns periféricos não necessitam ser ligados à electricidade. 206 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 1.2 Sistema Operativo: funções e comandos Juntamente com o hardware, o CPU e os periféricos, o computador precisa de outros elementos que não são visíveis. Chama-se a isto o software, a parte mais intelectual do PC, pois é o software que dita o que o computador tem de fazer. Podemos considerar três tipos de software: • O sistema operativo, um interface (porta de comunicação) que permite ao utilizador usar e trabalhar com os recursos do computador. Establece uma ligação entre o software e o hardware. • Os programas e aplicações, utilizados para fazer aquilo que nós indicamos ao computador, utilizando os periféricos. Cada programa é especifico a cada tarefa, como por exemplo, processadores de texto, programas de desenho, jogos... • As linguagens de programação são a base de todos os programas e do sistema operativo. Geralmente os utilizadores de PC não precisam saber estas linguagens. Para utilizarmos um PC temos de ter os programas adequados instalados. Cada programa de software é criado para satisfazer uma tarefa específica. Para escolher um programa temos de controlar o sistema operativo com o qual funciona. Normalmente, para satisfazer as tarefas mais comuns, o PC terá de ter programas instalados para as seguintes tarefas: 207 CAPÍTULO VI 1.3 Programas Automáticos da Office e Aplicações. INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES • Processador de texto, isto é, escrever documentos. O programa mais conhecido é o MS Word. • Cálculos. Folhas de cálculo tal como Excel são utilizados para operações matemáticas e gráficos. • Ordenar informação. O software de bases de dados, tal como Access, permite ordenar, armazenar e gerir a informação que por nós foi criada. • Navegar na Internet. Um navegador (Exlorer ou Netscape, por exemplo) e um servidor de e-mail (Outlook, Mozilla) será necessário. CAPÍTULO VI Há outro software interessante, tal como aquele que é utilizado para editar imagens, videos e musica em formato digital, e jogar (a maioria do software nas lojas informáticas são jogos). Há software criado especificamente para um só propósito, tal como detectar vírus (antivírus), para fazer traduções e reduzir (comprimir) o tamanho dos ficheiros. 208 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 1.4 Gestão de Ficheiros Num PC, a informação é armazenada no disco duro ou na memória. Para aceder à informação, ela tem de estar organizada em ficheiros. Os ficheiros estão agrupados em directorias ou pastas, de modo a facilitar a sua procura. Todos os ficheiros têm um nome e uma extensão. O nome é normalmente escolhido pelo utilizador, e a extensão depende do programa sobre o qual o ficheiro foi criado. O nome do ficheiro e a sua extensão está separado por um ponto (como por exemplo, “documento.doc”) As extensões mais comuns são: Doc Ficheiro de texto da Word Mp3 Ficheiro de som Xls Folha de cálculo Excel Mpg Ficheiro de video Dbf, mbd Base de dados Tif, jpg Ficheiro de imagem Ppt Apresentação Powerpoint (slides) Exe Ficheiro de programa CAPÍTULO VI 209 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES 2. Internet CAPÍTULO VI A internet é uma rede de computadores interligados, em todo mundo, numa ‘teia’ que abrange todo mundo. A ligação é feita através de fios de telefone, por cabo, fibra óptica ou satélite. Para aceder à internet irá precisar de quatro elementos: um sistema de comunicação (módem), ligado a um canal de comunicação (geralmente uma linha telefónica), um servidor e um programa adequado. O servidor irá fornecê-lo com os seguintes dados para aceder à internet. - um número de telefone onde o nosso módem irá fazer ligação. Se intalarmos ADSL, o sistema será diferente. - um nome de utilizador que nos identificará na internet. - uma palavra-passe para aceder à internet. - um endereço de servidor DNS - um protocolo de ligação, que nos dá todos os passos a seguir para aceder. Com todos estes elementos podemos criar uma ligação à internet. Na maioria dos casos, basta ligar ao servidor, que nos irá guiar em todo o processo. Hoje em dia a maioria das empresas fornecem este serviço de informação gratuítamente. Quanto aos programas usados para navegar, os mais comuns são o Netscape e o Explorer. De qualquer navegador podemos aceder a qualquer tipo de informação na internet. Quando estamos na internet, temos a informação colocada num sítio, normalmente a informação de uma empresa ou organização, que recolheu informação sobre um assunto específico. Para chegar a um sítio, temos de escrever o seu nome num espaço branco no navegador. O endereço de internet normalmente 210 INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES tem um nome cmposto por “www. Nome da página.país ou tipo de organização.código” (como por exemplo, www.ifes.es ou www.yahoo.com). Num sítio da ‘web’, podemos saltar de uma página para outra (como num livro), clicando com o rato nas hiperligações, dando acesso a outra informação. É fácil encontrar uma hiperligação, pois quando colocamos o cursor sobre uma hiperligação, o cursor muda de forma, de uma seta para uma mão com o indicador a apontar para cima. A internet é usada para procurar informação, mas podemos usá-la para ir às compras, tomar parte num leilão, reservar bilhetes para o cinema ou teatro, gerir a nossa conta bancária... Na mesma linha, podemos encontrar farramentas para uma comunicação “pessoa a pessoa”. Destas fazem parte o e-mail (correio electrónico), os foruns e os chats. Procurando na Internet: motores de pesquisa e portais E-mail O e-mail é um dos serviços mais usados, conhecidos e importantes na internet por causa da sua rapidez e eficiência. Para utilizá-lo é necessário um módem, uma linha telefónica (para aceder à internet), um servidor de e-mail e um endereço de e-mail. Cada computador tem 211 CAPÍTULO VI Motores de pesquisa (ou de busca) são das farramentas mais utilizadas na internet. São fáceis de utilizar. Os utilizadores apenas tem de escrever palavras relacionadas com aquilo que estejam à procura e clicar no botão ‘search’ (pesquisa) ou usar a tecla ‘enter’ no teclado. O resultado da pesquisa irá estar disponível numa lista de endereços electrónicos ou ligações. Os motores de pesquisa mais utilizados são: Google, Yahoo, Altavista e Lycos. CAPÍTULO VI INTRODUÇÃO AOS COMPUTADORES um endereço na web, através de um servidor. Com estes elementos podemos criar uma conta de e-mail. O endereço de e-mail é único para cada utilizador e tem uma estrutura fixa. A primeira parte é para o nome do utilizador (johndoe), seguido pelo símbolo ‘arroba’ (@) e o nome do domínio que cobre os utilizadores do servidor, ou uma empresa ou organização (yahoo) e depois um ponto ( . ) e a abbreviatura de um país, tipo de organização, etc. (com). Neste exemplo o endereço seria: [email protected] Quando alguém escreve e envia um e-mail para este endereço, ele será guardado. Para lê-lo apenas temos de seleccionar o nosso programa de e-mail e establecer uma ligação à internet. Clicámos no icon “correio recebido” e o servidor nos enviará esta mensagem. Do mesmo modo, se quisermos enviar uma mensagem, uma vez que o programa de e-mail estiver iniciado, podemos escrever o endereço da pessoa que irá receber a mensagem, num espaço branco que diz “enviar para”. Depois escrevemos o texto e clicámos no icon “enviar”. Há dois tipos de conta de e-mail: algumas estão ligadas ao computador que normalmente utilizamos, mas podemos aceder a ele de outro computador se inserirmos todos os dados. Há outros chamados ‘internet accounts’ (conta de internet) onde temos de aceder a uma página da internet (por exemplo, www.yahoo.com), escrever o nosso endereço de e-mail ([email protected]) e a palavra-passe escolhida préviamente. Deste modo podemos consultar o nosso e-mail de qualquer computador. O primeiro tipo de e-mail normalmente tem mais espaço de armazenamento, mas os ‘internet accounts’ são mais fáceis de utilizar, especialmente se não tivermos um computador próprio. 212