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Série DEIXADOS PARA TRÁS Sé rie de icçã o mais lida no mundo, Deixados Para Trá s vendeu mais de 70 milhõ es de livros e foi traduzida para mais de 30 idiomas. A histó ria reú ne icçã o cristã , açã o e suspense comlancesdealtatecnologianumtrillerdetirarofô lego.Otemaprincipalé nadamenosqueo própriofinaldostempos. TimLaHaye&JerryB.Jenkins ASSASSINOS MISSÃO:JERUSALÉM,ALVO:ANTICRISTO Traduzidopor MariaEmíliadeOliveira UNITEDPRESS Estaediçãoépublicadasobcontratocom TyndaleHousePublishers,U.S.A. OriginalmentepublicadoeminglêscomoAssassins Copyright®1999TimLaHayeeJerryB.Jenkins. Todososdireitosreservados. LeftBehindéumatrademarkdaTyndaleHousePublishersInc. Copyright®2001EditoraUnitedPress Tradução:MariaEmiliadeOliveira Revisão: LiegeMariaMarucci JosemardeSouzaPinto JoãoGuimarães Supervisãoeditorialedeprodução:VeraK.Villar 1aediçãobrasileira:2001 DadosInternacionaisdeCatalogaçãonaPublicação(CIP) (CâmaraBrasileiradoLivro,SP,Brasil) Jenkins,JerryB. OsAssassinos/JerryB.Jenkins,TimLaHaye;TraduçãoMariaEmiliadeOliveira.—Campinas, SP:EditoraUnitedPress,2001. Títulooriginal:Assassins. ISBN85-243-0234-8 1.Ficçãonorte-americanaI.Jenkins,JerryB.II.Título01-0768CDD-813-5 Índicesparacatálogosistemático: 1.Ficção;século20:Literaturanorte-americana813 2.Século20:Ficção:Literaturanorte-americana813 PublicadonoBrasilcomadevidaautorizaçãoecomtodososdireitosreservadospela EDITORAUNITEDPRESSLTDA. RuaTaquaritinga,118,13.036-530 Campinas—SP Fone/Fax(0xx19)3278-3144 Visiteonossosite:www.unitedpress.com O COMANDO TRIBUTAÇÃO CAMINHA PERIGOSAMENTE AO ENCONTRO DOS QUATRO ASSASSINOS PREDITOS NA BÍBLIA. A vida do chefe da Fé Mundial Enigma Babilô nia está por um io. As duas testemunhas diante do Muro das Lamentaçõ es també m tê m suas vidas ameaçadas, à medida que o "tempo determinado" se aproxima. O anticristo sofrerá um ferimento mortal na cabeça, conforme indicamasprofecias. Enquanto um exé rcito sobrenatural de 200 milhõ es de cavaleiros demonı́acos extermina um terço da populaçã o restante, os membros do Comando Tributaçã o se preparam para viver comofugitivos... Rayford e o mais recente membro do Comando Tributaçã o sã o agredidos nos Estados Unidos pelos guardas de segurança da Comunidade Global... Mac e seu novo co-piloto sã o atacados a bordo do Condor 216 na Africa... Hattie é presa na Bé lgica... Rayford cai em uma armadilha na França, escapa por um triz de um fuzilamento e dos aviõ es de caça da Comunidade Global em Al Basrah e planeja uma forma de liquidar o anticristo. Nesse meiotempo,váriasoutraspessoasesforçam-separateromesmo"privilégio". Ahistó riamundialeasprofeciasentramemcon litoemJerusalé m,nomeiodoperı́ododa Tributação,eprovocamomaisexplosivodosepisódios. Tudo isso e muito mais num drama cheio de açã o e suspense que tem como palco o mundodosúltimosdiasecomodiretoroDeusquedirigeaHistória. Acompanhe os passos seguintes do eletrizante seriado daqueles que foram deixados para trás. O PERÍODO DA TRIBUTAÇÃO COMPLETA 38 MESES. O MUNDO CONTINUA A SOFRER OS DUROS GOLPES DO JULGAMENTO DIVINO, TAL A CEGUEIRA ESPIRITUAL DOS HOMENS, TOTALMENTE OBSTINADOS EM SEUS DESCAMINHOS! "E quando abriu os olhos, Tsion Ben-Judá pensou, a princípio, que estaria sonhando. Tomandocontadeseucampodevisão,dooutroladodavidraça,umimensoexércitodecavaleiros estava preparado para guerrear... Centenas e centenas de milhares, cavalgando, cavalgando. As cabeças dos cavalos assemelhavam-se a cabeças de leões, e eles expeliam fogo e fumaça pela boca... Em pleno dia, com o sol da primavera a pino, esse fenomenal exército parecia irado e determinado.Suascouraçascoloridasbrilhavam,esuasenormescavalgadurasmovimentavam-se fazendoumruídoestrondoso,ganhandovelocidadeepassandodotroteparaogalopeedogalope paraumacorridadesenfreada. Parecia que o tempo deles havia chegado... A cavalaria demoníaca, que só pouparia os escolhidos de Deus, disparou para atacar, deixando um rastro de terror e morte sobre toda a Terra..." Assassinos é o sexto livro sobre o drama dos que foram deixados para trá s no Arrebatamento.Oscincoprimeirostı́t ulosdasé riebateramrecordesderapidezemvendasna categoriadelivroscristãosdeficção.Oquintolivro,Apoliom,figurounaslistasdosmaisvendidos doNew York Times, Wall Street Journal, USA Today, Publishers Weekly, Dallas Morning News, ChicagoTribuneeoutros,bemcomonaslistasdossitesamazon.comebarnesandnoble.com. "Oscristãosdependemcadavezmaisdainternetparacomunicar-sesecretamente,ecresce entre eles aidéia de usar a violência como meio de lutar contra as forças malignas que tomam conta do mundo. Mas o mundo é atacado por gafanhotos demoníacos, uma praga divina enviada paradestruiraquelesquenãotêmoselode Deus na testa; essa praga dá aos cristãos um pouco mais de tempo para resolver suas crises pessoais, tudo isso descrito de maneira tão envolvente que prenderá a sua atenção, leitor, da primeira até a última página." Comentá rio dosite Amazon.comsobreApoliom. AoDr.JohnF.Walvoord que,pormaisde50anos, temajudadoamanteracesa atochadaprofecia O PERÍODO DA TRIBULAÇÃO COMPLETA 38 MESES OSCRENTES RayfordSteele: cerca de 45 anos de idade; ex-capitã o-aviador do 747 das Linhas Aé reas Pan-Continental; perdeu esposa e ilho no Arrebatamento; ex-piloto do potentado da Comunidade Global, Nicolae Carpathia; membro-fundador do Comando Tribulaçã o; tornou-se umfugitivointernacionaleagoraviveexiladonacasasecretaemMonteProspect,Illinois Cameron("Buck")Williams: pouco mais de 30 anos; ex-articulista sê nior doSemanário Global; ex-editor doSemanário Comunidade Global, de propriedade de Carpathia; membrofundador do Comando Tribulaçã o; editor da revista virtualAVerdade; fugitivo exilado na casa secreta ChloeSteeleWilliams:poucomaisde20anos;ex-alunadaUniversidadeStanford;perdeu amã eeoirmã onoArrebatamento; ilhadeRayford;esposadeBuck;mã edeKennyBruce,um bebêdedezmeses;presidentedaCooperativaInternacionaldeMercadorias,associaçãosecreta composta de crentes; membro-fundadora do Comando Tribulaçã o; fugitiva exilada na casa secreta Tsion Ben-Judá: cerca de 50 anos; ex-estudioso das doutrinas dos rabinos e estadista israelense; revelou sua conversã o a Cristo pela TV em um programa levado ao ar internacionalmente, o que provocou o assassinato de sua esposa e de dois ilhos adolescentes; fugiuparaosEstadosUnidos;professorelı́derespiritualdoComandoTribulaçã o;suaspregaçõ es diárias,viaInternet,alcançammaisdeumbilhãodepessoas;residenacasasecreta Dr.FloydCharles: cerca de 40 anos; ex-mé dico da Comunidade Global; exilado na casa secreta Mac McCullum: cerca de 60 anos; piloto de Nicolae Carpathia; reside no palá cio da ComunidadeGlobal,naNovaBabilônia David Hassid: cerca de 25 anos; diretor de compras/ embarque/recebimento de mercadoriasdaComunidadeGlobal;residenopaláciodaCG,naNovaBabilônia Leah Rose: cerca de 40 anos; enfermeira-chefe do Arthur Young Memorial Hospital, Palatine,Illinois;morasozinha Tyrola ("T") Mark Delanty: beirando os 40 anos; proprietá rio/diretor do Aeroporto de Palwaukee,Wheeling,Illinois Sr.eSra.Lukas(Laslos)Miklos:cercade45anos;magnatasdoramodemineraçã ode linhito;residemnaGrécia AbdullahSmith:30epoucosanos;ex-pilotodeaviõesdecaça;residenaJordânia OSINIMIGOS NicolaeCarpathia: cerca de 35 anos; ex-presidente da Romê nia; ex-secretá rio-geral da Organizaçã o das Naçõ es Unidas; autodesignado Potentado da Comunidade Global; reside no paláciodaCG,naNovaBabilônia Leon Fortunato: cerca de 50 anos; braço direito de Carpathia; supremo comandante; residenopaláciodaComunidadeGlobal,naNovaBabilônia Peter Mathews: beirando os 50 anos; ex-cardeal da arquidiocese de Cincinnati; autodesignadoSumoPontíficePeterII,chefedaFéMundialEnigmaBabilônia;residenoPalácio doTemplonaNovaBabilônia OSINDECISOS HattieDurham:30anos;ex-comissá riadebordodasLinhasAé reasPan-Continental;exassistentepessoaldeNicolaeCarpathia;residenacasasecreta Dr.ChaimRosenzweig:beirandoos70anos;botâ nicoeestadistaisraelense;descobridor da fó rmula que fez lorescer os desertos de Israel; recebeu o tı́t ulo de Homem do Ano pelo SemanárioGlobal;resideemJerusalém PRÓLOGO TrechosExtraídosdeApoliom Um grande nú m ero de igrejas nos lares havia surgido da noite para o dia, espontaneamente, organizadas por judeus convertidos, que faziam parte das 144.000 testemunhaseassumiramaposiçã odelı́derescristã os.Elestransmitiamensinamentosdiá rios, com base nos sermõ es e aulas virtuais do talentoso Tsion Ben-Judá . Dezenas de milhares de igrejas clandestinas nos lares, cuja existê ncia era de conhecimento de todos, inclusive da Fé Mundial Enigma Babilô nia, viam, diariamente, corajosos convertidos sendo admitidos em seu meio... Já havia muito tempo que Buck Williams transmitia anonimamente uma revista eletrônica,viaInternet,intituladaAVerdade,quepassariaaseroúnicomeiodedarvazãoaseu talentoparaescrever.Ironicamente,arevistaatraiuumnú m erodezvezesmaiordeleitoresdo que ele possuı́a noSemanário Comunidade Global. Buck preocupava-se com sua segurança, evidentemente,porémmaiscomadesuaesposaChloe... Nicolae Carpathia passou a recitar sua ladainha de realizaçõ es, discorrendo sobre a reconstruçã odascidades,estradaseaeroportos,até chegarà miraculosareconstruçã odeNova Babilônia,transformadaagoranacidademaisdeslumbrantequejáexistiunafacedaTerra. — Trata-se de uma obra-prima, e espero que você s a visitem o mais breve possı́vel — disseCarpathia. Elemencionouosistemadesaté litecelular-solar(Cel-Sol),quepermitiaqueaspessoasse comunicassempelotelefoneepelaInternet,independentementedehorá riooulocal.Tudoisso faziapartedainfra-estruturanecessáriaparaNicolaegovernaromundo... Chegaria o dia em que a cruz na testa seria algo muito signi icativo entre os santos da tribulaçã o. Até mesmo o simples gesto de apontar para o cé u atrairia a atençã o das forças inimigas. O problema era que també m chegaria o dia em que o povo do outro lado teria, de igual modo, uma marca, visı́vel a todos. De acordo com a Bı́blia, aqueles que nã o ostentassem a "marcadabesta" icariamimpedidosdecomprarouvenderqualquercoisa.Ograndenú m erode santosdatribulaçãoteriadeorganizarummercadoclandestinoparaconseguirsobreviver... O supremo comandante da Comunidade Global, Leon Fortunato, apresentou Sua Excelê ncia, o potentado Nicolae Carpathia, aos telespectadores do mundo inteiro. Tsion BenJudá advertira Rayford de que, em breve, os poderes sobrenaturais de Nicolae seriam evidenciadoseaté mesmocomcertoexagero,preparandooterrenoparaeleseautoproclamar deusduranteasegundametadedaTribulação... Gargalhadas ou brincadeiras haviam deixado de fazer parte da vida do Comando Tribulaçã o. O sofrimento era desgastante demais, pensava Rayford. Ele aguardava com ansiedade o dia em que Deus enxugaria as lá grimas dos olhos de seu povo, o dia em que nã o haveriamaisguerras... —Sintomuitacompaixã oporvocê —disseTsionaHattie.-Eugostariamuitoquevocê aceitasseJesus.—Orabinonãoconseguiuprosseguir. Hattiefranziuatesta,olhandofirmeparaele. — Perdoe-me — ele conseguiu dizer em voz baixa, depois de beber um pouco de á gua paratentarrecompor-se.Lá grimascomeçaramacorrerporseurosto.—Deusmeconcedeua graça de poder enxergá -la do jeito como Ele a vê ... uma jovem assustada, com raiva e desiludida,quetemsidousadaeabandonadapormuitagente.Deusaamacomumamorpuro. Certavez,Jesusolhouparaaspessoasqueocercavamedisse:"Jerusalé m,Jerusalé m,quematas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus ilhos, comoagalinhaajuntaosseuspintinhosdebaixodasasas,evó snã ooquisestes!"Srta.Durham, você conhece a verdade. Eu a ouvi dizer que conhece. E, mesmo assim, nã o está disposta a aceitá -la... Olho para você , uma jovem de delicada e rara beleza, e vejo o que a vida lhe fez. Gostaria muito que você tivesse paz. Penso no quanto você poderia fazer pelo Reino de Deus nestestemposperigososqueatravessamoseestouansiosoparaquefaçapartedenossafamı́lia. Receioquevocêestejaarriscandoavidapornãoentregá-laaDeusenãogostariadevê-lasofrer antesqueEleaalcancecomsuamisericórdia. A vida de Rayford como piloto de vô os comerciais parecia ter-se perdido no tempo. Era difı́c il acreditar que, pouco menos de trê s anos atrá s, ele era um marido comum e pai como outroqualquer,cujaú nicapreocupaçã ogiravaemtornodesaberquandoseriaseupró ximovô o eparaonde.Rayfordnã opodiaqueixar-sedenã oternadaimportanteparaocuparseutempo.E quantolhecustouchegaraesseponto!Eleentendiamuitobemaposiçã odeTsion.Sedirigiro ComandoTribulaçã oeraumatarefadifı́c ilparaumcidadã ocomumcomoRayford,muitomais complexaeraamissãodeliderar144.000testemunhasepregaraumbilhãodenovoscrentes... Buck adorava conversar com Tsion. Eles haviam atravessado muitos momentos difı́c eis juntos. De repente, Buck se deu conta de estar reclamando das complicaçõ es da gravidez de Chloe a um homem cuja esposa e ilhos haviam sido assassinados. Tsion, contudo, possuı́a sabedoriaeumavisãoclaradosproblemasdasoutraspessoas,esabiacomoacalmá-las... —Opró ximoJulgamentodasTrombetasserá osexto—disseBuck.—Oquevocê tema dizersobreele? Tsiondeuumlongosuspiro. —Opontofundamental,Cameron,é umexé rcito,compostode200milhõ esdecavaleiros, queexterminaráaterçapartedapopulaçãodomundo. Bucknãosabiaoquedizer.Eleleraaprofecia,masnuncahaviaassimiladosuaessência. —Quepalavradeâ nimovocê dariaaopovodepoisquetodossouberemoqueterã opela frente?—perguntouBuck. — Direi apenas que todo o sofrimento pelo qual passamos e todo o horror que presenciamospassarãoaserinsignificantesdiantedopróximojulgamento. —Eosseguintesserãopioresainda? —Edifı́c ilimaginarmos,nã o?Apenasaquartapartedaspessoasqueforamdeixadaspara trá snoArrebatamentosobreviverá até odiadoGloriosoAparecimento,Cameron.Eunã otenho medo da morte, mas peço a Deus todos os dias que me conceda o privilé gio de vê -lo retornar para estabelecer seu Reino na Terra. Se Ele me levar antes disso, estarei reunido com minha famíliaemeusamigos,mas,oh!comoserágrandeaalegriadeestaraquiquandoJesuschegar! "Oprimeiroaipassou.Eisque,depoisdestascoisas,vêmaindadoisais. Osextoanjotocouatrombeta,eouviumavozprocedentedosquatroâ ngulosdoaltarde ouroqueseencontranapresençadeDeus,dizendoaosextoanjo,omesmoquetematrombeta: SoltaosquatroanjosqueseencontramatadosjuntoaogranderioEufrates. Foram,entã o,soltososquatroanjosqueseachavampreparadosparaahora,odia,omê s eoano..."Apocalipse9.12-15 CAPÍTULO1 Indignação. NãohaviaoutrapalavraparadescreverosentimentodeRayford. Elesabiaquetinhamuitosmotivosparaseragradecido.NemIrene—suaprimeiraesposa durante21anos—nemAmanda—suasegundaesposadurantemenosdetrê smeses—teriam de passar por mais sofrimentos neste mundo. Raymie també m estava no cé u. Chloe e o bebê Kennygozavamdeboasaúde. Istodeveriaserosu iciente.Mesmoassim,apalavraesgotamento,tã ousadaatualmente, passaraafazerpartedavidadeRayford.Elesaiuimpulsivamentedacasasecreta,emumafria manhã de segunda-feira do mê s de maio, sem se importar em pegar um agasalho. Seu mau humornãotinhanadaavercomaspessoasquemoravamnacasasecreta. Hattiecontinuavaaagirdemaneiraegoı́sta,choramingandopornã opodersairdalie,ao mesmotempo,recuperandoasforças. — Você acha que nã o vou conseguir — ela lhe dissera durante uma das sessõ es de exercíciosabdominais.—Vocêtemamaniademesubestimar. —Nãotenhodúvidadequevocêpodecometeraloucuradetentar. —Masvocênãomelevariaatéládeaviãopornadadestemundo. —Dejeitonenhum. Rayford caminhou com di iculdade pelo terreno acidentado até aproximar-se de uma ileiradeá rvoresqueseparavaoquerestaradacasasecretadosescombrosdascasasvizinhas. Ele parou e esquadrinhou o horizonte. Sentir raiva era uma coisa. Ser idiota era outra completamentediferente.Nã ofazianenhumsentidorevelaroesconderijodelessó pararespirar umpoucodearfresco. Apesardenã oavistarnadanemningué m,procurou icarmaispertodasá rvoresdoquedo terreno descampado. Que diferença de um ano e meio atrá s! Aquela á rea toda havia sido, um dia, um bairro que se estendia por muitos quilô m etros. Agora nã o passava de uma porçã o de montes de entulho produzidos pelo terremoto, um local abandonado adequado a fugitivos e necessitados. Rayford era um fugitivo havia meses. Em breve, entraria na categoria dos necessitados. Umafú riasanguiná riaameaçavadevorá -lo.Seuraciocı́niofrioecalculistacon litavacom suasemoçõ es.Eleconheciaoutraspessoas—sim,Hattieinclusive—quesentiamumimpulso igualaoseu,ouaté maior.Mesmoassim,RayfordimploravaaDeusquelheconcedesseaquela oportunidade.Elequeriaseroautordaqueleato.Acreditavaqueesseeraoseudestino. Rayford balançou a cabeça de um lado para o outro e encostou-se em uma á rvore, cocando as costas em sua grossa casca. Onde estavam o aroma da grama recé m-aparada e a algazarra das crianças brincando no quintal? Nada era como antes. Ele fechou os olhos e repassou seu plano mais uma vez. Entrar disfarçado no Oriente Mé dio. Posicionar-se no lugar certo, no momento certo. Ser a arma de Deus, o instrumento da morte. Matar Nicolae Carpathia. DavidHassidincumbiu-sedeacompanharohelicópterodaComunidadeGlobalquepegaria umacargaenormedecomputadoresdestinadaaopalá ciodopotentado.Metadedopessoalda CG que trabalhava no departamento de Hassid estava encarregada de passar as pró ximas semanas realizando uma minuciosa busca para encontrar o local de onde partiam os ensinamentosdiáriosdeTsionearevistaeletrônicadeBucktransmitidaviaInternet. Opotentadotinhapressaequeriasaberemquantotempooscomputadorespoderiamser instalados. — Podemos calcular meio dia para desembarcarmos a carga, colocá -la no helicó ptero e trazê -la para cá diretamente do aeroporto — dissera David a Carpathia. — Depois de desembarcá-lanovamente,levaremosmaisunsdoisdiasparaacomodaçãoeinstalação. Carpathia começou a estalar os dedos assim que a palavra "meio dia" foi proferida por David. —Queroquesejamaisrápido—eledisse.—Existemcondiçõesdereduziressetempo? —Ocustoseriabemmaisalto,masosenhorpoderia... —Nãoestoupreocupadocomcustos,Sr.Hassid.Querorapidez.Rapidez. —Ohelicó pteropoderiapegaracargatodaedeixá -ladoladodeforadosetordeentrada demercadorias. —Isso—disseCarpathia.—Sim,éisso. —Eugostariadesupervisionarpessoalmentearetiradaeaentrega. Carpathia,quevoltaraaconcentrar-seemoutroassunto,dispensouDavidcomumaceno. —Claro—eledisse.—Façacomoquiser. DavidligouparaMacMcCullumpelotelefonesigiloso. —Funcionou—eledisse. —Quandovamoslevantarvôo? —Omaistardepossível.Temosdedeixartransparecerquehouveumerro. Macdeuumarisadinha. —Vocêconseguiuumjeitodefazeromaterialserentreguenapistaerrada? —Claro.Eudisseaelesumacoisa,enosdocumentosconstaoutra.Elesvã ofazeroque ouviram. Os documentos vã o servir de prova a meu favor perante os dois trapalhõ es: Abbott e Costello(CarpathiaeFortunato). —Fortunatocontinuacontrolandovocê? —Comosempre,masnemelenemNicolaesuspeitamdenada.Osdoistambé madoram você,Mac. —Eeunãosei?Precisamosfazerestacoisavoaratéondeelanospossalevar. Rayfordnã otinhacoragemdediscutirseussentimentoscomTsion.Orabinoestavamuito atarefado,eRayfordsabiaoqueelediria:"Deustemseusplanos.Deixetudonasmãosdele." Poré m,quemalhaveriaseRayforddesseumaajuda?Eleestavadisposto.Tinhacondiçõ es defazê -lo.Poderiacustar-lheavida,masedaı́?Elesereuniriaà suaesposae ilho.Maistarde, outrossereuniriamaele. Rayfordsabiaqueseuplanoeraumaloucura.Elenuncasedeixaralevarporsentimentos. Talvezessamudançativesseocorridoporeleestarforadecirculação,isolado,sempoderagir.O medo e a tensã o que sentiu durante os meses em que trabalhou como piloto de Carpathia valeram a pena, porque a aproximaçã o que teve com aquele homem havia sido muito ú t il ao ComandoTribulação. Operigoqueeleenfrentavaagoranã oeraomesmo,comopilotoprincipaldaCooperativa Internacional de Mercadorias, ú nica entidade capaz de sustentar materialmente os crentes quandoaliberdadedecompraevendalhesfossevetada.Porora,Rayfordestavaapenasfazendo contatos, programando roteiros, trabalhando para sua ilha. Ele precisava permanecer no anonimatoeaprenderemquemcon iar.Asituaçã onã oeramaiscomoantes.Elenã osesentia tãonecessárioàcausadeDeus. MaspoderiaseroautordoassassinatodeCarpathia! Que brincadeira era aquela? O assassino de Carpathia seria sentenciado à morte sem julgamento.EseCarpathiafossedefatooanticristo—comomuitaspessoasacreditavam,com exceçã o de seus seguidores -, ele nã o permaneceria morto. O homicı́dio só serviria para prejudicarRayford,nã oCarpathia.Nicolaevoltariaà cenamaisheró icodoquenunca.Poré m,o fato de Rayford saber que o assassinato deveria ocorrer de qualquer maneira e que ele pró prio tinhacondiçõesdecometê-lo,dava-lheummotivoparaviver.Etambémparamorrer. Seu neto, Kenny Bruce, lhe roubara o coraçã o, mas o nome da criança fazia Rayford lembrar-se das perdas dolorosas que sofrerá . Ken Ritz lhe deu provas de ter sido um amigo de verdade. Rayford aprendeu muito com Bruce Barnes, seu primeiro mentor, apó s ter recebido dasmãosdeleovideoteipequeofezaceitaraCristo. Entã o era isso! Eram aquelas perdas que haviam produzido tanta ira, tanta indignaçã o dentro dele. Rayford sabia que Carpathia nã o passava de um simples fantoche nas mã os de Sataná s, fato este que fazia parte do plano de Deus havia muitos sé culos. Mas o homem tinha provocado tantas tragé dias, causado tantas destruiçõ es, fomentado tanto sofrimento, que Rayfordnãopodiadeixardeodiá-lo. Rayford nã o queria permanecer insensı́vel à s catá strofes, mortes e devastaçõ es que passaram a ser fatos comuns. Ele queria continuar vivo, sentindo-se agredido, ofendido. A condiçã odevida,quejá eramá ,setornariacadavezpior,eocaossemultiplicariadiaapó sdia. Tsiondisseraqueasituaçã oatingiriaopontoculminantenametadedosseteanosdetribulaçã o, daliaquatromeses.Aseguir,viriaaGrandeTribulação. Rayfordgostariamuitodesobreviveraoperı́odointeirodosseteanosparatestemunharo gloriosoaparecimentodeCristo,quandoEleestabeleceriaseureinodemilanosnaTerra,mas quaiseramasprobabilidades?Tsionensinaraque,quandomuito,apenasumquartodapopulação deixada para trá s no Arrebatamento sobreviveria até o im, e que aqueles que sobrevivessem desejariamnãotertidoessaoportunidade. Rayford tentou orar. Será que Deus responderia à sua oraçã o, lhe daria permissã o, esboçaria o plano em sua mente? Mas ele sabia que sua estraté gia era apenas uma forma de sentir-sevivo.Mesmoassim,elaoconsumiapordentro,dando-lhemotivoatépararespirar. Elenã otinhaoutrarazã oparaviver.Amavasua ilha,seugenroeseuneto,massentia-se responsá vel por Chloe nã o ter sido arrebatada. A ú nica famı́lia que lhe restara enfrentaria o mesmomundoqueele.Quefuturoosaguardava?Elenã oqueriapensarnisso.Só queriapensar nasarmasàsquaiseleteriaacessoeemcomousá-lasnomomentocerto. PoucoantesdoanoitecernaNovaBabilônia,Davidrecebeuumtelefonemadogerenteque controlavaasrotasdosaviões. —Opilotoquersaberseeledevepousarnapistaouno... —Eujálhedeiasinstruções!Digaaeleparacumprirasordensrecebidas! —Senhor,noavisodeembarqueconsta"pistadopalá cio".Maseleachaqueosenhorlhe disseparapousarnoAeroportodaNovaBabilônia. Davidfezumapausacomoseestivessezangado. —Vocêentendeuoqueeudisse? —Osenhordisseaeroporto,mas... —Obrigado!Qualéohorárioprevistodachegada? —Trintaminutosatéoaeroporto.Quarentaecincoatéapista.Sóentãovoupoder... DavidbateuotelefoneeligouparaMac.Meiahoradepois,elesestavamsentadosdentro do helicó ptero na pista do palá cio. Evidentemente, o aviã o que transportava os computadores nãoseencontravaali.Davidligouparaoaeroporto. —Digaaopilotoondeestamos! —Cara—disseMac-,você pô stodomundoacorrerdeumladoparaooutro,semsaber oquefazer. —Você achaqueeuiacolocaroscomputadoresnovosnafrentedosmelhoresté cnicosde informáticadomundo,vasculhandotudoparaencontraracasasecreta? Mac sintonizou o rá dio na freqü ência do aeroporto e ouviu a instruçã o transmitida ao pilotodoaviã odecargaparaqueelepousassenapistadopalá cio.EleolhouparaDavidcomar deindagação. —Paraoaeroporto,jóqueivoador—disseDavid. —Vamoscruzarcomelenoar. —Esperoquesim. Eelescruzaram.Finalmente,Davidtevepenadopiloto,garantindo-lhequeeleeMacnã o sairiamdali,einstruiu-oavoltar. Um guindaste ajudou a descarregar os computadores, e Mac manobrou o helicó ptero na posiçã o correta para erguer a carga. O encarregado da carga engatou as caixas a um cabo de aço, disse a Mac que o helicó ptero tinha tamanho e força su icientes para transportar os computadores,einstruiu-osobrecomodescarregá-los. —Osenhortemautorizaçãoparalivrar-sedacargaemcasodeemergência—eledisse-, masnãodeveráterproblemas. MacagradeceueolhouderelanceparaDavid. — Você nã o teria coragem de... — ele disse, balançando a cabeça de um lado para o outro. —Claroquetenho.Estaalavancaaqui?Podedeixarqueeutomocontadela. CAPÍTULO2 Pouco antes do meio-dia, Buck sentou-se diante de seu computador no amplo abrigo localizadodebaixodacasasecreta.Ele,seusogroeoDr.Charleshaviamfeitoamaiorpartedos trabalhosdeescavação.ODr.Ben-Judáseofereceraparaajudar,maseleeracomprovadamente um homem talhado para obras intelectuais e para passar a maior parte dos dias com os olhos grudadosdiantedateladocomputador. BuckeosoutrosoincentivaramaseconcentraremseuimportantetrabalhoviaInternet, doutrinandograndenú m erodenovoscrentesefazendoapelosparaqueoutrosseconvertessem. Tsion deixara claro que estava se sentindo um folgado por deixá -los fazer o trabalho pesado enquantoeleseocupavadotrabalhosuaveemumdoscô m odosdopavimentosuperior.Durante dias,insistiraparaajudarosoutrosacavar,aensacaraterraeatransportaroentulhodoporã o paraosterrenosvizinhos.Seuscompanheirosdisseram-lhequepoderiamprosseguirsemaajuda dele,queolocalestavaatravancadodemaisparacomportarquatro homens trabalhando, que o ministé rio de Tsion era muito importante para ser retardado porcausadeumatarefabraçal. Bucklembrou-se,comumsorriso,doqueRayforddisseraaTsion: — Você é o mais velho, nosso pastor, nosso mentor, nosso intelectual, mas, com a autoridade que meu cargo me confere por ser o mais antigo desta corporaçã o, sou eu quem comandaatropa. Tsionendireitaraocorponoporã oabafado, icandoemposiçã odesentidoe ingindouma expressãodemedo. —Sim,senhor—eledisse.—Qualéminhamissão? —Permanecerlongedaqui,meucaro.Você temasmã osmaciasdeumhomemculto.E claroquenóstambémtemos,masvocêestásobrandoaqui. — Ora, Rayford — disse Tsion enxugando a testa com a manga da camisa — , pare de caçoardemim.Sóestouquerendoajudar. Buck e o mé dico pararam de trabalhar e continuaram a brincadeira que Rayford iniciara comTsion. — Dr. Ben-Judá — disse Floyd Charles -, todos nó s achamos que o senhor está perdendo tempo,oumelhor, nósestamosgastandoseutempopermitindoqueosenhortrabalheaqui.Por favor,tranqüilizenossasconsciênciasenosdeixeterminarestetrabalhosozinhos. FoiavezdeRayfordfingir-seofendido. —Ondeficaminhaautoridade?—eledisse.—Eudeiumaordem,eodoutoraindatemde convencê-loaobedecer! — Cavalheiros, percebi que você s estã o falando sé rio — disse Tsion, acentuando mais aindaseusotaqueisraelense. —Finalmente!—disseRayfordlevantandoasduasmãos.-Agoraeleentendeu. Tsion subiu a escada, resmungando "continuo a achar que nã o está certo", poré m nunca maistentaraajudarnasescavações. Buck icou impressionado ao ver o entrosamento que havia entre eles trê s. Rayford era o maisastutotecnicamentefalando;Buck,à svezes,eraanalı́t icodemaiseFloyd—apesardeter diplomademé dico—pareciacontentar-seemfazeroquelhemandavam.Buckbrincavacom eleporisso,dizendoquesempreimaginouqueosmé dicossabiamtudo.Floydnã orevidava,mas també mnã oachavagraçanoqueBuckdizia.Naverdade,Floyddemonstravaseraquelequese cansava primeiro, mas nunca fazia corpo mole. Ele apenas parava um pouco para recuperar o fôlego,passavaasmãospeloscabelosecocavaosolhos. Rayford esquematizava o trabalho diá rio por meio do esboço de uma planta baseada em informaçõ escolhidasdeduasfontes.Aprimeiravinhadasanotaçõ esemcadernosespiraisfeitas peloprimeiroproprietá riodolocal,DonnyMoore,quemorreraesmagadosobosescombrosda igreja durante o grande terremoto da ira do Cordeiro ocorrido quase 18 meses antes. Buck e Tsion encontraram o corpo da esposa de Donny na sala que desabara no fundo da casa, onde o casalcostumavatomarocafédamanhã. Aparentemente,Donnyhaviafeitoplanosparaofuturo,imaginandoque,umdia,eleesua esposa teriam de viver isolados do mundo. Quer fosse por temer uma precipitaçã o radioativa provocada por explosã o nuclear, quer fosse por precisar esconder-se das forças da Comunidade Global, ele havia elaborado um plano muito arrojado. A ampliaçã o do pequeno e ú m ido porã o nos fundos da casa estendia-se até o outro lado da casa geminada, chegando até parte do quintal. A outra fonte que Rayford consultara foi o plano original de Ken Ritz, morto há alguns meses, para dar um toque mais aperfeiçoado ao local. Ken enganara a todos com sua imagem de piloto simpló rio e rú stico. Na verdade, ele era diplomado pela Escola de Economia de Londres, possuı́a autorizaçã o para pilotar aviõ es a jato e — conforme mostravam os projetos que desenhou sobre o porã o — provou ser um arquiteto autodidata. Ken havia elaborado um plano mais detalhado para o processo de escavaçã o, deslocara as vigas de sustentaçã o projetadasporDonnyeidealizaraumacentraldecomunicaçõ es.Quandotudoestivessepronto, o abrigo nã o seria detectado por ningué m. Os vá rios comunicadores via saté lite, os transmissoresereceptorescelulareseasconexõ esentrecomputadoresseriamacessadoscom facilidade. Enquanto Buck trabalhava com Rayford e o mé dico, e Tsion escrevia suas magistrais missivasdiá riasparasuaaudiê nciaglobal,ChloeeHattieocupavam-sedeseusafazeres.Hattie aproveitava cada momento livre, esforçando-se furiosamente para recuperar a saú de e o peso queperdera.Buckpreocupava-se,imaginandoqueelaestivessedeterminadaaaprontaralguma coisa.Normalmente,elaestava.Ninguémdogruposabiaaocertoseelajánãohaviadivulgadoo local da casa secreta, com suas tentativas para viajar a qualquer custo para a Europa alguns mesesatrá s.Até aquelemomento,ningué mapareceraparabisbilhotarolocal,masporquanto tempoaquelesossegoduraria? Chloe passava a maior parte do tempo cuidando do bebê Kenny. Quando nã o estava tirando um cochilo para tentar recuperar as forças, ela usava seus momentos livres para trabalhar via Internet com um nú m ero cada vez maior de fornecedores e distribuidores da Cooperativa de Mercadorias. Os crentes já estavam começando a usar esse tipo de comé rcio entresi,prevendodiastenebrososemqueseriamproibidosdecomprarevender. Apressã odevivercomoutraspessoas,aliadaaotrabalhopesado,semmencionaromedo do futuro, fazia parte constante da vida de Buck. Ele se sentia grato por poder escrever seus artigos,ajudarRayfordeomé diconoabrigoeterumpoucodetempoparapassarcomChloee Kenny,masseusdiaslhepareciamlongosdemais.Osú nicosmomentosqueeleeChloetinham parapassarasó serano inaldodia,quandoambosmalconseguiam icardeolhosabertospara conversar.Obebê dormianoquartodeles.ApesardeKennynã operturbarosdemaismoradores dacasa,BuckeChloeacordavamcomfreqüênciaànoiteparacuidardele. Certamadrugadaemquenã oconseguiapegarnosono,Buckdeitou-sedecostasnacama, satisfeito por ouvir a respiraçã o regular de Chloe, que dormia profundamente a seu lado. Ele estavaimaginandocomomelhorarae iciê nciadoComandoTribulaçã o,desejandodedicarmais desimesmocomofaziamosoutrosintegrantesdogrupo.Desdeoinı́c io,quandooComandose compunha de apenas quatro membros — Bruce Barnes, Rayford, Chloe e ele pró prio -, Buck sentiu que fazia parte de um trabalho fundamental, grandioso. Da mesma forma que os novos crentesquesurgiramapósoArrebatamento,oComandoTribulaçãoassumiraocompromissode ganhar almas para Cristo, fazer oposiçã o ao anticristo e sobreviver até a volta de Jesus, que ocorreriadaliapoucomaisdetrêsanosemeio. Tsion, o homem que Deus colocara no grupo para substituir Bruce, era um bem precioso quenecessitavaserprotegidoacimadetudo.Seuconhecimentoepaixã opelascoisasdeDeus, aliadosà suahabilidadedecomunicar-secompessoasleigasnoassunto,transformaram-noem inimigo nú m ero um de Nicolae Carpathia, sem contar as duas testemunhas do Muro das Lamentações,quecontinuavamaatormentarosincréduloscompragasejulgamentos. Chloe o surpreendia com sua habilidade para dirigir uma empresa internacional e, ao mesmo tempo, para tomar conta do bebê . O mé dico provara ser uma dá diva de Deus por ter salvoavidadeHattieecuidardasaúdedorestantedopessoal.Hattieeraaúnicaincrédula.Seu egoísmoalevavaapassaramaiorpartedotempocuidandodesimesma. MasamaiorpreocupaçãodeBuckeracomRayford.Ultimamente,seusogroestavamuito mudado. Parecia revoltado, nã o tinha paciê ncia com Hattie e, geralmente, perdia-se em pensamentos, com o rosto marcado pelo desespero. Rayford també m começara a ausentar-se dacasa,caminhandoaesmonomeiododia.Bucksabiaqueseusogroeraumhomemsensato, mas gostaria que algué m pudesse ajudá -lo. Ele havia pedido a Tsion que interferisse, mas o rabinolhedisse: —Ocapitã oSteelecostumarecorreramimquandodesejarevelaralgumacoisa.Nã ome sintoàvontadeparapuxarassuntosdenaturezapessoalcomele. BuckpediraaopiniãodeFloyd. —Eleé meumentor,enã oocontrá rio—disseraFloyd.-Conversocomelequandotenho problemas;nãovouforçá-loacontar-meosseus. Chloetambémnãoquisseintrometer. — Buck, ele é um pai tradicional, à moda antiga. Costuma me dar todos os tipos de conselho,mesmoquandonãopeço,maseunãomeatreveriaatentarfazê-loabrir-secomigo. —Masvocêestávendoqueeleestácomproblemas,nãoé? — Claro. O que a gente poderia esperar? Estamos todos confusos demais. Isso é maneira de viver? Nã o podemos sair daqui à luz do dia, a nã o ser para ir de vez em quando até Palwaukee.Mesmoassim,temosdeusarnomesfalsoseestarsemprepreocupadosparaquenão descubramnossoesconderijo. OscompanheirosdeBucktinhammotivossuficientesparanãoinquirirRayford.Essatarefa caberiaaBuck.Ah!quealegria...,elepensou. Sentado no banco de passageiros do Helicó ptero Um da CG, David Hassid observava, ao ladodeMacMcCullum,oqueestavaacontecendo.Atripulaçã odeterradoAeroportodaNova Babilô nia havia engatado um grosso cabo de aço que ia do helicó ptero até as trê s caixas amarradas entre si que continham 144 computadores. O chefe da tripulaçã o fez um sinal para que Mac começasse a subir devagar até que o cabo icasse completamente esticado. Em seguida,MaclevantouvôoparalevaracargaaopaláciodaComunidadeGlobal. —Nã ovaiacontecernadacomascaixas—disseMac-,anã oserquevocê toquenaquela alavanca.Vocênãofariaisso,certo? — Para atrasar meus funcioná rios de encontrar o local de transmissã o de Tsion, Buck e Chloe?Claroquesim,seestafosseaúnicamaneira. —Se? — Vamos, Mac. Já é tempo de você me conhecer melhor. Acha que eu jogaria no lixo aquelescomputadores?Possoterumterçodesuaidade,mas... —Ei!Nemtanto. — Tudo bem, um pouco menos da metade, mas acredite em mim. Você acha que o númerodecomputadoresqueencomendamosfoiporacaso? Maclevantouamãoeapertouobotãodeseurádiotransmissor. —HelicópteroUmdaCGparaatorredopalácio,câmbio. —Torrefalando,Um,prossiga. —Chegaremosemtrêsminutos,câmbio. —Positivo,desligo. Macvirou-separaDavid. —Jáseiporquevocêfezumpedidotãogrande.Umparacadamiltestemunhas. —Nãopenseiemreparti-losdestaforma,masnãovoujogá-losnodeserto. — Mas també m eu nã o vou descarregá -los no palá cio, vou? David sorriu e balançou a cabeçadizendoquenão.Da posiçã o em que estavam, ele avistava o imenso palá cio. Edifı́c ios que se espalhavam por quilô m etrosdeextensã ocercavamoexuberantecastelo—queoutronomepoderiaserdadoa ele? — construı́do por Carpathia em homenagem a si mesmo. Ali havia todo tipo de conforto, com milhares de empregados para atender a cada capricho de Carpathia. David tirou seu telefonesigilosodobolsoediscouumnúmero. — Cabo A. Christopher — ele disse ao telefone. — Diretor Hassid chamando. — David cobriuofonecomamãoedirigiu-seaMac.—OnovochefedecargasnoCondor. —Euoconheço? David encolheu os ombros, movimentou a cabeça negativamente e voltou a falar ao telefone. —Sim,caboChristopher.OcompartimentodoCondorestá livre?...Excelente.Prepare-se para nos receber... Bem, nã o posso fazer nada, cabo. Você pode falar com o Departamento de Pessoal,masentendoquenãohánadaquevocêpossafazer. Davidafastouotelefonedorostoedesligou-o,dizendo: —Bateramotelefonenaminhacara. —Ningué mgostadeserresponsá velpelacargado216-disseMac.—Quasenã ohá nada parafazer.Vocêconfianessesujeito? —Nãotenhoescolha—respondeuDavid. Buckhaviatransferidotemporariamenteseucomputadorparaamesadacozinhaeestava digitando um artigo para sua revistaA Verdade quando Rayford retornou de sua caminhada matinal. —Ei—disseBuck. Rayfordacenoucomacabeçaeparounotopodaescadaquedavaacessoaoporã o.Buck quasedesistiudeseuintento. —Qualéaprogramaçãoparahoje,Ray? — A mesma de sempre — resmungou Rayford. — Temos de começar a levantar as paredes do abrigo. E depois temos de deixá -lo invisı́vel. Nã o pode haver nenhuma pista. Onde estáFloyd? —Eunãoovi.Hattieestáno... — No outro lado da casa, claro. Sem dú vida treinando para uma maratona. Ela vai levar todosnósàmorte. —Ei,pai—disseBuck—tenteverascoisaspeloladopositivo. Rayfordnãolhedeuatenção. —Ondeestáorestodopessoal?—eleperguntou. — Tsion está lá em cima. Chloe está trabalhando no computador na sala de visitas, e Kennyestádormindo.EujálhedisseondeHattieestá.Floydausentou-sesempermissão.Talvez eleestejanoporão,maseunãoovidescer. —Nãodigaqueeleseausentousempermissão,Buck.Nãoacheigraça. Rayfordnãotinhaocostumedeseragressivocomele,eBucknãosabiacomoreagir. — Eu só quis dizer que ele nã o está por aqui, Ray. A verdade é que ultimamente ele parecenãoestarbem,eontemseuaspectoerahorrível.Talvezeleestejadormindo. —Atéomeio-dia?Oqueestáhavendocomele? —Viqueseusolhosestãoumpoucoamarelados. —Eunãonoteinada. —Láembaixoémuitoescuro. —Ecomovocêviu? —Sópercebiissoontemànoite.Chegueiafazerumcomentáriocomele. —Eoqueeledisse? — Fez uma brincadeira dizendo que os gansos selvagens sempre acham seus irmã os estranhos.Eunãoquisdizermaisnada. —Omédicoéele—disseRayford.—Deixequeelecuidedesimesmo. Aquele, pensou Buck, era o momento ideal. Ele poderia dizer a Rayford que estava estranhandoseumododeser.MasomomentopassouquandoRayfordpartiuparaaofensiva. —Qualéasuaprogramação,Buck?Trabalharnarevistaounoabrigo? —Vocêéquemmanda,Ray.Oqueeudevofazer? —Eudiriaqueémelhorvocêtrabalharnoabrigo,masfaçaoquequiser. Bucklevantou-se. Macpousoudelicadamenteascaixasnopavimentodoladolestedohangarqueabrigavao Condor216.Aportadohangarestavaaberta,deondesepodiaavistaroimensocompartimento de carga do Condor. David saltou do helicó ptero antes que as hé lices parassem de funcionar e apressou-se para desatrelar a carga do cabo de aço. Do lado de fora do hangar, apareceu uma empilhadeira que puxou a carga, inclinando-a levemente em cı́rculo até colocá -la dentro do hangar.QuandoMacaproximou-sedeDavideambosfecharamaportadohangar,ooperadorda empilhadeira já havia fechado o compartimento de carga do Condor e estava conduzindo a empilhadeiraparaocanto. — Cabo Christopher! — gritou David, e o cabo, que estava a uns 30 metros de distâ ncia, virou-se.—Parasuasala,já! —Elenã oparecianadasatisfeito—disseMacenquantoamboscaminhavamemdireçã o ao escritó rio de paredes de vidro dentro do hangar. — Nã o cumprimentou, nã o reagiu. Demonstroumávontade.Vocêvaiterproblemaspelafrente? —Ocaboémeusubordinado.Soueuquemdáascartas. —David,você precisarespeitarparaserrespeitado.Enã opodemoscon iaremningué m. Vocênãovaiquererqueumdeseusprincipaisfuncionários... — Con ie em mim, Mac. Está tudo sob controle. Algué m havia mudado o nome que constavanasalavizinhaàdeMac:"CCCCC." —Oquesignificaisto?—perguntouMac. —CaboChristopher,ChefedeCargadoCondor. —Oraessa!—disseMac. David fez um gesto para que Mac entrasse com ele na sala do cabo. Depois de fechar a porta,elesesentouatrásdamesaeapontouumacadeiraparaMac.Opilotopareciarelutante. —Oqueestáhavendo?—perguntouDavid. —Eassimquevocêtrataumsubordinado? Davidcolocouospésemcimadamesa,assentiucomacabeçaedisse: —Principalmenteumnovato.Eleprecisasaberqueméochefe. —Euaprendique,quandoagenteusaapalavrachefediantedeumsubordinado,é sinalde quejáperdeuaautoridade. Davidencolheuosombros. — Isso era no tempo da Idade Mé dia — ele disse. — Em tempos de desespero, medidas desesperadas... O ruı́do de passos do lado de fora da sala cessou, e algué m girou a maçaneta da porta. Davidgritou: —Esperoquevocêbatanaportadasalaondeseencontramseuchefeeseupiloto,cabo. Aportafoiabertaalgunscentímetros. —Fecheaportanovamenteebata,cabo!—gritouDavid,comasmã osatrá sdacabeça, semtirarospésdecimadamesa. Aportafoifechadacomumpoucodeforça.Depoisdeumalongapausa,elesouviramtrê s batidassecasnaporta.Macbalançounegativamenteacabeça. —Atéasbatidasdessesujeitosãosarcásticas—elesussurrou.—Masvocêmereceisso... —Entre—disseDavid. Mac arrastou a cadeira e levantou-se empertigando o corpo diante da presença de uma jovemtrajandouniformedeserviço.Seuscabelosescuroscortadosrentes,quasecomoosdeum homem, apareciam por baixo do boné . Ela era elegante, tinha olhos grandes e escuros, dentes perfeitosepeleimpecável. Mactirourapidamenteoquepe.—Madame. — Pare com isso, capitã o — ela disse, dirigindo-se em seguida a David com ar de reprovação.—Seráquesouobrigadaabaterparaentraremminhasala? Davidpermaneceunamesmaposição. —Sente-se,Mac—eledisse. —Sódepoisqueadamasesentar—disseMac. — Eu nã o estou dando permissã o para que ela se sente -retrucou David, e a cabo Christopher fez um gesto para que Mac se sentasse. — Capitã o Mac McCullum, esta é a cabo AnnieChristopher.Annie,esteéMac. Macfezmençãodelevantar-senovamente,masAnnieoimpediu,estendendo-lheamão. —Nã ohá necessidade,capitã o.Seiquemvocê é ,eseumachismodaIdadedaPedra icou evidente.Sevamostrabalharjuntos,paredemetratarcomoseeufosseumadondoca. MacolhouparaelaedepoisparaDavid. —Talvezvocêatratedojeitoqueelamerece—eledisse.Davidempinouacabeça. —Conformevocê disse,Mac,agentenuncasabeemquempodecon iar.Equantoaesta sala, cabo, saiba que tudo o que é seu també m é meu enquanto você estiver sob o meu comando.Esteespaçolhefoidestinadoparafacilitaroqueeuvoulheordenar.Entendido? —Comtodaclareza. — Cabo, eu nã o sou militar, mas sei que um subordinado nã o pode icar com a cabeça cobertanapresençadeseusuperior. Annie Christopher deu um longo suspiro e curvou os ombros enquanto tirava o boné . Ela passou a mã o pelos cabelos curtos, caminhou até a parede divisó ria de vidro entre a sala e o restantedohangarefechouaspersianas. —Oquevocê está fazendo?—perguntouDavid. — Nã o há ningué m lá fora e eu nã o lhe deipermissãopara... — Ora, vamos, diretor Hassid. Desde quando eu preciso de sua permissã o para fazer algumacoisa? David tirou os pé s da mesa e sentou-se irme na cadeira assim que Annie se aproximou dele.—Paradizeraverdade,precisasim. Eleabriuosbraços,eelasentou-seemseucolo. —Comovai,meuamor?—eladisse. —Euestouótimo,meubem,masachoqueMacestáprestesaterumataquecardíaco. Macsentou-senabeiradacadeiraeinclinou-separaafrente,comoscotovelosapoiados nosjoelhos. —Seusengraçadinhos!—eledisse.—Comlicença,Srta.Christopher,masprecisoverseu selonatesta. — As ordens — ela disse, inclinando-se por cima da mesa para que ele pudesse enxergar melhor.—Davideeutambémfizemosissonodiaemquenosconhecemos. Mac segurou a cabeça de Annie por trá s com uma das mã os e passou o polegar da outra mã o no selo da testa dela. Em seguida, segurou o rosto da moça com as duas mã os e beijou-a carinhosamentenotopodacabeça. — Irmã , você tem idade para ser minha ilha — ele disse. Annie sentou-se na outra cadeira. — Devo dizer-lhe, capitã o McCullum, que eu nã o suportaria trabalhar para nenhum de você s.ODepartamentodePessoaltemumpedidomeu,solicitandoqueeusejatransferidapara outrosetor.Odiretordemeudepartamentoé insuportá velemetidoaimportante,eocapitã o doCondoréummachista. — Mas — disse David -, eu informei ao Departamento de Pessoal que ela nã o deve ser transferida. Annie criou problemas em todos os departamentos nos quais trabalhou, e esta é a recompensaqueelarecebeu.Elesadoraram. Macolhoudeesguelhaparaela,edepoisparaDavid. —Malpossoesperarparaouvirashistóriasdevocêsdois—eledisse. BuckadiouaconversafrancaqueteriacomosogroquandoRayfordabriuasplantassoba lâ mpada do porã o e perguntou qual era sua opiniã o para impedir que algué m descobrisse a entrada. — Pensei que você nunca me perguntaria — disse Buck. — De fato, eu tenho ruminado algumasidéias. —Soutodoouvidos. —Vocêconheceaquelefreezerdacasageminadaaesta? —Aquelequetemumcheiroforte? Buck assentiu com a cabeça. Eles haviam jogado fora toda a comida estragada, mas o maucheironointeriorpersistia. — Minha idé ia é trazer ofreezer para cá e abastecê -lo com alguma coisa que se pareça comcomidaestragada.Omaucheirocontinuará .Vamoscolocarbandejasdealimentonofundo dofreezer. Qualquer pessoa que abri-lo sentirá repulsa por causa do mau cheiro e nã o vai examinar aquela comida estragada. Ningué m vai pensar em levantar as bandejas. Quem izer isso, encontrará um fundo falso que dará acesso à escada para o abrigo. Nesse meio-tempo, podemosconstruirumaparedecobrindoaatualentradaparaoporão. Rayfordpô samã onatestacomosebuscasse,nofundodamente,algumapossı́velfalhano plano.Emseguida,encolheuosombros. —Gostei.MasprecisamosdarumjeitodeesconderissodeHattie. Buckolhouaoredor. —Então,euestavacerto?Floydnãoestáporaqui? ObipdeMactocou. —ÉFortunato—eledisse.—Ótimo!Possousarseutelefone,cabo? — Esse telefone nã o é meu, senhor — respondeu Annie. — Ele só foi destinado a mim para... MacligouparaoescritóriodeFortunato. — Aqui é Mac McCullum retornando a ligaçã o dele... Sim, madame... Sexta-feira?... Quantos convidados?... Nã o, madame. Diga a ele que houve uma confusã o com aquele embarque. Ele terá de conversar com o diretor de compras... Nã o, aqueles nã o estavam disponı́veis para ser entregues no palá cio... Talvez depois que retornarmos de Botsuana, sim, madame. A porta do quarto do Dr. Floyd Charles estava fechada. Buck avistou Tsion no quarto ao lado,trabalhandonocomputador,apoiandoacabeçanamão,comocotovelonamesa. —Vocêestábem,Tsion? —Cameron!Entre,porfavor.Sóestavadescansandoosolhos. —Orando? Orabinosorriucomardecansaço. — Incessantemente. Nã o temos escolha, temos? Como vai, meu amigo? Continua preocupadocomseusogro? —Sim,masvouconversarcomele.Vocêviuomédicohoje? — Normalmente tomamos o café da manhã juntos, bem cedo, conforme você sabe. Mas hoje tomei o café sozinho. Nã o ouvi a voz dele no porã o, e confesso que nã o pensei mais nisso. Estou escrevendo sem parar. Cameron, nã o temos idé ia do tempo que durará esta calmaria entre o quinto e o sexto ais. Estou tentando descobrir se a visã o que Joã o teve foi real ou simbólica.Comovocêsabe... —Desculpe-me,Dr.Ben-Judá.Euprecisosaberse... —Sim,claro.ÉmelhorvocêtentarencontrarFloyd.Conversaremosmaistarde. —Eunãotiveaintençãodesergrosseiro. — Você nã o precisa se desculpar, Cameron. Vá . Conversaremos depois. Se precisar de mim,meavise. Buckaindanã oseacostumaraaoprivilé giodemorarnamesmacasacomohomemcujas mensagensdiá riaseramcomooarquemilhõ esdepessoasdomundointeirorespiravam.Apesar de Tsion trabalhar no andar de cima da casa, muito perto do restante do grupo, quando ele estavaatarefadooucansadodemaisparaconversar,osmoradoresdacasaliamsuasmensagens pela Internet. A melhor parte de morar com o rabino era que ele se empolgava com suas mensagens tanto quanto seus leitores. Trabalhava a manhã inteira e muitas horas à tarde preparando-se para transmitir as mensagens pouco antes do anoitecer. Tradutores do mundo inteiro convertiam suas palavras para os idiomas de seus respectivos paı́ses. Os crentes que conheciam informá tica mais a fundo trabalhavam duro para catalogar as informaçõ es do Dr. Ben-Judáetorná-lasacessíveisaosnovatosnafé. Quando Tsion se deparava com alguma revelaçã o estarrecedora em seus estudos, Buck ouviaseugritodejúbiloesabiaque,emseguida,eleaparecerianotopodaescada. —Sealguémestivermeouvindo—elegritava-,presteatençãonoquevoudizer! Seus conhecimentos da linguagem bı́blica faziam os comentá rios sobre determinada passagempareceremnovidade,mesmoperanteosolhosdosmaisastutosestudiososdaBíblia. Buck mal podia esperar para saber o que Tsion estava escrevendo sobre a profecia do sexto ai, mas por ora sua preocupaçã o era com o mé dico. Ele bateu levemente na porta do quarto.Depoiscommaisforça.Girouamaçanetaeentrou.Já estavanomeiodatarde,eosol daprimaverabrilhavaaltonocé u.Masoquartoestavaà sescuras,comascortinasfechadas.E oDr.Charlescontinuavadeitado,semsemovimentar. —VoupartirparaaAfricasexta-feira—disseMac.—Fortunatoconcordoucomopedido de Mwangati Ngumo. Claro que Ngumo está pensando que vai ter um encontro pessoal com Carpathia. Aposto que Ngumo está querendo saber quando Carpathia vai cumprir suas promessas. AnnieChristophersemicerrouosolhos. — Imaginem o que o potentado deve ter prometido só para poder tomar o lugar que ele ocupavacomosecretário-geral. —Vamossabernasexta-feira—disseMac.—Pelomenoseuvousaber. Annievirou-separaMac. —Elespermitemquevocêparticipedestetipodereunião? —elaperguntou. MacolhouderelanceparaDavid. —Vocênãocontouaela? —Podecontar—disseDavid. —Venhacomigo,cabo—disseMac.ElaeDavidoacompanharam. — Vou continuar a chamá -lo de Capitão ouSr. McCullum, mesmo em particular — disse Annie. — Deixei que você visse meu selo e me beijasse na cabeça. Mas, de agora em diante, podemechamardeIrmã. —Nã osei—disseMac.—Emelhormanterasformalidadesparaqueeunã ocometaum deslizenafrentedealguém.Elaoacompanhouatéacabinadecomando. — Doutor? — disse Buck, aproximando-se da cama. Ele nã o notou nenhum movimento. Nãoqueriaassustá-lo. Imaginando que a lâ mpada produziria menos claridade que a luz do Sol, Buck apertou o interruptor e deu um suspiro de alı́vio. Pelo menos o mé dico estava respirando. Talvez ele tivesse demorado a pegar no sono e estava recuperando as horas perdidas. Floyd resmungou e virou-senacama. —Vocêestábem,doutor?—perguntouBuck.Floydsentou-se,comardesurpresa. —Eureceavaisso—eledisse. —Sintomuito—disseBuck.—Eusó... Floyd saiu de debaixo das cobertas. Sentou-se na beira da cama trajando um roupã o de veludocompridoquedeixavaàmostrasuasroupas—camisadeflanela,calçajeansebotas.Ele haviatranspiradoanoitetoda. —Anoiteestavaassimtãofria?—perguntouBuck. —Abraascortinas,porfavor. Floydcobriuosolhosquandoaluzdosolpenetrounoquarto. —Qualéoproblema,Floyd? —Oseucarroestáemordem? —Claro. —Leve-meaoYoungMemorial.Meusolhoscontinuamamarelados? EleolhouparaBuck,queseinclinouparavermelhor. —Oh!Floyd—disseBuck.—Eupreferiaqueestivessemamarelados. —Estãoinjetados? —Injetadoséumapalavrasuave. —Nãohánenhumapartebranca?Buckbalançouacabeçanegativamente. —Oproblemaégrave,Buck. CAPÍTULO3 David, Mac e Annie Christopher sentaram-se na luxuosa sala de estar do Condor, seis metrosatrásdacabinadecomando. —Então—disseAnnie-,essatalcoisareversível... —Dispositivodeintercomunicaçãoreversível—corrigiuMac. — ... permite que você ouçatudo o que passa no aviã o? Mac assentiu com a cabeça. — Saladeestar,poltronas,aposentos,sanitários,tudo. —Incrível. —Demais,vocênãoacha?—disseMac. —Incrívelvocêaindanãotersidopego. —Você está brincando?Seelesdescobrirem,vounegartudo.Nã otenhonadaavercom isso, Rayford nã o me contou que havia um dispositivo aqui e nunca vi o tal botã o. Eles o consideramumtraidor.Nemelesnemnóssabemosondeeleestá,nãoéverdade? Anniecaminhouatéumsofáatrásdeumamesademadeiramuitobrilhante. —ÉaquiqueochefãoassisteàTV? David acenou a irmativamente com a cabeça. Ela virou-se para Mac com ar de quem acabaradepensaremalgumacoisa. —Vocênãoseimportaemmentir? Macbalançouacabeçamostrandoquenãoligavaparaisso. — Para o anticristo, você quer dizer? Minhavida toda e uma mentira para ele. Se ele desconfiassedealgumacoisa,euseriatorturado.SeeleimaginassequeseiondeRayfordestá,ou ondesuafilhaegenroestão,euseriamorto. —Ofimjustificaosmeios?—perguntouAnnie. Macdeudeombros.—Sópossolhedizerquedurmobemànoite. — E eu vou dormir melhor — ela disse — sabendo que você manté m Carpathia sob vigilância. — Pelo menos quando ele está a bordo — disse Mac. — Na verdade, Leon me diverte mais.Eleéumapeçarara. —Eugostariadeviajarcomvocê—disseAnnie. —Eutambé m—disseDavid.—Masnã oterı́amoscondiçõ esdeouvirnada,amenosque viajá ssemos na cabina de comando. E por falar nisso, Mac, você continua preocupado com aqueleseuco-pilotoquenãolargadoseupé? —Deixeidemepreocuparcomele—respondeuMac.—Euopromovi.Agoraelevaiser pilotodoPomposoPontífice. Annieriu.—Adoreiotı́t ulo!Já tiveproblemaporteresquecidopartedotı́t ulodele.ESua ExcelênciaSumoPontíficePeterSegundo,não? Macencolheuosombros.—ParamimeleéPete. — Você precisa conhecer o aviã o que ele encomendou -disse David. — Nicolae e Leon estãoloucosderaiva. —Émelhorqueesteaqui?—perguntouMac. — Muito melhor. Cinqü enta por cento maior e custou o dobro. Pertenceu a um xeique. Estouaguardandoaentregaparadaquiaumasemana. —Elesaprovaramacompra? —Elesestãodandocordaparaeleseenforcar—disseDavid. —Seráqueotalpilotovaisaberpilotaresseavião? —Eleécapazdepilotarqualquercoisa—respondeuMac. — Gostei dele. E muito habilidoso, mas totalmente leal a Carpathia. Por mais que eu quisesse me aproximar dele para conversar sobre religiã o, nã o tive coragem de me abrir. Mas elejáestásendotrabalhadoporumcrentedosetorC. —Osetordemanutenção?—perguntouAnnie.—Eunãosabiaquehaviacrenteslá. —Nã ohá mais.Meuchefeotiroudelá .Teriafeitoomesmocomigo.Deusvaialcançá -lo deoutramaneira. David levantou-se, apertou um botã o no painel de um enorme aparelho de TV e ligou-o. TirouosomeficouapenasobservandoasnotíciascontroladasporCarpathia. —Arecepçãoéexcelente,mesmodentrodestaestruturademetal—eledisse. —Nadamaismesurpreende—disseMac.—Aumenteosom. Onoticiá riorelatavahistó riasdasgrandesrealizaçõ esdeCarpathia.Opotentadoapareceu natela,serenoecharmosocomosempre,elogiandoumgovernoqualquere ingindohumildade aofalardeseuprojetodereconstrução. "E para mim um privilé gio ter a oportunidade de servir a cada membro da Comunidade Global",eledisse. — Olhe ali, Mac — disse David, apontando para o piloto que se encontrava em segundo plano enquanto Carpathia saudava outro ex-paı́s do Terceiro Mundo que se bene iciara de sua generosidade. — E o novo piloto do Peter. Você vai dar um jeito de arrumar um crente para substituí-lo? —SeeuconseguirdriblaroDepartamentodePessoal. —Alguémqueeuconheço? —Umjordaniano.Ex-pilotodeaviõesdecaça.AbdullahSmith. OLandRoverdeBucksacolejavarumoaPalatine.FloydCharlesestavadeitadonobanco traseiro. —Oquehouve,doutor?—perguntouBuck. —Souumgrandeidiota—disseFloyd,sentando-selogoatrá sdeBuck.—Fazmesesque percebioqueestavaacontecendo,masdisseamimmesmoqueerapuraimaginaçã o.Quandoa visã o começou a piorar, eu deveria ter entrado em contato com o Posto de Saú de. Agora é tardedemais. —Nãoestouentendendo. — Digamos que eu descobri o que quase matou Hattie. Foi ela que me contaminou. Em termosleigos,écomosefossecianetoquevaisendoliberadocomotempo.Podesedesenvolver durantemeses.Quandoagentesedá conta,já foi.Seé issoquetenho,nã ohá nadaafazerpara interromperociclo.Trateidossintomas,masdenadavaleu. — Nã o fale assim — disse Buck. — Se Hattie sobreviveu, por que você també m nã o vai sobreviver? —Porqueelarecebeucuidadosdiáriosdurantemeses. —Vamosorar.LeahRoseconseguiráoquevocênecessita. —Tardedemais—disseomé dico.—Sou um tolo. O pior paciente de um mé dico é ele próprio. —Equantoaorestantedogrupo?Corremosperigo? — Nã o. Se você s nã o apresentaram sintomas, estã o livres. Acho que fui contaminado quandocuideideladuranteoaborto. —EquantoaLeah? —Temosdeesperarparaver. OtelefonedeBucktocou. —Ondevocêestá?—perguntouChloe. —PrestandoumpequenofavoraFloyd.Nãoquisincomodarvocê. —Oquemeincomodaé saberquevocê saiusemmedizeraondeestavaindo.Prestando umpequenofavoremplenaluzdodia?Papainã oestá nadafeliz.Eletinhaaintençã odevisitar Tnoaeroportohoje. —ElepodeusarocarrodeKen. — O carro dele é muito manjado, mas o problema nã o é este. Ningué m sabia me dizer aondevocêsforam.Tsionestápreocupado. Bucksoltouumlongosuspiro.—Floydnã oestá sesentindobemenã ohá tempoaperder. EstamosacaminhodoYoungMemorial.Maistardeeumecomunicocomvocê. —Oquehouve... —Maistarde,querida.Estábem? Elahesitou.—Tomecuidado,edigaaFloydqueestaremosorandoporele. — Nã o devemos ser vistos juntos com freqü ência — disse Mac. David e Annie concordaram.—Anãoseremsituaçõesnormais.Alguémsabequevocêestáaquiagora? Anniemeneouacabeçanegativamente.—Tenhoumareuniãoàsdezdanoite. —Euestoulivre—disseDavid.—Nã ohá maisnenhumtrabalhonormal,casovocê ainda nãotenhapercebido. — Eu gostaria de ouvir as histó rias de você s, David — disse Mac. — Sei que sua famı́lia moraemIsrael.Deondevocêé,Annie? — Canadá . Eu estava voando de Montreal para cá quando aconteceu o terremoto. Perdi todaaminhafamília. —Vocêaindanãoeracrente? — Nã o. Acho que só fui à igreja para assistir a casamentos e enterros. Nã o nos importá vamos que nos chamassem de ateus, mas era assim que vivı́amos. Pre iro dizer que é ramosagnó sticos.Parecemaistolerante,menosdogmá tico.Eramospessoasequilibradas.Boa gente.Melhoresdoquemuitosreligiososqueeuconhecia. —EvocênãosentiacuriosidadedeconheceraDeus? — Comecei a pensar nisso depois dos desaparecimentos, mas logo em seguida nos tornamos admiradores de Carpathia. Ele parecia ser a voz da razã o, era um homem de bondade,amorepaz.Candidatei-meatrabalharparaeleassimque iqueisabendoqueonome da ONU fora mudado e que a sede seria transferida para cá . O dia em que fui aceita foi o mais felizdeminhavidaedeminhafamília. —Oqueaconteceu? —Amortedelesmudoutudo.Fiqueiarrasada.Eujá tinhalevadoumsustomuitogrande antes, é claro. Conhecia algumas pessoas que desapareceram e outras que morreram em conseqü ência dos desaparecimentos. Mas nunca havia perdido uma pessoa da famı́lia. De repente, perdi minha mã e, meu pai e dois irmã os menores no terremoto. Metade de minha cidadefoidestruídaenquantoeuvoavafeliznaqueleavião.AterrissamosnasareiasdoAeroporto de Bagdá e vimos outros aviõ es descerem ali. Fiquei sabendo que a sede da CG desabou. Finalmente fui parar em um abrigo subterrâ neo, onde vi as ruı́nas de meu pequeno bairro pela CNN.Foramdiasediasdedesespero.Euchoravaeoravaparanãoseiquem,imploravaparaque o serviço de comunicaçõ es me desse notı́c ias de minha famı́lia. Como a busca que eles faziam pelaInterneteramuitolenta,resolviprocurarporcontaprópria.Encontreiumadúziadenomes depessoasconhecidasqueconstavamdalistademortos.Eunã oqueriaverossobrenomesque começavamcomaletraC,masnãopuderesistir.Anniemordeuolábio. —Vocênãoprecisafalardesteassuntose... — Eu quero falar, McCullum. Parece que tudo aconteceu ontem. Tentei voltar para reconheceroscorpos,cuidardosfunerais.Masnã ofoipossı́vel.Houvecremaçõ esemmassapor motivosdesaúdepública.Nãosobrouninguémparachorarcomigo.Euqueriamematar. DavidcolocouamãonoombrodeAnnie. —ConteaeleoquevocêdescobriunaInternet. —Você deveimaginar—disseAnnie, itandoMaccomosolhosú m idos.Eleassentiu.— VitodasaquelasmensagensdoDr.Ben-Judávindasdoabrigo.Issofoiantesdeeudescobrirosite dele.QuandoaCGcomeçouafazertodoaquelebarulhoparaproibiroacessoà quelesite, achei que deveria entrar nele. Eu ainda era uma militante faná tica, mas Carpathia pregava a liberdade individual e, ao mesmo tempo, a negava. Aquelas oraçõ es me assustaram. Eu nunca havia parado para pensar em Deus. Naquele momento, eu queria que Ele me acudisse. Eu nã o tinhaninguémmaisnavida. —FoiaíquevocêencontrouTsion. —Encontreiapá ginainicialdositedele.Eunã opodia acreditar. O nú m ero que aparecia nocantodatela,quevocê devetervisto,mostravaquantaspessoasestavamentrandonaquele siteacadasegundo.Penseiquefosseumexagero,masderepentecomeceiaentenderporquea CG estava contra ele. Algué m com capacidade para atrair um nú m ero tã o grande de pessoas eraumaameaça.CliqueiemalgunslugaresdositeeliamensagemdoDr.Ben-Judá paraaquele dia.Eumelembreidequandoeledeclarousuaconversã oaomundointeiropelaTV.Masnã ofoi isso o que me impressionou. També m nã o compreendi quase nada do que ele estava comunicandoaquelediapelaInternet.EramcoisasdaBı́bliaquenã omediziamrespeito,maso tom de voz dele era muito cordial. Parecia que ele estava sentado a meu lado conversando comigo,contandooqueaconteciaeoqueviriadepois.Eusabiaque,selhefizesseperguntas,ele as responderia. Foi entã o que eu vi os arquivos.Jáexistemarquivos?, pensei. Há quanto tempo existiaaquelesite? — Cliquei em algumas listas — prosseguiu Annie -, surpresa ao ver que ele já havia incluı́do uma mensagem para cada dia das semanas seguintes. Quando vi aquela mensagem intitulada"ParaAquelesQueChoram",quasedesmaiei.Sentiumaondadecalorpercorrermeu corpo, e depois um arrepio. Tranquei a porta e torci para que a CG nã o tivesse começado a monitorar nossoslaptops. Tive uma enorme sensaçã o de bem-estar. Eu sabia que aquele homem tinha alguma coisa para mim. Imprimi a mensagem e carreguei-a comigo durante mesesaté odiaemqueDavideeunosconhecemos.Elemeavisouqueeunã odeveriaserpega comaquelamensagem.Resolvimemorizá-laantesdedestruí-la. Macolhouparaelacomardedúvida. —VocêmemorizouumamensageminteiradeBen-Judá? —Quasetoda.Vocêquerouviroprimeiroparágrafo? —Claro. — Ele escreveu: "Meu caro amigo enlutado, talvez você esteja chorando a perda de um ente querido que desapareceu no Arrebatamento ou foi morto no caos que resultou dos desaparecimentos.EstouorandoparaqueapazdeDeusoconforte.Seioquevocê está sentindo porque perdi minha famı́lia de uma maneira indescritı́vel. Mas quero que estas palavras lhe transmitam esta grande certeza: Se seus queridos estivessem vivos hoje, eles insistiriam para que você tivesse certeza absoluta de que está preparado para morrer. Existe uma ú nica maneiradefazerisso."DavidpercebeuqueMacestavacomovido. —ODr.Ben-Judá explicouoquesigni icavamDeus,Jesus,oArrebatamentoeaTribulaçã o demaneiratã oclaraquesentiumdesejoenormedeacreditar.Eupreciseilerosensinamentos anteriores do Dr. Ben-Judá para compreender que ele estava certo sobre as profecias bı́blicas. Atéentão,elehaviapreditocadaumdosjulgamentos. Macassentiu,sorrindo. — E claro que você conhece tudo isso — ela disse. — Retornei a uma mensagem arquivadaeaprendicomoorar,comodizeraDeusqueeueraumapecadoraequenecessitava dele.Ajoelhei-mecomorostonacamae izisso.Eusabiaquehaviaconhecidoaverdade,mas nã otinhaidé iadoquefazeraseguir.Passeiorestododiaetodaanoitelendotudooquepude sobre os ensinamentos do Dr. Ben-Judá . Logo icou claro em minha mente por que a CG fazia oposiçã oà quelehomem.Eletomavaocuidadodenã omencionaronomedeNicolae,masera evidentequeanovaordemmundialrepresentavauminimigodeDeus.Eunã oentendiamuitoa respeito do anticristo, mas sabia que tinha de ser diferente dos demais funcioná rios da CG. Lá estavaeu,umacrente,noabrigodoinimigodeDeus. —Foiaíqueeuapareci—disseDavid.—Annieachouqueeuestavaflertandocomela. —Nã opuleumapartedahistó ria—disseAnnie.—Quandomemistureicomorestante dosfuncioná riosdaCG, iqueicommedodeparecer crente. Eu imaginava que todas as pessoas comasquaisconversavasabiamqueeutinhaumsegredo.Euqueriacontaraalgué m,masnã o conhecianingué memquemcon iar.Chegueiemmeioaocaosemeindicaramondeseriameu dormitó rio. Deram-me um uniforme e disseram-me que eu ia trabalhar no setor de Comunicaçõ es.MeucargoerabeminferioraodeDavid,maspercebiqueeleolhavaparamim. Aprincípio,elepareceuassustado,masdepoissorriu. —Eleviuoseloemsuatesta—disseMac. —Everdade,masveja,eunã otinhameaprofundadonosensinamentosdeTsionaté esse ponto.Davidmemandourecadosporintermé diodevá riossupervisoresdizendoquequeriafalar comigo."Pessoalmente?",perguntei. — Assim que entrei naquela sala e a porta foi fechada, ele disse: "Você é crente!" Quase morri de medo. Eu disse: "Nã o, eu... sou crente em quê ?" Ele disse: "Nã o negue! Posso ver em seurosto!"Acheiqueeleestavatentandodescobriralgumacoisa,enegueioutravez.Eledisse: "SevocênegaraJesusmaisumavez,vaiserigualaPedro.Cuidadocomogalo." — Eu nã o tinha idé ia do que ele estava falando — prosseguiu Annie. — Nã o sabia que Pedro foi um discı́pulo e muito menos que ele negou a Cristo. Achei que David devia ter adivinhado meu segredo, e mencionando algué m chamado Pedro, falando em galos, só estava querendo me confundir. Mesmo assim, eu nã o podia fazer nada, e disse: "Nã o estou negando a Jesus." —Eleperguntou:"Oquevocêquerdizercomisto?" —Eurespondi:"Estoutemendoporminhavida." —Eledisse:"Bem-vindaaoclube.Tambémsoucrente." —Euperguntei:"Comovocêficousabendo?" —Elerespondeu:"Estáescritoemvocê." —Euperguntei:"Como?" — E ele respondeu: "Deus escreveu isso literalmente em sua testa." Foi aı́ que eu quase desmaieidesusto. Assim que Buck e Floyd Charles entraram no Young Memorial, a recepcionista adolescentechamouemvozalta: —Srta.Rose,seusamigosestãoaqui. —Nã oprecisagritar!—disseLeah,saindoapressadadesuasala.—Cavalheiros,achoque nãohánadaqueeupossafazerparaajudá-loshoje.Qualéoproblema? Floydsussurroualgumacoisaaoouvidodela. —QueDeusnosajude—eladisse.—Poraqui.Segure-sebem. — Você apresentou algum sintoma? — perguntou Floyd. Ela sacudiu a cabeça negativamente. Buck apoderou-se de uma cadeira de rodas para Floyd e empurrou-a atrá s de Leah. Ela os conduziu por uma pequena rampa, passou pelos elevadores principais e chegou ao elevadordeserviço.Paraabri-lo,elausouumachavequefaziapartedeumenormechaveiro. —Seencontrarmosalguém,vireorosto—eladisse.—Nãodeixeninguémperceber. —Éclaroqueninguémvaiperceber—respondeuBuck.Leaholhoufirmeparaele. — Sei que o senhor conhece a gravidade do caso, Sr. Williams, por isso gostaria que nã o subestimasseminhasadvertências. —Desculpe-me. Elesentraramnoelevador,easportassefecharam.Leahtrancou-onovamenteeapertou obotãodosextoandar. — Nã o sei se vai dar certo — ela disse. — No outro elevador, a gente pode passar pelos outrosandaressemparar.Bastagirarachaveemanterobotãoapertado. Nã o deu certo. O elevador parou no segundo andar. Buck ajoelhou-se diante do mé dico comoseestivesseconversandocomele.Naquelaposiçã o,ningué mteriacondiçã odeverorosto deles. —Sintomuito—disseLeahaquemaguardavaoelevador.—Emergência. —Droga!—dissealguém. Aconteceuamesmacoisanoquintoandar,eelesouviramoutrasreaçõessemelhantes. —Issonã oé bom—disseLeahquandoasportassefecharamnovamente.—Preparemseparaencontrarmaispessoasnosaguãodosextoandar.Vamosseguiràesquerda. Felizmente, eles passaram despercebidos enquanto Leah conduzia os dois até um quarto vazio.Elafechouaportaetrancou-a.Emseguida,cerrouascortinas. —Coloque-onacama—eladisseaBuck-,etireasroupasmolhadasdele.Você dormiu destejeito,doutor? Floydrespondeuafirmativamentecomacabeça,comardecansaço. BucknãogostounadadeveracorvermelhaquetomavacontadosolhosdeFloydaoredor daspupilasescuras. —Oquehádeerradocomele,Leah? Sem dizer nada, ela pegou uma espé cie de camisola de um armá rio e atirou-a em sua direção. —Seeleprecisarusarobanheiro,quesejaagora.Éprovávelqueelenãopossalevantar-se dacamanovamente. —Porquantotempo?—perguntouBuck. —Parasempre—balbuciouomédico.—Elasabeoqueestáacontecendocomigo. Leah apertou o botã o do telefone instalado na parede e continuou a falar enquanto trabalhava. —OPostodeSaúdefezumaentregadeantitoxinaontem.Tragadoisfrascosparao6204. —Éurgente?—perguntouarecepcionista. Leahfezumacareta.—Sim,éurgente!Éparajá. —Háumaligaçãoparavocê. — Você acha que tenho condiçõ es de atender a uma ligaçã o? Urgente foi palavra sua, menina.Porfavor,rápido! — Está bem — disse a garota. — Nã o me culpe depois por eu nã o ter avisado sobre a ligação. LeahsegurouBuckpelamangadacamisaepuxou-oparapertodoleitodomédico. — Eu preciso fazer algumas perguntas a ele. Quando a garota bater na porta, pegue rapidamenteomedicamentoefecheaporta. Buckassentiucomacabeça. —Vamoslá,doutor—eladisse.—Quandosurgiramosprimeirossintomas? —Hápoucotempo—eleresmungou. —Poucotemponãosignificanada.Quando? —Souumidiota. —Nósdoissabemosdisso.Quantotempodepoisdevocêtercuidadodaqueleabortoaqui? —Talvezunsseismeses. —Evocênãotomounenhumaprovidência? Elebalançouacabeçanegativamente.—Fiqueiesperandoquenadaacontecesse. —Oquetenhoaquinãovaifuncionar. —Foiporissoquenãofiznada. — Você sabe que o ú nico antı́doto que o Posto de Saú de tem disponı́vel é a antitoxina, e ninguém... —Dequalquerforma,étardedemais.LeaholhouparaBuckcomardesolado. —Eletemrazã o—eladisse.—Aantitoxinanã ovaiservirnemparaeleterumamorte maistranqüila. —Oquevocêestádizendo?—perguntouBuck.—Elenãotemnenhumachance? Omédicobalançouacabeçadeumladoparaooutroefechouosolhos. —Adosagemmá ximadeantitoxinaserá comoumpingod'á guanooceano—disseLeah. —Vocêconsegueenxergar,doutor? —Quasenada. Leahmordeuoslábios. Algué m bateu na porta. Buck abriu-a e estendeu a mã o para pegar o medicamento. A garotanãoquisentregar-lhe.Comumgestobrusco,eleotomoudasmãosdela. — Srta. Rose — a garota gritou por cima dos ombros de Buck. — Aquela ligaçã o era da CG! Buckfechouaporta,masLeahpassouporele,abriu-aechamouamoça. —CGdeonde? —DeWisconsin,acho. —Oquevocêdisseaeles? —Quevocêestavaocupadacomumpaciente. —Vocêdissequemeraopaciente? —Eunãoseiquemeleé.Sóseiqueéummédico. —Masvocênãodissenada,disse? —Eudeveriaterdito? —Fiqueesperandoali. —Sintomuito,nãoposso. —Ésóporalgunsinstantes. Leahvoltouaentrarnoquarto,encheurapidamenteduasseringascomomedicamentoe injetou-asnasnádegasdeFloyd.Elenãofeznenhummovimento. —Peçaaelaqueentre—disseLeahaBuck. Ele abriu a porta e fez um sinal para a garota. A princı́pio, ela hesitou, mas depois aproximou-selentamente. —Vamos!—eledisse.—Ningué mvaimachucarvocê .Assimqueagarotapô sacabeça novãodaporta,Leahdisse: —Tragaminhabolsaaquiomaisrápidoquepuder,porfavor. —Claro,mas... —Urgente,meubem.Urgente!Agarotasaiucorrendo. —Oqueestáacontecendo?—perguntouBuck. —Pegueseucarroeestacione-onosfundosdohospital.Há umasaı́dapeloporã o.Voume encontrarcomvocêlá. —Mas,seeleestámorrendo,comovocê... Leah agarrou-o pelos braços. — Sr. Williams, o Dr. Charles e eu nã o estamos brincando. Estehomempodemorrerantesdeconseguirmoslevá-loatéocarro.Seosenhorquiserenterrálo, cremá -lo ou fazer outra coisa qualquer sem que ele seja visto aqui, me espere na porta dos fundos. A CG de Wisconsin nã o lhe diz alguma coisa? Era lá que ele trabalhava, o senhor se lembra?Foidelá queelesaiusempermissã o.Elesestã oatrá sdeleportodaparte,observando tudo, imaginando que ele está nesta regiã o, e poderá aparecer aqui a qualquer momento. Eles nã osabem,pelomenosdeminhaboca,queelejá esteveumavezaqui.Tenhomentidootempo todo.Seelesoencontraremaqui,vivooumorto,nóstodosestaremosperdidos.Agoravá! —Existealgumachancedesalvaravidadele? —Pegueocarro. —Sómedigaseémelhorelesairdaquiou...Leahsussurrouemtomdedesespero. — Ele vai morrer. E só uma questã o de tempo. A palavra onde é irrelevante neste momento.Omelhorqueeupodiafazerporelefoifeito.Opiordetudoseriaalgué mencontrá -lo aqui. Macconsultouseureló gio.—Tenhotempoparavocê smecontaremcomocomeçarama namorar. —Achoquevocêjáouviudetalhessuficientes,capitão. —Vamos!Eusouumvelhoromântico. —Nãofoinadafácil—disseDavid.—EunãoqueriaquevocêeRayfordsoubessem. —Tudobem,masporquê? —Naépoca,achávamosquequantomenospessoassoubessem,melhor. —Precisamosentraremcontatocomtodososcrentesquepudermos. —Eusei—disseDavid.—Mastudoeramuitonovoparanó s,enã osabı́amosemquem confiar. —Sevocêsqueremsaber,Rayeeununcadesconfiamosdenada. — Foi um bom treinamento, se é que estou usando a palavra certa. O que vai acontecer quandoosmanda-chuvascomeçaremaprocurarumamarcaquenãotemos? —Ninguémmaispoderáseesconder,crianças. Depois de pegar o elevador principal e chegar ao primeiro andar, Buck se deu conta de que, para sair, precisaria passar pela recepcionista. Ele nã o queria, por nada deste mundo, que elavisseseuRover.Buckpensouemdistraı́- la ingindoumcasodeemergê ncia,mas,aoentrar no saguã o para dirigir-se à porta principal, ele avistou uma senhora robusta, de meia-idade, ocupando o lugar da garota. Claro! A garota estava levando para Leah a bolsa que ela pedira. Leahhaviafeitoaquiloparaafastá-ladarecepção. Buckcaminhouapressadoaté ocarro.Enquantoodirigia,contornandoalateraldoedifı́c io rumoà entradadosfundos,eleavistouasubstitutaempé pertodajanela,olhandoparafora.Ele só esperava que a garota nã o tivesse pedido à sua substituta que descobrisse aonde seu carro estavaindo. Buckpisounofreiocomforça,fazendoocarroderraparnapistaasfaltadaquedavaacesso à saı́dadosfundos.ElesaltoudoRovereabriuaportaenquantoLeah,comumasacolasobreos ombros,empurravaumamaçaondeFloydCharlesestavadeitadocomumlençolcobrindo-lhea cabeça. —Eleestámorto?—perguntouBuck,semacreditar. —Não!Masaspessoasestãolongedaqui,eninguémvaiidentificá-lo,vai? —Sóarecepcionista. Buckabaixouoencostodobancotraseiro,eLeahempurrouamaçaparadentrodocarro. —Vocêestásurrupiandoestamaça?—eleperguntou. —Eucoloqueialgumascoisasnabolsaquevalemmaisdoqueestamaça—eladisse.— OsenhorquerdiscutiréticaoupreferelutarcomopessoaldaCG? — Nem uma coisa nem outra — ele disse, enquanto ambos sentavam-se nos bancos da frente.—Masagorasomoscúmplices,não? — Nã o sei quanto ao senhor, Sr. Williams, mas estou envolvida nisso até o pescoço. Este hospital está sendo dirigido pela CG há anos. Por quanto tempo eu ia conseguir trabalhar para Carpathiasemestamparamarcadabesta?Euseriaaprimeiraamorrer. —Semdúvida—disseBuck. —Bem,eusómeaproprieideumamaçaedeuma boaquantidadedemedicamentosdoinimigo.Seosenhorvê problemanisto,sintomuito. Eunãovejo.Estamosemguerra.Valetudo,conformesediz. —Nãotenhoargumentosparacontestar.Mas...paraondeestoulevandovocê? — Para onde o senhor acha? Vire à esquerda, e eu lhe indicarei o caminho. Ningué m da recepçãovaiverosenhorpassar. —Edepois,paraondevamos? —Meuapartamento. —EseopessoaldaCGestiverlá? —Continuaremosrodando. —Seelesnãoestiverem,vocêvaicuidardeFloydno... —Osenhornãoestápensando... —Vamospararcomasformalidades,Leah.Já quevocê pô sumamigomoribundodentro demeucarro,émelhorcontar-meoquetememmente. — Ilido bem — ela disse. — Se conseguirmos chegar ao meu apartamento antes da CG, vou pegar minhas coisas e volto em um minuto. Você sabe que eles estã o a caminho e virã o atrásdemimassimquedescobriremquefugidoYoung. —Eparaondevoulevá-ladepois? —Ondevocêmora? —Ondeeumoro? —Acertou,Buck.Euprecisomeesconder.Você eseupessoalsã oosú nicosqueconheço quetêmumlugarparaseesconderem. —Masnãopodemoscontaraninguémonde... —Ah!sim,você podeevaimecontar.Senã opudercon iaremmimdepoisdetudooque aconteceu,nã ovaipodercon iaremningué m.EuoajudeiatirarRitz,aqueleseuamigopiloto, do hospital. Ajudei o mé dico a fazer o aborto do bebê nã o sei de quem. A propó sito, como vai aquelamoça? —Estámelhorando. —Queironia!Omé dicotratoudoenvenenamentodela,eessemesmovenenovaimatá lo. —NósperdemosRitz. —Perderam? —ElefoimortoemIsrael.Éumalongahistória. De repente, Leah mergulhou em silê ncio. Limitou-se a indicar o caminho enquanto Buck segurava irme o volante do carro que rodava por cima de barrancos, mudando de marcha o tempotodoatéficarcomobraçoquaseamortecido. —Eugosteidaquelesujeito—eladissefinalmente. —Todosnósgostávamosdele.Detestamosestasituaçãoemqueestamosvivendo. —Masvocêvaimelevaratésuacasa,cowboy.Vocêsabedisso,não? —Eunãopossodecidirsozinho. Leah olhou irme para ele. — O que você pretende fazer? Deixar-me na esquina de olhos vendadosenquantovocê eseuscompanheirosfazemumavotaçã o?Você medeveestefavore sabe disso. Eu nã o costumo me convidar para morar na casa dos outros. Arrisquei a vida por vocêsenãotenhoninguémmaisaquemrecorrer. Omédicocomeçouaagonizar.SuarespiraçãoroucaecrepitantecomoveuBuck. —Émelhorpararocarro?—eleperguntou. — Nã o — ela respondeu. — Nã o há nada que eu possa fazer agora a nã o ser aplicar-lhe umadosedemorfina. —Issovaiajudar? —Sóvaialiviarosofrimentoetalveznocauteá-loantesdemorrer. —Façaalgumacoisa!—gritouFloydcomumgemido.-Qualquercoisa! Leah virou-se para trá s, ajoelhou-se no banco e começou a vasculhar sua sacola. Buck reduziuamarchainvoluntariamente,tentandoveroquesepassava.Acenaeraterrı́vel.Floyd ia morrer enquanto Buck estivesse dirigindo o carro! Sem despedidas, sem oraçã o, sem nenhuma palavra de conforto. Buck mal conhecia aquele homem, apesar de estar morando na mesmacasaqueelepormaisdeumano. — Olhe para a frente — ela disse a Buck. — Isto vai acalmá -lo, mas ele nã o sairá vivo destecarro. Soluçossubiamà gargantadeBuck.ElequerialigarparaChloe,contaraelaeaosoutroso queestavaacontecendo.Mascomocontartudopelotelefone?Queomé dicoestavamorrendoe que ele levava uma enfermeira no carro para morar com eles? Por outro lado, entrar na casa secreta sem que ningué m visse, carregando o corpo de Floyd e levando uma nova moradora tambémnãoseriafácil.MasBucknãotinhaalternativa. As ruas pró ximas ao apartamento de Leah — e o que restara das casas vizinhas — estavam apinhadas de veı́c ulos da CG. A mor ina havia acalmado Floyd. Leah escondeu-se debaixo do painel, e Buck desviou da rua em que ela morava. Dirigiu o carro para Monte Prospect, na esperança de que Floyd pudesse, ao menos, ter o privilé gio de morrer na pró pria cama. CAPÍTULO4 No inal daquela noite, David Hassid acompanhou Mac McCullum até o apartamento do pilotonaalaresidencialanexaaopaláciodaCG. —ExistemcoisasquenãoconteinemmesmoaAnnie-disseDavid. — Eu sabia que você tinha algo mais a me contar, garoto. Caso contrá rio, teria acompanhadoAnnie,não? —Estamostentandonãoservistosjuntos.Nemseiseareuniãodelajáterminou. — O que está havendo? — perguntou Mac quando ambos chegaram à porta de seu apartamento. — Você sabe que eu estive trabalhando no palá cio ajudando o pessoal a instalar um sistemaparadetectarescutaclandestina. —Sei,mascomovocêconseguiuserdesignadoparafazeressetipodetrabalho? —ConverseidiversasvezescomLeondizendo-lhequantoeuachavaimportantequeeles tivessemtotalprivacidadenas comunicaçõ es.Eume izpassarporumidealistasonhador,eaté hojeelesmeconsideram assim.Vocêsabealgumacoisasobreainstalação? Mac assentiu com a cabeça. — Sei que é o melhor sistema que existe no mundo, essas coisas. —Éverdade,maseleprecisaserconstantementemonitorado. —Claro. —Eumecandidateiparaessafunção,etodosgostaramdaidéia—disseDavid. —Estououvindo. —Éissoqueeusou. —Éoquê? — Eu monitoro o sistema que detecta escuta clandestina nos escritó rios de Carpathia e Fortunato. —Continue. —Minhafunçã oé descobrirsealgué mestá naescuta.Eusouoresponsá velepossoouvir qualquercoisaquequiser,quandoeuquiser. Macbalançouacabeça,admirado. — Eu nã o fazia questã o nenhuma de saber disso. David, você está sentado em cima de umabomba. —Eeunãosei?Masninguémtemcondiçõesdesaberqueeuouçoasconversas. —Garantido? —Porumlado,é simples.Poroutro,trata-sedeummilagredatecnologia.Aconversaé gravada em um disco em miniatura embutido na unidade de processamento central do computadorquecomandatodasasatividadesnaNovaBabilônia. —AquelecomputadorquecostumamchamardeBesta. —Sim,porqueeleconté minformaçõ essobretodasaspessoasdestemundo.Masnó sdois sabemosqueaBestanãoéumamáquina. Maccruzouosbraçoseencostou-senaparede. —Umadascoisasqueaprendiarespeitodessetipodemonitorizaçã oé queagentenunca devefazercópiasdenada.Elaspodemcairemmãoserradas. —Eusei—disseDavid.—Vou-lhecontarcomoprocedoparameproteger. —Vocêachaqueestamossegurosaqui?—perguntouMacolhandoaoredor. — Ei! Sou o responsá vel pelo sistema. O que estamos conversando pode estar sendo gravado em meu disco, mas ningué m vai ter condiçõ es de ouvir. Eu mesmo nã o ouço nada, a nã o ser quando é necessá rio. E quando ouço, tudo ica catalogado por data, hora e local. A fidelidadeéimpressionante,nãoexistenadaigual. Macdeuumassobio.—Alguémdeveterfabricadoesseaparelhoparavocê. —Exatamente. —Alguémemquemvocêconfiadecorpoealma. —Vocêestáolhandoparaele. —Então,comovocêtemtantacertezadequeninguémvaidescobrir? —Nã oestougarantindonada.Estoudizendoqueelesnuncavã osercapazesdeteracesso aqualquercoisaquesejagravada.Odiscotemmaisoumenosdoiscentı́m etrosdediâ metro.E, por causa da tecnologia digital por supercompressã o, ele pode armazenar quase dez anos de conversasgravadas24horaspordia.Everdadequenã ovamosprecisardetantotempoassim, vamos? —Não.Maselesdevemterumsistemaquecontrolatudooquesepassaporaqui. —Elestêm.Masnãovãoencontrarnada. —Eseencontrarem? David encolheu os ombros. — Digamos que algué m descon ie de mim e comece a examinarosdispositivos. Eles vã o localizá -los na Unidade Central de Processamento, esmiuçar tudo e encontrar o disco. O disco é criptografado de uma maneira tã o complicada que, se eles tentarem fazer combinaçõ es ao acaso a uma mé dia de dez mil dı́gitos por segundo durante mil anos, mal chegarã o ao começo. Você sabe que um nú m ero de 15 dı́gitos tem trilhõ es de combinaçõ es, mas, teoricamente, teria condiçõ es de ser decifrado. Como algué m poderia tentar fazer uma combinaçãodenúmeroscriptografadoscontendo300milhõesdedígitos? Maccocouosolhos.—Eunasciemoutraé poca.Comovocê s,jovens,conseguemchegar aessesnúmerosmalucos?Ecomovocêpodeteracessoaseudiscoseeleestácriptografado? Davidfalavasobreoassuntocadavezcommaisentusiasmo. —Eaı́ queestá amaravilhadetudo.Euconheçoafó rmula.Seioqueopidamilioné sima partedeumdı́gitotemavercomeleeseitambé mqueadataeotemporelacionadosà quele exato instante sã o usados como fator de multiplicaçã o. Sei que esses nú m eros oscilam para a frente e para trá s, dependendo de vá rios fatores. O nú m ero que serve para decifrar agora é diferente do nú m ero que vai ser decifrado no instante seguinte, e ele nã o progride de maneira ló gica. Digamos que algué mconseguisseesmiuçarmeudiscoapontodechegarà ú ltimaetapa parafazeracombinaçã odecó digos,oquejá seriaummilagre.Mesmoqueeledescobrisse qual éonúmero,somenteumcomputadorcomavelocidadedaluz,trabalhandodurantemaisdeum ano,conseguiriadecifrar. —Eoquevocêouviuatéagoracompensoutodoessetrabalho? —EleseráútilaoComandoTribulação,vocênãoacha? —Comovocê conseguetransmitirasinformaçõ esaopessoaldoComandosemprejudicar asuasegurançaouadeles? Davidsentou-senochãocomascostasapoiadasnaparede. —Tudoaquilotambé mestá criptografado,masnã oapontodeeleslevaremavidainteira para descobrir. Até agora, fomos capazes de nos comunicar por telefone e pela tecnologia celular-solaridealizadaporCarpathia,usandofaixasderá diocodi icadasqueningué mconsegue detectar. E claro que ele está constantemente me inquirindo para descobrir maneiras de monitorartodososcidadãos. —Paraobemdele,éclaro. —Oh!não.Opotentadosepreocupamuitocomamoraldesuafamíliaglobal. —Mas,David,umatransmissãoqualquernãopodeserinterceptada? David encolheu os ombros. — Gosto de acreditar que sou capaz de grampear tudo. Coloqueimeuaparelhoà provaetenteirastreá -lo.Descobriquenã ohá condiçõ es,anã oserque eu deixe algumas pistas. A decodi icaçã o aleató ria e a mudança de canal combinadas com miniaturizaçã oevelocidadefazemcomqueas ibrasó pticaspareçamumbarcoaremo...mas nadaagorapareceserimpossível. Macesticouocorpo. — Você já parou para pensar nestas coisas? Conforme o Dr. Ben-Judá diz, Sataná s vai tornar-se prı́ncipe e dono de todo o espaço aé reo. As transmissõ es por meio do espaço e todo aquele... —Eumorrodemedo—disseDavid,aindasentado.-Signi icaqueestounalinhadefrente nabatalhacontraele.Quandomeconverti,eunã osabiaqualamissã oquemeseriadesignada, masacabeiindopararnolugarcerto,não?Étardedemaisparamudardeopinião.Pisoomesmo chã oqueoanticristoebrinconoespaçocomodemô nio.Tomocuidado,masamarcadabesta vai mudar tudo. Nã o poderá havernenhum crente trabalhando aqui, a menos que a gente descubraummododefalsificaramarca.Equemgostariadefazeristo? — Eu nã o — disse Mac, girando a chave na fechadura da porta de seu quarto. — Mais cedo ou mais tarde, vamos todos parar na casa secreta ou em outro lugar parecido. Espero morarnomesmolugarquevocê. Davidficoutãocomovidocomaqueleelogioquenãoconseguiudizermaisnada. —Tenhoumlongovô onasexta-feira—complementouMac.—Precisodescobrirquem estáandandocomLeonesepossotrazerAbdullahatéaquiatempodeelenosajudar. Atensã odotrabalho,pormaisexcitantequefosseaumjovem,pesavasobreDavid.Mas eledirigiu-seaseuquartocompassosligeiros. Floyd estava calmo. A mor ina devia estar produzindo efeito. A uma distâ ncia de pouco mais de um quilô m etro da casa secreta, Buck reduziu a velocidade e olhou pelo espelho retrovisor.Ninguémoseguia.Seutelefonetocou,assustando-o. —AquiéBuck—eledisse. —Vocêprecisamecontaroqueestáacontecendo—disseChloe. —Jáestouchegando.Daquiaalgunsminutos. —Floydestácomvocê? —Sim,maselenãoestábem. —Hattieeeutrocamosasroupasdacamadeleearejamosoquarto. —Ótimo.Elevaiprecisardeajuda. —Comoeleestá,Buck?Evocê? —Conversaremosquandoeuchegaraí,querida. —Buck!Estátudobem? —Porfavor,Chloe.Jáestamoschegando. —Estácerto—eladisseemtomdedesagrado. Eledesligouotelefoneecolocou-onobolso.Emseguida,olhouparaLeaheperguntou: —Elevaiatravessarestanoite? —Sintomuito,Buck.Eleestámorto. Buck pisou com força no freio e ambos quase bateram a cabeça no vidro. O Rover derrapounaterra. —Oquê? —Sintomuito. Buck virou-se para trá s. Leah cobrira novamente o rosto de Floyd, mas a freada brusca atiraraocorpodelecontraoencostodobancodafrente. —Você sabequemé estehomem?—perguntouBuck,assustadocomotomdesesperado desuavoz. —Seiqueeleeraumbommédicoeumhomemcorajoso. —ElearriscouavidaparamedizerparaondeaCGlevouChloe.Ajudou-aafugir.Cuidou de Hattie durante dias. Salvou a vida dela durante o aborto, quando a criança nasceu morta. Nuncaseachouimportantedemaisparafazertrabalhospesados. —Sintomuitíssimo,Buck. Buck afastou o lençol do rosto de Floyd. No escuro, ele quase nã o conseguiu ver nada. Acendeualuzinternadocarroeteveumsobressaltoaoveramá scaradamorte.Osdentesde Floydestavamàmostra,olhosabertosaindainjetadosaoredordaspupilas. —Oh!doutor!—eledisse. Leah virou-se para trá s e vasculhou sua sacola à procura de luvas de lá tex. Ela fechou os olhoseabocadeFloydemassageousuasbochechas,deixando-ocomaparê nciadeestarapenas dormindo. —Ajude-meacolocá-loemposiçãomaisadequada—eladisse. BuckpuxouFloydporumdosombros,eLeah,pelooutro,eambosarrumaramseucorpo nobancoparaqueele icasseemposiçã oderepouso.Buckcontinuouadirigiremmarchalenta, desviandodeburacoselombadas. QuandoBuckchegouà casasecreta,acortinafoientreabertaeeleavistouChloeespiando pela fresta. Ela estava amamentando Kenny. Buck contornou a lateral da casa e parou no quintal. —Aguardeumpoucoaqui—eledisseaLeah.—Vocênãoseimportadeficarcomele...? —Vá—disseLeah. Chloe abriu a porta dos fundos com uma das mã os, segurando Kenny com a outra, aconchegando-oaoombro. — Quem está com você ? — ela perguntou. — Eu nã o vi Floyd. Buck sentia-se arrasado. Ele inclinou-se para a frente para beijar Chloe no rosto. Em seguida, fez o mesmo com Kenny, noexatomomentoemqueobebêarrotou. —Vocêpodecolocá-lonoberço?—elepediu. —Buck... —Porfavor—eledisse.—Precisoconversarcomtodosdacasa.Osoutrosoaguardavam nacozinha.Chloefoicolocarobebê noberçoeretornourapidamente.Rayfordestavasentadoà mesa. Suas roupas demonstravam que ele havia passado horas trabalhando no porã o. Hattie estava sentada na ponta da mesa. Tsion, com ar triste de quem já sabia de tudo, estava encostadonageladeira. Buck sentiu di iculdade para falar. Chloe aproximou-se dele e passou o braço ao redor de suacintura. —Temosumnovomá rtir—eledisse,econtoutodaahistó ria,inclusivequeLeahestava nocarroaguardandoaoladodocorpodeFloyd. Tsionabaixouacabeça. —QueDeusoabençoe—eledissecomvozrouca. Hattiepareciaabalada. —Elemorreuporminhacausa?Euocontaminei?ChloeabraçouBuckechoroucomele. —Alguémdenóspodeestarcontaminado? — Nã o — disse Buck. — Já terı́amos apresentado algum sintoma. Floyd apresentou os sintomas,masnãonoscontounada. Buck olhou de relance para Rayford. Todos estavam acostumados a recorrer a ele. Enquanto Tsion encarregava-se de orar, Rayford deveria orientá -los a respeito de Leah, do sepultamento, de tudo en im. Mas ele nã o esboçou nenhuma reaçã o. Continuou sentado, sem nenhuma expressã o no rosto, com os braços apoiados na mesa. Quando os olhos de Rayford se cruzaram com os seus, Buck notou no semblante de seu sogro um ar de indagaçã o, como se quisessedizer:"Oquevocêsesperamqueeufaça?" OndeestavaRayford,olíder,ocomandantedogrupo? — Nó s... nã o devemos deixar Leah esperando muito tempo lá fora — disse Buck. — E precisamostomarprovidênciasemrelaçãoaocorpo. AoverqueRayfordcontinuavaencarando-o,Buckdesviouoolhar.Será queelehaviafeito algumacoisaerrada?Queoutradecisã oelepoderiatertomado,anã oserlevarFloydà spressas paraohospitaletrazê-lodevolta,acompanhadodeLeah? —Papai?—disseChloecomdelicadeza. —Oquefoi?—perguntouRayfordsecamente,virando-separaafilha. —Eusó...Euestou...querendosaber... — O quê ? O quê ? Você está querendo saber o que devemos fazer neste momento? — Rayfordlevantou-se,empurrandoacadeirabruscamentecontraaparede,fazendo-atombarde ladonochã o.—Tudoeu!—Bucknuncaoouviralevantaravozdaquelamaneira.—Tudoeu! —berrouRayford.—Comovamospoderagüentartudoisso?Atéquepontovamossuportar? Rayfordpegouacadeiraeendireitou-acomtantaforçaqueelatombounovamente.Elea chutou de encontro à parede, mas ela voou por cima da mesa. Hattie desviou o corpo para proteger-seecaiunosbraçosdeTsion. —Rayford—disseTsionemvozbaixa. Acadeiranã oatingiuHattie.Bateunapontadamesaegirou,indopararpertodeRayford. Elesentou-secomraivanacadeiraebateucomasduasmãosfechadasnamesa. TsionsoltouHattie,quetremiadesusto. —Achoquedeveríamos...—elecomeçouadizer,masRayfordointerrompeu. — Perdoem-me — ele disse, ainda furioso, sem conseguir olhar para ningué m. — Traga Leahaqui.Depoisvamosenterrarocorpo.Tsion,vocêpoderiadizeralgumas... —Claro.EmelhortrazermosLeahparacá a imdedeixá -lamaisconfortá vel.Depoisdo sepultamento,conversaremoscomela. Rayford concordou. — Perdoem-me — ele disse mais uma vez. Buck foi até o Rover, conduziuLeahparadentrodecasaeapresentou-aatodos. —Lamentomuitoaperdaquevocê ssofreram—eladisse.-Eunã oconheciamuitobemo Dr.Charles,mas... —Antesdetudo,vamosorar—disseTsion.—Maistarde,vocênoscontasuahistória. —Claro. Quando Tsion ajoelhou-se no chã o, os outros izeram o mesmo, menos Hattie, que permaneceuempé. SenhorDeus,nossoPai,disseTsion,comvozfracaetrê mula.Confessamos que estamos no limite de nossas forças quando nos dirigimos a ti em tempos terríveis como estes, quando perdemosmaisummembrodenossafamília.Édi ícildeaceitarisso.Nãosabemosatéqueponto teremos condições de suportar tanto sofrimento. Tudo o que podemos fazer é con iar em tua promessa de que, um dia, veremos novamente o nosso querido irmão, onde a tristeza se transformaráemcânticosdealegria,ondenãohaverámaislágrimas. QuandoTsionterminouaoração,Buckdirigiu-separaaescadadoporão. —Aondevocêvai?—perguntouRayford. —Pegaraspás. —Tragaumasó. —Éumtrabalhopesado,Ray.Duasmãosamais... —Tragaumasó,Buck—eledisse.Emseguida,dirigiu-seaLeah.—Srta.Rose,queroque você me esclareça uma coisa. Floyd morreu por causa do veneno que Carpathia usou para tentarmatarHattie,estoucerto? —Éoqueeuacho. —Queroumarespostadireta,madame. — Senhor, eu só sei o que o Dr. Charles me contou. Nã o iquei sabendo como Hattie foi envenenada,mastudomelevaacrerqueFloydfoicontaminadoporela. — Entã o, Nicolae Carpathia é responsá vel por esta morte. Buck icou impressionado diantedaatitudedeLeah,quenãosesentiunaobrigaçãoderesponder. —Houveumassassinato,pessoal—complementouRayford.—Puroesimples. —Rayford—disseTsion-,CarpathianuncaouviufalardoDr.Charles.Emborapossamos dizercomsegurançaqueeletentoumataraSrta.Durham... —Eunã oestoufalandodeumtribunaldeculpa—disseRayford,comorostovermelho. —EstoufalandoqueovenenoqueCarpathiamandouprepararparamataralguémmatouFloyd. Tsionencolheuosombrosdemaneiraresignada. —Buck—disseRayford,dirigindo-seaseugenro-,ondeestáminhapá? —Porfavor,deixe-meajudar—disseBuck.Rayfordlevantou-secomocorpoereto. —Poupe-mededizeralgumacoisadaqualeuvámearrependeramanhã,porfavor,Buck. Estamissãoéminha.Éumacoisaqueeuprecisofazer,estábem? —Masacovaprecisaterumaprofundidadedemaisdedoismetros,vai icarmuitoperto dacasae...—Bucklevantouasduasmã osemsinalderendiçã oaoveroardeimpaciê nciano rostodeRayford.Elefoiatéoporãoetrouxeamaiorpáqueencontrou. Enquanto Rayford trabalhava no quintal, Leah conversou com o pessoal sobre a melhor maneira de preparar o corpo para ser enterrado. Sem ter condiçõ es de encontrar cal para revestirotúmulo,elainventouumsubstitutofeitodeprodutosusadosnacozinha. —Buck—eladisse-,vamosenvolverocorpocomplásticoresistenteeàprovad'água. Leahdistribuiuluvasatodososqueteriamcontatocomocorpoeprescreveuumasoluçã o paradesinfetaroRovereamaça. Buck icousurpresodiantedoqueRayfordconseguirarealizar,depoisdetertrabalhadoo dia inteiro no abrigo. Abriu uma cova de dois metros de comprimento, um metro de largura e dois metros e meio de profundidade. Ele precisou de ajuda para sair, com o corpo coberto de lama. Os trê s homens colocaram na cova o corpo de Floyd envolvido no plá stico, e Rayford permitiuqueosdoisoajudassemaenchê-lanovamentedeterra. O grupo todo, exceto o bebê que dormia, icou em pé ao redor da sepultura, onde havia apenasumafracaclaridadevindadacasa.Chloe,HattieeLeahseajuntaramparaproteger-se do ar frio da noite. Os homens, que transpiravam por causa do trabalho pesado, també m começaramatremerdefrio. Bucksurpreendia-secadavezmaiscomaeloqüênciadeTsion. — Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos — ele disse. — Floyd Charles era nosso irmã o, um membro importante e querido de nossa famı́lia. Se algué m desejar falar algumacoisasobreele,queofaçaagora.Emseguida,vamosorar. —Querodizerqueelefoiummédicovocacionadoeumcrentecorajoso—disseLeah. — Todas as vezes que eu pensar nele, vou pensar em nosso bebê e na saú de de Chloe — disseBuck. — Eu també m — complementou Chloe. — Ele nos deixou muitas lembranças em tã o poucotempo. Hattie tremia, e Buck notou que Rayford a estava itando, como que esperando que ela dissesse alguma coisa. Ela olhou para ele. Em seguida, desviou o olhar, balançando negativamenteacabeça. —Nada?—perguntouRayford.—Você nã otemnadaadizersobreohomemquesalvou suavida? —Rayford!—disseTsion. — Claro que tenho! — disse Hattie, com voz embargada. -Nã o consigo acreditar que ele morreuporminhacausa!Eunãoseioquedizer!Esperoqueelesejarecompensado. —Deixe-medizer-lhemaisumacoisa—prosseguiuRayford,comraivanavoz.—Floyda amava,Hattie.Vocêotratavacomoseelefosseumobjeto,maseleaamava. — Eu sei — ela disse, em tom de lamento. — Sei que todos você s me amam à sua manei... — Eu estou dizendo que ele a amava.Amavavocê. Preocupava-se com você , queria que vocêsoubesse. —Vocêquerdizerque...?Vocênãopodiasaberdisto. —Elemecontou!Achoqueelequeriaquevocêsoubesse. — Rayford — disse Tsion, colocando a mã o no ombro dele -, você tem alguma coisa a maisparadizersobreFloyd? — Esta morte precisa ser vingada. Da mesma forma que a de Ken, a de Amanda e a de Bruce. —AvingançapertenceaoSenhor—disseTsion. —SeaomenosEletivessemeincluídonessalista—disseRayford. Tsion olhou irme para ele. — Tome cuidado ao desejar coisas que realmente você nã o querqueaconteçam.Vamosencerrarestacerimôniacomumaoração. Buck nã o conseguiu ouvir as palavras de Tsion. Rayford havia começado a chorar. Sua respiraçã o foi icando ofegante, e ele cobriu a boca com a mã o. De repente, nã o conseguindo conter os soluços, ele caiu de joelhos no chã o, e seus gemidos ecoaram na noite. Chloe aproximou-sedeleeoabraçou. —Está tudobem,papai—eladisse,ajudando-oalevantar-seeconduzindo-oparadentro dacasa.—Estátudobem. Rayford afastou-se dela e subiu correndo a escada. Buck segurou Chloe nos braços, e a lamaquehaviasidotransferidadeseupaiparaasroupasdelatambémsujouassuas. Empé debaixodochuveironacasasecreta,Rayfordsentia-seagradecidopelopoçoepela á guaquentequeogeradorlheproporcionava.Seusmú sculoscomeçaramarelaxar.Quedia!A raiva inexplicá vel que o izera caminhar a passos irmes sob o ar fresco da manhã vinha sendo acumulada havia meses. O trabalho no porã o nã o servira para abrandá -la, principalmente por ter trabalhado sozinho o dia todo. A notı́c ia terrı́vel sobre Floyd havia sido a gota d'á gua para fazê -lo explodir de uma forma que nã o lhe era comum desde 15 anos atrá s, durante suas discussõ esacaloradascomIrene.Eaquelasdiscussõ eseramconseqü ênciadeexcessodebebida alcoó lica. Embora ele se sentisse mal por ter sido grosseiro com os outros, havia alguma coisa em sua raiva que parecia justa. Seria possı́vel que Deus plantara em seu coraçã o essa intolerâ ncia por injustiça com o ú nico propó sito de prepará -lo para matar Carpathia? Ou ele estaria enganando a si pró prio? Rayford nã o queria pensar que estava enlouquecendo. Ningué m entenderia um homem como ele tentando justi icar um assassinato, mesmo que fosse o assassinatodoanticristo. Rayford girou o controle do chuveiro para esquentar a á gua até a temperatura má xima suportá vel e deixou que ela caı́sse sobre sua cabeça. Suas oraçõ es haviam se transformado em sú plicas para que Deus lhe permitisse executar um ato impensá vel. Por quanto tempo um homemteriacondiçõ esdesuportartantosofrimento?Elefoioculpadopelaperdadesuaesposa e ilho.Poderiateridoparaocé ucomelessetivessesidoumhomemdefé ,enã oorgulhoso.E quanto à perda de Bruce, de Amanda, de Ken e do mé dico? Mas por que ele deveria estar surpreso? A vida agora nã o passava de um jogo. Será que ele esperava estar entre aqueles que presenciariamoGloriosoAparecimento?Certamentequenã o,seacertasseumtiroemNicolae Carpathia. Mas, provavelmente, ele nã o sobreviveria até lá de jeito nenhum. Talvez fosse fuzilado. Rayford saiu do chuveiro, jogou uma toalha sobre os ombros e olhou sua imagem no espelho embaçado. Assim que o vapor se dissipou e seu rosto icou mais nı́t ido, ele mal se reconheceu. Um ano atrá s, ele se sentia muito bem, e Amanda se impressionara com sua boa aparê nciaparaumhomemmaduro.Agora,apalavramaduroseriaelogio.Elepareciaesentiase muito mais velho do que sua idade. Acontecia o mesmo com todos, evidentemente, mas Rayfordacreditavaqueenvelheceramaisdepressadoqueorestodopessoal. Seu rosto estava magro e marcado por rugas, havia bolsas sob os olhos, e sua boca demonstravatristeza.Elenuncasepreocuparamuitoemficardeprimidoaoatravessarperíodos detristezaouabatimento,masagorahaviachegadoomomentodepararparapensar.Estaria ele deprimido? Clinicamente deprimido? Este era o tipo de conversa que ele deveria ter tido comFloyd.E,aopensarnonomedele,sentiuumapunhaladanocoraçã o.Aspessoasaseuredor estavam morrendo e continuariam a morrer até que Jesus retornasse. Isto seria maravilhoso, mas ele duraria até lá ? Se estava reagindo daquela maneira em relaçã o a Floyd, que ele mal conhecera,comoseriase...se...Rayfordnã oqueriapensarnesteassunto.Chloe?Obebê ?Buck? Tsion? Equantoà quelaenfermeiradohospitalchamadaLeah?Valeriaapenaconversarcomela? Talvez com uma pro issional, uma pessoa totalmente estranha, ele se sentisse mais à vontade parafalardecoisasquenã odiriaaningué mdacasa.Pormaisesquisitoqueparecesse,Hattieo conheciatã obemquantoosoutros,maselacontinuavaaserumaestranha,maisdesconhecida quearecém-chegada.ElejamaisrevelariaseuspensamentosíntimosaHattie. Evidentemente, Rayford també m nã o contaria nada a ela sobre seus planos para matar Carpathia,mastalvezpudesseconseguiralgumaajuda.Talvezelajá tivesselidadocompessoas deprimidasouconhecessemédicosespecializadosnestaárea. Enquantoenxugavaoscabelos,Rayfordadmitiuquenã oreconheceraohomemdiantedo espelhonem o homem que havia dentro dele. Os pensamentos que rondavam sua mente nã o faziam parte do Rayford Steele que ele pensava ser. Imagine só o que Chloe diria se soubesse. Maselasóconheciametadedeseusplanos. Suaagressividadenã oescaparaaosolhosdosdemaisintegrantesdoComandoTribulaçã o. Eles se perdoaram mutuamente um sem-nú m ero de vezes por coisas insigni icantes. Todos, menos Tsion. Ele nunca ofendia ningué m, nunca precisava ser perdoado. Algumas pessoas tinham o dom de viver em estado de graça, mesmo em condiçõ es adversas. Tsion era uma delas. Rayford,poré m,haviaexageradoemseucomportamentoegoı́stadentrodeumambiente tã o restrito. Havia ameaçado ostatus quo, o modo de vida naqueles tempos tã o difı́c eis. Ele deviaserolı́der.Sabiaquedeviaocuparessepostodamaneiracomofaziaosupervisordeum time de beisebol. Tsion era aquele que vencia todos os jogos. Mas era Rayford quem deveria exercerumpapelvital,terumaposiçã odeautoridade,umespı́ritodeliderançacomosefosse umpresbíterodentrodeumaigreja. Seráqueeleaindaeradignodessaposição?Porumlado,eletinhacertezadequenão,mas por outro, se ele realmente tinha sido escolhido por Deus para fazer parte de um assassinato planejadohaviamuitosséculos,eleeraalguémmuitoespecial. Rayford saiu do banheiro vestido com um enorme roupã o.Ou sou um homem ungido pelo Senhorousouummegalomaníaco.Ótimo.Quemvaimedizeroquesou?OvelhoRayfordSteele lutava consigo mesmo para ser racional, enquanto o irado, indignado, sofredor, deprimido, frustradoeenclausuradomembrodoComandoTribulaçã ocontinuavaanutrirpensamentosde grandeza.Ou,pelomenos,devingança.Souumhomemdoente, ele disse a si mesmo. Ele ouviu vozesnopavimentoinferior.Eramorações. Mac McCullum fazia sua caminhada matinal com passos irmes enquanto o sol surgia no horizonte,iluminandoaradiantecidadedaNovaBabilô nia!Abelezadaquelelocaleoprivilé gio de poder contemplá -lo seriam indescritı́veis se ele estivesse ali em outras circunstâ ncias. Supermoderna, majestosa, exuberante — eram adjetivos que vinham à mente quando algué m falavadessareluzentemegalópole. Poré m, por ter a oportunidade de ouvir secretamente as conversas, Mac tornara-se um espiã o, um subversivo, um rebelde. Os tempos de treinamento militar, autodisciplina, voz de comandoe iloso iado"umportodosetodosporum"con litavamcomseusideaisdomomento. Depois de ter alcançado o posto mais alto em sua carreira de piloto de aeronaves de grande porte,eleagorafaziausodosestratagemaseartimanhasqueaprenderaparaservirà causade Deus. Asatisfaçã odepoderfazerissoerasemelhanteà queelesentiaporaindaterfô legopara caminhardezquilô m etrospordia,apesardesuaidade.Paraalgumaspessoas,suascaminhadas eramimpressionantes.Paraele,umanecessidade.Eleestavalutandocontraotempo,contraa forçadagravidadeecontraumasé riedeproblemasfı́sicosquesurgemcomopassardosanos. Era assim que ele se sentia em relaçã o a seu trabalho. Devia sentir-se realizado, mas tinha como patrã o o inimigo de Deus. Por mais importante que fosse essa sua posiçã o, ele devia exultarpelofatodesaber,semsombradedúvida,queestavadoladocerto—doladovencedor. Mas o medo encobria qualquer sentimento de jú bilo. No minuto em que começava a relaxareapreciarsuafunçã odepiloto,logopercebiaoquantosuaposiçã oeravulnerá vel.Ofato de viver na corda bamba, saber que um ú nico deslize poderia ser o ú ltimo, roubava-lhe toda a alegriadetrabalhar.Haviaumcertograudesatisfaçã oporsaberqueeleerabomnoquefazia, tanto o icialmente como à s escondidas. Mas a tensã o constante pela qual passava, imaginando serdescobertoaqualquermomento,nãofaziapartedoidealdevidadeumserhumano. Enquantoosolclareavaohorizonteeosuorcomeçavaaescorrerpelacabeçaepelorosto deMac,imaginavaqueseutrabalhocomoespiã oseriadescobertoantesquepudesseperceber. Esse era o preço a ser pago. Ele nã o sabia nemquando nemse seria descoberto, poré m uma coisaeracerta:eleseriaoú ltimoasaber.PorquantotempoCarpathia,Fortunatoouqualquer um deles lhe permitiria fazer o que bem entendesse e ainda continuasse a ocupar uma funçã o tã o importante, depois de conhecerem toda a verdade? Será que eles o forçariam a falar, comprometer os companheiros a quem ele amava e servia, arruinar a precá ria segurança do grupoqueeletentavaproteger? Talvez até já tivesse sido descoberto. Como saber? O im de um traidor é como o im de uma estrela — o resultado só é visto apó s o evento ter ocorrido. Ele deveria icar atento aos sinais.Será quealgoindicariaomomentocertodecorrer,fugirparaacasasecreta,enviarum SOSparaoComandoTribulaçã onosEstadosUnidos?Ouserá queelejá estariamortoquandoo pessoaldoComandotomasseconhecimentodasituação? Quandofaltavaumquilô m etroemeioparaterminaracaminhada,elefezaú ltimacurva. Agora o sol batia-lhe nas costas. Sua ú ltima mensagem criptografada a Abdullah Smith havia colocado o jordaniano no mesmo barco que Mac: "O Departamento de Pessoal fará uma pergunta direta sobre sua lealdade à causa, à Comunidade Global, ao potentado. Lembre-se, você é umguerreirodalinhadefrente.Digaoqueelesdesejamouvir.Useosmeiosquequiser paraconseguiroemprego.Vocêestaráemposiçãodeajudaraimpedirosesquemasdodemônio everáhomensemulheresaceitaremaCristo,apesardetudo. "Sevocê nã osouberoquedizer,comoseexpressar, injacomoeu.Diga,semhesitar,que tem a mesma opiniã o de Mac McCullum a respeito da Comunidade Global e que aceita tanto quantoeleaspolíticaseasorientaçõesdolíder.Jamaisconteaverdade. "Nã o estou dizendo que será fá cil. O salá rio é exorbitante, conforme já é de seu conhecimento,masvocê nã ovaiusufruirdenenhumcentavodele.Osvaloresdasgrati icaçõ es sã o altos demais, mas você vai sempre sentir que está recebendo um dinheiro sujo, que necessita ser puri icado. Você será puri icado por Deus porque estamos a serviço do TodoPoderoso. O trabalho vai ser por pouco tempo, porque Tsion Ben-Judá está certo: quando a marcadabestaforexigidaparacomprarevender,será necessá rioostentá -laparacontinuara fazer parte da folha de pagamento daqui. Passaremos de funcioná rios de alto nı́vel a fugitivos internacionais,dodiaparaanoite. "Euprecisodevocê ,Abdullah,é tudooquepossodizer.Você ,Rayeeutrabalhamosjuntos nopassado.Nã ovaisertã odivertido,masnã ohaverá umsó instantedesossego.Aguardocom ansiedade o momento de estar mais uma vez na cabina de comando ao lado de um piloto respeitáveledeumirmãoemquemconfio.Tudodebomparavocê.Mac." BuckestavasentadoaoladodeChloenosofá,pertodeTsioneLeah.Láestavaela,recémchegadaà casaejá participandodeumareuniã odeoraçã opelolı́derdogrupo.Buckoravacom uma certa hesitaçã o, demonstrando sentimento de culpa. Nã o teria sido melhor enfrentar Rayford? Seria justo estar falando dele pelas costas, mesmo em um momento espiritual como aquele?CertamenteTsionconversariacomRayfordnomomentoapropriado. CAPÍTULO5 Rayford detestava sentir-se isolado dos outros. Com seu sonho de eliminar Carpathia (mesmo que temporariamente), ele passou, ironicamente, a ter mais coisas em comum com Hattiedoquecomqualqueroutrapessoa.Aculpaeradeleporterperdidoocontroleeassustá los. Mas o que estaria se passando no pavimento inferior à meia-noite? Rayford gostava muito quandoelesoravamjuntos.Masestariahavendoumareuniã odoComandoTribulaçã osemsua presença?Eledeveriasentir-seofendido? Evidentemente, eles eram livres para reunir-se com os irmã os e irmã s que desejassem. Comandaraquelegruponã oeraomesmoquedirigirumaempresa.Oqueestavaacontecendo com ele? Desde quando ele passara a se importar com coisas insigni icantes? Rayford desceu a escadanapontadospésparanãodesviaraatençãodeles.Realmente,ogrupoestavasentadono sofáenascadeirasdasaladevisitas,decabeçabaixa,orando.Todosestavamlá,menosHattie. Rayford comoveu-se e, de repente, sentiu o desejo de reunir-se a eles. Mas seus motivos nã o eram puros. Ele queria reconciliar-se com o grupo sem ter de pedir desculpas mais uma vez.Ofatodeparticipardeumareuniã odeoraçã oaoladodelesjá seriaumagrandecoisa...Ele poderiaatéorarepedirperdãoporseuacessoderaiva... Assim que entrou na sala de visitas, Rayford sentiu doer a consciê ncia. Que tolice! Que mesquinharia! Ser tã o abençoado por Deus mesmo diante de todo aquele sofrimento e, de repente,quererusaraoraçã oparamanipular...Elequaseretrocedeu,masagoraqueriareunirseaogrupopormotivoscertos.Nã oqueriaoraremvozalta.Só queriaestaremcomunhã ocom elesdiantedeDeus,fazerpartedaquelegrupo,daquelaigreja.Elesabiaquesó sesentiriadigno devoltaraserolı́derquandocompreendessequenãoeradignosevivesseafastadodagraçade Deus. Omotivodaoraçãoeraele.Primeiroum,depoisoutro,todosmencionandoseunome.Eles oravam suplicando força, paz e conforto em sua dor. Eles oravam suplicando para que tivesse umcontentamentosobrenatural,quandoissoerahumanamenteimpossível. Rayford poderia sentir-se ofendido por estarem falando dele em oraçã o. Mas estava envergonhado. Ele havia sido pior do que imaginava. Rayford ajoelhou-se em silê ncio. De repente,aemoçã oeofervordasoraçõ esodeixaramtã oquebrantadoehumilhadoqueelenã o teve forças para sufocar os soluços. Ajoelhou-se e inclinou o corpo para a frente, apoiando os cotovelos no chã o, e chorou alto. Ele lamentava muito, muito mesmo, e estava agradecido porqueelesconsideravamquevaliaapenaoesforçoparafazê-lovoltaraonormal. Chloe foi a primeira a correr na direçã o de Rayford, mas, em vez de levantá -lo, ela ajoelhou-seaoladodeleeoabraçou.RayfordpercebeuqueBucktentoucolocaramã oemsuas costas. Ele queria dizer a seu genro para nã o se preocupar, que seu apoio moral signi icava muitacoisa.Tsioncolocouafetuosamenteamã onacabeçadeRayfordeinvocouapresençade DeusparaqueEle"ajudasseRayfordaatravessaresseperı́ododesofrimento,omaisdifı́c ilque alguémjátevedesuportar". Rayfordsedeucontadequeestavachorandopelasegundaveznaquelanoite,só quedesta vezseuchoronã oeradedesesperança.Elesentiu-seenvolvidopeloamordeDeusepeloapoio de sua famı́lia. Ainda nã o desistira da idé ia de que Deus poderia usá -lo no merecido castigo a NicolaeCarpathia,masaquilonã oera—pelomenosnaqueleinstante—tã oimportantequanto a posiçã o que ele ocupava dentro do grupo. Eles entenderiam que ele nã o podia ser forte sempre.Ficariamaseuladoquandoeleagissecomoumserhumano.Elesoapoiariam,mesmo quandoeleerrasse.Comoseriapossívelexpressaressesentimento? RayfordperceberaqueLeah,apesardenã oconhecê -loosu icienteparatocá -lo,també m orou por ele. Ela nã o ingiu conhecer o problema. Limitou-se a dar a entender que ele se descontrolaraequenecessitavadeumtoquedeDeus. Quando,finalmente,asoraçõescessaram,Rayfordsóconseguiubalbuciar: —Obrigado,Senhor. Tsion começou a entoar um câ ntico conhecido. Primeiro Chloe, depois os outros se juntaramaele.AbençoadossãooslaçosqueunemnossoscoraçõesnoamordeCristo.Acomunhão comosirmãosquenelecrêemésemelhanteaisto. Osquatrolevantaram-seeretornaramaseuslugares.Rayfordpuxouumacadeira. —Penseiquevocêsestivessemvotandoparameexcluirdoclube—eledisse. Tsiondeuumarisadinha. —Mesmoquevocê pedissedemissã o,nó snã oaaceitarı́amos—eledisse.—Eugostaria desaber,Leah,sevocê nã oseimportariadeaguardaraté amanhã paranoscontarsuahistó ria. Acho que todos nó s tivemos um dia muito cansativo, e gostarı́amos de lhe dar toda a atençã o quevocêmerece. —Euiasugeriramesmacoisa—eladisse.—Obrigada. — Você teria alguma objeçã o em ocupar o quarto em que Floyd costumava dormir? — perguntouRayford. — Nã o, a menos que algué m se oponha — ela disse. -Sei que meu pedido talvez pareça estranho,masnã ovouconseguirdormirsemconhecerorestantedacasa.Será queeupoderia darumrápidogiroporaqui,sóparasaberondeestãoascoisas? — Chloe e eu icaremos felizes em mostrar-lhe a casa — disse Rayford, na esperança de iniciarumentrosamentoentreelesquefacilitasseaconversa. — Vou ver como está o bebê — disse Buck. Tsion levantou-se, exausto. — Boa noite a todos.RayfordficouimpressionadoaoverqueChloefoiesperta osu icienteparanã omostraroporã oaLeah.Elacomeçoupelosfundosdacasa,poronde Leahentrara. — Nã o há nada na casa geminada — ela disse. — Sua estrutura foi muito atingida. Você passouporestasaletaaqui.Elafoireconstruída.Umaárvoretombounestelugarquandohouveo terremoto e esmagou a esposa do proprietá rio. O marido dela estava em nossa igreja naquele momentoemorreuquandootemplodesabou. —Aseguir,vemacozinha—prosseguiuChloe.—Asaladevisitas icaà esquerda.Estaé asaladejantar,ondenó snunca izemosasrefeiçõ es,só trabalhamos.Depoisdaescada,há um banheiroeoquartodafrente,ondeBuckeeudormimoscomobebê. Nopavimentosuperior,elamostrouaLeahooutrobanheiroeosquartosdeRayford,Tsion eFloyd. —Obrigada—eladisse.—ERitz?Ondeeledormia?RayfordeChloeentreolharam-se. —Ah!—eledisse.—EunãosabiaquelhecontaramqueRitzmorouaqui. —Qualéosegredo? —Acasatodaéumsegredo. — Eu nã o deveria saber que ele morou aqui? Fiquei sabendo que o Dr. Charles, o Sr. WilliamseHattiemoravamaqui. — Eu imaginei que você nã o soubesse, só isso — disse Rayford. — Desculpe-me se demonstreialgumadesconfiança. Leah parou. — Descon iança do quê ? Você quer examinar meu selo na testa? Você teve con iançaemmimparameenvolveremtodosostiposdeemergê nciapossı́veis.Seeunã ofosse dignadeconfiança,teriaarriscadoavidaporvocêstodos? —Lamentomuito,eu... — Francamente, Sr. Steele. Se eu estivesse trabalhando para a CG, teria avisado o potentadoquandoHattieabortouo ilhodeleenquantoeuaatendia.Eupoderiaterdenunciado oDr.Charlesquandoeleincinerouofeto,emvezdeseguirosprocedimentoslegais.Eupoderia teravisadoasautoridadesquandoseugenromeforçoualiberarRitzcomumferimentoaberto nacabeça.Você achaqueeunã osabiaquemvocê serameporqueningué mpodiasaberonde vocêsmoravam? —Srta.Rose... — Sou Sra. Rose. Imaginei que Ritz morava aqui porque eu sabia que o aeroporto havia desabado completamente. E, caso você nã o se lembre, você s e ele estavam juntos quando levaramHattieaohospital.Será queeudeveriasuporquevocê saiudeseuesconderijoeelefoi aoseuencontro,partindodeoutrolugar? —Vocêtemrazão.Eusó... — Haverá gente que se in iltrará aqui, Sr. Steele. Nã o sei como eles vã o fazer, mas acho queaCGé capazdetudo.Mas,enquantoelesnã oinventaremumaré plicaperfeitadoseloque só nó spodemosverunsnosoutros,pensoque ningué m vai ser tã o tolo a ponto de Vir espionar aqui.Podemesubmeteraointerrogató rioquequiser,masagradeçosevocê nuncamaisadmitir quedescon iademimsó porqueconheciumhomemquemoravaaqui,cujoprimeironomenem sequermelembro. Rayfordolhouparaelacomardedesculpa. —Seeulhedisserquetiveumdiaterrível,issoserviriadedesculpa? —Eutambé mtiveumdiaterrı́vel—eladisse.—Digaquenã oestá comreceiodemim, senãoireiembora. —Nãoestou.Sintomuito. —Eutambém.Perdoe-mesefuigrosseira. Porhoje,chegadeentrosamento,pensouRayford. —Nãovamosmaisfalardesteassunto—eledisse. —Querdizerquevocêconfiaemmim? —Sim!Agoravádormir.Nóstambémvamosfazeromesmo.Sinta-seàvontadeparausar obanheiroantesdenós. — Você disse que con ia em mim, nã o disse? Rayford percebeu que até Chloe já estava perdendoapaciênciacomLeah. —Estouexausto,Sra.Rose.Jámedesculpei.Jámeconvenci.OK? —Não. —Não?—estranhouChloe.—Euprecisodormir. —Vocêachaquesoucega,idiotaoucoisaparecida?-perguntouLeah. —Comoassim?—perguntouChloe. —Ondeficaoabrigo? Rayford teve um sobressalto. — Você me pergunta sobre o abrigo e nã o quer que eu desconfiedevocê? —Nãoexisteumabrigoaqui? —Porquevocêestáperguntando?Leahbalançouacabeça,aborrecida.. —Istoépiordoqueserconsideradasubversiva.Vocêsachamquesouumatola. — Eu nã o acho — disse Chloe. — Se você me disser como descobriu que há mais um cômodoaqui,euomostrareiavocê. — Obrigada. Se eu estivesse escondida em uma casa secreta, imaginaria que, um dia, algué miriadescobri-la.Ouvocê stê mumlugarparafugiremcasodeemergê ncia,ouestelugar vai virar de cabeça para baixo. E mais: isto é tã o ó bvio que eu nem deveria ter perguntado. DevosuporqueHattiedormeforadacasa? —Hattie?—disseRayford. —Sim.Vocêseesqueceudela?Nãovioseloemsuatesta,maselaandaporaquienquanto vocêstratamdeassuntosespirituais.Ondeeladorme? Chloedeuumlongosuspiro. —Vádormir,papai.Voumostraroabrigoaela. —Obrigada! Asduascaminharamemdireçãoàescada.Rayfordnãopôderesistirefezumcomentário. —Vocêtemodomdeserirritante,Leah,sabia? —Papai!—disseChloe,decostasparaele.—Merecemostudoissoevocêsabeporquê. Leahparoueencarou-o. —Eurespeitotodosdestacasa—eladisse.—Masseucomentáriofoimachista.Podeme chamardefeminista,masvocê nã oteriaditoaumhomem,queestivessetã oofendidoquanto eu,queareaçãodelefoiirritante. —Provavelmenteteria.Eudisseoquepensava. — Obrigada por me fazer perceber que agi como uma pessoa estú pida — disse Leah. — Hoje, falei com seu genro de um modo que nã o costumo falar com ningué m. E agora fui grosseiramaisumavez.Nãoseioqueestáacontecendocomigo. Rayfordsentia-seexatamentedamesmamaneira,masnãoquisadmitir. —Prometaqueamanhãvocêmedaráumatrégua—eledisse. —Prometido. As mulheres desceram a escada, e Rayford, inalmente, foi para seu quarto. Depois de pendurar o roupã o, ele deitou-se de costas no lençol frio, sentindo os mú sculos doloridos por causa do trabalho no porã o e no quintal. Ele cruzou as mã os atrá s da cabeça e já estava começandoaadormecerquandoouviupassosnaescadae,emseguida,umabatidanaportade seuquarto. — Eu estava mostrando o porã o a Leah — disse Chloe -, onde Hattie dorme. Só que ela nãoestálá. —Hattie? — Onde ela poderia estar? Nã o está na casa. Nem lá fora, pelo menos até onde eu pude enxergar.Etemmais,papai.Ascoisasdelanãoestãoaqui.Elalevoutudo. Rayfordlevantou-seevestiuoroupã o,imaginandoseteriaforçasparaenfrentarmaisum problemasemdesfalecer. —Dê umaolhadanoabrigoeveri iqueseocarrodeKenestá lá .VejaseodeBuckainda está noquintal.Elanã opodeteridomuitolongeapé .Buckpegará ocarrodele,eeu,odeKen. Vamosatrásdela. —Papai,nã osabemosquandoHattiesaiu.Elapodetersaı́dodaquilogodepoisdoenterro. Eunãoavidesdeentão.Evocê? Elesacudiuacabeça. —Nãopodemosdeixá-lairlongedaqui.Elasabedemais. —Vamospensarnopior.Seelaconseguiualgué mparalevá -laaalgumlugar,você nunca vaiencontrá-la. Eles começaram a andar pelo local que um dia havia sido uma rua diante da casa, à procura de marcas de passos. Agora, a rua nã o passava de um caminho empoeirado, cheio de craterasenormesnoasfalto.Hattiepodiateridoparaqualquerdireçã o.Rayfordpegouocarro de Ken Ritz e saiu em disparada. Buck pisou fundo no acelerador de seu Land Rover, deixando atrásdesiumanuvemdepoeira.Buckseguiuparaonorte,eRayford,paraosul. Quando icou evidente que Hattie nã o se encontrava na vizinhança, Rayford ligou para Buck. — Ela nã o está por aqui — disse Buck. — Estou com um mau pressentimento. Nã o podemosdizeràpolíciaqueeladesapareceu. —Tiveumaidéia—disseRayford.—Vamosvoltarparacasa. RayfordligouparaPalwaukee.Atendeuumasecretáriaeletrônica. — T, aqui é Ray. Se você estiver aı́, atenda, por favor. -Ele aguardou alguns instantes e, emseguida,ligouparaocelulardeDelanty. —Alô—eleatendeucomvozsonolenta. —Desculpe,T.Euoacordei? —Claroquesim.Oquehouve,Ray?Esperoquenãosejaumaemergência,mas,senãofor, porquevocêestámeligandoaestahora? Rayfordopôsapardetudo. —Eusóqueriasaberseaquelesdoisfolgadosaindaestãozanzandoporaí. — Ernie e Bo? Faz quase um ano que nã o vejo Ernie. Sinto falta daquele cara, apesar de eleserumidiota.Ouvidizerqueelefoi para o oeste. Beauregard Hanson, o Bo, ainda está por aquitentandoconseguiros5%destelugarqueeleachaquetemdireito.Porquê? — Estou pensando que Hattie pode ter usado Bo para conseguir algué m que a levasse emboradaquideavião. — Eu parei de trabalhar à s seis da tarde. Deixei um funcioná rio na torre até à s nove. Depoisdisso,elefechoutudo. —Existeapossibilidadedeumaviãodegrandeporteterlevantadovôodaíestanoite? — Ray, eu nã o posso chamar um sujeito a esta hora da madrugada para fazer esta perguntaaele. —Porquenão?Euchameivocê. —Ah!sim,masvocêtinhacertezadequeeunãoficariacomraivadevocê. —Nãomesmo? —Émelhoreunãodizernada.Somosirmãos,vocêselembra? — Por falar nisto, você é o ú nico irmã o "irmã o" que me restou, se é que entende o que estoudizendo. —Oquehouve? Rayfordcontou-lhesobreFloyd. —Oh!homem!Sintomuito,Ray.VocênãoestádesconfiandoqueHattie...? Rayfordcontou-lhecomoFloydachavaquehaviasidocontaminadopeloveneno. —Tenhomotivosmuitogravesparadescobrirondeelaestá—disseRayford. —Vouverificarolivroderegistros. —Vocênãovaiquerersairdaíaestahora. — Posso veri icar daqui mesmo, irmã o. Aguarde um minuto. Rayford ouviu o rangido da camadeTe,emseguida,osomdocomputadorsendoligado.Tvoltouaotelefone. — Estou veri icando a listagem. Nã o houve muito trá fego esta noite. Quase todos eram aviõespequenos,deempresas,doisdaCG.Humm. —Oquê? — Há um pouso estranho aqui. Um Quantum de tamanho exagerado, parecido com um enormeLearjet,masdeoutrofabricante,chegouà s22h30só comopiloto.Partiuà s23h30com o tanque cheio, sem carga, tendo a bordo apenas um passageiro nã o identi icado, destino ignorado. —Étudo? — Bem, há uma coluna aqui para indicar se o vô o foi pago, se será cobrado depois ou se estátudoOK.FoiassinaladoOKporBH,oBo. —Eunã oconheçoasespeci icaçõ esdoQuantum—disseRayford.—Qualé avelocidade eautonomiadevôo? — Ah! a velocidade é a mesma de um aviã o pesado, mas provavelmente vai precisar reabastecerseforatravessarooceano.Paraondevocêachaquesuafugitivaestáindo? —Eunã oduvidodequeelapodeterpensadoementrarnoescritó riodeCarpathiaefazer oserviço.Masnãoexistemeiodealcançarouinterceptaraquelaaeronave,existe? —Não.Quehorassão?Quaseumadamadrugada?Aquelacoisaestávoandoháumahorae meia, e, pelo que tudo indica, à velocidade má xima. Mesmo que a gente desconte 20 minutos paraoaviã opousarnacostaleste,abastecerelevantarvô onovamente,aestahoraelejá deve estarbemlonge. — Você conseguiu informaçõ es su icientes para que eu possa passar uma mensagem via rádioparaaaeronave? —Penseumpouco,Rayford.0pilotodaqueleaviã osó vairespondersesouberquemestá chamando. — Talvez eu consiga inventar uma histó ria, insistir para que ele pouse na Espanha em razã odealgumaanormalidadenocombustı́veloucoisaparecidaquepossateracontecidoaqui ouemoutrolugarondeelereabasteceu. —Vocêestásonhando,Ray.Eutambémgostariadeestarsonhando... —Dequalquerforma,obrigado,meuamigo. — Você vai ter de descobrir o paradeiro dela sozinho ou com a ajuda de algum de seus contatosdelá. —Eusei.Muitoobrigado,T.Voutentariraté aı́ amanhã paratratardealgunsassuntosda cooperativa. —Hoje,vocêquerdizer? —Issomesmo—disseRayford. — Talvez eu leve comigo duas pessoas daqui. Queremos cuidar desse negó c io da melhor maneirapossível. PeloqueRayfordsabia,Hattietambémseriacapazdeacabardevezcomacooperativa. MacMcCullumteveumamanhãagitada.DepoisdecumprimentarAnnieChristophercom umtoquedemã onaabadoquepeenquantopassavapelasaladelanohangar,elechegouà sua sala, onde encontrou trê s recados. O primeiro era uma lista preparada pela secretá ria de Leon Fortunato,mencionandoonomedaspessoasautorizadasavoarparaBotsuanadaliatrê sdias.O supremo comandante, seu criado particular, um assistente, um cozinheiro e dois auxiliares comporiam o contingente da CG. Dois assessores acompanhariam o presidente Ngumo, de Botsuana. No recado, havia a seguinte observaçã o: "O Supremo Comandante ordena que a aeronavefiqueestacionadaenquantoopessoaldeBotsuanaestiverabordo." Alistatambé mincluı́aocapitã oeoco-piloto,comumasteriscologoapó sonomedeste ú ltimo.Oasteriscono inaldapá ginamencionavaoseguinte:"OSupremoComandanteacredita quevocêficarásatisfeitocomaresoluçãotomadaarespeitodesteassunto." Mac icou contente. O segundo recado era do Departamento de Pessoal a respeito da solicitaçã o para que Abdullah Smith ocupasse o posto de co-piloto do Condor 216. Alé m de ser avaliadocomoumpilotoaltamentecapacitadoemtodososaspectosté cnicos,eletambé mfoi considerado "um cidadã o digno, leal à Comunidade Global". A ú nica ressalva era quanto à sua habilidadeparaseexpressar("Umpoucolacônico",diziaanota). Fortunato escrevera por seu pró prio punho na margem: "Parabé ns pela maravilhosa descoberta,Mac.Smithseráumhomemmuitoimportanteàcausa!S.C.L.F." Elenãosabedenada,pensouMac. OterceirorecadoparaMaceradeDavidHassid."Há umamensagemimportanteparao senhor,capitão.Sópodesertransmitidapessoalmente." MaceDavidtinhamaprendidoamanterumacondutaimpessoalepro issionaldiantedos demais funcioná rios. A diferença de idade entre eles ajudava. O conjunto de edifı́c ios da CG, emborafosseostensivamenteantimilitaremrazã odoreconhecidopaci ismodeCarpathia,era pseudomilitaremsuaestruturaorganizacional.Macsentia-seconfortá velnopostodecomando, poispassaragrandepartedesuavidausandofarda.EDavidgeralmenteacatavaosconselhosde Mac por ter trabalhado em empresa particular antes de ser admitido na CG. Agora os dois estavamempédeigualdade,trabalhandoemsetoresdiferentes,eseusencontrosocasionaisnão atraíamaatençãodeninguém.MacfoiconduzidoàsaladeDavidporsuasecretária. —Capitão—disseDavid,dando-lheumapertodemão. —Diretor—disseMac,sentando-se.Asecretáriasaiudasala. —Vejaisto—disseDavid,virandoseu laptopdemodoqueMacpudesseleroqueestava escritonatela. Ocapitã osemicerrouosolhoseleuorelatodeRayfordsobreasatividadesdodiaanterior nacasasecretaemIllinois. — Oh! nã o — disse Mac — aquele mé dico! A moça foi embora, o mé dico morreu. E o cúmulo! —Asituaçãoestápiorando—disseDavid. Mac leu os detalhes sobre o desaparecimento de Hattie. Em seguida, recostou-se na cadeira. —Seráqueeleestárealmentepensando... DavidfezumgestocomamãoparainterromperMac. — Enquanto penso no assunto, vou me livrar disto aqui. — Ele apertou algumas teclas para apagar o arquivo criptografado. — Que ela está vindo para cá ? Nã o acredito. Ela é um tanto idiota, mas até aonde pensa que vai chegar? E um milagre essa moça ainda estar viva depoisdetudooqueCarpathiafezparalivrar-sedela.SeelaapareceraquinaNovaBabilô nia,já era. Mac concordou com a cabeça. — Ela deve estar escondida em algum lugar, esperando pegarohomemdesurpresa. —Nãoacreditoqueelaconsigachegartãoperto.Macbalançouacabeçaconcordando. —Eoqueeutambé macho.Seupessoalinstaloudoisconjuntosdedetectoresdemetalno 216nasemanapassada. — O plano é usá -los até mesmo para dignitá rios. E claro que o principal motivo é a suspeitaqueelestêmemrelaçãoaoPeteDois. —Eujá sabia.Fortunatopreparouosdezreis...oumelhor,ossubpotentadosregionais...ou seilá comoosantoNickvaichamá -los,nestasemana...parafazeroserviço.Tenhoaimpressã o dequeFortunatoosestáforçandoatomaressaatitude. — Até parece que aqueles sujeitos concordam com qualquer coisa — disse David. — QuantosdelesvocêachaquesãoleaisaCarpathia? Mac encolheu os ombros. — Mais da metade. Talvez uns sete. Conheço trê s que tomariamolugardelesetivessemalgumachance. —Vocêachaqueelesoderrubariam? —Emquestãodeminutos.ÉclaroquePetetambém. —Verdade? Macinclinouocorpoparaafrenteejuntouaspalmasdasmãos. —Euouviopró prioPetedizeristo.EleenfrentaCarpathiacomsuaarrogâ ncia,mas inge ser prestativo. Carpathia se faz de bonzinho com ele o tempo todo, e um faz mesura para o outro. Mas vou-lhe dizer uma coisa: se Leon nã o se livrar logo de Mathews, vai ter problemas pelafrente.Existeumaordemclara,comosetivessesidoescrita. Davidlevantou-se,pegoualgumaspastasdeumagavetaatrá sdeleeespalhouospapé isna mesa. —Ésóparadisfarçar,casoalguémestejanosobservando—eledisse. Macesticouopescoçoparafingirqueestavalendo. —Elesestãodecabeçaparabaixo,seubobo—disseMac,contendoumsorriso. —Desculpeminhadistração—disseDavid. —VocêsabeoqueRayfordandavaplanejando? —Não,meconte. — Provocar um acidente aé reo com Carpathia a bordo. David endireitou o corpo e empinouacabeça. —Istonã oé bı́blico,é ?Querodizer,seeleforquemnó simaginamos,só vaimorrerno42° mês,certo?E,mesmoassim,nãovaipermanecermorto. —Masoqueestoulhecontandoéaverdade. — Nã o parece fazer parte do modo de ser do capitã o Steele. Ele sempre me pareceu muitoequilibradoesensível. —Eunãoqueriaestragaraimagemquevocêtemdele. —Podeacreditaremmim,você nã oestragou.Nã opossonegarquetambé mjá imaginei fazerisso. Maclevantou-seedirigiu-separaaporta. —Eutambém. CAPÍTULO6 Os problemas emocionais desgastavam Buck tanto quanto o trabalho fı́sico. Geralmente, apó s ter trabalhado o dia inteiro com Rayford e Floyd no abrigo subterrâ neo, ele sentia di iculdade para dormir. Mas, agora, a di iculdade aumentara: ele sofria a perda de Floyd, receava que Hattie pudesse pô r em perigo o Comando Tribulaçã o e estava assustado com o estranho comportamento de seu sogro. A exaustã o de Buck havia ultrapassado os limites. Deitado ao lado de sua abatida mas sempre animada esposa, ele lutava para permanecer acordadoeouviroqueelaprecisavalhedizer. Ele e Chloe quase nã o tinham mais tempo para conversar, apesar de passarem a maior parte do tempo na mesma casa. Ela lamentava nã o poder ser tã o ativa como antes, em parte porterde icarpresaemcasaporcausadobebê ,emparteporcausadosferimentossofridospor ocasiãodoterremoto. — Ningué m mais seria capaz de fazer o que você está fazendo com a cooperativa, meu bem—elelhedisse.-Imagineosmilhõesdepessoasquedependerãodevocêparaviver. —Maseuestouà margemdetudo—eladisse.—Passoamaiorpartedodiaconsolando vocêepapaietomandocontadobebê. —Nósprecisamosdevocê. —Eutambémtenhominhasnecessidades,Buck. Elepassouobraçoaoredordocorpodela.—QuerqueeucuidedeKennyparaquevocê possaacompanharseupainavisitaqueelevaifazeraTamanhã ?Elesvã otratardeassuntosda cooperativa. —Euadoraria. Buck imaginou ter resmungado alguma coisa. Mas quando Chloe afastou o braço dele e virou-separaooutrolado,eleentendeuquehaviacochilado.Elahaviaditomaisalgumacoisa; elesabia.Tentoureunirforçasparaabrirosolhos' e desculpar-se, terminar a conversa. Mas quanto mais ele tentava, mais confusos seus pensamentos icavam.Apesardeestardesesperadoporterperdidoumamagnı́ icaoportunidade dedialogarcomsuaesposa,elemergulhouemsonoprofundo. No inal da tarde, na Nova Babilô nia, David foi chamado à s pressas para comparecer ao escritó rio do supremo comandante da Comunidade Global, Leon Fortunato. A luxuosa ala reservadaaLeoncompreendiao17°andarinteirodonovopalá cio,apenasumandarabaixodo ocupadoporSuaExcelência,opotentado. Embora David se reportasse diretamente a Fortunato, os encontros entre eles haviam se tornadoraros.OorganogramadaCG,conformeMacmencionaramaisdeumavez,tinhadedar aidé iadeumatigeladeespaguete.Aparentemente,Carpathiatinhaapenasumsubordinado— alé m de sua secretá ria e alguns lacaios tagarelas que o rodeavam o tempo todo -, e esse subordinadoeraFortunato.Poré m,aalaadministrativainteiradopalá cioestavasemprecheia debajuladoresquesevestiamcomoopotentadoeosupremocomandante,andavamcomoeles, conversavamcomoeles,curvando-seefazendobajulaçõesnapresençadosdois. David, o funcioná rio mais jovem do setor administrativo, parecia ter conquistado a simpatiadeseussuperiorespormanterumacondutarespeitosaemrelaçã oà che ia,apropriada àsuaposição.Mas,naquelemomento,eleestavaemumaencrenca. Assim que a porta da sala de Fortunato foi fechada e antes que David pudesse sentar em umadascadeirasluxuosas,Leondirigiu-serispidamenteaele. —Querosaberondeestã oaquelescomputadoreseporquenã oforaminstaladosconforme combinamos. —Ohã...hã...embarque... —Omaiorembarquedecomputadoresque izemosdesdequeequipamosocastelo...isto é ,opalá cio—disseLeon,sentando-seemsuacadeiradecouro,queseassemelhavaaumtrono em razã o de sua imensa estrutura. — Você sabe do que estou falando. Quanto mais você pigarrear,maissuspeitas... —Éclaroqueeusei,senhor.Recebemosacargaonteme... —Ondeelaestá? —...oscomputadoresnãotêmcondiçõesdeserlevadosdiretamentepara... — O que há de errado com eles? — vociferou Leon, apontando-lhe inalmente uma cadeira. Davidsentou-se.—Trata-sedeumproblematécnico,senhor. —Defeitodefabricação? —Eum...problemadelocalização.Elesnãovãofuncionarnopalácio. Leonfitou-odemaneirapenetrante. —Elesprecisamsersubstituídos? —Sim,éaúnicasolução,senhor. —Então,substitua-os.Vocêentendeuoqueeudisse,não,diretorHassid? —Sim,senhor. —Entendeuoqueeuquerodizer? —Comoassim? —Quandoeumepreocupocomalgumacoisa,você entendequeapreocupaçã onã oé só minha,certo? —Certo,senhor. —SuaExcelê nciaestá ansiosoparaqueeu...você ...paraqueagentecuidedesteassunto. Sua Excelê ncia está con iante, porque eu lhe garanti que ele podia icar tranqü ilo, que você ia tomarcontadetudo. —Aqueleequipamentoseráinstaladoassimqueforhumanamentepossível. Leon sacudiu a cabeça. — Nã o estou falando apenas dessa droga de instalaçã o! Estou falandoderastrearnossosopositores. —Claro. —SuaExcelê nciaé umpaci ista,conformevocê sabe.Maseletambé msabequeopoder de um homem de paz está baseado unicamente em informaçõ es. E por isso que ele monitora aquelesdoispregadoresmalucosdeJerusalém. O dia deles vai chegar. Eles já apareceram demais. Por mais condescendente que Sua Excelê ncia seja em relaçã o a pontos de vistas diferentes dos dele, sabemos que uma facçã o pequena, poré m in luente, tem a atençã o atraı́da por aqueles rebeldes à nova ordem mundial. Vocênãoconcorda? —Seeuconcordo,senhor?Fortunatopareciafrustrado. —EstoudizendoqueSuaExcelênciatemmotivosparapreocupar-secomessetaldeBenJudáecomseuex-editor,queestácuspindopropagandacontraaCG! —Ah!sim,concordoplenamente.Eumperigo.Querodizer,sehouvessepequenosgrupos destes tipos por aı́, que mal poderiam fazer? Mas o nú m ero deles parece ter crescido sob a bandeirado... — Exatamente. E eles estã o protegendo a mã e do ilho de Sua Excelê ncia. Ela deve ser encontrada antes de tentar fazer um aborto, ou pior, revelar informaçõ es que poderiam prejudicar...—Leonnãocompletouafrase.—Dequalquerforma—eledisse-,substituaaquele pedido,tenteencontrarumlugaradequadoparaoscomputadoresoucoisaparecida,epeçaao pessoalquetrabalhenisso. Buck icouagradecidoporterdespertadoantesdeChloe.Elebeijou-anorosto,ajeitouas cobertas e deixou um bilhete na mesinha de cabeceira: "Peço desculpas por ter dormido enquantovocêfalava.Acompanheseupai.Ficareiaquicuidandodobebê.Euaamo." Dirigiu-se para a cozinha, onde Tsion estava sentado sozinho, ombros caı́dos, tomando o cafédamanhã. — Cameron! — ele murmurou. — Se eu soubesse que você estava acordado, teria lhe preparadoalgumacoisa. —Nãosepreocupe.Vouadiantarmeusartigose,aomesmotempo,tomarcontadobebê. Buckserviu-sedeumcopodesucoedebruçou-senobalcãodacozinha. —ChloevaivisitarTcomRayparaconversaremsobreacooperativa. Tsionmovimentouacabeçaafirmativamente,comardetristeza. — Sinto muita falta de Floyd. Eu sabia que havia alguma coisa errada quando ele nã o se levantou para tomar o café comigo ontem. — Apó s um suspiro, prosseguiu. — O doutor tinha umaboacabeça.Muitasperguntasemmente. — Eu nã o tenho uma cabeça boa como a dele, mas tenho muitas perguntas. Você me contouqueestavatrabalhandoemseuscomentá riossobreosegundoai,osextoJulgamentodas Trombetas. — E estou atrasado — disse Tsion. — Com tudo o que aconteceu, nã o tive meios de transmitirmeuscomentá riosontem.Esperopoderfazeristohojecedoequeolapsodeumdia nãotenhacriadopânicoentremeusleitores. —Todosestã oorandoparaquevocê nã osejaimpedidodetransmitirsuasmensagenspela Internet. — David Hassid me garantiu que estamos adiante de Carpathia, tecnologicamente falando. Mesmo assim, quando ele me explicou como faz para devolver nosso sinal de saté lite para saté lite, de celular para celular, eu nã o entendi nada. Só espero em Deus que ele saiba o queestáfazendo. Buck lavou o copo de suco. — Ontem, você estava se esforçando para entender alguma coisa. —Eaindaestou—disseTsion.—Aolongodossé culos,osestudiososacreditavamquea literaturaprofé ticaera igurada,abertaaumsem-nú m erodeinterpretaçõ es.Talvezaintençã o de Deus nã o fosse esta. Por que Ele di icultaria tanto o nosso entendimento? Acredito que, quando a Bı́blia diz que o escritor teve uma visã o, a linguagemé simbó lica. Mas, quando o escritor diz que viu certas coisas acontecerem, eu as aceito literalmente. Até agora, tenho provadoqueestoucerto. — A passagem em que estou trabalhando — prosseguiu Tsion -, na qual Joã o tem uma visãode200milhõesdecavaleiroscomo poderdeexterminaraterçapartedapopulaçã orestante,pareceser igurada.Duvidoque esses homens e animais aparecerã o literalmente, mas acredito que o resultado será uma verdade incontestá vel. Eles vã o exterminar a terça parte da populaçã o. Buck semicerrou os olhos,eTsiondesviouoolhar. —Istoénovidadeparamim—disseBuck.—Éverdadequevocênãosabe? Tsion meneou a cabeça. — Sinto uma grande responsabilidade perante os leitores que Deusmecon iou.Nã oqueromeanteciparaEle,mastambé mnã oquerorecuardemedo.Tudo oquepossofazeré serhonestoarespeitodoquantoestoumeesforçandoparacompreender.Já étempodemuitoscrentescomeçaremainterpretaraBíbliasozinhos. —Quandoessejulgamentoestáprevistoparaacontecer? — Só sabemos ao certo que será o pró ximo cronologicamente falando, e deve ocorrer antes da metade do perı́odo da Tribulaçã o. A menos que Deus tenha planos para apressar esse julgamento,parecequeaindateremosalgumassemanaspelafrente. Navé spera,Tsionhaviatransmitidoapenasapassagembı́blicaqueelecomentarianodia seguinte. O texto em si atraiu a atençã o de um imenso pú blico virtual, o maior da Histó ria, aguardandoostemíveiscomentáriosdoDr.Ben-JudásobreApocalipse9.15-21. Foram,entã o,soltososquatroanjosqueseachavampreparadosparaahora,odia,omê s eoano,paraquematassematerçapartedoshomens. O nú m ero dos exé rcitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número. Assim,nestavisã ocontempleiqueoscavaloseosseuscavaleirostinhamcouraçascorde fogo, de jacinto e de enxofre. As cabeças dos cavalos eram como cabeças de leõ es e de suas bocassaíafogo,fumaçaeenxofre. Pormeiodestestrê s lagelos,asaber:pelofogo,pelafumaçaepeloenxofrequesaı́amdas suasbocas,foimortaaterçapartedoshomens;poisaforçadoscavalosestavanassuasbocase nassuascaudas,porquantoassuascaudassepareciamcomserpentes,etinhamcabeças,ecom elascausavamdano. Osoutroshomens,aquelesquenã oforammortosporesses lagelos,nã osearrependeram dasobrasdassuasmã os,deixandodeadorarosdemô nioseosı́dolosdeouro,deprata,decobre, depedraedepau,quenempodemver,nemouvir,nemandar,nemaindasearrependeramdos seusassassínios,nemdassuasfeitiçarias,nemdasuaprostituição,nemdosseusfurtos. David retornou à sua sala com os pensamentos em con lito. Temia o que Leon poderia estarengendrandoe,aomesmotempo,estavaemocionadoporterconseguidoludibriaraquele homemmaisumavez.Elepegouseulaptope,semfazercasodosinalavisandoquehaviauma mensagem, fez um outro pedido de computadores, ordenando que deveriam ser entregues na pistadepousodopalá cio.Nã ofaziasentidoatrairmaissuspeitas.Elepoderiadespistarqualquer coisa que os té cnicos em informá tica detectassem, simplesmente implantando vı́rus no equipamentoouconfundindoasinformaçõescolhidas. Buck sentou-se ao lado dos companheiros para participar de uma reuniã o do Comando Tribulaçã o à s 11 horas de terça-feira. Ele contou ao grupo que David acabara de informar que AbdullahSmithhaviasidoaceitocomoco-pilotodeMac. Rayfordlevantouamãofechadaemsinaldecomemoraçãoedisse: — Tenho algumas observaçõ es a fazer. Estamos pedindo à s pessoas em quem con iamos que iquem de olho em Hattie. Ela pode nos causar mais problemas do que imaginamos. Vou interromper o trabalho no porã o por um dia. Chloe e eu vamos ter um encontro com T hoje à tarde.Agora,Sra.Rose,apalavraésua. Leahlevantou-separafalar,oquecausousurpresaaopessoal,tantoquantoanotı́c iadada por Buck. Eles empurraram suas cadeiras para trá s a im de ter um â ngulo melhor para vê -la falar. Sua voz era macia, e ela parecia mais con iante do que quando conheceu o pessoal na noiteanterior.Aspalavras luı́amemtommonó t ono,comoseelaestivessetentandoocultara emoção. — Entendo que você s deviam ser pessoas razoavelmente normais antes do Arrebatamento, poré m nã o eram crentes. Eu estava confusa. Cresci em um lar onde meu pai era um alcoó latra e minha mã e, manı́aco-depressiva. As brigas de meus pais eram do conhecimento de toda a vizinhança. Eles se divorciaram quando eu tinha 12 anos. Dali a trê s anos,comeceiafumar,beber,dormirporaí,consumirdrogase,pormaisdeumavez,tenteime matar. Fiz um aborto aos 17 anos e, em seguida, tentei afogar na bebida o horror daquele momento. Abandonei a escola e fui morar no apartamento de uma amiga. Eu consumia mais bebidasedrogasdoquecomida,echegueiaofundodopoçoquandomeviandandoaesmopelas ruaseevacuandosanguenomeiodanoite. —Eusabiaqueeraumacriaturadecaı́da—prosseguiuLeah.—Seeunã o izessealguma coisapormimmesma,logoestariamorta.Eunã oqueriaqueissoacontecesseporquenã otinha idé ia do que viria depois. Eu orava quando estava em alguma encrenca sé ria, mas, na maior parte do tempo, nem sequer pensava em Deus. Fui parar em um centro de reabilitaçã o municipaleduvidavaquemeuorganismoresistiriasemdrogaesembebida.Quando inalmente comecei a raciocinar com ló gica, as pessoas de lá perceberam que eu tinha cé rebro e izeram umtestecomigo.MeuQIeraalto,bemalto,cominclinação...ouseiláoque...paraciências. — Fiquei muito grata à quelas pessoas. Aquela gratidã o despertou em mim algum dom latente para cuidar dos necessitados. Voltei para a escola e me diplomei um ano depois com notadezemquasetodasasmaté rias.Parapoderpagarafaculdade,comeceiatrabalharcomo auxiliar de enfermeira e professora de linguagem de sinais para alunos surdos. Conheci meu marido na faculdade. Ele me conseguiu uma vaga em uma escola do governo e me inscreveu em um programa de enfermagem. Como eu nã o podia ter ilhos, adotamos dois meninos apó s seisanosdecasados. Assim que tentou dizer o nome das crianças, o rosto de Leah icou sombrio e ela mal conseguiafalar. — Pedro e Paulo — ela murmurou. — Meu marido havia sido criado em lar religioso. Apesar de nã o freqü entar igreja durante muitos anos, ele sempre quis dar estes nomes a seus ilhos.Querı́amosquenossos ilhostivessemumaeducaçã oreligiosa,portantocomeçamosairà igreja.Aspessoasdelá erambondosas,masaigrejaseassemelhavamaisaumclubedecampo. Haviamuitasatividadessociais,masnãonossentíamospertodeDeus. — Um dos capelã es do hospital onde eu trabalhava tentou me converter. Embora ele parecessesincero,eumesentiofendida.Adiretoradacrecheondemeus ilhos icavamdurante odiamedeuumfolhetosobreJesus.Eudisseaelaqueéramosfreqüentadoresassíduosdaigreja. Fiquei furiosa quando meus ilhos trouxeram para casa livros de histó rias da Bı́blia. Eu disse à mulher que as crianças freqü entavam a Escola Dominical e que ela deveria limitar-se a cuidar deles.AvozdeLeahestavaroucadeemoção. —Encontreiascamasdemeus ilhosvaziasnamanhã seguinteaoArrebatamento.Foio piordiademinhavida.Acheiqueeleshaviamsidoseqüestrados.Apolícianãopôdefazernada,é claro, porque todas as crianças desapareceram. Eu nã o tinha ouvido falar do Arrebatamento, mas logo em seguida os noticiá rios o consideraram como uma das possibilidades. Liguei para o capelã o do hospital. Ele havia desaparecido. Liguei para a creche. A diretora també m havia desaparecido. Corri até lá , mas ningué m sabia me informar nada. Na sala de espera, encontrei maisfolhetossemelhantesaosqueadiretoraderaameus ilhos.Umdeles,cujotı́t uloera"Nã o SejaDeixadoparaTrá s",diziaque,umdia,oscrentesverdadeirosdesapareceriamparamorar nocéucomJesus. —Aquelefolhetoestavaemminhabolsaquandovolteiparacasaeencontreimeumarido dentrodagaragemcomaportafechadaeomotordocarrofuncionando.—Leahfezumapausa pararecompor-se.—Elemedeixouumbilhete,dizendoquelamentavamuitoportertomado uma atitude tresloucada, que nã o conseguia viver sem os meninos e que nã o podia fazer nada paraaliviarmeusofrimento. Leahparou,comoslábiostrêmulos. —Vocêquerfazerumapausa,minhasenhora?—perguntouTsion. Elabalançouacabeçanegativamente. — Tentei me matar. Tomei todos os comprimidos que havia no armá rio e iquei muito mal. Deus nã o queria que eu morresse, porque, aparentemente, grande parte dos comprimidos queingericontra-atacouoefeitodosoutros.Acordeihorasmaistardecomumadordecabeça muitoforte,dordeestô m agoeumgostohorrı́velnaboca.Arrastei-meaté ondeestavaminha bolsa para pegar algumas balas de hortelã e vi aquele folheto outra vez. Agora, o que estava escritoalifaziasentido. — Ele predizia o que aconteceu e advertia o leitor a estar preparado. A soluçã o... bem, todosvocê ssabem...erabuscaraDeus,dizeraElequeeuerapecadoraequenecessitavadele. Talvez fosse tarde demais para mim, mas orei. Nã o sei como encontrei forças, mas assim que consegui sair de casa, fui à procura de outras pessoas como eu. Encontrei-as em uma igreja pequena.Apenasalgunscrenteshaviamsidodeixadosparatrá s,etodossabiamporquê .Agora, há cerca de 60 deles que se reú nem secretamente. Vou sentir falta dessa gente, mas eles nã o vã o se surpreender quando souberem que desapareci. Eu lhes contei o que estava se passando, quecuideideumafugitivadaCG. — Vamos avisá -los de que você está em lugar seguro — disse Rayford, visivelmente emocionado. — Você disse que eu estou? — perguntou Leah, sentando-se, com um sorriso triste no rosto.—Possoficar? —Nóssemprevotamos—disseTsion.—Masachoquevocêencontrouumnovolar. Noinı́c iodanoitenaNovaBabilô nia,Davidestavasentadoemsuasalaapó soexpediente, sentindo a falta de Annie. Ficar a só s com ela seria muito arriscado, portanto eles dialogavam por meio de telefones sigilosos e computadores. David instalou um programa em seu computador que podia apagar a conversa dos dois, caso Annie se esquecesse de apagar a dela. Nenhum dos dois podia deixar evidê ncias nos computadores sobre seu relacionamento e, principalmente,sobreaféqueprofessavam. "Talvez fosse melhor revelarmos nosso amor", ela digitou. "Pela polı́t ica da CG, eu seria forçadaatrabalharemoutrodepartamentoforadesuasupervisã o,maspelomenospoderı́amos nosversemlevantarsuspeitas." David digitou em resposta: "Nã o é má idé ia, e poderı́amos usar mais um par de olhos em outros departamentos. No entanto, a posiçã o que você ocupa é estraté gica, porque ela nos dá condiçõ esdecontrabandearmoscoisasdaquiparaoscrentesdeoutrospaı́ses.Vamoscontinuar pensandonoassunto.Nãosuportomaisficarlongedevocê." Derepente,osaparelhosdeTVdodepartamentodeDavid—todos—foramligados.Isto acontecia apenas quando a che ia da CG achava que havia uma notı́c ia de que todos os empregadosdeviamtomarconhecimento.Namaioriadasvezes,ateladaTVexibiaCarpathia ou Fortunato fazendo um pronunciamento ao mundo, independentemente de haver ou nã o alguémtrabalhandonaquelesetor.OndehouvesseumaTV,elaserialigada. David girou sua cadeira e encostou a cabeça no espaldar para ver a notı́c ia. Um apresentador da CNN-CG estava noticiando um acidente aé reo. "Nem o aviã o, que dizem ser uma aeronave particular de grande porte, nem o piloto, nem o passageiro foram encontrados, mas há notı́c ias de que o mar levou alguns objetos pessoais para uma das praias de Portugal. Ouçamestepedidodesocorro,gravadoporváriastorresdecontroledaquelaregião." Socorro!Socorro!Quantumzero-sete-zero-oitoperdendoaltitude!Socorro! "Oaviã odesapareceudastelasdoradarlogoemseguida,eaequipederesgatevasculhou aá rea.Foramencontradosobjetospessoaisemalasdeduaspessoas,umhomemeumamulher. As autoridades calculam que nã o levará muito tempo para que a fuselagem e os corpos sejam encontrados. Os nomes das vı́t imas estã o sendo resguardados até que sejam noti icados aos parentesmaispróximos." David olhava para a tela, perguntando a si mesmo por que a che ia da CG achou que valeria a pena transmitir essa notı́c ia antes de informar o nome das vı́t imas. Em seguida, apareceuaseguintelegendanatela: ATENÇAO!PESSOALDOPALACIODACG!ASPROVAVEISVITIMASDESTEACIDENTE, DE ACORDO COM AS AUTORIDADES QUE COMANDAM O RESGATE, SAO AS SEGUINTES: PILOTO SAMUEL HANSON, DE BATON ROUGE, LOUISIANA, ESTADOS UNIDOS; E HATTIE DURHAM, NATURAL DE DES PLAINES, ILLINOIS, ESTADOS UNIDOS. A SRTA. DURHAM TRABALHOU PARA SUA EXCELENCIA, O POTENTADO, COMO SUA ASSISTENTE PESSOAL. NOSSASCONDOLÊNCIASATODOSQUEACONHECERAM. DavidligouparaMac. —Euvi—disseMac.—Estánacaraqueéumafarsa! — E verdade — disse David. — O piloto deve ter recebido uma imensa bolada da companhiadeseguros,eHattiedeveestaremalgumlugardaEuropa. —Talvezestejamquerendoencontraroutrostrouxas—disse Mac.—DevemosacreditarqueCarpathiaeFortunatocaíramnesta? — Claro que nã o — disse David. — Eles podem ter engendrado um acidente. Talvez tenham encontrado Hattie e a mataram, e agora estã o encobrindo tudo. E melhor que apareçamlogocomafuselagemouoscorpos. Davidouviuumsinalavisandoquehaviaumanovamensagem. —Falocomvocêmaistarde,Mac.—eledisse. Rayford e Chloe estavam sentados no escritó rio de T localizado na base da torre do Aeroporto de Palwaukee, acompanhados de T e dois homens da igreja que funcionava na casa dele.Chloedescreveucomoplanejavaestabelecerumaligaçã oentreosprincipaisassociadosda rededacooperativaecomeçarafazerumtesteantesdepô remprá ticaosistemadecomprae venda. — Temos de manter tudo em segredo desde o inı́c io — ela disse. — Caso contrá rio, passaremos a fazer parte de todos os outros corretores de mercadorias e icaremos sob a vigilânciadaCG. Osoutrosconcordaram.OtelefonedeRayfordtocou.EraBuck.Rayfordriualtoenquanto Bucklhecontavaaestranhanotíciaqueacabaradeouvir. —Ligueatelevisão,T—eledisse. Os comentaristas da CG falavam da tragé dia em tom de tristeza, embora os nomes nã o tivessemsidoreveladosforadaNovaBabilô nia.Elesdiziamqueaté aquelemomentonã ohavia sidoencontradonenhumdocumento,sóobjetospessoais. — Um dia, Fortunato, ou quem está por trá s disto tentando tirar vantagem — disse Rayford-,vaisemeteremumaenrascadaparaorestodavida.Chloepuxouopaipelamanga dacamisaecochichou: —Pelomenos,podemostercertezadeque,porenquanto,Hattieestábem. — A questã o — ele disse assim que a reuniã o terminou -, é onde ela está . Ela nã o é tã o espertaassimapontodefazeralgué macreditarqueafundounaqueleaviã o.Será queelateria capacidadedesurpreenderCarpathia? Depois que os dois homens saı́ram, Rayford, Chloe e T subiram correndo a escada para inquirirofuncioná riodatorresobreovô odas23h30danoiteanterior.Eleeragordoecalvo,e estavalendoumlivrodeficçãocientífica. — Eu nã o cheguei a vê -lo, mas, pelo rá dio, ele parecia ter sotaque do sul — disse o funcionário.—Boassinouoformulárioliberandoadecolagem. —Eleestavaaqui?—perguntouT. — Nã o, ele me ligou por volta das 8 horas da noite, aprovando antecipadamente a decolagem. —Eunãovionúmerodoaviãonocomputador. —Euoanotei.Aindaestá aqui.—Ofuncioná riovasculhouumapilhadepapé is.—Zerosete-zero-oito—eledisse.—VocêjádevesaberqueeraumQuantum. —Hámeiosdesaberemnomedequemoaviãoestáregistrado?—perguntouRayford. — Claro que sim — respondeu o funcioná rio. Ele digitou rapidamente alguma coisa no tecladodeseucomputadore icoutamborilandocomosdedosnojoelhoenquantoaguardavaa informaçã o.—SamuelHanson—eledisse-,deBatonRouge.EledeveserparentedeBo,nã o? BonãoédeLouisiana? CAPÍTULO7 OencontrocomAbdullahSmithfoireconfortanteparaMac.Eleconheceuojordanianoe ex-piloto de aviõ es de caça nos tempos em que trabalhava como co-piloto do capitã o Rayford Steele.AbdullahperdeuoempregoquandoCarpathiacon iscoutodooarmamentointernacional e,rapidamente,tornou-seumdosprincipaisfornecedoresdomercadonegrodeRayford. A vida de Abdullah sofreu uma reviravolta quando sua esposa se converteu quatro anos antes do Arrebatamento. Ele se divorciou dela e lutou até conseguir a custó dia dos dois ilhos menores,ummeninoeumamenina.Quandoelefoiobrigadoapassarmesesviajandoaserviço daforçaaéreajordaniana,acustódiafoisuspensaeelepassouamorarnabaseaérea. Apesar de ser um homem de poucas palavras, certa ocasiã o Abdullah revelou a Mac e Rayfordqueficoutãodeprimidoapontodequerersuicidar-se. —Eucontinuavaaamarminhaesposa—eledissecomumsotaqueacentuado.—Elae as crianças eram o meu mundo. Imaginem só a esposa de você s converter-se a uma religiã o professadaemumpaı́smisteriosoemuitodistante.Trocá vamoslongascartas,masnenhumde nó s convenceu o outro. Para minha vergonha, eu nã o era muito dedicado à minha religiã o e passeiaterumavidadesregrada.Minhaesposadiziaqueoravapormimtodososdiasparaque euaceitasseJesusCristoantesquefossetardedemais.Euaamaldiçoavaemminhascartas.Em umadessascartas,euimploreiparaqueelarenunciasseà religiã oevoltasseparaohomemque a amava. Na seguinte, eu a acusei de ser traidora e a chamei de nomes horrı́veis. Ela me respondeu dizendo que ainda me amava e me fez lembrar que fui eu quem deu inı́c io ao processodedivórcio.Irado,maisumavezaagredimoralmente. — Ainda guardo as cartas nas quais ela me advertia que eu poderia morrer antes de encontrar o ú nico e verdadeiro Deus, ou que Jesus retornaria um dia para buscar aqueles que o amavam e que eu seria deixado para trá s. Fiquei furioso. Recusei muitas vezes visitar meus ilhos, só para me vingar dela, mas hoje compreendo o quanto magoei as crianças e a mim mesmo.Sintoumaculpaenormeporqueelesnuncavãosaberquantoeuosamava. Maclembrou-sedoqueRayforddisseraaAbdullah: —Vocêpoderádizerissoaelesumdia. Abdullahlimitara-seaconcordarcomacabeça,olhandoparaumpontodistantecomseus olhosescuros. Abdullah converteu-se por ter guardado as cartas da esposa nas quais ela explicava detalhadamenteoplanodasalvaçã o,escreviaversı́c ulosbı́blicoselhediziaqueestavasempre orandoparaqueeleaceitasseaCristo. — Por diversas vezes, amassei as cartas e atirei-as contra a parede do quarto — disse Abdullah.—Masalgumacoisameimpediaderasgá-las,queimá-lasoujogá-lasnolixo. Quando soube que sua esposa e ilhos haviam desaparecido, Abdullah caiu prostrado no chãoemseuquartoemAmã,comascartasdaesposaespalhadasdiantedesi. —Aconteceuconformeeladizia—eleexplicou.—ClameiaDeus.Eunã otinhaescolha, anãoseracreditar. Emrazã odeteraaparê nciadeumhomemnascidonoOrienteMé dioedesuapredileçã o porusarturbante,botasdeaviadoreumpanoamareladocobrindodesalinhadamenteacalçada farda camu lada, aquele jordaniano de compleiçã o miú da jamais poderia levantar suspeitas de quefosseumcristã o.Antesdaconversã odas144.000testemunhasjudaicasdomundointeiroe dos milhõ es de convertidos de todas as nacionalidades, a maioria das pessoas acreditava que poderia identi icar um cristã o. Agora, evidentemente, apenas os crentes verdadeiros sabiam identificarumaooutro,porcausadoseloqueeravisívelsóentreeles. Abdullah, um jordaniano magro, de pele morena, semblante bondoso e expressivo, era homem de poucas palavras, conforme Mac se lembrava. Ele agiu de maneira estritamente formal diante das outras pessoas, sem deixar transparecer que ele e Mac eram irmã os na fé e velhos amigos. Nã o ingiu que nã o se conheciam, porque Mac havia forjado um antigo relacionamentomilitarentreeles.Osdoissó seabraçaramquando icaramsozinhosnasalade Mac. — Há algué m que eu quero que você conheça — disse Mac, chamando Annie à sua sala. Elabateunaportaeentrou,comumsorrisonorosto. — Você deve ser o famoso Abdullah Smith — ela disse. — Tem um selo na testa, tı́pico dosjordanianos. AbdullaholhouparaMaccomardeindagação.Emseguida,olhouparaatestadeAnnie. —Eunãopossoveromeu—eledisse.—Nãoéigualaoseu? —Estoubrincandocomvocê —eladisse.—Equeoseu icamaisvisı́velporcausadacor desuapele. —Entendi—eledisse,comoserealmentetivesseentendido. —Nãoleveasérioosensodehumordosamericanos-disseMac. —Sensodehumorcanadense—corrigiuAnnie,abrindoosbraçosparaabraçarAbdullah,o queodeixouconstrangido.Eleestendeuamã oeapertouadela.—Bem-vindoà famı́lia—ela disse. NovamenteAbdullaholhoucomardeindagaçãoparaMac. — Ela é o membro mais novo da famı́lia — disse Mac. -Está lhe dando as boas-vindas a estadivisãodoComandoTribulação. Abdullah deixou uma parte de seus pertences em sua sala atrá s da de Mac. Dois funcioná rios do Departamento de Operaçõ es o ajudaram a levar o restante para seus novos aposentos.Enquantoosdoisamigosacompanhavamosfuncionários,Macdisse: — Assim que você tiver arrumado suas coisas, arregace as mangas e comece a fazer o roteiro de nossa viagem para Botsuana na sexta-feira. Vamos sair daqui à s 8 horas da manhã . Elesestãoumahorananossafrente,portanto... —VamosseguirparaJoanesburgo,suponho—disseAbdullah. —Nã o,paraonortedelá .VamosnosencontrarcomMwangatiNgumoemGaborone,na antigafronteiradeBotsuanacomaÁfricadoS... — Perdoe-me, capitã o, mas acho que você nã o esteve lá recentemente. Só helicó pteros podementraresairdeGaborone.Oaeroportofoidestruídonograndeterremoto. —Mascomcertezaaantigabasemilitar... —Destruídatambém—disseAbdullah. —OprogramadereconstruçãocomandadoporCarpathianãochegouaBotsuana? —Nã o,masdepoisqueo...hã ...potentadoregionaldosEstadosUnidosdaAfricapassoua moraremJoanesburgo,emumpalá cioquasetã ograndequantoeste,onovoaeroportodelá foi reconstruídoeficouespetacular. Macagradeceuaosfuncioná rioseabriuaportadoapartamentodeAbdullah.Ojordaniano arregalouosolhosaoveroscômodos. —Tudoistosóparamim?—eleperguntou. —Vocêvaidetestarestascoisas—disseMac. Depoisdefecharaporta,Abdullaholhouparaasparedesnuasecochichou: —Podemosconversaraqui? —Davidmegarantiuquesim. — Espero conhecê -lo logo. Oh! capitã o, eu quase chamei o potentado africano de rei! Precisosermuitomaiscuidadoso. —Nóssabemosqueeleé umdosreis,masaquelesdoisnã osabemdenada.Penseiqueo potentadoRehoboth...qualéoprimeironomedele...? —Bindura. — Correto. Pensei que ele ia mudar a capital para um local mais central, mais perto de suaterranatal...Chade,éisto? — Sudã o. Foi o que ele disse, mas parece que preferiu Joanesburgo. Ele vive no meio de tantariquezaquevocênempodeacreditar. —Todososreisvivemassim. —Oquevocêachadisto,capitão?—perguntouAbdullahquasecochichando.—Carpathia conseguiuacooperaçãodeles? Macencolheuosombrosebalançounegativamenteacabeça. —NãohouveumaespéciedecontrovérsiaentreRehobotheNgumo? — Ah! sim, houve! Quando Ngumo era secretá rio-geral da ONU, Rehoboth fez uma tremendapressã osobreeleparaconseguirfavoresparaaAfrica,principalmenteparaoSudã o. E,quandoNgumofoisubstituídoporCarpathia,Rehobothelogioupublicamenteatroca. —Eagoraumévizinhodooutro. —ERehobothéoreidele—disseAbdullah. No imdanoitedequinta-feira,emIllinois,Rayford icouasó scomLeahRosenacozinha. Elaestavasentadaàmesadiantedeumaxícaradecafé.Eledespejoucaféemsuaxícara. —Vocêestáseajeitandoaqui?—eleindagou. Ela ergueu a cabeça. — Eu nunca sei o que você está querendo dizer. Ele apontou para umacadeira.—Posso? —Claro. —Oqueeupoderiaestarquerendodizer?—eleperguntoudepoisdesentar-se. —Queeunãodeveriaestarmesentindoàvontade. — Nó s votamos a seu favor! Foi unâ nime. Até o presidente da mesa votou, e ele nem precisariatervotado. —Setivessehavidoempate,comoseráqueopresidentevotaria? Rayfordendireitouocorponacadeira,segurandoaxícaracomasduasmãos. —Está havendoummal-entendidoentrenó sdesdeoinı́c io—eledisse.—Tenhocerteza dequeaculpafoiminha. —Vocênãorespondeuàminhapergunta. — Pare com isso. A votaçã o para aceitar uma nova irmã jamais empataria. Hattie icou aquidurantemeses,eelanemsequerécrente. —Estaéaconversadetréguaqueteríamosouvocêestáapenassendoeducado? —Vocêquerumatrégua?—eleperguntou. —Vocêquer? —Eupergunteiprimeiro. Elasorriu.—Averdadeé queeuqueromaisdoqueumatré gua.Nã opodemosmorarna mesmacasasendoapenascordiais.Temosdeseramigos. Rayfordnãotinhatantacerteza,masdisse: —Estoudispostoacorrerorisco. —Então,tudoaquiloquevocêdisse... —...mostrouquantoeusouranzinza,éisso?—eledisselevantandooqueixo. Ela concordou com a cabeça. — Considero isto um pedido de perdã o implı́c ito. Rayford nãohaviapedidoperdão. —Equantoamim?—elaperguntou. —Oquê? —Eutambémprecisoserperdoada. —Não,vocênãoprecisa—eledisse,dandoaentenderqueestavasendomaisgenerosodo quesesentianaquelemomento.—Tudooquevocêfaloufoiporqueeu... Leahpousouamã onobraçodele.—Nemeumereconheci.Nã opossojogartodaaculpa em você . Agora, se vamos começar tudo de novo, temos de começar do zero. Esquecer o que aconteceu. —Daminhaparte,tudobem—eledisse.,—Tenhoalgumdinheiro—eladisse. —Vocêsempremudadeassuntoassimtãorápido? —Emespé cie.Precisamosirbuscá -lo.Está nocofredentrodeminhagaragem.Nã ovou emprestardinheirodegraça.Querofazeralgumacoisa,equeropagarminhaestadaaqui. —Você é especialistaemmedicina.Quetalvocê cuidardenossasaú deemtrocadecasa ecomida? —Possocuidardevocê s,masnã osouespecialistaemmedicina.Nã otenhocondiçõ esde substituirFloyd. —Somosagradecidosportervocêaqui. —Masvocêstambémprecisamdedinheiro.Quandopodemosbuscá-lo? RayfordapontouparaaxícaradeLeah.Elabalançouacabeçanegativamente. —Dequantodinheiroestamosfalando?—eleperguntou.Quandoelalhecontou,elelevou umsusto. —Emnotasdequanto? —Devinte. —Tudoissoemumcofre? —Estácompletamentecheio—eladisse. —Você achaqueodinheiroaindaestá lá ?ACGdeveterrevistadocadacentı́m etroà sua procura. — O cofre está tã o escondido que até nó s sempre tı́nhamos de nos lembrar onde ele estava. Rayfordlavouasxícaras.—Vocêestácomsono? —Não. —Querirbuscarodinheiroagora? Mac e Abdullah encontraram-se com David na manhã de sexta-feira. Deixando as apresentaçõ es de lado, David perguntou se algum deles tinha idé ia do local em que os 144 computadores guardados no compartimento de carga do Condor poderiam ser usados em prol dacausa. —Estoupensandoemmuitoslugares—disseMac.—MasnenhumestánarotadaÁfrica. — Eu conheço um — disse Abdullah. — Existe um grupo muito grande de crentes clandestinosemHawalli.Muitossãoprofissionais,eelespoderiam... —Hawalli?—perguntouDavid.—NoKuwait? —Sim.Tenhoumcontatonosetordecargas... —Esselocalficaaleste.Vocêsestãovoandoparasudoeste. —Sóumpoucoaleste—disseAbdullah.—Precisamosdeummotivoparadescerlá. —Olocalficarelativamentepertodopontodedecolagem-disseMac.—Issovailevantar suspeitas.—Depoisdealgunsinstantesdesilêncio,elevoltouafalar:—Amenosque... DavideAbdullaholharamparaele. —Qualadistânciadenossovôo?—perguntouMac. —DaquiatéoKuwait?—perguntouAbdullah,pegandoseuroteiro. —Não,atéaÁfrica. —Maisoumenos6.500quilômetros. — Entã o vamos precisar de tanque completamente cheio para voar sem escala. Como queremos economizar o dinheiro daCG, vamos fazer um rá pido desvio para reabastecer a um bompreço. — Excelente — disse David. — Vou negociar imediatamente. Se eu conseguir alguns centavosdedescontoporlitronopreçodocombustível,odesviovaleráapena. —Oqueomeucontatovaiprecisarparareceberacarga?—perguntouAbdullah. —Umaempilhadeiragrande.Umcaminhãogrande. — Por que você precisou deixar um bilhete? — perguntou Leah a Rayford quando eles partiramnoLandRoverrumoaPalatine.—Comcertezaestaremosdevoltaantesquealgué m acorde. —Eunã o icariasurpreso—eledisse-,sealgué mjá andoulendoobilhete.Ouvimostudo naquelacasa.Nacaladadanoite,ouvimossonsnasparedes,sonsvindosdefora.Tivemossorte até agora. Esperamos que algué m nos avise para podermos nos esconder antes que nos descubram.Sempredizemosatodosaondevamos.Bucknã ofezissonodiaemquelevouFloyd paraquevocêcuidassedele,masfoiumaemergência.Todosficaramaborrecidos. Rayfordpassouos40minutosseguintesdesviandoocarrodosescombroseprocurandoum caminho mais suave. Ele gostaria de saber quando o trabalho de reconstruçã o propagado por Carpathiacomeçariaaserfeitonascidadesmenores. LeahfezmuitasperguntasarespeitodecadamembrodoComandoTribulaçã o,comoeles seconheceram,comosetornaramcrentes,comosereuniram. —Forammuitasperdasemtã opoucotempo—eladissedepoisqueRayfordrespondeua todasassuasperguntas.-Depoisdetodoessesofrimento,nã oseicomovocê saindatê mforças paratrabalhar. — Estamos tentando nã o pensar nisso. Sabemos que a situaçã o vai piorar. Parece uma frase muito batida, mas a gente precisa pensar no futuro, e nã o no passado. Se deixarmos o sofrimentotomarcontadenós,nãovamosconseguirnada. Leahpassouamãopeloscabelos. —Asvezesnã oseiporquedesejoviveraté oGloriosoAparecimento.Aı́, meuinstintode sobrevivênciaprevalece. —Eporfalarem...—disseRayford. —Noquê? —Nada,nã oestouacostumadoaumtrâ nsitocomoeste.Elaencolheuosombros.—Esta regiã onã ofoitã oatingidaquantoasua.Nã ohá ningué mescondidoaqui.Todomundoconhece todomundo. ElesconcordaramqueRayforddeveriaestacionaraalgunsquarteirõ esdedistâ nciaeque caminhariamporentreassombrasaté acasadeLeah.Rayfordabriuoporta-malasdoRovere pegouumasacolagrandedelonaeumalanterna. Quandochegarampertodacasa,Leahparou. —Elesnemsequertiveramotrabalhodefecharaporta-eladisse.—Olocaldevetersido saqueado. — Se a CG nã o levou tudo, os saqueadores levaram — disse Rayford. — Assim que eles souberamquevocêfugiu,suacasapassouaserdedomíniopúblico.Vocêquerdarumaolhada? Ela balançou a cabeça negativamente. — E melhor a gente entrar e sair rá pido da garagem.Meusvizinhospodemouviraportaabrindo. —Existeumaentradalateral? —Sim. —Vocêtemachave? —Não. — Eu posso arrombar a porta. Os vizinhos nã o vã o ouvir, a nã o ser que estejam à sua espera. Quando Mac se encontrou com Abdullah no hangar para lhe falar sobre a velocidade do Condor216,Anniejáestavalá,supervisionandoopessoalencarregadodecuidardascargas. —Mais,cabo?—perguntouMac. —Sim,capitã o.OdiretordoDepartamentodeCompraspediuquetransportá ssemosesta grande quantidade de gê neros alimentı́c ios excedentes para o Kuwait. Ele conseguiu com o pessoal de lá um desconto excelente no preço do combustı́vel. Enquanto você s estiverem reabastecendo,poderãodescarregarestamercadoria. Abdullah icou em silê ncio dentro do aviã o até o momento em que eles entraram na cabinadecomandoeMaclhemostrouobotãosecreto. —Imagineoqueelesvãofazerconoscoquandodescobrirem—disseMac. Quando faltavam dez minutos para as oito horas, Mac e Abdullah terminaram a conferê nciapreliminardetodosositensdovô oeentraramemcontatocomatorredopalá cio. Trêspessoastrajandoaventaisbrancoscorreramemdireçãoaoavião. — E o pessoal da cozinha — disse Mac. — Eles podem entrar. Abdullah abriu a porta e desceu a escada. O cozinheiro, um homem de meia-idade, com dedos curtos e grossos e rosto molhadodesuor,carregavaumapanelafumegantecobertacompapel-alumínio. —Saiadafrente,saiadafrente—elediziacom sotaque escandinavo. — Ningué m me avisou que o supremo comandante queria tomar o desjejumabordo. Abdullahafastou-seenquantoocozinheiroedoisajudantespassaramapressadosporele. —Comovocêficousabendo?—perguntouAbdullah. O cozinheiro entrou rapidamente na cozinha e começou a dar ordens aos gritos. Ao perceberqueAbdullahestavaporperto,elevirou-se. —Suaperguntafoiretórica,sarcásticaousincera? —Nãoseioquesignificamaspalavrasretóricaesarcástica—disseAbdullah. O cozinheiro curvou-se sobre o balcã o com ar de quem nã o podia acreditar que estava perdendotempoporterderesponderaumaperguntadoco-piloto. — Eu quis dizer — explicou o cozinheiro, como se estivesse conversando com uma criança -, que ningué m me avisou antes, que só iquei sabendo agora pela boca do pró prio supremo comandante. Se ele está querendo comer Ovos Benedict [ovos cozidos combacon e molhoholandê s,servidossobreametadedeumbolinho]logoapó soaviã olevantarvô o,é istoo quevoulheservir.Maisalgumapergunta? —Sim,senhor. OcozinheiroolhouespantadoparaAbdullah. —Qualé? —Vocênãoquercausarumaboaimpressãoaosupremocomandante? —Seeunã oquisesse,nã oteriacorridoaté oaviã ocarregandoumapanelaquente,você nãoacha? —ConheçoocomandanteFortunatoeseique,quandoeledizlogo após o avião levantar vôo,nãoébemassim. —Sério? —Veja,vamosfazerumabreveescalanoKuwaitpoucodepoisdadecolagem,ealiseriao momento ideal para você servir-lhe o desjejum. Um lugar mais tranqü ilo, mais descontraı́do, semperigodealgumacoisaespirrarnaroupadele. —NoKuwait? —Poucosminutosdepoisdadecolagem. —Ei,pessoal!—gritouocozinheiroparaseusajudantes. —Mantenhamasvasilhasquentes.VamosservirodesjejumnoKuwait. Conforme Rayford esperava, a porta lateral que dava acesso à garagem da casa de Leah pô de ser arrombada sem muito esforço. Poré m, quando ele entrou e pediu a ela que lhe apontasse o cofre, percebeu que estava sozinho. Rayford, conteve-se antes de chamá -la, pois nã o queria complicar a situaçã o caso houvesse algum problema. Ele virou-se lentamente e caminhounapontadospésatéaporta. A princı́pio, Rayford nã o enxergou Leah, mas ouviu sua respiraçã o ofegante. Ela estava ajoelhadapertodelenagramaúmida,arfando,comdificuldadepararespirar. —Eu...eu...eu...—elamurmurava. Eleajoelhou-seaoladodela.—Oquefoi?Vocêestábem?Viualguém? Na escuridã o, com medo de erguer a cabeça, Leah apontou para um local atrá s de Rayford. Ele acendeu a lanterna e iluminou o local para ver se havia algué m se aproximando. Nãohavianinguém. —Oquevocêviu?—eleperguntou. Leahchoravabaixinho,semconseguirfalar. — Vou levá -la para dentro — ele disse, ajudando-a a > levantar-se e arrastando-a até a garagem como se ela fosse uma criança sonolenta. — Leah! Por favor, coopere comigo. Você estáemlugarseguro. Ela sentou-se no chã o, abraçando os joelhos dobrados contra o peito. — Eles ainda estã o lá?Tranqueaporta,porfavor. —Euarrombeiaporta—eledisse.—Quemestáláfora? —Vocêtemcertezadequenãoosviu? — Quem? — ele perguntou em um sussurro. Ela estava tremendo. — Você precisa levantar-sedestechãofrio. Rayfordestendeuamãoparaajudá-laalevantar-se,maselaoafastou. —Nã otenhoforçasparasairdaqui—eladisse,cobrindoorostocomosdedostrê mulos. —Vocêvaiterdetrazerocarroatéaqui.Elenãoesperavaqueelaoferecessetantaresistência. —Éarriscadodemais. —Eunãoposso,Rayford!Sintomuito. —Então,vamospegarodinheiroeirembora. —Esqueçaodinheiro.Eunãotenhocondiçõesdeabrirocofre. —Porquenão? Elaapontounovamenteparafora. — Leah — disse Rayford da maneira mais suave que podia -, nã o há ningué m lá fora. Estamosseguros.Vamospegarodinheiro,correrparaocarroevoltarparacasa,estábem? Elabalançouacabeçanegativamente. — Nó s vamos, sim! — ele disse, segurando-a pelo cotovelo para erguê -la do chã o. Leah tinhadificuldadeparamovimentar-se.Rayfordalevouatéaparedeeendireitouocorpodela.— Conte-meoquevocêviu. — Cavalos — ela disse. — Enormes, escuros, logo atrá s da casa, bloqueando todo o horizonte. Nã o pude distinguir os cavaleiros, porque os cavalos expeliam fogo e fumaça pela boca. Mas havia centenas de cavaleiros, talvez mais, montados nos cavalos. Eram grandes demais,horrı́veis.Ascabeçasdoscavalos,Rayford,eramiguaisacabeçasdeleõ es,comdentes enormes! —Espereaqui—disseRayford. —Nãomedeixesozinha!—gritouLeah,agarrando-opelospulsosefincando-lheasunhas. Rayfordlivrou-sedasmãosdela.—Vocêestáprotegidaaqui. —Nãoseaproximedeles!Elesestãoflutuando. —Flutuando? —Ospésdelesnãoestãoapoiadosnochão! —DeacordocomTsion,elesnãodeviamserreais—disseRayford. —Tsionosviu? —Vocênãoleuamensagemdelesobreisto? —Eunãotenhomaiscomputador. —ElesdevemseroscavaleirosdescritosemApocalipse9,Leah!Nãovãonosatacar! —Vocêtemcerteza? —Oquemaispoderiaser? Leah começou a respirar com mais facilidade, mas, mesmo sob a iluminaçã o fraca da lanterna,Rayfordviuqueelaestavapálida. —Vouatéláparaverificar—eledisse.—Tentelembrarqualéosegredodocofre. Ela fez um movimento a irmativo com a cabeça, mas nã o saiu do lugar. Rayford correu atéaporta. — Olhe para o leste — ela murmurou. — No horizonte. Mesmo sabendo que estava em segurança, ele olhou em direçã o ao horizonte pela fresta da porta. A noite estava fria e silenciosa. Ele nã o avistou nada. Abriu a porta, deu alguns passos e subiu em uma pequena elevaçã o de terra para enxergar melhor por entre as casas vizinhas. Seu coraçã o batia com força,masele icoudesapontadopornã otervistonadadoqueLeahlhecontou.Teriasidouma visão?Porquesóelaviu? Rayford voltou para perto de Leah. Ela havia se afastado da parede, mas continuava olhandoparaochão. —Vocêosviu?—elaperguntou. —Não. —Elesestavamlá,Rayford!Eunãoestavasonhando! —Euacreditoemvocê. —Acreditamesmo? —Claro!Mas,deacordocomTsion,elesnãoseriamvisı́veis.Elevai icarsatisfeitoquando souber. —Paraondeelespodemterido?Erammuitosparateremseafastadotãodepressa. — Leah — disse Rayford, escolhendo as palavras com cuidado -, estamos falando de um fatosobrenatural,daguerraentreobemeomal.Nã oexistemregras,pelomenosdopontode vistahumano.Sevocê viuoscavaleirosprofetizadosnolivrodeApocalipse,talvezelestenham poderesparaapareceredesaparecer. Elacruzouosbraçosecomeçouabalançarocorpoparaafrenteeparatrás. —Sobreviviaoterremoto.Viosgafanhotos.Vocêviu?Rayfordfezquesimcomacabeça. —Vocêchegoubempertodosgafanhotos,Rayford? —Teeuvimosumbemdeperto. —Entãovocêsabe. —Claroquesei. —Foiacoisamaishorrı́velquejá vi.Eunã ovioscavalostã odeperto,maselespareciam monstros.Possodizerqueelesestavampertodohorizonte,maseramtã ograndesqueconsegui enxergarosdetalhes.Elesnãotêmpermissãoparanosatacar? —Tsiondizqueelestêmpoderparamataraterçapartedapopulação. —Masnãooscrentes? —Não.Elesvãomataraquelesquenãosearrependeramdeseuspecados. —Seeunãomearrependiantes,estoumearrependendoagora!—eladisse. Comocozinheiro,seusajudantes,Fortunatoedoisdeseusassessoresabordo,Mactaxiou paraforadohangarrumoà pistadedecolagemsuldopalá ciodaComunidadeGlobal.Assimque o aviã o levantou vô o, ele cumprimentou os passageiros pelo interfone, informando-lhes sobre a rá pida escala no Kuwait e que, em seguida, voariam quase 6.500 quilô m etros até Joanesburgo. Apósalgunsinstantes,alguémbateucomforçanaportadacabinadecomando. —DeveserLeon—disseMac,fazendoumgestoparaqueAbdullahabrisseaporta.—Já erahoradevocêconhecê-lo. LeonpassouporAbdullahsemlhedaratençãoedirigiu-seaMac. — Que histó ria é esta de fazer uma escala no Kuwait, capitã o? Eu tenho uma agenda a cumprir! —Bom-dia,Comandante—disseMac.—Nossonovoco-pilotomegarantiuque,mesmo pousandolá,osenhorchegaráatempoparasuareunião.AbdullahSmith,esteéoSupremoCo... —Nãoqueroatrasos—disseFortunato.—PorquefazerescalanoKuwait? —Vamosmatardoiscoelhoscomumasó cajadada,senhor—disseMac.OdiretorHassid conseguiuumó t imodescontonopreçodocombustı́vel,enossanovachefedecargascombinou algumas entregas lá , uma vez que ı́amos voar naquela direçã o. Com isso, economizamos um bomdinheirodosetoradministrativo. —Nãodiga! —Éverdade,senhor. —Qualémesmooseunome,jovem? —AbdullahSmith,senhor. —Euestoufaminto.VocêaceitariacomerOvosBenedictestamanhã,co-pilotoSmith? —Não,obrigado,senhor.Jámealimentei. —Capitã oMcCullum,eugostariadeserinformadoantecipadamentesobremudançasde rota. —Conformeeulhedisse,senhor,nã oé bemumamudança'derota.Apenasumpequeno desvio... Aportafoifechadacomforça.AbdullaholhouparaMaccomatestafranzida. —Charmosoele,não?—disseAbdullah. Mac apertou o botã o secreto sob sua poltrona para ouvir o que se passava na cabina de passageiros. — Karl, quando você vai me servir os ovos? Você preparou o su iciente para todos nó s, inclusivevocê? — Sim, senhor Supremo Comandante. Vou servi-los em terra... ou melhor... vou servi-los quandoestivermosparadostemporariamentenoKuwait. —Euestoufamintoagora,Karl. —Desculpe-me,senhor.Algué mmedissequeosenhorpreferiasealimentarduranteum momentotranqüilo,semsolavancos,enquantoestivéssemosreabastecendo. —Quemlhedisseisto? —Oco-piloto,senhor. —Onovoco-piloto?Elenemsequermeconhece! —Bem... —Conversaremosdepoissobreesteassunto. Mac desligou o botã o, apertou outro botã o que lhe permitia conversar com Abdullah por meiodosfonesdeouvidoecontou-lherapidamenteodiálogoentreLeoneocozinheiro. —Obrigado—disseAbdullahenquantoalguémbatianaportaoutravez. —Qualéoseunome,co-piloto?—perguntouLeon. —Smith,senhor. — Foi você quem disse ao cozinheiro para servir o desjejum no Kuwait e nã o enquanto estivéssemosvoando? — Eu apenas o informei sobre o pequeno desvio de rota e mencionei que o senhor talvez preferisse... —Entãofoiidéiasua.Vocêlhedisseoqueeupreferia,apesardenãomeconhecer. —Euassumoaresponsabilidade,senhor.Sefoiumafalhaminha,eu... — Você acertou em cheio, Smith. Só nã o sei como você sabia que eu detesto comer um pratocomoestecomoaviã obalançandodeumladoparaooutro.Eunã oquisofendê -lo,Mac... istoé,capitão. Macfoitentadoachamá -lodeLeonedizer-lhequenã o icaraofendido,maslimitou-sea fazer um gesto de positivo. O Condor voava praticamente sozinho, mas Mac gostava de dar a impressão,conformeRayforddizia,de"manterosolhosnaestradaeasmãosnovolante". —Então,comovocêsabiadisto,co-pilotoSmith?—inquiriuFortunato. —Eusó imaginei—elerespondeu.—Eunã ogostariadecompareceraumareuniã otã o importantecomacamisamanchadadegemadeovoemolhoholandês. Apó s alguns instantes de silê ncio, Mac virou-se para ver se Fortunato havia ido embora. Aindanã o.Elepareciaatô nito.Tombouotroncoparatrá s,comabocaabertaeosolhosquase fechados.Derepente,voltouàposiçãonormal,rindoetossindoaomesmotempo,edeuumtapa tãofortenoombrodeAbdullahqueofezafundarnoassentodapoltrona. —Essafoiboa!—disseFortunatoemmeioaumagargalhada.—Gostei!—Enquantosaía dacabinadecomando,fechandoaportaatrá sdesi,elerepetiu:—Camisamanchadadegema deovoemolhoholandês! Macapertouobotãosecretonovamente. —Eunãotiveaintençãodecomplicaravidadoco-piloto—Karldisse. —Bobagem!Foiumaboaidéia!SirvaodesjejumnoKuwait.Quantotempofalta? —Apenasalgunsminutos,senhor,peloqueentendi. — Otimo. Assim, vou poder participar da reuniã o com a camisa limpa. Você deveria ter pensadonisto,Karl. CAPÍTULO8 O cofre de Leah estava escondido em cima de uma plataforma suspensa, atrá s de uma casinha de cachorros embolorada que pertenceu aos ilhos dela. Rayford a ajudou a subir em umaescadaeaguardouaté queelaafastasseacasinhaeoutrasbugigangas.Elesubiunaescada atrá sdeLeahe icouapontandoalanternaporcimadoombrodelaparailuminarafechadurado cofre. —Comovocê conseguiutrazerestacoisaaté aqui?—elecochichou.—Devepesaruma tonelada. — Nã o querı́amos que os vizinhos soubessem — ela disse, com a voz ainda trê mula. — Meumarido,Shannon,pediuqueocofrefosseentregueemumacaixasimples,eelealugouum andaimehidrá ulico.Umvizinhoperguntouparaqueserviriaoandaime,eShannonlhedisseque queriasubstituiralgumastelhasdagaragemqueestavamquebradas.Aparentemente,ovizinho ficousatisfeitocomaresposta. —Edaí?Depoisquevocêsergueramocofre,foidifícilcolocá-lonolugar? —Achamosqueaplataformanãoiaagüentar. Ocofretinhacercade90cmdealturapor60cmdelargura,eLeahnã oestavabrincando quandodissequehaviamuitodinheiroali.Assimqueaportafoiaberta,eladisse: —Tivemosdeguardarosoutrosobjetosdevalornocofredobanco. Ocofreestavaabarrotadodemaçosdenotasde20dólares. —Podíamosusaristonacasasecreta—disseRayford. —Époristoqueestamosaqui. — Estou falando do cofre. Jamais poderı́amos aceitar todo este dinheiro. Nã o haverá temposuficienteparagastá-lo. — Bobagem. Você s vã o precisar de mais veı́c ulos, e nã o sabem quantas pessoas podem passaramorarlá. Elesencheramrapidamenteasacolacomodinheiro. — A sacola vai icar pesada demais para ser carregada — disse Rayford. — Ajude-me a empurrá-laparaqueelacaianochão. Depoisdemuitoesforço,elesconseguiramarrastarasacolaaté abeiradaplataforma.Os maçosdenotassemisturaramdentroeelacaiunochã o,comumbaquesurdo,levantandouma nuvemdepoeira.Rayfordapagoualanternaeprendeuarespiração. —Vocêestámevendo?—elecochichou. —Maisoumenos. RayfordfezumsinalparaqueLeahdescessedaescadaatrá sdele.Adescidafoitã odifı́c il quantoasubida.Quandoelechegouaochão,ajudou-aadescerosúltimosdegraus. —Vocêestáseachandoumcavalheiroporter-meajudadoadescer—elacochichou. —Sósevocêforumadama. Elesviraramasacolaepassaramamãonelanoescuroparaversetudoestavaemordem. Umfeixedeluzbrilhounorostodeles. —VocêéLeahRose?—inquiriuumavoz. Leah deu um suspiro e olhou para Rayford. — Sim — ela disse em voz baixa. — Sinto muito,R... —Nãofalemeunome!—eledisseentreosdentes.—Enãofinjaseroutrapessoa. —VocêéounãoéLeahRose?—soouavoznovamente. — Eu respondi que era, certo? — ela disse, sem muita segurança, como se estivesse mentindo.Rayfordsurpreendeu-sediantedarapidezcomqueelaserecompôs. —Evocê,quemé?—perguntouodesconhecido. —Eu?—perguntouRayford. —Seunome. —Quemestáquerendosaber? —ForçasPacificadorasdaCG. —Ah!quealı́vio!—disseRayford.—Nó stambé msomos.OcomandanteSullivanpediume que eu desse uma olhada aqui. A casa foi saqueada depois que seu pessoal saiu. Ele queria queverificássemosagaragem. Alguémapertouuminterruptor,acendendoumalâmpadadeluzfracaacimadacabeçade Rayford. Ele semicerrou os olhos e viu quatro policiais da CG armados, trê s homens e uma moça. — O que você estava fazendo no escuro? — perguntou o lı́der. Na farda dele, havia a insígniadetenente. Rayfordolhouparacima.Alâmpadaestavaàdistânciadeumbraço. —Ouvimosumbarulholáforaeapagamosaluz. —Humm—disseapolicial,aproximando-se.—Precisoversuascarteirasdeidentidade. ApolicialolhouparaRayfordcomardedúvida.Umdoshomensolhouparaaplataforma. — Eu sou Pa ko — disse Rayford, tentando desesperadamente lembrar-se em que bolso elecolocarasuacarteiradeidentidadefalsa.—Andrew.Aquiestá. —Evocê,madame? —ElasechamaFitzgerald. —Meusdocumentosestãonocarro—eladisse. —Tenente!—chamouooutropolicial.—Háumcofreabertoaliemcima. OtenentedevolveuacarteiradeidentidadeaRayford. —Vocênãoestavaplanejandolevaralgumacoisadaqui,estava,Pafko? —Vouprestarcontasdecadacentavo. —Hum—disseopolicialvirando-separaamoça.—'Veri iquecomaCentral.Andrew Pa ko, da divisã o de Des Plaines. E Fitzgerald. Qual é o seu primeiro nome, madame, e a que divisãopertence? — Pauline — respondeu Leah. — També m de Des Plaines. A moça pegou o telefone que estavapresoaumatiraemseuombro. Rayford se assustou. O telefonema poria tudo a perder. Eles seriam facilmente identi icados, talvez torturados e mortos, se nã o revelassem os nomes dos outros membros do ComandoTribulação.Elemereciaissopornãotersidomaiscuidadoso,masLeahnão. —Nãohánecessidade,tenente—disseRayford.—Antesqueasededoquartelsaibaonde estamos, nã o seria melhor a gente dar um tempo e esquecer que nó s seis estivemos aqui esta noite? Sou tã o leal à causa quanto o senhor, mas nó s dois sabemos que a Sra. Rose era uma militanterebelde.Setodoestedinheiroeradela,agoraénosso,não? O tenente hesitou, e a policial afastou a mã o do telefone. O tenente ajoelhou-se perto da sacola. — O senhor está acreditando nisto? — perguntou a policial ao tenente. — Acha mesmo queeleédaCG? O tenente olhou para ela. — Como ele poderia saber o motivo de estarmos atrá s da Sra. Rose? Ela encolheu os ombros e começou a examinar o cofre. Os outros dois policiais caminharamaté aporta,talvezparaveri icarsehaviaalgumcuriosoporperto.Rayfordpassou amãopeloscabelos.Seráqueelehaviaconseguidoquatrocúmplices? Ele olhou irme para Leah como que pedindo para que ela deixasse o assunto por conta dele.Leahestavatã opetri icadaquantonomomentoemqueviraoscavalos.Rayfordpostou-se demaneiracasualentreotenenteeaporta.Leahoacompanhou. Otenenteviuodinheiroedeuumassobio.Osoutrosdoispoliciaiseamoçaaproximaramse para ver. Enquanto eles concentravam o olhar na sacola, Rayford e Leah dirigiram-se mais parapertodaporta.Leahpoderiater-seesgueiradosemservista,masRayfordnã opodiafazer nada,portantoelanãosaiudolugar. —Há umaboaquantiaparatodosnó s—disseumdospoliciais.Otenenteassentiucoma cabeça,masRayfordpercebeuqueamoçaolhava irmeparaLeah.Elapegoualgunspapé isdo bolsotraseiroefolheou-os.Emseguida,parouevoltouaolharparaLeah. —Tenente...—disseamoça. — Deixe-me mostrar-lhes uma coisa — interrompeu Rayford, en iando a mã o dentro da sacolaeretirandoummaçodenotasde20dó lares.—Calculemquecadamaçotenha50notas de20dólares.—Elesegurouasacolaporumdosladosedeixouqueosmaçosdenotasrolassem para o outro. A moça fez um gesto para pegar a arma. Rayford levantou o maço de notas. — Nã o seria ó t imo dividirmos tudo e... sumir daqui? Agora? — Ele deu uma pancada na lâ mpada comodinheiroeagaragemficouàsescuras. Rayford virou-se rapidamente e correu atrá s de Leah, que fugia pela porta lateral. Ele ouviu um tiro e ruı́do de madeira estalando, e percebeu que o tenente havia acendido uma lanternapossanteatrásdeles.EnquantoRayforde Leah corriam pelo piso escorregadio, ele calculou que as possibilidades de chegarem ao Land Rover antes dos policiais seriam mı́nimas. Mas Rayford nã o queria icar ali e ser preso. Algué m acionou o botã o automá tico da garagem, e Rayford ouviu a porta levantando-se. Ele olhou furtivamente para trá s e viu os quatro policiais correndo em sua direçã o, com as armas engatilhadas. —Rá pido!—Rayfordgritouaovirar-separaverondeLeahestava.Maselahaviaparado. Elecorreunadireçãodela,eosdoissechocaramviolentamente,rolandosobreagrama. Alguma coisa tinha acontecido. Será que sua perna estava quebrada, ou ele havia esmagado a dela? Por que Leah parará de repente? Ela estava se saindo tã o bem! Eles ainda tinhamumachance.OLandRoverestavaà vista.Será queaCGatirarianeles?Ouosprenderia? Rayfordpreferiairparaocéuapôremriscoavidadeseusqueridos. — Deixe que eles atirem — ele disse com a voz rouca, tentando levantar-se. Mas Leah estavadequatronagrama,olhandoparaocarroporentreos iosdecabeloquecaı́amsobreseu rosto. Rayfordolhouparatrá s.Ospoliciaistinhamdesaparecido.Eleolhouparaopontoemque Leah tinha os olhos cravados. Lá estavam os cavalos, a menos de trê s metros dele -enormes, monstruosos,duasvezesmaioresdoquequalqueroutroqueelejá vira.Leahtinharazã o,ospé s dos cavalos nã o estavam apoiados no chã o, mas, mesmo assim, eles se movimentavam para a frenteeparatrásegiravamocorpo. Chamassaı́amdesuasbocasenarinas,fazendosubirumaespessafumaçaamarela.Ofogo iluminava suas cabeças grotescas, iguais a cabeças de leõ es com enormes dentes caninos, e caudas movimentando-se para cima e para baixo. Rayford levantou-se lenta e penosamente. AgoraelecompreendiaocomportamentodeLeahquandoelaosvirapelaprimeiravez. —Elesnãovãonosatacar—eledisseesperançosamente,comvozfracaeofegante. Rayfordtremia,tentandogravaracenanamemó ria.Atrá sdaprimeira ileiradecavalos haviacentenasdeoutros,agitadosemovimentando-sesempararcomoseestivessemansiosos paraatacarecorrer.Oscavaleiroseramenormes,detamanhoproporcionalaodoscavalos.Eles pareciam seres humanos, mas tinham cerca de trê s metros de altura e deviam pesar mais de 200quilos. Rayford engoliu seco, com o peito arfando. Ele queria ver como Leah estava, mas nã o podia desviar o olhar. O cavalo diante dele, a menos de trê s passos de distâ ncia, começou a rodaremcı́rculos.Rayfordviuquesuacaudanã otinhapê los.Eraumaserpentesecontorcendo, cujacabeçatinhaodobrodotamanhodopulsodele.Aovirar-se,elaarreganhouaspresas. Os cavaleiros pareciam estar com o olhar ixo a quilô m etros de distâ ncia, bem acima da cabeça de Rayford. Cada cavaleiro possuı́a uma couraça que, iluminada pelas chamas, reluzia em tons amarelos, azuis e vermelhos. Apesar de serem fortes e terem braços e bı́c eps musculosos,oscavaleirostinhamdificuldadeparacontrolaroscavalos. Rayfordnã oouvianenhumruı́dodaspatasdoscavalos,nã osentiaocheirodeles,nemdo fogoedafumaça.Elesó sabiaqueelesgemiameresfolegavamporcausadofogoedafumaça. Nãohaviasonsderédeas,selaseescudos.Mesmoassim,oscavalos-leõeseseuscavaleiroseram maisbrilhantesdoquequalqueroutracoisaqueelejávira. Finalmente, Rayford olhou para Leah. Ela parecia catatô nica, olhos arregalados, boca escancarada. —Respirefundo—elelhedisse. Será que Deus havia providenciado aquelas criaturas para protegê -los? Certamente os policiais deviam ter corrido para se salvar. Rayford virou-se novamente e, a princı́pio, nã o viu nadaentreeleeagaragem.Mas,derepente,eleavistouosquatropoliciaisestendidosnochã o, imóveis. Ele ouviu sirenes, viu helicó pteros vasculhando a á rea com holofotes, ouviu guardas correndo,gritando. — Precisamos ir embora, Leah — ele disse. — Podemos caminhar por entre os cavalos. Elesnãosãocavalosverdadeiros. —Vocêsdoisaí! Rayford virou-se. Dois guardas cutucaram os quatro policiais com suas botas enquanto gritavamparaRayfordeLeah. —Fiquemondeestão! Eles aproximaram-se com cuidado. Finalmente, Leah desviou o olhar dos cavalos, olhou paratrásporcimadosombrosemurmurou: — Acho que quebrei uma costela. — Ela voltou-se na direçã o dos guardas com os olhos semicerrados.—Seráqueelesnãoestãocommedodoscavalos? O que havia de errado com os guardas? Assim que se aproximaram — dois homens com pouco mais de 20 anos -, eles apontaram as armas para Rayford e Leah. Rayford sabia que os cavalosestavamatrásdeleporcausadoreflexodaschamasquebrilhavamnorostodosguardas. —Oquevocêssabemsobreaquelespoliciaismortos?-perguntouumdeles. — Nada — respondeu Leah, ainda de quatro sobre a grama. -O que você acha de nosso exército? —Levante-se,madame. —Elesnãopodemvê-los—disseRayford. —Nãopodemosverquem?—inquiriuoguarda.—Venhamconosco. —Vocênãoestávendonada—disseRayfordsecamente. — Eu lhe disse para levantar-se, madame! — gritou o outro guarda. Assim que ele caminhounadireçãodeLeah,Rayfordointerceptou. —Filho,precisoadverti-lo.Se... —Advertir-me?Possomatarvocêcomumtiroenãovouprecisarresponderporisto. — Você está correndo perigo. Nó s nã o matamos aqueles poli... O guarda deu um grito enquanto seu corpo transformava-se em chamas, rodando e iluminando a á rea como se fosse dia.UmdoscavalospassouporRayfordedeuumgirorá pido,atingindoooutroguardanatesta com sua cauda. O guarda foi atirado longe como se fosse uma boneca de pano. Sua cabeça foi esmagadacontraumaárvoreatrêsmetrosdedistância. Aos poucos, Leah conseguiu icar em pé . O suor corria-lhe pelo rosto até o queixo. Ela foi aoencontrodeRayfordcomoseestivessecaminhandoemcâmeralenta. —Nós...vamos...morrer—elabalbuciou. —Nó snã o—disseRayford,recuperandoofô lego.—Ondeestá doendo?Aperteapalma damãosobreolocal. Ela segurou irme a caixa torá cica do lado direito, e Rayford passou o braço ao redor da cinturadela,ajudando-aadirigir-separaocarro.Elesemicerrouosolhosporcausadaschamas ecaminhouatravé sdoscorposdoscavaloscomoseestivesseatravessandoumholograma.Leah enterrouorostonoombrodele. —Elesestãoemoutradimensão?Oqueéisto? — Uma visã o — ele disse, sabendo pela primeira vez que eles nã o seriam atingidos. — Tsionestavacerto.Elesnãotêmcorposfísicos. Agora eles estavam no meio da tropa, e Rayford nã o conseguia enxergar onde ela terminava, sentindo-se como uma criança cercada de uma multidã o de adultos. Finalmente, elesatravessaramaúltimafileiradecavaloseavistaramoRovera30metrosdedistância. —Vocêestábem?—eleperguntou. —Sim,masparecequeestousonhando—elarespondeu. —Amanhã,nãovouacreditarnoquevi.Nemagoraestouacreditando. Rayfordapontouparaumadistânciadequaseumquilômetroaoesteondemaisumgrande nú m erodecavalosferozesseagrupava.Leahapontouparaooutrolado,ondehaviaoutrogrupo. Osdetráspareciamdirigir-seàcidadeondeLeahmorava. Eles entraram no carro, e Rayford seguiu pela rua da casa de Leah, coisa que nã o havia ousado fazer antes. A fumaça preta e amarela que saı́a das bocas dos cavalos afugentou os guardasdaCG.Muitosestavamcaı́dosnochã ocomosetivessemsidomortosnoato.Aspessoas saı́am das casas no meio da fumaça que se espalhava pela á rea, falando, tossindo, caindo ao chão.Emvárioslugares,oscavalosexpeliamfogosuficienteparaincinerarascasas. RayforddeumarchaaréeparoudiantedagaragemdeLeah. —Espereaqui—eledisse. —Rayford!Não!Vamosembora! Elesaltoudocarro.—Nãovoudeixartodoaqueledinheiro... —Porfavor!—elagritou. Rayfordpassouporcimadoscorposeentrounagaragem.Fechouasacolacomozı́pere colocou-a em cima do ombro. Mesmo caminhando atravé s da fumaça e das chamas, ele nã o sentiu nenhum cheiro. Depois de colocar a sacola no porta-malas do Rover, ele sentou-se ao volante.Enquantosaíadali,eleolhouparaLeah. — Bem-vinda ao Comando Tribulaçã o — ele disse. Ela balançou a cabeça, segurando firmeascostelas.Rayfordacelerourumoàcasasecreta. —Emelhorapertarocintodesegurança—eledisse,virando-separaLeah. MacpassoudespercebidoporFortunatoeseusconvidadosenquantoelestomavamocafé da manhã e desceu do aviã o para supervisionar o reabastecimento de combustı́vel. Do local ondeseencontrava,podiaobservarodesembarquedacarga.AssimqueAbdullahabriuaporta docompartimentodecarga,vá riasempilhadeirascomeçaramarodarsobreapistaeentraram no aviã o, subindo pela rampa de alumı́nio. Enquanto Fortunato saboreava seu desjejum, 144 computadores e mais de uma tonelada de gê neros alimentı́c ios estavam saindo clandestinamente do Condor 216 e cairiam nas mã os dos inimigos da CG antes do pô r-do-sol. Brilhante, Abdullah, pensou Mac.Nada como uma refeição para distrair a atenção do supremo comandante. BuckdespertounomomentoemqueChloeatendeuaotelefone. —Quehorassão?—eleperguntou. Chloeapontouparaorelógioquemarcavameia-noiteemeia. —Silêncio—eladisse.—Éopapai. —ObilhetedizqueeleeLeah...Novamente,Chloepediu-lhesilêncio. — Lá fora? — ela estava dizendo. — Por quê ?... Tudo bem! Vou fazer isso... Tsion? Você estáfalandosério?Querqueeuváacordá-lo?...Estábem,cheguelogo! Eladesligou. —Levante-se,Buck. —Oquê?Porquê? —Vamos.PapaiquerquevocêacordeTsioneolhepelajanela. —Oqueé... —Rápido!EleeLeahestãovoltandoparacasa. —Oqueelequerqueagenteveja? —Os200milhõesdecavaleiros. —Já?Vocêconseguiuvê-los? —VáacordarTsion. Depoisdadecolagem,MacpediuaAbdullahqueassumisseocomandodaaeronave. — Quero ver se Leon vai começar a falar sobre estraté gia. Ele estendeu a mã o para trá s para veri icar se a porta da cabina de comando estava fechada, desatou o cinto de segurança, recostou-se na poltrona, fechou os olhos e apertou o botã o secreto. Um dos assessores de Fortunatoestavatentandoimpressioná-lo. — Vai ser bom demais quando ele descobrir que Carpathia nã o veio e que só você está aqui. —Eununcaouvivocêreferir-seaopotentadopelosobrenome... — Desculpe-me, comandante. Eu quis dizer Sua Excelê ncia, o potentado. Será ó t imo quando Ngumo descobrir que o potentado Rehoboth, alé m de ter tomado conhecimento desta reunião,tambémfoiconvidado. Ooutroassessorintrometeu-senaconversa. —Então,estamosfazendoestaviagemsóparaosenhorpôrNgumoemseudevidolugar? —Aperguntaé vá lida—disseLeon.—Ingê nua,poré mvá lida.Estavaiserumamaneira muitointeligentedefazerascoisas.Nã osetratadeumsimplesinsulto;é uminsultoparacalar fundo.Apesardenossossorrisoseatitudessubservientes,eleperceberá claramentequesetrata de um tapa na cara. Ele nã o vai reunir-se com Sua Excelê ncia. Nem sequer vai icar frente a frente com o supremo comandante em particular. Ele nã o receberá nada do que pediu e vai icarsabendoporquê .Eupoderiaterfeitoissoportelefone,masasatisfaçã onã oseriaamesma. Dequalquerforma,trata-sedeumamissãoparaestabelecermosumacoalizão. —ComRehoboth? — Exatamente. E muito importante que Sua Excelê ncia con ie em seus potentados regionais.BastaacertarmaisalgunspontoscomBinduraeconquistaremosdevezsualealdade. Existem boatos de insurreiçã o, mas temos certeza absoluta de que podemos contar com seis potentados e 90% de certeza quanto a Rehoboth. Os trê s restantes passarã o para o nosso lado quando chegar o momento de resolver o problema de Jerusalé m; caso contrá rio, serã o substituídos. —ProblemadeJerusalém? — Nã o me decepcione. Você tem trabalhado tã o pró ximo de mim durante todo este tempoenãosabeoqueestouquerendodizerquandomerefiroaoprob... —Asduastestemunhas. — Bem, sim... nã o! E assim que aqueles rebeldes se autodenominam. Eles també m se referemasimesmoscomocandeeiros,árvoresoucoisasdogênero,coisasbíblicas.Nãoserenda aostermosdeles.Sãodoispregadoresmalucos,doisturrões,dois... Estas ú ltimas palavras levaram os assessores a caı́rem na gargalhada, o que serviu para Leon começar a fazer uma sé rie de comentá rios que ele considerava engraçados. Para ouvir seus bajuladores, ele tinha subestimado seus dons de comediante. Mac estava balançando a cabeça de um lado para o outro diante dos absurdos que ouvia quando Abdullah o assustou dando-lheumtapanopeito. Macendireitou-senapoltronacomosetivessesidoatingidoporumatoalhamolhada. —Desculpe-me—gritouAbdullah—masolhe!Olhe!Oh!Estavaali! —Oquê?—perguntouMac. Osolestavasepondonohorizonteatrá sdeles,à esquerda,eocé usemnuvensquehavia pela frente estava in initamente azul. Mac nã o viu nada. Naquele momento, Abdullah també m nãovianada. —Euvialgumacoisa,capitão.Garantoquevi. —Nãoestouduvidandodevocê.Oquefoi? —Vocêvaiduvidardemimseeulhecontar.—Osolhos de Abdullah continuavam arregalados. Ele inclinou-se para a frente e olhou em todas as direções. —Tentemecontar. —Umexército. —Comoassim? —Umacavalaria,querodizer. —Abdullah,vocênemsequerestavaolhandoparaosolo. —Eunãoteriaacordadovocêsetivessevistoalgumacoisanosolo! —Eunãoestavadormindo. —Seriamelhorseeutivessevistocavalosnosolo! —Vocêviucavalosnocéu? —Cavalosecavaleiros. —Nãovejonadanocéu,nemnuvens. —Eudissequevocênãoacreditariaemmim. —Euacreditoquevocêpensaqueviualgumacoisa. —Achoquevocêtambémvaimechamardementiroso. — Jamais. Está na cara que você pensa ter visto alguma coisa. Você nã o estava cochilando.Ouestava? — Alé m de ser um mentiroso, també m durmo em serviço? Mac riu. — Se você está dizendoqueviualgumacoisa,euacredito. —Nãopareciahaver200milhões,mas... —Ah!vocêandalendoasmensagensdeTsion... —Claro.Equemnãoanda? Mac empinou a cabeça. — Foi um devaneio, você devia estar meio acordado, meio dormindo. Nã o me olhe deste jeito. Estou dizendo que foi durante uma fraçã o de segundo enquantovocêpensavanamensagemdoDr.Ben-Judá... —Vocêvaimeofendersecontinuarafalarassim,capitão. —Desculpe-me,irmã o—disseMacdandoumabatidadelevenoombrodeAbdullah.— Vocêtemdeadmitirqueexisteestapossibilidade. AbdullahempurrouamãodeMac.—Vocêtemdeadmitirqueexisteapossibilidadedeeu tervistocavalosecavaleiros. Mac sorriu. — O que eles estavam fazendo? Uma apresentaçã o? Preparando-se para o grandedesfile? —Capitão!Vocêestámeofendendo! — Vamos, Abdullah! Tsion diz que os cavalos e os cavaleiros vê m do abismo, da mesma formaqueosgafanhotos.Oqueelesestariamfazendoaquinoalto? Abdullahpareciaestaraborrecidoevirou-separaooutrolado. —Vocêachaqueeutiveaintençãodeofendê-lo?-perguntouMac. Nenhumaresposta. —Acha? Abdullahcontinuoucalado. —Agoravocêvaificardebeiço... —Nãoseioquesignificaficardebeiço. —Apesardenãosaberoquesignifica—disseMac-,vocêémuitobomnisto. — Se isso signi ica que estou bravo com uma pessoa que eu imaginava ser meu amigo e irmão,entãoestoudebeiço. Macriualto.—Verdade?Possochamarvocê debeiço?Esteaquié omeuirmã oeamigo beiço! AntesqueMactivessetempodepiscar,cavalosecavaleirosescureceramocé u.Abdullah puxou bruscamente os controles, e o aviã o quase empinou, imobilizando Mac na poltrona. Ele ouviu ruı́dos de batidas e solavancos na cozinha e na sala de descanso. Em seguida, Leon começouagritar. Assim que Mac se deu conta de que ia se arrepender por nã o ter apertado o cinto de segurança, Abdullah fez uma outra manobra, e o aviã o baixou rapidamente de altitude. Mac bateu a cabeça com força no teto. No exato momento em que virou o rosto, foi ferido no lado esquerdodacabeça.Osbotõ esdocontrolequebraram,abrindoumcorteefurandosuaorelha.O sangueespirrounopára-brisaenopaineldecontrole. Finalmente,Abdullahconseguiuaprumaroaviãoeficouolhandofirmeparaafrente. — Eu nã o iz isto para me vingar de você — ele disse, com a voz trê mula. — Sinto muitı́ssimo se você nã o viu por que eu precisei desviar o aviã o daquela maneira tã o brusca. Esperoqueseuferimentonãosejagrave. —Euvinitidamenteoscavaloseoscavaleiros—disseMac,comocoraçã oaospulos.— Nuncamaisvouduvidardevocê .Precisofazeralgumacoisaparaestancarosangue.Sevocê os vir novamente, nã o tente desviar deles. Mantenha a aeronave na posiçã o. Eles estã o lutuando noespaço.Vocênãovaiatingi-los. —Peçomildesculpas.Foiinstintivo. —Euentendo. —Vocêestábem,capitão? —Maisoumenos.Oferimentofoisuperficial,tenhocerteza. —Otimo—disseAbdullah.Emseguida,elecomeçouaimitarumacomissá riadebordo: — Mantenha sempre o cinto apertado quando estiver em sua poltrona, mesmo que a luz de avisotenhasidoapagada. Macrevirouosolhos. —Agoraévocêquemvaificardebeiço?—perguntouAbdullah. Maclevantou-seedirigiu-separaaporta,noexatomomentoemquealguémaesmurrava doladodefora. CAPÍTULO9 BuckpediumilhõesdedesculpasaTsion,explicandoomotivodetê-loacordado. —RayfordeLeahforamaté acasadelaparapegaralgumacoisa.Elesacabaramdeligar pedindoqueagenteolhepelajanela. Tsion, com os cabelos desalinhados, pegou um roupã o e desceu a escada atrá s de Buck. Chloe,comKennynocolo,estavaempédiantedajanelaolhandoparaooeste. —Talvezsejanecessárioapagarasluzes—eladisse.—Nãoestouvendonada. —Oquevocêsestãoquerendover?—perguntouTsion. —Os200milhõesdecavaleiros—elarespondeu. Tsioncaminhouapressadoatéajaneladafrentedacasaeafastouacortina. — Eu nã o icaria desapontado se Deus antecipasse o Glorioso Aparecimento em alguns anos—eledisse.—Océudeveestarnublado.Nãoháestrelas.Ondeestáalua? —Aquiatrás—disseBuck. — Acho que Rayford nã o estava falando sé rio — disse Tsion, aproximando-se de Buck e Chloe. —Eleestavaempolgadodemais—disseChloe.—Assustado.Buckcaminhouaté aporta dosfundoseolhouparaoleste. Nohorizonte,haviaumclarãovermelho. —Eugostariadesaberoqueéaquilo—eledisse,chamandoopessoal. —Devehaveralgumacoisaqueimandoemalgumlugar-disseTsion,comvozcansada.— MasacasadaSra.Rosenãoficanadireçãooposta? —Émelhoreupegarocarroeseguirnaqueladireçãoparaveroqueé—disseBuck. Chloe nã o gostou da idé ia. — Vamos esperar para ver. Se for só um incê ndio, nã o vale a penaarriscar-se. O telefone tocou. Chloe passou o irrequieto Kenny para os braços de Buck e correu para atender. —Nã o,papai—eladisse.—Podeserumincê ndionoleste...Você temcertezadequejá começou?...FalecomTsion. AssimqueMacdestravouaportadacabinadecomando,Leonentroucambaleando,com oscabelosdesgrenhados,praguejando. —Umapequenaturbulência—disseMac. — Turbulê ncia? E o que signi ica esta fumaça, este cheiro? Mandei veri icar, e Karl me disse que um dos funcioná rios dele está inconsciente! Precisamos aterrissar, homem! Vamos morrersufocados!Evocêestásangrando! Mac acompanhou-o até a sala de descanso, onde um dos assessores de Leon massageava freneticamenteopeitodooutro.Karlgritoudacozinha: —Vamostodosmorrer! Leoncobriuabocacomumlenço,falandocomdificuldade,tossindo. —Enxofre!Deondeestá vindo?Evenenoso,nã o?Vainosmatar?Macnã osentianenhum cheiro.Elefoiverificaropaineldecontrole.OCondorpossuíaalarmessupersensíveiscontrafogo efumaça.Nenhumdispositivohaviasidoacionado.Macsabiaquepoderialevantarsuspeitasse nãoestivessesentindonada.Elecobriuabocacomamão. —Vouligarosistemadeventilaçã o—eledisse,enquantoKarlarrastavaseufuncioná rio, retirando-o da cozinha. — Leve os dois que estã o passando mal para os aposentos de dormir. Temosoxigêniosuficienteparatodos. —Nãoháumlugarporpertoparapousarmos?—perguntouLeon. —Vouverificar—respondeuMac. —Rápido! Macentroucorrendonacabinadecomandoetrancouaporta. —Oqueestáacontecendo?—perguntouAbdullah.—Vocêestáperdendomuitosangue. —Euestoubem—disseMac.—Aquelescavalostê mpoderparaentraraqui,até mesmo dentrodacabinapressurizada.Todosestã osentindocheirodeenxofre,estã osufocados,usando oxigênio,desmaiando.Leonquerqueagenteaterrisse. —PrecisamosseguirdiretoparaJoanesburgo—disseAbdullah,ajudandoMacaveri icar cadadispositivo.—Oqueestá acontecendocomelesnã ovemdesteaviã o.Vaiserpiorseeles estiverememterra. — Eles poderiam receber tratamento mé dico. Abdullah olhou para Mac. — Você , sim, masseelesestã osendoatacadospelos200milhõ esdecavaleiros,nã ohaverá mé dicoquepossa salvá-los. —Qualéohorárioprevistodechegada? —Aindatemosalgumashoraspelafrente. Macsacudiuacabeça.Seuferimentoofezestremecer. —Vamosterdepousar,senãoLeonvaidescobrirquesomosinvulneráveis. AbdullahfezumgestoparaqueMacassumisseocontroledoaviãoetiroualgunsmapasde suamaletadevôo. —Elesvã ochegardentrodepoucosminutos—disseTsion,desligandootelefoneapó ster conversadocomRayford.-Osflagelosdefogo,fumaçaeenxofrejácomeçaram.Eunãoesperava quefosseagora,masoscavaleirosestã ovisı́veis,pelomenosparaalgumaspessoas.Rayfordea Sra.Roseosviram.Osincrédulosestãosendoexterminados.BuckligouaTV. —Socorro!Socorro!—Macouviupelorádio. —AquiéoCondor,prossiga. —Socorro!Meupilotoestá morto!Estousufocado!Acabinadecomandoestá repletade fumaça.Quecheirohorrível!Nãoconsigovernada!Aaeronaveestádescontrolada!Caindo! —Qualéasuaposição? Mac, poré m, só ouviu um gemido fraco. Parecia o dia do Arrebatamento, só que agora eramgritosdepilotosnão-crentescujosaviõesseperderiam,talvezaterçapartedeles. Os pedidos de socorro congestionaram a freqü ência. Mac nã o podia fazer nada e estava atordoado.Elemudouafreqüênciadorádioparaouvirasnotícias. "Até o momento, ningué m tem uma resposta para a sé rie de incê ndios, fumaça e odor terrı́vel de enxofre que está matando milhares de pessoas no mundo inteiro", dizia o repó rter. "As equipes mé dicas de emergê ncia estã o completamente perdidas, tentando de todas as maneirasdeterminaracausa.VamosouviroqueochefedaAssociaçã odeAtendimentoMé dico deEmergênciadaComunidadeGlobal,Dr.JurgenHaase,temanosdizer." "Sefossemeventosisolados,poderíamosatribuiraumfenômenodanatureza,umaruptura emalgumafontedegá snatural.Masoacontecimentopareceseraleató rio,eafumaçaé letal. Solicitamosqueoscidadã osusemmá scarascontragá setrabalhememconjuntoparaapagaros incêndios." Orepórterperguntou:"Qualéamaisperigosa,afumaçapretaouaamarela?" Haase respondeu: "Acreditamos que a fumaça preta foi provocada pelo fogo, mas parece nã oternadaavercomele.Podesermortal,masafumaçaamarelatemodordeenxofreetem opoderdematarinstantaneamente." O repó rter disse que acabara de receber um boletim, e sua voz parecia a de algué m aterrorizado."Emboraexistamlugaresnosquaisnã osetemnotı́c iadefogo,fumaçaouenxofre, em outros o nú m ero de mortes é alarmante, até agora estimado em centenas de milhares. Nesta pró xima meia hora, Sua Excelê ncia, o potentado da Comunidade Global, Nicolae Carpathia,falaráaomundoviarádio,televisãoeInternet." Abdullah colocou um mapa bem na frente de Mac. -Estamos eqü idistantes de dois aeroportoscompistasdepousoparaaeronavesdegrandeporte:Adis-AbebaeCartum. —Leonéquemvaidecidir—disseMac.—Éelequedesejaaterrissar. Abdullah assumiu o controle novamente. Mac saiu da cabina de comando e viu Leon falandoaotelefone.Pegouumguardanapodepanonacozinha,molhou-ocomá guaesegurou-o de encontro à orelha. Atirou outro guardanapo umedecido na cabina de comando para que Abdullahlimpasseopára-brisaeopainel. — Um momento, Excelê ncia — Fortunato disse -, o capitã o precisa de mim... Sim, vou perguntaraele.—Leoncobriuofone.—SuaExcelênciaestámeperguntandoondeestamos. —SobrevoandooMarVermelho.Podemosseguirpara...LeonfezumgestoparaqueMac silenciasseevoltouafalarcomCarpathia.Emseguida,passouofoneparaMac. —Opotentadoquerfalarcomvocê. —Qualéoseuplano,capitão?Maclhecontouasopções. —VocêtemcondiçõesderetornaraMecaouaalgumlugarnoIêmen? —Essesaeroportosnãotêmpistasdepousoparaumaaeronavedesteporte,senhor. —Adis-Abebaestá localizadaondeeraaEtió pia—disseCarpathia,parecendoconversar consigomesmo. —Correto—disseMac.—CartumficanoantigoSudão. — Siga para lá . Vou entrar em contato com o potentado Rehoboth na Africa do S..., em Joanesburgo,epediraelequeseupessoalnoSudã ofaçaomelhorquepuderporvocê s.Sevocê tivercondiçõesdecompletarestaviagem,elaserádegrandebenefícioparaacausa. —Osenhorpoderiameinformarcomoestáasituaçãoaí? — Aqui? Perdemos algumas dezenas de pessoas, e o mau cheiro está insuportá vel. Estou convencido de que se trata de uma guerra quı́m ica, mas nã o me surpreenderei se o pessoal da oposiçãodisserqueéumfenômenosobrenatural. —Eutambém...senhor. —ADupladeJerusalémjáestádefendendoesteúltimoargumento. —Como? —Éonovonomequedeiaeles.Vocêgostou? Mac nã o respondeu. Enquanto um grande nú m ero de pessoas morria no mundo inteiro, Carpathiasedivertiacomjogodepalavras. — E claro — prosseguiu Carpathia — que eles estã o se responsabilizando pelos acontecimentos.Istofacilitameutrabalho.Odiadelesvaichegar,eomundomeagradecerá. BuckestavasentadodiantedaTVemcompanhiadeTsioneChloe,aguardandoachegada de Rayford e Leah. Dos paı́ses onde ainda era dia, chegavam imagens de fogo e de rolos de fumaçasubindo,pessoassufocadas,ofegando,tossindo,caindoaochão.Pânicototal. O telefone tocou. Era Mac querendo falar com Rayford. Buck lhe contou as novidades e icouatô nitoaoouvirosrelatosdeMacedeAbdullah.MaclhecontouoapelidoqueCarpathia deuàsduastestemunhas. — Daqui a pouco, ele vai aparecer na TV — disse Buck. -Vou pedir a Rayford que ligue paravocê. Rayford e Leah chegaram no momento em que Carpathia estava sendo apresentado. O Comando Tribulaçã o sediado nos Estados Unidos icou ali, sentado diante da TV, ouvindo uma histó ria có smica. Tsion levantou-se e começou a andar de um lado para o outro assim que Carpathia olhou solenemente para a câ mera. O potentado tinha o ar paternal de sempre, garantindo ao povo aterrorizado que "a situaçã o em breve estará sob controle. Mobilizamos todososrecursos.Nesseı́nterim,peçoaoscidadã osdaComunidadeGlobalquenoscomuniquem qualquer atividade suspeita, em especial a fabricaçã o ou transporte de agentes nocivos. Lamentavelmente, temos motivos para acreditar que esse massacre de vidas inocentes está sendoperpetradopordissidentesreligiososaquemtemostratadocomcortesia..Apesardenos afrontarsemprequepodem,temosdefendidoseudireitodedivergirdenossasopiniõ es.Mesmo assim, continuam considerando a Comunidade Global como um inimigo. Acham que tê m o direitodemanterumgrupodegenteintolerante,dementalidadetacanha,queexcluiqualquer pessoaquenãoconcordecomeles. "Você s tê m o direito a uma vida saudá vel, pacı́ ica e livre. Embora eu continue a ser um paci ista, apelo para que eliminemos do mundo essa gente, começando com a Dupla de Jerusalé m que, mesmo neste momento, nã o manifesta nenhum remorso sobre a perda de um sem-númerodevidasresultantedesteataque." —Você ssabem—disseTsion,sentando-senobraçodosofá pertodeChloe-,quevouter depedirperdãopelaalegriaquesentireiquandochegarotempodeterminadodestehomem. Carpathiaapertouumbotã o,fazendoaparecernatelaas igurasdeElieMoisé sdiantedo Muro das Lamentaçõ es. Eles falavam em unı́ssono em voz alta e ameaçadora, que ecoava muitoalémdoMontedoTemplo,semajudadealto-falantes. As palavras apareciam na tela. "Ai dos inimigos do Deus Altı́ssimo!", eles diziam. "Ai dos covardesquelevantaramospunhosparaameaçarseuCriadoreagoraestã osendoobrigadosa fugirdesuaira!Suplicamosavó s,serpentesevı́boras,queconsidereiseste lagelomaisqueum julgamento!Sim,eleé maisumatentativadeumDeusamorosoquedesejaalcançartodosvó s, e Ele já está perdendo a paciê ncia. Nã o há mais tempo para serdes persuadidos. Deveis ouvir atentamenteoseuapelo,saberqueElevosama.Voltai-vosparaoDeusdevossospaisenquanto étempo.Porqueviráodiaemquenãohaverámaistempo!" Carpathia voltou a aparecer na tela com um sorriso condescendente. "Virá o dia, meus amigos,emqueestesdoisnãomaisespalharãoseuveneno.Elesnãomaispoderãotransformara á guaemsangue,nemimpedirquechova,nemenviarpragasparaaTerraSantaeparaoresto do mundo. Eu mantenho minha palavra de barganha, negociada com eles meses atrá s, permitindoquedeterminadosdissidentesnã osejampunidos.Estaé arecompensaquerecebo.E assimqueelesretribuemnossagenerosidade. "Mas a sé rie de atos de bondade pá ra por aqui, leais cidadã os. Sua paciê ncia e perseverançaserã orecompensadas.Chegará odiaemqueviveremosemummundouni icado, teremosumasó fé ,seremosumasó famı́lia.Viveremosempazeharmonia,semguerras,sem derramamento de sangue, sem mortes. Por ora, peço que aceitem minhas mais sinceras condolê ncias pela perda de seus entes queridos. Eles nã o morreram em vã o. Continuem a confiarnosideaisdaComunidadeGlobal,nosprincípiosdapazenaforçadeumaféuniversalque acolhedevotosdequalquerreligião,mesmodaquelasqueseopõemanós. "Daqui a quatro meses, faremos uma comemoraçã o na mesma cidade em que esses pregadoresestã onosadvertindo,zombandodenó s.Aplaudiremosamortedelesefestejaremos um futuro sem pragas, sem enfermidades, sem sofrimentos e sem mortes. Mantenham a fé enquanto aguardam a chegada desse dia. Até lá , voltarei a fazer outro pronunciamento. Enquantoisso,agradeçooapoiosinceroquetodosossenhorestêmdadoàComunidadeGlobal". Duas ambulâ ncias aguardavam na extremidade da pista principal de pouso de Cartum, equipadas com aparelhos da mais alta tecnologia em medicina. Apertando a orelha esquerda comoguardanapomolhado,MacajudouAbdullahaabriraportaedesceraescada.LeoneKarl desceramatordoados,seguidosporumassessoreumfuncioná riodacozinha,deixandoabordo duas pessoas agonizando. A equipe de emergê ncia, usando luvas e má scaras contra gá s, subiu rapidamenteaescada,carregandomaletasdeprimeiros-socorros.MaceAbdullah icaramem pé napista,recusandoseratendidospelosmé dicosantesdaquelesqueestavamemestadomais grave. Os outros quatro foram medicados nas ambulâ ncias. Logo a seguir, os componentes da equipe de emergê ncia desceram do aviã o e voltaram a subir levando maças. Saı́ram de lá carregandoduasvítimascobertasdacabeçaaospéscomlençol. Fortunato estava parado fora da ambulâ ncia, sem paletó , com a gravata afrouxada e a camisaensopadadesuor.Elepassouamãonatesta,respirandocomdificuldade. — Medida de prevençã o? — ele perguntou à equipe de emergê ncia enquanto as vı́t imas eramtransportadas. Elesbalançaramacabeçanegativamente. —Elesnãoestão...? —Sim,estã o—respondeuumdeles.—As ixiados.Leonvirou-separaMac.—Vá cuidar deseuferimentoe veri iqueminuciosamenteaaeronave.Nã opodemospermitirqueaconteçaoutroepisó dio comoeste. Mac tinha trê s ferimentos no couro cabeludo e um corte profundo no pescoço, que precisou levar 20 pontos, alé m de outro corte mais grave na orelha, que precisou levar 40 pontos. —Vaidoerumbocadodepoisquepassaroefeitodaanestesia—disseram-lhe. Doisjovensestavammortos,quatro,emestadogravíssimo,eomundosetransformaraem umcaos.Macachouquepoderiasuportarador. Nasprimeirashorasdamadrugada,Rayfordsentou-senasaladevisitasdacasasecreta.Os outrosmoradoresjá haviamserecolhidoaosseusquartos.SeguidodeLeah,eletinhaentradona casa molhado, com frio e o corpo todo dolorido. Podia imaginar a dor que ela sentia depois de ter-sechocadoviolentamentecomele.Apreocupaçã oeaatençã odemonstradaspelogrupo— inclusiveduranteopronunciamentodeCarpathia—ocomoveram.Defato,eleseramirmã ose irmã s em Cristo e precisavam uns dos outros para sobreviverem. Depois que todos ouviram o relato de Rayford e Leah e oraram agradecendo a Deus o dinheiro recebido, Tsion falou um pouco a respeito da mensagem que seria transmitida no dia seguinte. Ele estava intrigado, querendosaberporqueoscrentespodiamveroscavaloseoscavaleiros,easvı́t imasnã o.Até mesmo as imagens da TV mostraram cenas de pessoas tentando escapar das mordidas das serpentes, envoltas em nuvens de fumaça e sendo consumidas, aparentemente por um fogo espontâneoprovenientedoarrarefeito. — Eu imaginei que haveria um exé rcito monstruoso de cavaleiros cavalgando juntos — disse Tsion. — Talvez eles ainda apareçam desta maneira. Mas, até agora, eles estã o surgindo em vá rias localidades. Nã o sei até quando isso vai continuar a acontecer. Francamente, estou desapontadopornãotervistooscavaleiros. Aospoucos,todosforamsedirigindoparaosquartos,restandoapenasRayfordeChloena sala. —Vocênãovaidormir,papai?—elaperguntou. — Daqui a pouco. Preciso dar um tempo para me desligar. Nunca passei um dia como este.Nuncavinadasemelhante.Enãofaçoquestãodevernovamente. Chloepostou-seatrásdeleecomeçouamassagear-lheopescoçoeombros. —Vocêprecisadescansar—eladisse. —Eusei.Vouficarbem—disseRayford,dandoumtapinhanamãodafilha.—Vádormir. Vocêtemumfilhoparacuidar. Agora, sentado sozinho na escuridã o, Rayford relembrava os acontecimentos dos ú ltimos dias, querendo saber quanto mais poderia suportar. Aquele era apenas o começo, e ele achava quenã oagü entariaosofrimentodosanosseguintes.Perderiaoutroscompanheiros,eemritmo acelerado. Sua indignaçã o nã o diminuı́ra, mas ele havia conseguido escondê -la em um compartimento reservado de seu cé rebro. Mesmo desejando ter o privilé gio de ser usado para matar Carpathia, ele tinha de admitir que se sentia agradecido pelo que presenciara naquela noite.Nã ohaviameiosdenegarapresençapoderosadeDeusduranteaqueleperı́odo.Mas icar frenteafrentecomoscavaleirosdoApocalipse,caminharnomeiodelessemsermolestado... Será queoscavaleirostambé mtinhamsidoimpedidosdeenxergaroscrentes?Damesma forma que os gafanhotos demonı́acos, eles també m eram agentes de Sataná s, que talvez preferissemataroscrentesenãoosinimigosdeDeus. RayfordaindanãotinhaumaopiniãoformadaarespeitodeLeah.Elaeraumapessoadifícil de conviver, mas parecia jovem e ingê nua para sua idade. Ambos haviam passado momentos terrı́veisjuntos,e,mesmoassim,aimagemdehomemexigenteeteimosoqueLeahtinhadele ainda nã o desaparecera. Rayford se comovera ao ouvir a histó ria da conversã o dela e nã o duvidava de sua sinceridade. Seria uma atitude machista repelir a franqueza dela? Estaria ele simplesmenterepresentandoopapeldeumhomemcorajoso?Eleesperavaquenão. Rayford avaliou seus ferimentos. Ele precisava de uma ducha longa e quente. Um dos dedos do pé latejava. Talvez estivesse quebrado. O joelho esquerdo doı́a como daquela vez em que precisou fazer uma cirurgia na faculdade. O cotovelo esquerdo estava sensı́vel. Um dos dedos da mã o tinha sofrido uma torçã o. Rayford sentiu um calombo na parte posterior da cabeça. També m pudera! Ele já estava chegando aos 46 anos. Colidir violentamente com alguémerolarpelochãofaziapartedeumdiatípicodeumgarotodenoveanos. Rayford emocionou-se ao pensar em seu ilho. Raymie tinha 12 anos quando desapareceu no Arrebatamento. Apesar de ter conseguido muitas vezes conter-se para nã o repreender o ilho,Raymiesempreodeixavairritado.Rayfordsentia-seculpadopelotempoperdido,pornã o ter-seesforçadoparacompreendero ilho.Aslembrançasdosmomentosemqueelespassaram juntosderam-lheumnónagarganta. Rayfordlevantou-sedosofá eajoelhou-se,agradecendoaDeusavidadeIreneeRaymie, grato por eles terem sido poupados destes tormentos. Ele també m agradeceu a Deus ter conhecido Amanda, com quem conviveu por pouco tempo, mas que, sem dú vida, foi uma bê nçã o em sua vida. Chloe, Kenny, Buck, Tsion, Mac, David, Bruce, Ken... todos vieram-lhe à mente,trazendoemoção,arrependimento,gratidão,preocupação,esperança. Rayfordorouparaquepudesseserolı́derdoComandoTribulaçã oqueDeusdesejava.Ele també mmantinhaaesperançadequeissoincluı́sse,deumaformaoudeoutra,apossibilidade deaproximar-sedeNicolaeCarpathiatrê sanosemeioapó soinı́c iodaTribulaçã o,daliaquatro meses.Carpathiaacabaradecomunicarondeestarianaquelemomento. Mac icou agradecido por Abdullah ter supervisionado a desinfecçã o e a inspeçã o da aeronave. Sua cabeça latejava. Ele tinha de prosseguir a viagem, mas deixaria o comando nas mãosdeAbdullah. Todos,inclusiveelepró prio,pareciamapreensivos,comosolhosabertosparaenfrentaro perigo.Macestavaatentoaqualquermovimentoaseuredor,naexpectativadeveroscavalos gigantescoseseuscavaleiros.Abdullahpareciainquieto. Apesar do trauma sofrido, Fortunato demonstrava ansiedade para voar novamente. Karl andava de um lado para o outro, à s vezes chorando, à s vezes alvoroçado, cuidando para que tudo estivesse em ordem. Enquanto Mac e Abdullah faziam o trabalho de rotina antes de levantar vô o, Fortunato foi conduzido ao deslumbrante terminal do Aeroporto de Cartum. Saiu de lá trajando outras roupas, com ar de quem havia tomado uma ducha. Sua aparê ncia havia melhoradosensivelmente.Poré m,seusemblanteaindademonstravapreocupaçã o.Eleparouna porta da cabina de comando para saber se Mac e o aviã o estavam em condiçõ es de seguir viagem. — Ao primeiro sinal de algum odor estranho, arrumem um jeito de pousar este aviã o — eledisse. As 13 horas na Nova Babilô nia, David Hassid inalmente conseguiu fazer uma pausa para descansar depois de trabalhar na emergê ncia. Ele ajudara a transportar os corpos para o necroté rio e conduzir os feridos para os hospitais. Apesar de nã o ter visto o que provocara a catá strofe, começou a juntar os fatos quando os noticiá rios informaram que as mortes haviam sido provocadas por fogo, fumaça e enxofre. Perto de um dé cimo dos funcioná rios da CG havia sidoatingido,oquerepresentavacentenasdepessoasmortas.Elesabiaqueseuscompanheiros nos Estados Unidos, pelo menos Rayford e um novo membro do Comando Tribulaçã o, tinham visto os cavaleiros. Sentiu-se melhor ao saber que nã o foi o ú nico crente que nã o viu os cavaleiros. David estava muito preocupado com Annie. Ele nã o a via desde o momento em que o primeiro alarme soara, mandando que todo o pessoal assumisse funçõ es de emergê ncia predeterminadas. Ele nã o tinha condiçõ es de conversar com Annie por telefone nem por computador,eningué msabianotı́c iasdela.Otrabalhodelanaemergê nciaeradigitarumasé rie de nú m eros criptografados em uma unidade de controle remoto, que controlava o sistema de segurança do hangar. Assim que o serviço estivesse terminado, ela devia prestar contas ao pessoal do departamento de David. O hangar estava em segurança, mas David precisava verificartudopessoalmente. A missã o dele foi terrı́vel. Das 140 pessoas sob sua supervisã o, dez estavam mortas, duas sendo tratadas por terem inalado fumaça, e faltava uma: Annie. Trê s das que morreram pareciamter-seincendiadoespontaneamente.Duranteotrabalhonaemergê ncia,Davidchegou a uma conclusã o. Se Annie tivesse sobrevivido, ele tornaria pú blico o amor que um sentia pelo outro.Tomariaainiciativadepediratransferê nciadela,deacordocomapolı́t icadaCG,para queambosnãofossemrepreendidosquandoanotíciaseespalhasse. Assim que arquivou seu relató rio, David passou por dezenas de funcioná rios que estavam agrupados,chorando,conversando,lamentando-se.Aqueleeraomomentocertoparaorarcom eles,falardeDeusaeles.MasDavidaindanã osesentiapreparadoparasacri icarsuapotencial vantagememfavordacausa. Em razã o da posiçã o que ocupava, David conseguiu a chave dos aposentos de Annie. Ela nã o estava lá . Desesperado, ele correu até o enorme hangar e digitou os có digos necessá rios paraabrirtodasastravasdesegurança.Asgigantescasportaslateraisforamabertas,deixando todo imenso interior do hangar à mostra, que parecia maior ainda porque todas as aeronaves principais estavam fora, a serviço. Os helicó pteros e algumas aeronaves de pequeno porte nã o eramsuficientesparapreencheroimensohangar. DavidabriuasportasdassalasdeAnnie,deMacedeAbdullaheacendeuasluzes.Nada. Derepente,ouviuumabatidacadenciadaabafada.Vinhadodepó sitodemateriaislocalizadono canto oposto do hangar. Ele reconheceu as batidas do có digo Morse. Era um pedido de SOS. Davidcorreunaqueladireção. O depó sito tinha paredes de aço à prova de som para reforçar a segurança. Annie manipularapelaprimeiravezosistemadesegurançadohangar.Talvezelanã osoubessequeo depó sitosetrancavaautomaticamenteporforaeeraoú ltimolugaremquealgué mgostariade ficarenquantoestivessetrancandooedifíciointeiro.Depoisdeacionadasastravasdesegurança, acomunicaçã odedentroparaforatornava-seimpossı́vel.Otelefoneeaté mesmoaunidadede controleremotonã otinhamcondiçõ esdeultrapassaroaço.Apessoasó sairiadalicomaajuda dealguémdefora. Davidchegouàporta. —Quemestáaí?—elegritou. —David!—soouavoznervosadeAnnie.—Tire-medaqui! — Graças a Deus! — ele disse, destrancando a porta. Ela saltou em seus braços, segurando-ocomtantaforçaqueelemalpodiarespirar. —Hojevocêaprendeumaisumaliçãosobreodepósito?-eleperguntou. —Penseiqueficariaaquiparasempre!—eladisse. —Veri iqueiosmateriaisecomeceiadigitaroscó digosenquantosaı́a,semsaberqueas portassefechamporfora.Aindatenhodeprestarcontasaoseupessoal. —Jáfoifeito. —Ótimo.Obrigadapormecontarsóagorasobreodepósito. —Peçoquemedesculpe.Sentiumgrandealívioquandoencontreivocê. —Você sentiu alívio? Eu estava morrendo de medo! Imaginei que levaria dias para você pensaremmeprocuraraqui. David percebeu que Annie estava realmente zangada com ele. — Mac é quem tinha a responsabilidadedelhecontarsobre... Elaolhoudeesguelhaparaele.—Nã ojogueaculpanosoutros!Tratava-sedeumacoisa importantequevocêdeveriater-meavisado. Davidnãotinhacomosedefender. —Qualfoiagrandeemergência?—elaperguntou.—Outroalarmefalso? —Vocênãoestásabendo? — Como eu poderia saber, David? Quando ouvi o alarme, vi pessoas correndo e tossindo. Vimdiretoparacá. —Acompanhe-me—eledisse. AmbossesentaramnasaladeAnnie,eelelhecontouahistóriatoda. —Eupoderiaterajudado—eladisse.—Agicomoumacovarde,graçasavocê. — Quase morri de preocupaçã o por você — disse David. -Pensei que eu soubesse o que vocêsignificaparamim. —Vocêpensou? —Euestavaenganado.Oquemaispossodizer?Euprecisodevocê .Euaamo.Queroque todossaibam. Ela balançou a cabeça negativamente e desviou o olhar. -Você me amava tanto a ponto dedeixarqueeumetrancassenodepósito... AgorafoiavezdeDavid icarzangado.—Você nã oleuomanualdeinstruçõ es,conforme erasuaobrigação?Estátudobemclaro. —Achoquevoureceberumaadvertência. —Provavelmente.Vaiserdifícilesconderqueeufizoseutrabalho. —Eraomínimoquevocêpoderiaterfeito—eladisse.DavidatribuiuagrosseriadeAnnie àclaustrofobiaefrustraçãoqueelasentira. —Euaamomesmoquandovocêestádemauhumor—eledisse. —Éumagrandecortesiadesuaparte. Ele encolheu os ombros e levantou as mã os em sinal de rendiçã o. — E melhor eu ir embora.Enquantonã otornarmospú blicoonossoamor,nã odevemosservistosjuntos.Alé mdo mais,souresponsávelporseuparadeiro. —Nãoerabemissooqueeuqueriaouvir.Elesacudiuacabeçaelevantou-se. —Alguémdeviater-mecontado—eladisse. —Eujámeexpliquei—disseDavid,semolharparaela. —Só estoudizendoqueeupodiameafastardestafunçã oepedirtransferê nciaparaoutro departamento.Evocêsabeoqueissosignificaria. Elevirou-se.—Euteriaadoradoouvirissodezminutosatrá s.Assimpoderı́amosdeclarar nossoamor,eeupassariamaistempocomvocê. Davidpercebeuqueaofendera. —Eagora?—elaperguntou. —Eujádissequeaamomesmoquandovocê... —Vocêsabequaléopreço,David.Queroomesmoquevocê,masoqueseriamelhorpara oComandoTribulação? —EunãopossosermuitoútilaoComando,vivendofrustradosemvocê. —QuemmaistemacessoàchefiadaCGtantoquantovocê? —Eusei.Então,estamosapaixonadosnovamente?Annieaproximou-sedeDavid,eosdois seabraçaram. —Peçoquemedesculpe—eladisse. —Eutambém. CAPÍTULO10 O ú ltimo vô o de Mac a Joanesburgo tinha sido antes do grande terremoto da ira do Cordeiro. Do alto, a cidade fazia lembrar a Nova Babilô nia. O aeroporto reconstruı́do era um centro importante para viagens internacionais. No palá cio do potentado regional Rehoboth, moravamsuasmulheres,filhosenetos,alémdoscriadoseassessores. Macsentiaqueoladoesquerdodesuacabeçaestavaduasvezesmaiordoqueodireito.A cadabatidadocoraçã o,umadoragudanosferimentosocastigava.Adi iculdadeeragrandeaté mesmoparacolocarosfonesdeouvido,porqueelescomprimiamagazequeprotegiaospontos. Assimqueoaviã opousasse,MaceAbdullahdeviamabriraportaedesceraescada.Eles teriam liberdade para sair do aviã o, descansar em seus aposentos ou icar na cabina de comando,desdequenã oatrapalhassemareuniã o.Karleseuajudantepermaneceriamabordo paraservirarefeiçã o.MacdisseaLeonqueeleeAbdullahprovavelmente icariamdescansando em seus aposentos, dentro do aviã o. E claro que eles permaneceriam na cabina, de onde Mac ouviuaconversaentreFortunatoeumdeseusassessores. — Clancy — disse Leon -, eu gostaria que você telefonasse para Ngumo na sala VIP do aeroporto, que ica na extremidade do terminal. O nú m ero é este. Provavelmente ele nã o vai atender,mas,porviadasdúvidas,ligueoviva-vozparaeupoderouvir. Mac queria tomar nota do nú m ero do telefone, mas nã o podia correr o risco de ser encontradocomele.Teriadememorizá-lo,oquenãoseriafácilporcausadadorquesentia.Ele ouviu Clancy digitar lentamente cada nú m ero. A voz que atendeu era a de uma senhora de meia-idade. —AquifalaasecretáriadeMwangatiNgumo.Possoajudá-lo? — Pode sim, senhora, obrigado. Sou Clancy Tiber, assistente pessoal do supremo comandantedaComunidadeGlobal,LeonFortunato.Tenhoasatisfaçã odecomunicar-lhequeo supremo comandante está pronto para receber o Sr. Ngumo e dois assessores a bordo do ComunidadeGlobalUm. — Obrigada, Sr. Tiber. Eles estarã o aı́ em cinco minutos. O Sr. Ngumo aguarda ansiosamenteoencontroqueterácomopotentadoCarpathia. Clancydesligouedisse: —Adoreiestahistória.Vaicontinuarassimtãodivertida? —Vocêaindanãoviunada,meufilho. A limusine com a bandeira de Botsuana parou a uns 15 metros do aviã o. Mac icou observando, sem muito interesse, a chegada dos trê s dignitá rios. Abdullah desatou o cinto de segurançaeencostouonariznopára-brisa. —VocêachaqueaquelealiéoNgumo,Mac? —Oquê? —NãoéoNgumo. —Eunãochegueiaconhecê-lo. —Nemeu,masestenã oé osujeitoquevinaTV,amenosqueeletenhaemagrecidomais de20quilos.Edesdequandoumhomemtãoimportantecomoelecarregaumamaleta? Mac retirou os fones de ouvido e inclinou-se para a frente, mas os homens já haviam desaparecido de seu campo de visã o. Ele deu um pulo quando Fortunato esmurrou a porta da cabinacomtantaforçaqueelaseescancarouindobaternaparede. —Rápido!Rápido!—gritouFortunato.—Levantevôoimediatamente! —Osmotoresestãodesligados,Leon. —Então,ligue-os!Já!Aqueleshomensestãoarmados! —Aportaestáaberta,Leon!Nãohámaistempo! —Façaalgumacoisa! — Engate trê s e quatro — disse Mac, e Abdullah apertou diversos botõ es. — Acelere o maisquepuder!Já! Os dois motores do lado direito do aviã o começaram a girar, fazendo um ruı́do ensurdecedor.QuandoMacacionouoscontrolesfazendooaviã openderparaaesquerda,eleviu ostrêssupostosassassinossendoatiradosnapistaporcausadojatoquentequefoiexpelido. —Vocêéumgênio!—disseLeon.—Vamosdaroforadaqui! Com muito esforço, os homens se levantaram, pegaram seus ri les poderosos e correram emdireçãoàlimusine.Abdullahcorreuparalevantaraescadaefecharaportadoavião. —Vamos!—gritouLeon.—Vamosembora! —Estamoscompoucocombustível.Vamosterdevoltarparacáafimdeabastecer. —Elesestãovindoemnossadireção!Vamosembora! Mac iniciou a seqü ência de manobras, sabendo que o aviã o nã o estava preparado para fazer uma nova decolagem tã o rá pida. Os motores do lado esquerdo foram ligados, mas, se os outrosdispositivosnã oentrassememaçã oimediatamente,ocomputadordebordoabortariaa decolagem.SeMacacionasseosistemadeprevençãocontrafalhas,correriaoriscodeprovocar umacidente. Ele virou a lateral traseira do jato na direçã o dos homens, mas eles contornaram rapidamenteoavião,apontandosuasarmas. —Nã odê atençã oaeles!—gritouLeon.—Vamosembora!Oshomenssaı́ramdocampo de visã o de Mac e abriram fogo. Os pneus estouraram, produzindo um ruı́do quase tã o forte quantoodostiros.OCondorestavaavariado.Commaisdametadedospneusemfrangalhos,a imensaaeronavebalançavadeumladoparaooutrosobreapista.Macnã otinhacondiçõ esde rodar,emuitomenosdeganharvelocidadeparalevantarvôo. Por mais estranho que pudesse parecer, nã o havia nenhum outro aviã o à vista. Toda aquelaconfusã o,quedeveriatersidopresenciadapelopessoalresponsá velpelotrá fegoaé reoe de terra, nã o havia atraı́do a atençã o da equipe de emergê ncia. Mac se deu conta de que nã o haveria saı́da. Morreria ali mesmo. Ele e Abdullah estavam nas mã os daquele bando de assassinos. Quem quer que fossem, evidentemente contavam com a cooperaçã o do regime de Rehoboth. Os projé teis atravessaram a fuselagem. Mac e Abdullah saltaram das poltronas e acompanharamodesvairadoLeon,passandopelacozinhaepelasaladedescanso,indopararna cabinadepassageiros. —Vãoparaomeiodaaeronaveedeitem-senochão!-gritouMac. Aparentemente, os assassinos haviam decidido nã o deixar nenhum sobrevivente. Os projé teisatravessavamasjanelaseaestruturadoaviã o.Macpercebeuquehaviaapenascinco homensdeitadosnochã o.Abdullah,Leon,Clancy,oajudantedeKarleeleestavamcomocorpo encurvadosobosbancos,protegendoacabeçacomasmãos. —OndeestáKarl?—gritouMac.Ninguémsemexeu. Mac ouviu o som de passos. Ao levantar um pouco a cabeça, ele viu o cozinheiro cambaleandopelocorredor,encharcadodesangue. —Karl!Abaixe-se! Ocozinheirocaiunochã ocomosolhosarregalados.Umburaconatestaevidenciavaque elehaviasofridoumferimentomortal. —Vocêtemumaarma?—gritouLeon. —Seupatrãoproibiuousodearmas,Leon!—disseMac. —Mas,comcerteza,você à svezesdesacataasordensdele!Sevocê conseguiruma,nã o serápunido!Nãotemossaída,Mac! Havia duas pistolas no compartimento de cargas.Sim, pensou Mac,às vezes eu desacato as ordens dele. Mas como ir buscá -las, e o que ele poderia fazer diante de armamento tã o pesado? —Façaalgumacoisa!—implorouLeon.—Vocêtemumtelefone? Mac desatou o celular do cinto e atirou-o na direçã o de Leon. O supremo comandante começouadigitarfreneticamenteumcódigoespecial,estremecendoacadarajadadebalasque atravessavaoavião. —MegalertaCG,aquié LF999,linhasigilosa!InformeSuaExcelê nciaqueoCG Um está sendo metralhado no Aeroporto Internacional de Joanesburgo. Ponha-me imediatamente em contatodiretocomopotentadoRehoboth! Mac ouviu o telefone da sala de descanso tocando. Será que ele deveria atrever-se a ir atendê -lo?Sefosseumdosatiradoresfazendoexigê ncias,talvezvalesseapena.Arrastando-see passandoporcimadocorpodeKarl,conseguiuchegarà saladedescanso.Aoagarrarofone,a basedoaparelhocaiunochão. —Fale!—eleberrou. Eraavozdamulherqueeleouvirapelaescutaclandestina.Elaestavahistérica. —OSr.Ngumonadatemavercomesteataque!Elefoipegodesurpresapelos...oh,nã o! Oh...—UmarajadadetirosensurdecedoraobrigouMacaafastarofonedoouvido.Quandoele voltou a ouvir, a mulher estava gritando. — Eles o mataram! Nã o! Por favor! — Mais tiros, e Macouviuosomdotelefonedelacairnochão. Elearrastou-sedequatroatéacabinadecomandoegritoupelorádio: — Socorro! Pista de Joanesburgo!CGUm sendo metralhado! Mac ouviu Leon falando aos gritospelotelefone: — Foi você , Bindura? Por quê ? Carpathia nã o está aqui neste aviã o! Estou-lhe dizendo a verdade!Mandeseupessoalparardeatirar!Porfavor! Se Rehoboth estivesse por trá s daquele atentado, todos eles morreriam. O homem devia terpensadoemtudo.Macgritoupelorádio: —Socorro!Joanesburgo!Crentesabordo! Se, por acaso, houvesse um piloto cristã o naquela á rea, talvez ele ou ela pudesse fazer algumacoisa. Mac foi atingido no rosto pelos estilhaços de uma bomba, e um cheiro de fumaça tomou contadoavião. —Fogo!—gritaramLeoneClancy. Abdullahcorreuparaapartedafrentedoaviãoegritou: — Pode ser que eles nos acertem, Mac, mas precisamos saltar daqui! O aviã o está em chamas! MaceAbdullahabriramaportadacabinadepassageirosevitandoseralvodosatiradores. Leon arrastou Clancy, cujas pernas estavam rı́gidas de medo. Ele chorava sem conseguir equilibrar-se. Assim que Abdullah abaixou a escada, Leon colocou o corpo trê mulo de Clancy diantedesi,comoescudo.OcorpodeClancyfoidilaceradopelasbalas,eLeon icouparalisado no topo da escada. Ele só se deu conta do perigo a que estava exposto quando uma bomba explodiu na sala de descanso. Mac e Abdullah deram um salto e o agarraram, rolando com ele pelosdegraus,enquantoestrondoscontinuavamvindodointeriordoavião. Mac achou que nã o conseguiria chegar vivo à pista. Ele perdera toda a esperança e só saltaradoaviã oparafugirdaschamas.AsrajadasdebalaaoredordeleedoCondorzuniamde maneira ensurdecedora. Ele apertou os olhos com tanta força que parecia que suas bochechas tocavam a testa. Com uma das mã os agarrada ao pulso de Abdullah e um joelho apoiado nas costas carnudas de Fortunato, Mac teve a certeza de que, quando abrisse os olhos, estaria no céu. Masnãofoiissooqueaconteceu... Leon caiu de quatro na pista, apoiado nas mã os e nos joelhos. Abdullah foi atirado ao ar, passandoporcimadele.MacdesabousobreascostasdeLeon,forçando-oaesticar-sedebruços no asfalto. Um projé til atravessou o ombro direito de Mac e outro atingiu sua mã o direita. As rajadas de bala de uma arma a uns cinco metros de distâ ncia dele passavam zunindo por sua orelhaesquerda. —Oh!Deus!—gritouLeon,comocorposobodeMac.-Oh,Deus,ajuda-me! Mac achou que sua cabeça seria o pró ximo alvo e que seu sofrimento seria misericordiosamenteterminado. Escuridão. Silêncio. Nada. Apenasumcheiroegostoruimnabocaemuitador. Macnã oviunadaporter icadodeolhosfechados.Oú nicosomqueeleescutavaagoraera odarespiraçãoofegantedeLeon. O cheiro que sentia era de pó lvora e de material metá lico; o gosto, de sangue, e a dor, profunda, lancinante. O buraco aberto pelo tiro no ombro doı́a muito mais que o ferimento na cabeça. Sua mã o estava pior ainda. Ele nã o queria abrir os olhos. Nada do que visse naqueles ferimentososurpreenderia.Suamãodeviaestardespedaçada. Leon tentou levantar-se para respirar melhor, mas nã o conseguiu por causa do peso do corpo de Mac sobre ele. Mac rolou pelo pavimento caindo à esquerda de Leon. Seus olhos continuavam fechados, sua mente girava. Será que tudo havia terminado ou ele veria os assassinosempéaseuladoquandoabrisseosolhos?Fortunatoteriasidoatingido?EAbdullah? Decepcionado por nã o estar no cé u, Mac forçou-se a abrir um olho. A fumaça era tã o densa e escura que ele nã o conseguia enxergar um palmo adiante do nariz. Levou a mã o machucadaparapertodorostoparapoderenxergaroqueaconteceraesentiuumadorterrı́vel no ombro. Sua mã o tremia tanto que chegava a balançar o corpo todo, e espirrava sangue em seurosto. Mac segurou a mã o machucada com a outra para fazê -la parar de tremer e viu que nã o perdera nenhum dedo, mas eles apontavam para direçõ es diferentes. Uma bala havia atravessado a palma da mã o. Seu corpo inteiro tremia, e ele receava entrar em estado de choque. Quando a fumaça começou a se dissipar, ele conseguiu sentar. Leon ofegava a seu lado, com os olhos abertos, dentes à mostra. Um pouco mais adiante, estava o corpo sem vida de ClancyTiber. —Abdullah?—Macchamoucomvozfraca. —Estouaqui—respondeuAbdullah.—Fuiatingidoporumabalanacoxa.Evocê? —Pelomenosduasmeatingiram.Oqueaconteceucom... —Vocêviuoscavalos? —Eumalestouconseguindovervocê. —Esperoqueelesfiquemmaisumpoucoparaquevocêpossavê-los. —Eutambém... Na manhã de sá bado, Rayford despertou na casa secreta pouco depois das nove. Ele poderiaterdormidomaisalgumashoras,depoisdetudooqueacontecerananoiteanterior,mas seu sono havia sido interrompido por um ruı́do estranho. Continuou deitado, com os olhos abertos,naesperançadequeseucorpotivessetidotempoderecuperarasforçasedequesuas dorestivessempassado. Umsomritmado,comosealgué mestivesseesfregandoasmã osintermitentemente,ofez sentar-se na cama. Depois de ouvir com mais atençã o, ele imaginou que poderia ser algué m fungandoouchorandobaixinho.0somvinhadoquartoaolado,ondeTsiondormiaetrabalhava. Odescansohaviasidobomparaamenteeespı́ritodeRayford,mastambé mservirapara enrijecersuasjuntasemú sculosdoloridos.Elegemeualto,vestiuoroupã oeespiounoquartode Tsionpelafrestadaporta. A princı́pio, Rayford nã o enxergou Tsion. A cadeira diante da tela do computador estava vazia. A cama també m. O som, poré m, vinha daquele quarto. Rayford deu uma batida de leve na porta e empurrou-a um pouco mais. Tsion estava estendido no chã o, debaixo da janela que icava perto da cama, cobrindo o rosto com as mã os. Seus ombros arfavam enquanto ele choravaamargamente. —Vocêestábem?—perguntouRayfordemvozbaixa,masTsionnãorespondeu. Rayfordaproximou-sedeleesentou-senacamaparaqueTsionvissequeeleestavaali.O rabino orava em voz alta:Senhor, se for Hattie, tem piedade de sua alma. Se for Chaim, quero muitolevá-loàtuapresença.Seforalguémdestacasa,protegeessapessoa,defende-a,dá-lheos instrumentosdequeelanecessita.Pai,seforumdosirmãosouirmãsrecém-convertidos,alguém queeuaindanãoconheço,peço-tequeoprotejasetenhasmisericórdiadele. Agora, ele chorava maisaindaegemia.Deus,ensina-mecomodevoorar. RayfordpousouamãonoombrodeTsion,eelevirou-se. —Rayford,oSenhorincutiurepentinamenteemmeucoraçã oumdesejoprofundodeorar por algué m que corre perigo. Eu estava escrevendo a minha mensagem, que també m está pesando sobre mim. Provavelmente é a mais difı́c il que já precisei escrever. Pensei que, como lı́der, minha missã o fosse orar por meus leitores, mas o que senti parecia ser mais especı́ ico, maisurgente.OreiparaqueoSenhormedissessequemprecisavadeoraçã o,mas,derepente, fuidominadoporumdesejodeorarimediatamente.Quandomeajoelhei,parecequeoEspı́rito deDeusmepuxouparaochã oeminhaalmasentiuumdesejoardentedeorarporalgué mque estivessenecessitandodeminhaoraçã o.Euaindanã oseiquemé ,mas,mesmoassim,nã oposso afastarasensaçãodequenãosetratavaapenasdeimaginação.Vocêorariacomigo? Rayford ajoelhou-se desajeitadamente, com o corpo todo dolorido por causa da noite anterior,semteridé iadoqueacrescentarà oraçã odeTsion. Senhor,eleorou,concordocomas palavrasquemeuirmãodirigiuati.Nós,seres initos,nãosabemosnosexpressarnempedircoisa algumaquevenhaaexercerin luênciasobreaquiloquetu,queésumDeusin inito,desejasfazer, mas con iamos em ti. Tu nos disseste que devemos orar, que devemos nos aproximar de ti sem temor.Sealguémqueconhecemoseamamosestiveremperigo,oramosparaquetuprotejasessa pessoacomoteuadmirávelpoder. RayfordficoucomovidocomaemoçãodeTsionenãoconseguiuprosseguir. —Muitoobrigado—disseTsion,apertando-lheamã o.Elesselevantaram.Tsionsentousediantedeseucomputadoreenxugouosolhos. —Eunã oseidoquesetratava—eledisse-,maspareidequestionardequeformaDeus secomunicaconosco. Depoisdeserecompor,TsionpediuaRayfordquelesseasuamensagemdodia. —Voumelhorá-laantesdeenviá-laestatarde,masapreciariaouvirseuscomentários. — Eu adoraria ler a sua mensagem — disse Rayford -, mas nã o sei o que eu poderia acrescentaraela. Tsion levantou-se e ofereceu sua cadeira a Rayford. — Vou procurar alguma coisa para beber.Voltoemseguidaparaomeuposto. Mac sabia que, se permanecesse na pista cheia de fumaça do aeroporto de Joanesburgo, morreria. Os ferimentos na orelha e no couro cabeludo sangravam por baixo dos curativos, e o efeito do anesté sico já havia passado. Seu ombro parecia ter sido esmagado por um martelo incandescente.Suamã ojamaisseriaigualaoqueera.Omelhorqueelepodiaesperarerasalvar osdedos,quecertamentejamaisvoltariamamovimentar-secomoantes. Depoisqueafumaçasedissipoucomoventoquentedatarde,MacavistouAbdullahauns cinco metros de distâ ncia, à sua esquerda. O jordaniano estava ajoelhado, com o turbante desenrolado e uma expressã o de medo e fadiga no rosto. Em sua coxa direita havia um corte profundoquesangrava.Eleapontouparaumpontodistanteedisse: —Elesaindaestãoaqui. Mac havia tido apenas um vislumbre da cavalaria fantasmagó rica de homens e animais assustadoresnomomentoemqueAbdullahtentoudesviardelesnoar.Agora,haviaumalegiã o reunida a uns 30 metros alé m da pista, soltando fumaça, fogo e enxofre pela boca e açoitando comsuascaudas—verdadeirasserpentes—asvítimasquenãopodiamvê-los. Por onde passavam, os cavalos-leõ es deixavam corpos estendidos no chã o. Algumas vı́t imas apresentavam sintomas de convulsã o antes de caı́rem estateladas no chã o. Outras se debatiamemchamasaté queamortelhestrouxessealı́vio.Ouassimelaspensavam,disseMac consigo mesmo. Um dos falsos dignitá rios fugiu correndo pela pista. Outros dois estavam estiradosmortos,pertodoavião.Dali,elespoderiamtermatadoMac,secontinuassemaatirar. Apesardadistâ nciaemqueseencontrava,Macpodiaverqueoscavaloseseuscavaleiros eramfigurasmedonhas. Apesar de lutuarem alguns centı́m etros acima do chã o, eles galopavam, trotavam, marchavam e empinavam o corpo como se fossem cavalos comuns. Seus cavaleiros os instigavam,espalhandopânicoentreaspessoasedestruindoedifícioseveículos. Leon Fortunato, que parecia completamente atordoado, rolara na direçã o de Mac, agarrando-lheorostocomambasasmãos.Macquasegritoudedor. —Vocêsalvouminhavida,Mac!—gritouLeon. —Protegeu-mecomseucorpo!Vocêfoiatingido? —Duasvezes—disseMac,afastandoasmã osdeLeoneapontandoparaoscavalos.—O queosenhorestávendonaqueladireção? —Corposamontoados—disseLeon,comosolhossemicerrados.—Fogo,fumaça.Eum cheiromedonho,igualaoquesentinoavião.Argh! —Precisamosnosafastardoavião—disseMac.Aschamassaíampelasjanelas. —OlindoCondor...—disseLeon.—OorgulhoeaalegriadeSuaExcelência. —OsenhorgostariadearrastarocorpodeClancyparatirá -lodocaminho?—perguntou Mac. Leonlevantou-secommuitoesforço,cambaleando,tentandoequilibrar-se. —Nã o—eledisse,agoracomvozmaisforte.—Deveestarfaltandosepulturasnomundo inteiro.Teríamosdecremá-lo.Vamosdeixarqueocorpodelesequeimeaqui. Leonvirou-selentamente. —Penseiquetivéssemosmorrido—eledisse.—Oqueaconteceu? —Osenhororou. —Comoassim? —OsenhorpediuaDeusqueoajudasse—disseMac. —Eumeconsideroumhomemreligioso. —Tenhocertezaquesim.Deusdeveterrespondido. —Porqueoshomenspararamdeatirar? Macestremeceu,desejandoqueelestivessemparadodeatirarmuitoantes. —Comopodemossaber?Umdelescorreu.Osoutrosdoisestãoimóveisatéagora. LeoneMacseguraramAbdullah,umdecadalado,ecaminharamlentamenteemdireçã o aoterminal. ParaRayford,foiumprivilégioteraoportunidadedelerumamensagemantesdosmilhões deleitoresdomundointeiro.Tsionhaviaescritooseguinte: MeusqueridosirmãoseirmãsemCristo: Dirijo-me a você s hoje com o coraçã o pesaroso, o que nã o é nenhuma novidade durante esteperı́ododaHistó riaqueestamosatravessando.Emboraos144.000evangelistasescolhidos por Deus estejam vendo milhõ es de pessoas aceitando a Cristo, a religiã o mundial uni icada continuaatornar-secadavezmaispoderosae—porquenãodizer-maisabominável.Preguem aseguintemensagemnoaltodasmontanhasenosvales,meusqueridos:Há umsó Deuseumsó MediadorentreDeuseohomem,oHomemCristoJesus. Os implacá veis gafanhotos demonı́acos profetizados em Apocalipse 9 desapareceram há maisdeumanoemeio,depoisdeteremtorturadomilhõ esdepessoas.Poré m,muitasdelasque forampicadasduranteoú ltimomê sdesse lagelosó chegaramao imdesuaagoniatrê smeses atrás. Embora grande nú m ero de pessoas tenha-se convertido depois daquele terrı́vel julgamento, a maioria tornou-se ainda mais arredia. O lı́der da Fé Mundial Enigma Babilô nia deve ter visto os devotos de sua religiã o sofrendo no mundo inteiro. Mas nó s, os crentes em Cristo,os"dissidentes"—osinimigosdatolerânciaedainclusão-fomospoupados. Nossos amados pregadores em Jerusalé m, apesar da ferrenha oposiçã o e da perseguiçã o que enfrentam, continuam a profetizar e ganhar almas para Cristo naquela ex-cidade santa, agora compará vel ao Egito e a Sodoma. Em razã o disto, temos motivos para ser agradecidos nestestemposdeafliçãocrescente. Você s já estã o sabendo que o sexto Julgamento das Trombetas, o segundo ai (Apocalipse 9), começou. Aparentemente, eu tinha razã o quando achei que os 200 milhõ es de cavaleiros eram seres espirituais e nã o materiais, mas estava errado ao considerar que eles seriam invisı́veis.Pessoasqueconheçoeemquemcon ioviramessesseresmatarempormeiodefogo, fumaça e enxofre, conforme as profecias bı́blicas. Mesmo assim, os incré dulos nos acusam de estarmentindo,vendocoisasqueelesnãoconseguemver. Eimportantequevocê ssaibamqueoatual lagelosedesencadeouquandoforamsoltosos quatroanjosqueseencontravamamarradosjuntoaoRioEufrates.Sabemosqueelessã oanjos caı́dos,porquenã ohá outrotrechonaBı́bliaquemencionequeosanjosbonsforamamarrados. Aparentemente,osquatroforamamarradosporqueestavamansiososparaprovocardestruiçã o sobreaTerra.Agoraqueforamsoltos,elesestã olivresparafazeroquedesejam.Naverdade,a Bíblianosdizqueelesestavampreparadosparaatacaremhora,dia,mêseanoespecíficos. E signi icativo saber que os quatro anjos, provavelmente amarrados durante sé culos, estavamjuntoaoRioEufrates.EoriodemaiordestaquenaBı́blia.BanhavaoJardimdoEden. Era um marco de delimitaçã o para Israel, Egito e Pé rsia, muitas vezes citado na Bı́blia como sı́m bolodosinimigosdeIsrael.Pertodesserio,oprimeirohomempecou,oprimeiroassassinato foicometido,aprimeiraguerraeclodiu,foiconstruídaaprimeiratorreparadesafiaraDeus,efoi edi icada Babilô nia. Foi na Babilô nia que se originou a idolatria, que se espalhou pelo mundo inteiro.Os ilhosdeIsraelforamexiladoslá comoescravos,eé lá queopecado inaldohomem culminará. Apocalipse 18 prediz que Babilô nia será o centro do comé rcio, da religiã o e do governo mundial,masqueelacairáemruínas,porqueforteéoSenhorDeusqueajulgará. ABı́bliamencionaqueo lageloatualresultará noextermı́niodaterçapartedapopulaçã o que restou apó s o Arrebatamento. Um simples cá lculo matemá tico nos leva a um resultado terrı́vel.Aquartapartedapopulaçã oquerestouapó soArrebatamentojá morreuemrazã ode pragas, guerra e acidentes naturais. Sobraram, evidentemente, 75%. A terça parte de 75% é 25%,portantoamortandadeatualdeixaráapenas50%daspessoasquenãoforamarrebatadas. Devoesclarecerqueoquevoudizeraseguirnã opassadeespeculaçã o.Depoisdeestudar os idiomas originais e os inú m eros comentá rios sobre esta profecia, cheguei à seguinte conclusã o: Deus continua tentando persuadir a humanidade a chegar-se a Ele, sim, mas esta destruiçã odemaisumaterçapartedosincré dulosremanescentespodeteroutropropó sito.Em suapreparaçã oparaabatalha inalentreobemeomal,é prová velqueDeusestejadesistindo devezdaquelesincorrigı́veis,pertencentesà sforçasdomal,equeEle,emsuaonisciê ncia,sabe quejamaisseconverterão. ABı́bliapredizqueosincré dulossobreviventesserecusarã oaabandonaramaldade.Eles insistirã o em continuar a adorar ı́dolos e demô nios e a participar de assassinatos, feitiçarias, imoralidades sexuais e roubos. Até mesmo os noticiá rios de emissoras de propriedade da Comunidade Global mencionam que o nú m ero de assassinatos e roubos está em ascensã o. A novasociedade,toleranteemexcesso,aplaudeaadoraçã oaı́dolosedemô nios,bruxariaesexo ilícito. Lamentavelmente,esteú ltimojulgamentoantesdasegundametadedaTribulaçã odurará mais quatro meses até que o acordo entre a Comunidade Global e a naçã o de Israel complete trêsanosemeio,oquecoincidirácomofimdoministériodasduastestemunhas.Aseguir,viráo períodoemqueoscrentesserãomartirizadosemnúmeromuitomaiordoqueaquelesqueestão morrendoagora. Muitos de você s tê m escrito perguntando-me por que um Deus de amor e misericó rdia impõ e esses terrı́veis julgamentos sobre a Terra. Deus é mais do que um Deus de amor e misericó rdia.ABı́bliadizqueDeusé amor,sim,mastambé mdizqueEleé santo,santo,santo. DizaindaqueEleé justoequemanifestouseuamoroferecendoseuFilhoparaanossaredençã o. Mas,serejeitarmosessadádiva,seremossubmetidosaojulgamentodeDeus. Seiquecentenasdemilharesdeleitoresdeminhasmensagensdiáriasvisitamestesitenão comocrentes,masembuscadaverdade.Portanto,peçopermissã oparamedirigiravocê ,que nã oseconsiderameuirmã oouirmã emCristo.Façoumapelo,comonunca izantes,paraque você receba Jesus Cristo como o dom de Deus para a salvaçã o. Os pecados dos quais os incré dulos obstinados nã o se arrependerã o (ver acima) se alastrarã o de maneira incontrolá vel duranteaúltimametadedaTribulação,àqualaBíbliadáonomedeGrandeTribulação. Imaginem como será este mundo depois que metade de sua populaçã o desaparecer. Se você s acham que a situaçã o atual é triste por termos perdido milhõ es de pessoas, inclusive as crianças, no Arrebatamento — o que gerou sé rios problemas nos serviços pú blicos -, tentem visualizar a vida depois que metade dos pro issionais civis for morta. Bombeiros, policiais, operá rios,executivos,professores,mé dicos,enfermeiros,cientistas...alistaé enorme.Estamos caminhandoparaumperíodonoqualnosocuparemosotempotodolutandoparasobreviver. Eu nã o gostaria de estar aqui na Terra sem saber que Deus está comigo. Quero estar do lado do bem e nã o do mal, sabendo que, no inal, seremos vencedores. Orem neste momento. Digam a Deus que reconhecem seus pecados e que necessitam de perdã o e de um Salvador. AceitemaCristohojeepassemafazerpartedagrandefamíliadeDeus. Cordialmente,TsionBen-Judá CAPÍTULO11 Mac e Leon ajudaram Abdullah a caminhar até o caó t ico terminal do Aeroporto de Joanesburgo. — Rehoboth estava por trá s deste atentado — disse Leon. — Ele pró prio me contou. Imaginou que Sua Excelê ncia estivesse a bordo. Precisamos buscar ajuda e readquirir a autoridadeaquisemcolocarnossasvidasemrisco. — Nã o é um pouco tarde para isso? — perguntou Mac. — O senhor nã o poderia ter dito antesaelequeCarpathianãoestavanoavião? —TínhamosmotivosparadeixarqueoSr.NgumoacreditassequeSuaExcelênciaestavaa bordo. E assim que você deve referir-se a ele, capitã o. O potentado regional Rehoboth foi convidado,masnãosabíamosqueeleeraumsubversivo. — Acho que o senhor vai encontrar Ngumo e sua secretá ria mortos — disse Mac, contandoaLeonsobreotelefonemaqueeleatendeu. —ÉmelhorencontrarmosRehobothmorto—disse Abdullah.—Elenãopermitiriaquesaíssemosvivosdaqui.Leonparou,comorostopálido. — Quando conversei com Rehoboth, imaginei que ele estivesse no palá cio. Ele nã o viria paracá,viria? — Precisamos nos apressar — disse Mac, prestes a desmaiar. — Se Rehoboth quiser nos matar,bastadarumaordemaumdestesguardas. Os guardas, poré m, estavam tã o assustados quanto qualquer outra pessoa, falando com di iculdade,tossindo,cuidandodoscompanheirosferidos.Ouviam-segritosportodooterminal, ondehaviacorposestendidosnochã o,malasespalhadasportodososlados.Osbalcõ esestavam vazios,eosterminais,apagados. Assimqueelesentraramnoterminal,MacouviuozumbidodeumjatoSuperJ.Omodelo aprimorado de um caça daGulfstream era preto, reluzente e tinha uma aerodinâ mica incrı́vel —comgrandeautonomiadevô oeamploespaçointerno.Foiaprimeiraaeronavequepousou emJoanesburgodepoisdoCondor.Acimadeseuprefixo,haviaodesenhodabandeiraaustraliana eolemaTrabalhoHonesto.Assimqueoaviã opousounapista,desceramopilotoeumamulher. Ambosdirigiram-seapressadosparaoterminal. —Ei!—gritouohomememtomagudo,fazendocomquemuitaspessoassevirassem.— Alguémpediusocorrocomcrentesabordo! Eleeraalto,loiroesardento.Falavacomumsotaqueaustralianotã oacentuadoqueMac imaginou que pudesse ser um truque. A mulher era quase tã o alta quanto ele. Tinha cabelos escuros,espessos. MaceAbdullahentreolharam-se,eFortunatovoltou-selentamente. —Fuieu—disseMac,aoverosselosnatestadeambos. O australiano també m viu o dele. — Eu estava desesperado. Pensei que meu pedido pudessepersuadiralguémadesceraqui.Valeu? —Claroquesim,cara—disseopiloto,olhando irmeparaatestadeAbdullah.—Somos crentes e nã o nos envergonhamos disso, mesmo que você tenha usado um artifı́c io para nos enganar. Pode me chamar de Dart. O primeiro nome nã o é importante. Esta é Olivia, minha esposa. —Liv—eladisse.—Evocêsestãoprecisandodecuidadosmédicos. —Quemévocê?—perguntouDart,dirigindo-seaFortunato. —SouoSupremoComandanteLeonFor... —Foioqueimaginei—disseDart.—Aindaé cedoparaseupatrã omorrer,portantonã o vouperguntarseeleestavaabordodaquelaboladefogoali. —Felizmentenão—disseFortunato. —Entãooqueaconteceu?Oscavaleirospegaramvocês? —Oh,vocêéumdeles?—perguntouFortunato.—Vocêtambémconseguiuvê-los? —Claroquesim. —Dart—disseLivcarinhosamente-,precisamosajudá-los. —Sim,achoqueé melhor—eledisse.—Maseunã omeimportodedizerquemesinto como se estivesse ajudando o inimigo. Por mim, eu deixaria que você s morressem, mas Deus aindavaialcançarvocês.LeiamoLivro.Nósvencemos. Fortunatovirou-separaele. —Vocêpoderiaserpresopordirigir-sedesrespeitosamentea... —Apropó sito,Sr.F,seiquevocê nã ovaiseimportarqueeuochamedeSr.F,porqueé assimquevouchamá-lo.Qualéoseuproblema?Vocêpareceestarandandobem. —AleiexigequevocêmechamedeSupre... —Euvoulhedizerumacoisa,Sr.F.Eunã oestoumaisdebaixodesuasleis.Eurespondoa Deus.Você nã opodemefazernadasemapermissã odele,porissoaproveiteaoportunidadeque está tendo. Este homem aqui transmitiu um pedido de socorro ingindo que havia crentes em perigo.Minhaesposaeeu icamosintrigados,querendosaberporquehaviacrentesabordodo aviãodepropriedadedoanticristo... —Anticristo?!ComovocêpodechamarSuaExcelência,opotentadoNic... — Você ainda nã o entendeu, F? Acho que ele é o anticristo, e você sabe o que isso representaparavocê. —Nãoestudoessasbobagens,masaconselhovocêa... — Eu nã o preciso de seu conselho, cara, mas posso conseguir atendimento mé dico para você s. Parece que seu maior problema nã o passa de alguns rasgos na calça e uns poucos arranhõesnasmãos.Esteshomensaquiéqueestãonecessitandodeatendimentomédico. —Francamente,eu... —Háumpostomédiconaquelaalaaliatrás,e,comseuprestígio,vocêdeveriadarordens paraquealguémretirasseosferidosdomeiodasoutrasvítimas. Umavozsoou,vindadosistemadeavisoaopúblico. "Atençã o! Atençã o, por favor! Supremo comandante da Comunidade Global, Leon Fortunato,dirija-se,porfavor,aosescritóriosdasForçasPacificadorasdaCGnaAlaB." Depoisqueocomunicadofoirepetido,Dartdisse: — A Ala B ica à direita, logo depois da enfermaria, Sr. F. Se o senhor quiser ir, vá . Nó s podemoslevarseuscompanheirosatéopostomédico. —Eudeviamandarprendê-lo,seu... —Seestaforsuaprioridadenestemomento,vá emfrente.Mas,seeufossevocê ,correria para um lugar seguro e deixaria que eu cuidasse destes dois. Haverá muito tempo para você mandaralguématrásdenós. Osanguesubiuà cabeçadeFortunatoque,vermelho,pareciaprestesaexplodirderaiva. Elevirou-separaMacedisse: —NãohádúvidadequeSuaExcelênciaconseguiuatendimentoparanós. — O senhor deve ir na frente, Supremo Comandante — disse Mac. — Descubra o que houvecomRehoboth,verifiquecomCarp...,comopotentado. —Eunãoconfionessehomem. —Ora,vamos,Sr.F—disseDart.—Soutã oinofensivoquantoumapomba.Pormaisque eutenhavontadedematardoisfuncioná riosseus,prometonã ofazernadadisso.Voulevá -losa umlugarondepossamseratendidoseseguireimeucaminho. DartafastouFortunatodeAbdullahcomcuidadoepassouacabeçaporbaixodobraçodo jordaniano.LivsegurouMacpelocintocomumadasmãoseseucotoveloesquerdocomaoutra, deixandoFortunatolivreparasairdali. —Você —disseFortunato,enquantoseafastavacomrelutâ ncia—é umavergonhapara aComunidadeGlobal. —Issoparanóséumahonra,nãoémesmo,Liv? —Ora,Dart—eladisse. —Obrigadopornãonosdenunciar—disseMacdepoisqueLeonseafastou. —Santosin iltrados!—disseDart,agoracomsotaquedosuldosEstadosUnidos,parecido comodeMac.—Eumalpudeacreditar!Quaseestragueitudo.Quandovioselonasuatestae na de seu companheiro, pensei que o outro homem també m fosse dos nossos. Mas assim que fixeioolharnele,percebiquemeraetivedefingir. —Vocêfoibrilhante!—disseMacapresentando-see,emseguida,apresentandoAbdullah. —VocêgostoudosnomesDarteOlivia?—perguntouDart. —Quasecoloqueitudoaperder—disseLiv. —Vocêfoiperfeita,querida—disseDart.—OapelidoLivfoigenial. ElesseapresentaramcomoDwayneeTrudyTuttle,deOklahoma. — Eu troco a bandeira e o lema naquele aviã o quase todos os dias. Somos alemã es, noruegueses, britâ nicos, qualquer coisa. Fazemos parte da Cooperativa Internacional de Mercadorias.Jáouviufalar? —Sualínguacompridaaindavaiacabarconosco—disseTrudy. — Nunca pensei que teria a chance de dizer na cara do Falso Profeta o que eu pensava dele. —OFalsoProfeta?—disseMac.—Leon? —EledizqueCarpathiaoressuscitou,nã oé mesmo?Eleadoraosujeito,chama-odeSua Excelê ncia.Espereparaverseelenã ovaiviraroFalsoProfeta.Masqualé ahistó riadevocê s? VocêsseinfiltraramnaCGouencontraramJesusdepoisqueestavamtrabalhandolá? Buck olhou-se no espelho. Mesmo depois de um ano, as cicatrizes em seu rosto ainda estavam vermelhas e vivas. O cirurgiã o que ele encontrou em uma clı́nica improvisada em Jerusalé m talvez tivesse sido melhor do que ele esperava, mas modi icou sua isionomia. Chloe apareceudetrásdeleepôsKennyemseusbraços. —Paredepensarnisto—eladisse. —Pensarnoquê? — Nã o se faça de bobo. Você está achando que pode tirar vantagem de sua nova aparência. —Claro!—disseBuck. Eleseperguntouseestanã oseriaamaneiraqueChloeusavaparaprendê -loemcasa:pô r Kennyemseusbraços.Elesjá haviampassadoporsituaçõ essemelhantes.Chloeseconformara comaidé iadequesuasviagensextravagantesaoredordomundohaviamterminado.Pormais quegostassedeaventuras,elanã oqueriaexporumbebê aoperigo.Suafunçã onaCooperativa deMercadoriaseradesumaimportâ ncianã oapenasparaoComandoTribulaçã o,mastambé m paraosmilhõesdenovoscrentesqueembrevenãoteriamcondiçõesdecomprarouvender. Chloe dissera a Buck que gostaria que ele se contentasse em trabalhar nos bastidores, contra-atacandoosartigosdoSemanárioComunidadeGlobalcomsuarevistavirtual,A Verdade. Poré m, em razã o da nova tecnologia proporcionada por David Hassid, Buck poderia fazer seu trabalho em qualquer lugar do mundo sem ser rastreado. A ampliaçã o do porã o estava quase terminada,eBucksentiaquesuapresençaeranecessáriaemmuitosoutroslugares. O casal já havia discutido a responsabilidade que ele tinha em relaçã o ao bebê . Evidentemente,Kennyseriaeducadodemaneiradiferentedanormal,porque,quandochegasse à faseadulta,Cristojá teriaestabelecidoseureinoaquinaTerra.Mesmoassim,eraimportante queacriançacontassecomapresençadopaiedamã eamaiorpartedotempopossı́vel.Buck haviaargumentadoquecadaausê nciasuadeduasoutrê ssemanasseriacontrabalançadapelas 24horasqueelepassariaemcasaquandonãoestivesseviajando. —Trata-sedeumacompensação—eledissera.—Eupassariaomesmonúmerodehoras comKennyseestivessetrabalhandoforadiariamente. Bucklevouobebêatéacozinha,eChloeoseguiu. —Você está novamentecomaquelebrilhonosolhos—eladisse.—Daquiaalgunsdias, ninguémvaiconseguirsegurá-loaqui.Paraondevocêvai? —Vocêmeconhecemuitobem—eledisse.—AverdadeéqueTsionquerqueumdenós retorne a Israel para ver como Chaim está . Tsion está animado com ose-mails que eles tê m trocado,masachaquealgué mprecisaconversarpessoalmentecomChaimantesqueeletome umadecisão. Chloeacenouafirmativamentecomacabeça. — Eu gostaria de discordar, mas nã o posso. Papai nã o pode arriscar-se a fazer essa viagem. Ele pô s na cabeça que precisa descobrir o paradeiro de Hattie antes que ela revele nosso esconderijo ou seja assassinada por algué m. Tsion nã o pode sair daqui de jeito nenhum. Nã o sei o que seria do mundo sem suas mensagens. Sei que Deus tem o controle de todas as coisas e acho que Ele poderia escolher outra pessoa para substituı́- lo, como fez no caso de Bruce,mas... — Eu sei. Precisamos contratar seguranças armados para impedir que ele seja visto por alguém. —Quandovocêvaipartir,Buck? Chloetinhaumjeitotodoespecialdeprovocarumarespostadireta. — Tsion quer conversar com você sobre isto — disse Buck. Ela sorriu. — Você parece umacriança,querendoqueumamigoconvençaseuspaisalhedarpermissã oparafazeralguma coisa.Tsiondeveacharqueeunãorecusariaumpedidodele. —Evocêrecusaria? Eladeuumlongosuspiro. — Nã o consigo recusar nenhum pedido seu. Mas se, por acaso, você morrer, vou odiá -lo pelorestodavida. —PenseiemfazerumavisitaaZekedepoisdeescurecer.Chloeestendeuosbraçospara pegarKenny. — Eu estava pensando nisso. Precisamos fazer algumas compras para o bebê . Vou preparar uma lista també m de outras coisas que estã o em falta. Fale com Leah. Ela disse que estamosnecessitandodealgunsmantimentos. Naquelanoite,Buckparouemumpostodegasolinasemidestruı́do,localizadoondeumdia havia sido o centro da cidade de Des Plaines. Nesse posto, os crentes abasteciam seus carros e compravammantimentoseoutrosgê nerosdeprimeiranecessidade.Zekeadministravaolocal com a ajuda de Zeke Jr. — conhecido como Z -, um rapaz de cerca de 25 anos, cabelos compridos e vá rias tatuagens no corpo. Antes, ele ganhava a vida fazendo tatuagens, desenhando iguras na lataria dos carros e na carroceria de caminhõ es, e pintando caras de monstrosemcamisetas.Chegouapintarumapaisagemnalateraldeumcaminhã ode18rodas! Aquelaprofissão,éclaro,deixaradeexistirhaviamuitotempo. Zeke perdera a esposa e duas ilhas adolescentes em um incê ndio resultante dos desaparecimentos. Zeke e seu ilho foram levados a Cristo por intermé dio de um motorista de caminhã o. Eles freqü entavam agora uma igreja que se reunia secretamente em Arlington Heights, tomando extremo cuidado para nã o divulgar sua fé aos incré dulos e, assim, poder fornecer mercadorias e serviços aos irmã os crentes. Z havia sido um jovem drogado, cujo trabalhoesporá dicodefazertatuagensedesenharserviaapenaspara inanciarseuvı́c io.Agora, eleeraumartistaemotivoedefalamansa,quefalsi icavacarteirasdeidentidadeparacristã os dalocalidade,afimdequepudessemsobreviver. ZekeestavaenchendootanquedoRoverdeBuckeobservandoatentamentesehaviapor alialgumapessoaestranhaouclientesemoselodeDeusnatesta. —Precisocompraralgumascoisas—disseBuck.—EtambémutilizarosserviçosdeZ. —Tudobem—disseZeke.—Eleestá alivendoTVefazendoosestudospedidosporBenJudá.Deixesualistacomigo.Eulevoseucarroatéagaragemecolocotudolá. QuandoBuckdesceuparaentrarnoescritóriodoposto,umcarroparouatrásdodele. —Dáparaencherotanque?—gritouohomem.—Ouocombustívelestáracionadohoje? — Vou ver o que posso fazer — disse Zeke. — Estou terminando um serviço e já vou atenderosenhor. Buck compreendia muito bem a tensã o diá ria de viver uma mentira somente para manter-se vivo. Ele entrou no escritó rio, que, aos olhos de uma pessoa qualquer, parecia um tı́pico posto de gasolina ensebado, com calendá rios pendurados na parede, pô steres de carros, uma lista telefô nica manchada de ó leo e sujeira por toda parte. Poré m, o quadro de força que havia no minú sculo banheiro era, na verdade, uma saı́da secreta, onde estava escrito: Perigo. AltaVoltagem.NãoToque.Sealguémduvidasseeencostasseodedo,receberiaumlevechoque. O perigo, no entanto, acabava ali. Se a pessoa soubesse o local certo para empurrar, o quadroseabriaparaumaescadademadeiraqueconduziaaoabrigodeZeke,escavadodebaixo doposto.Napartedosfundosdoabrigo,ZekepegariatodasasmercadoriasdalistadeBuckeas transportaria por uma escada estreita até a garagem. Dali, as mercadorias seriam transferidas para o Rover. Em uma sala ú m ida e desprovida de janelas, onde havia uma enorme abertura paraventilaçã o,estavaocorpulento Z, usando botas pretas estilocowboy,jeans preto e colete preto, deixando à mostra os braços e o peito. Conforme Zeke dissera, Z estava assistindo ao noticiá rio enquanto rabiscava alguma coisa em um caderno espiral cheio de "orelhas", com o laptopabertodiantedesi. —Ei,Buck—disseZ,sementusiasmo.Eleafastousuascoisaselevantou-selentamente. —Eaí?Estáprecisandodemim? —Precisodeumanovaidentidade. Zabaixou-seatrá sdeumsofá verde,velhoeembolorado,eabriucomforçaaportadeum arquivobarulhentodeduasgavetas,queestavamforadealinhamento.Elepercorreuaspastas comosdedoseretiroudez.Aoverqueaportanã ofechavadireito,Zdeuumpontapé nela.Os papéisficarampresosnagavetaemperrada,eZsorriutimidamenteparaBuck. —Escolhaaidentidadequequiser—eledisse,espalhandoaspastasnosofá. Bucksentou-seeexaminoupastaporpastasobumalâ mpada.OsistemadearquivodeZ talvez fosse desorganizado, mas ele sabia tudo o que havia lá . Cada pasta continha estatı́sticas importantessobrehomensbrancos,maisoumenosdoporteeidadedeBuck. —Aquantidadeestáaumentando—disseBuck. ZassentiucomacabeçaevoltouafixarosolhosnaTV.—Estescavalosfumacentosestão deixandocorposportodocanto.Vocêviuopovosaqueando? —Aindanão.Deveserterrível. — E mesmo. Mas é fá cil. Tudo o que eu preciso fazer é pegar a carteira de documentos antesqueaCGsemandelevandoocorpo.Tenhofotografiaspratodososgostos. — Escolhi este cara aqui — disse Buck, colocando uma pasta aberta em cima da pilha e mostrando-aaZ. Zatirouasoutraspastasparatrá sdosofá ,examinouaqueestavadiantedeleepreparou suacâmaradefotosinstantâneas.Bucksentou-sediantedeumfundoazuleposoudefrenteede perfil. — Pensei em você quando vi este cara — disse Z. — Carteira de motorista, passaporte, certidãodecidadania,maisalgumacoisa? —Sim,mefaçaumaidentidadedemembrodaFé MundialEnigmaBabilô nia.Equeseja doadordeórgãos.Porquenão? —Semproblema.Vocêtempressa? —Podeserdaquiadoisdias? —Tudobem. QuandoBuckavistouZekeesaiupelagaragem,elesabiaqueZjá estavatrabalhandosob uma luz forte no outro cô m odo. Da pró xima vez que aparecesse em pú blico, Buck estaria portando velhos documentos de identidade que pareciam autê nticos, com sua foto no lugar da dofalecidoGregNorth. Macnuncareceberaumatendimentomé dicotã oe iciente.EmboraJoanesburgoestivesse aparentemente destroçada, com milhares de cidadã os mortos ou agonizando, o prestı́gio de Fortunatoabriatodasasportas.AsForçasPaci icadorasRegionaisdaCGinvadirametomaram conta do palá cio de Rehoboth a mando de Carpathia. Rehoboth foi encontrado morto em seu escritórioaoladodemaisdeumadúziadefuncionários. Mac e Abdullah foram examinados e cuidados na enfermaria do aeroporto e depois transportadosparaopalácio,ondeseriamoperados.Leonlhesdisse: — Você s també m vã o ouvir falar que a famı́lia de Rehoboth foi morta pela praga da fumaçaefogo,masocheirodotiroteiodaCGaindapermanecenoar. EnquantoMaceAbdullaheramconduzidosaopalá cioemcadeirasderodas,oscorposdas váriasfamíliasdeRehobothestavamsendotransportadosparafora. —Osnoticiá riosvã odizerqueatentativadeassassinatoengendradaporRehobothfalhou — disse Leon -, mas nó s vamos a irmar que a famı́lia dele morreu em conseqü ência da praga. Nossosinimigosconhecerãoaverdade. —ENgumo?—perguntouMac. —Ora,está morto,claro.Esuasecretá riatambé m,conformevocê mecontou.Rehoboth idealizou e pô s seu plano em prá tica diretamente de seu palá cio. Com Ngumo eliminado e os assassinos/impostoresdeRehobothcolocadosemseusdevidoslugares,Rehobothestavapronto paraassumirolugardeSuaExcelênciatãologoelefosseassassinado. Macpassouporumacirurgiaquedurouhoras,feitaporummé dicoespecialistaemmã os. Seu ombro foi reconstituı́do, e os mé dicos també m prenderam o couro cabeludo no lugar e cuidaramdosferimentosnaorelha.Depoisdevá riashorassobefeitodeanestesia,eledespertou, deitado do lado esquerdo, de frente para o leito de Abdullah. O co-piloto estava com a perna enfaixada e elevada. Abdullah apontou para uma vasilha de vidro na mesinha de cabeceira de Mac,ondehaviaumabalaestilhaçadaretiradadeseuombro. —Causouumestragoenorme—disseAbdullah.—Masnãochegouaameaçarsuavida. O ombro de Mac, muito bem enfaixado, ainda estava anestesiado. Sua mã o direita, enfaixadacomumagazegrossa,pareciaumrevólverapontandoparaalgumlugar. UmmédicodaCG,nascidonaíndia,entrounasaladerecuperação. —Disseramquevocê estavaacordado—elefalou.—Ascirurgiasnostrê slugaresforam umsucesso.Osferimentosemsuacabeçaforamcuidadosporú ltimo,masvã osararprimeiro.O ombro vai icar com uma cicatriz grande. Sobraram alguns fragmentos da bala que ainda precisam ser retirados, mas nã o houve danos na estrutura do ombro. Alguns nervos icarã o insensı́veis, e sua mobilidade talvez ique um pouco restrita. Sua mã o foi salva, e os dedos també m. Mas você sentirá dores durante vá rias semanas, e talvez sejam necessá rias algumas sessõ es de isioterapia para reaprender a usar a mã o. Os dedos anular e mé dio perderam os movimentos. Nó s os curvamos e eles vã o icar nessa posiçã o de initivamente. O dedo mı́nimo nã o terá nenhuma serventia. E prová vel que você só possa usar o indicador, mas ainda é cedo parafazeralgumapromessa.Opolegarnãopoderáserdobrado. — Se eu puder segurar os controles só com um dedo, apertar botõ es e mudar as chaves, vouvoarnovamente—disseMac. — Concordo — disse o mé dico. — Você teve muita sorte. Fortunato chegou para visitá los. —Você sdoisvã o icarsatisfeitosemsaberquereceberã oamaisaltacondecoraçã ocomo heró isconcedidapelaComunidadeGlobal—eledisse.—OCı́rculoDourado,prê miopeloqualo potentadotemmuitoapreço,será concedidoavocê sporSuaExcelê nciacomoagradecimento porteremsalvoaminhavida.MaceAbdullahnãodisseramnada. — Bem, sei que você s estã o satisfeitos e que, por modé stia, nã o se sentem dignos dessa condecoraçã o. Agora descansem. Você s icarã o aqui para se recuperarem o tempo que for necessá rio. Depois serã o transportados para a Nova Babilô nia pelo seu ex-co-piloto no novo GlobalUm. — Quanto tempo levará para que ele ique pronto? -perguntou Mac, sabendo que Fortunatonãotinhaidéiadotemponecessárioparaconstruirumavião. — Ele será pintado amanhã — respondeu Fortunato. -Peter Segundo concordou em oferecê -lo a Sua Excelê ncia. Os assuntos de interesse do governo nã o serã o interrompidos por esteepisódiolamentável.OnovopotentadoregionaldosEstadosUnidosdaÁfrica—umhomem lealescolhidoadedoporSuaExcelência—seráempossadodentrodeumasemana. ___________ Buckseguiudevoltaparacasacomocarrolotadodemantimentos,otanqueabastecido de combustı́vel e preocupado com Mac e Abdullah. O rá dio nã o parava de dar notı́c ias sobre a rebeliãoemortedeBinduraRehoboth.AlistadaCGmencionavaamortedeumcozinheiroede dois ajudantes, mas os relatos sobre a destruiçã o doComunidade Global Um deixaram Buck apreensivo. Ele ligou para casa e icou satisfeito quando Rayford lhe contou que havia sido informadoporDavidqueseuscompanheirossofreramgravesferimentos,masestavamvivos. Umasemanadepois,DavideAnnieestavamnoDepartamentodePessoalquefuncionava nopaláciodaComunidadeGlobal.OdiretortinhaemmãosomemorandodeDavid. — Pelo que estou entendendo, Sr. Hassid, o ponto principal é que a Srta. Christopher transgrediuumadasregrasdaCGeosenhorassumearesponsabilidade,éisso? Davidassentiucomacabeça. —Eudeviatermencionadoaelaalgunsprocedimentosbásicos. — Talvez sim. Talvez nã o. Por que o chefe do departamento precisa assumir a responsabilidadeseosubordinadorecebeuummanualdeprocedimentos? Davidsemexeunacadeira. —Annie...istoé ,aSrta.Christopherteveaatençã odesviadaporqueumdeseuscolegas detrabalhoseapaixonouporela. Odiretorolhouparaeleporcimadosóculos. — E verdade — ele disse, mais a irmando que perguntando. — Mas isso nã o é desculpa para o descumprimento de uma regra. Você está interessada em levar adiante esse relacionamento,Srta.Christopher? —Muito. —Eessecolegatrabalhaemseudepartamento? —Osenhorestáolhandoparaele—disseDavid. — Brilhante. Bem, vejamos... Na icha da Srta. Christopher, constam alguns atos de desobediê ncia insigni icantes, insubordinaçã o e coisas do gê nero. Mas nã o vou rebaixá -la de cargo por causa desse tipo de transgressã o, desde que ela concorde em ser transferida para outrosetorondepossasermaisútil. Anniehesitou. —Paraondeeuiria? —Paraosetoradministrativo.Perdemosmaisdeumadúziadeanalistasnestacatástrofe. Seuperfilmostraquevocêfariaumexcelentetrabalhoali. —Quaisseriamminhasresponsabilidades? Odiretorvirouumapáginaeleurapidamente: — Organograma do setor administrativo: Potentado, Supremo Comandante, Diretor do Serviço de Inteligê ncia, Diretor do Departamento de Aná lise, Funcioná rio. Principais deveres e responsabilidades:examinareinterpretardadosprovenientesdefontescontráriasàComunidade Global,blá,blá,blá.AnalistadoServiçodeInteligência,aceitaounão? —Aceito. —Etomecuidadoparanãosetrancaremsuasala. Assim que eles saı́ram do Departamento de Pessoal, David segurou a mã o de Annie. A liberdade que ele sentia era enorme! Em seguida, ele avistou Leon Fortunato caminhando em direçãoaoelevador.PeterSegundoseguiaatrásdelefalandoemvozalta. — Eu nã o quero ter uma reuniã o pessoal comvocê, Leon. Fortunato apertou o botã o e virou-separaele. —Paravocê,eusouSupremoComandante,Peter. —Entãofaça-meofavordeusaromeu... —Sósevocêmechamarpelomeutítulo—disseLeon. —Estábem,Comandante!MasnãovoupermitirqueCarpathiaseapropriedemeu... —SuaExcel... —Está bem!Maseleprecisamedarumaexplicaçã oantesdeseapropriardemeuaviã o e... Quandoelesestavamentrandonoelevador,Leondisse: —SevocêpensaqueopotentadodaComunidadeGlobalvailhedarexplicações... —Queroouvirestaconversa—disseDavid.—Depoiseuligoparavocê,Annie. —Tomecuidado—eladisse. David dirigiu-se apressado para seus aposentos, trancou a porta, ligou seu computador e acionou o sistema de escuta clandestina instalado no escritó rio de Fortunato. Peter Segundo estavanomeiodafrase: —...enãovoumesentar,porquenãoécomvocêqueeuquerofalar. —Éomáximoquevocêvaiconseguir. — Por que Sua Excelê ncia se esquiva de falar comigo, Comandante? Você proclamou ao mundo inteiro que ofereci meu aviã o, o que eu gostaria muito de ter feito. Mas nã o fui consultado,nãotiveaoportunidadede... —Tudooquevocê temveiodasmã osdopotentado.Você achaqueaFé MundialEnigma Babilô nia é independente da Comunidade Global? Acha que deve satisfaçõ es a algué m que nã o sejaSuaExcelência? —Euexijovê-lonesteinstante! — Você exige? Você está me fazendo uma exigê ncia? Sou um cã o de guarda, Sumo Pontífice.Seuacessoestávetado,nãopodeterumaaudiênciacomSuaExcelência.Entendeu? —Eujuro,Leon,quevocêvaisearrependerdeter-meinsultadodestamaneira. —Eujálhedisseparanãomechamarde... —Vouchamarvocê dojeitoqueeuquiser.Você temestaautoridadearti icialnã oporter feitoalgumatolouvá vel,masporquedominaaartedebajularopatrã o.Eunã obajuloningué m, equeroqueelemeouça. Houveumlongosilêncio. — Talvez você consiga — disse Leon. — Mas nã o hoje. David ouviu sons de passos e a portasendobatidacomforça.Emseguida,avozdeLeon. —Margaret? —Sim,senhor—foiarespostapelointerfone. — Veja se o potentado tem um minuto para conversar comigo. Você pode dizer a ele o nomedapessoaquesaiuintempestivamentedaqui. —Poisnão,senhor. Davidacionouosistemadeescutaclandestinainstaladonoescritó riodeCarpathiaeouviu aconversa.SuasecretáriatransmitiuorecadodeFortunato. —Oqueeledeseja?—perguntouCarpathia. —Asecretáriadeledissequeeleacabadeterumareuniãocomosumopontífice. —Digaaelequepodevir. CAPÍTULO12 Mac teve condiçõ es de levantar-se e caminhar muito antes de Abdullah e estava ansioso pararetornaraNovaBabilô nia.Pormaisesforçoquetivessefeito,a isioterapianã oservirapara aliviar suas dores. Ele deveria sentir-se satisfeito por estar sendo mimado no palá cio de Joanesburgo,masseusferimentosnã olhedavamtré gua.Entreumanalgé sicoeoutro,seucorpo pareciaestaremchamas.Asdosesministradasserviamapenasparaaliviarumpoucoador.Ele nãoqueria,dejeitonenhum,ficardependentededrogas. Mac icou aborrecido consigo mesmo por causa de duas gafes que ele cometera. Avisara pelo ar que havia crentes a bordo doGlobal Um. Felizmente, Dwayne Tuttle, de codinome "Dart", havia conseguido consertar a situaçã o. Mas, no aviã o, Mac havia passado seu celular a Leon,aúltimapessoanomundoquepoderiaficarcomseutelefonesigiloso. Ele era quase duas vezes mais pesado do que um celular comum por incluir muitos dispositivos de avançada tecnologia de segurança. Aparentemente, Leon nã o dera atençã o a esse fato, mas, e se algué m ligasse para Mac enquanto o celular estivesse nas mã os daquele homem?Seessapessoanã oreconhecesseavozdeLeonouseaconexã onã oestivesseperfeita, elapoderiacomprometeroComandoTribulaçãointeiro. O que mais preocupava Mac era que nenhuma das duas gafes havia sido provocada por pâ nico ou desespero, e sim por falta de fé . Ele acreditou sinceramente que ningué m do aviã o sobreviveriaaoatentado,masquediferençaissofazia? Felizmente,elehaviasidoprudenteaoescolherseunovoco-piloto.Abdullaholivraradas preocupaçõ esarespeitodotelefone.Naprimeiranoitequepassounasaladerecuperaçã o,Mac despertouassustadoeacordouAbdullah. — Leon está com o meu telefone — ele disse. — Se um dos nossos ligar para mim, estamosperdidos. —Durmaempaz,meuamigo—disseAbdullah.—Esteseucompanheiroé umbatedor decarteiras. —Comoassim? —EnquantovocêeLeonestavammeajudandoaentrarnoterminal,enfieiamãonobolso deleepegueiseutelefone. —Otelefoneépesado.Comoelenãopercebeu? —Eleestavaassustadodemais.Aproveiteiaoportunidade.Otelefoneestácomigo. —Quehorassão? Abdullahconsultouseurelógio. —Duashorasdamadrugada. —QuehorassãonosEstadosUnidos? —NaNovaBabilô nia,adiferençaé denovehorasamais.Aquiadiferençadeveserdeoito horas. —Dê-meotelefone. MacligouparaRayfordelhecontousobreosTuttles,quepartiramlogoapósteremlevado MaceAbdullahatéaenfermaria. — Eu nã o tive a chance de falar a eles sobre a nossa ligaçã o com a cooperativa — disse Mac-,mas,comcerteza,suafilhajáouviufalardeles. RayforddescobriuqueChloeconheciaasatividadesdosTuttles. — Eles estã o cuidando de uma á rea enorme nos Mares do Sul para nó s — ela disse. — TalveztenhasidoummilagreelesestaremtãopertoparaouviropedidodesocorrodeMac. —FoiDeusquemosenviou—disseRayford.—Sevocê puderabrirmã odotrabalhodos dois,eugostariaqueelesmelevassemàEuropa. —Porquevocênãoquerviajarpilotandooavião,papai? —Eunã oquerovoarsozinhoedepoisterdemevirarparapassarincó gnito.Querodividir ocomandodoaviãocomDwayne.PodemosvoarcomoSuperJdeleoucomoGulfstream. —Vocêjásabeparaondevai? —BeauregardHansonvaimedaradicadapró ximavezqueapareceremPalwaukee.T vaiusarumpretextoparasegurá -lolá ,eeu vou ter de esfregar algum dinheiro no nariz de Bo paraelecomeçarafalar.Maseleaindanãosabedenada... Sentado diante de seu computador e com o fone de ouvido ligado, David escutava, petri icado, a conversa entre Carpathia e Fortunato. — Leon, você nã o precisa sentir-se obrigado a fazer mesuras todas as vezes que estiver diante de mim. Em pú blico, tudo bem, mas... —Peçomilperdões,Excelência,mas... —E,quandoestamosasó s,você també mtemaliberdadededirigir-seamimdemaneira informal.Temosumrelacionamentodelongadatae... — Oh, mas eu nã o poderia. Nã o agora. Nã o depois de tudo o que presenciei e senti. O senhor deve entender, potentado, que eu nã o faço estas coisas a nã o ser por sincera devoçã o. Apesar de me sentir extremamente honrado pelo senhor me considerar um amigo a ponto de mechamarpelonome,perdoe-memasnãopossofazeromesmo. — Está bem, Leon. Agora me fale sobre seu encontro com o homem que seria nomeado rei. David ouviu Fortunato relatar os fatos. Apó s ter icado alguns momentos em silê ncio, Carpathiadisse: —OPeternã osabedenada,certo?Elenã ofazidé iadequeeusabiadesuaaliançacom Rehoboth.Eleacreditaquepodeseparar-medemeuspotentadosregionaisemevencer. —Tenhocertezadequeelepensadestamaneira,Excelência. —Queidiota!—disseCarpathia. —Devemospermitirqueelenosfaçacairnasmã osdemaisumoudoissubversivosoua horadelejáchegou? Davidouviuummovimento,comoseCarpathiativesseselevantado.Suavozestavamais longe,eDavidimaginouqueeleestivesseandandodeumladoparaooutro. — Meses atrá s, eu quase perdi a paciê ncia com você por ele nã o ter sido eliminado — disse Carpathia. — Mas, no inal das contas, foi melhor assim. Alé m de ter-nos levado até Rehoboth, ele emitiu um recente comunicado que foi muito esclarecedor e talvez possa ter relaçãocomaquelesnossosdoisamigos. —ADupladeJerusalém? —Exatamente.Vocêgostoudonome,não? —Foigenial,senhor.Sóque... —Eupediaelequeordenasseaseusteó logosquevasculhassemtodosaquelesmisteriosos manuscritos do passado, desde Nostradamus até os escritos sagrados antigos, para saber se existealgumamençã oarespeitodavulnerabilidadedaquelesdois.SeiqueosseguidoresdeBenJudá acreditam que eles sã o as duas testemunhas profetizadas nas Escrituras cristã s. Se, por acaso,elesforem,Mathewsmedissequeficarãovulneráveisdaquiaquatromeses.Elespróprios jádisseramváriasvezesqueestãoprotegidosdoperigoatéotempodeterminado. — Mas, senhor — choramingou Fortunato -, as mesmas pessoas que dizem que esses homenssãoasduastestemunhasdizemtambémqueosenhoréoanticristo. —Eusei,Leon.Nósdoissabemosqueeuestousimplesmentecumprindominhamissão. — Mas se existe um tempo determinado para eles, deve també m existir para o inimigo deles! —Leon!Pareepense.Euajocomoumanticristo? —Claroquenão,Excelência! —Então,quemvocêachaqueeusou? — O senhor sabe muito bem que acredito, no fundo do coraçã o, que o senhor deve ser o próprioCristo. — Eu nã o faria tal a irmaçã o, meu iel amigo. Pelo menos por enquanto. Só quando icar evidenciadoaomundoquetenhopoderesdivinoséquepodereifazeressaafirmação. —Jádivulgueiamplamenteahistóriadequeosenhormeressuscitou... — Fiquei agradecido e tenho certeza de que muitas pessoas acreditaram. Mas sua ressurreiçã o nã o foi testemunhada por ningué m, portanto a dú vida persiste. Nã o fui capaz de conterosdoispregadores,eissoafetouminhacredibilidade.Porém,euadoroumadivindadeque será o deus acima de todos os deuses, que se sentará acima dos cé us, que se transformará em umserperfeitoeeterno.Comopossofalhar,seestoucomprometidocomele? —Damesmaformaqueeuestoucomprometidocomosenhor,Excelência. Pelo som, David imaginou que Carpathia havia voltado a sentar-se a sua mesa, onde a fidelidadedomicrofoneeramelhor. — Vamos dar um tempo a Peter — ele disse. — Você nã o acha que a maioria dos potentadosjáestáperdendoapaciênciacomele? — Sim, acho, senhor. Embora o potentado Rehoboth tenha me enganado, acredito que quasetodososoutrosestã osendosinceros.Alé mdemegarantiremqueapó iamaeliminaçã ode Peter,elestambémmanifestaramodesejodeparticiparpessoalmentedoatentado. — Leon, já trabalhei muito tempo com governadores para saber que a palavra deles nã o valenada,amenosquesejamcon irmadasporaçã o.DevemospermitirquePeteracrediteque existem mais potentados regionais desleais a mim. E claro que o objetivo dele é tomar o meu lugar.RehobothteriasidooFortunatodele,casoatentativadeassassinatotivesselogradoêxito. Certamente, Peter deve acreditar que conta com a con iança dos outros. Vamos usar isso a nossofavor. —Dareiminhatotalatençã oaesseassunto,senhor.Emaisumavezobrigadoporter-me cercadodeproteçãoemJoanesburgo. —Nãopensemaisnisto.Quandoospilotosvãoretornarparaquepossamoscondecorá-los? —Brevemente,senhor. —Opovoadoraostentação,não? Leonconcordouemvozalta,masCarpathiaprosseguiu: —Emrazã odasrecentestragé dias,nã otivemosmuitasoportunidadesdehomenagearos cidadãosexemplares,osheróis. — Nossa força-tarefa está exaurida, Excelê ncia, mas com criatividade podemos aproveitar a oportunidade e transformar o retorno deles a Nova Babilô nia em um evento inigualável.DavidimaginouCarpathiafalandocomoseestivessevisualizandoacena. — Sim, sim — ele disse. — Gostei da idé ia. Gostei muito! E veja se algué m consegue descobrirqualé otempodeterminadodaDupladeJerusalé m.OsseguidoresdeBen-Judá dizem que o tempo determinado ocorrerá na metade do perı́odo de nosso acordo com Israel. Quero saberadataexata. O coraçã o de David deu um salto quando ele ouviu o tom empolgado de Carpathia. O potentadolevantouavozecomeçouafalarcommaisrapidez. —Vamoscaprichar,meuamigo!Vamospromoverumeventoinigualá vel!Enganeosdois. Pegue-osdesurpresa.Dê umatré guaaelesaté odiadoevento.Deixequetenhamonú m erode admiradores que eles acham que merecem. Tire da frente todos os empecilhos, Leon. Quero coberturamundialpelaTV.Planejeumgrandeacontecimento.Digaqueestareipresente. — Sim — prosseguiu Carpathia -, estarei em Jerusalé m, o coraçã o do paı́s com o qual assineiumpactosolene.Comemoraremosofatodeestarmosnomeiodotratadodepazquefoi assinado lá . Apresente os dignitá rios. Peter deve estar presente com todos os seus trajes ridı́c ulos. Meu velho amigo Rosenzweig deve ser um convidado de honra. Agiremos da mesma formaqueessestaissantoserenovaremosnossoscompromissos.Voudedicar-memaisumavez a proteger Israel! Os olhos do mundo inteiro estarã o cravados lá , e eu me responsabilizarei pessoalmente pelo im dos pregadores. Os cidadã os de Jerusalé m vã o adorar o im das pragas, dos discursos bombá sticos, da seca, da fome, da á gua transformada em sangue! Tome nota do que estou falando, Leon. Instigue os potentados para estimular Peter em seu esquema contra mim.Façacomqueospotentadosolevemaacreditarqueestã odoladodele,quesã ounânimes na antipatia que sentem por mim. Que elesquerem Peter como chefe. Ele deve ir a Jerusalé m acreditandoquepodecontarcomalealdadedecadaumdospotentados. —Fareiomelhorquepuder,senhor. — Temos apenas alguns meses pela frente. Este assunto deve merecer prioridade. Reuniõ es con idenciais, de alto nı́vel, sempre e onde quer que sejam necessá rias. Use todos os recursos.Aquelemomentodeverá seronossomaiororgulho,umaapresentaçã operfeita.Será o im da insurreiçã o, o im da oposiçã o, o im da Fé Mundial Enigma Babilô nia tentando usurpar minhaautoridade,ofimdosseguidoresdeBen-Judá,sempregadoresemJerusalémparaadorar. —MasBen-Judáaindacontacomumaenormeaudiência... —AtéeledesanimaráquandoficarclaroqueexisteumsópodernaTerraequeessepoder residenaNovaBabilônia.Convide-o!Convideseusseguidores!Elesficarammuitoentusiasmados quando me constrangeram e tentaram me matar lá , no ano passado. Convide-os a voltar e observeareaçãodeles! —Osenhorébrilhante,Excelência. — Se você gostou do que falei, Leon, pense nisto. Vai exigir o melhor que você tem a oferecer.ComecefazendoconfidenciasaPeterdequeascoisasnãoandambementrenós. —Mas,Excelência,eugostomuito... —Eusei,Leon. —Osumopontı́ icesabedisto.Nã oseicomopodereiconvencê -lodequeminhalealdade absolutaderepente... —Claro!Nãopodeserassimtãoderepente.Deixequeelelhedêaidéia!Comcerteza,ele sempreencontracoisasnegativasameurespeitoparameteremsuacabeça,nã oé mesmo?Ele jámecriticou? —Certamente,maseusempredefendoosenhore... —Dapró ximavez,hesite,Leon.Deixequeelefaçavocê icarpensativopelomenosuma vez. Eu conheço Peter. Ele vai agarrar essa oportunidade. Acredita que é capaz de convencer algué m sobre qualquer coisa. Que petulâ ncia acreditar que dez potentados o admiram, quando sabemos,semsombradedú vida,queamaioriadelesquermatá -locomaspró priasmã os!Você fariaissopormim,Leon? —Voutentar. —Tenhomuitacon iançaemvocê .Dentrodequatromeses,consolidaremostodoopoder eautoridadeedeixaremosaoposiçã ocompletamenteconfusa.Sintoumagrandeenergiasó em pensar nisto! Agora vá , meu amigo. Nã o hesite em pedir o que for necessá rio. Todos os meus... nossos...recursosestãoàsuadisposição. —Obrigado,Excelência.Obrigadopeloprivilégiodepoderservi-lo. — Que bom ouvir isso de você — disse Carpathia. David sentiu dor de cabeça por ter icado ouvindo atentamente a conversa por muito tempo. Ele estava prestes a desligar o computador quando escutou algué m entrar no escritó rio de Carpathia. A secretá ria conversou com ele por alguns instantes. Em seguida, ele pediu a ela para segurar todas as ligaçõ es e nã o permitiraentradadeningué maté segundaordem.Davidouviuaportasendofechadae,logoa seguir, um clique, como se Carpathia a estivesse trancando. Ele aguardou para saber se Carpathiafariaumaligaçãotelefônicaimportante. David ouviu um rangido da cadeira de Nicolae e, depois, um ruı́do como se ela estivesse rodandonochão.Finalmente,opotentadocomeçouafalaremvozbaixa: —OLú c ifer, ilhodamanhã !Eutenhoteadoradodesdeainfâ ncia.—Davidestremeceu, com o coraçã o aos pulos. Carpathia prosseguiu: — Como sou grato pela criatividade que me inspiras,ó leã odegló ria,anjodeluz.Eutelouvoportuasidé iascriativasquenã oparamdeme causarespanto.Tumedesteasnações!Prometestequesubireiaocéucontigo,queexaltaremos nossos tronos acima das estrelas de Deus. Con io em tua promessa de que subirei acima das nuvens. Serei igual ao Altı́ssimo. Farei tudo o que me propuseste para que eu possa reivindicar tuas promessas de que reinarei sobre o universo a teu lado. Tu me escolheste e permitiste que eu izesseaterratremereenfraquecesseosreinos.Tuagló riaserá aminhagló ria,e,comotu, jamais morrerei. Aguardo ansiosamente o dia em que poderei manifestar o teu poder e a tua majestade. Rayfordrecebeuumtelefonemananoitedesexta-feira. —Eleestá aqui—disseT.—Conteiaelequealgué mestavavindoparacá a imdefazer umapropostainteressanteemuitolucrativa.Elemordeuaisca,pelomenosporenquanto,mas eunã ooviadesdequesuaamigasumiu.Tenhoquasecertezadequeeleestá esperandoqueeu toquenoassunto. — Vou até aı́. Nã o deixe que ele perca o interesse. Rayford sentou-se ao lado de Leah e perguntouseelepodiaesfregarumpoucododinheirodeladonarizdeBoHansonparaverseo rapazconcordavaempassar-lhealgumasinformaçõessobreoparadeirodeHattieDurham. — Bem — ela disse, com certo ar de superioridade -, faz dias que você mal me dirige a palavra, nã o pergunta como estou, nem mesmo quer saber se a lesã o em minhas costelas melhorou.Agoravematrásdemim,sóporqueestáprecisandodealgumacoisa... Rayford nã o sabia o que dizer. Ele nã o gostou nada do tom de voz nem da atitude dela, massentia-seculpado. —Tenhosidoomisso—eledisse. —Arrisqueiminhavidacomvocêedoeiodinheirodemeumaridoeminhaseconomiasde umavidainteiraaoComandoTributaçã o,evocê metratacomoseeufosseumaintrusa.Eisso oquevocêchamadeomissão? —Parecequecometiumatoimperdoável—eledisse. — Parece? Você diz isso como se eu estivesse achando que você nã o tem uma desculpa paradar. Rayfordlevantou-se. — Por favor — disse Leah -, nã o seja tã o grosseiro a ponto de me deixar aqui falando sozinha. —Existemmaneirasmaisfáceisdedizernão.Vocênãoteriaoutra? —Eunãomenegueialhedarodinheiro. —Vocêestámefazendodebobo. —Euadorodeixarvocênervoso. —Quebomsaberquevocêgostadefazeristo. —Porfavor,Rayford.Eu iqueimagoadaporvocê meevitar,masentendoseusofrimento. Você perdeumuitaspessoasqueridas,inclusiveduasesposasnoperı́ododetrê sanos.Nã oespero que se sinta confortá vel a meu lado. Mas pensei que já havı́amos esquecido nossas desavenças iniciais.Eoquepassamosjuntos,nãoconta? Rayfordvoltouasentar-se. —Eunã oseimuitacoisasobresuavida,Leah,masesseassuntoquevocê abordoumexe muito comigo, inclusive quando me lembro do momento em que encontrei o corpo de minha esposa no fundo do rio Tigre. Nã o quero pensar e muito menos continuar a falar dessas coisas. Istonã oé desculpa,mastalvezvocê tenhalevantadooassuntoparamefazerlembrardomeu maucomportamento. —Exatamente.Masvocê é oresponsá velporestacasa,eeuprecisofazeralgumacoisa. Passe uma tarefa para mim, chefe. Estou pronta a oferecer meus serviços como enfermeira, mas nã o quero trabalhar apenas quando algué m está machucado ou doente. Tenho tentado ajudar Chloe a cuidar do bebê e da cooperativa, mas ela é escrupulosa demais para me pedir. Souforçadaainsistircomela.Sevocêmeencarregardisso,elavaisesentirmaisàvontade. —Estábem,voupensarnoassunto. —Conversecomela. —Vouconversar. — O pessoal desta casa é tã o politicamente correto que ningué m sequer insinua que eu devo fazer alguma tarefa domé stica. Sou boa cozinheira e gosto de tudo o que se refere a culiná ria.Planejarocardá pio,cozinhareaté mesmolavaralouça.Será queeupoderiacuidar dacozinhaparaquevocêsseconcentremnaquiloqueestãoempenhadosemfazer? —Vocêfariaisso?Ajudariamuito. —Eumesentiriaú t il.Esqueçaoassuntododinheiro.Você nã oprecisavamepedir.Eulhe disse, desde o inı́c io, que ele estava sendo doado à causa, e falei sé rio. Se as circunstâ ncias mudaremeeuforemboradaquiamanhã,nãovoureivindicarumsócentavo.Podemosesquecer oassunto? —Issoestámuitoalémeacima... —Nãoprecisameagradecer.Colocamosemcimadamesaoquepossuímos,enenhumde nósémaisimportantequeooutro.TalvezTsionseja. —Querdizerquevocêtemsidoríspidacomigosóporque...? — Você mereceu. Devia ter demonstrado mais interesse por meus ferimentos. Eu nã o pergunteisobreoseujoelho? —Váriasvezes. — Nã o foi por cortesia. Fui responsá vel pelo machucado em seu joelho. Eu nã o sabia que você nã o estava me vendo, mas, de qualquer maneira, eu nã o devia ter parado na sua frente. Você é um homem extraordiná rio. Estava machucado. Eu me preocupei. Perguntei. Você me deuumarespostamachistaeencerrouaconversa.Eutambé mestavamachucada,evocê foio responsável.Estavameseguindopertodemais,correndomaisrápidodoquedevia. Rayfordsacudiuacabeça. —Suascostelasestãomelhorando? —Paradizeraverdade,estã omelhorandomuitolentamente.Devoterquebradomaisde umacostela.Sintodoresotempotodoe,quandofaçoummovimentobrusco,tenhovontadede gritar. —Sintomuito.Esperoquevocêmelhorelogo.Elalimitou-seaolharparaele. —Estoufalandosério—eledisse. — Eu sei. Com tantos problemas para resolver, você nã o tem tempo para preocupar-se commeusproblemas. —Vocêestásendobemtratadaaqui? —Muito.Nãotenhodoquemequeixar. —Souaúnicaovelhanegra? —Agoraqueconseguiatrairsuaatençã o,você pensariaemalgoparaeufazerquandome recuperartotalmente?Souá gil.Souesperta.Corroriscos,como izcomvocê smaisdeumavez no hospital. Nã o tenho famı́lia, nã o tenho nada a perder. Se você precisar que eu vá a algum lugar,façaentregas,retiremercadorias,mecomuniquecomalgué m,contecomigoparaessas tarefascorriqueiras.ConcordoquequasecoloqueitudoaperderdiantedaCGnaquelanoite... — Você estava desistindo cedo demais, foi tudo. Mas se recuperou a tempo e disfarçou muitobem. —Nã oseesqueçadetudooqueeudisse.Asmulherestê mmaisfacilidadequeoshomens de nã o ser reconhecidas. Basta tingir os cabelos e mudar a maquiagem. A CG nã o vai deixar minhafotogra iacirculandopormuitotempo.Providencieumacarteiradeidentidadefalsapara mimemearrumeumtrabalho. —Tudotemsuahoracerta.Porenquanto,estoumuitoanimadoporvocê sepronti icara tomarcontadacozinha. —Euacheiqueiamearrependerdeterfeitoaquelaproposta. Rayfordlevantou-se.Odedodopé eojoelhoaindaestavamdoloridos.Chloeaproximou-se deles,vindodoquartodafrente. — Má s notı́c ias, papai. Tenho tentado falar com Nancy, a irmã de Hattie. Eu queria que ela soubesse que temos certeza de que Hattie está viva. Pois bem, eu a encontrei. O nome de Hattieapareceuemumalistadepessoasmortasporinalaçãodefumaça. Rayfordolhouparaochão. —Bem—eledisse,comardetristeza-,maisummotivoparaeudescobriroparadeiro deHattie. MaceAbdullahestavamprogramadospararetornaraNovaBabilô nianamanhã desextafeira a bordo do novoComunidadeGlobalUm, conduzido pelo ex-co-piloto de Mac. O nome do aviã o tomado de Peter II foi mudado deII Um paraFênix 216. Leon Fortunato viria de Nova Babilôniaparalevarosheróisferidos.MacmalpodiaesperarparafalarcomDavideAnnie.Seria necessá rio instalar um aparelho de escuta clandestina no novo aviã o, e David tinha um assunto a tratar com ele que nã o podia ser mencionado por telefone. E, quando o té cnico de segurança em comunicaçõ es do lı́der mundial nã o podia mencionar alguma coisa por telefone, erasinaldequesetratavadeassuntomuitosério. Poucodepoisdas16horas,enquantoarrumavasuamala,Macrecebeuumtelefonemade Rayford. —EstouseguindoparaPalwaukee.Queropressionaraquelesujeitodequemjá lhefalei,o taldeBo.Emseguida,vouparaaEuropaeprecisodealgumascoisas.Albieaindapodecooperar conosco? —Claroquesim.Doquevocêestáprecisando? —Oh!...ah!...prefirofalardiretamentecomele.Vocêtemonúmerodotelefonedele? —Nãoaquicomigo.Esperoestaremcasahojeànoite.Vocêpodeesperaratélá? —Talvez.VocênãopodepediraDavidquelocalizeonúmeroparamim? —Estáemmeucomputador.Algumashorasamaisvãofazermuitadiferença? —Achoquenão. Com sua nova aparê ncia e documentos que pareciam autê nticos, Buck pegou um vô o comercial para Tel-Aviv. Ele espantou-se com o nú m ero reduzido de vô os que havia. O lagelo dofogo,fumaçaeenxofrecontinuavaadevastaraTerra,etudooquesereferiaàvidatinhasido afetado. O Arrebatamento mudara a face da sociedade, e a vida jamais voltara a ser a mesma desde o grande terremoto, mas Buck sabia que a situaçã o iria piorar. Praticamente nã o havia ninguémquenãotivesseperdidoumentequerido. Foidifı́c ilpartirsemChloeeobebê .Eleestavavivendocomafamı́liahaviamaisdedez meses, desde o momento do nascimento de Kenny. Buck nã o podia imaginar que icaria tã o ligado a seu ilho e que sentiria tanta saudade de segurá -lo no colo. Ele sabia o que signi icava estarlongedeChloe,eessesofrimentoquasechegavaaenlouquecê -lo.PareciaquecomKenny asaudadeseriamaiorainda. No aviã o, havia uma mulher asiá tica sentada algumas ileiras atrá s dele carregando um bebê no colo, talvez poucos meses mais novo que Kenny. Buck lutou para nã o sair do lugar quandoomeninocomeçouachorarduranteadecolagem.Assimquefoipossı́vel,eledirigiu-seà mulhereperguntouseelafalavainglês. —Umpouco—eladisse. —Qualéonomedobebê? —Li—elarespondeu. —Oi,Li—eledisse.Obebêcravouosolhosnele.—Temquantosmeses? —Sete. —Éumbelogaroto. —Muitoobrigada,senhor. —Seráqueeupoderiacarregá-loumpouco? —Comoassim? Buckestendeuosbraçosparapegarobebê.—Posso?Amulherhesitou.—Eucarrego. —Tudobem—eledisse.—Compreendo.Eunã opermitiriaqueumestranhocarregasse meufilho. —Vocêtemumfilhopequeno? Buck mostrou-lhe uma fotogra ia de Kenny. Ela murmurou alguma coisa e mostrou-a a seufilho,quetentousegurá-la. —Eumbelomenino.Sentesaudadedele? —Muita. ElafezumgestoparaqueBuckpegasseLi.Buckestendeuosbraços,eLiinclinouocorpo para a frente. Mas, assim que Buck o segurou, Li fez uma careta e manteve os olhos ixos na mãe. —Elanãovaifugir—disseBuckaobebê.—Mamãeestáaqui. Li,poré m,começouachorar,eamã evoltouasegurá -lo.Buckestendeuamã oà mulher, eelaaapertoutimidamente. —MeunomeéGregNorth—eledisse. —Muitoprazer,Sr.Greg—eladisse,semmencionarseunome. Maistarde,depoisdeterterminadosuarefeiçã o,Buck icouemocionadoquandoajovem mã e lhe pediu ajuda. Ele a vira caminhando pelo corredor, com Li no colo, até o bebê adormecer. —Osenhorpoderiacarregá-loenquantoeucomo?—elaperguntou. O bebê continuou dormindo nos braços de Buck durante quase 20 minutos, até a mã e voltar.Eledetestouterdedevolvê-lo. DepoisdedesceremTel-Aviv,Bucktentoulocalizaralgué mquetivesseoselonatesta.A ú nica pessoa que ele viu foi um homem que estava sendo interrogado. Buck resolveu nã o abordá-loparanãosecomplicar. O reló gio marcava nove horas da manhã em Israel quando Buck jogou a sacola por cima dos ombros e saiu do terminal do Aeroporto Ben-Gurion, a im de ligar para a casa de Chaim Rosenzweig.Avozdeumajovematendeuemhebraico.Buckrefletiuporalgunsinstantes. —Inglês,porfavor—eledisse. —ResidênciadoDr.Rosenzweig—eladisse.—Possoajudar? —Hannelore? —Sim—elarespondeu.—Porfavor,quemé? — Eu vou dizer quem sou, mas você nã o pode pronunciar meu nome em voz alta, entendeu? —Quemé,porfavor? —QuerofazerumasurpresaaChaim,tudobem? —Quem? —Hannelore,éBuckWilliams. —Buck!—elamurmurouentusiasmada.—Nãoháninguémporperto.Ondevocêestá? —NoBen-Gurion. —Vocêpodeviratéaqui?OdoutoreJacovvãoficarmuitocontentes! —Querorevertodosvocês. —Espereaí.VoumandarJacovbuscarvocê. —Elenã opodedizeromeunome,Hannelore.Seeleprecisarfalarcomigo,estouusando onomedeGregNorth. — Greg North. Ele vai chegar aı́ logo, Buck... isto é , Greg. Nã o vou contar nada ao Dr. Rosenzweig.Elevaificartão... —ComovaiJonas? — Oh! Buck, sinto muito. Ele faleceu. Esperamos em Deus que esteja no cé u. Vamos lhe contartudodepois. CAPÍTULO13 Rayford pegou a sacola com o dinheiro e subiu apressado a escada da torre do Aeroporto de Palwaukee. Ao ver dois carros no estacionamento, ele teve a certeza de que T conseguira ganhartempoparaqueBoHansonnã osaı́ssedali.Quandofaltavamalgunsdegrausparachegar aofimdaescada,ojoelhodeRayfordprotestou,eeleterminouasubidamancandoatéaporta. Rayford já havia estado vá rias vezes naquela torre e sabia que qualquer pessoa que estivessealiteriaouvidoosomdeseuspassos.Testavasentadoasuamesaeacenou-lhepara que entrasse. Bo, sentado em uma cadeira ao lado da mesa, ergueu os olhos ao perceber que algué m estava entrando na sala. Rayford nunca considerara Bo um rapaz muito inteligente, apesar de ter tido uma criaçã o privilegiada. Seus cabelos eram descoloridos, cortados à escovinhaepenteadoscomgel,eeledeuumlongosuspiro,prendendoumpoucoarespiraçã o. Rayfordimaginouqueelequisesseexibirseusmú sculos.Apose,poré m,nã oserviuparadisfarçar seumedo. —Fazumbocadodetempoquenãonosvemos,Bo. —Éverdade,Sr.Steeles. —Steele—corrigiuRayford. —Sintomuito. —Oquevocêandafazendo,Bo? —Nadademuitoimportante.Evocê? —Recentementeperdiumamigodequemeugostavamuito.Aliás,perdidois. Rayfordsentou-se,colocandoasacolapertodospés. —Dois?—perguntouBo. —Umdeleserameumédico.Vocêoconheceu. —Ah!sim.Doqueelemorreu? —DealgumacoisaqueelepegoudeHattie. —Oh!Eusoubeoqueaconteceucomela.Quepena. —Oquevocêouviufalar? —Saiuemtodososnoticiá rios—disseBo.—Desastredeaviã o.AchoquefoinaEspanha. Eutambémperdiumamigo.ErniemorreuqueimadoumdiadessesnaCalifórnia. —Sintomuito. —Obrigado.Eutambémsintomuitoaperdade...Hattie. —Quantoelalhepagou,Bo?—inquiriuRayford. —Pagou? —Paravocêajudá-laafugirdaquideavião,inventarumahistória,simularamortedela. —Eunãoseidoquevocêestáfalando. —Você aprovouovô o.Suasiniciaisestã ona icha.Você nã opensouemmudaropre ixo doavião.Emboraopilotonãosetenhaidentificado,oaviãolevouasautoridadesatéirmãoSam, emBatonRouge. —Ele...eu...eucontinuosemsaberdoquevocêestáfalando. —Vocêsejulgaumhomemdenegócios,Bo? BoolhouparaT.—Eutenhoumapartenesteaeroporto.Façotudodireitinho. —Cincoporcento—esclareceuT. Bopareciaaflito. —Tenhooutrosnegócios,outrosinteresses,outraspreocupações. — O quê ! — disse Rayford. — Suas palavras me impressionaram. Algumas dessasoutras coisastêmnome? —Têm—disseBo.—Umadelaschama-seNãoÉdaSuaConta.Rayfordolhouderelance para T e voltou a concentrar-se em Bo, cujo peito estava arfante. A pulsaçã o em seu pescoço eravisível. —Voufingirqueacredito,Bo.NãoÉdaSuaConta? —Eissomesmo,meunegó c ioé esse.Chama-seNã oEdaSuaConta.Entendeu?Ah!Nã o ÉdaSuaConta! — Entendi, Bo. Boa escolha. Seria por causa disso que você precisa receber dinheiro de umajovemquedesejadesaparecer? —Eujádissequenãoseidoquevocêestáfalando. —Nãosabemasnegou. —Negueioquê? —QuevocêpôsHattieDurhamnoQuantumdeseuirmãoparaelafugirdaqui. —Eunegoisso. —Vocênega? —Claroquesim.Nãotivenadaavercomesseassunto. —Aconteceu,masvocênãoparticipoudenada? —Correto. —Então,agoravocêsabedoqueestoufalando. —Nãosei.Sóimagino.Eunemsequerestavaaqui. —Porquesuasiniciaisestãonaficha? —Ocaradatorreligouparamim.DissequeumsujeitoqueriareabastecerumQuantum. Euconcordei.Seerameuirmão,eunãosabia.SeapassageiraeraHattie,eutambémnãosabia. Eujálhedisse.Eunãoestavaaqui.Nãocoloqueininguémdentrodenenhumavião. — Mas você tem uma excelente memó ria. Lembra-se de todos os detalhes do vô o que aprovounanoiteemquenãoesteveaqui. —Então,prove. —Provaroquê? —Proveoquevocêacaboudedizer.Rayfordsacudiuacabeça. —Vocêquerqueeuprovequevocêtemboamemória? —Nãosei.Vocêestázombandodemimoucoisaparecida,eatéagoraeunãoentendi. Rayfordinclinou-separaafrenteedeuumtapadelevenapernadeBo. — Vou dizer-lhe uma coisa, Bo. També m sou um homem de negó c ios. Que tal se eu lhe disserquenãotenhonadacontraHattiefugirparaaEuropaousefingirdemorta? Boencolheuosombros. —Tudobem. —Elaéumamulheradulta,temdinheiro,nãoprecisadaautorizaçãodeninguém.Elanão medevesatisfaçõ es.Equeeumepreocupocomela.Hattienã oestá bem.Nã oandatomando decisõescertasultimamente,masavidaédela,nãoémesmo? Boassentiusolenementecomacabeça. —Mas,entenda,euprecisoencontrá-la. —Nãopossoajudarvocê. — Nã o fale assim. Preciso conversar com ela, dar uma notı́c ia que ela precisa ouvir pessoalmente.Oquepossofazer,Bo?Comopossoencontrá-la? —Seilá!Eujálhedisse. —Você mecontouqueé umhomemdenegó c iosequefaztudodireitinho.Quantocusta paravocê serumhomemdenegó c ios,Bo?Istoé su iciente?—perguntouRayford,curvando-se eabrindoozíperdasacola. Bo inclinou-se para a frente e olhou dentro da sacola. Em seguida, olhou para Rayford e, depois,paraT. —Vamos—disseRayford.—Pegueumdosmaços.Édinheiroverdadeiro.Podepegar. Bopegouumapilhaamarradadecédulasde20dólaresefolheou-ascomopolegar. —Gostou?—perguntouRayford. —Claroquegostei.Quantovocêtemaqui? —Vejavocêmesmo. Bopegouasacolaeaescancarou,semnenhumconstrangimento. —Eugostariadeterumpoucodestedinheiro. —Umaquantiasuficienteparavocêmecontaroqueprecisosaber? Bocontinuavamexendoasacola. —Nãohánadamelhordoquecheirodedinheiro.Oquevocêprecisasaber? — Quero voar para a Europa amanhã . Uma hora depois de pisar no chã o de lá , quero constatarqueHattieDurhamestávivaecomsaúde.Vocêconhecealguémquepossameajudar afazerisso? —Talvez. Rayfordpegoualgunsmaçosdasacolaecomeçouacolocá -losnamesa,umdecadavez. Depoisdecolocaroterceiromaço,eledisse: —Istoésuficienteparavocêmepassarasinformaçõesdequepreciso? —Algumas. —Porexemplo? —França. —Cidade? —Maisum. Rayfordcolocououtromaçonamesa. —Litoral. —Vocêédifícildeserconvencido.Norteousul? —Sim. Acadapergunta,Rayfordcolocavamaisummaçodedinheironamesa. Finalmente,BomencionouonomedeumacidadenoCanaldaMancha: —LeHavre. —Você conseguiuganharummontededinheirosemsairdaqui—disseRayford-,masas notasvã ovoltarparaasacolaseeunã o icar sabendo qual é o endereço exato, com quem ela estáeoquepoderiamecausarsurpresa.Anotetudo.VoudeixarodinheirocomT... —Ei,vocêestámepassandoparatrás! —...e,quandoeuencontrarHattie,voudizeraele,evocê receberá abolada.Masvocê precisameinformarporescrito. —Já está escrito—disseBo,tirandoumpapeldacarteira.TudooqueRayfordprecisava estava escrito à mã o com letras miú das. — Você vai me deixar fora disso, nã o vai me complicar,certo? —Prometo—disseRayford.—Agoravamostratardaquestãodosilêncio. —Silêncio? —Vocêprovouquenãoémuitobomnisto,certo? —Achoquenão. —Eutambémnãosou. —Vocêdissequemedeixariaforadisso. —SuponhoquevocênãoqueiradizeronomedequemestácomHattieoufalardela. —Exatamente. —Masmeusilênciocompletopodesercompradoporalguém. —Compradoporquem? — Pela CG, claro. De acordo com as leis da Comunidade Global, fraudar uma companhia desegurosportersimuladoumamorteouforçarumaequipedesalvamentoafazerbuscassob falsasalegaçõeséumdelitointernacionalClasse X,consideradomuitograve,punı́velcomprisã operpé tua.Comocidadã o,tenhoodeverde relatarqualquertipodedelitodemeuconhecimento. —Euvounegar. —Tenhoumatestemunha.—RayfordolhouparaT,quetinhaosolhosfixosnamesa. — Você está do lado dele, Delanty? Você é um canalha. T disse: — Este assunto é entre vocêe... —Esqueça—disseBo.—Voutomarminhasprovidê ncias.Istoé umaex...extor...,uma chantagem. — Bo — disse Rayford -, pegue aquele telefone. E melhor você relatar esta extorsã o. Deixebemclaroqualé achantagemqueestoufazendo.Você cometeuumdelitograveesabe disto. Bobufouecruzouosbraços. —Ah,vocêjáfezaligação?—perguntouRayford.—Euprecisorelatarumcrime. —Vocênãoteriacoragem.Viveescondido. — Eles aceitam denú ncias anô nimas, nã o aceitam, T? — T nã o respondeu. — Vamos descobrir.—Rayfordpegouofoneecomeçouaapertarosbotões. —Tudobem!Desligue! —Querdizerquevoltamosaserhomensdenegócios,Bo?Prontosparanegociar? —Sim! — Que tal facilitar as coisas para você ? Que tal eu nã o cobrar de você um dinheiro que vocêaindanãotem?Quetal? Boencolheuosombros. — Por exemplo, você ainda nã o tem este dinheiro — disse Rayford, colocando todo o dinheirodevoltanasacoladeumasóvez. — Otimo! Vou contar essa histó ria a quem acho que devo contar, e você jamais vai encontrarHattieDurham. —Veja,Bo,já penseinisto.Você nã oestá raciocinandobem.Agoraquemdá ascartassou eu. Seja lá qual for omotivo que levou Hattie a ir embora daqui, você é um fugitivo internacional. Pode acreditar em mim. Tenho vivido nessa situaçã o, e você nã o vai querer passarporisso.—RayfordestendeuamãoparaBo.-Foiumprazernegociarcomvocê,Bo. EBeauregardHanson,deinteligênciatacanha,apertouamãodeRayford. —Ei—eledisse,recolhendoamã o.—Nã ofoiprazernenhumnegociarcomvocê ,seu... seuidiota! Bo saiu batendo a porta com força, desceu a escada com passos irmes, bateu a porta da torre, bateu a porta do carro e saiu do estacionamento queimando os pneus, atirando poeira e cascalho por todos os lados. Assim que ele passou pelo portã o, o carro parou por falta de combustível.Rayfordviu,doaltodatorre,Boacenandoparapedirumacarona. Jacovestacionounomeio-fiodoAeroportoBen-GurionesaltoudoMercedes. — Greg! — ele exclamou exultante, abraçando Buck. Assim que eles entraram no carro, eledisse:—Comovocêestá,meuirmão? —PreocupadocomChaim.Eansiosoparasaberdetodosvocês. —HannelorelhecontousobreJonas? —Sim.Oqueaconteceu? —Antes,meconteumacoisa.Vocêviuoscavaleiros? —Não. — Ainda bem que você nã o os viu, pode acreditar em mim. Criaturas medonhas. Eles andaramprovocandoestragosemnossavizinhançaenquantoJonasestavadeguardanacabina devigia.Vocêconheceolocal. —Claro. —Umacasadooutroladodaruafoiqueimadaeumhomemquepassavadecarroporlá icou sufocado pela fumaça. Ele morreu ao volante, e o carro colidiu com a cabina. Foi um choque muito grande para Chaim. Ele nã o queria acreditar que a gente podia ver as criaturas. Ainda acha que estamos mentindo, mas lamenta a morte de Jonas. Meu patrã o nã o pá ra de dizer:"Penseiqueelefosseumdevocê s.Penseiqueeleestariaprotegido."Agora,elepassoua estudar as mensagens do Dr. Ben-Judá diariamente, chora o tempo todo, de dia e de noite, dizendo: "Nada disso é verdade. E tudo mentira, nã o é ? Tudo mentira." E tem mais, Buck. Ele temfeitocoisasestranhas.Sabemosqueeleé idosoeexcê ntrico,apesardecontinuaraserum homemmuitointeligente.Elecomprouumacadeiraderodas.Motorizada.Muitocara. —Eleestáprecisandodeumacadeiraderodas? — Nã o! Ele já se recuperou das ferroadas dos gafanhotos. Agora, sente muito medo das pragas atuais e parece estar possuı́do por um espı́rito maligno. Fica sentado perto da janela, olhandoafumaça.Nã osaimaisdecasa.Passaamaiorpartedotempoemsuao icina.Você se lembradolocal? —Sim.Eacadeira?Paraqueserve? — Ele anda pela casa toda de cadeira de rodas. Quando se cansa de icar no pavimento inferior, ele pede a minha ajuda e a de um criado, e temos de transportá -lo para o pavimento superior,evice-versa.Émuitopesado. —Qualéomotivodetudoisso? — Parece que ele está treinando a andar nela, Buck. A princı́pio, ele teve um pouco de di iculdade,estavasempredandotrombadanosmó veis.Nã osabiacomorodarparatrá s,virar. Quandoacadeiraenrascavaemalgumlugar, icavazangadoenoschamavaparaajudá -loasair dali.Agoraelejáestácraqueemlidarcomacadeira.Sabeirparaafrenteeparatrás.Passapor espaçosestreitos,dá meia-voltaemlugaresapertados.Aprendeuasevirarsozinhoemqualquer pavimentodacasa.Achoqueelesedivertecomisso. —Oqueelefaznaoficina,Jacov? —Ninguémsabe.Elesetrancaládurantehoras,enósouvimososomdelimadesbastando algumacoisa. —Metal? — Isso mesmo! Nó s vemos minú sculas peças limadas, mas nã o chegamos a ver o objeto inteiro. Ele nunca teve habilidade com as mã os. E um homem inteligente, criativo, analı́t ico, mas nã o costumava passar horas fazendo trabalhos manuais. Ele ainda lê assuntos sobre botânicaeescreveparaperiódicosespecializados.EestáestudandoaBíblia. Elesjá estavamchegandoà ruaondeChaimmorava,eBuckolhouparaJacovcomarde incredulidade. —Vocêestáfalandosério? —Claro!ElecomparaostextosdaBı́bliacomosensinamentosdeTsion.EleeTsiontê m trocadocorrespondência. — Eu sei. E por isso que estou aqui. Tsion está muito preocupado com Chaim. Acredita queeleestápertodeaceitaraverdade. —Eutambé mpensei,Buck.Nó s icamosaoladodeledepoisquevocê spartiram.Sempre queelevê ostelejornais, icamuitodesapontadocomCarpathia.Achaquefoitraı́do,queIsrael foitraído.ElenãoconseguefalarcomNicolae,ésemprebarradopelocomandante. —Fortunato. —Sim.Eumproblemasé rio.Você vaisesurpreenderaovercomoeleenvelheceu,Buck, massuavisitavaimelhorarseuestadodeânimo. —Hámaisalgumacoisaquevocêqueiramecontar? —Queeumelembre,não.Ah!sim.Nãomencioneaeleapalavraderrame. —Derrame? —Vocêsabe,quandoocorpo... —Euseioqueé,Jacov.Porquenãopossomencionaressapalavradiantedele? —Parecequeeleestáobcecadoporesseassunto. —Derrame...—Buckdeixouafrasenoar.—Eporquê? — Nã o sabemos, Buck. Nó s desistimos de tentar compreendê -lo. Um parente dele sofreu um derrame, e agora ele ica olhando para as fotogra ias desse homem. Meu patrã o mudou muito. E uma pena. Ele deve estar com medo de sofrer um derrame també m. Ele nunca foi assim.Vocêsabe. Os edifı́c ios que compunham o palá cio da Comunidade Global passaram a ser um local deprimente. Cerca de 15% dos funcioná rios tinham sido mortos por fumaça, fogo ou enxofre. Carpathia lançou publicamente a culpa em Tsion Ben-Judá . Os noticiá rios transmitiam as alfinetadasproferidaspelopotentado: "Aquele homem tentou me matar diante de milhares de testemunhas em Jerusalé m, no Está dio Teddy Kollek, há mais de um ano. Ele está mancomunado com aqueles dois sujeitos radicais que vomitam seu ó dio diante do Muro das Lamentaçõ es e se vangloriam de ter envenenado a á gua potá vel. Seria um despropó sito acreditar que essa seita poderia provocar umaguerrabacteriológicanorestantedomundo?Certamente,essagentejádesenvolveualgum antı́doto,porqueaté agoraningué mouviufalarquealgumdelestenhasidovı́t ima.Aocontrá rio, inventaram uma histó ria que nenhum homem ou mulher com o mı́nimo de raciocı́nio pode engolir. Querem nos fazer acreditar que nossos parentes e amigos estã o sendo mortos por um bando de cavaleiros gigantescos montados em cavalos lutuantes, cuja metade do corpo é cavalo e a outra leã o, que expelem fogo pela boca como se fossem dragõ es. E claro que os crentes, os santos, os que se consideram melhores do que todos nó s, podem enxergar essas criaturasmonstruosas.Dizemquenó s,osmal-informados—naverdade,osnã o-vacinados-,é que somos cegos e vulnerá veis. Os seguidores de Ben-Judá nã o tê m condiçõ es de nos persuadir comseuexclusivismo,intolerâ ncia,crı́t icasexacerbadaseodiosas.Eporissoqueoptarampor nosmatar!" O nú m ero de funcioná rios do departamento de David estava sendo lentamente reduzido. Os sobreviventes, assustados demais para sair à rua, apesar de nã o terem segurança nem mesmodentrodecasa,trabalhavamemturnosdobradoseandavamaterrorizados. A alegria que David e Annie sentiam por viver essa nova fase de seu relacionamento foi ofuscadapelosofrimentodetantaspessoas.Aquelesqueosconheciam,quepoderiamter icado felizes com a nova situaçã o deles, passaram a considerar o namoro como um fato trivial. Por maior que fosse o amor entre David e Annie, eles nã o podiam contestar esse ponto. As pessoas estavam morrendo e indo para o inferno. David sentia-se tã o triste que pensou seriamente na possibilidade de fugir do palá cio com Annie para evangelizar o povo antes que fosse tarde demais. Annieajudou-oare letirmaisumavezsobreaposiçã oprivilegiadaqueeleocupava.Certa noite, eles se sentaram de mã os dadas diante do computador na sala de David. Um simples toque na letra Y permitiu-lhes ouvir a conversa entre Leon e Peter II no escritó rio do sumo pontíficelocalizadonoPaláciodaFé. — A era de Carpathia já terminou, Leon. Você deve parar de reagir todas as vezes que deixodeusarumdessestítulosridículosquevocêsdoisinventaram. —Masvocêinsisteemserchamadode... — Eu conquistei meu tı́t ulo, Leon. Sou um homem de Deus. Dirijo a maior igreja que já existiu na Histó ria. Milhõ es de pessoas ao redor do mundo prestam homenagem à minha • liderança espiritual. Quanto tempo ainda demorará para que eu també m passe a liderá -los politicamente? Os judeus religiosos e os fundamentalistas cristã os sã o apenas facçõ es que nã o aceitamaFéMundialEnigmaBabilônia. —Facçõ es?Pontı́ ice,pelosnossoscá lculos,umbilhã odepessoasestá acessandoosite de Ben-Judátodososdias. —Issonãosignificanada.Souumadelas.Quantas,porém,sãoseguidorasdele?Eunãosou, mas preciso me manter atualizado a respeito dessas bobagens. Tenho sido paciente com eles, aceitando suas excentricidades e dissidê ncias em nome da tolerâ ncia, mas esse perı́odo está chegando ao im. Pedi a Carpathia que torne ilegal a prá tica de qualquer religiã o que nã o se enquadrenaFé MundialUnica.Embreve,vouconversarcomCarpathiaaesserespeitoepedir que ele tome uma providê ncia. Você nã o acha que ele deseja passar para a Histó ria por ter-se oposto à igura religiosa mais amada de todos os tempos? Meu pessoal espera que eu me manifeste rapidamente, tome uma atitude de initiva contra esses apó statas intolerantes. Mas vocêacreditaqueCarpathiaéumdeus. —Sim,acredito. —Dignodeseradorado. —Claro,pontífice. — Por que, entã o, esse tal de homem-deus nã o pode fazer nada contra esses dois pregadores?Elesoestãoexpondoaoridículo. —SuaExcelêncianegocioucomelese... —Etudo icouporissomesmo.Eledissequedefendeuo imdabarganha,recusando-sea perseguir os crentes se essas tais testemunhas permitissem que os israelenses bebessem á gua emvezdesangue!Bem,talvezelesestejambebendoáguapura,masestãomorrendosufocados! Quempassouporbobo,Leon?Nenhumaresposta. —Você nã opoderesponderaestapergunta,nã o,Leon?Nã opodeadmitirqueseupatrã odeusé incapazdefazeracoisacerta.Você mesmonã otolerariaumainsolê nciadessaspartindo deumdeseussubordinados.Mas iquetranqü ilo.Nã oseiquemsã oessesdoismalucos,nemde ondevê mousetê mpoderesmá gicos.Maselesnã oestã oacimadalei.Estã osujeitosà sleisda ComunidadeGlobal,e,seLeonFortunatofossepotentado,esseproblemajá teriasidoresolvido há muito tempo. Estou certo? Hein, Leon? Você faria o mesmo que eu, nã o faria? Já teria eliminadoaquelesdois. Nenhumaresposta. —Assimqueeu izerisso,Leon,você vai icardomeulado,vaimeouvir?Sedesdeagora sou amado e reverenciado pelo povo, imagine só como icará minha imagem depois que eu acabar com esses tra icantes de pragas! Admita, Leon. Nicolae está perdendo tempo. Ele está esperando o quê ? E preciso ter coragem. E preciso agir com diplomacia. Ele nã o pode fazer nada.Defenda-o,Leon!Vocênãopode,nãoéverdade?Nãopode. —Tenhodemeapressarparaatenderaumoutrocompromisso,pontı́ ice,masdevodizer que, quando o ouço falar com tanta veemê ncia, chego a desejar o retorno daquele tipo de liderança. —Hápotentadosregionaisqueconcordamcomvocê,Leon. — Bem, para ser sincero, pontı́ ice, um homem em minha posiçã o teria de ser cego e surdoparanãoverquantoospotentadosoveneram. —Eutambémnãosoucego,Leon.Gosteidesaberquevocêreconheceminhasqualidades. Chego até a pensar que eles apoiariam minha liderança em outras á reas fora do â mbito espiritual. CAPÍTULO14 Os novos computadores foram instalados, e os funcioná rios de David Hassid, agora em nú m eroreduzido,estavamtrabalhandoarduamente.Cé rebrosjovenseinteligentescombinados comamaismodernatecnologia,geradaeanalisadapeloscomputadores,tentavamdescobrira origemdastransmissõesdeTsionBen-JudáeCameronWilliams. Ben-Judá tornara-se o nome mais conhecido do mundo, com exceçã o de Carpathia. Ele transmitia â nimo, exortaçã o, sermõ es, ensinamentos bı́blicos e até mesmo explicaçõ es sobre idiomasepalavras,baseadoemseusestudosdeumavidainteira. Buck, por outro lado, transmitia uma revista virtual semanal chamadaA Verdade. Ele també m tinha um grande nú m ero de admiradores que se lembravam do tempo em que ele recebeu o prê mio de articulista mais jovem doSemanário Global. Tornou-se editor da revista depoisqueCarpathiaseapoderoudetodososmeiosdecomunicaçã o—impressoseeletrô nicos —eonomedoSemanárioGlobalfoimudadoparaSemanárioComunidadeGlobal.Quandoosseus verdadeirosmotivospassaramaserconhecidoseBuckseconverteuaCristo,eletornou-seum fugitivo.PorterumaligaçãocomHattieDurham,ex-amantedeCarpathia,ecomBen-Judá,ele tevedeviverescondidoeviajarincógnito. Buck insistia com seus leitores: "Tenham sempre em mã os um exemplar do Semanário Comunidade Global, o mais moderno perió dico de notı́c ias já criado. No dia anterior de cada ediçã o,visitemapá ginadeAVerdadeeconheçamaverdadeirahistó riaqueexisteportrá sda propagandaqueogovernonostemimpingido." DavidHassidadoravaouvirareaçã odopessoaldopalá ciodiantedosataquessemanaisde BuckaoSemanárioComunidadeGlobal.ArevistaAVerdadefaziajusaseunome,etodossabiam disso. David desenvolvera um programa que lhe permitia monitorar todos os computadores do gigantesco palá cio. Suas estatı́sticas revelavam que mais de 90% dos funcioná rios da CG visitavam semanalmente a revista virtual de Buck, a segunda mais popular, perdendo apenas paraossitesqueabordavamassuntospornográficosepsíquicos. O uso de enormes antenas parabó licas conectadas a saté lites e de tecnologia de microondas tornava teoricamente possı́vel rastrear a origem de qualquer transmissã o ciberné tica. A maioria dos operadores clandestinos mudava constantemente de lugar ou instalava programas de proteçã o contra rastreamentos, o que di icultava muito a localizaçã o. Alé m de ter ajudado a montar o protocolo de transmissã o para o Comando Tribulaçã o sediado nosEstadosUnidos,Davidtomouumaduplaprecauçã o,instalandoumdispositivoparaprovocar falhasnoscomputadoresdeseudepartamento. Ocomplicadorerapuramentematemá tico.Osegredoparatraçarcoordenadasé mediros â ngulosecalcularasdistâ nciasentrevá riospontos.Nopapel,essescá lculoslevariamhoraspara ser feitos. Em uma calculadora, menos tempo. Mas, em um computador, os resultados eram praticamenteinstantâ neos.Davidimplantouaquiloqueelechamavademultiplicador lutuante. Em termos leigos, todas as vezes que o computador fosse acionado para fazer um cá lculo, um componente escolhido ao acaso invertia os dı́gitos na terceira, quarta ou quinta etapa. Nem mesmo David sabia que etapa seria selecionada, e muito menos que dı́gitos. Quando o cá lculo fosserepetido,oerroseriaduplicadotrê svezesseguidas;portanto,denadaadiantariachecaro computadorsemteroutrafontedecomparação. Se algué m levantasse alguma suspeita e eles resolvessem checar o computador usando uma calculadora nã o-contaminada, o computador ocultaria a falha e forneceria uma leitura correta.Assimqueoté cnicoseconvencessedequepoderiaterhavidoumerrohumanoouum defeitotemporá rionaoperaçã oanterior,elepassariaparaocá lculoseguintee,provavelmente, sóperceberiahoras,oudiasdepois,queocomputadorhaviavoltadoacometeromesmoerrode antes. David imaginava que na é poca em que as discrepâ ncias apresentadas nos computadores fossemdescobertasesetornassemumproblemasé rio,oprojetoestariatã oobsoletoqueseria descartado como sucata. Enquanto esse dia nã o chegasse, os computadores usados para transmitirosensinamentosdeTsionearevistadeBuckcontinuariamprogramadosparamudar seus sinais aleatoriamente, modi icando, entre um segundo e outro, 9 trilhõ es de combinaçõ es separadasdeatalhos. Sob o pretexto de localizar a origem das transmissõ es de Buck, os té cnicos do departamento de David passavam grande parte do tempo lendo atentamente a revista virtual de Buck. Ficou claro para todos que Williams obtinha informaçõ es de dentro do palá cio, mas ningué m sabia de onde elas partiam. David tinha conhecimento de que Buck usava dezenas de contatos, inclusive o pró prio David, mas Buck era muito esperto e sempre dava um jeito para protegerseusinformantes. AúltimaediçãodoSemanárioComunidadeGlobalrelatouahistó riadofracassadoatentado aCarpathia,promovidapelopotentadoregionalRehoboth.Osredatoresdarevista ingiramser totalmenteimparciais,revelandoqueoatentadohaviasidoumchoqueaoregimedeCarpathia. "Homemdecará ter,honestoesincerotentadiscutirdiplomaticamenteasdiferençasentreele eseuscomandados",iniciavaoeditorial. Mwangati Ngumo, de Botsuana, demonstrou ser um homem honrado quando insistiu há mais de trê s anos que Nicolae Carpathia o substituı́sse como secretá rio-geral da Organizaçã o das Naçõ es Unidas. Aquele gesto altruı́sta e de grande visã o resultou na enorme Comunidade Globalquedesfrutamoshoje,ummundodivididoemdezregiõesiguais,cadaumagovernadapor umsubpotentado. Sua Excelê ncia pediu ao supremo comandante Leon Fortunato que visitasse o ilustre Sr. Ngumo para tentar persuadi-lo a permitir que o potentado reconstruı́sse Botsuana. Ngumo, o grande estadista africano, havia insistido em que sua naçã o aguardasse até que todos os paı́ses maispobresrecebessemajuda.OSr.Ngumofoitã ogenerosoapontodepermitirqueareuniã o, programada para realizar-se em Gaborone, fosse transferida para Joanesburgo, porque o aeroportodacapitaldeBotsuanaaindanã otinhacondiçõ esdeacomodaraenormeaeronaveda CG. Quandotomouconhecimentodessareuniã o,opotentadoRehoboth,dosEstadosUnidosda Africa,proporcionoutodasascondiçõ esparaareuniã o,oferecendo-se,inclusive,paraparticipar dela em prol da diplomacia. A Comunidade Global recusou polidamente essa oferta, uma vez que o assunto a ser tratado era mais de natureza pessoal que polı́t ica. O potentado Rehoboth recebeuapromessadequeteriaumencontropessoalcomSuaExcelência. Deve ter havido um mal-entendido da parte de Rehoboth, porque ele supô s que o potentado Carpathia participaria da reuniã o com o Sr. Ngumo. Embora a CG desconhecesse qualquer reaçã o de inveja ou raiva pelo fato de Rehoboth ter sido excluı́do da reuniã o, o potentado regional zangou-se a ponto de responder de maneira sanguiná ria. Deu ordens para assassinarNgumoeseusassessores,substituiu-osporimpostoreseentrounoComunidade Global Um(oCondor216)paraassassinarSuaExcelência. Apesar de seus capangas terem conseguido destruir a aeronave e matar quatro funcioná rios nossos, os gestos heró icos do piloto e do co-piloto — Capitã o Montgomery (Mac) McCullum e Sr. Abdullah Smith — salvaram a vida do supremo comandante. As Forças Paci icadoras da Comunidade Global reagiram de imediato, o que resultou na morte dos assassinos. Fotogra ias da imponente comemoraçã o em honra ao piloto e co-piloto ilustravam o artigo. Seis dias depois,AVerdade esmiuçou a histó ria. Buck descreveu os fatos dentro de seu estilojovial: A Comunidade Global nã o quer que os cidadã os tomem conhecimento de que o relacionamento entre Carpathia e Ngumo tinha fracassado havia muito tempo. Ngumo nã o foi assim tã o magnâ nimo como eles nos levam a crer. Ele deixou seu cargo na ONU sob forte pressã o, acreditando que seria nomeado um dos dez potentados regionais e que Botsuana receberia autorizaçã o para usar a fó rmula fertilizante descoberta em Israel, da qual Carpathia temseaproveitadoparanegociarcommuitosoutrospaíses. Ngumo, que quase chegou a ser endeusado, tornou-se um pá ria em seu paı́s por ter sido vergonhosamentepassadoparatrá spelaComunidadeGlobal.Afó rmulanuncalhefoientregue. Areconstruçã odeBotsuanafoiesquecida.Ngumoviusuatã osonhadaposiçã odepotentadoser concedidaaseuarqui-rival,odé spotaRehoboth—quesaqueouapró priaterranatal,oSudã o, parafavorecersuasinú m erasmulheresedescendentes,transformando-osemmultimilioná rios. Esse homem tornou-se tã o impopular no Sudã o que desistiu de instalar o opulento palá cio regional da CG em Cartum, instalando-o em Joanesburgo, um local impró prio por ser tã o descentralizadoquantoaCidadedoCabo. Sabendo que Rehoboth e Ngumo eram inimigos ferrenhos, a CG programou deliberadamente uma reuniã o de alto nı́vel no territó rio de Rehoboth, a bordo doCG Um. Rehoboth imaginou que Carpathia estivesse a bordo e vulnerá vel ao ataque, porque Ngumo també machavaqueeleestivesseabordo.Essaarmaçã oparainsultarNgumotambé menganou Rehoboth,quehaviasidoconvidadoparaareuniã o,oqueseriamaisumasurpreendenteafronta aNgumo. Opessoalqueescapoucomvidafoimaisafortunadoqueheró ico.AsForçasPaci icadoras da CG, dominadas por Rehoboth, nã o reagiram durante vá rios minutos apó s o aviã o ter-se incendiado. Os assassinos nã o foram alvejados. Um deles fugiu, dois morreram por causa da pragadafumaça,fogoeenxofre,conformeaconteceucommuitasoutraspessoasnaqueledia. Rehoboth sabia de tudo e permaneceu em seu palá cio durante os momentos em que ele achavaqueCarpathiaestavasendoexecutado.DepoisqueascoisasdesandaramequeRehoboth foi eliminado, as forças paci icadoras entraram novamente em açã o e conseguiram dominar a á rea. A morte da famı́lia inteira de Rehoboth, atribuı́da pela CG à praga, foi visivelmente uma execuçã o. Até agora, a praga matou cerca de 10% da populaçã o da Terra. Qual a explicaçã o que algué m daria para o fato de todos os membros de uma famı́lia tã o numerosa terem sido atacadosemumsódia? A revista virtual de Buck comentou todos os disparates do regime de Carpathia, mencionando a "predileçã o por maquiar uma tragé dia internacional, imaginando que você s se preocupamcomosdesfilesemhomenagemaopotentadoenquantoamorterondaomundo". David gostava de ouvir clandestinamente as conversas nos escritó rios de Carpathia e FortunatosemprequearevistasemanaldeBuckerapublicadanaInternet. —Oque izemosaté agorapararastrearessarevista?-inquiriuCarpathiaaLeonnaquela manhã. —Temosumdepartamentointeirotrabalhandoemtempointegral,senhor. —Quantos? —Escalamos70,mas,emrazãodosrecentesproblemas,eudiriaquetemosuns60. —Deveriaserumnúmerosuficiente,não? —Deveria,senhor. —Onde ele está conseguindo as informaçõ es? Parece que ele está acampado do lado de foradenossaporta. —Osenhormesmodissequeeleeraomelhorjornalistadomundo. — Isso nã o tem nada a ver com habilidade para escrever, Leon! Eu poderia acusar esse sujeitodeestarinventandocoisas,masnóssabemosqueelenãoestá. Naquela tarde, David recebeu um memorando de Leon, pedindo-lhe que os detectores de metal destruı́dos no incê ndio do aviã o fossem substituı́dos "antes que Sua Excelê ncia apareça em pú blico novamente". Aquele pedido deu uma idé ia a David. Talvez ele pudesse ter uma participaçã o na morte de Carpathia. Que tal se ele conseguisse provocar um defeito nos detectores de metal nos pontos estraté gicos? Se ele podia montar computadores cheios de truques,seráquenãoseriacapazdeprovocarumdefeitonosdetectoresdemetal? DavidrespondeuoseguinteaLeon:"SupremocomandanteFortunato,providenciareipara que os novos detectores de metal sejam entregues e instalados no Fê nix 216 daqui a dez dias. Nessemeio-tempo,pedireià tripulaçã oqueexaminecadadetalhedoaviã oparaquetudoesteja dentrodospadrõ esexigidospelopotentado.Supervisionareitudopessoalmentecomaajudada tripulaçãodacabinadecomando." David e Annie, em conjunto com Mac e Abdullah, que aos poucos iam se recuperando, passaram suas horas de folga instalando no Fê nix um dispositivo de escuta clandestina de tecnologiatã oavançadaqueosomrecebidonosfonesdeouvidodopilotoedoco-pilototinham quaseamesmaqualidadedosomproduzidoemestúdiosdegravação. Quando tudo estava terminado, David pediu a seus té cnicos de primeira linha que examinassemoaviã oà procurade"grampos".Umaequipedequatroespecialistasvasculhoua fuselagemduranteseishorasenãoencontrounada. Rayforddivertiu-seaoverBoHansontentandoconseguirumacarona,doladodeforados portõesdoAeroportodePalwaukee. —Quebobalhão!—eledisse. T,quecontinuavasentadodiantedesuamesanatorre,perguntou: —Oqueeleestáfazendo? — Pedindo carona. Falta de combustı́vel. — Em seguida, Rayford virou-se para pegar o telefone. — Acho que preciso dizer a Dwayne Tuttle como chegar até aqui. — T começou a levantar-se.—Fiqueaí.Aligaçãovaiserrápida. —Tenhoumassuntopararesolver—disseT.—Podemosconversardepois? Rayford consultou seu reló gio enquanto o telefone de Tuttle tocava. — Posso icar mais umpouco. ASra.Tuttleatendeu.Enquantoseapresentavaelhefalavasobreose-mailsdesua ilhae comoconseguiraonú m ero,Rayfordcaminhouaté ajanela.TrudychamouDwayneaotelefone, e Rayford icou satisfeito por nã o precisar falar durante esse pequeno intervalo de espera, por causadosustoquelevou.Tdirigira-seaté ocarrodeBoeestavadespejandogasolinanotanque comumalata.Seráqueosdoiseramconiventes?SeráqueToenganaraessetempotodo? Alguma coisa lhe dizia que, se ele tivesse mais alguns instantes para re letir, encontraria umaoutraexplicaçã o.Tnã ohaviasidomordidopelosgafanhotos.TinhaoselodeDeusnatesta. Conhecia as pessoas da igreja, dizia coisas coerentes, parecia sincero. Mas estaria agora a serviçodoinimigo?AjudandoohomemresponsávelpelafugadeHattie? —Sr.Steele!—disseDwayne. —Sr.Tuttle,oupossochamá-lodeDart? Tretornou,subindolentamenteaescadaenquantoRayfordterminavaseusacertosparaa viagemà França.Depoisdedesligar,eleolhouparaTcomardeinterrogaçã o.Ambosestavam sentadosfrenteafrente.OsemblantedeTeratãosombrioquantoodeRayford. —Vocêpensaqueeunãovi?—perguntouRayford. —Viuoquê? —Oquevocêacaboudefazer.Aqueleassuntoquevocêprecisavaresolver. —Oquefoiqueeufiz?Rayfordrevirouosolhos. — Eu vi você , T. Estava fornecendo gasolina a Bo. T lançou-lhe um olhar como que dizendo:"Edaí?" —Osujeitoque... —EuseiquemBoé,Ray.Estoucomeçandoaquerersaberquemvocêé. —Eu?Eunãosou...Tlevantou-se. —Vocêquervernovamentemeuselo,nãoquer?Vamos,podever. Rayford estava atô nito. Como a situaçã o poderia ter chegado a este ponto? Eles eram amigos,irmãos. —Eunã oprecisoverseuselo,T.Só quero saber o que você tinha em mente quando fez aquilo. —Eupediparafalarcomvocê,Ray.Lembra-se? —Sim,edaí? —EuqueriasaberoquevocêtinhaemmentequandofaloucomBo. —Qualé omisté rio,T?Euconseguideleainformaçã odequeprecisava.Nã ooajudeinem oacobertei. —Comoeufiz. —Comovocêfez. —Éissooquevocêachaqueeufiz? —Queoutronomeeupoderiadaraoquevocê fez,T?Você sdoisestã otrabalhandocontra mim,pelasminhascostas,éisso? Tsacudiuacabeçatristemente. —Eissomesmo,Ray.Estouagindodecomumacordocomumrapazquenã otemnadaa perder,sóparatrairmeuirmãocristão. —Éoqueparece.Oquemaiseudeveriapensar? Tlevantou-seecaminhouaté ajanela.Rayfordnã oencontravaexplicaçã oparaaatitude doamigo. — Você deveria pensar, Ray, que Bo Hanson nã o vai durar muito neste mundo. Ele vai morrerevaiparaoinfernocomoaconteceuoutrodiacomseuamigoErnie.Eleénossoinimigo, claro, mas nã o é algué m que devemos tratar como um canalha, só para que ele nã o descubra quemsomos.Elejá sabequemsomos,irmã o.SomosseguidoresdeBen-Judá eacreditamosem Jesus.Nã ofazemosbarganhascomsujeitoscomoBo,Rayford.Nã onosdivertimoscomeles,nã o mentimosparaeles,nã oroubamosdelesnemfazemoschantagemcomeles.Nó samamosessa gente.Suplicamosporeles. — Bo é tã o ingê nuo — prosseguiu T -, que lhe passou todas as informaçõ es de que você necessitava sem pensar nas conseqü ências que ele teria. Nã o estou dizendo que tenho todas as respostas, Ray. Nã o sei qual seria a outra maneira de conseguirmos as informaçõ es, mas sua atitude nã o me pareceu ser a de um cristã o. Eu preferia quevocê tivesse comprado a informaçã o. Que ele fosse o vilã o. Você foi tã o vilã o quanto ele. Bem, já falei demais. Entenda comoquiser,mas,deagoraemdiante,medeixeforadesseassunto. Buck imaginou que encontraria Chaim Rosenzweig na cadeira de rodas, mas o israelense estava do mesmo jeito que ele o vira na ú ltima vez. Pequeno, magro, um pouco mais velho, cabelosbrancosesvoaçantes.Eumsorrisosinceronorosto.Eleabriuosbraçosparareceberum abraço. —Cameron!Cameron,meuamigo!Comovai?Quebomvervocê .Eumafelicidadepara meusolhoscansados!OqueotrouxeaIsrael? — Você , meu amigo — disse Buck enquanto Chaim o conduzia pelo braço até a sala de visitas.—Estamostodospreocupadoscomvocê. —Ora!—disseChaim,fazendoumgestodepoucocaso.-Tsionestá preocupadopensando quenãovaimeconverterantesqueoscavalosmepisoteiem. —Elenãodeveriaestarpreocupado?Possodaraeleanotíciadesuaconversão? —Talvez,Cameron.Masvocê nã oprecisariaperguntar,certo?Você s,quepodemveros cavalos,tambémpodemverosselosunsdosoutros.Eentão?Omeuseloestávisível? A maneira como Chaim disse a palavrameu fez o coraçã o de Buck dar um salto. Ele inclinou-separaafrente,masnãoviunada. —Nóspodemosveroselonatestadenossoscompanheiros—disseBuck. —Epodemvertambémoshomenspoderososmontadosemcavalos-leões,eusei. —Vocênãoacreditanisso. —Vocêacreditariaseestivesseemmeulugar,Cameron? — Ora, Dr. Rosenzweig, eu já estive em seu lugar. Lembra-se? Fui jornalista, fui um homem pragmá tico, racional. Ningué m conseguia me convencer enquantoeu nã o me convencesse. OsolhosdeChaimbrilhavam,eBuckselembroudoquantoaquelehomemgostavadeum bomdebate. —Querdizerqueeunãodesejoserconvencido,certo?-perguntouChaim. —Talvez. —Eissonã ofazsentidoparavocê ,faz?Porqueeunã ohaveriadequerer?Euquero que seja verdade! Que maravilha! Assim eu teria uma resposta para essa loucura, um alı́vio para tantosofrimento.Ah!Cameron,estoupertodeacreditar,maisdoquevocêimagina. —Foioquevocêmedissenaúltimavez.Receioquevocêdemoremuitotempo. — Todo o pessoal que trabalha para mim se converteu, você sabe. Jacov, sua esposa, a mãedela,Stefan.Jonastambém,masnósoperdemos.Vocêficousabendo? —Fiquei.Foiumapena. Derepente,Chaimperdeuosensodehumor. — Veja, Cameron, eu nã o entendo essas coisas. Se Deus é tã o bom quanto você diz, preocupa-se com seus ilhos e é todo-poderoso, nã o haveria uma maneira melhor? Por que enviar julgamentos, pragas, destruiçã o, morte? Tsion diz que já tivemos a nossa oportunidade. Entã o,agoranã ohá maisningué mbonzinho?Existeumacrueldadetã ograndeemtudoissoque obscureceoamorqueeudeveriaenxergar.Buckinclinou-separaafrente. — Tsion també m diz que até mesmo este perı́odo de sete anos de tribulaçã o é mais do quemerecemosdeDeus.Nó snã oacreditá vamosporquenã opodı́amosver.Agora,nã ohá mais dúvida.Estamosvendo,e,mesmoassim,opovocontinuaresistenteerebelde. Chaimmergulhouemsilêncio.Emseguida,bateucomasmãosnosjoelhos. — Bem — ele disse inalmente -, nã o se preocupe comigo. Confesso que estou sentindo minhaidade.Estoucommedo,assustado,presoemcasa.Nã opossomaismeaventurarasair. Carpathia,emquemeuacreditavacomoacreditariaemumfilho,provouserumenganador. Buckqueriaaprofundaroassunto,masnã oseatreveu.Qualquerdecisã otinhadepartirdo próprioChaim,enãodeumaidéiaplantadaporBuckououtrapessoaqualquer. —Estouestudando—disseChaim.—EstouorandoparaqueTsionestejaenganado,que aspragaseastormentasnãocontinuemapiorar.Procuromemanterocupado. —Comoquê? —Projetos. —Ciênciaeleitura? —Eoutrascoisas. —Porexemplo? —Ora,Cameron,hojevocê está agindocomoumjornalista.Tudobem,euvoulhecontar. Meusempregadosachamque iqueimaluco.Talvez.Compreiumacadeiraderodas.Você quer vê-la? —Vocêprecisadeumacadeiraderodas? — Ainda nã o, mas logo vou precisar. O sofrimento causado pelos gafanhotos me enfraqueceu.Acontagemdegló bulosnosangueeoutrostestesrevelaramqueestouameaçado desofrerumderrame. — Você está tã o saudá vel quanto um cava... um touro. Rosenzweig endireitou-se na cadeiraeriualto. —Gostei.Ningué mmaisquersersaudá velcomoumcavalo.Masnã oé omeucaso.Corro umsérioriscoequeroestarpreparado. — Parecem palavras de um homem derrotado, doutor. Com uma dieta bem dosada, exercícios,arpuro... —Eusabiaquevocêdiriaisso.Queroestarpreparado. —0quemaisvocêestápreparando? —Comoassim? —Noquevocêestátrabalhando?Emsuaoficina? —Quemlhecontou? — Quem me contou nã o sabe de nada. Jacov simplesmente mencionou que você passa muitotempolá. —Éverdade. —Oqueé?Oquevocêestáfazendo? —Projetos. —Eununcasoubequevocêtivessehabilidadeparaisso. —Hámuitascoisasquevocênãosabesobremim,Cameron. —Possoconsiderá-loumamigoquerido,Dr.Rosenzweig? —Eugostariamuito.Masserá queumamigoqueridodevesereferiraooutrodemaneira tãoformal? —Édifícilparamimchamá-lodeChaim. — Chame-me do que você quiser, mas você é um amigo querido e me sinto muito feliz porserseuamigotambém. —Então,querosabermaissobrevocê.Sehouvermuitacoisasobrevocêqueeunãosaiba, nãovoumesentirseuamigo. Chaim afastou a cortina e olhou para fora. — Hoje nã o há fumaça. Mas ela vai voltar. Tsiondizqueoscavaleirosnãonosdeixarãoempazenquantonãoforexterminadaaterçaparte dahumanidade.Vocêpodeimaginarcomoficaráomundo,Cameron? —Sobraráapenasmetadedapopulaçãoquerestoudosdesaparecimentos. —Estamospresenciandoofimdacivilização.TalveznãosejacomoTsionpensa,masestá acontecendoalgumacoisa. Buck nã o disse nada. Chaim nã o havia feito caso de seus argumentos, mas talvez se ele nãopressionassetanto... Rayfordabaixouacabeça.Suavozestavatrêmulaerouca. —T,eunãoseioquedizer. —VocêsoubeoquedizeraBo.Fezdeleum... Rayfordlevantouumadasmã os.—Porfavor,T.Você temrazã o.Eunã oseioqueestava pensandonaquelemomento. —Vocêpareciaestargostando. Rayfordqueriasumirdali.—QueDeusmeperdoe,maseugostei.Oqueestá acontecendo comigo?Parecequeenlouqueci.Emcasa,eupercoasestribeiras.Leah,apessoadequemjá lhe falei,conseguiutiraroquehaviadepioremmim...Nãopossoculpá-laporisso.Tenhosidomuito grosseirocomela.Eunãoestoumeentendendo. —Sevocê seentendesse,já estarialongedaqui.Nã osejatã oduroconsigomesmo,irmã o. Vocêestáestressado. — Todos nó s estamos, T. Até Bo. Você sabe que minha bronca nã o é de hoje. Sempre acheiqueBonãopassadeumsalafrário. —Eleéumsalafrário,Ray.Masétambém... — Eu sei. E o que estou dizendo. No dia em que eu conheci aquele rapaz, ele estava falandomaldoscrentes,e,desdeentã o,crieiumaantipatiaporele.Euqueriacolocá -loemseu devidolugarefiqueifelizquandoaoportunidadechegou.Santinhoeu,hein? Tnãoargumentou.Rayfordentendeuaatitudedele. —Oqueeudevofazeragora?Correratrá sdeBoecomeçaraagircomoumcristã ocom ele? Tsacudiuacabeçaeencolheuosombros. —Seilá.Achoqueomelhorquevocêtemafazerésumirdavidadele.Sevocêmudarseu comportamentoradicalmente,elevaidesconfiar. —Eudeveriaaomenosmedesculpar. —Nã o,amenosquevocê estejaprontoparaprovar,pagandopelainformaçã oqueelelhe deu. —Agoraelepassouaserobomeeuomau? —JamaisvoudizerqueBoé umbomsujeito,Ray.Eutambé mnã odissequevocê é mau. Foivocêquemdisse. Rayfordsentou-secomosombroscurvadosdurantealgunsminutosenquantoTmexiaem suapapelada. — Você é um bom amigo — disse Rayford, inalmente. — Tenho de ser sincero. Outras pessoasnãoteriamsepreocupadocomigo. Tcontornousuamesaesentou-seemumadaspontas. —Achoquevocêfariaomesmopormim. —Comosevocêestivesseprecisando. —Porquenão?Tambémacheiquevocênãoestivesseprecisando. —Bem,dequalquerforma,obrigado.Tcutucou-lhenoombro. —Eentão?OquevocêacertoucomosTuttles?VaipilotarumSuperJ? —Vocêachaqueeusaberia? — Depois de todos os aviõ es que você pilotou? Dizem que quem sabe pilotar um Gulfstream, que é grande, sabe també m pilotar o Super J, um modelo mais rá pido. Talvez um PorscheemrelaçãoaumChevy. —Voupilotaresseaviãocomosefosseumadolescente. —Achoquevocêestáansiosoporisso. A princı́pio, David icou entusiasmado, e, logo a seguir, alarmado quando recebeu um emailpessoaldeTsionBenJudá noinı́c iodanoitedodiaseguinte.Depoisdea irmaraDavidquegostariadeconhecê loantesdoGloriosoAparecimento,Tsionpassouparaoassuntoprincipal. Eu nã o consigo entender tudo aquilo que você é capaz de fazer milagrosamente por nó s comessasuatecnologiagenial.Normalmente,nãomeintrometonosaspectospolíticosdenosso trabalho e nem sequer questiono o que está se passando. Fui chamado para transmitir ensinamentosbı́blicos,equeropermanecerconcentradonessaminhamissã o.ODr.Rosenzweig, de quem tenho certeza você já ouviu falar, ensinou-me muita coisa quando eu lutava para entender botâ nica nos meus tempos de faculdade. Minha especialidade está voltada para histó ria,literaturaelı́nguas;ciê ncianã ofazmeugê nero.Depoisdeesforçosconstantes,resolvi recorrer ao Dr. Rosenzweig. Ele me disse: "A coisa principal é manter a coisa principal como sendoprincipal."Emoutraspalavras,hánecessidadedeconcentração! Portanto, eu estou aqui concentrando-me e deixando para o capitã o Steele e sua ilha a tarefa de organizarem a cooperativa, deixando para Buck a missã o de transmitir furtivamente sua revista, e assim por diante. Mas, Sr. Hassid, temos um problema. Permiti que o capitã o Steelelevasseadiantesuaidé iadeencontrarHattie(seiquevocê está apardesteassunto)sem perguntar-lhe se ele já havia descoberto o que Carpathia sabe a respeito do paradeiro daquela moça. Ningué m,anã oseraspessoasmenosavisadas,acreditaqueelaafundounomardentrode um aviã o. Se a CG permitiu que aquele boato circulasse, é sinal de que eles tê m as cartas na mã o. Meu receio, evidentemente, é que eles agora se sintam livres para descobrir o paradeiro delaematá-la,porque,aosolhosdopúblico,elajáestámorta. A ú nica vantagem que ela leva em ingir que está morta é pô r Carpathia em situaçã o constrangedoraouatémesmoperigosa. Só posso dizer o seguinte: tenho a impressã o de que ningué m que trabalha com você na escutaclandestinaouviufalarqueCarpathiatemconhecimentodeondeelaseencontra.Acho que,paraRayford,teriasidomaisprudenteesperarumpoucoeprocurá -laapenasdepoisdeter acertezadequenãoestariacaindoemumaarmadilhadaCG. Possoserumintelectualparanóicoquedeveriaater-seunicamenteaseutrabalho,mas,se você conhecesseahistó riademinhavida,saberiaquejá fuivı́t imadeviolê nciaporpartedesse sistemamundialdemonı́aco.Eugostariadesaber,Sr.Hassid,seexistealgumapossibilidadede descobrir uma pista, por mais remota que seja, que pudesse ser transmitida rapidamente ao capitã oSteeleantesqueelemergulhecegamenteemumasituaçã odeperigo.Sevocê pudesse ter a gentileza de me con irmar o recebimento destee-mail e me dizer se acredita que existe umainformaçãoqualquerquenospossaserútil,eulheficariaimensamentegrato. NonomeimaculadodeCristo, TsionBen-Judá. Daviddigitourapidamenteumaresposta: Estouemdú vidasobreasprobabilidadesdesucesso(umavezquetenhomonitoradotodas as conversas telefô nicas e transmissõ es por computador do pessoal do alto escalã o e até agora nã o ouvi nada a respeito de Hattie), mas darei total e imediata atençã o a este assunto. CompreendosuapreocupaçãoetransmitireiaocapitãoSteele,pormeiodeseutelefonesigiloso, todas as informaçõ es pertinentes. Eu poderia me estender mais, poré m nã o posso perder um minutosequer. David vasculhou freneticamente seulaptop, acessando o compacto disco rı́gido, entrando no possante computador do palá cio e decodi icando cada arquivo criptografado. Procurou referê ncias aHattie, Darham, HD, assistente pessoal, amante, gravidez, ilho, fugitiva, acidente aéreo,eoutraspalavrasqueconseguiulembrar.Evidentemente,tudooquehaviasidofaladonos escritó rios administrativos durante semanas estava gravado em seu minidisco de alta tecnologia, mas os ú nicos subtı́t ulos que se encontravam ali eram datas e locais. Nã o havia tempo para ouvir tudo o que Fortunato e Carpathia disseram desde que Hattie foi dada como morta. David ligou para Annie, que se dirigiu apressada ao escritó rio de seu noivo. Ele fechou as persianas e trancou a porta para que ningué m do turno da noite pudesse vê -lo andando de um ladoparaooutro,passandoamãonoscabelos. — O que devo fazer, Annie? Tsion tem razã o. Rayford está cometendo um grave erro, mesmoquesejabem-sucedido.Você sabequeaCGestá mantendoHattiecon inadaemalgum lugar ou a matou. Com certeza, há guardas vigiando o local onde ela deve estar escondida. Qualquer pessoa que se atreva a ir atrá s dela, vai ter de enfrentar a CG. Ela nã o passa de uma isca.Rayforddeveriasaberdisto. —Penseemalgumacoisa—eladisse. —Queroquevocêmeajude. — Eu gostaria de ajudá -lo, David, mas concordo que você está procurando uma agulha no... —OqueopessoaldoComandoTribulaçã odosEstadosUnidosestavapensando?QueaCG caiunocontodoacidenteaé reo?Elesdeviamsermaisespertos!Só iqueisabendoqueRayford estava atrá s dela depois que ele já havia partido. Por que ele nã o recorreu a mim, em ú ltima instância,paravasculharoserviçodeinteligênciadaCG? Anniesacudiuacabeça. —Vocêachaqueestámuitoseguro,David? —Oquê? — Você tem acesso aos computadores deles, aos escritó rios deles, ao aviã o deles, aos telefonesdeles.Seráqueninguémaindadesconfioudevocê? — Nã o. A demora na instalaçã o dos computadores poderia ter levantado suspeitas, mas nã opercebinenhumareaçã oemLeon.Seeutivessedeadivinhar,diriaqueelecon iamuitoem mim.Tenhomuitosdedosnofogodeumasó vezepossomequeimar,masporenquantoestou nalistadoshomensdeouro. —Aíestáaresposta,super-homem! —Nãomevenhacomenigmas.Rayfordjáembarcoueestáemplenovôo. —Pergunteaeles. —Comoassim? —FalediretamentecomLeon.Digaaelequeoassuntonã oé dasuaconta,masquevocê tem pensado muito sobre estas notı́c ias do acidente aé reo, que você sempre admirou sua perspicá cia, sua sabedoria, sua esperteza... Você conhece as manhas. Insinue que talvez o acidente nã o tenha acontecido conforme foi divulgado, e diga que gostaria de saber a opiniã o dele. —Annie,vocêéumgênio! CAPÍTULO15 — Você gostaria de ver meus projetos, Cameron? — perguntou Chaim Rosenzweig. — Seráque,depoisdevê-los,vocêficariamaissatisfeito,sesentiriamaismeuamigo? —Comcerteza! — Prometa que nã o vai me achar um maluco, um velho excê ntrico, como meus empregadospensam. Buck o acompanhou. Apesar da opiniã o que os irmã os e irmã s que trabalhavam na casa tinhamarespeitodeChaim,eleestavamuitolúcido. Rayford conheceu os Tuttles, um casal de norte-americanos cujos quatro ilhos adultos foramarrebatados. —Enó sperdemosachance...—disseDwaynenoSuperJ.cruzandooscé usdolestedos Estados Unidos. — O mais velho foi para a faculdade, e achamos que ali se envolveu com religiã o. Até aı́ tudo bem, só que ele começou a pregar aos outros trê s irmã os. De repente, o mais novo passou a freqü entar a igreja també m. Foi bom, mas achamos que ele só estava seguindooexemplodoirmãomaior,seuherói. — Em seguida — prosseguiu Dwayne -, os dois do meio foram convidados para uma atividadedaigreja.Achoqueelesjamaisteriamidoaliseosirmã osnã otivessemseconvertido. Eles começaram a jogar no time de basquete da igreja, passaram uma semana num acampamentoevoltaramsalvos.Homem,eudetestavaessapalavra,eelesausavamotempo todo."Eufuisalva,elefoisalva,elafoisalvo,vocêprecisasersalvo..."Euamavaaquelesrapazes maisdoquetudonavida,mas... Dwayne, que falava muito rá pido, foi tomado subitamente pela emoçã o, e Rayford demoroualgunsinstantesparapercebercomoeleestavacomovido.Agoraaquelehomenzarrã o falavacomvozembargada,esforçando-separanã ochorar.Trudy,sentadanobancoatrá sdele, pousouamãoemseuombro. — Eu amava aqueles garotos — ele disse, com voz entrecortada por soluços -, e nunca tivenenhumproblemacomeles,mesmodepoisquesetornaramreligiosos.Nuncativemesmo, nãoéverdade,Tru? — Eles amavam você , Dwayne — ela disse, pronunciando lentamente as palavras. — Vocênuncaprecisoufazermarcaçãocomeles. —Maselesfizerammarcaçãocomigo.Nãoerapormal,mascomoinsistiam!Eudiziaque tudo estava bem, desde que eles nã o icassem pedindo que eu fosse à igreja com eles. Nunca gostei disso desde criança, me trazia má s recordaçõ es. Eles diziam que aquela igreja era melhor.Eutambé machava,maspediaqueelesmedeixassemempaz.Elesmediziamqueeu eraresponsávelpelasalvaçãodaalmadamãe deles. Aquilo me deixava furioso, mas como a gente pode icar furioso com os pró prios ilhosquando,mesmoestandoerrados,elessepreocupamcomaalmadesuamã eedeseupai? Rayfordconcordou,balançandoacabeça. —Agentenãopodemesmo... — Claro que nã o. Eles continuaram a insistir comigo. Queriam me vencer pelo cansaço. Maseutambé merabomnisso.Eununcacaı́ nalá biadeles.Truquasecaiu,nã ofoimesmo,meu bem? —Eugostariadetercaído. —Eutambé m,querida.Nó ssó ı́amosconheceroSr.Steelenocé u,eeubemquegostaria deirlogoparalá,depoisdetudooqueestáacontecendo.Vocêtambém,capitão? —Eutambém,Dwayne. — Acho que você já adivinhou o resto da histó ria. Antes de resolvermos ir para a igreja, aconteceu a coisa que eles nos disseram que ia acontecer. Eles sumiram. Nó s sobramos. Para ondeagentefoilogoemseguida? —Paraaigreja. —Igreja!Deixamosdesertã oteimosos,nã o?Sersalvonã oeramaisumabobagem.Nã o sobrou quase ningué m daquela igreja, mas a gente só queria encontrar algué m que soubesse o que era preciso fazer para ser salvo. Sr. Steele, eu sou um artista. Bem, na verdade sou um vendedoredemonstradordeaeronaves,massempregosteideteatro,desdeafaculdade.Eume especializeiemimitarvozes. —Macmecontouquevocêimitabemosotaqueaustraliano. —Issomesmo.Elegostou,não? —Nã oseisenaquelemomentoMacestavaemcondiçõ esdegostar,maseletemcerteza dequevocêconseguiuenganarFortunato. —Até umatartarugasurdapoderiaenganaraquelesujeito,Rafe.Você nã oseimportade serchamadodeRafe,não?Gostodeencurtaraspalavrasparatertempodefalarmais.Ésóuma brincadeira,masvocênãoseimporta,nãoémesmo? —Eraassimqueminhaprimeiramulhermechamava.Elafoiarrebatada. —Então,achoquevocênãogostariaqueeu... —Nãosepreocupe,podeprosseguir. — Quero dizer, Rafe, que sou um sujeito comunicativo. Acho que você já percebeu. Um vendedor tem de ser assim. Mas eu nunca deixo de acrescentar um pouco de minha veia artı́stica. Diziam que eu era sincero, determinado, e todos gostavam muito de mim. Só os esnobes nã o gostavam. Quando encontrava pessoas desse tipo, eu usava a palavrasou quando deveriausarsomos,sóparaprovocá-las.Enfim,souumcaraamigo,arrojado,umcara... —Espalhafatosoéapalavraquevocêestátentandoselembrar,querido—disseTrudy. Dwaynedeuumagargalhadacomosetivesseouvidoumapiadapelaprimeiravez. —Está bem,Tru,concordo,souumcaraespalhafatoso.Masvocê temdeadmitirqueeu era uma pessoa que fascinava todo mundo. Só que eu nã o ia à igreja, é verdade. De repente, passei a ir. Estou salvo. Perdi muito tempo e tenho pouco dinheiro, mas estou aprendendo, e é isso o que conta. Ainda vamos sofrer, vamos nos arrepender de nã o ter sido salvos antes, mas, tudobem,agoraestamossalvos.Continuosendoestecaracomuni... —Espalhafatoso. —...espalhafatoso,masagorapasseiasertambé mumcarainsistente.Nã oparodefalar sobre a salvaçã o. Até o nosso pastor diz que nã o entende como eu nã o afugento as pessoas de tanto paparicá -las... o termo é dele, nã o meu... paparicá -las para aceitarem a Jesus. Aprendi essaliçã oquandoeravendedor,masagoraé diferente.Nã osetratadeatingirminhameta,de ganharumaboni icaçã ooudeversepossocomprarounã oumbeloaviã o.Aspessoasprecisam saber, irmã o, que nã o estou vendendo nada. Agora estou falando de salvaçã o de almas. Bem, sempre me empolgo quando falo disso. Gostaria de saber o que eu faria se encontrasse o anticristo.Voulhedizerumacoisa,meuamigo,ou ele me mata ou ele se salva, uma coisa ou outra.Sacou?Bem,fiqueianimadopornãoterdeixadodeserumbrave...brava... —Bravateador—ajudouTrudy. — Certo, fui um bravateador quando vi o ajudante nú m ero um do anticristo naquele dia. Meu coraçã o parecia que ia explodir, nã o posso negar, mas e daı́? Sei que, mais cedo ou mais tarde, eu vou morrer. Gostaria de estar aqui quando Jesus voltar, mas, se eu partir antes, tudo bem.Nodia em que aceitei a salvaçã o, decidi que nunca mais ia me envergonhar de falar de Jesus. Já perditempodemais.Vouvermeusmeninosnovamente,e... De repente, o intré pido Dwayne voltou a emocionar-se. Desta vez, ele nã o conseguiu prosseguir.Trudypousounovamenteamã onoombrodomarido.EleolhouparaRayfordcomo seestivessesedesculpando.Rayfordassumiuoscontroles,eoSuperJdisparoucomoumfoguete nanoiteescura,emdireçãoaoleste. — Que coisa estranha é esta? — perguntou Buck, olhando para uma tira de metal superpolida. Chaim caminhou pé ante pé até a porta e fechou-a. Buck compreendeu que estava tomandoconhecimentodealgumacoisaqueRosenzweigaindanãorevelaraaninguém. — Digamos que seja um passatempo que se tornou uma obsessã o. Nã o tem nada a ver com meu trabalho, e nã o me pergunte o motivo dessa obsessã o. Estou tentando a iar manualmente um objeto de metal de uma forma que ningué m conseguiu até hoje. Sei que existem má quinas grandes com micrô m etros, computadores e raio laser que fazem este trabalho quase com perfeiçã o. Nã o estou interessado em mecanismos arti iciais. Estou interessado em fazer o melhor que posso. Minha habilidade manual ultrapassou minha capacidade de enxergar. Com uma lâ mina presa em uma simples braçadeira instalada em â ngulo,soucapazdedeixá -latã oa iadaquenã oconsigoenxergaro ioaolhonu.Nemmesmo meusexcelentesó c ulosbifocaispodemmeajudar.Precisocolocaralâ minasobumaluzmuito forteeusarumalupa.Acrediteemmim,istoémuitomaisinteressantedoqueaquelascriaturas que você e eu analisamos sob a lupa um ano e meio atrá s. Aqui está , veja. Chaim entregou a lupa a Buck e apontou para uma lâ mina brilhante, de cerca de um metro de comprimento, presaentredoistorninhos. — Tome muito cuidado, Cameron, para nã o tocar no io da lâ mina. Digo isto porque é muitoperigoso.Antesdesentiro iodalâ minaencostaremsuapeleecomeçaradoer,você já teráperdidoumdedo. Depois desta advertê ncia, Buck olhou a lâ mina atravé s da lupa e icou atô nito. O io pareciamuitasvezesmaisfinodoqueodequalquerlâminadebarbearqueelejávira. —Puxa!—eledisse. — A parte mais interessante é esta aqui, Cameron. Afaste-se um pouco, por favor. O materialé aço-carbonosuper-resistente.Parece lexı́velcomoumalâ minadebarbearporqueé a iadomicroscopicamente,masé rı́gidoeforte.Você sabeporqueumafacacomumperdeo io comouso?Eporquequantomaiselaé a iadamaisrá pidasedeteriora?-Buckassentiucoma cabeça.—Observeisso. Rosenzweigtirouumatâmarasecadobolso. —Umpetiscoparamaistarde—eleexplicou.—Masestaaquiaindanã ofoilimpaenã o quero lavá -la. Tenho outras, portanto esta vai servir para você entender melhor o que estou dizendo.Observe. Ele segurou a tâ mara delicadamente pela pontinha, entre o polegar e o dedo mé dio. Em seguida,levou-alentamenteecomextremocuidadoaté o iodalâ mina,colocandoapalmada outramãoporbaixo.Ametadeinferiordatâmaracaiunamãodele,dandoaimpressãodequea frutanãohaviasequerencostadonofiodalâmina. —Agoravoulhemostrarmaisumacoisa.Rosenzweigolhouaoredordocômodoapinhado debugigangaseavistouumaboladepano,secaedura,esquecidaporali.Elesegurouabolade cerca de sete centı́m etros de diâ metro acima da lâ mina e soltou-a. Buck levou um susto, nã o querendo acreditar no que acabara de ver. A bola havia se partido ao meio sem produzir nenhumsome,aparentemente,semoferecernenhumaresistência. —Vocêtambémviuoqueaconteceucomafruta—disseRosenzweig,comumbrilhonos olhos. —Éespantoso,doutor—disseBuck.—Mas,porquê?Chaimsacudiuacabeça. —Nã omepergunte.Nã osetratadeumsegredodeEstado.Nemeumesmoseiexplicaro quesepassacomigo. Nofinaldaquelatarde,DavidapareceunasaladeesperadoescritóriodeLeonsemavisar. — Eu gostaria de falar um minuto com o comandante, se for possı́vel — ele disse a Margaret,queestavaseaprontandoparairemboradepoisdeumlongodiadetrabalho. —DavidHassid?—disseLeonemvozaltapelointerfone.-Claro!Mande-oentrar. QuandoDavidentrounasala,Leonlevantou-se. —Querosabersevocêjáconseguiualgumacoisasobreaoperaçãorastreamento. — Infelizmente nã o — disse David. — Aquela gente deve estar usando algum tipo de tecnologiadaqualninguémaindaouviufalar.Voltamosaopontodepartida. —Sente-se—disseFortunato. —Nã o,obrigado—disseDavid.—Sereirá pido.Osenhorsabequenã otenhoohá bitode aborrecê-locom... —Porfavor!Soutodoouvidos! —...assuntosquenã odizemrespeitoameudepartamento.AreceptividadedeFortunato terminouali. — E claro que, em minha posiçã o, tomo conhecimento de muitos assuntos con idenciais quenãoposso... —Tenhoumasugestãoafazer,emboraoassuntonãomedigarespeito. —Prossiga. —Bem...amorterecentedaex-assistentepessoaldeSuaExcelência... Fortunatosemicerrouosolhos.-Sim? —Foiumatragédia,éclaro... —Sim... —Bem,senhor,nãoerasegredoparaninguémqueaquelamulher,aSrta.Dunst... —Durham.HattieDurham.Prossiga. —...estavagrávidaenãosesentiafelizcomisso. — A verdade, Hassid, é que ela estava tentando extorquir dinheiro de nó s para manter segredodagravidez.SuaExcelê nciaachouquedeviarecompensá -lapelotempoqueeles...que elespassaramjuntosepagou-lheumaquantiagenerosa.ASrta.Durhamdeveterentendidoque aquele dinheiro lhe foi oferecido em troca de seu silê ncio, mas nã o foi. Veja, ela nunca se preocupou em guardar segredo de coisas que pudessem ameaçar a segurança internacional, nunca ocultou histó rias, verdadeiras é claro, que pudessem constranger o potentado. Portanto, quando ela exigiu mais dinheiro, nó s recusamos. Sou forçado a dizer que ela nã o icou nem um poucofeliz. — Obrigado, senhor. O senhor me contou muitas coisas que eu nã o precisava tomar conhecimento, mas ique descansado. Vou guardar segredo. Eu só queria perguntar sobre o acidentecomoaviã o,masagoraissodeixoudeserrelevante.Agradeçootempoqueosenhor gastoucomigo. —Não,porfavor.Possolhecontartudooquevocêdesejasaber. —Sinto-meumpoucoconstrangido,porque,conformeeudisse,seiqueoassuntonã ome dizrespeito...nãoédaminhaconta.Pensandomelhor,achoquenãodevoinsistir. —Porfavor,David.Queroconhecerseuspontosdevista. —Está bem.Seique,tendoalgué maquicomsuacompetê nciaeperspicá cia,nã ohaveria necessidadedequeeumepreocupassecomsegurançaourelações-públicas... —Todosnósdevemosnospreocuparotempotodocomessascoisas. —Tiveaimpressã odequeorelató riosobreamortedelafoimeiosuspeito.Querodizer, talvez eu tenha lido muitos romances de misté rio, mas a histó ria nã o foi um pouco inconsistente? Algué m encontrou os destroços do aviã o, os corpos? Alguns poucos objetos pertencentesaelaseriamsuficientesparaprovarqueelamorreu? — Sente-se, David. Eu insisto. Seu raciocı́nio tem ló gica. A verdade é que o tal acidente comoaviãoemqueaSrta.Durhamviajavanuncaaconteceu.Assimquerecebemos a notı́c ia, pedi ao chefe do serviço de inteligê ncia que investigasse os fatos. A Srta. Durham, seu piloto amador e o aviã o foram rapidamente localizados. O piloto agiu de modo imprudente, fugindo quando nosso pessoal pediu para interrogar a Srta. Durham. Infelizmente, ele foi morto em uma troca de tiros. Você entende que, por motivos de segurança e princı́pios morais,nemtodososincidentessãodivulgadosàimprensa. —Claro. —ASrta.Durhamestásobcustódia. —Custódia? — Ela se encontra em um local confortá vel e seguro em Bruxelas, protegida pela falsa notı́c ia de sua morte. Essa moça nã o representa uma ameaça à Comunidade Global, mas estamos preparando uma armadilha que nos leve até o local onde os companheiros dela a esconderam.Elaserásoltaassimqueconseguirmospegá-los. —Companheirosdela? — Antigos funcioná rios da CG e simpatizantes de Ben-Judá proporcionaram-lhe asilo quando a presença dela foi exigida em Nova Babilô nia. Eles representam uma ameaça muito maiordoqueela. — Quer dizer que ela se tornou uma isca sem querer e é responsá vel pelo que lhe aconteceu. —Exatamente. —Eessaarmadilha,foiidéiadosenhor? —Aquinóstrabalhamosemequipe,David. —Masaidéiafoisua,não?Parececoisadeumapessoainteligentecomoosenhor. Fortunatoergueuacabeça. — Nó s nos cercamos de gente muito boa, e, quando ningué m se importa de receber o mérito,seconseguemuitacoisa. —Masaidéiadeprepararumaarmadilhaparaoscompanheirosdelafoisua. —Acreditoquepodetersido. —Edeucerto? —Aindanã o.Ningué msabedamortedopiloto.Mandamosavisaroirmã odele,cú m plice nessahistória,dizendoqueeleestavaescondidoequenãodarianotíciasporváriosmeses. —Brilhante! Fortunatoassentiucomacabeça,dandoaentenderquenãopodiacontestar. — Nã o vou mais tomar seu tempo, comandante. De agora em diante, vou tirar esse tipo depreocupaçãodacabeça,porqueseiqueosenhoreseupessoalestãotomandocontadetudo. — Nã o se sinta constrangido. Sempre que você tiver alguma dú vida, nã o hesite em perguntar. Depositamos muita con iança em uma pessoa de seu nı́vel e com alto grau de responsabilidade.Poucaspessoastêmacessoaessasinformações,éclaro,portanto... — Nã o precisa dizer nada, senhor — disse David, levantando-se. — Nã o tenho palavras paraexpressarminhagratidão. Rayford pilotou um grande trecho sobre o Atlâ ntico, o que nã o serviu para diminuir a verborragiadeDwayne.Emboragostassedeouvi-lopapaguear,RayfordqueriaconhecerTrudy um pouco mais. Quando chegou o momento de devolver os controles a Dwayne, Rayford resolveuligarparaAlbie(abreviaçã odeAlB.,nomeque,porsuavez,haviasidoabreviadodeAl Basrah).Albieeraochefedocontroledotrá fegoaé reodeAlBasrah,umacidadelocalizadano extremo sul do rio Tigre, perto do Golfo Pé rsico. Ele era conhecido por muita gente como o melhor elemento no mercado clandestino. Mac o apresentara a Rayford, e foi Albie quem forneceu o equipamento de mergulho para Rayford explorar o fundo do rio Tigre à procura dos destroçosdeumavião. Albie, um muçulmano devoto, detestava o regime de Carpathia e era um dos poucos gentios nã o-cristã os que resistiam bravamente à Fé Mundial Enigma Babilô nia. Seus negó c ios eram simples. Para as pessoas em quem con iava, ele fornecia qualquer coisa, desde que recebesse dinheiro em troca. O dinheiro servia para cobrir o preço da mercadoria e das despesas,e,sealgué mfossepegocomocontrabando,elea irmavaquenuncaouvirafalardessa pessoa. Naquelemomento,DwayneestavasurpreendentementequietoenquantoTrudycochilava. Rayford vasculhou sua sacola e pegou seu celular fenomenal — termo que Mac usava para descreverotelefonemontadoporDavid,porqueocelularfaziadetudoetransmitiadequalquer lugar. DwaynesónotouocelularquandoouviuotelefonedeAlbietocando. —Istoé oqueeuchamodetelefone!Quemaravilha!Sim,é umtelefoneetanto!Aposto queeleécapazdecaptarruídosquenuncaouvie... Rayfordlevantouamãopedindosilêncioedisse: —Daquiapoucoeudeixovocêexaminá-lo. —Nãovejoahora,parceiro.Comcerteza,voudarumaolhadanele. —TorredeAlBasrah,Albiefalando. —Albie,éRayfordSteele.Podemosconversar? —Aquatronósdoleste.Qualésuaposição? —Queromeencontrarcomvocêparatratardeumacompra. —Positivo.Sintopelofracassodamissãoanterior.Eoco-piloto? —Macestáserecuperando.Tenhocertezadequevocêjáouviufalarsobre... — Positivo. Aguarde um minuto, por favor. — Albie cobriu o fone com a mã o, e Rayford ouviu-o conversando em sua lı́ngua. Em seguida, ele retornou. — Agora estou sozinho, Sr. Steele.Lamentomuitooqueaconteceucomsuaesposa. —Obrigado. — Tenho andado muito preocupado com Mac. Fiquei sem notı́c ias dele por uns tempos. Agoraqueelepassouacapitã o,nã oestá maisprecisandomuitodemeusserviços.Oqueposso fazerpelosenhor? —Precisodeumaarma,pequenaparaserescondida,maspoderosa. —Emoutraspalavras,osenhorquerumacoisaquefaçaaquiloqueelaprecisafazer. —Vocêentendeuemaltoebomsom,Albie. —Muitodifícil.Opotentadoéumpacifista... —Oquesignificaquevocêéoúnicofornecedordeconfiança. —Muitodifícil. —Masnãoimpossívelparavocê,certo? —Muitodifícil—disseAlbie. —Carodemais,éoquevocêquerdizer? —Agoravocêestámeentendendoemaltoebomsom. —Seodinheironãoforproblema,vocêteriaalgumacoisaemmente? —Quandoosenhordizqueelaprecisaserescondida,oqueissosigni ica?Quepossapassar pordetectoresdemetalsemsernotada? —Épossível? —Só seforfeitademadeiraeplá stico.Duasseqü ênciasdedisparos,trê sviolentos,aı́ ela sedesintegra.Alcancelimitado,éclaro,atéseismetros. —Precisodeumaquealcancemaisoumenos30metros.Umsódisparo. — Sr. Steele, eu posso conseguir-lhe uma. E mais ou menos do tamanho de sua mã o. Pesada,mascerteira.Opesoé porcausadomecanismodedisparo,quenormalmenteé usado emriflesdetamanhogrande. —Quetipodeação? —Exclusiva.Usainjeçãoporcombustívelevácuohidráulico. —Parecemaisummotor.Nuncaouvifalardecoisasemelhante. —Equemjáouviu?Eladisparaumprojétiladuasmilmilhasporhora. —Munição? —Calibre48,altavelocidade...pontamacia,cônica. —Emumapistola? —Sr.Steele,odeslocamentodearcausadopelarotaçã odabalaé su icienteparacausar umgraveferimentonotecidodocorpohumanodemaisoumenoscincocentímetros. —Nãoestouentendendo. — Um homem foi alvejado com uma dessas pistolas a uma distâ ncia aproximada de dez metros. O tiro rasgou a pele dele e feriu o tecido subcutâ neo do braço. Os mé dicos nã o encontraramnenhumresı́duodemetalnotecido.Oferimentofoicausadopelodeslocamentode arprovocadopelarotaçãodabala. —Quecoisa!Vocêfalouoqueeuqueriaouvir.Valequanto?Muitomaisdecem? —Milhares. —Mil? —Eudissemilhares,noplural,meuamigo. —Quanto? —Dependedolocaldeentregaousevocêvembuscaromaterial...oqueeuprefiro. David estava frustrado. Ele havia corrido até seu quarto para ligar para Rayford, mas o telefone estava ocupado. Aquele telefone emitia um sinal quando havia outra pessoa tentando completar uma ligaçã o. David també m instalara um dispositivo que fazia o telefone tocar mesmo quando estivesse desligado, desde que o usuá rio o deixasse na posiçã o de "inativo". Rayfordsemprefaziaisso.Elefeznovaligação.Continuavaocupado. —Eunã otinhaaintençã odeescutarsuaconversa,capitã o,masentendiquevocê estava encomendando uma arma. Gostei de ver que você nã o se importa, mesmo sabendo que isso é ilegal.Nãoestamosdebaixodasleisdoanticristo. —Éassimqueeupenso.Vocêqueriaverotelefone,não? —Ah,sim,obrigado.Querodarumaolhada. Dwayneexaminouminuciosamenteotelefoneecolocou-onapalmadamão. —Ébempesado.Devefazerdetudo,atéprepararseudesjejum,estoucerto? —Atéisso,sónãofazovosmexidos. —Ahá !Você ouviuoqueeledisse,Tru?Oh!—Elecolocouamã onabocaquandoviuque sua esposa estava dormindo. Em seguida, cochichou. — Este modelo aqui é daqueles que enviamerecebemligaçõesdequalquerlugar,nãoémesmo? — E isso aı́. O melhor de tudo é que ele é sigiloso. Usa quatro canais diferentes por segundo,porissonãopodeserrastreadonemgrampeado.Éamaravilhadasmaravilhas. —Vocêcostumaguardá-lonasacola?—perguntouDwayne. —Sim. Dwaynefechouoaparelhoeesticouobraçoparatrá sa imdecolocá -lodevoltanasacola de Rayford. Depois de re letir por alguns instantes, ele resolveu desligar també m o botã o que desativavatodasasfunçõesdotelefone. —Daquiemdiante,podedeixarporminhaconta—disseDwayne,assumindoocontrole doaviã o.—Seiqueestoumetendoonarizondenã odevo,masvocê poderiamedizeroquevai fazercomumapistolatãopoderosa? Rayford pensou por alguns momentos. Ele havia se acostumado a abrir-se com qualquer companheiro crente, até mesmo para falar de assuntos do Comando Tribulaçã o. Ele apenas tomava o cuidado de nã o revelar o local da casa secreta ou contar o nome falso de um dos membrosdoComandoparaqueointerlocutornã oviesseasofrerporcausadeumainformaçã o que nã o necessitava saber. A arma, poré m, era um assunto pessoal que causava muito sofrimento a Rayford, porque ele sabia muito bem de onde ia tirar aquele dinheiro todo para comprá-la.Naquelemomento,elenãopodiaimaginarseconseguirialevarseuplanoatéofim. —AComunidadeGlobaltalvezsejapaci istaeestejadesarmadaporforçadeumalei— eledisse.—Masperdemosumpilotoemumtiroteio,equasetodosnó sjá estivemosnalinhade fogo, pelo menos uma vez, e alguns foram alvejados. Atiraram em Buck e Tsion quando eles estavam fugindo de Israel pelo Egito. Buck foi atingido. Buck també m foi perseguido quando ajudava Hattie a fugir de um hospital daCG no Colorado. Nossa mais nova companheira e eu escapamosdeumtiroteiorecentemente.EvocêsabeoqueaconteceucomMaceAbdullah. —Estouentendendo,irmã o.Nã otenhoargumentosparacontestar.Noentanto,achoque ficariamuitocaroequiparcadaumdevocêscomarmasdessetipo. —Euvoutestá-laemprimeirolugar—disseRayford. — Boa idé ia. E claro que os dois ú ltimos que você mencionou nunca vã o poder portar armasemserviço.Seriabomsecadaumdelestivesseumaarmaescondidanoavião. — Fizemos isso quando eu era capitã o doComunidadeGlobalUm. Tı́nhamos duas pistolas guardadasnocompartimentodecargas.Oacessoaelaseramuitodifı́c il,masterı́amosdeusá lascomoúltimorecurso.Agoraelasnãoexistemmais. — A propó sito, Rafe — disse Dwayne, apontando para o horizonte -, aquilo ali é o que chamamosdesolnoramodaaviaçã o.Nossachegadaestá previstaparadaquia40minutos.A alfâ ndegadeLeHavreé muitoexigentequandoalgué mchegalá pelaprimeiravez.Você temo carimbodevistobritâniconopassaporte? Rayfordassentiucomacabeça. —EujápergunteiquemvocêéhojeeporqueoajudeiaatravessaroCanaldaMancha? Rayfordpegouseupassaporteeabriu-o. —ThomasAgee.Importaçã o/Exportaçã o.Evocê ,quemé ?Dwaynesorriuemostroudois passaportesdaUniãodas Naçõ es Britâ nicas, dizendo com um sotaque inglê s arcaico. — As suas ordens, senhor. Rayfordleuemvozalta. —IanHill.Onomedaesposaé...Eiva.Muitoprazeremconhecê-los. David nã o ouvia mais o sinal de ocupado. Ele discou novamente, desta vez com muito cuidado,parateracertezadequenã ohaviaerrado.Onú m eroestavacorreto.OuRayfordnã o podia ouvir o toque ou o telefone tinha sido totalmente desativado. David ligou para Tsion e o despertou. Algué m teria de entrar em contato com aquele aviã o em uma freqü ência livre. E rápido. CAPÍTULO16 Buck estava cansado por causa da longa viagem e por ter icado acordado até tarde conversando com o Dr. Rosenzweig. Ele havia passado grande parte da noite tentando convencerChaimaaceitaraCristo. —Éporestemotivoqueestouaqui—disseBuckaseuamigo.—Vocênãodeveadiarsua decisã o. Já nã o é mais criança. Os julgamentos e os ais vã o piorar cada vez mais até o im. Talvezvocênãosobrevivaatélá. Chaim,deitadonosofáemfrenteaBuck,quaseadormeceraporváriasvezes. — Estou em uma encruzilhada, Cameron. Só posso dizer-lhe uma coisa: deixei de ser agnó stico.Qualquerpessoaqueseconsidereagnó sticaé mentirosa.Reconheçoagrandebatalha sobrenaturalentreobemeomal. Buckinclinou-separaafrente. —Eentã o,doutor?Você continuaneutro?Neutralidadesigni icamorte.Neutralidadenã o levaanada.Vocêfingedeixaroassuntoparaosoutrosresolverem,masvaiacabarperdendo. —Existemmuitascoisasqueeunãoentendo. — Quem, alé m de Tsion, entende grande parte do que está acontecendo? Somos todos novatos no assunto, tateando para descobrir o caminho. Você nã o precisa ser um teó logo. Precisaapenasconheceroselementosbá sicos,eissovocê conhece.Aperguntaé aseguinte:o quevocê fazcomtudooquesabe?Oquevocê fazcomJesus?Eleé odonodesuaalma.Elequer você , e tem tentado de tudo para convencê -lo. O que mais é necessá rio, Chaim? Você precisa ser pisoteado pelos cavalos? Precisa ser sufocado com enxofre, ser queimado? Você quer viver aterrorizadopelorestodavida?Chaimsentou-senosofáesacudiuacabeçatristemente. — Doutor, vou ser bem claro. A vida nã o vai icar mais fá cil. Nó s perdemos a primeira oportunidade. A situaçã o vai piorar para todos nó s. E os crentes vã o sofrer mais do que os incrédulosporqueestáchegandoodia... —Eujá conheçoessaparte,Cameron.SeioqueTsiondizarespeitodamarcanecessá ria paracomprarouvender.Evocêaindavemmedizerqueminhavidavaiserpiordoquejáestá. — Estou lhe dizendo a verdade. Sua vida vai piorar, mas morrer será a melhor coisa que lhe poderá acontecer! Nã o importa como será a sua morte, você acordará no cé u! E se sobreviver até o dia do Glorioso Aparecimento... imagine só ! Estas sã o as opçõ es dos crentes, doutor. Morrer e estar com Cristo, só retornando quando Ele retornar. Ou sobreviver até seu aparecimento. —Chaim—prosseguiuBuck-,queremosquevocê passeparaonossolado.Queremosque seja nosso irmã o, agora e para sempre. Nã o podemos imaginar perdê -lo, sabendo que você estará separadoparasempredoDeusqueoama.—Bucknã oconseguiuconteraslá grimas.— Chaim,seeupudesse,trocariadelugarcomvocê!Vocênãosabeoquesentimosporvocê,oque Deussenteporvocê?Jesusassumiuoseulugarparaquevocênãotivessedepagaropreço. Chaim ergueu os-olhos e surpreendeu-se ao notar lá grimas nos olhos de Buck. O aviso alarmante parecia ter aberto caminho para que Chaim começasse a compreender. Talvez ele nã o conhecesse a profundidade do amor que o Comando Tribulaçã o lhe dedicava. Buck sentia comoseestivessedefendendoacausadeDeussemapresençadeDeus.Deusestavaali,é claro, mas,aparentemente,muitodistantedeChaim. —Vougarantiravocê omesmoquegaranticertavezaTsion—disseChaim.—Nã ovou ter a marca de Nicolae Carpathia. Mesmo que eu tenha de morrer de fome por assumir essa posiçã o, ningué m me forçará a estampar uma marca, só para viver como um homem livre nestasociedade. Buckachouqueaquilojá eraumbomcomeço,masnã oosu iciente.Elechorounoquarto de hó spedes até adormecer, orando por Chaim. As 9 horas, ele continuava exausto. Esperava poderdarumaolhadanasduastestemunhas,masprometeraaChloeque,naviagemdevolta, visitaria Lukas Miklos na Gré cia. O novo amigo, a quem eles chamavam de Laslos, seria o contatoprincipalqueacooperativaterianaquelapartedomundo. O reló gio marcava 7 horas em Le Havre quando Rayford e os Tuttles passaram pela alfâ ndega como Thomas Agee e lan e Eiva Hill. Trudy foi encarregada de alugar um carro e apresentar-se no Le Petit Hotel, localizado no sul da cidade, onde eles haviam reservado dois quartos.Ohoteleracaro,massualocalizaçãonãoatraíaolharescuriosos. DwayneusariaoutrocarroalugadoparadeixarRayfordadoisquarteirõ esdedistâ nciada Rua Marguerite, onde Bo Hanson dissera que Hattie e o irmã o dele estavam escondidos sob nomes falsos. Rayford planejava simplesmente bater no apartamento e dizer, pela fresta da porta, que a CG estava atrá s dos dois e que eles deveriam sair dali. Rayford acreditava que Hattie deduziria que Bo lhe fornecera o endereço e, portanto, a histó ria sobre a CG devia ser verdadeira. Se eles estivessem preparados para fugir imediatamente, Rayford lhes ofereceria umacaronaparainstalá-losemumhoteldiscreto. OstrêsseencontrariamcomDwayneeimprovisariamalgumacoisa.Nomomentoemque entrassemnocarroounomeiodocaminho,RayfordeDwayneselivrariamdeSamuelHanson, deixando-oà pró priasorte.Eletinhaumaviã o.DepoisqueretornassemaosEstadosUnidos,eles seexplicariam. Rayford queria surpreender Hattie e Samuel logo ao amanhecer, portanto ele e Dwayne alugaram o primeiro carro que encontraram. Depois de um rá pido adeus a Trudy, que se encarregou de colocar todas as sacolas no carro que ela alugara, eles partiram. Dwayne apresentavaumaidéiaatrásdeoutrasobrecomoludibriarSamuel. — Você tem certeza de que deseja ir fundo nesta operaçã o do Comando Tribulaçã o? — perguntouRayford. — Você está querendo brincar comigo? Estou sempre atrá s de um pouco de aventura desde que fui salvo. Preste atençã o, podemos nos livrar desse rapaz assim que entrarmos no carro.Você pedeaelequedesçaporalgunsminutosporquetemumassuntoparticularatratar com ele. O assunto pode ser o irmã o dele. Você se afasta com ele do carro e, em seguida, diz queesqueceuumpapelládentro.Vocêentracorrendonocarro,euaceleroevamosembora. —Talvezdêcerto—disseRayford. — Que tal esta outra idé ia? — disse Dwayne, enquanto seguia as instruçõ es de Rayford sobre o trajeto a ser feito. — Assim que você conseguir trazê -los até o carro, eu faço algumas mesurasevocê meapresentaosdois.Euabroaportaparaamoçaepeçoaelaqueentre.Em seguida, dou um safanã o nesse tal de Hanson. Ele rola uns seis metros pelo chã o, sem se machucar.Assimqueelesedercontadoqueaconteceu,jáestaremoslonge. Rayford analisou o mapa da cidade e o bilhete de Bo. — Eles estã o usando os nomes de JamesDykeseMaeWillie.Àsvezesagente... —Tenhoumaoutraidéia—disseDwayne,masRayfordointerrompeu. — Nã o quero ofendê -lo, Dwayne, mas a maneira como vamos agir nã o me preocupa, desdequeagenteconsigaoquedeseja. —Vocêdeveterumplano. —Tenhomuitos.Seeuacharquenã odevoconvidá -loasairdocarro,você saberá oque fazer. —Éissoaí,parceiro. O desespero tomara conta de David. Já se encontrava no meio da manhã em Nova Babilô nia.EleeMacestavamreunidossecretamentenoescritó riodopiloto.Davidprogramara seu telefone sigiloso para discar o nú m ero de Rayford a cada 60 segundos e deixar uma mensagem digital que dizia simplesmente ABORTE, acompanhada do nú m ero do celular de David. —Seeusoubessequeacoisaseriaassim—disseMac-,euteriavoadoaté aFrançapara impedirRayforddelevarseuplanoadiante. David, sem saber o que fazer, ligou seu computador para ouvir as conversas telefô nicas gravadas entre Leon e o chefe do serviço de inteligê ncia, Walter Moon, no dia anterior, no pró prio dia e no dia seguinte ao comunicado sobre a morte de Hattie. Quando ele conseguiu ouviralgumacoisaútilquepoderiaajudarRayford,suasensaçãodemal-estaraumentou. —Istovaiservirparapioraroseudia,Mac—Presteatenção.ÉumaconversaentreLeon eMoon. —OquevocêpretendefazernocasoDurham,Wally? —Jáestáfeito,comandante.Elafacilitouascoisas.Faztempoqueestamostentando... —Fazmuitotempo.Oqueestáfeito?Oquevocêfez? —Conformeeudisse,já noslivramosdopiloto.EleestavausandoonomefalsodeDykes, masrastreamosoaviãoelocalizamosSamHanson,emLouisiana. —Quandovocêdizquejáselivraramdo... —Você quersaberounã o?DigamosqueSamjá viroupicadinho.Abonecaestá emcana emBruxelas.ElaestavausandoonomedeMaeWillie,edecidimosmanteressenomenaprisã o paraqueelapossa icarnoanonimatolá dentro,sequiser.Seiqueochefã o...desculpe,Excel... SuaExcelêncianãoquerbarulhoarespeitodisto. —Correto.Mas,quemacreditariaqueelaéHattieDurham?Elafoidadacomomorta. —Efoielaquemfezisso.Agentepodiadeixá-lanaBélgicaparasempre. —Quevantagemlevamosnessahistória? —Mandamosaoúnicoparentevivodopiloto,oirmãodele,umbilhetequeparecetersido escrito por Sam, dizendo que icaria na França por uns tempos e que o irmã o nã o deveria se preocuparsenã orecebessenotı́c iasdele.Imaginamosque,comopassardotempo,oirmã ovai descon iar de alguma coisa ou perder a paciê ncia e sair à procura dele. Só esperamos que os amiguinhos da moça saibam do paradeiro dela pelo irmã o, porque temos uma surpresa para eles. —Estououvindo. —Pusemosumcaranoapartamentoquevaiseidenti icarcomoDykes.Noinı́c io,elevai criarcaso,masdepois vai prometer informar qualquer coisa que souber sobre Hattie. Eles vã o cair como patinhos,seéquevocêestámeentendendo. —Excelente,Wally. Macabanouacabeça,aborrecido. — Você está mantendo Tsion informado? Rayford está se metendo em um vespeiro, e aquelagentedelá,principalmenteafilhadele,deveestarpreparada,casoelenuncamaisvolte. David assentiu e pegou o telefone, que começou a tocar. Ele apertou a tecla de identificaçãodechamadas. —Éele! Macinclinouocorpoparaouvir,eDavidapertouateclaparaconversarcomRayford. —CapitãoSteele,ondeosenhorestá?Estoutentandoligarparaosenhor... — Sinto muito, senhor. Aqui fala a Sra. Dwayne Tuttle. Pode me chamar de Trudy. Meu maridoeocapitã oSteelemeincumbiramdedarentradanohoteletomarcontadabagagem. Viestetelefonenasacoladocapitã oeliguei-oapenasporcuriosidade.Sintomuito.Há dezenas e dezenas de mensagens para ele, todas vindas do mesmo nú m ero com o seguinte recado: ABORTE.Acheiquedevialigar. —Muitoobrigado,madame.OndeestáRayf...ocapitãoSteelenestemomento? —EleemeumaridoestãoacaminhoparatentarencontraraSrta.Durham. —Seumaridotemcelular? —Não,senhor,elenão... —Existeummeiodeentrarmosemcontatocomeles? —Tenhooendereçodolocalparaondeelesestã oindo.Talvezvocê squeiramligarparaa moça. Macpegouotelefone. —Madame,meunomeéMacMcCullum.AsenhoraselembrademimnaÁfrica? —Sim,senhor,comovai... — Trudy, preste atençã o e faça exatamente o que vou dizer. Trata-se de um assunto de vidaoumorte.Vocêconheceacidadeondeestá? —Sódoaeroportoatéaqui. — Pegue um mapa na recepçã o e peça que algué m lhe informe qual o caminho mais rá pidoaté oendereçodeHattie.Dirija-separalá imediatamente.Nã odeixequeningué mtente impedi-la, diga que explicará mais tarde. Você precisa pedir ao capitã o Steele que aborte. Ele vaientender. —Queaborte,sim,senhor. —Algumapergunta? —Não,senhor. —Façaistoagoramesmo,Trudy!Eligueparanósinformandooqueaconteceu. Dwayne passou de carro diante do endereço da rua Marguerite e parou um quarteirã o e meioadiante. —Lugarzinhosujoeste,não?—comentouDwayne. —Éperfeitoparaoqueelesquerem—disseRayford.—Estouimpressionado.Talvezseja oqueelesconseguiramdemelhornestahistó riadesastrosa.Vamosaguardarumpoucoparaver seelachegaousai. Apó sdezminutos,Rayfordcomeçoua icara litoaoverqueapenasduaspessoashaviam saídodoprédio,enenhumadelaseraHattie. —Seeunãovoltaremcincominutos,váatrásdemim-eledisseaDwayne. —Eseelesestiveremarmados? — Duvido. Se Sam for tã o inteligente quanto o irmã o, ele nã o sabe de que lado deve apontaraarma.EHattieficariapreocupadaemquebrarasunhas. Rayford, poré m, gostaria de estar portando a arma que Albie descrevera. Ele jamais atirariaemHattie,enã osearriscariaasofrerasconseqü ênciasporteracertadoumsujeitotã o bobalhã ocomooirmã odeBoHanson.Amissã onã oseriatã operigosa,eleimaginou.Hattieo deixaria entrar. Se nã o deixasse, ele tinha forjado uma histó ria sobre Sam Hanson para convencê-la. No pré dio de trê s andares, havia trê s conjuntos de dez caixas de correio embutidas na parededosaguã o,ondenã ohavianenhumporteiroouvigia.Rayford icousurpresoporelesnã o teremescolhidoumedifı́c iocomsistemadeinterfones.Eleleu"J.Dykes"nacaixanú m ero323e subiu. A escada entre um andar e outro era composta de quatro lances de degraus. Quando chegouaoúltimoandar,Rayfordestavaofeganteecomdornojoelho.Oapartamento323ficava nafrentedopré dio,à esquerda.Talvezalgué motivessevistoquandoeleentrounopré dio.Sam eHattiepoderiamtervistoocarropassandonarua. Rayfordserecompô seavistouobotã odacampainhaemumacaixademetalnomeioda porta do apartamento. Ao apertá -lo, ouviu um forte toque de dois sons, que se poderia escutar també mnosoutrosapartamentosdoandar.Rayfordpercebeuummovimentodooutroladoda porta, mas ela nã o foi aberta. Quando ele fez mençã o de apertar novamente o botã o, teve a certezadequehaviaalguémládentro.Talvezapessoaestivessesevestindo. —Nãoseapresse—elegritou.—Possoaguardar. Ele imaginou que algué m tivesse andando pé ante pé até a porta para ouvir. Nã o havia olho má gico. Quem quer que estivesse ali, deveria estar prestando atençã o para saber se ele haviadesistido.Eleapertouobotãorapidamente. —Quemé?—Avozeraadeumhomem. —TomAgee. —Quem? —ThomasAgee. —Nãoseiquemé. —Souamigodamulherquemoraaí. —Aquinãomoranenhumamulher.Sóeu. —MaeWillienãomoraaí?Silêncio. —Porfavor,possofalarcomMae?Digaaelaqueéumamigo. Rayfordouviuosominconfundı́veldeumapistolasemi-automá ticasendodestravada.Ele virou-se. Talvez tivesse vindo da escada, mas a porta abriu-se abruptamente e um jovem musculoso apareceu, colocando uma das mã os em suas costas. Ele estava descalço e sem camisa,usandoapenascalçajeans. Rayforddecidiuenfrentá-lo. —Possoentrar? —Quemvocêdissequeestavaprocurando? —Vocêouviu,senãonãoteriaabertoaporta.Ondeelaestá? —Eujálhedisse,morosozinhoaqui.Oquevocêquercomela? —Comquem?Comamulherquenãomoraaqui? —Desembuchelogoousumadaqui. —VocêéSamuelHanson? Orapazolhoufirmeparaele. —MeunomeéJimmyDykes. —Entã ovocê éSamuelHanson.Ondeestá HattieDurham?Orapazcomeçouafechara porta. —Vocêbateuemportaerrada,cara.Nãoháninguémaquicomesse... Rayfordavançouecolocouumdospésentreaportaeobatente. — Se eu bati em porta errada, como eu sabia o seu nome verdadeiro e o de Hattie? Vamos,querofalarcomela. "Dykes"pareciaestarrefletindo. —VocênãoédaCG,é? —SouamigodeHattie—disseRayfordbemaltoparaqueelapudesseouvi-lo. —VocêtambémnãosechamaTommyAgee,acertei? —Temosdesermuitocautelosos,Samuel.SouRayfordSteele.Estoutrazendonotı́c iasde seuirmãoBo. Samuelcontinuavasemsemexer. —Hattienãoestáaqui,maseupossolevá-loatéela.Entreenquantoeutrocoderoupa. Samuelescancarouaporta,eRayfordentrou.Enquantoaportaestavasendofechada,ele ouviupassosdealguémsubindoasescadascorrendo.Samueldirigiu-separaumoutrocômodo,e Rayfordoviupegarumaarmanobolsotraseirodacalçaesegurá-la. Samuel colocou a arma em cima de uma mesa, bloqueando a visã o de Rayford com seu corpo.Elepegouumacamisae,quandocomeçouavesti-la,algué mbateucomforçanaportae apertouacampainhaaomesmotempo,fazendocomqueosdoisseassustassem. RayfordesperavaquefosseHattie.SemfazercasodeSamuel,eleabriuaporta.Trudy?!Os pensamentos rodavam em sua cabeça em câ mara lenta enquanto ele tentava desesperadamentelembrar-sedonome ictı́c iodeTrudy.AoolharparaSamuel,eleviuorapaz tirandoacamisacomtantaforçaapontoderasgá-laeesticandoobraçoparapegaraarma. —Aborte!—gritouTrudy,tentandotirarRayforddoapartamento,maselepercebeuque nenhumdosdoispoderiafugirdaquelaarma.OfatodeTrudyapareceralicomumamensagem pedindo-lheparaabortarofezentenderqueaquelerapaz,fossequemfosse,iamatá-los. Trudy disparou escada abaixo, e Rayford imaginou que ele receberia uma bala calibre 45 nas costas e outra no alto da cabeça. Trudy seria morta antes de chegar ao primeiro andar. Rayfordnãopoderiadeixaraquelerapazsairdoapartamento. Ele virou-se enquanto a porta se fechava lentamente e correu na direçã o do moço, que havia se livrado da camisa rasgada e segurava a arma. Em seguida, Rayford viu que ele engatilhouaarmaecolocouodedoindicadornogatilho. Rayford nã o queria cometer a loucura de lutar com um homem que portava uma arma. Ele conseguiria facilmente cobrir a mã o do rapaz com as suas, mas as probabilidades de levar vantagem nã o lhe pareciam favorá veis. Resolveu, entã o, investir contra ele com as mã os fechadas,deencontroaopeito,cotovelosparafora,comoumjogadordefutebolamericanoindo deencontroaoadversárioqueacaboudeagarraraabola. O rapaz nã o se intimidou, mas voou para longe. Rayford o atingiu no pescoço com o cotovelo, atirando o corpo dele para trá s com a cabeça para a frente. Com o impulso da pancada, os pé s descalços do rapaz escorregaram no piso e ele tropeçou em uma mesinha, caindocomospé sparacimaebatendoaparteposteriordacabeçacomforçanajanela.Ainda tonto,comaarmanamã oeodedonogatilho,orapazviuRayfordcorreremdireçã oà porta, tã orá pidoqueospé sdelemaltocavamochã o.Rayfordtinhaaimpressã odequeestavatendo umpesadelo,sendoperseguidoporummonstroecorrendonalama. Ele abriu a porta com força e olhou para trá s enquanto corria. A cabeça do rapaz continuava presa no vidro quebrado da janela. Ele estava na posiçã o horizontal, com o tronco abaixodoníveldospés.Pormaisqueseesforçasseesecontorcesse,nãoconseguiasairdali. No entanto, isso nã o o impediu de atirar. Dois estrondos ensurdecedores, quase simultâneos,fizeramdesabaraparededivisóriademadeira. Rayford desceu as escadas, pulando trê s ou quatro degraus por vez, quase passando por cimadeTrudy,quetentavafugiromaisrá pidoquepodia,descendoumdegrauporvez.Quando chegou ao segundo andar, Rayford agarrou o corrimã o e rodopiou no meio da escada, o que serviu para piorar a dor no joelho. Ele só conseguiu equilibrar-se no momento em que Trudy chegavaaoúltimodegrau. Ela gemia enquanto corria como se estivesse certa de que receberia um tiro. Rayford tambémtinhaasensaçãodequeumabalaatravessariasuascostas. Trudy havia deixado o carro, com o motor ligado e a porta aberta, bem em frente ao pré dio. Dwayne a vira chegar e encostara o carro atrá s do dela, sem saber que outra atitude tomar.QuandoavistouRayfordeTrudycorrendoemsuadireção,elegritou: —Oque...? —Acelere!—disseRayford,fazendoumgestoparaqueeledesaparecessedali.—Vamos darumjeitodealcançarvocê! Rayfordsentou-serapidamenteaovolante,eTrudyabriuaportadoladodopassageirosob umasaraivadadebalas,vindasdoterceiroandar.Assimqueouviuaportaserfechada,Rayford pisoufundonoacelerador,deixandoatrásdesiumrastodepoeiraecascalho. Seus instintos o salvaram, ele sabia disso, mas, enquanto seu coraçã o bombeava sangue paratodoocorpo,Rayfordnã oconseguiasentir-seagradecidoporaquelapresençadeespı́rito. Ele sabia que Deus estivera a seu lado, protegendo-o, poupando sua vida. Mas, naquele momento,Rayfordsentiaficarmaisfortearaivaqueoatormentavahaviameses. AquelesentimentoiniciavaeterminavaemNicolaeCarpathia.Rayfordqueriaassassinaro homemedecidiuquelevariaseuplanoadiante,mesmoquefosseaú ltimacoisaqueele izesse nestemundo.Eelepoucoseimportavacomisso.Fariaopossı́velparacompraraarmadeAlbie eestarianolugarcertoenomomentocerto,custasseoquecustasse. Trudy, ofegante, esforçava-se para atar o cinto de segurança. Enquanto Rayford seguia Dwaynepelasruasestreitasdacidade,elapegouotelefonedelenochãodocarroeperguntou: —Qual...é....onúmero...dediscagemrápidaparaMac...? —Dois. Elaapertouobotão,eRayfordouviuavozdeMacatendendo. —Sra.Tuttle? — Mi... mi... missã o cumprida! — exclamou Trudy, passando o telefone a Rayford e irrompendonumchoroconvulsivo. CAPÍTULO17 Davidestavaexausto. Ele e Mac tinham ouvido o relato de Rayford enquanto os dois carros atravessavam, em altavelocidade,asruasdeLeHavreemdireçã oaohotel.Todosconcordavamque,seelesnã o estivessem sendo seguidos, chegariam rapidamente ao hotel onde estavam registrados sob nomes falsos. Poré m, teriam de sair do paı́s o mais rá pido possı́vel. Rayford dissera seu nome falsoeoverdadeiroa"Samuel",que,evidentemente,eraumespiã odaCG.Seelenã oestivesse gravementeferido,játeriainformadoopessoaldeláqueRayfordestavanaFrança. Aquilo poderia ter di icultado a passagem de Rayford pela alfâ ndega. Felizmente, ele separou-se dos "Hills", que passaram antes pela alfâ ndega. O nome falso de Rayford nã o foi relacionadocomodeles. —Nãopodemosajudá-lodaqui—disseDavid. —Mantereicontato—disseRayford.—Sóquenãovouvoltardiretoparacasa. Buck partiu de Israel sem visitar o Muro das Lamentaçõ es e sem relatar a Tsion os detalhesdeseuencontrocomChaimRosenzweig.Queriafazerissopessoalmente,porquesabia queTsionsesentiriatã opesarosoquantoele.TodoseleshaviamaprendidoaamarChaim.Nã o bastavadizerquenãofoipossívelfazeroisraelensetomarumadecisão.Oscrentesqueamavam Chaimqueriamqueeleseconvertesse. BuckficousatisfeitocomocalorosoencontroquetevecomLukasMiklosesuaesposa.Em seuinglêsarrastado,aSra.MikloscontouaBuckcomorgulho: —Laslosadoraumaconspiraçã o.Elemelembradiaenoitequeonomedoamigoé Greg North,enãoooutroqueeusei. Lasloscumprirasuapartenoacordo.Ocomé rciodelinhitoprosperoutantoqueeleobteve grandeslucros.Seuplanoeravenderaempresaà ComunidadeGlobalpoucoantesdoinı́c iodas restriçõesdecompraevenda,queestavamprestesaserpostasemprática. LaslosmostrouaBuckumaá reaenorme,instaladaemumnovolocal,ondeeleabrigaria os caminhõ es e empilhadeiras para poder embarcar mercadorias aos diversos pontos onde funcionavaacooperativa.Essenovoempreendimentoseriasemelhanteaumnegó c ioaprovado pela CG, só que dez vezes maior do que aparentava. Seria o centro das atividades da cooperativanaquelapartedomundo. Buck també m visitou a igreja secreta de Laslos, composta de um grande nú m ero de crenteslideradosporumjudeuconvertido,cujapreocupaçã oprincipaleraconseguiracomodar tanta gente no local. Buck retornou aos Estados Unidos animado pelo que viu na Gré cia, mas tristepelaindecisãoespiritualdeChaimRosenzweig. Aochegarà casasecreta,eleencontrouTsioneChloenervososporcausadeumaatitude que tiveram de tomar com relaçã o a Leah. Buck aprovou, mas Tsion e Chloe estavam preocupados, sem saber se deviam ir adiante sem consultar Rayford. Em razã o da quase tragé dia com Rayford e da di iculdade de comunicaçã o entre os membros do Comando Tribulaçã ocomorestodomundo,Tsionsugeriradesignarumapessoaparacentralizartodasas informaçõ es. Leah se pronti icou imediatamente, dizendo que tinha tempo disponı́vel entre o preparo de uma refeiçã o e outra. Chloe passara horas com ela, ensinando-a a lidar com o computador,eLeahdissequenuncasesentiratãorealizada. Os quatro reuniram-se ao redor do computador, e Leah contou que havia encontrado um programa que a ajudava a incorporar todas as mensagens recebidas e transmitidas. Com um poucodeatençã oeaajudadealgumasteclas,elatransmitiaatodosdacasaasmensagensque saíamechegavam. — Assim, nunca vamos ter dú vidas se algué m está ou nã o por dentro do assunto, se já tomou conhecimento ou nã o. Se Mac ou David relatarem um incidente que todos necessitem saber,vouprovidenciarparaquetodostomemconhecimento. AmedidaqueametadedoperíododaTribulaçãoseaproximava,Bucktinhaasensaçãode queelesestavamconvenientementepreparados. Rayford tinha de ser justo com Dwayne. Talvez ele fosse um homem espalhafatoso, mas haviaengendradoomelhorplanoparatirarRayforddeLeHavre. — Nã o precisamos usar minhas idé ias para nos livrar do amiguinho de Hattie — disse Dwayne-,portantoestamosquites. Evidentemente, Trudy icou orgulhosa de sua façanha aquela manhã , mas continuava abalada e nã o queria assumir responsabilidade por outra aventura no momento em que estivessemsaindodopaís. Trudy e Dwayne chegaram ao aeroporto 15 minutos antes de Rayford para entregar o carro alugado e preparar o aviã o para a decolagem. Rayford deveria chegar logo depois e entregar o outro carro. Em seguida, ele se dirigiria normalmente para os fundos do terreno do estacionamento,ondehaviaumacercaqueseparavaoscarrosdoterminal.Dwaynenotaraque olocalatrásdacercadavaacessoàextremidadedoterminaldoaeroportoeàpista. — Você pode pular a cerca e correr até o aviã o — dissera Dwayne -, assim que ouvir os motores funcionando, ou eu conduzo o aviã o até perto da cerca para facilitar as coisas para você. —Quaissãoospróseoscontras? —Você vaiterdecorrerumbocadoaté oaviã ocomessejoelhodolorido.Poroutrolado, seeuconduziroSuperJaté acerca,vouatrairaatençã odemuitagenteepodeserquealguma autoridadenãopermitaqueeumeaproximedaquelaárea. Ficou decidido que Dwayne deixaria o Super J na posiçã o de decolagem e, em seguida, pediria permissã o para taxiar até perto do terminal a im de veri icar um problema na parte inferiordoavião.Comisso,eleficariapertodolocalondeRayfordpulariaacerca. — Vou dizer que ouvi um rangido em uma das rodas e tentar levá -los comigo para examinarmosarodajuntos.Enquantoisso,vocêentranoavião. Deutudocertoaté omomentoemqueRayfordparouocarronoestacionamento.OSuper J estava na pista, com os motores funcionando. O funcioná rio da locadora de carros perguntoulhealgumacoisaemfrancêse,emseguida,traduziuparaoinglês. —Osenhorvaipagarcomcartãodecrédito? Rayford assentiu com a cabeça. O funcioná rio começou a imprimir o recibo, olhando ora paraRayfordoraparaaimpressora. — Com licença — ele disse, dando as costas a Rayford e falando em seuwalkie-talkie. Rayford entendia pouco de francê s, mas teve a certeza de que o funcioná rio estava fazendo algumasperguntasaumcolegasobre"ThomasAgee". Enquantoisso,orecibofoiimpresso,masofuncionárionãooentregouaRayford. —Nãodeucerto—eledisse. —Oquevocêestádizendo?—perguntouRayford.—Ocartãoestáaí. —Porfavor,aguarde.Voutentarnovamente. — Estou atrasado — disse Rayford, recuando ao perceber movimento perto do terminal. —Mandeacontaparamim. —Não,osenhorprecisaaguardar.Precisamosdeumnovocartão. —Mandeacontaparamim—insistiuRayford. EleolhouporcimadosombroseviuoSuperJtaxiandolentamenteemsuadireçã o.Trê s homenssaı́ramapressadosdoterminalrumoaoestacionamento.Rayfordcorreuparaacerca,e um dos homens gritou pedindo ajuda. Pelos cá lculos de Rayford, a cerca devia ter mais ou menos1,40mdealtura.OSuperJestavaauns100metrosdedistâ ncia,rodandolentamente.Os trê shomensquecorriamatrá sdeRayfordestavamaaproximadamente30metrosdele.Todos pareciamjovensedeporteatlético. Rayford tentou dar um impulso e saltar por cima da cerca, mas o salto do sapato do pé dianteiro enroscou-se nela. Com a parada brusca, ele perdeu o equilı́brio e icou com o corpo tombado para o outro lado da cerca. Ele agarrou-se na parte superior da cerca para nã o se estatelar no chã o, mas, enquanto tentava se soltar, icou de cabeça para baixo por alguns instantes. Finalmente, ao conseguir se desenroscar, caiu, batendo o ombro com força no chã o, levantou-serapidamenteecorreuemdireçãoaoavião. Ao olhar de relance para trá s, ele viu que seus perseguidores tinham conseguido pular a cerca com facilidade. Se Dwayne nã o aumentasse a velocidade, eles alcançariam Rayford. Ele ouviu o ronco dos motores e viu um homem com uma prancheta na mã o acenando para que Dwayne reduzisse a velocidade. Felizmente, ele nã o obedeceu. Trudy abaixou a escada, e Rayfordtentousubir. Os homens gritavam para que ele parasse. Enquanto Trudy inclinava o corpo para fora tentandoseguraramã odele,Rayfordouviupassosatrá sdesi.Nomomentoemqueeledeuum impulso para agarrar-se à escada, um dos homens, o mais rá pido deles, mergulhou no chã o e segurou-o pelo calcanhar. Rayford desequilibrou-se e quase caiu da escada pela lateral, mas Trudyprovousermaisfortedoqueaparentava.Rayfordagarrouopulsodelaereceouarrastá -la para fora, mas o peso dele a fez cair no piso do aviã o. Ela icou atravessada na porta, com os ombrospresosemumdosladoseosjoelhosnooutro.Elesaltousobreela.Dwayneacelerou,e RayfordajudouTrudyafecharaporta. — E a segunda vez que você salva minha vida hoje — ele disse. Trudy sorriu, desabando trêmulanobanco. — E també m foi a ú ltima. Estou muito cansada. Dwayne gritava como se estivesse em umrodeioenquantooSuperJdisparavarumoaocéu. —Quemaravilha!Elanãoéfenomenal?Segura,peão! —Éumabelamáquina—disseRayford,imaginandoadorquesentirianocorponamanhã seguinte. Dwaynelançou-lheumolhardesconcertado. —Eunãoestavafalandodaaeronave,parceiro.Estavafalandodestamulherzinha. Trudyinclinou-separaafrenteepassouosdoisbraçosaoredordopescoçodomarido. —Émelhorvocêparardemechamarassim—elaprotestou. —Querida,vouchamarvocê damaneiracomoestemeuvelhocoraçã omandar.Segura, peão! —Vocêestáindoparaooeste?—perguntouRayfordrepentinamente. —Vounadireçãoquevocêquiser,Rafe.Ésódizer. —Leste. — Entendido, e vou icar abaixo da linha do radar por uns tempos até que eles se esqueçamdetentarnoslocalizar.Apertemoscintosesesegurem! Dwayne nã o estava brincando. Ele fez uma manobra tã o rá pida para mudar a rota do SuperJqueacabeçadeRayfordficougrudadanoencostodobanco. —Igualaumamontanha-russa,não?Vocêvaiadorarestaviagem! Rayfordresmungoualgumacoisaparasimesmo. —Quetalestaoutramanobra,capitão?—perguntouDwayne. — Eu disse que você precisa ser um pouco mais entusiasmado. Dwayne riu tanto que chegouachorar. No inal do dia, David recebeu ume-mail pessoal de Annie, comunicando que o chefe do departamentodelaedoisoutrosfuncioná riosdoaltoescalã ohaviam-sereunidorapidamenteno escritó riodeFortunato.Davidrespondeuoseguinte:"Euadorariadetodoocoraçã oestaraseu lado mesmo que você nã o fosse o dedo-duro mais importante da organizaçã o." Enquanto ele vasculhava o disco rı́gido do computador tentando localizar o á udio da referida reuniã o, a tela exibiu outro sinal de mensagem recebida. Era outra de Annie. "Nunca imaginei receber um elogio tã o lisonjeiro do amor de minha vida. O dedo-duro lhe agradece do fundo do coraçã o. Beijos,AC." Quando encontrou o que procurava, David reconheceu a voz de seu colega, o chefe do departamento de Annie. Depois de fazer os rapapé s obrigató rios, ele passou a palavra ao chefe deaná lisedoserviçodeinteligê ncia.JimHickmaneramuitointeligente,senhordesieparecia gostardosomdesuavoz. — Esses beatos — Hickman começou a dizer — sã o aquilo que eu chamo de fundamentalistas.Elesacreditamemescritosantigos,principalmentenaTorajudaicaenoNovo Testamento cristã o, e nã o fazem distinçã o entre registros histó ricos, muitos deles corretos, e registros igurativos, com linguagem simbó lica, das tais passagens profé ticas. Por exemplo, qualquer pessoa, inclusive eu, que tenha estudado super icialmente a histó ria das antigas civilizaçõ es sabe que muitos dos chamados livros profé ticos da Bı́blia nã o sã o nada profé ticos. Depois da ocorrê ncia de alguns fenô m enos sobrenaturais, algué m poderia fazer essa descriçã o cheia de imaginaçã o encaixar-se ao evento. Por exemplo, essa onda atual de morte por fogo, fumaçaeenxofre,talvezprovocadaporessagente,passouaserocumprimentodaquiloqueeles acreditamserumaprofecia,queincluicavalosmonstruososcomcabeçadeleã o,montadospor 200milhõesdecavaleiros. —Aondevocê querchegar,Jim?—perguntouFortunato.-SuaExcelê nciaestá à procura defatosespecíficos. — Ah! sim, comandante. Só posso dizer o seguinte: como esses beatos levam as palavras aopédaletra,elesatribuemaessesdoispregadoresmalucos... —OpotentadooschamadeDupladeJerusalém!—disseFortunato. — Sim! — exclamou Hickman. — Adorei o termo! Os seguidores de Ben-Judá acreditam que esses velhos caducos sã o as tais testemunhas mencionadas no capı́t ulo 11 do livro de Apocalipse. Um dos versı́c ulos deste capı́t ulo diz: "Darei à s minhas duas testemunhas que profetizempormilduzentosesessentadias,vestidasdepanodesaco." —Então,éporissoqueaquelesdoissevestemcomroupasdeaniagem—disseFortunato. —Elesestãotentandonosfazeracreditarquesãoessastaistestemunhas. Hickmanaquiesceu. — Exatamente, comandante. E Ben-Judá sempre garantiu que esse perı́odo começou no diaemqueogovernomundialassinouumtratadodepazcomIsrael.Secontarmos1.260diasa partirdaqueladata,chegaremosaoqueospregadoreschamamde"tempodeterminado". Fortunato pediu licença aos outros para icar a só s com Hickman por alguns instantes. David ouviu o som de cadeiras sendo arrastadas e de pessoas saindo. Em seguida, Fortunato disse: — Jim, preciso con idenciar-lhe uma coisa que está me incomodando. Você é um sujeito esperto... —Obrigado,senhor. — Nó s dois sabemos que existem coisas nesses escritos antigos que sã o difı́c eis de ser falsificados. — Nã o sei, nã o. A transformaçã o da á gua em sangue está sendo feita pelas mesmas pessoas que estã o nos matando com a guerra bioló gica. Trata-se de um truque, alguma coisa queelespuseramnasestaçõesdetratamentodeágua. —MasnoEstádioTeddyKollekaáguatransformou-seemsanguedepoisdeengarrafada. — Tenho visto má gicos fazerem a mesma coisa. Eles colocam alguma substâ ncia que reagedeacordocomatemperatura,talvezquandoelacaiemdeterminadoperíododanoite.Se soubéssemosquandoissoocorre,poderíamosfazeromesmoeprovocarofenômeno. —Eporqueestádemorandotantotempoparachover? — Coincidê ncia! Já vi Israel passar meses sem chuva. Qual é a novidade? E fá cil algué m a irmar que está impedindo que chova quando nã o há chuva. O que eles vã o dizer quando a chuvacomeçaracair?Quenosderamumatrégua? —Aspessoasquetentarammatá-losforamincineradas... — Algué m disse que os dois tê m um lança-chamas escondido, que usam quando a multidã o se distrai. Francamente, comandante, o senhor nã o está querendo dizer que aqueles doisexpelemfogopelaboca! Fortunatopermaneceuemsilêncioporalgunsinstantes.Emseguida,disse: — Bem, se eles nã o sã o quem dizem ser, como poderemos saber que icarã o vulnerá veis nomomentodeterminado? —Nã ovamossaber.Masouelessã ovulnerá veis,ounã osã oquemdizemser.Dequalquer maneira,nósvenceremos.Elessairãoperdendo. David deveria transmitir a informaçã o a Tsion, mas precisava antes ouvir o relato de FortunatoaCarpathia.Eleveri icouostelefonesdeFortunatoeMargaret.Nada.Oescritó riode Fortunato estava silencioso. Ele resolveu dar uma vasculhada no escritó rio de Carpathia. FortunatotinhaacabadoderelatarsuaconversacomHickman. —Milduzentosesessentadiasdesdeotratado-repetiuCarpathia.—Já decidimosfazer uma grande festa. Agora sabemos exatamente quando devemos encená -la. Você precisa elaborar um plano de trabalho, Leon. Precisa fazer com que os potentados regionais iquem contra Peter Segundo. E verdade que já estã o contra ele, mas o tal homem precisa ser eliminado. Vou deixar o assunto sob sua responsabilidade. Eu tomarei conta das tais testemunhas. O mundo, principalmente Israel, aguarda ansiosamente o im daqueles dois. Durantemeses,acrediteiquenã ocaberiaamimatarefadelivraromundodosdois.Penseiem darumaordemparaqueastropasdaCGosmatassem.Maselesserãotãomalvistosatémesmo por seus seguidores que resolvi eliminá -los pessoalmente, transformando esse ato na façanha maisimportantedeminhavidaatéagora. —Osenhorestácertodisso? —Vocênãoconcorda? —Seriafá cildemais,Excelê ncia.Melhorfazerissosemcomprometê -lo.Osenhorpoderia atédeploraroatopublicamente,reafirmandoqueincentivaaliberdadedeexpressãoedeidéias. —Masnãoaliberdadeparaatormentaromundocompragasejulgamentos,Leon! —Essaspragasejulgamentosnãosugeremqueelessãoquemdizemser? — Isso nã o faz nenhuma diferença, você nã o entende? Quero responsabilidade e votos de confiança,ganharpontospormelevantarcontraessesimpostores. —Claro.Comosempre,Excelência,osenhoréinsuperável. O Super J pousou no inal da pista em Al Basrah. Assim que eles chegaram, vá rios funcioná rios do aeroporto correram descalços até o aviã o, olhando curiosos para suas linhas arrojadas e a bandeira britâ nica. No local em que "Dart", oalter ego australiano de Dwayne colocaraoemblema"TrabalhoHonesto",haviaagoraumdecalquequedizia"AngusNegro". Rayford icouimpressionadocomosotaquebritâ nicocarregadodeDwayneeaté mesmo comovolumedesuavoz. —Muitobem,cavalheiros—eledisse.—SouIanHill,proprietá riodaaeronave,eestaé minhaesposa,Eiva.Obrigadoporcuidaremdoreabastecimento. Rayford apresentou-se como Jesse Gonder, e um dos funcioná rios entregou-lhe um envelopecontendochaveseumbilhetequedizia:"Vocêselembradocaminhão.Vácomeleaté esteendereço.Sigoatrásdevocê.AlB." Rayford encontrou o velho caminhã o de Albie, e eles se dirigiram até um local de comé rcio muito movimentado no centro da cidade. Ele, Dwayne e Trudy aguardaram Albie sentadossobotoldodeumagitadocaféencravadonumaconstruçãodepedra. Aparentemente, Dwayne sabia manter um tom de voz baixo em pú blico, principalmente quando precisava acentuar seu sotaque britâ nico. Os trê s bebericavam refrigerantes enquanto RayfordeDwayneconversavamreservadamentesobreoComandoTribulaçã o.Trudycochilava entreumgoleeoutro. —Sintomuito—eladisse.—Foiaventurademaisparaumdiasó. —Elaé umverdadeirosoldado—cochichouDwayne,olhandoparaosfreguesessentados porperto,que,provavelmente,nã oentendiamoqueeledizia.—Masachoqueelanunca icou tãoassustadanavida. Trudyconcordoucomacabeçaeemseguidacontinuouacochilar. — Sua ilha é um azougue, e nã o me importo de dizer isso a você , Rafe. Sei que você s todos tê m muitas idé ias, mas ela conseguiu organizar essa cooperativa como ningué m. Você sabequetenhosidoexageradamentearrojadoarespeitodeminhascrenças. —Ouvidizer. — Vou ter de pô r um im nisso assim que exigirem que a gente tenha uma marca para comprar e vender. A posiçã o que defendo vai icar clara, e, pelo que entendo, posso perder a cabeça. Todos nó s podemos perder a cabeça. Pelo menos é isso o que dizem as mensagens do pastorBen-Judá. Rayford deu um sorriso cansado. Ele estava pensando em Hattie e na tolice que ela cometeraparaserpresa.Maselenuncaviraninguémreferir-seaTsioncomopastorBen-Judá,e gostoudisso.Eraumtı́t uloperfeito.EleeramaisqueumpastordoComandoTribulaçã o.Erao pastordequalquerpessoaquedesejasseouvirsuaspregaçõescibernéticasdiárias. Enquanto Dwayne falava sobre a honra que ele e Trudy sentiam por ser os elementos principaisdaregiã osudoestenaconduçã odosnegó c iosdacooperativademercadorias,Rayford pensava na sugestã o de Leah. Ela estava certa; nã o tinha mais obrigaçõ es familiares. Talvez pudesse deslocar-se de um lugar para outro. Era uma fugitiva recente em comparaçã o aos outrosquemoravamnacasasecreta.Sua isionomiasó seriareconhecidapelopessoaldaCGde sua cidade. Com um pouco de maquiagem, lentes de contato, tintura no cabelo, ela poderia viajarparaqualquerlugar. AtémesmoparaBruxelas. ElapoderiapassarporparentedeHattie.Algué mteriadedaraelaatristenotı́c iasobre sua irmã . Rayford esperava que a CG mantivesse Hattie viva até que ela se convertesse, mas nã o se importaria se ela icasse presa até que eles ultrapassassem a metade do perı́odo da Tribulaçã o. Se ela fosse libertada, tentaria assassinar Nicolae. Rayford tinha de admitir que aquela façanha lhe pertencia. Embora soubesse que agiria de modo ridı́c ulo, ele teria mais condiçõ esqueHattiedeperpetraroato.Fossequemfosseoautordocrime,nã osairiaileso.Ele orou silenciosamente:Senhor, peço-te que entendas meus motivos. Eu desejo o que tu desejas. DesejoqueHattiesejasalvaantesquecometaumatoquepossapôrumfimàvidadela. —Eugostariadeconheceraquelegregodoqualvocêmefalou—Dwayneestavadizendo. — Explorar o oceano a partir do Estreito de Bering, despachar grã os do sudoeste e comercializarprodutosdaGré ciasã ocoisasquefazempartedaquiloqueaSra.Williamsjá pô s emprática.Tudovaidarcerto,Rafe. Uma charanga mais velha que o caminhã o emprestado por Albie freou com grande estardalhaçonaruaestreita.Albiesaltou,deuumtapanalatariadacharangaeelacontinuoua rodar, sacolejando. Rayford levantou-se para cumprimentá -lo, mas Albie, carregando um saco de papel pardo, fez um gesto para que ele se sentasse. Albie curvou-se para cumprimentar Trudy,maselaaindacochilava,apoiandooqueixocomamão. —Umdemeusfuncioná riosmedissequeviupessoasestranhas—elecochichou,puxando umacadeira. —Podeconfiaremnós,Albie—disseDwayne. —Eucon ioporquealgué mjá mefaloudosenhor—disseAlbie.—Osenhorestá comele. Euconfionele,confionosenhor. — Pessoas estranhas onde? — perguntou Rayford, nã o querendo se envolver novamente comaCG.—Elasestãoaqui? — Você nunca vai vê -las aqui — disse Albie. — Isso nã o signi ica que nã o estejam aqui. Elasaprenderamasemisturarnomeiodopovo. —Então,ondeelasestão? —Noaeroporto. —Precisamosvoltarparaaqueleavião,Albie. —Nã osepreocupe.Pediaalgué mquecolasseumavisodequarentenanaporta,igualao da CG, alertando que há vapores de enxofre a bordo. Ningué m vai ousar aproximar-se. E, até onde sei, nã o há ningué m da CG na pista. Se você s conseguirem levantar vô o e permanecer abaixodalinhadoradarporalgunsinstantes,poderãofugir. —Maselesestãoànossaprocura?Albieencolheuosombros. —Souumempresá rio,enã oumespiã o.Você sconhecemessascoisasmelhordoqueeu. Vamos,deixe-memostrarasuamercadoria.Vocênãoseimportaqueseusamigosavejam? —Dejeitonenhum. —Vamosnosafastardaquiparatestá-la. — Pre iro icar aqui com Trudy — disse Dwayne. Ela parecia estar dormindo profundamente,comacabeçasobreosbraçosapoiadosnamesa.—Nã oseesqueçadenó saqui, ouviu? —Fiqueatento—cochichouRayford,levantando-se. — Nã o se preocupe comigo, parceiro. Nã o vou cochilar. Nã o me divirto tanto desde que minhairmãfoidevoradapelosporcos. RayfordlançouumolharperplexoparaDwayne. —Estoubrincando,Rafe.Éumaexpressãoqueusamosnointerior. —Éverdade?—Leonperguntou. —Nãoentendi,senhor—disseDavid,sentando-senoescritóriodeFortunato. —Éverdadequevocênãoviuorelatóriodeauditoriainternasobreseudepartamento? Davidlutouparamanteracalma. — Eu sabia que eles estavam fazendo uma auditoria, mas achei que nã o icaram lá o temposuficienteparafazerumrelatório. —Eleschegaramaalgumasconclusões,eeunãogosteinemumpouco. —Ninguémconversoucomigo. — Desde quando o pessoal da auditoria interna conversa com algué m? Eles fazem o que precisa ser feito, mas nunca trocam idé ias com ningué m. Você també m nã o vai gostar do que elesencontraram,mascontinuoinsistindoparaquevocêrespondaàminhapergunta. Davidsabiaquesuapulsaçãoestavarápidademaisetentoucontrolararespiração. —Eugostariamuitodeanalisaroqueelesencontraramemeexplicardamelhormaneira quepuder. —Eleslhederamnotasaltas.Disseramqueaculpanãoésua. —Culpa? —Pelo iasco,pelofracasso,masqueissonã otemnadaavercomsualiderança,queeles consideramexcelente. —Oqueelesestãochamandodefracasso? — E claro que o fracasso nã o tem relaçã o com o estado de espı́rito de seus funcioná rios. Nem com sua é tica de trabalho, David. Com exceçã o do potentado e de mim, você trabalha muitomaisdoquequalqueroutrapessoa. —Bem,eunãosabiadisso... — O ponto principal, Hassid, é que eles estã o recomendando cancelar o projeto para detectarastransmissõesviaInternet. —Oh!não!Eugostariadecontinuartentando. —Seiqueessetrabalhoé ameninadeseusolhosequevocê pô saalmaeocoraçã onele. Ofatoéqueocustodoprojetonãoécompensador. — Mas nã o valeria a pena investir um pouco mais de tempo para ver se conseguimos descobriralgumacoisa? — Você nã o está nem perto de descobrir alguma coisa, está , David? Seja honesto. A auditoriainternadizquevocênãoobtevenenhumsucessodesdeodiaemqueoequipamentofoi instalado e que, em razã o do nú m ero de horas trabalhadas e do dinheiro que foi gasto, nã o faz sentido dar prosseguimento ao projeto. David simulou uma expressã o de grande desapontamento. — Vou voltar à minha pergunta inicial — disse Leon. — E verdade? E verdade que esse projetoestánostrazendomaisdoresdecabeçadoqueesperávamos?Devemoscancelá-lo? —Oqueopotentadovaidizer? — Esta é a minha preocupaçã o. Vou usar o argumento de que nã o temos tanta necessidadedesaberdeondepartemaquelese-mailsequeosseguidoresdeBen-Judá estã onos fazendodetolos.Elevaiconcordar.Evocê? —Quemsoueuparadiscordardopotentadoedosupremocomandante? —Éassimquesefala,garoto. —Semmencionaraauditoriainterna. — Você entendeu o espı́rito da coisa. Tenho uma idé ia para aproveitar aquelas horas de trabalhoeoscomputadores. —Quebom!Detestodesperdiçartempoedinheiro. —Agoraqueatripulaçã odacabinadecomandovoltouaotrabalhoequeoFê nix216está totalmente equipado, Sua Excelê ncia incumbiu-me de fazer uma viagem para visitar as dez regiõesnaspróximassemanas.Comopreparativoparaacelebraçãodegalaportermoschegado ao ponto intermediá rio do acordo de paz de sete anos, assinado entre a Comunidade Global e Israel,elegostariaqueeumereunissecomcadaumdospotentadosregionais,inclusivecomo novolı́derafricano.Eugostariadepodercontarcomseusfuncioná rios,aquelesqueestarã ocom otempoociosoemrazãodocancelamentodooutroprojeto... —Comlicença,comandante,tenhoumaperguntatola... —Aúnicaperguntatolaéaquelaquenãoéfeita. Nunca ouvi essa pérola antes!, pensou David. — Bem, quero dizer que nã o diz respeito à minhaáreadeatuação. —Desembuche. —Emtermosdecustos,nã oseriamelhorqueosdez...hã ...potentadosviessematé aqui ouseencontrassemcomosenhoremalgumlugarqualquer? —Seuraciocíniotemlógica,masexistemmotivosparaagirdamaneiracomolhefalei.— Leon falava agora de maneira condescendente. Com as mã os abertas e juntando as pontas dos dedos,eleprosseguiu.—Alé mdemuitasoutrasexcelentesqualidadesdeliderançaquepossui, Sua Excelê ncia Nicolae Carpathia é um diplomata incompará vel. Ele lidera por meio de exemplos. Lidera sendo ú t il aos outros. Lidera ouvindo. Lidera delegando poderes, e esta é a razã odeminhaviagem.Opotentadosabequecadaumdeseusdezsubpotentadosnecessitater asensaçãodequeestásemprecontandocomapresençadele.Paramantê-losleais,fortalecidos e inspirados, ele prefere delegar-lhes autoridade e autonomia dentro de seus territó rios. O fato de Sua Excelê ncia me enviar como seu emissá rio para visitá -los, digamos, em seus campos de atuação,éumahonraparaeles. — Isto lhes dará a oportunidade de estender seus tapetes vermelhos — prosseguiu Fortunato-,provaraseussú ditosqueestã osendohonradoscomapresençadeumvisitantedo palá cio. Em cada capital internacional, farei um convite o icial em pú blico ao potentado regionalparaquecompareçaà FestadeGalaGlobalemsetembro.Seussú ditostambé mserã o convidados, e insistiremos que estendam a viagem a Jerusalé m, fazendo uma peregrinaçã o a NovaBabilônia. —Interessante—disseDavid. — Eu esperava este seu comentá rio. E é aı́ que você , seus funcioná rios e todos os computadores disponı́veis entram na histó ria. Para mim, Sua Excelê ncia sempre foi um exemplo impecá vel de orador pú blico. Você sabe que ele fala vá rios idiomas luentemente. Minha luê ncianã ochegaatanto,maseugostariadecompreenderumafraseouduasdoidioma faladoemcadagrupoprincipalaoqualdevereidirigirapalavra.Nã oseisevocê já notou,maso potentadonunca,nuncamesmo,usagírias,nemmesmoduranteumaconversainformal. —Tenhotidopoucocontatocomele... — Claro. Mas deixe-me falar sobre o magnı́ ico dom de orató ria que ele possui e de sua habilidade inigualá vel para memorizar pá ginas e pá ginas de um discurso, fazendo com que jamais pareça longo ou inoportuno. A verdade é a seguinte: o potentado Carpathia conhece a histó ria de cada paı́s que visita com detalhes, tanto quanto o pró prio povo a quem ele dirige a palavra. Você já teve a oportunidade de ver os videoteipes de seu primeiro discurso na OrganizaçãodasNaçõesUnidastrêsanosatrás? —Tenhocertezadequetodosnóstivemos. —Aquelediscursoemsi,David,praticamenteselousuanomeaçã ocomosecretá rio-geral e,depois,lı́derdanovaordemmundial.Elesubiuà tribunacomoumsimplesoradorconvidado, presidente de um pequenino paı́s do leste europeu. A posiçã o que o potentado ocupou como secretá rio-geral nem sequer estava vaga quando ele iniciou seu discurso. No entanto, com sua inteligê ncia,poderdeseduçã o,perspicá cia,conhecimentodoidiomadecadapaı́s iliadoà ONU e uma extraordiná ria narrativa da histó ria daquela importante instituiçã o, ele granjeou a simpatia do mundo inteiro. Se nã o tivé ssemos acabado de perder entes queridos em conseqüênciadosdesaparecimentosem todooplaneta,quenos izerammergulharnomaisprofundosofrimento,eugarantoquea platé ia que assistiu à quele maravilhoso discurso teria sido muito maior. Mas, aparentemente, tudo transcorreu conforme Deus ordenou, e Sua Excelê ncia foi perfeito naquele momento. Fortunatotinhaumolharperdido. —Ah!foiummomentomá gico—eledisse.—Eusabia,dentrodocoraçã o,queseumdia tivesse o privilé gio de contribuir, nem que fosse de maneira ı́n ima, para os ideais e objetivos daquele homem, eu con iaria minha vida a ele. Você já sentiu a mesma coisa a respeito de alguém,David? —Possodizerquesim.Sintoessamesmadevoçãodentrodemim. AquelafrasepareceutirarLeondeseusdevaneios.—Sério?Possosaberquemé? — Quem é ? O senhor quer saber quem eu... idolatro a ponto de con iar minha vida a ele? Ah!sim.MeuPai. —Quecoisabonita,David.Eledeveserumhomemmaravilhoso. —Oh!Eleé.EleécomoDeusparamim. —Verdade?Oqueelefaz? —Eleécriativo,trabalhacomasmãos. —Mas,peloqueentendi,éocaráterdelequeofascina. —Maisdoqueosenhorpodeimaginar.Maisdoqueeupossodizer. —Deveseralguémmuitoespecial.Euadorariateraoportunidadedeconhecê-lo. — Ah! o senhor terá — disse David. — Tenho certeza de que o senhor se encontrará um diacomEle,faceaface. — Espero que esse dia chegue logo. Mas fugi da minha linha de raciocı́nio. Vou voltar ao ponto em que parei e, em seguida, liberarei você . Desculpe-me, mas gosto de incentivar um jovemlealquetemumacarreirapromissora. —Nãoháoquedesculpar. — Eu gostaria que seus funcioná rios usassem aqueles computadores para vasculhar fatos importantes a respeito de cada homem que vou visitar, sua regiã o, sua histó ria. Se souber informaçõ es detalhadas sobre eles, poderei homenageá -los. Você poderia conseguir isso para mim, David? Preciso de informaçõ es que me façam parecer admirá vel, que façam Sua Excelênciapareceradmirável,oqueserámuitobomparaaComunidadeGlobal. —Aceitareiseupedidocomoumdesafiopessoal,senhor. CAPÍTULO18 Estrelas cintilavam no cé u escuro quando, inalmente, Albie parou o velho caminhã o em um local poeirento de uma planı́c ie deserta. Ele deixou os faró is do veı́c ulo acesos iluminando umapedragrandepró ximaaumaá rvore,cercadecemmetrosdedistâ ncia.Albiesaltouparaa carroceriadocaminhão,subiunacabinaeolhouparatrás. — Meus olhos precisam acostumar-se à escuridã o — ele disse -, para eu ter certeza de queestamossozinhos.—Satisfeito,elepulouparaacarroceriae,emseguida,paraochão. —Eucostumavadescerdaquicomumsaltosó.Masmeutornozelo...vocêselembra? —Foiferidonoterremoto—disseRayford. — Nã o foi tã o grave, considerando tudo o que aconteceu. Albie fez um gesto para que Rayfordoseguisseaté afrentedocaminhã o,ondeeleseagachoudiantedosfaró isepegouuma sacoladepapel,tirandodelaumapeçaretangulardemetalpreto,semelhanteaumacaixade maisoumenos25centímetrosdecomprimentopor12delargurae4dealtura. —CapitãoSteele,istoaquiésensacional.Custacaro,masencontreioqueosenhorqueria. Observe atentamente e veja como a peça é feita. Se o senhor nã o conhecer o truque, nã o vai sabercomofunciona.Segureparaterumaidéiadoqueistorepresenta. Rayford pegou a peça e icou impressionado com seu peso e solidez. Nã o havia emendas visíveis,eapeçapareciaresistente. —Abra—disseAlbie. Rayford revirou a peça sob a luz, procurando uma trava, um dispositivo para abrir, uma molaparaapertar,qualquercoisa.Nãoviunada. —Tente—disseAlbie. Rayfordsegurouapeçapelaspontasepuxoucomforça.Emseguida,procurouportodosos ladosparaversehaviaalgumaabertura.Virou-a,sacudiu-aeapertouasbeiradas. —Estouconvencido—eledisse,devolvendo-aaAlbie. —Oqueestapeçafazlembrar? — Uma pedra de lastro. Talvez algum tipo de peso. Quem sabe uma antiga bateria de computador? —Oqueosenhordiriaaoagentedaalfândegaseesteobjetoaparecessenateladoradar? —Umadascoisasqueeucitei.Eudiriaquedevepertenceraocomputadorquedeixeiem algumlugarduranteminhaúltimaviagem. —Vaifuncionar,porqueelenãoserácapazdeabrir.Sóseelefizeristo,masnãoacredito. Albie segurou a peça diante de si, na posiçã o horizontal, e colocou o polegar esquerdo no canto superior esquerdo, irmando o dedo mé dio esquerdo na parte de trá s do canto inferior esquerdo. Depois, fez o contrá rio com a mã o direita, colocando o polegar no canto inferior direito,odedomédionapartedetrásdocantosuperiordireito. — Estou empurrando delicadamente com os polegares e irmando os dedos. Quando eu sentirumlevemovimentoindicandoqueapeçaestá sendodestravada,passoospolegarespela borda inferior, coloco os dedos indicadores na borda superior, seguro com força e puxo. Veja comoelaseabrefacilmente. Rayfordtinhaaimpressãodequeestavapresenciandoumtruquedemágicaaumpassode distâ ncia, sem ter nenhuma pista de como funcionava. A peça abriu-se pouco mais de dois centímetros,eAlbieafechourapidamente. —Asemendasparecemsumir,porqueestaé umapeçainteiriçafeitadeumblocodeaço. Tentemaisumavez,capitão. RayfordcolocouospolegareseosdedosmédiosnoslugaresindicadosporAlbie.Quandoele apertousuavementeospolegaresesentiuapressã onosdedos,percebeuumlevemovimentode que a peça estava sendo destravada. Ele se lembrou de um brinquedo dos tempos de infâ ncia, queconsistiaemtentarfazerumamoedinhacairdentrodeumburacorasofeitoemumpedaço de cartolina. A moeda só caı́a quando se inclinava num ponto determinado, nem mais nem menos. Ele segurou as extremidades da peça conforme Albie izera, e ela se abriu suavemente. Em sua mã o esquerda, estava um bloco de aço compacto, no formato de um grande quebracabeça,queseajustavaperfeitamentecomaarmapesadaemsuamãodireita.Impressionante. —Estácarregada? —Algué mmeensinouquesempredevemostermuitacerteza,aosegurarumaarma,de queestá descarregada.Muitaspessoasjá morreramemacidentescomarmasqueacreditavam estarsembalas. —Concordo.Mas,eseeuapontareatirar... —Abalavaiserdisparada?Sim. —Vocêtemalgoqueeupossacolocaremcimadaquelapedraeusarcomoalvo? —Porenquanto,émelhorsómirarnapedra.Vocêprecisaacostumar-secomaarma. —Eueraumbomatiradornostemposdaacademiamilitar,anosatrás. —Sóanos?Nãodécadas? —Quebeleza!Fuiofendidopormeufornecedor. —Conheçaprimeiroasuaarma. Rayfordcolocouobloconochã o,segurouaarmaeexaminou-adetalhadamente.Embora fosse muito pesada, era bem-feita e adaptava-se perfeitamente à palma de sua mã o. Ele imaginousenãoseriadifícilsegurá-lacomfirmezaemrazãodopeso. — Nenhuma outra arma — disse Albie — possui esse mecanismo. Só os ri les de alta potê ncia.Nã oé necessá rioengatilhar.Elaé semi-automá tica.Você precisapuxarogatilhopara cada novo tiro, mas ela dispara uma seqü ência de tiros rapidamente enquanto você solta o gatilho e o puxa de novo. Acho que é a arma mais barulhenta que existe, e eu recomendo que você usealgumacoisaparataparoouvidoque icapró ximoà arma.Porenquanto,bastacobrir oouvidocomaoutramão. —Nãoestouvendotravadesegurança. — Nã o existe. Você simplesmente aponta e dispara. A ló gica por trá s desta peça é que vocênãoprecisaabriroblocodeaçoedeixaraarmaàvista,anãoserquepretendaatirar. Evocênãovaiquereratirar,anãoserquepretendadestruiraquiloquevocêestámirando. Sevocê atirarnaquelapedra,vaidestruı́- la.Sevocê derumtiroeatingirumadaspartesvitais docorpodeumapessoa,a60metrosdedistâ ncia,vaimatá -la.Sevocê atingi-laemumaparte neutra, atirando da mesma distâ ncia, a muniçã o vai rasgar pele, carne, gordura, tendõ es, ligamentos,mú sculoseossoseatravessarocorpodeixandoduasperfuraçõ es.Sevocê estivera trê smetrosdedistâ ncia,acá psulaocaterá tempodeseabrirporcausadocalordaexplosã odo tiroedaforçacentrı́fugaprovocadapelarotaçã odabala.Asestriassulcadasdentrodotambor produzemarotação.Oprojétilfica,então,comquasequatrocentímetrosdediâmetro. —Abalaseabreesetransformaemumdiscogiratório? —Exatamente.Conformeeulhedisseportelefone,umabalaqueerrouoalvoepassoua cinco centı́m etros de um homem a uma distâ ncia de quase dez metros do atirador causou-lhe umferimentoprofundosó porcausadodeslocamentodear.Sevocê acertaralgué mqueesteja aumadistâ nciaentre3e60metros,oburacodabalavaiserdemaisoumenos15centı́m etros de diâ metro, dependendo da parte do corpo que ela atingir. A bala, a iada e girando rapidamente,perfuraqualquercoisaqueestejanocaminhoporcausadesuaaltı́ssimarotaçã o. O sangue coagulado ica grudado nela como grama na lâ mina de um cortador, e ela se transformaemumgrandeobjetodedestruiçã o.Duranteotestedestaarma,umté cnico,auma distâ ncia aproximada de seis metros, recebeu um tiro acidental acima do joelho. A perna dele foipraticamentedecepada.Apartedebaixo icoupresasó poruma inatiradepeledecadalado dojoelho. Rayfordsacudiuacabeçaeolhou irmeparaaqueleobjetomedonhoquetinhanasmã os.O queeleestavafazendo?Seráqueseatreveriaacarregaraquelamonstruosidade?Teriacoragem deusá-la?Seriamuitodifíciljustificar-sedizendoqueaquiloeraumaarmadedefesa. — Você está tentando me convencer a icar com a arma ou a desistir dela? — Rayford perguntou. Albieencolheuosombros. — Quero que você ique satisfeito com a compra. Nã o aceito reclamaçõ es. Eu disse que poderia encontrar uma mais barata. Você disse que queria e iciê ncia. Nã o me interessa o que você vai fazer com esta arma e nã o quero icar com ela. Mas eu lhe garanto, capitã o, que, se umdiavocêtiverdeusá-laparaacertaralguém,nãovaiprecisarusá-laduasvezes. —Nã osei—disseRayford,comocorpodoloridoporter icadoagachado.Elemudoude posiçã o,pegouaoutrametadedapeçaesegurou-aolhandodefrenteparaaarmaa imdever comoelasseajustavam. —Pelomenos,façaumatentativa—disseAlbie.—Vaisersóumaexperiência. —Espero. Rayfordpô sobloconochã onovamente, icouempé entreosfaró isdoveı́c ulo,afastouas pernaseapontouaarmaparaapedra,firmandoamãoqueapertariaogatilhocomaoutra. Albietapouosouvidos.Emseguida,disse: —Vocêprecisataparoouvidodireito. Rayford en iou a mã o no bolso e pegou o bilhete que Albie havia escrito. Rasgou um pedaço,umedeceu-onalı́nguaeamassou-ofazendoumabolinha.Colocou-anoouvidoevoltou àposiçãodeatirar. — E estranho nã o poder engatilhar esta arma — ele disse. -Tenho a sensaçã o de que ela estáprontaeeunão. —Nã oestououvindonada—gritouAlbie.—Estoucommedodequevocê atirequando eutirarasmãosdosouvidos. A arma estava relativamente perto do ouvido que Rayford protegeu com a bolinha de papel.Quandoeleapertouogatilho,recebeuumtrancoqueoatiroudecostascontraocapodo caminhão,fazendo-ocairsentadonopára-choquee,emseguida,nochão.Aexplosãosooucomo uma bomba e o deixou surdo por alguns instantes, impedindo-o de ouvir o eco. Rayford icou satisfeito por nã o ter apertado novamente o gatilho no momento em que caiu no chã o. Albie olhavaparaelecomardeexpectativa. —Vocêtinharazão—disseRayford,comoouvidozumbindo.—Foiumaexperiência! —Veja—disseAlbie,apontandoparaumlocaldistante.Rayfordsemicerrouosolhospara vermelhor.Apedrapareciaintacta. —Euaatingi?—eleperguntou. —Vocêacertounaárvore! Rayford mal podia acreditar. A bala tinha atingido o tronco a uma altura de quase trê s metrosdochão,umpoucoabaixodosgalhos. —Euprecisoverisso—eledisse,levantando-sedochãocomesforço. Albieoseguiue,aochegarperto,viuquemaisdametadedotroncohaviasidodecepada. A outra parte que icou intacta nã o agü entou o peso dos galhos e a copa da á rvore desabou no chão,caindoaoladodapedra. —Ouvifalarqueexistemcirurgiõesdeárvores—disseAlbie.—Mas... —Quantasbalaselacomporta? —Nove.Quertentarnovamenteparaverseconsegueacertaroquevocêestámirando? —Vouterdecontrabalançaropeso.Elapuxaparacimaeparaadireita. —Não,nãopuxa. —Vocêviuoqueeuacertei.Euestavamirandoomeiodapedra. —Perdoe-me,capitão,masoproblemanãoestavanaarma.Estavanoatirador. —Oquê? —Emsuaprofissão,diriamquefoiumerrodopiloto. —Oquefoiqueeufiz? —Vocêhesitou. —Nãohesitei. —Hesitou.Você esperououvirosomforteeaaçã oe,semquerer,apontouotamborpara cimaeparaadireita.Destavez,alé mdeconcentrar-senoquevocê está fazendo, irmebemo péatrásparapodersuportarotrancocomasduaspernas. —Émuitacoisaparaagentepensar. —Tente.Casocontrá rio,você vaicairnochã ooutravezedarumtirodemisericó rdiana árvore. Rayfordtapouosdoisouvidos, irmouapernadireitanochã oedobroulevementeooutro joelho. Ele nã o poderia hesitar de jeito nenhum no momento de apertar o gatilho. Com os ouvidosbemtapadoseatentoparanã obatercomascostasnocaminhã o,elemirouapedrae atirou. Uma parte enorme do topo explodiu! Rayford recolheu do chã o um pedaço de pedra de cercade25centímetrosdediâmetropor8centímetrosdeespessura. —Apropósito,quemfabricaestacoisa? —Sósabequemprecisasaber. —Elanãotemmarca—disseRayford.—Comoéonomedela? —AspessoasqueconhecemaarmaachamamdeSabre. —Porquê? Albieencolheuosombros. —Talvezparaqueaoutrapartedapeçapossaserchamadadebainha.Quandooblocoea armaseencaixam,apeçaficaparecidacomumaespadadentrodabainha. Albie mostrou novamente a Rayford como montar a peça e a colocou numa sacola de papel.Emseguida,levouRayforddevoltaaocentrodacidadenovelhocaminhão. _Vocêdevesaberqueeunãocarregotantodinheiroassim—disseRayford. —Euarecebiemconsignação.Vocêpodememandarodinheirodaquiaduassemanas? —Macvaicuidardisso.-Muitobom...In!...Oh!... Rayfordlevantouacabeça.Aestradaquedavaacessoà á reacomercialestavabloqueada por carros das Forças Paci icadoras da CG com luzes pisca-pisca. Albie desviou pelas ruas secundá rias. Quando eles avistaram o café , Albie parou bruscamente e deu um longo suspiro. Rayfordfoiatiradoparaafrente,batendoacabeçanopá ra-brisa.Umamultidã oestavanarua. Nãohavianinguémnocafé,anãoserosTuttles. Trudy continuava sentada na mesma posiçã o em que Rayford a deixara, com a cabeça apoiadanosbraçossobreamesa.Mashaviaumenormeburaconapartedetrásdesuacabeça,e elaestavacobertadesangue,quepingavanochão. Ao lado dela, de frente para Rayford, estava o grandalhã o, loiro e sardento Dwayne. Sua cabeça tinha sido atirada para trá s, e seus braços pendiam ao longo do corpo, mã os abertas e polegares apontando para fora. Em sua testa, havia uma perfuraçã o redonda, de onde jorrava sangueformandoumapoçadebaixodacadeiraemqueeleestavasentado. Rayfordfezmençãodeabriraportadocaminhão,massentiuosdedosdeAlbieagarrandolheobraçocomforça. — Você nã o pode fazer nada por eles, amigo. Nã o mostre a cara na frente de seus inimigos.Dê-meseucelular. Atordoado, Rayford entregou-lhe o celular. Em seguida, começou a esmurrar o painel do caminhã o, enquanto Albie afastava-se em marcha a ré do local, atravessando um terreno arenoso.Elefalourapidamenteemsualı́nguanativa.Emseguida,desligouocelulareocolocou aoladodeRayford. Rayfordnã oconseguiaparardeesmurraropainel.Suacabeçalatejava,eospunhosdoı́am por causa dos murros. Seus dentes estavam cerrados, e seu cé rebro zunia. Parecia que sua cabeçaiaexplodir.Oinstintolhediziaparaorar,maselenã oconseguia.Suasforçasseesvaı́am comoseeletivessedeixadoumatorneiraaberta.Afundou-senobancodocaminhão. — Preste muita atençã o — disse Albie. — Você sabe que quem fez aquilo está atrá s de você .Elesvã o icardetocaianoaeroportoetalvezjá tenhamcolocadoumcaçaoudoisnoar. Vocêsabepilotaraqueleavião? —Sei. — Eu pedi a um funcioná rio da torre que avisasse que o aeroporto ia icar fechado por causa de ventos na redondeza. Ele vai dar dez minutos para o pessoal sair antes de apagar as luzes da pista. Ele me disse que nã o há ningué m perto de seu aviã o, mas que há muito mais gente no aeroporto do que o normal. O local vai estar escuro e vazio, assim espero, quando chegarmoslá.Mas,paramaiorsegurança,voupedirquevocêdesçaantesqueeuentrenatorre. Caminhe no escuro até seu aviã o. Quando eu ouvir o barulho dos motores, acendo as luzes da pistaparavocê. Rayfordnã oconseguiafalaremuitomenosagradeceraAlbie.Aliestavaumhomemque nem sequer era crente, mas era inimigo de Carpathia e estava disposto a fazer qualquer coisa para contrariá -lo. Albie nã o conhecia a situaçã o de Rayford e pedira-lhe, insistentemente, que nã o lhe contasse. Ele nã o queria saber. Poré m, ao tentar ajudar Rayford, estava arriscando a própriavida.Rayfordjamaisseesqueceriadisso. Elesestavamchegandoaoaeroportoquandoasluzesseapagarameumapequena ilade carros saiu do estacionamento. Albie parou e fez sinal a Rayford para que descesse, apontando paraaá reaaoredordoaeroporto,agoracompletamenteà sescuras.Rayfordpegouasacolae começou a descer, mas Albie o segurou e abriu a peça de aço. Em seguida, entregou as duas partesaRayford.Colocouumpoucomaisdemuniçã onapalmadamã oeadespejounobolsode Rayford. — Para uma eventualidade — ele disse, guardando a sacola de papel vazia debaixo do banco. A raiva deixou Rayford com a garganta apertada, impedindo-o de falar. Ele guardou a armaemumdosbolsoseobloconooutro,pegouseucelulareestendeuamã oparaAlbie.Eles trocaramumforteapertodemão. —Eusei,eusei...—disseAlbie.—Agoravá. Rayfordcaminhouapressadonoescuropeloterrenoarenoso,livrando-sedomatorasteiro e ouvindo sua pró pria respiraçã o ofegante. Quando inalmente suas cordas vocais destravaram, elecomeçouagemeracadarespiração.Derepente,deuumurroabafado,tãoforteeagudoque chegoua icarzonzoequasecaiunochã o.Quandoestavaauns30metrosdoaviã o,eleouviuo somdepassosatrásdeleeumgrito. —RayfordSteele!PareemnomedasForçasPacificadorasdaComunidadeGlobal! — Nã o! — resmungou Rayford. Ele continuou a caminhar e en iou a mã o no bolso para pegaraarma. —Vocêestápreso! Elecontinuouacaminhar. —Pareoueuatiro! Rayford sentiu um comichã o nas costas. Parecia um acontecimento distante e irreal ele terludibriadoumoutrohomemdaCGnaquelemesmodia...Elesacouaarmaevirou-se. Comafracaluzquevinhadaestrada,eleavistouovultodohomemdaCGaproximandose,dearmaempunho. Rayfordparou. — Nã o me obrigue a atirar em você ! — ele gritou, mas o homem continuou a caminhar emsuadireção. Rayford apontou a arma para baixo e atirou no chã o, a cerca de um metro do homem, levantando uma nuvem de areia. O homem voou para trá s e caiu de bruços com um grito, soltando a arma. Rayford correu na direçã o do aviã o. Ao olhar por cima do ombro, ele viu o homemestendidoimóvelnochão. Deus, não permitas que ele morra! ele orou, abrindo a porta com força e mergulhando dentrodoavião.Quandofechouaporta,eleviuqueestavabanhadodesuor.Eunãoqueriamatar aquelehomem! Rayfordpulouporcimadoencostodapoltronadopilotoeligouosmotores.Oponteirodo mostradordotanquedecombustı́velsubiu,osoutrosdispositivosbrilharamnopaineleasluzes dapistaforamacesas. —Tudocerto?—eleperguntoupelorá dio,tomandoocuidadodenã omencionaronome deAlbie. —Doisfantasmasaseismilhasaonorte—soouaresposta.Elespoderiamalcançá -loem segundos,masesperariamqueeleseguisseparaoesteedecolasserapidamente. Rayford olhou para a sua esquerda antes de alcançar a velocidade para decolagem. O homem da CG conseguira levantar-se do chã o e cambaleava como se estivesse recuperando a respiraçã o e procurando sua arma. O Super J subiu suavemente e Rayford rumou para o sul, permanecendo abaixo da linha do radar até ter a certeza de que nã o estava sendo seguido. Pouco depois, ele acelerou o mais que pô de. O impulso fez seu corpo grudar no encosto da poltrona. Ele embicou o aviã o na direçã o das estrelas e rumou para o oeste. Tudo o que ele queriaeracruzarocé u,alcançaravelocidademá ximanaaltitudemaisfavorá velevoltarpara casaafimdereverseuscompanheiros. Passavaumpoucodomeio-diaemIllinois.TsionBen-Judá estavaempé olhandoparafora atravé s da janela do andar superior da casa secreta. O verã o se aproximava. Ele acabara de fazer uma refeiçã o leve com Buck, Chloe, o bebê e Leah. Leah havia revelado ser uma mulher extraordiná riaefervorosa.Elenã oentendiaporqueRayfordseaborreciacomela.ParaTsion, elaeramuitosimpática. Ele havia quase terminado sua mensagem aos ié is e ia começar a revisã o que seria transmitidadaliapoucosminutos.Namensagem,eleadvertiaquequantomaisocalendá riose aproximasse de setembro — o 42° mê s do perı́odo da Tribulaçã o — o nú m ero de mortes provocadas pelos 200 milhõ es de cavaleiros chegaria cada vez mais perto de atingir a terça partedapopulaçã o.AgravidadedamensagementristeceuTsion,eelesentiuumsú bitodesejo deorarporseuvelhomentorecompatriota,ChaimRosenzweig. Pai,eleorou,já não sei mais como orar por meu amigo. Prosseguindo em sua intercessã o, ele citou um versı́c ulo bı́blico:"Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneiracomgemidosinexprimíveis.Eaquelequesondaoscoraçõessabequaléamentedo Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos." E, concluiu dizendo:Obrigado,Senhor. E, quando abriu os olhos, Tsion Ben-Judá pensou, a princı́pio, que estivesse sonhando. Tomando conta de todo o seu campo de visã o, do outro lado da vidraça, havia um exé rcito de cavaleiros montados em cavalos preparados para a guerra. Centenas e centenas de milhares, cavalgando,cavalgando.Acabeçadocavaloerasemelhanteà cabeçadeumleã o,eeleexpelia fogoefumaçapelaboca. Tsionjá haviaescritoaesserespeito,tinhaouvidorelatosdeoutraspessoas,desejandono ı́ntimo ter um vislumbre dessa cena. Mas agora, enquanto os itava com os olhos arregalados, sempiscar,querendochamaroscompanheiros,principalmenteBuck,quetambé mnã ooshavia visto,elenãoconseguiaproferirumasópalavra. No meio do dia, com o sol da primavera a pino banhando a cena, o imenso exé rcito de cavaleiros parecia irado e determinado. Suas couraças coloridas brilhavam, e os enormes animais nos quais eles estavam montados lado a lado movimentavam-se fazendo um ruı́do estrondoso, ganhando velocidade e passando do trote para o galope e do galope para uma corrida desenfreada. Parecia que o tempo deles havia chegado. As incursõ es ocasionais tinham sidoumsimplesensaio.Acavalariademonı́aca,quesó poupariaosescolhidosdeDeus,disparou enraivecidaparaatacartodaaTerra.Aquelecertamenteseriaseuataquefinal. —Tsion!—chamouBuck,dopédaescada.—Olhepelajanela!Rápido! Rayford ajustou os controles do Super J no rendimento má ximo do piloto automá tico. O cansaço havia tomado conta de seu corpo, mas ele nã o queria cochilar, mesmo tendo uma tecnologia tã o avançada à sua disposiçã o. Quando pegou o celular para ligar para casa, seus olhos captaram uma cena estranha a algumas milhas abaixo. Fogo e rolos de fumaça preta e amarelasubiampartindodeumain initaextensã odemilhõ esdecavaleirosecavalosagitados, quecruzavamrapidamenteooceanoemdireçãoàterra. CAPÍTULO19 TrêsMesesDepois Omê sdeagostocomeçouquenteeú m idoemMonteProspect,semvento,eoarestava quasetãoparadoquantoRayford.Acasasecretanãopossuíaar-condicionadoe,comamorteda metadedapopulaçãomundialdesdeoArrebatamento,nadavoltaraasercomoantes. Umterrívelpressentimentotomavacontadetodosdacasa.Osânimosestavamexaltados, e os nervos, à lor da pele. O bebê já dava seus primeiros passos e falava algumas palavras, passandoaseroú nicoatrazerumpoucodealegriaà casa.MasKennytambé mandavairritado com o calor, e até mesmo Tsion saı́a da sala quando a criança começava a icar irrequieta e Chloenãoconseguiaacalmá-la. SeoArrebatamentohaviaimpostoumsofrimentocoletivoaomundoporcausadaperda defamiliaresedetodasascrianças,eoterremotodagrandeiradoCordeiromodi icaraomodo de vida e a forma de locomoçã o do povo, os julgamentos que se seguiram haviam sido piores ainda. A escuridã o temporá ria do Sol, da Lua e das estrelas, a destruiçã o de um terço da populaçãodaTerrapormeiodefogo,oenvenenamentodeumterçodaáguaeagoraamatança de mais de um bilhã o de pessoas... bem, pensava Rayford, seria difı́c il haver algué m com as idéiasnolugar. Talvez nã o houvesse. Talvez todos tivessem enlouquecido. Rayford alimentava pensamentos que ele pró prio considerava absurdos. Haveria a possibilidade de acordar ao lado de sua querida esposa Irene — tã o negligenciada e desprezada -, de ver Raymie, de apenas 12 anos, dormindo no quarto, no im do corredor, de ainda ter tempo de ser o marido e o pai que deveria ter sido? Teria isso tudo sido apenas um aviso em forma de sonho, como o daquele personagemdofamosocontodeNataldeCharlesDickens,queviucomoseriaterrı́velsuavida futurasenãomudasseseumododeser? Será que ele despertaria um novo homem, pronto para entregar sua vida a Deus, exercendoinfluênciapositivasobresuafilha,suaesposaeseufilho? Talvez fosse possı́vel, nã o? Ou tudo continuaria a ser o pior dos pesadelos? Rayford sabia que seu cé rebro limitado nã o havia sido programado para assimilar todo o sofrimento que lhe fora imposto. Ele nã o queria mais nem pensar em tudo o que vira, tudo o que perdera. A dor haviasidomaiordoqueummortalpoderiasuportare,mesmoassim,elecontinuavavivo. O mundo inteiro tinha sido convidado para a Festa de Gala Global a realizar-se dali a um mê s em Jerusalé m. Como Carpathia ousava fazer tal festa? Como poderia concordar com essa grande comemoraçã o, sabendo que o nú m ero de pessoas mortas na ú ltima praga havia sido maiordoqueodedesaparecidosnoArrebatamento,trêsanosemeioantes? Tsionalertouseusleitoresanã ocomparecerem,anã osedeixareminduzirpelasprofecias queindicavamaqueladatacomoaderrocadadafé mundial,otempodeterminadoparaasduas testemunhas e para a morte de Carpathia. Apesar de morar na mesma casa, Rayford també m lia as mensagens diá rias de Tsion, assim como todos os que residiam ali. Tsion escrevera o seguintearespeitodamalfadadaFestadeGalaGlobal: Estranhei ter sido convidado como um "estadista internacional". Tudo foi perdoado, eles declararam anistia aos dissidentes e nos garantiram proteçã o. Bem, meus queridos amigos, irmã os e irmã s em Cristo, eu nã o comparecerei. Há uma profecia que diz que um terremoto exterminará adé cimapartedaquelacidade.Nã otemoporminhavida,porquemeufuturoestá assegurado — da mesma forma que o de todos os que se entregaram a Cristo para receber perdãoevidaeterna. Poré m, nã o optei por testemunhar pessoalmente o mais singular e o mais histó rico dos eventos,porqueestá evidentequeSataná smarcará presençaali.Minhafamı́liafoitrucidadaem retaliaçã o ao "pecado" que cometi por manifestar em pú blico minha crença de que Jesus é o Messias aguardado há tanto tempo. Durante a fuga de minha terra natal até o local onde me encontroexilado,fuioprimidopelaterrívelpresençadoautordamorte. A morte estará pairando no ar em Jerusalé m no pró ximo mê s, meus amigos, apesar da maneiravistosacomoesteeventovemsendoembrulhadoevendidoaomundo.Eumaafronta transformar uma festa em desculpa para reunir essa gente. Por um lado, o tal potentado mundial decreta o im dos sacrifı́c ios e oferendas no templo, porque violam os princı́pios da tolerâ ncia defendidos pela Fé Mundial Enigma Babilô nia. Por outro, ele tem em mente comemorar o acordo entre a Comunidade Global e Israel. Como podemos juntar estas duas coisas? Embora o potentado tenha intimidado o mundo e impedido que inimigos em potencial atacassem Israel, ele passa por cima das tradiçõ es milenares desse povo e trai sua herança e autonomiareligiosa. Damesmaformaqueorestantedomundo,acompanhareiosfestejospelaInternetoupela televisã o. Poré m, meus queridos, nã o aceitarei o convite para comparecer. Esse evento antecede a segunda metade da Tribulaçã o, chamada a Grande Tribulaçã o, que fará com que estesdiasterríveisqueestamosvivendopareçamapenascansativos. Nem mesmo os meios de comunicaçã o controlados pela CG poderã o dourar a pı́lula daquilo que sabemos ser a verdade. O crime e o pecado estã o descontrolados. Os gê neros de primeira necessidade começam a faltar por escassez de mã o-de-obra e de condiçõ es para fabricá -losedistribuı́- los.Apesardisso,portodososcantosdaTerracontinuamaexistirbordé is, sessõ es espı́ritas e casas de quiromancia ou templos pagã os para adoraçã o de ı́dolos. A vida passouaserinsigni icante,enossosconcidadã osmorremdiariamentedeixandocasasenegó c ios nas mã os de saqueadores. Nã o existem Forças Paci icadoras su icientes para fazer o policiamento, porque grande parte de seu contingente morreu, e aqueles que continuam trabalhandoestãosendosubjugadosousãocorruptos. Mesmo com um nú m ero tã o reduzido de pessoas em todos os ramos de atividade, é impressionante observar que muita coisa ainda continua a prosperar. Praticamente, nã o existemmais ilmeseprogramasnovosnaTV,masapornogra iaeaperversã oproliferamnas centenasdecanaisqueaindafuncionam,sendolivrementeassistidosporqualquerumquetenha umtelevisoremcasa. Estestempossombriosnã onoscausamsurpresa,meusqueridosirmã oseirmã s.Oropara que você s se mantenham irmes e continuem a divulgar a verdade até a volta de Jesus. Daqui emdiante,você spassarã oamaiorpartedotempolutandoparasobreviver.Exortoatodosque se preparem, que tracem planos para enfrentar o inevitá vel dia em que a proibiçã o de entrar nestesite ou de declarar-se cristã o passará a ser mais abrangente. Estejam preparados para o diaemqueserá exigidaatraiçoeiramarcadabestanatestaounamã oparapodercomprarou venderlegalmente. Emuitoimportantequevocê snã ocometamoerrofataldepensarquepodemestampar aquelamarcaporconveniê nciae,aomesmotempo,serumcrenteemCristo.Eledeixoubem claro:"Aquelequemenegardiantedoshomens,eutambé monegareidiantedemeuPai."Nas próximasmensagens,explicareiporqueamarcadodemônionãopodeserinvalidada. Sevocê sjá aceitaramaCristoeestã osalvos,porcertopossuemoselodeDeusnatesta, visı́velapenasaoscrentes.Felizmente,oselonatestaeadecisã oquevocê stomaramtambé m nã o podem ser invalidados, portanto nã o há motivos para ter medo de perder a posiçã o que ocupam perante Ele. Porque está escrito: "Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação,ouangústia,ouperseguição,oufome,ounudez,ouperigo,ouespada?Emtodasestas coisas, poré m, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou." Assim como o apó stolo Paulo, "estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor". Mesmo em meio a provaçõ es e tribulaçõ es, devemos continuar a agradecer a Deus, que nos dá a vitó ria por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. A Bı́blia també m diz: "Portanto, meus amadosirmã os,sede irmes,inabalá veis,esempreabundantesnaobradoSenhor,sabendoque, noSenhor,ovossotrabalhonãoéemvão." Permaneçamfirmesnoamor.Seuamigo, TsionBen-Judá Hattieestavapresa,semsaberdamortedesuairmã ,eRayfordsentia-seresponsá velpor ela. OsassassinatosdeDwayneeTrudyTuttleforamumgolpeduroparaocoraçãodele. A reaçã o de Bo Hanson diante da morte do irmã o serviu apenas para aumentar o desesperodeRayford.TfoiincumbidodedaranotíciaaBo,porquedemonstraraseramigodele, apesar das diferenças de idé ias entre ambos. Rayford havia tido uma discussã o acalorada com Bo, e agora esperava que T conseguisse dar um testemunho cristã o ao rapaz quando lhe transmitisse a triste notı́c ia. Depois disso, talvez Rayford pudesse desculpar-se por seu mau comportamentoetivesseaoportunidadedeverorapazaceitaraCristo. TretornaraanimadodeseuencontrocomBo.Depoisdeumtelefonema,elesedirigiuao apartamento do rapaz e contou-lhe o que havia acontecido. Entre lá grimas, Bo lhe perguntou sobreobilhetequereceberadeSam. —EudisseaelequeobilhetefoiforjadopelaCG,Ray—explicouT.—Aparentemente, eleaceitou.Choroumuito,sentindo-seculpado.Dissequeentregouseuirmã opordinheiro.Mas ele nã o fez isso. Simplesmente cometeu o erro de envolver Sam em um plano malfeito. Bo estava abatido quando o deixei, mas permitiu que eu orasse com ele. Achei que foi um grande passo. —Tenhocertezadisso—disseRayford-,masvocê nã oquisencontrar-secomigosó para darestaboanotícia.Oqueaconteceu? Trecostou-senacadeiraedeuumlongosuspiro. — Bo se matou ontem à noite, Ray. Bebeu demais em um bar, sacou uma arma, amaldiçoouCarpathiaeomundoedeuumtiroemsimesmo. Rayfordpassaradiasediasinconsolável. —Parecequefuieuquepuxeiogatilho—eledizia. OpessoaldoComandoTribulaçã ooconsoloudizendoqueelenã oeraculpado.Finalmente, Rayford concordou com seus companheiros e jogou a culpa naquele que era o responsá vel por tudo:NicolaeCarpathia. Rayfordpassouaconcentrar-senaspassagensprofé ticasarespeitodamortedoanticristo, deixando de buscar os conselhos ou as interpretaçõ es de Tsion. Em sua obsessã o, ele interpretava a Bı́blia da maneira que lhe convinha, arvorando-se no agente escolhido por Deus para perpetrar o ato. Quando lia "se algué m matar à espada, necessá rio é que seja morto à espada", Rayford estremecia porque tinha certeza de que até mesmo Tsion acreditava que o versı́c ulo referia-se ao anticristo. Será que a mensagem era dirigida a ele? Um versı́c ulo mais adiante dizia: "[...] que façam uma imagem à besta, à quela que, ferida à espada, sobreviveu." Estadeviaserumareferê nciaaumadascabeçasdabestaquefoi"golpeadademorte,masessa feridamortalfoicurada". Ele nã o conseguia compreender. Quem conseguiria? Sem a ajuda de Tsion, Rayford acreditava que encontrara uma explicaçã o para aqueles versı́c ulos. Carpathia ia ser mortalmente ferido na cabeça por uma espada e, em seguida, voltaria a viver. Uma espada? Como era mesmo o nome que Albie deu à quela má quina mortı́fera fenomenal que Rayford esconderanoporão,atrásdealgunstijolossoltos?Sabre. Seria ele o autor? Teria condiçõ es? Seria dele a incumbê ncia? Rayford sacudiu a cabeça, atordoado.Quepensamentosmaisestranhos! MacsentiaafaltadeRayford.Paraele,Rayfordtinhasidoavozdarazã o,ummentor,um exemplodeespiritualidade.Mactambé mgostavadeDavideAnnie,doisjovensexcelentes.Mas nã o tinha muita a inidade com eles. Abdullah era um ó t imo co-piloto e companheiro de vô o, poré m passava dias sem dizer quase nada, limitando-se apenas a responder à s perguntas de Mac. A vida era interessante, mas, certamente, nunca mais voltaria a ser divertida. Voar para as principais capitais e ouvir a incessante bajulaçã o de Fortunato aos dez reis eram situaçõ es quesetornaramcansativase,aomesmotempo,fascinantes.Ocupandoumatribunanapistado aeroportodeNairóbi,Leondiscursoucomgrandepompa: — Saú do um dos principais potentados regionais de Sua Excelê ncia Nicolae Carpathia, o ilustreSr.EnochLitwala. Oesquecimentodonomedestegrandelı́dererenomadopaci istaduranteafaseinicialda escolhadeumpotentadoregionalparaosEstadosUnidosdaAfrica icará registradonahistó ria da Comunidade Global como um fato constrangedor. Talvez tenhamos nos lembrado dele um pouco tarde, mas nó s o descobrimos, nã o? A multidã o aplaudia seu ilho favorito. Leon prosseguiu: —SuaExcelê nciaenviasuasmaissincerassaudaçõ esà Africaeosmaisaltoselogiospelos objetivosinternacionaisalcançados.EmnomedeSuaExcelê ncia,tenhooprazerdeconvidaro novopotentadoparaaFestadeGalaGlobalarealizar-senomêsdesetembroemJerusalém! Apó s aguardar alguns instantes até que a multidã o se aquietasse, Leon deu um tom de seriedadeàvoz. — Temos atravessado tempos difı́c eis e enfrentado perdas de muitas vidas. Mas Sua Excelê ncia nã o está poupando esforços nem dinheiro para a realizaçã o de uma festa como nunca se viu antes. Alé m de comemorar a metade do perı́odo de vigê ncia do tratado de paz com Israel, també m tenho a satisfaçã o de a irmar-lhes que recebi permissã o para comunicar publicamente que Sua Excelê ncia está garantindo — sim, os senhores ouviram bem -, garantindo um im aos dois assassinos. Os senhores querem saber como ele fará isso? O potentado a irma que, se as tais testemunhas diante do Muro das Lamentaçõ es nã o desistirem deatormentaropovodeIsraeleorestantedomundo,elepró prioseincumbirá delidarcomos dois. Esta mensagem foi repetida em todas as capitais, sendo recebida com entusiasmo pelo povo. Mac achava que as pessoas estavam tã o cansadas de morte e devastaçã o e tã o prisioneiras de seus pecados que queriam desfrutar a vida antes que os dois profetas que pregavamacondenaçã osoltassemoanjodocé u.Será queCarpathiaassassinariaosdois?Elejá nã ohaviafeitoestaameaçaantes?Eacabouridicularizadopelosprofetas.Masagoraeleestava garantindo.Eestavatambé mempenhandosuapalavradequeajudariaopovoacomparecerà FestadeGalaGlobal,apesardaescassezdeserviçospú blicosemrazã odonú m eroreduzidoda população. — Estamos prestes a presenciar uma reviravolta dramá tica em direçã o aos nossos objetivoseideaisquevisamaumasociedadeutó pica—disseFortunato,citandoaspalavrasde Carpathia.AFestadeGalaGlobalmarcariaoprimeiropasso. Macachavaestranhoveroanticristoenvolvidopessoalmenteemumassuntoderelaçõ es públicas,tentandosalvarsuaimagem. Nascapitais,Leonprosseguiuemseuselogiosaospotentadosregionaisincluindopromessas daComunidadeGlobalparamelhoraroserviçopúblico. — Vamos trabalhar com mais vigor e mais a inco — ele dizia -, para atender à s necessidades dos senhores. Dentro de uma dé cada, a ú nica lembrança amarga será a tristeza por causa daqueles que perdemos. A palavra inconveniê ncia fará parte do passado, porque trabalharemos juntos até conseguir uma tecnologia de ponta que nos proporcione serviços de altonívelcomojamaisimaginamos. Havia sempre uma sessã o de fotogra ias reservada para a imprensa controlada por Carpathia, nas quais Fortunato observava, com ar solene, as á reas subdesenvolvidas em conseqü ênciadoaltoı́ndicedemortalidade.Emseguida,elebeijavaosbebê seoslevantavanos braços, proclamando "o futuro da Comunidade Global". Depois de atrair o entusiasmo dos habitantesdolocal,eleconvidavaopotentadoregionalparaentrarnomajestosoFê nix216para "umareuniã ocon idencialdealtonı́vel,naqualolı́derdossenhorespoderá melhorrepresentar asnecessidadesdestaregião". Fortunatoouviaoqueospotentadostinhamalhedizerefaziapromessasquenemmesmo ummilhã odeCarpathiaspoderiamcumprir.E,emcadareuniã oparticular,oassuntoprincipal passava a girar em torno da "situaçã o da Fé Mundial Enigma Babilô nia". Enquanto ouvia a conversa pelo sistema de escuta clandestina, Mac notou que a maioria dos potentados sabia exatamente o que Leon queria dizer, assim que o assunto era levantado. Alguns perguntavam: "Dequesituaçãoosenhorestáfalando?",mas,nomomentoemqueLeonpartiaparavisitaruma nova regiã o, ele já sabia com quais potentados poderia contar. O fato mais surpreendente para MaceraquetodosafirmavamestarfazendooposiçãoaoarrogantePeterSegundo. Mac icou tã o intrigado que resolveu ter uma conversa telefô nica particular com Tsion, apesar da diferença de fusos horá rios. O telefonema foi atendido por Leah, que passara a coordenar todas as ligaçõ es. Mac lhe garantiu que, se Tsion nã o tivesse tempo para atendê -lo, elecompreenderia.Nodiaseguinte,osdoisconversarampelalinhasigilosa. — Capitã o McCullum, meu amigo, estou muito agradecido por toda a informaçã o que você nos tem enviado. Isso tem facilitado muito o meu trabalho e me fornecido dados que eu jamaisconseguiriasemsuaajuda.Emquelhepossoserútil? —Bem,senhor,tenhoumaperguntará pidaalhefazer,assimespero.SeiqueDavidtem mantidotodoopessoalinformado,porintermé diodeLeah,sobreaconspiraçã oparainstigaros dez reis contra Peter Segundo. Sabemos que nem todos os reis sã o leais a Carpathia, mas eles tê m subido a bordo, um de cada vez, para ouvir coisas contra Peter. Minha pergunta é se eles estã o apenas enrolando Fortunato ou estou sendo ingê nuo demais a ponto de acreditar que a raivadelescontraPeteréverdadeiraetodosestãodeacordo? —Excelentepergunta,capitã o.Eusó nã otrateiaindadesteassuntopelaInternetporque acheiqueestariameexpondoemdemasiaemeintrometendonocursodaHistó ria,oqueseria umprecedenteperigoso.DevemosnosabsterdetentarajudarDeusacumprirsuaspromessas. SeEledissequevaiacontecer,vaiacontecer. — Mas nó s sabemos — prosseguiu Tsion -, que os dez reis estã o dispostos a conspirar contra Peter Segundo. E bı́blico. Deus está elaborando seu plano eterno. Ele está usando esses reis da mesma forma que usou exé rcitos pagã os nos tempos do Antigo Testamento para punir seupovoehojeusaexé rcitosdemonı́acosparachamaraatençã odosincré dulos.EmApocalipse 17lemososeguinte:"Osdezchifresqueviste"(estessãoosreis,Mac)"eabesta,essesodiarãoa meretriz"(queé afalsareligiã o,representadaagoraporPeterSegundo),"eafarã odevastadae despojada,elhecomerãoascarnes,eaconsumirãonofogo." — Agora, preste atençã o, capitã o. O versı́c ulo seguinte responde à sua pergunta. Eles estã o concordando com essa conspiraçã o, mas, na verdade, nã o passam de egomanı́acos que nã oconcordamcomnada,nemmesmocomCarpathia.Eomotivoé este.Ouçaatentamenteo que vou ler. "Porque em seus coraçõ es incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dê em à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus." —Quecoisa! —Nãoédemais?Émaravilhosotestemunharocumprimentodaprofecia. —Obrigado,senhor. — Você vai descobrir que, se esses reis pensam da mesma maneira, foi porque Deus quis assim.EvocêsabequeissoredundaránamortedePeter,nãosabe? —Imaginoquesim. —Aperguntaécomoeondeessefatoocorrerá. —Eutenhoumaidéia—disseMac. —Verdade?—perguntouTsion. Maccontou-lheacercadaconversaparticularentreLeoneoreirecentementenomeado, o queniano Enoch Litwala. Fortunato ouviu a lista de sugestõ es e pedidos de Litwala e anotou tudo,dizendooquepensavaarespeito.Emseguida,mudouoassuntoparaPeterSegundo: —SuaExcelê nciapediu-mequetratassepessoalmentecomvocê deumasituaçã omuito delicada. Ele tem grande admiraçã o por sua sabedoria e habilidade em compreender as circunstâ ncias, mas este é um assunto com o qual talvez você nã o esteja familiarizado. Você tem conhecimento de qualquer, digamos, hesitaçã o por parte dos outros potentados regionais quantoao...exibicionismodePeterSegundo? Litwala respondeu tã o rapidamente que Mac precisou aprumar o corpo na cabina de comandoeajustarmelhorofonedeouvido. —Nã oseienã omeinteressaoquemeuscolegaspensam—disseLitwala-,masvouser francocomosenhor.Paramim,aquelehomemé umsujeitodesprezı́vel.Eleé egoı́sta,apegado demaisà sleis,temsangue-frio.Apropriou-sedeenormesquantiasdedinheiroparasuaEnigma Babilô niaquedeveriamtersidousadasemmeupaı́sparaajudarmeupovo.Eunã ooconsidero lealaSuaExcelência,opotentadoe... —Sério? —Assimqueouviufalarquemeunomeestavasendocogitadoparaocuparesteposto,ele veiomever.Voouatéaqui,creioeu,nestemesmoavião.Esteaviãoeradele,certo? —Era. — Ele tentou conquistar meu apoio para conseguir uma funçã o mais abrangente no governomundial,alé mdaquejá ocupacomoreligioso.Eunã odissenada.Achoqueelejá tem prestı́gio demais. Por que eu haveria de querer que ele tivesse mais ainda? Eu disse que ia estudar suas propostas e, caso tivesse a honra de ser escolhido para ocupar esta posiçã o, conversaria com os potentados regionais mais experientes para conhecer a opiniã o deles. Aparentemente, aquilo o deixou satisfeito. Ele tentou extrair de mim uma opiniã o negativa sobreoqueeupensoarespeitodeSuaExcelê ncia,masmelimiteiaouvir.Nã ooprovoqueinem contestei, mas també m nã o revelei minha posiçã o. Aquela conversa provou ser valiosa posteriormente. —Muitobem,potentadoLitwala.Eleacreditaquecontacomoapoiodosoutrosesupõ e quevocê també mvaiceder.Você concordaqueelerepresentaumperigoempotencialparaa harmoniadaliderançadaComunidadeGlobal? —Nãosóumperigoempotencial.Eleéumperigoiminente. —Oquevocê proporiaemrelaçã oaele?Estaé aperguntaqueSuaExcelê nciatempara você. —Elenãogostariadeconhecerosmeussentimentosmaisprofundos. —Talvezvocêtenhaumasurpresa. — Se o potentado gostar de saber que eu acho que Peter deve ser eliminado, isso me causariaumagrandesurpresa. —Paravocê,eliminadosignificaserretiradodiplomaticamentedo... —Paramim,supremocomandante,eliminadosignificaeliminado. Houveumsilêncioporalgunsinstantes.Litwalavoltouafalar: —Meuproblemaéquehápoucaspessoasemquemconfio. DepoisdetudooquetivedesuportarcomRehobotheoutros... —Euestoulhedizendoqueosoutrospotentadosestã odeacordocomestaidé ia—disse Leon. —Queeledevesereliminado? —Exatamente.Outrapausa. —Masquemfariaisso? —Vocêprecisaconversarcomelesaesserespeito. — Deve haver uma maneira de ter certeza de que estamos unidos, de que nã o existe nenhumapossibilidadedetraição.Todosseremosigualmenteresponsáveis. —Querdizertodoscontribuindoparaopagamentodoresponsávelpelaeliminação... — Nã o! — disse Litwala. — Todos nó s devemos ser igualmente responsá veis e culpados pelaação. Depois que Litwala saiu da aeronave, Mac ouviu Fortunato conversando com Carpathia pelotelefone. —OsenhorconseguiudobraronovopotentadodaAfrica!...Verdade?...Osenhornã oestá falando sé rio... E verdade?... Impressionante. O senhor já fez isso comigo?... Chegou a me hipnotizar...Oqueelevaisugerir?...Todososdez?Aomesmotempo?Assim,umnã ovaipoder delatarooutro.Brilhante!MacligouparaDavid. —VocêtemgravadoasconversastelefônicasdeCarpathia? —Otempotodo. —Ligueogravadorparaouvir.Você selembradaquelahistó riaqueBuckWilliamscontou sobre Nicolae, quando ele convenceu as pessoas de que elas tinham visto uma coisa que nã o aconteceu e que, dali em diante, só se lembrariam da histó ria que ele pró prio inventou? Acho queNicolaeacaboudecontaraLeonquefezalgoparecidooutravez. —Elesaindaestãoconversando? —Estão. —Vououviraconversaaovivo,Mac.Boaviagem. Quando David acessou o telefone de Carpathia, a conversa entre Nicolae e Leon estava terminando. — Eu vou icar totalmente fora dessa histó ria — Carpathia estava dizendo. — Ningué m vai querer falar, nã o haverá arma, nã o haverá corpo. Apenas DNA su iciente nas cinzas para identificarocorpo,casoalguémdesconfie,mas,comoPeternãovaiaparecernuncamais,tenho certezadequenãohaverádúvidanenhuma. —Equemconfirmariaaenfermidade?Elesseatreveriamaenvolvermaispessoas? —Leon!Pense!OdGustav. — Ah, sim! Odoutor Gustav. Por que precisarı́amos usar algué m de fora se um dos dez podeassinaroatestadodeóbito?Eujádissequeosenhorébrilhante,Excelência? —Talvez,masaté mesmoumhomemcon iantecomoeugostadeouvirumelogiodestes maisdeumavez. —Aidéiadogeloéestupenda.Estoufalandosério.Nãoháoutrapalavraparadescrevê-la. —Obrigado,comandante.Boaviagem. David sorriu ao ouvir as mesmas palavras que ele usara para despedir-se de Mac. Dois companheirosdizendoadeus.DaveeMac;NickeLeo.Duasduplasdeparceirostraçandoplanos, tentandoderrotarosconcorrentes.Eledeuumlongosuspiro.Só queadiferençaentreasduplas erainfinita. Davidresolveuouviragravaçãodaconversadesdeoinício,quandoFortunatodisse: —OsenhorconseguiudobraronovopotentadodaÁfrica! — E como! — disse Carpathia. — Eu tenho esse homem nas mã os desde o dia em que visitei a ONU pela primeira vez. Eu sabia que teria de esperar enquanto nã o resolvê ssemos a situaçãocomNgumoouRehoboth.Percebiqueessesujeitoeramuitosugestionável! —Verdade? —Desdeoinı́c io.Euohipnotizeiportelefoneumavez.Dissequeeleseriatotalmenteleal amim,quemeusinimigosseriamseusinimigosequemeusamigosseriamseusamigos. —Osenhornãoestáfalandosério. —Querqueeuprove?EleestádispostoaeliminarPeter,nosentidoliteraldapalavra. —Éverdade? —Elequertodosmetidosnisso,todososdez.Quetal? —Impressionante.Osenhorjáfezissocomigo? —Fizoquê? —Chegouamehipnotizar? —Eunã oprecisofazerisso,Leon.Você é oamigoeoconselheiroemquemmaiscon io. ComEnoch,conseguiaté aincutirumplanointeironacabeçadele.Elevaipensarnoassuntoe, quandovoltarafalarcomigo,vaisugeriroquejáestáincutidonacabeçadele. —Oqueelevaisugerir?—perguntouLeon. —Umareuniã oemJerusalé mnamanhã anteriorà FestadeGalaGlobal.Elevaiconvidar Peterparadiscutiraminhasucessão,vaidizerquePeterocuparámeulugarseumdeterminado planodercerto.SeráumareuniãoentrePetereospotentados. —Todososdez? —Sim.Areuniã oserá realizadanoeleganteGrandeHoteldaComunidadeGlobal,ondeas esculturasdegelosetornarammuitopopulares.Elesvã oencomendarumagrandeesculturade Peter, em tamanho natural, retratando-o como um anjo poderoso com asas enormes e penas pontudas e a iadas. Enquanto os dez reis estiverem admirando a escultura, cada um deles pegará umadasa iadaspenasdegelo.Petervaiestranharoqueestá acontecendo.Nessemeiotempo, cada um dos reis o atacará de diferentes â ngulos, no pescoço, nos olhos, nas tê mporas, nocoração. — Ao mesmo tempo? — quis saber Leon. — Assim, um nã o vai poder delatar o outro. Brilhante! — As armas derreterã o, o corpo será transportado para o cremató rio dentro de um saco que o potentado Gustav, da Escandiná via, trará na maleta. O corpo será queimado para evitar que se espalhe uma doença mortal, que provoca sangramento até a morte por secreçõ es das membranasmucosas. —Issoexplicaráosvestígiosdesanguenasaladereuniões. —Exatamente.Euvou icartotalmenteforadessahistó ria.Ningué mvaiquererfalar,nã o haveráarma,nãohaverácorpo.ApenasDNAsuficientenascinzas... CAPÍTULO20 Buckestavasesentindodesprezado. FaziamuitotempoqueeleeChloehaviamcomeçadoasedesentender. — Sei que temos apenas trê s anos e meio pela frente -ela disse -, mas você acha que eu querocriarestacriançasozinha? —Nadaderuimvaiacontecer—eledisse,tentandoabraçá-la.Elaseesquivou. —Você vaipartir—eladisse.—Está escritoemseurosto.EuadoroChaim,masnã oé justooqueeleestápedindo. — Se eu nã o for, Tsion irá , e nã o queremos isso. Chaim Rosenzweig havia recebido um convitepara comparecer à Festa de Gala Global como convidado de honra de Sua Excelê ncia, o potentado. Chaim pedira a Jacov que avisasse o pessoal do Comando Tribulaçã o por meio de umamensagemcriptografadanositedeTsion.Leahencontrouamensagem,quaseporacaso. —Vocêsabeoqueéisto?—elaperguntouaRayfordquandoosdoisestavamtrabalhando, tarde da noite, em seus computadores na cozinha da casa secreta. — Estas iniciais nã o sã o coincidência,são? Ela virou olaptop para que ele visse o que estava escrito na tela. A mensagem era uma entre as milhares enviadas aosite do Dr. Ben-Judá . Algumas o incentivavam, outras faziam perguntas, outras continham crı́t icas ou ameaças. Parte do serviço de Leah era fazer uma triagem e separar as que precisavam de uma resposta pessoal. A maioria nã o necessitava. A mensagemqueelaestranharatinha-lhechamadoaatençãoporsermuitocurtaeconteriniciais estranhas.Diziaoseguinte:"C(B)WligueJrefpatrão.Assinado,H." —Nã oseiquemé JnemoqueesseHsigni ica—eladisse-,masquantaspessoassabem que podem enviar mensagens para Cameron (Buck) Williams nestesite? Ou estou imaginando coisas? Rayford analisou a mensagem e chamou Buck. Os trê s se sentaram diante da tela do computadordeLeah.Derepente,Buckpuloudacadeira. — E Jacov! — ele disse. — Que esperto! Ele é marido de Hannelore e quer falar sobre Chaim. Buck consultou seu reló gio e fez a ligaçã o. Eram sete horas em Israel. Jacov costumava levantarcedo. —ElefoiconvidadoparaaFestadeGalaGlobal—disseJacovrapidamente.—Todosnó s achamos que nã o deve ir. Ele nã o tem passado bem, ica acordado até tarde da noite. Sua aparênciaestáhorrível.Conversecomele,quemsabeeledesiste. Pela voz, Chaim demonstrou que nã o estava bem. Ele tentou dar um tom jovial à conversa,masseuacentuadosotaqueisraelensedeixavatransparecercansaçoe,à svezes,uma certadificuldadeparapronunciaraspalavras. — Eu nã o vou desistir, Cameron, mas insisti em levar meu criado e dois convidados. Disseram-me que posso ir acompanhado de quem eu quiser. Stefan tem aversã o a Carpathia e diz que prefere pedir demissã o a comparecer à festa. Jacov concordou em fazer as funçõ es de motoristaecriado. —Dr.Rosenzweig,vocênãodeveir.JáleuasadvertênciasdeTsione... — A advertê ncia de Tsion é para aqueles que a Comunidade Global chama de seguidores de Ben-Judá . Eu gosto muito de Tsion e o considero como uma pessoa da famı́lia, masnão soa seguidordeJudá.Estoudecididoair,masqueroquevocêeTsionmeacompanhem. Buckrevirouosolhos. —Perdoe-me,doutor,masvocê está sendoingê nuo.Nó sdoissomosconsiderados persona nongrataperanteaCG,enãoconfiamosnemumpouconaproteçãogarantidaporCarpathia. —Elesdisseramquepossolevarquantosconvidadoseuquiser. —Elesnãosabemquemvocêpretendeconvidar. —Cameron,vocêeeunostornamosamigos,não? —Claro. —Nossaamizadenãoéprofissional,certo? —Certo,mas... — Você é um cosmopolita. Devia saber que, em minha cultura, consideramos altamente ofensiva a recusa a um convite formal. Eu estou convidando formalmente você e Tsion para compareceremàFestadeGalacomigo,emesentireiinsultadosevocêsnãoaceitarem. — Doutor, eu tenho famı́lia. O Dr. Ben-Judá é responsá vel por milhõ es de pessoas que contamcomseus... — Você s estarã o em minha companhia! O regime de Carpathia tem cometido atos abominá veis,masameaçarasegurançadealgué mtã oimportantequantoTsionnapresençade umconvidadodehonra... — Eu posso dizer-lhe de antemã o, doutor, que Tsion nã o comparecerá . Nem sei se vou transmitir-lheoconvite.Talvezelesesintanaobrigaçãodeatenderaoseupedido,porquegosta muitodevocê,masseriaumairresponsabilidadedeminhaparte... —Vocêtambémgostamuitodemim,não,Cameron? —Sim,gostoosuficienteparalhedizerqueissoé... —EuretirooconviteaTsionsevocêvier.Buckhesitou. — Eu nã o poderia usar meu nome verdadeiro. E, embora eu esteja com a isionomia bastantediferenteparapassarpelaalfâ ndega,nã ovoupoderapareceraseuladosevocê estiver pertodachefiadaCG.Elesmereconheceriamimediatamente. Chaimcalou-seporalgunsinstantes.Emseguida,disse: —Estoumuitotristeporquedoisdemeusamigosaquemprezotanto,amigosquedizem quesepreocupammuitocomigo... —Doutor,nã ofaleassim.Nã oé verdade.Você querqueeuvá só porqueestá mefazendo sentirculpado?Éjusto?Vocênãoestápensandoemminhamulheremeufilho? Rosenzweig, demonstrando total insensibilidade, ignorou completamente a ú ltima observaçãodeBuckeperguntou: —OqueTsiondiriasevocê lhecontassequeeutalvezestejaprontoparaserumseguidor deJudá? Bucksuspirou. — Antes de mais nada, ele detesta esse termo. Você , mais do que ningué m, deveria conhecermuitobemTsionapontodesaberquenã ofazpartedocará terdeleterseguidores.E tomarumadecisãoarespeitodesuaalmacomoseestivessefazendoumabarganha... —Cameron,eujálhepedialgumacoisaantes?Fazmuitosanosqueoconsideroumjovem cuja admiraçã o por mim é gratuita, mas muito sincera. Acho que nunca tirei vantagem disso. Tirei? —Não,eéporissoque... —Vocêéumjornalista!Comopodequerernãoestarpresente? Buck icou sem resposta. Na verdade, ele icou com vontade de comparecer à Festa de Galadesdeomomentoemqueouviufalardela.Elemalpodiaacreditarqueopró prioCarpathia estivesse patrocinando um evento no qual muitas profecias seriam cumpridas. Mas nunca pensara seriamente em ir, apesar de sentir um certo orgulho pela facilidade com que entrou e saiudeIsraelusandoumnomefalso,poucotempoatrá s.MaseChloe?EKenny?Eosavisosde Tsionparaquenenhumcrentecomparecesse?Buckconsideravaessaviagemforadecogitação. Finalmente, Chaim conseguira tocar no ponto vulnerá vel de Buck. Incré dulo ou crente, solteirooucasado,comousemfilhos,eleerajornalistadesdequeseconheciaporgente.Quando criança,sempreforacurioso—xereta,conformediziamosamigoseafamı́lia-,mesmoantes de ter uma oportunidade de publicar suas histó rias. Sua marca registrada era realizar uma reportagem incisiva e testemunhada pessoalmente. Ele só se sentia feliz de verdade quando estavatrabalhandoemalgumamaté ria,nã oaliescondidonacasasecreta,ondeomá ximoque podiafazereracomentarmaterialjápublicado. Suahesitaçã opareceuanimarRosenzweig,comoseelesoubessequeBuckmorderaaisca equedaliemdiantebastavapuxaralinhaetirá-lodoanzol. — Nã o estou dizendo que nã o quero estar aı́ — disse Buck vacilante, detestando dar um tomdelamentoàvoz. —Entãovocêvirá?Issosignificariamuitopara... —Nã osetratadeumadecisã oqueeupossatomarsozinho—disseBuck,dando-seconta de que havia conseguido lavrar um tento. Depois de uma recusa taxativa, ele descobrira um meiodeprotelarsuadecisão. — Esta é uma das diferenças entre nossas culturas — disse Chaim. — O homem do OrienteMédioédonodopróprionariz,deseuscaminhos,nãodevesatisfaçõesa... —Eunãopossoservistocomvocê—disseBuck. — Fico feliz só em saber que você estará lá , Cameron. Com certeza, encontraremos um momentoparaumaconversaparticular.VouretirarmeuconviteformalaTsion,enã ovoume alongarsobrenossasdiscussõesdenaturezaespiritual. — Você nã o precisa esperar por mim para tomar uma decisã o, doutor. Na verdade, eu insistoque,antesdepensaremparticipardafesta,vocêdeveria... —Euprecisodiscutiressascoisaspessoalmente,Cameron.Vocêcompreende. Buck nã o compreendia, poré m, se permanecesse mais tempo ao telefone, receava fazer outras concessõ es. Mesmo tendo a certeza de que suscitaria a ira do Comando Tribulaçã o, ele negociouumacondição. —Euinsistoemumacoisa—eledisse. —Ora,Cameron,vocênãovaivoltaratrás,vai? —Eunãoqueroquevocêestejapresentenosegundodiadafesta. Chaimnãoargumentou,masBuckouviuosomdepapéissendorevirados. — O evento vai durar cinco dias — disse Rosenzweig -, de segunda a sexta-feira da pró ximasemana.Oaniversá riodotratadoé nasegunda.Nicolaequerqueeuestejapresentena tribuna para essa comemoraçã o. Na terça-feira, haverá uma festividade no Monte do Templo, onde eu receio que se inicie um confronto entre ele e os dois pregadores. E isto que você quer queeuevite? —Exatamente. —Concordo. —Obrigado,doutor. —Asinformaçõ esdequedisponhoexigemahonrademinhapresençanascerimô niasde abertura e de encerramento. A abertura será na segunda-feira à noite, e o encerramento, na sexta-feiraànoite. —Pormim,vocênãocompareceriaanenhumadelas. —Ouvivocêdizerqueestarialá. Annie e David desenvolviam cada vez mais seu relacionamento. Ele nã o gostou quando Annie lhe disse que, à s vezes, ela achava que o namorado gostava mais dela como uma companheirasubversivadoquecomoalgué mqueoamava.Olhandoaoredorparatercerteza de que estavam sozinhos no inal de um corredor, ele segurou o rosto de Annie e encostou a pontadonariznodela. —Euamovocê—eledisse.—Emoutrascircunstâncias,eumecasariacomvocê. —Vocêestámepedindoemcasamento? — Bem que eu gostaria. Você pode imaginar a pressã o, o desgaste que estou sofrendo. Você també m sente isso. As ú nicas duas pessoas crentes que vimos por aqui, alé m de Mac e Abdullah, foram aquelas duas mulheres que trabalham no inventá rio. Elas foram descobertas ontemànoite. — Oh! nã o! Nem tivemos tempo de conversar com elas. Provavelmente pensaram que eramasúnicascrentes. —ElasforamenviadasparaBruxelashojecedo. —Oh,David. — Acho que nó s també m nã o vamos permanecer aqui por muito mais tempo. Nã o sei exatamentequandoelesvãocomeçaraexigiratalmarca,masvamosterdefugirantes. —Euquerosersuaesposa,nemquesejaporpoucosanos. — Eu també m quero me casar com você , mas nã o podemos fazer nada enquanto nã o soubermossevamosconseguirsairjuntosdaqui.Seumdenó sforemboraeooutronã o,avida nãoterámaissentido. — Eu sei — ela disse. — Vamos ser os primeiros da lista quando Carpathia começar a exigiramarcadalealdade.Evocêsabequeelevaicomeçaraquinopalácio. —Ébemprovável. — Enquanto isso, David, seria melhor você dizer ao pessoal do Comando Tribulaçã o nos EstadosUnidosque,seelesprecisaremviajar,agoraé amelhorocasiã o.Viumdocumentoque vai ser enviado à s Forças Paci icadoras do mundo inteiro, dizendo que haverá um perı́odo de tré gua no qual ningué m poderá ser preso nem detido até o té rmino da Festa de Gala, nem mesmoosinimigosdaComunidadeGlobal. Evidentemente,BucknãoguardousegredoaTsionsobreoconvitefeitoporRosenzweig.A partirdaquelemomento,Tsioncomeçouademonstrarumamelancoliainusitada.—Eunãovou dizeroquevocê devefazer,Buck—eledissenafrentedeRayford-,masgostariaqueseusogro ofizessedesistir. — Para ser franco — disse Rayford na reuniã o seguinte -, eu gostaria de acompanhar Buck. —Você está permitindoqueelevá —disseChloe,carregandoo ilhode14mesesnocolo. Kenny virou-se para ela e cobriu-lhe os olhos com as mã os enquanto a mã e falava. Chloe precisou virar o rosto para enxergar. — Eu nã o posso acreditar. Entã o, por que você nã o vai com ele, papai? Por que nã o vamos todos nó s? Se, ao que tudo indica, nã o vamos conseguir chegar até o inal da Tribulaçã o, que tal atirarmos todas as precauçõ es pela janela? Que tal deixarmosKennyórfãosemternemmesmoumavô? —Kenny!—repetiuobebê.—Vovô! Rayford deu um tapa na perna e abriu os braços. Kenny escorregou do colo de Chloe e correunadireçã odoavô . Rayfordolevantouacimadacabeça,fazendo-ogritardealegria.Em seguida,sentou-onocolo. —Averdadeéqueestoupensandoemfazerumaviagem,masnãoparaIsrael. — Que ó t imo! — exclamou Chloe. — Quer dizer que nã o temos mais direito a voto, que podemosfazercomoHattie,fugirparaondeagentequiser? —Nã oestamospraticandoumademocraciaverdadeira-disseRayford.Quandoviuoolhar que Tsion lhe lançou, ele percebeu que estava pisando em terreno perigoso. O bebê desceu de seucoloeengatinhouatéooutrocômodo.—Leaheeutemosconversado,e... —Leahtambémvaiviajar?—perguntouChloe.—Nãopossoabrirmãodotrabalhodela. —Nãoserápormuitotempo—disseLeah. —Vocêsjádecidiramantecipadamente? —Nãoestamosdiscutindo.Estamossimplesmentecomunicando—disseRayford. —Éclaro.Vamosouviroquevocêtemanosdizer.Rayfordcomeçouafalarcomcautela, temendo demonstrar seus verdadeiros planos. No fundo do coraçã o, ele queria ir a Jerusalé m comseuSabre.Maseledisse: —PrecisamosfazercontatocomHattie.Sinto-meresponsá velporela,querosaberseela está bem, quero que ela saiba que continuamos a seu lado, quero ver o que podemos fazer por ela.E,acimadetudo,queroteracertezadequeelaaindanãonosdelatou. AtéChloenãosoubecontra-argumentar. — Hattie precisa saber o que aconteceu com a irmã dela, mas a CG está atrá s de você , papai. — Eles nã o vã o suspeitar muito de uma mulher. Estamos pensando em fazer Leah se passar por tia materna de Hattie. Para isso, ela vai precisar mudar a isionomia, ter uma nova céduladeidentidade.Elavaidizerqueouviuumboatoouquealguémfezvazarainformaçãode que Hattie está lá . Se eles nã o associarem Leah conosco, por que nã o permitiriam que ela entrasseemcontatocomHattie? —Masjustoagora,papai?BemagoraqueBuckvaiviajar? — David nos disse que esta é a melhor ocasiã o para viajarmos. Em breve, será quase impossíveliraqualquerlugar. —Éverdade—disseTsion. Rayford olhou surpreso para ele, e percebeu que os outros també m tiveram a mesma reação. —Nã oestouapoiandoessaviagem—disseTsion.—Mas,seaquelapobregarotamorrer naprisã oseparadadeDeus,depoisdetermoradodebaixodenossotetoportantotempo...—A voz de Tsion icou trê mula e ele fez uma pausa. — Nã o sei por que Deus me fez sentir tanta ternuraporaquelamoça. Chloesentousacudindoacabeça,desanimada.Rayfordsabiaqueelanã oestavafeliz,mas nãotinhamaisargumentos. — T acha que seria muito arriscado eu voltar a voar no Super J e está preparando o Gulfstream—disseRayford. —Eunãoficariasurpresasevocêdissessequeaviagemjáestáacertada—disseChloe. Rayfordnotouumardeadmiraçã oresignadanorostoda ilha,comoseelajá aceitasseo fatodequeelenuncavoltavaatrásdepoisdetermetidoumplanonacabeça. —Buckpodevoarconoscoaté Bruxelas.Delá ,elepodepegarumvô ocomercialaté TelAviv. Com isso, economizaremos alguns dó lares. Vou icar escondido na Bé lgica e me encontrareicomLeahquandoelaterminarsuamissão. — Talvez Buck possa voltar com você s — disse Chloe. — Isso vai depender de quanto tempovocêsvãoquereresperarporeleemBruxelas. —Talvez—disseRayford.—Vocêprefereassim,Chloe? —Émelhorqueelevolteparacasacommeupaidoquearriscaravidavoandoporaícom uma tripulaçã o desfalcada. Sim, pre iro. E claro que pre iro que ele nã o vá , mas, já que isso é impossível,quesejaassim. OclimaeradefestanoFê nix216quandoMaceAbdullahpartiram,namanhã desá bado, num vô o rumo a Israel com a aeronave lotada. Parecia que todo o setor administrativo de Carpathia estava a bordo, o que para ele era uma gló ria. Mac ligou o botã o secreto enquanto Leonpediaqueospassageirossereunissem. —Sejamtodosbem-vindos—eledisse.—E,paraonossoconvidadomuitoespecial,que generosamente cedeu esta aeronave à Sua Excelê ncia em tempos difı́c eis, enviamos uma saudaçãotambémmuitoespecial. Seguiu-seumaplausodiscreto,eMacgostariadetervistoorostodePeterMathews. —OsenhorteriaalgumacoisaadizerantesqueSuaExcelênciatomeapalavra,pontífice? —perguntouFortunato. —Oh!sim,obrigado,comandante.Eu...nó s,daFé MundialEnigmaBabilô nia,aguardamos com ansiedade a realizaçã o da Festa de Gala. Como os senhores sabem, Israel é uma das ú ltimas regiõ es a concordar com nossos ideais. Creio que teremos a oportunidade de dar um novoaspectoàfémundialeque,apartirdestasemana,conquistaremosmuitosnovosmembros. Eu, francamente, gosto de ter oportunidades para desa iar dissidentes, e, sabendo que os dois pregadoreseosseguidoresdeJudá estarã opresentes,nã opoderá haverlocalmelhorparafazer isso.Émuitobomestarcomvocês! —Obrigado,sumopontífice—disseLeon.—Agora,SuaExcelência... Carpathiapareciaextasiado,aguardandoosacontecimentos. —Minhassaudaçõ espessoaisatodosvocê s—eledisse.-Creioque,umdia,você svã ose recordardapró ximasemanacomooinı́c iodomelhormomentodesuasvidas.Temossofridoda mesma maneira que o mundo inteiro em razã o das pragas e mortes. Mas o futuro está claro. Sabemosoquetemosdefazereestamosfelizesporisso.Divirtam-se! Etempodealegria,defesta.Jamaisaliberdadepessoalfoitã ocomemorada.Epossodizer que há mais lugares em Jerusalé m do que em qualquer outra cidade para você s se divertirem. Regalem-se nos prazeres fı́sicos e gastronô m icos que mais lhes apetecerem. Mostremao restante da Comunidade Global que eles tê m permissã o para se entregarem aos prazeres epicuristasdacarnemesmonessestemposdifı́c eisedecaosqueatravessamos.Vamossaudaro novomundocomumfestivalqueningué mjamaisviu.Muitosdevocê sforamresponsá veispela organizaçã odessesmomentosdelazerediversã o,eeulhessoumuitograto.Malpossoesperar paraassistiraoespetáculo! Mac e Abdullah desfrutaram a regalia de icar hospedados em quartos privativos adjacentes no exuberante Hotel Rei Davi, onde Carpathia reservara dois andares inteiros. O restante da comitiva foi acomodado em locais pró ximos, igualmente luxuosos. Os dez potentados regionais icariam hospedados no Grande Hotel da CG, distante cerca de meio quilômetrodoHotelReiDavi. Durante os dois dias que precederam a abertura o icial da Festa de Gala, a tripulaçã o da cabina foi incumbida de fazer viagens de ida e volta no 216 a Tel-Aviv. Na manhã de segundafeira, eles ajudaram a conseguir transporte do Aeroporto Ben Gurion até Jerusalé m para os potentados e suas enormes comitivas. Mac trabalhou com o serviço de segurança da CG para descarregar os detectores de metal que David colocara no compartimento de cargas, os quais foram instalados nos dois lados do gigantesco palanque construı́do a pouco menos de um quilô m etro do Monte do Templo e do Muro das Lamentaçõ es. Todos os que estariam no palanque,desdeartistasatéconvidadosdehonra,passariampelosdetectoresdemetal. Opisodopalanqueestavaaumaalturadequasequatrometrosdochã oetinhaumaá rea decercade90metrosquadrados.Umaenormecoberturadelonaimpermeabilizadaprotegiao lugar do Sol forte. Nas imponentes armaçõ es em formato de torre, foi instalado o sistema de alto-falantes, que transmitiria mú sicas e discursos à multidã o estimada em dois milhõ es de pessoas.Estendendo-seaofundodopalanque,umacortinacombinandocomacoberturadelona ostentavamensagensvariadas,escritasnosprincipaisidiomasalirepresentados.Elassaudavam osdelegadoseanunciavamaprogramaçã odoscincodiasdaFestadeGalaGlobal,emmeioao reluzentelogotipodaComunidadeGlobal. Mac notou que a frase mais extensa impressa na cortina dizia o seguinte: Um Só Mundo, UmaSó Verdade:LiberdadeIndividualparaTodos.Portodaparte,emtodosospostes,murose paredes,lia-seoslogan:HojeÉoPrimeiroDiadoRestantedaUtopia. EnquantoMaceAbdullahajudavamnainstalaçã odosdetectoresdemetal,vá riosgrupos musicaisededançarinosensaiavam,eosté cnicosdesomaglomeravam-senolocal.Macpuxou Abdullahparapertodesiecochichou: —Eudevoestarvendocoisas.Comquemsepareceaquelamoça,asegundadaesquerda paraadireita? — Eu estava tentando nã o olhar — disse Abdullah -, mas já que você insiste... Que coisa! Elaémuitoparecida.Masnãoépossível,é? Mac sacudiu a cabeça, concordando que nã o era ela. Eles sabiam que Hattie estava em Bruxelas.Aquelamoçasedestacavadasoutrasdançarinasporparecerumpoucomaisvelha.O restantenãopassavadeumbandodeadolescentes. Ochefedasegurançarecordouaosmúsicosedançarinosqueninguémpoderiapermanecer nopalanque,apartirdacerimô niadeaberturananoitedesegunda-feira,semportarumcrachá esempassarpelodetectordemetais. — Se você s estiverem usando bijuterias ou jó ias, devem retirá -las para que sejam examinadasantesdesubiremaopalanque—eledisse. Emumareuniã ocomosfuncioná riosdosetordesegurança,Macouviuochefeinstruiros policiaisfardadosdizendoqueelesserevezariamnafrentedopalanque. — Principalmente quando o potentado estiver diante do microfone — ele disse -, mantenhamsuasposiçõ es.Deixemqueopú blicomudedelugarsevocê sestiveremimpedindoa visã o. Você s devem icar em semicı́rculo, de oito em oito, com os pé s afastados, mã os nos cintos,olhandoparaafrente.Nã oconversem,nã osorriam,nã ofaçamnenhumgesto.Seforem chamadospelosfonesdeouvido,nãodigamnada.Limitem-seaobedeceràsinstruções. Macsentiuumagrandetristezaenquantocaminhavaaté avanquelevariaAbdullaheele devoltaaoHotelReiDavi.Olhouparatrá seobservouopalanqueadistâ ncia,dooutroladodo enorme terreno asfaltado. A mú sica ensurdecedora voltou a tocar, e o grupo de dançarinos terminouumaseqüênciadedançassensuais. — Este é um novo mundo, Abdullah. Agora existe uma liberdade individual, sancionada pelogovernointernacional. —Eaté mesmocomemorada—disseAbdullah.Derepente,eleparouedebruçou-seem umacerca.—Capitã o,nestasocasiõ eseusintoumdesejoenormedeirparaocé u.Nã oquero morrer, principalmente da maneira como tenho visto acontecer com outras pessoas. Mas nã o seránadafácilviveratéodiadoGloriosoAparecimento. Macassentiucomacabeça. — Foi terrı́vel o que aconteceu com os Tuttles. Provavelmente eles nem viram o que os atingiu.Acordaramnocéu. Abdullaholhouparaocéusemnuvens. —QueDeusmeperdoe,maseuqueroterumamorterápidaesemdor. Mac ouviu Eli e Moisé s pregando a uma distâ ncia de uns 800 metros, mas nã o conseguia entenderoqueelesdiziam. — Tenho ouvido falar muito sobre eles — disse Mac. — Acho que nã o seria muito arriscadosealguémnosvisselá. —Euadorariaverosdois—disseAbdullah.—Quetalpassarmosporlá apé ,nocaminho devoltaaohotel?Nã oprecisamos icarnomeiodamultidã o.Só vamosveroqueforpossı́vele ouviroqueconseguirmos. —Concordoplenamente,Smitty—disseMac. Aolongodocaminho,MaceAbdullahpassaramporbares,clubesdestrip-tease,casasde massagem, prostı́bulos, templos pagã os e estabelecimentos de cartomantes. Em uma cidade comumahistóriamilenardereligiosidadeeonde—damesmaformaquenorestantedomundo — metade da populaçã o havia sido exterminada a partir do Arrebatamento, essas atividades nã o eram proibidas. Nã o funcionavam clandestinamente nem eram relegadas a uma determinadapartedacidade.També mnã ofuncionavamnoescuroportrá sdeportasnegrasou entradas em formato de labirinto poupando ameaças "reais" à queles que estavam ali de propósito. Aocontrá rio,enquantoorestodaCidadeSantapareciaestarsucumbindopornegligê ncia oufaltademã o-de-obra,aliseviamfachadasbemiluminadaseexpostas,exibindocomorgulho todootipodeperversãoepecadocarnalqueohomemconhecia. Mac apressou o passo, apesar da di iculdade que Abdullah tinha para andar, e os dois seguiram rapidamente em direçã o ao Monte do Templo e à s duas testemunhas, como se elas fossemumafonteemquelavariamtodaasujeiraquehaviamvisto. CAPÍTULO21 Damesmaformaqueosdemaismoradoresdacasasecreta,Bucknã oconseguiaentender o relacionamento entre seu sogro e Leah Rose. Ela parecia uma pedra no sapato de Rayford, maseletinhadereconheceragrandecontribuiçã oqueeladeraaoComandoTribulaçã o,alé m desuafortuna. RayforddiscutiacomLeahporcausadecoisasinsigni icantes,eelamantinha-sein lexı́vel. Mesmo assim, eles passavam cada vez mais tempo juntos, à medida que a metade do perı́odo daTribulaçã oseaproximava.Apó sRayfordtercomunicadoseusplanosdelevá -laaBruxelas,a proximidade entre os dois icou menos misteriosa para Buck. Aparentemente, Rayford necessitavaqueLeahlheprestasseumserviço,eelaestavaansiosaporexecutá -lo.Talvezfosse esseomotivodaaproximaçãoentreosdois. ZekeJr.,orapazcomocorpotatuadoeconhecidoporZ,conseguiuó t imosresultadoscom osdocumentosqueforjouparaLeah.Sua isionomia icoutotalmentemodi icadadepoisqueela tingiu os cabelos de loiro, colocou lentes de contato escuras e adaptou um imperceptı́vel aparelho nos dentes que a deixou nã o muito bonita, com a arcada superior projetada para a frente.LeahpassouaserDonnaClendenon,daCalifórnia,ex-esposadeumdosirmãosdamãede Hattie Durham. Ela seria a portadora da notı́c ia da morte de Nancy, a irmã de Hattie (o que, infelizmente, era um fato verı́dico). Rayford imaginava que essa notı́c ia facilitaria sua entrada na prisã o da Comunidade Global em Bruxelas, cujo nome havia sido mudado para Presı́dio de Reabilitaçã o Feminina da Bé lgica, conhecido popularmente como PRFB. Tratava-se de um presı́dio de segurança má xima. As mulheres que ali entravam di icilmente saı́am. E, quando saíam,nãoestavamnemumpoucoreabilitadas. AesperançadeBuck—eadeRayford,assimeleimaginava—eraqueaCGconsiderasse Hattieumapessoavaliosademaisparasersimplesmenteeliminada.Carpathiadeviaconsiderá la,nomı́nimo,umaiscaparaajudá -loacapturarRayford,Buckouaté mesmoTsionBen-Judá . OsoutrosmoradoresdacasasecretaesperavamqueaCGnã otivesseperdidoapaciê nciacom Hattiepelafrustraçãodenãoterconseguido,porduasvezes,agarrarRayford. Para Buck, a despedida foi relativamente suave, porque Chloe nã o quis manifestar o que sentia naquele momento. Ela lhe dissera em particular, e també m durante a reuniã o, que consideravaseuinteressepelaFestadeGalaumaobsessãoperigosa. — Nã o estou querendo impedi-lo de fazer a cobertura de um dos eventos mais importantes da Histó ria, mas você está disposto a sofrer as conseqü ências de um terremoto e, agora, os riscos sã o muito maiores. Você está mais preocupado em manter a palavra dada a Chaimdoqueemprotegersuafamília. MasnodiaemqueChloe,Tsioneobebê viramostrê spartindo,elapareciaterdecididoa nã otocarmaisnoassunto.Buckentendeuquesuaesposaseconformara.Elapermitiraqueele icasse bastante tempo com Kenny. Na hora da despedida, abraçou o marido e prometeu orar porele,dizendoqueseuamorjamaismorreria. —Esperoqueseuamorpormimtambémnãomorra—elacomplementou. —Meuamorporvocêjamaismorrerá,mesmoqueeumorra. —Nã ofoiexatamenteoqueeugostariadeterouvido.BuckagradeceuaChloeporelater permitidoqueeleviajasse.Eladeu-lheumlevetapanobraço,dizendo: —Comoseeutivesseescolha.Será quetorneisuavidatã oinfelizassim?Achoqueé por issoquevocêestáindoembora. Chloe conseguiu manter o bom-humor, apesar das lá grimas que teimaram em rolar por seurostoquandoBuck,RayfordeLeahsaı́ramdacasasecretadepoisdaoraçã odeTsion,queos abençoouedesejou-lhesboaviagem. — Você acredita nisso? — perguntou Mac a Abdullah enquanto eles olhavam com curiosidade para os re letores, cabos de TV e saté lites montados perto do Muro das Lamentações.Pareciaqueolocalhaviasidotomadosóporcâmeras. Abdullah,comseucostumeiroestilolacônico,limitou-seasacudiracabeça. Mac emocionou-se ao ver Eli e Moisé s, mesmo a uma distâ ncia razoá vel. Eles estavam pregandoasdoutrinasdoEvangelhoaosgritos,eamultidã opareciaalvoroçada.Algué mhavia dito a Mac que, normalmente, o pú blico ouvia os pregadores em silê ncio, por respeito ou por medo. O povo mantinha distâ ncia daqueles dois homens estranhos, que, segundo diziam, lançavam fogo em direçã o a seus agressores deixando-os carbonizados. Ningué m queria correr talrisco. Aquelamultidão—maiordoqueonormalemaisturbulenta — parecia composta de pessoas que chegaram antecipadamente para a Festa de Gala. Algumassaudavam,aplaudiam,assobiavamediziamamémapóscadafraseproferidapelasduas testemunhas. Outras gritavam, vaiavam. Mac olhou espantado para algumas pessoas que dançavamecorriamemdireçã oà cerca,comoquequerendodemonstrarvalentia.Ficouclaro que os pregadores sabiam distinguir entre assassinos em potencial e recé m-chegados à cidade, queconsideravamessapregaçãopartedadiversãodaFestadeGala. Omaisestranho,contudo,eraumgrupodecercadeumadú z iadepessoasquepareciam comovidas pela pregaçã o. Elas se ajoelharam a uns trê s metros da cerca e estavam chorando. Eli e Moisé s falavam, um por vez, suplicando ao povo que aceitasse a Cristo antes que fosse tardedemais.Aquelegrupoestavaatendendoaoapelodosdois. —Ummotivoparasermosagradecidos—disseMac-,nomeiodetodaestaconfusão. As duas testemunhas pareciam sentir urgê ncia. Mac conhecia as razõ es. També m era aluno de Tsion e sabia que o "tempo determinado" mencionado por Eli e Moisé s com tanta freqü ência coincidia com o inı́c io da Festa de Gala Global, que ocorreria a pouco menos de um quilômetrodali. Nocaminhoaté Palwaukee,Buckconheceuumpoucomaisdorelacionamento—oufalta dele—entreRayfordeLeah.AconversadelagiravaemtornodeTsion. —Tsion? —Eleparecetãosolitário—eladisse. —Everdade—concordouRayford.—Comexceçã odeChloeedeBuck,todosnó ssomos solitários,vivendoemaposentosisolados. —Comoseeunã osoubesse...—eladisse,perguntando,emseguida,detalhessobreavida deTsionantesdeeleintegrar-seaoComandoTribulação.Bucklhecontouahistóriatoda. EmPalwaukee,TentregouoGulfstreamabastecido,inclusivecomumageladeira,ecom omapadevôoabordo. —Émuitomaisdoquemerecemos,T—disseRayford. — Nã o diga isso. Os membros de nossa pequena igreja estã o orando por todos você s, embora,pormotivosóbvios,eunãotenhafornecidodetalhesdaviagem. MacligoudeIsraelparaDavid,naNovaBabilônia,nofinaldanoitededomingo. —Estelugaraquipareceumacidadefantasma—disseDavid.—Temostodaliberdade, semninguémparanosespionar.Annieeeuestamospassandobastantetempojuntos,planejando comofugirdaquiedecidindoparaondeir. —Nãováemboraantesdahora—disseMac.—Precisamosdevocêaí. Orelógiomarcavaduashorasmaiscedo,horáriodaBélgica,quandoRayfordaterrissouem Bruxelas. Ele estava tã o nervoso quanto no dia em que batera na porta do apartamento de HattieemLeHavre,masnã opodiadeixartransparecerisso.BuckeLeahimaginavamquesua funçã oaliseriaadesimplesmotorista.Comoelesinterpretariamumnervosismosemnenhum motivo? "Donna" se hospedaria em um hotel mais ou menos pró ximo do PRFB, planejando uma visita para o dia seguinte. Buck, sob o novo pseudô nimo de Russell Staub, pegaria um vô o comercialparaTel-Aviv. — Você memorizou o nú m ero de meu telefone sigiloso? -perguntou Rayford a Leah enquantotaxiavaaaeronaveparapertodoterminal. —OseueodeBuck. —NãovoupoderfazermuitacoisasevocênãoconseguirfalarcomRayford—disseBuck. — Se eu nã o conseguir contatar Rayford — ela disse pegando sua sacola -, vou precisar mesmomedespedirdealguém.Deseje-meboasorte. —Nãocostumamosdesejarboasorte—disseBuck.—Vocêselembra? —Ah!sim—eladisse.—Então,orepormim. Rayford sabia que devia ter dito alguma coisa, mas estava preocupado. E Leah já havia partido. — Onde você vai se hospedar, Ray? — perguntou Buck. Rayford lançou-lhe um olhar de censura. —Quantomenosvocêsouber,menorseráasuaresponsabilidade. Bucklevantouasmãos. — Ray! Fiz uma pergunta gené rica. Você tem onde icar, coisas para fazer, meios de passardespercebido? —Játomeiminhasprovidências—disseRayford. —ELeahsabetudooquequeremosdizeraHattie? —EunãoteriatrazidoLeahatéaquisesoubessequeelanãoestavapreparada. RayfordsabiaqueestavairritandoBuck.Oquesepassavacomele? — Só estou querendo saber se está tudo em ordem para eu poder seguir a viagem tranqü ilo, Ray. Vou enfrentar uma situaçã o estressante e quero ter poucas coisas com que me preocupar. —Emelhorvocê ir—disseRayford,olhandoparaoreló gio.—Sevocê descobrirumjeito desepreocuparcompoucascoisas,meinforme.Estamosenviandoumaespiã novinhaemfolha paraaprisãoe,espertacomoé,quemsabeoqueelavaifazeroudizerseforpressionada? —Issomedeixamaistranqüilo. —Étempodecrescer,Buck. —Étempodepegarumpoucomaisleve,papai. —Tomecuidado,ouviu?—disseRayford. Rayford sentiu-se solitá rio quando Buck desceu do aviã o. Ainda nã o havia decidido por onde começar e sabia o que os outros do Comando Tribulaçã o pensariam a respeito do que ia fazer.SeDeusousasseparaassassinarCarpathia,elenã oteriacomofugir.Rayfordreceavater visto seus queridos pela ú ltima vez. E esperava nã o ter sobrecarregado Buck com seus problemas,umavezqueseriaseugenroquemcuidariadoretornodeLeahaosEstadosUnidos. DezminutosdepoisqueBuckentrounoterminal,Rayfordreabasteceuaaeronaveepediu autorizaçã o à torre para decolar. Ele havia pensado em descobrir uma pista de pouso que nã o izesse parte do Ben Gurion ou do aeroporto de Jerusalé m, mas decidiu que, com seu novo pseudônimo-MarvBerry-,seriamelhordescerondehouvessemaiormovimento.BenGurion. David estava com di iculdade, mesmo com a ajuda de Annie, de memorizar os pseudô nimos que os trê s membros do Comando Tribulaçã o estavam usando no exterior. Ele escreveu em um cartã o as iniciais invertidas de cada um deles, ao lado do pseudô nimo, desta forma: "RL Donna Clendenon; SR. Marvin Berry; WC Russell Staub." Para maior segurança, acrescentouopseudônimodeHattie:"DHMaeWillie." Buck foi diretamente para Jerusalé m em um vô o noturno e registrou-se em uma hospedaria usando o nome falso. A meia-noite, pegou um tá xi e dirigiu-se para o Muro das Lamentaçõ es. A multidã o era tã o grande que ele nã o conseguia enxergar Moisé s e Eli. Aproveitando a ocasiã o, ligou para David, depois para Chloe, e, em seguida, para Mac. Por último,ligouparaChaim.Jacovatendeu. —Oh!Buck!—eledisse.—Espereitantoporseutelefonema!Foimedonho,terrível! —Oqueaconteceu? — O Dr. Rosenzweig nã o conseguiu levantar-se hoje de manhã nem conversar conosco. Ele parecia paralisado e muito assustado. Balbuciou alguma coisa, e sua mã o esquerda estava crispada, o braço esticado. Nã o conseguia pronunciar direito as palavras. Chamamos uma ambulância,maselademoroumuito.Ficamoscommedodequeelemorresse. —Foiumderrame? — Disseram que sim. Eles o transportaram para o hospital e estã o fazendo os exames necessários.Sóvamossaberoresultadoamanhã,masparecequefoigrave. —Ondeeleestá? — Eu posso lhe dizer, Buck, mas você nã o vai conseguir entrar. Nenhum de nó s tem autorizaçã o para visitá -lo. Ele está na UTI, e disseram que os sinais vitais ainda estã o em ordem,depoisdetudooqueaconteceu.Masestamospreocupados.Enquantoaambulâ ncianã o chegava, nó s oramos por ele, suplicando que ele se convertesse. Como o Dr. Rosenzweig nã o podiafalar, icamosobservandoseeletambé morava.Masnã ovimosnada.Elepareciazangado eassustado,acenandootempotodocomaoutramãoparaqueeumeafastassedali. —Sintomuito,Jacov.Queroquevocêmeaviseassimquerecebernotíciasdele. —Nãopodemosligarparavocêdaqui.Seutelefoneésigiloso,masonosso,não. —Vocêtemrazão.Vouligarsemprequepuder.Evouorarporele. Rayford, ou melhor, Marv Berry, foi barrado por pouco tempo no movimentado setor da alfâ ndega.Oagenteaceitousuahistó riadequeapesadacaixademetalemsuamaletaerauma bateriadecomputador.Rayfordalugouumcarroehospedou-seemumhotelsimplesnaregiã o oeste de Tel-Aviv. Ele ligou para o hotel de Leah em Bruxelas, onde já passava um pouco da meia-noite.Elaaindadeviaestaracordadaporcausadamudançadefusohorá rioedocansaço da viagem. A telefonista do hotel relutou em ligar para o quarto da Sra. Clendenon, mas o "Sr. Berry" insistiu que se tratava de uma emergê ncia. Apó s o sexto toque, Leah atendeu com voz sonolenta,eRayfordficouimpressionadocomoautocontroledela. —AquifalaDonna—eladisse. —ÉMarv.Acordeivocê? —Sim.Oquehouve? —Estátudobem.Presteatenção,nãovoupoderbuscarvocêantesdesexta-feira. —Oquê? —Nãopossoentraremdetalhes.Estejaprontanasexta-feira. —Bem...Marv...équeeudevoestarprontanaterça-feira. —Nãoligueparamimantesdesexta-feira,estábem?-Estabem,mas... —•Estábem,Donna? —Estábem!Vocênãopoderiasermaisespecífico? —Eubemquegostaria. Buckdespertoucedonasegunda-feiraedirigiu-seapressado30MurodasLamentações.Na noite anterior, nã o conseguira aproximar-se de Eli e Moisé s, mas icou emocionado ao ver algumas pessoas saindo do meio da multidã o e ajoelhando-se perto da cerca para aceitar a Cristo. As testemunhas sempre falavam com energia e insistê ncia, mas Buck percebeu que elas sabiam, como as demais pessoas, que seu tempo estava se esgotando. A populaçã o do mundo havia diminuı́do em razã o das mortes causadas pelos 200 milhõ es de cavaleiros. Aqueles que sobreviveramestavamdeterminadosacontinuarnopecado.Agora,pareciaqueastestemunhas estavamusandoseusúltimosrecursosparalivrarasalmasdoMaligno. Na segunda-feira, a multidã o no Monte do Templo aumentou, enquanto as pessoas aguardavam a Festa de Gala, que só começaria no inı́c io da noite. Centenas de milhares de delegadosestavamcuriososparaverospregadores,queaindanã oconheciampessoalmente.O centro de Jerusalé m, onde as atividades lascivas proliferavam, també m estava lotado, mas a maioria dos turistas preferiu dar uma olhada naqueles homens estranhos que pregavam detrá s dacerca. Aquele era o 1.260° e ú ltimo dia para que pregassem e profetizassem antes do "tempo determinado".Bucksentiaserumprivilé gioindescritı́velpoderestarali.Eleabriucaminhocom os ombros em meio à multidã o até conseguir icar um passo à frente dos novos convertidos, ajoelhados diante da cerca. Aproximou-se de Eli e Moisé s o mais que pô de, quase tocando a cerca. Algumas pessoas o advertiram, dizendo que muita gente havia morrido por ter se aproximadomaisdoquedevia.Eleajoelhou-se,comosolhos ixosnosdois,epreparou-separa ouvir. Eliestavaempé ,eMoisé s,sentadoumpoucoatrá s,encostadonaparededeumapequena construçãodepedra. —Observeaqueleali!—gritoualguém.—Eletemumlança-chamasescondido! Muitas pessoas riram, mas a maioria pediu silê ncio. Buck surpreendeu-se ao perceber a emoçã o na voz de Eli, que gritava, quase em lá grimas, alto o su iciente para ser ouvido a quarteirõ esdedistâ ncia,apesardesuasmensagensestaremsendotransmitidascomfreqü ência pela CNN da CG. Os repó rteres de TV espalhados por toda Jerusalé m noticiavam o entusiasmo crescentedopovopelaFestadeGalanaquelanoite.Pareciaquetodoshaviamresolvidoestarali diantedoMuro.Eligritava: — Como o Messias se desesperou ao contemplar do alto esta cidade! Deus, o Pai, prometeu abençoar Jerusalé m se seu povo obedecesse a seus mandamentos e nã o adorasse a outrosdeuses.ViemosemnomedoPai,enã onosrecebestes.Jesusdisse:"Jerusalé m,Jerusalé m! quematasosprofetaseapedrejasosqueteforamenviados!Quantasvezesquiseureunirosteus ilhos,comoagalinhaajuntaosseuspintinhosdebaixodasasas,evó snã ooquisestes!Eisquea vossa casa vos icará deserta. Declaro-vos, pois, que desde agora já nã o me vereis, até que venhaisadizer:BenditooquevememnomedoSenhor!" Amultidãosilenciou.Eliprosseguiu: —DeusenviouseuFilho,oMessiasprometido,quecumpriuasprofeciasdemaisdecem dos antigos profetas, sendo, inclusive, cruci icado nesta cidade. O amor de Cristo nos leva a dizer-vos que Ele morreu por todos, que aqueles que vivem nã o mais viverã o para si mesmos, masparaEle,quemorreuportodosospecadoreseressuscitou. —SomosembaixadoresdeCristo,poisDeusnospediuqueclamá ssemosporvó s.Oramos por vó s em nome de Cristo, para que vos reconcilieis com Deus. Porque aquele que nã o conheceu pecado, Ele o fez pecado por nó s; para que nele fô ssemos feitos justiça de Deus. Eis queesteéotempocerto;eisqueesteéodiadasalvação. — E nã o há salvaçã o em nenhum outro; porque abaixo do cé u nã o existe nenhum outro nome,dadoentreoshomens,peloqualimportaquesejamossalvos.Emboraestemundoeseus falsos profetas prometam que todas as religiõ es levam a Deus, isso é mentira. Jesus é o ú nico caminho que leva a Deus, conforme Ele pró prio declarou: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;ninguémvemaoPaisenãopormim." Elipareciaexaustoeafastou-sedacerca.Moiséslevantou-seeproclamou: — Este mundo pode estar presenciando o nosso im, mas vó s nã o presenciareis o im de Jesus, o Cristo! De acordo com os profetas, Ele virá novamente em poder e grande gló ria para estabelecerseureinoaquinaTerra.OSenhorvirá ,commilharesemilharesdeseussantos,para julgaratodoseparatornartodososı́m piosconvictosdetodasasobrası́m piasqueimpiamente praticaram,edetodasaspalavrasinsolentesqueproferiramcontraEle. — O seu domı́nio é domı́nio eterno, que nã o passará , e o seu reino jamais será destruı́do. Achegai-vosaElehoje,agora!OSenhornã odesejaquenenhumaalmapereça,masquetodosse arrependam.AssimdizoSenhor. Elilevantou-seeaproximou-sedeMoisés,eambosdisseramemuníssono: — Temos servido ao Senhor Deus Todo-Poderoso, criador do cé u e da Terra, e a Jesus Cristo,seuunigê nitoFilho.Vede,temoscumpridoonossodevereencerradoanossamissã oaté otempodeterminado.ÓJerusalém,Jerusalém... Osdoispermaneceramempé diantedacerca,imó veis,sempiscar;seuscabelos,barbase mantos oscilavam ao sabor da brisa. A multidã o começou a agitar-se. Alguns pediam mais pregaçõ es;outrosescarneciamdeles.Bucklevantou-selentamenteeseafastou,sabendoqueos dois haviam terminado suas pregaçõ es. Para muitos, a impressã o era a de que Carpathia vencera. Ele havia decidido realizar sua Festa de Gala Global em Jerusalé m e silenciado os pregadores. RayfordreceavaencontrarinesperadamenteBuckoualgué mdaCG.Elehaviadeixadode barbear-se de propó sito desde o dia do vô o. Na segunda-feira, dirigiu-se de carro a Jerusalé m, estacionounaperiferiaecaminhouaté ocentrodacidade,usandoumturbanteverdedetecido grosso por cima de uma longa peruca grisalha. Os ó c ulos escuros com pequeninos orifı́c ios permitiam-lheenxergarbem,semqueseusolhosficassemvisíveis. Ele també m usava um manto que ia até a altura do tornozelo, comum naquela regiã o. Dentro do bolso interno, carregava o Sabre. O manto era largo o su iciente para que ele caminhassesó comasmã osparaforaeaarmaescondida.Emborativessevistodetectoresde metal de ambos os lados do enorme palanque, os milhares de espectadores tinham permissã o paracaminharpelaáreasemserrevistados. Rayford sentia um comichã o que percorria a coluna vertebral inteira por saber que portava uma arma poderosı́ssima, que podia matar algué m a mais de 30 metros de distâ ncia. Depoisdetantaansiedadepararealizarseusplanos,eleagoraimploravaaDeusqueopoupasse dessa missã o. Estaria ele disposto a ir até o im e assassinar Carpathia se Deus tornasseisso claro? A multidã o havia se reunido ali bem antes do inı́c io da festa, e uma banda latina, que precedia a cerimô nia de abertura, tocava alto para os que apreciavam esse tipo de mú sica. Metadedamultidãodançavaecantava,e,àmedidaqueatardeavançava,onúmerodepessoas aumentavacadavezmais.Mú sica,cantoriasedanças,intercaladascomavisoseufó ricossobre abrevechegadadopotentado,levavamamultidãoaodelírio. Enquantoocé uescureciaaospoucos,Rayfordcontinuavaacaminhar,sempreatentopara passardespercebido.Emumdeterminadomomento,elequaseparouetirouosó c ulos.Poderia jurarqueHattiepassararenteaele.Comocoraçã obatendoacelerado,elevirou-seeviuuma moça caminhando. A mesma altura, o mesmo porte, o mesmo modo de andar. Nã o podia ser. Simplesmentenãopodiaser. MaceAbdullahcaminhavamaesmopelolocaldaFestadeGala,emmeioaumamultidão dedelegados. —Vocêpreferequeagenteandejuntoouseparadonestasemana?—perguntouMac. Abdullahencolheuosombros. —Sevocêquiserandarsozinho,nãoháproblema. — Nã o é bem isso — disse Mac. — Eu só quero que você se sinta livre para fazer o que bementender. Abdullah encolheu os ombros novamente. A verdade era que Mac nã o se importaria de icar sozinho. Sozinho no meio de uma multidã o. Sozinho, pensando como o mundo e sua vida haviam mudado. Ele tinha tomado uma decisã o. Se Carpathia conseguisse sobreviver a esse evento,se,porummotivoqualquer,TsionBen-Judá estivesseenganadoarespeitodasprofecias, Mactinhaumplano.Rayfordtinhalhefaladosobreoqueachavasobreoassunto.Temposatrá s, umdelesdeviaterembicadooaviã odeCarpathiaemdireçã oaumamontanha,sacri icandoa pró pria vida pelo bem de todos. Mac nã o queria ser tã o egoı́sta a ponto de envolver Abdullah. Ele precisava encontrar um meio de voar sozinho com o potentado. Na verdade, nã o haveria necessidade de uma montanha. Bastava cortar a energia e deixar que a gravidade tomasse contadoresto. Será que ele poderia? Deveria? Mac olhou para Abdullah e esquadrinhou a multidã o. Isso nãoeravidaparaninguém. Finalmente,oshelicó pterosapareceramnocé u.Rayfordolhouparacimaenquantoopovo gritava de alegria. Os helicó pteros pousaram, dos dois lados do palanque, e os dignitá rios desceram sob intensa ovaçã o. Os dez potentados regionais, o supremo comandante e uma mulher, trajando uma vestimenta pomposa da Fé Mundial Enigma Babilô nia, subiram rapidamente a escada que dava ao palanque. Um contingente reforçado da segurança formava umsemicírculoaoredordatribuna. Depois que todos já estavam acomodados em seus lugares, Carpathia chegou sozinho em outro helicó ptero. Sob aplausos ensurdecedores, ele subiu ao palanque, sendo saudado pelos convidados de honra, todos parecendo ansiosos por apertar-lhe a mã o. Fortunato foi o ú ltimo a cumprimentá-loe,emseguida,conduziuopotentadoatéumaenormepoltrona,enfeitadacomo umtrono. O restante dos presentes só sentou depois dele, mas os aplausos interminá veis obrigaram Carpathia a levantar-se vá rias vezes e acenar de modo tı́m ido e humilde para a multidã o. Sempre que ele se levantava, o pessoal do palanque fazia o mesmo. Rayford estava a cerca de 60metrosdedistânciadopotentadoeporduasvezeshaviaenfiadoasmãosnobolsoetateadoo Sabre, abrindo a caixa apenas alguns centı́m etros para, em seguida, voltar a fechá -la. Ele nã o tinhaumavisã oclaradeCarpathiaporcausadamultidã o.Seamissã ofossedele,Deusteriade comandar.RayfordaguardariaomomentocertoparaverseDeusprovidenciariaumaabertura ouabririaumcaminhoatéafrente.SealguémnomeiodaquelamultidãoatirasseemCarpathia, ningué m perceberia de imediato, em razã o do fascı́nio com que todos olhavam para o potentado. Buck, depois de deixar com relutâ ncia o Muro das Lamentaçõ es, chegou apó s o inı́c io da solenidade e permaneceu atrá s da multidã o de quase dois milhõ es de pessoas. Ele observava a festança sem conseguir aplaudir. Estava preocupado com Chaim. Tentou ligar para Jacov, mas percebeuquenãoconseguiriaouvirnada. Finalmenteopovoseaquietouosu icienteparapermitirqueLeontomasseapalavra.Ele se virou para veri icar se Carpathia estava bem acomodado e, em seguida, aproximou-se da tribuna. — Sejam bem-vindos todos os cidadã os do novo mundo -ele começou a dizer, sendo interrompidomaisdeumadezenadevezespelosaplausos. Cada frase provocava entusiasmo no povo, fazendo Buck se perguntar de que planeta surgiraessamultidã o.Será queningué mconsideravaaquelelı́derresponsá velportantasmortes esofrimentos?Emtrê sanosemeio,apopulaçã otinhasidoreduzidaà metadee,mesmoassim, essepovocomemorava? — Meu nome é Leon Fortunato. Tenho o privilé gio de servir aos senhores e a Sua Excelê nciacomosupremocomandantedaComunidadeGlobal.Queroapresentarospotentados regionais, e peço que os senhores os recebam com o entusiasmo que eles merecem. Antes, poré m,devemosreceberabê nçã odograndedeusdanaturezae,paratanto,passoapalavraà assistente do supremo pontı́ ice da Fé Mundial Enigma Babilô nia, que tem um comunicado a fazer.Porfavor,umasalvadepalmasparaavice-pontíficeFrancescaD'Angelo. Buck admirou-se ao ver que, aparentemente, a vice-pontı́ ice nã o fez caso das vaias e assobios.Derepente,elesentiuumarrepioquetomoucontadetodooseucorpo.QuandoaSra. D'Angelo aproximou-se da tribuna, Carpathia levantou-se e a multidã o, em vez de aplaudir, mergulhouemprofundosilê ncio.Bucksentiuqueeraoú nicocapazdenã oolharparaorostode Carpathia. Os potentados encaravam ixamente seu lı́der, e Fortunato també m virou-se para olharparaele. Carpathiacomeçouafalarcomaquelamesmavozsoturnaehipnó t icaqueBuckjá ouvira apenasumavez.Trê sanosemeioantes,Nicolaecometeraumduploassassinatodepoisdeter ditoatodosospresentesnasaladoqueelesdeviamlembrar-seedoquenã odeviam.Buck,na é poca um crente recé m-convertido, foi o ú nico que nã o passou pela lavagem cerebral. Posteriormente,ninguémselembroudequeBuckestavapresentenasala. Agora o potentado falava, mas sua voz nã o era transmitida pelos alto-falantes. Buck, em pé a uma grande distâ ncia do palanque, ouvia claramente as palavras dele, como se Carpathia estivesseaseulado. —Vocêsnãoselembrarãodequeeumeantecipeiàvice-pontífice—disseNicolae. Oh!Deus,orouBucksilenciosamente,protege-me!Nãopermitasqueeusejadominadopor ele. — Você s vã o ouvir falar de uma morte que lhes causará surpresa — disse Carpathia. Ningué m se mexeu no lugar. -Esta notı́c ia vai chegar até você s como se já tivesse sido comunicadatemposatrás.Vocêsnãovãofazercasodela. Carpathia sentou-se, e o burburinho recomeçou do ponto em que havia parado. A Sra. D'Angelotomouapalavra: —Antesderezarparaograndedeusemquemtodosnó scon iamosequecon iaemtodos nó s,tenhoumcomunicadoafazer.Osumopontı́ icePeterSegundomorreusubitamentenesta manhã.Ovírusqueoacometeueraaltamentecontagioso,tornando-senecessárioqueseucorpo fossecremado.Nossascondolê nciasaseusfamiliares.Umacerimô niareligiosaemsuamemó ria serárealizadaamanhãcedonestemesmolocal.Agora,vamosrezar. Amanhãcedo?,pensouBuck.OprogramadaFestadeGalamencionavaum"debate"entre Carpathia e a "Dupla de Jerusalé m" à s 10 horas de terça-feira, seguido de uma "comemoraçã o domeio-diaaté ameia-noite"nodistritohedonista.Buckolhouparaorostodosdelegados.Eles estavamimpassíveis.Buckficouabalado.Nicolaefoicapazdecontrolaramentededoismilhões depessoasaomesmotempo! Amultidã oaplaudiuareza,quepareciaprestarhomenagematodasascé lulasvivas.Em seguida,aplaudiuaapresentaçã odecadapotentadoregional,principalmenteomaisrecente,o Sr. Litwala, da Africa. Os delegados pareciam igualmente impressionados com os discursos enfadonhosdecadapotentado,elogiandoCarpathiaemcadafraseproferida.Finalmente,chegou ograndemomento. — E agora — Fortunato começou a dizer, mas os aplausos frené ticos da multidã o abafaram o inı́c io de seu discurso, que Buck só conseguia ouvir porque estava debaixo de um alto-falante -, o homem que Deus escolheu para liderar o mundo e livrá -lo da guerra e do derramamento de sangue, transformando-o em uma sociedade utó pica de perene harmonia, o supremopotentadodossenhoresemeu,SuaExcelênciaNicolaeCarpathia! O restante dos convidados de honra — com exceçã o de Fortunato — deixou humildemente o palanque. Carpathia acenava com as duas mã os e sorria, andando de um lado paraooutronopalanque,sempreprotegidopeloimpassívelcontingentedesegurança.Leon,que comandava os aplausos, permaneceu em pé atrá s de Nicolae e na frente de uma cadeira colocadaaoladodireitodotrono. CAPÍTULO22 Buck tinha de admitir que o dom de orató ria demonstrado por Nicolae Carpathia na Organizaçã o das Naçõ es Unidas, trê s anos e meio atrá s, havia melhorado ainda mais com o passar do tempo. Naquele é poca, Nicolae usou sua prodigiosa memó ria para relembrar fatos histó ricosedominarcommaestriavá riosidiomas,surpreendendoatodos,inclusiveaimprensa. Quem já viu os meios de comunicaçã o se levantarem para aplaudir, de forma unâ nime, um oradorveemente? Aquele primeiro discurso transmitido ao mundo inteiro havia sido proferido dias apó s o desaparecimento de milhõ es de pessoas, inclusive de todos os bebê s e crianças. Carpathia parecia o homem perfeito para o momento, e o mundo aterrorizado — inclusive Buck — o aceitou de braços abertos. Povos de todas as raças consideravam Carpathia a voz da paz, da harmonia e da razã o. Ele era jovem, bonito, dinâ mico, carismá tico, eloqü ente, brilhante, decididoe,paradoxalmente,humilde.Pareciarelutanteemaceitaraliderançaqueapopulaçã o fascinadalheimpunha. Nicolae modi icara completamente o mundo dividindo-o em dez regiõ es, cada uma com umpotentado.EmmeioaoantagonismocrescentequeoprimiaaTerra,aindapiorqueaperda demilhõ esdepessoasnoArrebatamento,elesedestacoucomoumavozpaternaldeconfortoe encorajamento. Durante todas as catá strofes -Terceira Guerra Mundial, fome, terremoto da grande ira do Cordeiro, queda de meteoros, desastres marı́t imos, contaminaçã o da á gua, escuridã o e resfriamento da temperatura do mundo, invasõ es de gafanhotos e, mais recentemente, pragas de fogo, fumaça e enxofre que exterminaram outra terça parte da população-Carpathiapermaneceufirmenocontrole. Havia rumores de insubordinaçã o por parte de pelo menos trê s potentados, mas nada de concreto acontecera ainda. De vez em quando, o povo sofrido e dominado pelo desespero rebelava-se contra o novo mundo, querendo saber por que a situaçã o piorava a cada dia, mas Carpathia acalmava a todos, por meio dos sistemas de comunicaçã o, demonstrando solidariedadeeprometendotrabalharincansavelmenteemproldobem-estardahumanidade. O povo acreditava nele, principalmente aqueles que lutavam pela liberdade pessoal a qualquer custo. Enquanto a Comunidade Global reconstruı́a cidades, aeroportos, estradas e sistemas de comunicaçõ es, o ı́ndice de assassinatos, roubos, bruxarias, orgias e adoraçõ es a ı́dolos continuava em ascensã o. Estes trê s ú ltimos eram aplaudidos por Carpathia e por todos aquelesquenãosabiamdistinguirobemdomal. O ú nico ponto vulnerá vel de Carpathia eram duas testemunhas em Jerusalé m, contra as quais ele parecia impotente. Foi por isso que ele programou a Festa Global de Gala: para apressar a chegada do "primeiro dia do resto da utopia" na cidade onde os dois profetas atingiramoaugedoatrevimento.SeNicolaefossenovamentehumilhadoporsuainabilidadede dominá-los,seelesnãoparassemdetransformaraáguaemsangueedeimpedirquechovesse,a estruturadesualiderançapoderiafinalmentecomeçaraenfraquecer. Apesar disso, ali estava ele, de frente para as câ meras que transmitiam sua imagem ao mundointeiropelaTVepelaInternet.Aos36anosdeidade,con ianteecharmosocomonunca, ele caminhava pelo palanque, protegido pelo contingente de segurança. Sem se contentar em permanecerdiantedatribuna,elesemovimentavaotempotodoparateracertezadequeseus acenos e sorrisos alcançavam cada segmento da multidã o, que parecia jamais cansar-se de olharparaele. Finalmente,elelevantouasmã osparaacalmaropovo.Semanotaçõ es,sempausas,sem tropeçar nas palavras, Carpathia falou durante 45 minutos, sendo interrompido por aplausos entusiasmados entre uma frase e outra. A animaçã o demonstrada por ele no inı́c io do discurso aumentavacadavezmais. Elereconheceuasdi iculdades,osofrimentoeatristezaqueseabateramsobretodoseo trabalhoqueaindanecessitavaserfeito.Dandoà vozumtomembargado,eledirigiu-seaseus queridoscompatriotasquehaviamsofridograndesperdas. Quando o discurso dramá tico e eloqü ente começou a chegar ao im, Carpathia passou a falar mais alto, mais direto, com mais segurança ainda. Para Buck, parecia que a multidã o estava pronta para explodir de tanto amor. Todos o adoravam, con iavam nele, acreditavam nele,contavamcomeleparasobreviver. Nicolae fez uma pausa comovente, afastou-se um pouco até a beira do palanque, pousou uma das mã os no anteparo, cruzou as pernas na altura dos tornozelos e colocou a outra mã o fechadanoquadril.Aimagem,mostradanasgigantescastelasinstaladasportodaapraça,eraa de um homem imponente e arrogante fazendo promessas ao pú blico. Exibindo um sorriso marotoqueprovocoumurmúriosdeempolgação,gargalhadas,assobioseaplausos,demonstrava claramentequeestavaprontoparafazerumpronunciamentoousado. Carpathia aguardou até a tensã o aumentar. Em seguida, caminhou decididamente em direçãoàtribunaeapoiou-senelacomasduasmãos. —Amanhã cedo—eledisse-,conformevocê spodemvernaprogramaçã o,voltaremosa nosreunirpertodoMontedoTemplo,ondeeuestabelecereiaautoridadedaComunidadeGlobal sobre todas as localidades geográ icas. -Mais aplausos e gritos de alegria. — Nã o importa que estejam proclamando isto ou aquilo, advertindo isto ou aquilo ou sendo responsá veis por todo tipodeataquesinsidiososcontraestacidade,estaá rea,estanaçã o...eumesmocuidareidepô r um imaoterrorismoreligiosoperpetradopordoisimpostoresassassinos.Deminhaparte,estou cansadodeopressõ essupersticiosas,cansadodaseca,cansadodeveraá guatransformar-seem sangue. Estou cansado dessas tais profecias bombá sticas, de escuridã o e julgamentos, de promessasquenuncasecumprem! —SeaDupladeJerusalé mnã opararcomissoaté amanhã ,nã odescansareienquantonã o cuidarpessoalmentedeles.E,assimqueminhamissãoforcumprida,dançaremosnasruas! O povo ameaçava aproximar-se do palanque, aclamando e gritando sem parar: "Nicolae, Nicolae,Nicolae!"Carpathiafaloumaisalto,abafandoosgritosdamultidão: — Divirtam-se esta noite! Aproveitem! Mas durmam bem para que amanhã possamos participardafestaquenãoteráfim! Os helicó pteros reapareceram no cé u, e o povo foi afastado do local de pouso. Carpathia acenava e sorria enquanto caminhava em direçã o à escada do palanque. Leon, logo atrá s dele, ajoelhou-secomosbraçosabertosecomeçouagesticularespalhafatosamente.Paraespantode Buck, a maioria do povo fez o mesmo. Dezenas de milhares de pessoas dobraram os joelhos e adoraramCarpathiacomoseelefosseumatleta,umartista...ouumdeus. Rayford estava nervoso demais. Ele caminhava para nã o evidenciar que se recusava a ajoelhar-se.Cadapassoolevavaparamaispertodopalanque.En iouamã onobolsoeretirouo Sabre da caixa. A arma pesada, só lida e mortal o animou e, ao mesmo tempo, o assustou. Rayford parecia estar sonhando, vendo seu corpo de longe. Como havia chegado a este ponto? Tinha se transformado num maluco, deixando de ser um homem pragmá tico? Ele nã o queria atrever-seafazerpartedahistó ria,amenosquetivesseplenacertezadequeesseeraoplano de Deus. O assassino, fosse quem fosse, jamais voltaria a ser livre. Seria identi icado no videoteipeenãoteriacondiçõesdeirmuitolonge. Ele estava a cerca de 15 metros do palanque quando Carpathia fez o ú ltimo aceno, agradeceuà multidã oedesapareceuabordodohelicó ptero.Rayfordencontrava-sebemabaixo dohelicó pteroepodiateratiradoparaoalto. Ele cerrou os dentes e fechou o Sabre dentro da caixa,recolocando-anobolsointernoedeixandoasmãosàmostra. Osdentescerradosprovocaram-lhedornosmaxilares. Enquantoamultidã osaı́adolocalparafestejar,Rayfordcaminhoucompassos irmesaté seu carro, ainda cerrando os dentes, as mã os escondidas dentro das mangas imensas. Ele nã o agiriaprecipitadamente,amenosquerecebesseumavisodeDeus. Buck estava sentindo saudade de sua famı́lia. O espetá culo da Festa de Gala o deixara triste. Ele caminhou pelas ruas como um sonâ mbulo, acompanhando displicentemente a multidã o, mas tendo certeza de que estava se dirigindo para a hospedaria. Ligou para casa, conversou com Chloe, Kenny e Tsion. Ligou para Nova Babilô nia, conversou com David, "conheceu" Annie. Ele nã o gostou de ter de interromper o telefonema, principalmente porque era a primeira vez que conversava com ela, mas umbip o avisou de que havia uma nova ligação,eatelaexibiaonomedeLeah. —Lamentoincomodá -lo,Buck—eladisse-,mastiveumdiafrustrantenoPRFBequeria conversarcomalguém. —Nãoháproblema,masnãoseriamelhorvocêligarparaRayford? —Nãopossoligarparaeleatésexta-feira. —Oquê? ElalhecontouasinstruçõesrecebidasdeRayford. —Eemcasodeaconteceralgumproblema? —Imagineiqueeudeverialigarparavocê. —Oquepossofazer?AlugarumcarroeiratéaFrança? —Não,euseiquevocênãopodefazernada. —VocêviuHattie? —Elesestãoestudandomeupedidoevãomeinformardepois. —Essahistórianãoestácheirandobem. —Parecequeelesestã odescon iandodealgumacoisa,Buck.Nã oseisevouemfrenteou desisto. —VouligarparaRayfordesaberqualéaopiniãodele. —Vocêfariaissopormim? Buck parou sob um poste iluminado a alguns quarteirõ es de distâ ncia do Muro das Lamentaçõ es e ligou para o nú m ero de Rayford. Ele saberia quem estava chamando, porque veriaonomedeBucknatela.Rayfordatendeu. —Esperoqueoassuntosejaimportante,Buck. —Acheiquedeixaralgué mdonossogrupoà pró priasorteé importante.Comovocê pô de fazerissocomela? Rayfordpareciaaborrecido. —Qualéoproblema?Elasemeteuemalgumaencrenca?Buckcontou-lheoquesabia. —Digaaelaparaseguiroplanoenãoligarparavocênemparamimatésexta-feira. —Oquevocêtememmente,Ray? —Ouça,Buck.QuandoeudisseaLeahquenã oqueriaqueelaligasseparamimaté sextafeira,eunãoesperavaqueelaligasseparavocê.Precisoquevocêconfieemmim. Buckdeuumsuspiroeconcordoucomrelutâ ncia.Decidiunã ocontaraChloequeeleeo paidelapoderiamvirasedesentender.Elenãosabiaqualeraoproblema. Bucksubiuemumaá rvoreparaenxergaroMurodasLamentaçõ eseavistouElieMoisé s. Eles continuavam em pé , lado a lado, com os olhos ixos em um ponto, imó veis, na mesma posiçãoemqueosviradaúltimavez.Opovoescarneciadosdois. BuckligouparaJacovparasabernotíciasdeChaim. —Tenhoumaboaeumamánotícia—disseJacov.—Osexamesficaramprontos. —Eoquepoderiaseramánotícia? —Omé diconã osabedeterminaracausadaparalisiaedaperdadafala.Tudoindicaque foiumderrame,maselenãotemcerteza. No dia seguinte, Rayford partiu logo cedo em direçã o ao Muro das Lamentaçõ es. As ruas estavam molhadas pelo sereno, um pouco mais que o normal. Ele icou espantado ao ver uma aglomeraçã o tã o grande duas horas antes do proclamado confronto. Havia rumores de que a cerimô nia religiosa em memó ria do sumo pontı́ ice Peter Segundo fora cancelada por falta de interesse e porque a Sra. D'Angelo já tinha sido destituı́da do cargo. Aparentemente, a Fé Mundial Enigma Babilô nia desapareceria apó s a morte de seu fundador. No governo de Carpathia,nãohaviaespaçonemmesmoparareligiõespagas. Com o Sabre escondido sob o manto, Rayford abriu caminho até o meio da multidã o alvoroçada.Elenã ohaviadormidobem.Orougrandepartedanoiteeagoragostariadeterum lugar para se sentar. Mas agü entou irme. As testemunhas pareciam duas está tuas, e o povo dizia que elas estavam em pé nessa mesma posiçã o havia horas. Certamente, elas se movimentariamquandoCarpathiachegasseparaconfrontá-las. A um quarteirã o de distâ ncia, ouvia-se o som estridente de bandas de mú sica ensaiando paraafestaquedurariaumdiaeumanoiteinteira. [Fazerfioaqui] Bucktentousubirnamesmaá rvoredanoiteanterior,masosguardasdesegurançadaCG oafugentaramdali.Eledescobriuumlugaremumasaliê nciaderocha,deondeteriaumavisã o claradamultidão.Osilênciodastestemunhasoentristecia,eelegostariaque,quandoCarpathia chegasse, os dois pelo menos se movimentassem. Mas o tempo determinado chegara; aquele erao1.261°dia.ABíbliadiziaqueelesseriamdominados. Quandofaltavaumminutoparaasdezhoras,oroncodosmotoresdoshelicó pterostomou conta do local. Da mesma forma que no dia anterior, trê s helicó pteros desceram trazendo os potentados, Fortunato e Carpathia. Agora, nã o havia nenhum representante da Enigma Babilô nia. Era a primeira vez que Buck via Carpathia sem gravata. Ele estava usando sapatos luxuosos, calça e camisa com o colarinho aberto e paletó esporte de casimira, deixando à mostraemumdosbolsosalgumacoisaparecidacomumaBíblia. Os potentados e Fortunato postaram-se atrá s de uma barreira que os separava da multidã o. O re letores foram acesos, as câ meras entraram em açã o e Carpathia caminhou apressadamenteemdireçã oà cerca.Emsuacamisa,estavapresoummicrofonesem io,eele parou diante de um maquiador para empoar o rosto. Em seguida, sorriu para a multidã o barulhentaeaproximou-sedastestemunhas,quecontinuavamempé ,movimentandoapenaso peitoporcausadarespiração. Carpathia, como um má gico pronto a encenar seu nú m ero, tirou o paletó esporte e pendurou-o em um dos ferros pontudos da cerca. O paletó pendeu para o lado do bolso onde havia um objeto. Quando Nicolae arregaçou as mangas como se fosse partir para a luta, a multidãofoiàloucura. — O que você s, cavalheiros, tê m a dizer em seu favor esta manhã ? — ele perguntou, olhandoprimeiroparaastestemunhasedepoisparaamultidão. Buckorouparaqueosdoisreagissemcomeloqüência,comprovocação,comenergia. Era madrugada em Illinois. Tsion sentou-se em uma poltrona diante da TV vestindo pijama,roupãoechinelos.Chloeacomodou-seemumacadeira. —Obebêestádormindo?—perguntouTsion. —Está—respondeuChloe.—Esperoqueelenãoacordeparaveristo. QuandoCarpathiacomeçouafazeraquelaperguntadesafiadora,Chloedissebaixinho: —Acabecomele,Eli.Vamos,Moisés.Masosdoisnãoreagiram. Oh, Deus, orou Tsion.Oh, Deus, oh, Deus. Eles estão oprimidos e humilhados e, mesmo assim,nãoabremaboca;comocordeiros,estãosendolevadosaomatadouroe,comoovelhas,se calamperanteosseustosquiadores,porissonãoabremaboca. Buck desejava estar portando uma arma naquele instante. Ele tinha uma visã o clara de Carpathia. Que arrogâ ncia! Que presunçã o! Como ele gostaria de acertar a testa de Carpathia entreosolhos,mesmoquefossecomumestilingue.Bucksacudiuacabeça.Eleeraapenasum jornalista, um observador. Nã o era esse o seu objetivo. Seu coraçã o estava do lado das testemunhas.Maselenãopodiafazernada. Rayford nã o conseguia icar imó vel. Ele precisou morder a lı́ngua para nã o gritar com Carpathia.Escondeuosbraçossobomantoesegurouacaixacomasduasmã os.SeCarpathia estivesse pretendendo fazer Eli e Moisé s de tolos, talvez o tolo acabaria sendo ele, caindo em cimadoprópriosangue.Carpathiasedeliciavacomsuaglória. — Você s perderam a lı́ngua? — ele disse, andando de um lado para o outro diante das testemunhas silenciosas, olhando para a multidã o em busca de apoio. — A á gua de Jerusalé m está fria e refrescante hoje! O veneno acabou? Os comparsas dos conspiradores fugiram? Deixaramdeteracessoaosistemadeabastecimentodeágua? Opovogritavaezombavadosdois. —Expulseestesdoisdaqui!—gritoualguém. —Quesejampresos! —Quemofemnacadeia! —Quesejammortos! Rayford sentia vontade de gritar: "Calem a boca!", mas certamente nã o seria ouvido por causadosprotestosdamultidãoensandecida.ECarpathiacontinuavaaprovocarosdois. —Erachuvaaquiloquebateuemminhajanelaestamanhã?Oqueaconteceucomaseca? Ei, algué m está vendo gafanhotos por aqui? Homens montados em cavalos? Fumaça? Cavalheiros!Vocêsnãopodemfazernada! Amultidãomordeuaisca.Rayfordestavaexaltado. —Fazdoisanosqueproibivocê sdoisdepermaneceremnestaá rea!—disseCarpathia,de costasparaamultidã o,mascertodequepoderia ser ouvido pelo povo e pela TV por causa do microfone preso em sua camisa. — Por que você s ainda estã o aqui? Saiam já ou serã o presos! Você s nã o me ouviram dizer que seriam executados se fossem vistos em pú blico em qualquer lugardepoisdareuniãodaquelesfanáticos?Carpathiavirou-separaamultidão. —Eudisseisso,nãodisse? —Sim!Sim!Mateosdois! — Eu tenho sido negligente! Nã o tenho cumprido meus deveres! Como posso estar aqui diante dos cidadã os que me acusaram de ser um ditador depois de eu ter a irmado que esse crime nã o passaria impune? Eu nã o quero ser envergonhado perante meu povo! Nã o quero sentir-me constrangido na festa de hoje! Vamos! Saiam de trá s dessa cerca e me enfrentem! Provoquem-me! Respondam! Passem por cima da cerca, pulando ou voando, venham até aqui setiveremcoragem!Nãomeobriguemaabriroportão! Carpathiavirou-senovamenteparaamultidão. —Será queeudevotemerofogoqueelesexpelempelaboca?Será queessesdragõ esvã o meincinerar,metrucidar? A multidã o já nã o gritava tanto. Os risos eram nervosos. As testemunhas nã o saı́ram do lugar. —Jáestouperdendoapaciência!—disseNicolae. OchefedasForçasPaci icadorasdaCGtirouumachavedobolsoeentregou-aaNicolae. Eleabriuoportã o,eamultidã oseafastou.Algumaspessoastinhamarespiraçã oofegante.Um grandesilêncioseabateusobreolocal. Carpathia abriu o portã o com um gesto estudado e caminhou apressado em direçã o à s testemunhas. —Fora!—elegritou,masosdoiscontinuaramnamesmaposição. Carpathiaaproximou-sedeElipeladireitaeatirou-odeencontroaMoisé s,fazendocom queamboscambaleassememdireçã oaoportã o.Eleosafugentavadalicomempurrõ es,socose safanões. A multidã o afastou-se um pouco mais. Carpathia agarrou Eli e Moisé s pelas roupas e atirou-oscontraacerca.Emseguida,virouascostasparaelesesorriuparaamultidão. — Aqui estã o os seus algozes! — disse Carpathia. — Seus juizes! Seusprofetas! — Ele cuspiuapó sdizerestaú ltimapalavra.—Eoqueelestê madizerparasedefender?Nada!Eles já foram julgados, condenados e sentenciados. Agora só falta serem justiçados, e, conformeeu decretei,voufazerisso! Ele virou-se para os dois, puxando-os pelas roupas novamente até que eles icassem a poucomenosdedoismetrosdacerca. —Vocêstêmalgumacoisaadizerpelaúltimavez? ElieMoisésentreolharam-see,emseguida,olharamparaocéu. Carpathia caminhou até o local onde colocara o paletó e tirou um objeto preto do bolso. Rayford levou um susto ao reconhecer o objeto. Nicolae estava de costas para a multidã o, retirandoumSabredacaixa.Eleseafastouunstrê smetrosdastestemunhaseapontouaarma paraoladodireitodeEli.Asúbitaexplosãofezcomquetodosrecuassemetapassemosouvidos. AbalapenetrounopescoçodeEli;elecambaleoue,emseguida,bateucomacabeçanacerca antes que seu corpo tombasse ao chã o. O sangue que saı́a do enorme rombo em seu pescoço esguichounacercaenaconstruçãodepedraatrásdele. Moisé sajoelhou-seecobriuosolhoscomoseestivesseorando.Carpathiaacertouumtiro noaltodacabeçadele.Seucorpovoounadireçã odacerca,caindodebruços,comosbraçose aspernasabertos. AbocadeRayfordestavaseca,arespiraçã oeracurtaeseupulsopareciabaternaspontas dos dedos das mã os e dos pé s. Ao redor dele, as pessoas continuavam com os ouvidos tapados, olhandoestarrecidasparaoscorpos.Carpathiaencaixounovamenteaarmanacaixa,colocou-a nobolsodopaletó,vestiu-oe,comumsorriso,fezumareverênciaàmultidão. O desejo de atirar em Carpathia era tanto que Rayford abaixou o ombro e correu na direçã o dele. Ao fazer esse movimento, ele deu uma cabeçada no homem que estava à sua frente,oqualdeuumberronomomentoemqueamultidã oaplaudiaCarpathia.Opovopulava, gritava, assobiava e dançava. Rayford abriu caminho à força, tentando aproximar-se de Carpathia,tomandocuidadoparanãolargarseuSabre. A multidã o estava agitada demais. Havia gente caindo, brigando, se divertindo. Rayford levou um tombo no meio do povo e nã o conseguiu levantar-se por estar com os braços escondidos dentro do manto. Com muito custo, ele passou uma das mã os pela abertura da mangaparapoderapoiá -lanochã oe icarempé ,masalgué mlhedeuumesbarrã ocomforçae ele caiu novamente. Enquanto tentava abrir espaço com os cotovelos, a caixa do Sabre rolou pelo chã o. Ele começou a procurá -la, mas a multidã o enlouquecida o empurrava de um lado para o outro. Quando ele conseguiu passar a outra mã o pela abertura da manga, sentiu uma pancada nas costas e caiu, batendo a cabeça no concreto. Depois de muito esforço, e com um enorme galo na cabeça, ele virou o corpo de lado e conseguiu levantar-se, mas onde estava o Sabre?Teriasesaídodacaixa?Eleestavacarregadoeprontoparaserusado. Buck continuou em pé na saliê ncia da rocha, completamente abatido, vendo o povo dançandoesedivertindo,oshelicópterospegandoCarpathiaeosconvidadosdehonraparaleválosaolocaldafesta.Buckdetestavaestarpresenciandoaquelacenaterrı́vel,contemplandoos corpos dos pregadores a quem ele tanto amava. Com o tempo, ele passara a gostar de tudo o que se referia aos dois: a pele escura e curtida pelo sol, os pé s grosseiros e sujos, os trajes de aniagem cheirando a fumaça. Para Buck, eles eram reis, patriarcas majestosos. Suas mã os e ombros ossudos, o pescoço e o rosto enrugados, os cabelos e a barba longos e grisalhos acrescentavamumardemistériosobrenaturalàquelasfigurasmaravilhosas. Seus corpos haviam sido destruı́dos. Eles, que eram invencı́veis, agora estavam atirados contra a cerca de ferro, amontoados um ao lado do outro numa cena grotesca. Buck sentiu-se constrangido ao vê -los expostos daquela maneira. As roupas de aniagem mal cobriam suas pernas.Asmãosestavamencolhidassobocorpo,osolhosabertos,abocaescancarada.Osangue vermelho-escuro, quase preto, corria sob seus corpos trucidados por uma arma tecnologicamentetãoavançadaquejamaispoderiaserchamadadepistola. Buck sabia o que aconteceria a seguir. Ele nã o queria presenciar a comemoraçã o programadaparaserrealizadadomeio-diaaté ameia-noite,masque,naverdade,durariamais detrê sdias.Dolugarondeestava,contemplavacomprofundatristezaaascensã odopecado,a maldade tomando conta de pessoas que haviam sido alertadas e que tiveram todas as oportunidadespossíveisdeseconverter. Tsionabaixouacabeça. —Nã oimagineiquepudessesertã ohorrı́vel...Chloenã oconseguiadesgrudarosolhosda tela. —Buckdeveestarlá. — Chloe — disse Tsion, levantando-se -, estamos presenciando coisas terrı́veis. Isto é apenasocomeço.Embreve,Carpathiadeixará asformalidadesdelado.Amaioriadaspessoas nãoterácondiçõesdeopor-seaele. Rayford virou o corpo e agachou-se, desesperado, à procura do Sabre. De repente, pisou neleeconseguiupegá -lo,masfoijogadoaochã onovamentepelaturbaenlouquecida.Ajoelhouseeagarrou-ocomasduasmãos,apertando-odeencontroaopeito,enquantoopovopulavapor cima dele. Finalmente, escondeu-o dentro do manto e, depois de muito esforço, livrou-se da multidão.Àquelaaltura,Carpathiajáestavamuitolongedali. Buck retornou à hospedaria, passando pelo meio do povo que comemorava em todas as esquinas e aglomerava-se em torno de aparelhos de TV. Ele ligou para Leah. Nã o obteve resposta. Nos trê s dias que se seguiram, a Festa de Gala concentrou-se no local do assassinato das testemunhas.Amú sicaestridenteeosdiscursoscensuravamaDupladeJerusalé meelogiavam Nicolae. Fortunato conclamava o povo a considerar Carpathia uma divindade, "talveza divindade,oDeuscriadoresalvadordahumanidade".Eopovoaplaudiasemparar. A ú nica mençã o à morte de Peter Segundo partiu do pró prio Carpathia, que disse o seguinte: —Alé mdecansadodospregadorespseudo-religiososedesuaarrogâ ncia,eutambé mnã o suportavamaisaintromissã odaFé MundialEnigmaBabilô nia,quenã oserá restabelecida.Cada pessoa deve encontrar dentro de si a divindade necessá ria para conduzir sua vida da maneira quedesejar.Paramim,aliberdadeindividualestáacimadareligiãoinstituída. Rayford começou a passar mais tempo perto do palanque da Festa de Gala, onde seria realizada a cerimô nia de encerramento na noite de sexta-feira. Ele calculou os â ngulos, a distâ ncia,ahoradechegar,onde icar,ondemovimentar-seecomoseposicionar,casoDeuso escolhesse como seu instrumento. A cerimô nia se encerraria com um discurso de Carpathia. Talvezaquelefosseomomentocerto. O povo comemorava por toda Jerusalé m. Buck sentia-se enojado ao ver os noticiá rios mostrandooscorposintumescidosefé tidosdeElieMoisé s,quesedecompunhamsobocalordo sol.Amultidã odançavadiaenoiteaoredordeles,tapandoonarize,à svezes,atrevendo-sea aproximar-separachutaroscorpos.Sangueesecreçõ esformavamumlı́quidoviscosoaoredor deles. Detodasaspartesdomundo,chegavamnotı́c iasdecomemoraçõ es,depessoastrocando presentes como se fosse Natal. Um ou outro comentarista sugeria que era "tempo de acabar comaquilo,dedaraesseshomensumenterrodignoedesairdali".Poré mopovoemfestase recusava a atender a esses pedidos, e pesquisas realizadas no mundo inteiro mostravam que a maioriadesejavaqueoscorposdosdoiscontinuassemalienãofossementerrados. Na noite de quarta-feira, Buck inalmente recebeu permissã o para visitar Chaim no hospital.Acorhaviavoltadoaoseurosto,eelejá conseguiapronunciaralgumaspalavras,mas aindaestavaabatidodemais;oladoesquerdocontinuavaparalisado,eamã odireita,crispada.O mé dico,atordoadodiantedosresultadosdosexames,relutavaematenderaopedidodeChaim de"voltarparacasaemorrerempaz". ChaimimplorouaBuck,balbuciando. —Pegueumacadeiraderodasemetiredaqui!Porfavor!Queroiremboraparacasa. Até a madrugada de sexta-feira, Buck ainda nã o havia conseguido falar com Leah nem comRayford,masrecebeuumagradáveltelefonemadeJacov. —Nã oseicomoeleconseguiu—disseJacov-,masoDr.Rosenzweigdeuumjeitodesair do hospital e vir para casa. Ele melhorou bastante, e o mé dico acredita que foi um pequeno derramecomsintomasdeumderramemaissé rio.Paramim,elenã oparecemelhor,masjá dá paraentenderoqueelediz...Eestámeobrigandoalevá-loàcerimôniadeencerramentohojeà noite. CAPÍTULO23 Enquantotomavaumaduchanamanhã desexta-feira,Bucksedeucontadequedeveria estar no Muro das Lamentaçõ es naquele dia, mesmo correndo o risco de ser identi icado. Ele acreditava em Tsion, acreditava na Bı́blia, acreditava nas profecias. Nã o haveria nada mais gratificantedoqueverosescarnecedoresdeElieMoisésreceberemotroco. Buck prometera a Jacov que o ajudaria a convencer Chaim a nã o comparecer ao encerramento da Festa de Gala naquela noite, para garantir que seu amigo tivesse a felicidade de estar incluı́do nos 90% que seriam poupados do terremoto, profetizado para acontecer em Jerusalém. Rayford dormiu quase a manhã inteira, sem fazer caso dos toques insistentes de seu celular,anã oserparaolharnovisoreverquemestavachamando.Todasasligaçõ eseramde Leah.Oqueelepoderialhedizer?Sintomuito,masnã ovoubuscarvocê hojeà noitenemlevá ladevoltaaosEstadosUnidos,porquedevoestarpresooumorto? Ele queria estar bem descansado e alimentado. Queria estar preparado e atento, mesmo sem saber como seria o seu dia. Rayford també m orou para que Deus o alertasse, caso ele estivesseagindoporcontapró pria.Estavadispostoachegarà festapelomenostrê shorasantes do pô r-do-sol, misturar-se à multidã o e permanecer no local que ele já escolhera. Feito isso, Deusteriadepuxarogatilho. Rayfordpegouseucelulareleuoú ltimorecadodeLeahnovisor:"Nossopassarinhofugiu dagaiola.Eagora?" Hattienã oestavanapenitenciá ria?SuaperguntaeraamesmadeLeah.Eagora?Eleligou paraela.Nãoobteveresposta. Buck estava zangado consigo mesmo por nã o ter chegado mais cedo ao Muro das Lamentaçõ es. Seu lugar na saliê ncia da rocha já estava ocupado. Os guardas da CG nã o permitiamqueningué msubissenasá rvores.Aá reaestavarepletadegentebê bada.Buckpodia jurar que algumas delas nã o saı́am dali havia dias. Quanto tempo essa festa ainda ia durar? Danças, atos lascivos praticados em pú blico, gritarias, cantorias, bebedeiras, gente cambaleando... Milhares de pessoas gritavam palavras de ordem em vá rios idiomas, e agora só as mais corajosas se aproximavam dos cadá veres das testemunhas, escurecidos e curtidos pela exposiçã o ao Sol. Buck sentiu um cheiro rançoso de morte a centenas de metros de distâ ncia. Mesmoassim,eleestavadispostoaaproximar-se.Depoisdecontornaroladoesquerdodomuro, ele avistou um pequeno bosque composto de arbustos altos. Buck nã o queria arriscar-se a ser reconhecido,masachouquevaleriaapenaenfrentaroperigo.Seaquelepequenobosquedesse acesso à mesma vegetaçã o rasteira que, um dia, lhe permitira aproximar-se de Eli e Moisé s sem atrair a atençã o dos guardas, ele seria testemunha ocular de um dos maiores milagres da História. TsioneChloelevantaram-seantesdoamanhecerparaassistirnovamenteaosnoticiá rios exibidospelaTV.ElesserevezavamparadistrairKenny,quandoascâ merasmostravamacena horripilantedoscorposdeElieMoisés. — Por mais terrı́veis que tenham sido essas mortes — disse Tsion -, o que virá a seguir seráextraordinário. Sentado no sofá , Tsion balançava o corpo de um lado para o outro, sem conseguir icar parado.TodasasvezesqueseusolhoscruzavamcomosdeChloe,eleselembravadesua ilha, quandoelaaindaeramenina,namanhãdodiadeseuaniversário. Buck esgueirou-se por entre os arbustos, passando despercebido por dois postos de segurança, e chegou ao outro lado, onde poderia icar perto da cerca sem ser visto. Ele mal podia acreditar em sua sorte. Jamais seria descoberto, a menos que acontecesse alguma coisa errada. Na mesma hora, ele se lembrou de sua pró pria advertê ncia a Leah.Nós não desejamos sorte. —Obrigado,Senhor—elemurmurou. Era muito triste ver o que restara dos dois homens poderosos a quem ele aprendera a amar. Com exceçã o dos chutes ocasionais dados por algumas pessoas mais irreverentes, os corpos estavam imó veis ali havia trê s dias e meio, servindo de alimento a animais, sendo bicados por aves e comidos por vermes. Buck disse a si mesmo que jamais deixaria um corpo apodrecendoaosol,mesmoquefosseodeseupiorinimigo. Umabandabarulhentainvadiuolocallevandoopovoaodelı́rio.Osmaiscorajosos izeram um cı́rculo ao redor dos corpos, dançando com os braços sobre os ombros do companheiro do lado. Buck temia nã o conseguir enxergar o milagre se icasse atrá s desse grupo de bê bados malucos. O malfadado cı́rculo transformou-se em uma ila, quando o grupo começou a dançar entreoscorposeacerca. Adançafoi icandocadavezmaisrá pidaaté quealgué minverteuadireçã o.A ilaparoue seguiu o lı́der, mas alguns do grupo decidiram ir para o outro lado. Formou-se uma confusã o total. Os dançarinos colidiam uns com os outros, gargalhando, gritando, chorando de tanto rir. Uma senhora de meia-idade, sem um dos sapatos, curvou-se para vomitar e foi atropelada por aquelesquecontinuavamdançando. De vez em quando, o grupo se abaixava, deixando Buck com uma visã o clara de Eli e Moisé s,queagoranã opassavamdemeraspartesretorcidas,desconjuntadasefé tidasdecorpos emdecomposição.UmsentimentodepiedadefezBucksoluçar,sentindoumnónagarganta. De repente, os mortos começaram a se movimentar. Buck prendeu a respiraçã o. Os participantesdadançacomeçaramagritareafastaram-se,chamandoaatençã odorestantedo povo.Anotı́c iadequeoscorposestavamsemovimentandoseespalhou.Osqueestavammais pró ximosdalisaı́ramcorrendo,aopassoqueosqueestavammaislongecomeçaramadirigir-se aolocal. A mú sica parou, a cantoria transformou-se em gritos de terror. Muitas pessoas cobriram osolhosouviraramorosto.Milharesfugiram.Outrosmilharescomeçaramaaproximar-se. Eli e Moisé s, com muito esforço, icaram de joelhos. Seus corpos imundos começaram a movimentar-se em câ mera lenta, o peito arfante. Com di iculdade, colocaram as mã os nas pernas, piscaram os olhos e viraram-se para ver o que se passava. Ambos, um apó s o outro, apoiaramamã onopavimentoe,emseguida,endireitaramocorpo,levantando-selentamente eprovocandogritosterríveisdopovo,paralisadodemedo. Quandoambos inalmente icaramempé ,asujeirasecaaoredordelestransformou-seem á gua. As feridas cicatrizaram, a pele — esticada e rompida pelo inchaço — contraiu-se, os hematomasroxosepretosforamdesaparecendoaospoucos.Oscabelosepartesdotecidoque estavamnacercaenaparedemaisadiantesumirameseintegraramaocorpodeles. Buckouviaosgritosagudosdamultidã o,masnã oconseguiatirarosolhosdeElieMoisé s. Eles ajeitaram a parte de cima do manto junto ao peito, enquanto o restante da roupa de aniagem, muito limpa, oscilava ao sabor da brisa. Ambos voltaram a ser altos e fortes, iguras dignas,vitoriosaseimponentes. Eli e Moisé s olharam para a multidã o com ar de tristeza e nostalgia. Em seguida, ergueram o rosto em direçã o ao cé u. Eles pareciam tã o esperançosos que muitas pessoas na multidãotambémolharamparaocéu. Nuvensbrancascomoaneve lutuavamnocé uazul-escuroearroxeado.OSol,queestava escondido,reapareceuemtodooseuesplendortornandoocé umulticolorido,envoltoemuma neblinabranca. Umavozecooudocéu,tãoaltaquefezopovotaparosouvidoseseabaixar:"SUBAM!" Ainda com os olhos voltados para o cé u, Eli e Moisé s subiram. Um suspiro coletivo foi ouvidoportodooMontedoTemplo,enquantopessoasseajoelhavam,algumascomorostoem terra, chorando, gritando, orando, gemendo. As testemunhas desapareceram no meio de uma nuvem,quesubiutã orapidamenteque,logoemseguida,transformou-seemumpontobranco, antesdesumirdevez. OsjoelhosdeBucktremiamtantoqueelecaiunochãochorandoesoluçando. —LouvadosejaDeus—elemurmurou.—Obrigado,Senhor!Portodaparte,milharesde pessoasseprostraram,chorando,lamentando,implorandoaDeus. Buck começou a levantar-se, mas, antes que suas pernas se endireitassem, sentiu o chã o se retirar de debaixo dele, como se o tivessem puxado. Ele correu para uma á rvore, mas tropeçouecaiu,arranhandoopescoçoeascostas.Quandoselevantou,viucentenasdepessoas caíremdepoisdeteremsidoatiradasaumagrandealtura. O cé u icou negro, e uma chuva fria tomou conta da á rea. A quarteirõ es de distâ ncia, ouviam-se terrı́veis sons de edifı́c ios desabando, á rvores caindo, metais e vidros estilhaçando, carrossendoatiradosdeumladoparaooutro. —Terremoto!—opovogritava,correndo. Buck saiu cambaleando de seu abrigo, surpreso diante da devastaçã o provocada por um terremoto tã o rá pido. O Sol surgiu por entre as nuvens, criando uma atmosfera sinistra. Buck caminhouatordoadorumoàcasadeChaim. Nomomentodoterremoto,RayfordestavanoquartodohotelcomaTVligada.Aenergia elé trica foi cortada, e tudo o que havia no quarto acabou sendo atirado ao chã o, inclusive ele. Quase que imediatamente, os caminhõ es da CG com alto-falantes começaram a percorrer as ruas. —Atençã o,cidadã os!Necessitamosdevoluntá riosnaregiã olestedacidade.Acerimô nia de encerramento será realizada esta noite, conforme planejado. Alguns faná ticos fugiram levando os corpos dos pregadores. Nã o acreditem em histó rias da carochinha de que eles desapareceram, ou que foram responsá veis por este fenô m eno da natureza. Repetindo: A cerimôniadeencerramentoserárealizadaestanoite,conformeplanejado. Mac havia-se deitado tarde na noite anterior. Quando acordou, ligou a TV para ver as notı́c iasdodia.Elechorouquandoascâ merasmostraramElieMoisé sressuscitandoesubindo aocé unomeiodasnuvens.ComoaCGpoderiacontestarumfatomostradoaomundointeiro? David Hassid lhe contara que vira a sinistra apariçã o de Carpathia na TV na noite de segundafeira, mas aquele incidente nã o apareceu em nenhum dos teipes do evento. E agora, os noticiáriostambémnãomostravamnenhumaimagemdasressurreições. Quepoder,pensouMac.Quecontroletotaldamídiaeatédamodernatecnologia! Se, por um motivo qualquer, Carpathia saı́sse vivo de Israel, Mac nã o permitiria que ele aterrissassevivo.Nã oemumaviã oqueeleestivessepilotando.Será quedeveriaesperartanto tempo? Ele vasculhou o fundo de sua sacola de vô o e tateou a pistola contrabandeada, igual à que Abdullah carregava. Se tivesse de levar a arma consigo naquela noite, Mac teria de permanecerlongedosdetectoresdemetais. O bairro de Chaim havia sido seriamente atingido. Ao contrá rio das casas vizinhas, que desabaram, a de Chaim escapara quase ilesa. Apenas os tijolos da garagem icaram abalados e umapartedeladesmoronou. A energia elé trica foi restabelecida rapidamente naquela á rea, e Buck pô de assistir aos noticiá riosdaTVaoladodeChaimedosempregadosdacasa.Onú m erodemortesanunciado chegavaacentenas,maslogosubiuamilhares. A maior devastaçã o ocorreu na regiã o leste de Jerusalé m, onde casas e edifı́c ios desabaram, avenidas transformaram-se em tiras retorcidas de asfalto e lama, e milhares de pessoasmorreram.Noinı́c iodanoite, icouevidentequeadé cimapartedaCidadeSantahavia sidodestruídaequeonúmerodemortosnamanhãseguintechegariaa,nomínimo,setemil. Todos os noticiá rios repetiam a insistê ncia da CG para que os delegados assistissem ao encerramentodaFestadeGala. — A cerimô nia será abreviada — dizia Leon Fortunato, dando à voz um tom solene adequado à ocasiã o. — O potentado está envolvido nas operaçõ es de busca e salvamento, mas pediu-mequeeuestendessesuasmaissincerascondolênciasatodososqueperderamfamiliares. Estassã oaspalavrasdele:"Areconstruçã oinicia-seimediatamente.Nã oseremosderrotados.O cará ter de um povo é revelado por sua reaçã o diante de uma tragé dia. Vamos nos erguer, porquesomosaComunidadeGlobal.Etremendamenteimportanteestarmosreunidosconforme planejado. Mú sica e dança nã o serã o apropriadas, mas estaremos juntos, animando uns aos outrosededicando-nosmaisumavezaosideaisquetantoprezamos." —Permitam-meincluirumapalavrapessoal—disse Fortunato. — O potentado Carpathia icará extremamente encorajado se um nú m ero expressivocomparecer.Vamoshomenagearosmortoseovalordaquelesqueparticiparamdos resgates,alémdecuidardosferidos. Bucknã otinhanenhuminteresseemassistirà mesmababoseiradacerimô niadeabertura — os potentados regionais elogiando seu lı́der destemido e ele, com expressã o de santo, fascinandoamultidão. —Vocêprometeucomparecer—ralhouChaim. —Ora,doutor,asestradascontinuamintransitá veis,arampaparacadeiraderodastalvez tenhasidodanificada.Seriamelhorassistirmospela... —Jacovpodedirigiremqualquerestradaemelevaraqualquerlugar. Jacov encolheu os ombros. Buck fez uma careta como que indagando por que ele nã o o apoiava. — Ele tem razã o — disse Jacov. — Vamos colocar a cadeira de rodas no carro e levá -lo atélá. —Eunãopossocorreroriscodeserreconhecido—disseBuckaChaim. —Eusóqueroquevocêfiquenomeiodamultidãomedandoapoio. O Sol surgiu por trá s das nuvens e aqueceu Jerusalé m. O tom alaranjado no cé u da velha cidadedeixouRayfordextasiadodiantedetantabeleza.Adevastaçã ohaviaproduzidoomesmo efeitonele.Rayfordnã opodiaimaginarporqueCarpathiaestavatã odeterminadoacumprira programaçã o. Mas o potentado agia de modo que os planos de Deus fossem cumpridos. Depois deandarescondidoatrásdosgruposdepessoas, Rayfordparounomeiodeumaaglomeraçã opertodatorredealto-falantes,à esquerdade Carpathia.Calculouqueestavaacercade20metrosdatribuna. —Eunãovou—avisouAbdullah.—PrefiroverpelaTV. —Comoquiser—disseMac.—Talvezeuaindavámearrependerdeterido. AvanquelevariaMacestavaestacionada,eeleaguardoumaisde20minutosaté elasair. Quando inalmentepartiram,eleolhouparatrá seviuAbdullahsaindoapressadodohotel,com asmãosnosbolsosdajaqueta. Buck chegou ao local da festa antes de Jacov e Chaim e aguardou perto da entrada, animadopornã oestarsendoreconhecidoporningué m.Seunovorostoajudavamuito.Naquele momento,osfuncionáriosdaCGtinhamapreocupaçãovoltadaparaumconvidadodehonraque acabaradechegar. Algué mestacionouocarrodeChaim,enquantoJacovoconduzianacadeiraderodaspara passarpelodetectordemetaisdoladodireitodopalanque. —Seunome,porfavor—disseoguardadirigindo-seaJacov. —Jac... —Eleestácomigo,jovem—ralhouChaim.—Deixe-oempaz. — Lamento muito, senhor — disse o guarda. — Estamos intensi icando nossa segurança, conformeosenhorpodeimaginar. —Eujádissequeeleestácomigo! —Tudobem,senhor,masassimqueeleoajudarasubiratéopalanque,deverásairdelá. —Queabsurdo!—disseChaim.—Agora... —Ora,patrão—disseJacovrapidamente.—Eunãoqueroficarlánopalanque.Porfavor. BuckviuChaimfecharosolhoscomoseestivesseexaustoefazerumgestoderesignação. —Sómeleveatélá—eledisse. — O senhor també m terá de passar pelo detector de metais -disse o guarda. — Nã o há exceções. —Ótimo!Vamoslá! —Vocêprimeiro,moço. As chaves no bolso de Jacov izeram acionar o alarme. Na segunda tentativa, ele passou semproblemas. — O senhor vai precisar levantar-se da cadeira por alguns instantes, Dr. Rosenzweig — disseoguarda.—Meuscompanheirospoderãoajudá-lo. —Não!—gritouChaim. —Senhor—disseJacovaoguarda-,elesofreuumderramenaseg... —Estousabendodetudo. —Osenhorestá querendoinsultarumisraelense,ou,maisainda,umestadistaconhecido nomundointeiro? Oguardapareciaconfuso.—Preciso,pelomenos,revistá-lo. —Estábem—resmungouChaim.—Sejarápido! O guarda fez uma revista completa em Chaim, tentando localizar qualquer objeto estranhopresonosbraços,pernas,frenteecostas. — Mesmo que o senhor estivesse portando alguma arma, nã o poderia fugir tã o rá pido — disseoguarda. Jacov e mais trê s homens carregaram Chaim na cadeira de rodas até o palanque, deixando-onaextremidadeesquerdadeuma ileiradecadeiras.Oguardafezumsinalparaque Jacovvoltasse. —Devodeixá-loalisozinho? —Sintomuito—disseoguarda.Jacovencolheuosombros. —Vá!—disseChaim.—Euvouficarbem. Jacov desceu do palanque e postou-se ao lado de Buck, de onde eles viram Chaim se divertindocomacadeiraderodasmotorizada,indodeumladoaooutrodopalanquevazio,para alegriadamultidãoqueaumentavacadavezmais. O cé u estava escuro, mas um extenso sistema de iluminaçã o clareava toda a praça. Rayford calculou que o nú m ero de presentes era maior do que o do dia da cerimô nia de abertura,massemomesmoalvoroço. Osconvidadosdehonraforamtransportadosemcarros,porqueoshelicó pterosestavama serviço da equipe de resgate à s vı́t imas do terremoto. Nã o houve ostentaçã o, danças, nem oraçã o.Ospotentadossubiramaescada,cumprimentaramChaimeaguardaramempé diante de suas cadeiras. Leon subiu atrá s de Nicolae, os dois cercados por um imenso aparato de segurança.Opovoaplaudiucomentusiasmo,massemgritosouassobios. Apósfazeraapresentaçãodospotentados,Leondisse: — Contamos també m com a presença de mais um convidadomuito especial, a quem gostarı́amos de saudar neste momento, mas Sua Excelê ncia insistiu para ter esse privilé gio. Agradeço a colaboraçã o de todos durante estas comemoraçõ es e passo a palavra a Sua Excelência,NicolaeCarpathia. Rayford en iou as duas mã os dentro do manto e retirou o Sabre da caixa. Orando silenciosamente,eledisseaDeusqueestavapreparadoparaexibiraarmanomomentocerto. Carpathia,destavezumpoucomaiscontido,fezcessarosaplausos. — Quero reforçar os agradecimentos do supremo comandante e enviar minhas condolê ncias a todos os que perderam entes queridos. Nã o vou me delongar, porque sei que muitos aqui presentes precisam retornar a seus paı́ses e estã o preocupados com os meios de transporte. Os vô os estã o decolando de ambos os aeroportos, evidentemente com um certo atraso. — Antes de fazer outras observaçõ es, quero apresentar meu convidado de honra. Ele deveria ter estado aqui na segunda-feira, mas foi acometido de um derrame. Tenho a enorme satisfaçãodeanunciaromilagrosorestabelecimentodestegrandehomem,oquepossibilitousua presençaaquiconosconestanoite,mesmoemcadeiraderodas,mascomó t imasperspectivas de completa recuperaçã o de sua saú de. Senhoras e senhores da Comunidade Global, tenho a honradeapresentar-lhesoestadista,ocientista,ocidadã olealemeudiletoamigo,oilustreDr. ChaimRosenzweig! OpovoaplaudiucomalegrianomomentoemqueCarpathiaapontounadireçãodeChaim, e Rayford vislumbrou uma oportunidade. As pessoas à sua frente levantaram os braços para aplaudir e acenar, e ele empunhou a arma e mirou. Poré m, Chaim estendeu a mã o sadia para cumprimentarCarpathia,oqual,porsuavez,securvousobreacadeiraderodasparaabraçaro ancião. Rayfordnãopodiaatirar,poisatingiriaChaim.Eleabaixouaarmaeescondeu-anasdobras da manga, observando o abraço desajeitado. Nicolae ergueu o braço de Chaim, e a multidã o aplaudiunovamente.Carpathiaretornouàtribuna,eaoportunidadefoiperdida. Mac McCullum sabia que Buck Williams devia estar no meio da multidã o. Talvez fosse melhor tentar procurá -lo depois que tudo estivesse terminado. Abdullah també m estaria ali? E porqueeledissequenãoiria? Tremendo por ter quase atingido seu intento, Rayford sentiu um gosto amargo na boca. Carpathiaoenojava. —Cidadã osecompanheiros—Nicolaeestavadizendosolenemente-,nosprimeirosanos da histó ria deste nosso governo mundial, temos lutado ombro a ombro contra fortes oposiçõ es comoasqueenfrentamosagora.Euhaviapreparadoumdiscursodedespedidaparavoltarmos para nossos lares com vigor renovado e maior dedicaçã o aos ideais da Comunidade Global. A tragé diatornouessediscursodesnecessá rio.Provamosmaisumavezquesomosumpovocom determinaçãoeideais,comespíritodeservirefazerboasações. Trê spotentadossentadosatrá sdeCarpathia icaramempé ,oqueobrigouosoutrossetea fazerem o mesmo, embora com relutâ ncia. Carpathia percebeu que a atençã o do povo fora desviada e virou-se para trá s. Os trê s potentados que se levantaram primeiro começaram a baterpalmas,seguidosporseuscolegasepelamultidã o.Rayfordpensoutervistoumatrocade olharesentreCarpathiaeFortunato. Estaria havendo uma conspiraçã o? Mac lhe contara que trê s potentados nã o eram tã o leaisquantoNicolaepensava.Seriamaquelestrêsqueselevantaramprimeiro? Os potentados sentaram-se e, pela primeira vez desde as reuniõ es no Está dio Teddy Kollek, Carpathia demonstrou estar confuso. Ele tentou reiniciar o discurso, parou e repetiu as palavras que já havia dito. Em seguida, virou-se para os potentados e disse em tom de brincadeira: —Nãofaçamissocomigo. A multidã o voltou a aplaudir, e Nicolae aproveitou a situaçã o para provocar uma grande gargalhada. Sem deixar transparecer sua preocupaçã o, ele recomeçou a falar, olhou para trá s rapidamenteeretomouodiscurso,conseguindoatrairrisossilenciososdaplatéia. De repente, os trê s potentados levantaram-se novamente e aplaudiram como se estivessem tentando somar pontos com Nicolae. Rayford notou que um deles en iou a mã o no bolsoaolevantar-se.Amultidã oachouqueostrê spotentadosestavamfazendoumaespé ciede encenaçã o improvisada. Quando Chaim virou sua cadeira e rodou na direçã o de Fortunato, o povoriuevibroudealegria. Rayfordteveaatençã odesviadaparaaesquerda.Hattie?Nã oerapossı́vel.Eletentounã o perdê -la de vista, mas as pessoas à sua frente levantaram as mã os novamente, gritando, aplaudindo, pulando. Ele nivelou a arma, mirando-a num ponto entre os dois guardas de segurança que estavam um de cada lado de Nicolae, e tentou apertar o gatilho. Mas nã o conseguiu!Seubraçoestavaparalisado,suamã otrê mulaeavisã oembaralhada.Será queDeus nã oqueriaqueeleatirasse?Será queeleseprecipitara?Elesesentiaumtolo,umcovarde,um fraco, apesar de ter uma arma na mã o. Rayford tremia, sem tirar os olhos de Carpathia. Enquantoamultidã ocomemorava,Rayfordrecebeuumtranconascostasenoladodocorpoe aarmadisparou.Nomomentodaexplosã o,opovoafastou-seempâ nico,formandoumcı́rculo aoredordele.Rayfordcorreu,tendová riaspessoasemseuencalço.Elejogouaarmanochã o, deixando que a outra metade da caixa també m caı́sse. O povo gritava e pisoteava os que se atiraramaochão. Enquantotentavaabrircaminhoemmeioaumamassacompactadegente,Rayfordolhou para trá s em direçã o ao palanque. Nã o conseguiu ver Carpathia. Os potentados abaixaram-se para se proteger e um deles deixou cair alguma coisa, enquanto saı́a correndo do palanque. A princı́pio, Rayford també m nã o conseguiu ver Fortunato. A tribuna tinha sido destruı́da, e a enorme cortina de fundo de 30 metros de extensã o soltou-se da armaçã o e voou pelos ares. RayfordimaginouqueabalativesseatravessadoCarpathiaeacortina. Será queelehaviasidousadoporDeusmesmotendosidotã ocovarde?Será queelehavia cumpridoaprofecia?Odisparoforaacidental.Elenãopretendiaatirar! Assim que ouviu o tiro, Buck escondeu-se debaixo de uma armaçã o de ferro. Uma multidã odesvairadapassouporeledosdoislados,ealgumaspessoastinhamumaexpressã ode alegria. Seriam alguns convertidos que viram Carpathia assassinar seus heró is diante do Muro dasLamentações? Quando Buck olhou para o palanque, viu os potentados tentando levantar-se, a cortina voandoadistânciaeChaimemestadocatatônico,comacabeçarígida. Carpathiaestavaestendidonochã o,comosolhos,onariz,abocae—conformepareciaa Buck—també moaltodacabeçasangrando.Omicrofoneemsualapelacontinuavaligado.Por estarbemabaixodatorredosalto-falantes,BuckouviuomurmúrioguturaldeNicolae: —Maseupensei...eupensei...quehaviafeitotudooquevocêspediram. Fortunato debruçou seu corpanzil sobre o peito de Carpathia, passou a mã o por baixo da cabeçadeleelevantou-a.Sentadonochã odopalanque,eleembalavaseupotentado,gemendo otempotodo. — Nã o morra, Excelê ncia! — gritava Fortunato. — Nó s precisamos do senhor! O mundo precisadosenhor!Euprecisodosenhor! Os guardas de segurança cercaram os dois, empunhando metralhadoras. Buck já havia presenciadotragé diassu icientesparaumsó dia,maselenã oconseguiatirarosolhosdacena, observandofixamenteocrânioensangüentadoeesfaceladodeCarpathia. Com certeza, o ferimento havia sido fatal. E, do local em que Buck estava, nã o havia dúvidasobreaarmaqueoprovocara. — Eu nã o esperava um disparo — disse Tsion olhando irme para a TV, enquanto a segurançadaCGafastavaopessoaleretiravaCarpathiadopalanque. Duas horas depois, a CNN CG con irmou a morte e reproduziu in initas vezes o pronunciamentoagoniadodosupremocomandanteLeonFortunato. — Devemos suportar essa tragé dia dentro do espı́rito corajoso de nosso fundador e defensordamoral,opotentadoNicolaeCarpathia.Acausadamortesó será divulgadadepoisde concluı́dasasinvestigaçõ es.Masossenhorespodemestarsegurosdequeoculpadoserá levado àJustiça. Osnoticiá rioscomunicaramqueocorpodopotentado icariaexpostonopalá ciodaNova Babilôniaatéosepultamento,quesedarianodomingo. — Nã o saia de perto da TV, Chloe — disse Tsion. — E prová vel que a ressurreiçã o seja captadapelascâmeras. Mas a sexta-feira acabou e o sá bado amanheceu em Monte Prospect. Quando a noite de sá bado começou a se aproximar, até mesmo Tsion passou a se questionar. A Bı́blia nã o mencionava nada sobre a morte por projé til. O anticristo morreria de uma ferida na cabeça e, emseguida,ressuscitaria.OcorpodeCarpathiacontinuavasendovelado. Namadrugadadedomingo,enquantoviaopovopassandopeloesquifedevidronopá tiodo paláciodaCGbanhadodesol,Tsioncomeçouaduvidardesimesmo. Seráqueeleestavaenganado? Duas horas antes do sepultamento, David Hassid foi chamado ao escritó rio de Leon Fortunato. Leon e os diretores do Serviço de Inteligê ncia e Segurança estavam aglomerados diantedeumaparelhodeTV.OrostodeLeondemonstravaumsofrimentoterríveleapromessa devingança. —AssimqueSuaExcelê nciaforsepultado—eledisse,comvozrouca-,omundochegará aumaconclusã o.Quemomatouserá executado.Observeconosco,David.Osâ ngulosprincipais estã obloqueados,masvejaestaimagemsecundá ria.Diga-mesevocê está vendoomesmoque nós. Davidolhouatentamente. Oh,não!,elepensou.Nãopodeser! —Eentão?—perguntouLeon,olhandofirmeparaele.-Existealgumadúvida? Davidestavasemfala,masseusilê nciofezcomqueosoutrosdoishomensolhassempara ele. —Acâmeranãomente—disseLeon.—Jásabemosquemomatou,não? Pormaisquequisesseinventaroutraexplicaçã oparaumacenatã oevidente,Davidsabia queperderiasuaposiçãosedesseumarespostasemlógica.Eleassentiucomacabeça. —Claroquesabemos. EPÍLOGO "Passouosegundoai.Eisque,semdemora,vemoterceiroai." Apocalipse11.14 Jerry B. Jenkins (www.jerryjenkins.com) é o autordasé rieDeixadosparaTrás e de mais de 100 livros, quatro dos quais iguraram na lista de mais vendidos do New York Times. Foi vice-presidente da divisã o editorial do Instituto Bı́blico Moody de Chicago e trabalhou muitos anos como editor da Moody Magazine, com a qual colabora até hoje. Escreveu artigos para vá rias publicaçõ es, tais como Reader's Digest, Parade, revistas de bordo e numerosos perió dicos cristã os. Seus livros abrangem quatro gê neros literá rios: biogra ias, obras sobre casamento e famı́lia, icçã o para crianças e icçã o para adultos. Dentre outras, Jenkins colaborou nas biogra ias de Hank Aaron, Bill Gaither, Luis Palau, Walter Payton, Orei Hershiser, Nolan Ryan,BrettButlereBillyGraham. Cinco de seus romances apocalı́pticos — Deixados para Trás, Comando Tubulação, Nicolae, A Colheita e Apoliom — constaram da lista dos mais vendidos da Associaçã o Cristã de Livreiros e do semaná rio religioso PublishersWeekly.DeixadosparaTrásfoiindicadoparareceberoprê miodeRomancedoAno, pelaAssociaçãodasEditorasCristãsEvangélicas,em1997e1998. Como autor e conferencista de assuntos relacionados ao casamento e à famı́lia, Jenkins tem participado com freqü ência do programa de rá dio do Dr. James Dobson, Focus on lhe Family (A FamíliaemFoco). Jerrytambé mé oautordastirascô m icasGilThorp, distribuı́das aos jornais dos Estados Unidos porTribuneMediaServices. Elemoracomsuaesposa,Dianna,noColorado. Convites para conferê ncias podem ser feitos pela Internet no seguinte endereço: [email protected]. O Dr. Tim LaHaye, que idealizou o projeto de romancear o Arrebatamento e a Tribulaçã o, é autor famoso, ministro do evangelho, conselheiro, comentarista de televisã o e palestrante de temas sobre vida familiar e profecias bı́blicas. E fundador e presidente do Family Life Seminars (Seminá rios sobre a Vida Familiar) e també m fundador do The PreTrib Research Center (Centro de Pesquisas do Perı́odo Pré -Tribulaçã o). Atualmente, o Dr. LaHaye faz palestras sobre profecias bı́blicas nosEstadosUnidosenoCanadá ,ondeseussete livrossobreprofeciasfazemmuitosucesso. ODr.LaHayeé formadopelaUniversidadeBob Jones, com mestrado e doutorado em ministé rio pelo Western Conservative Theological Seminary (Seminá rio Teoló gico Conservador do Oeste). Durante 25 anos, foi pastor de uma das mais pró speras igrejas dos Estados Unidos, em San Diego, a qual se expandiu para outras trê s localidades. Nesse perı́odo, fundou duas escolas cristã s de ensino mé dio reconhecidas pelo governo, um sistema deescolascristã scompostodedezestabelecimentoseaChristianHeritageCollege(Faculdade HerançaCristã). ODr.LaHayeescreveumaisde40livros,commaisde11milhõ esdeexemplaresimpressosem 32 idiomas, abordando uma ampla variedade de assuntos, tais como vida familiar, estados de humor e profecias bı́blicas. Estas obras de icçã o, escritas em parceria com Jerry Jenkins — Deixados para Trás, Comando Tribulação, Nicolae, A Colheita e Apoliom —, alcançaram o primeiro lugar na lista dos livros cristã os mais vendidos. Outras obras escritas por ele: Temperamento Controlado pelo Espírito; Como Ser Feliz Mesmo Sendo Casado; Revelation, Illustrated and Made Plain (O Apocalipse Ilustrado e Simpli icado);Como Estudar Sozinho as Profecias Bíblicas; Um Homem Chamado Jesus eEstamosVivendoosÚltimosDias? — publicados pela Editora United Press —,No Fear of the Storm: Why Christians Will Escape Ali the Tribulation (Sem Medo da Tempestade: Por Que os Cristã os Escaparã o do Perı́odo da Tribulação);eDeixadosparaTrás—SérieTeen. ODr.LaHayeé paidequatro ilhosetemnovenetos.Gostamuitodeesquiarnaneveenaá gua, demotociclismo,degolfe,defériascomafamíliaedecaminhadas. EsteePub teve como base a digitalizaçã o emRtf feitaporumautordesconhecido. Para esta formaçã o peguei como inspiraçã o a ediçã o norte-americana mais recente, alé m da formataçã o, iz a capa e a imagem utilizada na pá gina comoslivrosdasérie. Abrilde2014 LeYtor